Brasília, terça-feira,
14 de julho de 2015
Economia.
JORNAL DE BRASÍLIA
CRÉDITO CONSIGNADO
17
ELIO RIZZO
Limite
sobe para
35% do
salário
Mas segundo as novas regras do
governo, 5% desse total só podem
ser usados no cartão de crédito
Jéssica Antunes
Com agências
O governo ampliou o limite para
obtenção do crédito consignado, ao
permitir que trabalhadores, aposentados ou pensionistas e servidores comprometam até 35% da
renda com descontos dessas operações na folha de pagamento. O limite era de 30%.
Por meio de medida provisória
publicada ontem, o governo estabelece em até 30% a margem salarial que pode ser comprometida
com as prestações no caso de empréstimos, financiamentos e operações de arredamento mercantil
(leasing). O limite adicional de 5% é
exclusivo para operação com cartão
de crédito.
O governo pretende beneficiar,
saiba
mais
» Três em cada dez brasileiros já
recorreram ao empréstimo
consignado, segundo o Serviço
de Proteção ao Crédito.
» A pesquisa identificou, ainda,
que pagar dívidas de outros
empréstimos como as do cartão
de crédito é o motivo que mais
rendeu créditos consignados,
com 47% das respostas.
principalmente, quem já está endividado com o cartão pessoal. Será possível ter acesso a taxas menores para
quitar as pendências e sair do crédito
rotativo ou para renegociar a dívida.
Maria Elisabete recorreu ao
consignado para pagar cartão
de crédito e cheque especial
comprar uma geladeira, fogão, parcelar", disse Warley Martins Gonçalles, presidente da (Confederação
Brasileira de Aposentados (Cobap).
No caso dos beneficiários do
INSS, para vigorar, poBAIXA RENDA
rém, a medida ainda
Outra possibilidade é
demandará uma
usar o limite para
instrução normacriação de um cartão
tiva.
de crédito consigde aposentados estão
Dados mais renado. Com a garanem listas de
centes do Banco
tia do desconto em
devedores, segundo
Central mostram que,
folha, os bancos poo SPC Brasil
até maio, os bancos
dem emitir esse cartão
têm estoque de operações
com as bandeiras tradide R$ 263,8 bilhões em concionais. A proposta facilita o
acesso ao cartão de quem tem renda signados.
Desse total, R$ 82,9 bilhões fobaixa.
"O aposentado que ganha o míni- ram obtidos por aposentados e
mo não consegue cartão de crédito. A pensionistas; R$ 19,394 bilhões,
gente queria esse cartão para poder por trabalhadores do setor privado,
4,3
MILHÕES
e R$ 161,4 bilhões, por servidores.
"A discussão que fica é o possível
aumento do endividamento, a necessidade de tratar a educação financeira", disse o advogado e consultor Mauro Luciano Hauschild,
ex-presidente do INSS. "Mesmo
assim, vejo a medida com bons
olhos. Afinal, quem precisa de dinheiro busca outras soluções e paga
juro maior."
Em maio, Dilma Rousseff havia
vetado aumento do limite do crédito
consignado de 30% para 40%. Na
ocasião, a presidente argumentou
que, "sem a introdução de contrapartidas que ampliassem a proteção
ao tomador do empréstimo, a medida proposta poderia acarretar um
comprometimento da renda das famílias para além do desejável".
Antes, maior prazo para quitação
Apenas nos três primeiros meses
do ano, mais de R$ 20 bilhões foram concedidos em créditos consignados no Brasil para servidores
públicos e R$ 12 bilhões a beneficiários do INSS.
No fim do ano passado, o governo
aumentou o número de parcelas
para quitar a dívida para aqueles
que fazem parte do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape). O crescimento foi de 60% para servidores,
passando de 60 para 96 meses (oito
anos), e em 20% para aposentados
e pensionistas, que agora têm até 72
meses (cinco anos) para quitar o
crédito consignado.
A aposentada do Ministério da
Educação Maria Elisabete, 66 anos,
admite que já apelou para o crédito
consignado várias vezes, investindo até o máximo de 30% do benefício. “Faço parte de um grupo dentro
do serviço publico que não teve carreira, apesar do estudo. Tenho mes-
trado e nada disso é reconhecido.
Meu salário é básico”, conta.
Para ela, compensa fazer o consignado pelos juros baixos, “mas
tem que ter muito cuidado porque
tem quem se descontrole e não
consegue pagar o que deve”, pondera. Nas suas investidas, pegou
recursos extras para pagar dívidas
com cartão de crédito e cheque especial, com taxas muito superiores.
“Nunca peguei para compras vultuosas”, resssalta.
RISCO DE “BOLA DE NEVE”
» O economista e professor de
Política Econômica da Escola
Nacional de Administração
Pública (Enap) José Luiz
Pagnussat afirma que não é
recomendável ceder à tentação
do empréstimo consignado,
especialmente quando utilizada
em seus extremos, em prazos
muito longos.
» “É uma porcentagem muito alta
com prazo bastante longo. Isso
é complicado porque é difícil as
pessoas se planejarem com
precisão e acaba virando uma
bola de neve. É sempre um
risco”, avalia.
» Apesar de não haver perigo de o
empréstimo não ser pago, já
que é descontado em folha,
outras dívidas podem se
acumular, desorganizando o
orçamento familiar, explica. O
especialista esclarece ainda que
há investimentos que podem,
sim, ser realizados com prazo
maior, mas o problema, lembra,
é que as pessoas têm captado
empréstimo para comprar bens
que se deterioram antes do fim
do pagamento. Pagnussat
alerta: “Nesses casos, a dívida
permanece, mas o benefício
acaba”.
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14/07/2015 1a. Caderno A_17_Tb