Um presente como aquele...! Meu nome é Michael. Eu moro em Rechovot. Estudo na quarta série e sou considerado um bom menino. Tenho a mochila mais velha da classe. Ganhei-a do meu irmão mais velho, que também a recebeu do meu irmão primogênito. Meus pais não têm dinheiro, e eu acho que nós somos chamados de pobres. Às eu ouço na classe histórias sobre pobres. Meus colegas imaginam que hoje em dia não existem casos desse tipo. Porém conosco, pelo jeito, é uma história de vida. Das histórias que o professor conta, parece a todos que os pobres são coitados, e eu também pensava assim no começo. Porém, quando falei com meu pai, ele me lembrou do ditado "Ezehu ashir? Hassamêach bechelcô - Quem é rico? Aquele que é feliz com o que tem". Ele me disse que há pessoas que têm muito dinheiro mas são muito tristes, pois ninguém gosta delas, ou por outras razões. "Amor e felicidade não se compram com dinheiro", disse papai. E é verdade. Na nossa casa existe muito amor, apesar de não termos nada de dinheiro. Meu pai se orgulha muito de mim. Ele disse que prefere ter menos dinheiro ainda, contando que eu continue a ser tão aplicado. E, verdade, eu me esforço muito para que meu pai seja feliz com o que tem, e seja "rico". Há alguns dias atrás foi o aniversário do meu pai. Pais não festejam aniversário. Principalmente o meu, que é muito sério e não tem dinheiro para isso. Mas eu decidi comprar um presente para ele. Meu pai tem uma caneta-tinteiro de ouro, que ele herdou de seu pai. Caneta-tinteiro é uma caneta estranha. Ela se parece com a pena de escrever dos sofrim que escrevem a Torá. Para escrever, deve-se colocar tinta de uma garrafinha que é muito cara. Antigamente todas as canetas eram desse tipo. Papai é escritor. Ele escreve quase todos os dias comentários sobre nossos livros sagrados. Apesar de gostar muito de escrever com a caneta-tinteiro, ele não tem dinheiro para comprar a tinta. Então ele usa uma caneta comum e a outra fica guardada dentro de uma caixa na gaveta da escrivaninha. Decidi comprar para o papai uma garrafinha de tinta de surpresa. Eu sabia quão feliz ele iria ficar. Mas eu também não tinha dinheiro. Comecei a procurar algo valioso meu, porém logo cheguei à conclusão de que não tinha nenhum objeto pelo qual alguém me pagaria. Meu estojo estava quebrado, minha mochila rasgada... De repente me lembrei da minha nova calculadora de bolso. Eu a ganhara uma semana antes por tirar a nota mais alta da classe em matemática. Ela nunca tinha sido usada por que não tinha baterias. Na papelaria me disseram que aquelas baterias pequenas custavam quarenta shekalim e eu não tive coragem de pedir ao papai uma quantia tão grande de dinheiro. Levei a calculadora dentro da caixa para a papelaria e pedi ao vendedor que a trocasse pela garrafinha de tinta. Ele me deu em troca dez garrafinhas. Voltei para casa muito contente. "Agora o papai terá tinta suficiente para alguns anos", pensei. "Ele ficará muito feliz com o presente!" Eu nem fiquei triste pela perda da calculadora. Eu gosto do papai mais do que qualquer coisa e, fora isso, de qualquer jeito não poderia usá-la. Cheguei em casa e esperei pelo papai, até que ele chegou tarde da noite. "Olá!" ele disse e virou-se para mim: - Meu querido Michael, mostre-me a sua calculadora. - A calculadora... - eu falei. - Não esta aqui... - Como não? - perguntou o papai assustado. - O que aconteceu com ela? - Vvv...vendi papai - respondi. - Vendeu?! - ele exclamou com um profundo desgosto em sua face - Por quê? - Troquei-a por um presente pelo seu aniversário! - respondi sorrindo. O rosto do papai empalideceu. - O que aconteceu, papai? perguntei. Ele tirou do bolso um pacote e entregou-o para mim. Queria comprar-lhe um presente pelo seu sucesso nos estudos - ele respondeu. Abri o pacote e logo entendi por que meu pai estava tão pálido. Eram dez baterias para a minha calculadora. A que eu vendi. Ficamos em silêncio. - Não faz mal, papai - eu disse por fim - Pelo menos abra o presente que eu lhe comprei. Ele abriu o grande pacote e olhou para as fez garrafinhas de tinha. De repente, soltou um suspiro de arrebentar o coração. - O que aconteceu, papai? Por que você está suspirando? - perguntei. - Você comprou as garrafinhas de tinta para a minha caneta-tinteiro - ele respondeu e justo hoje eu a vendi, para poder comprar as baterias... Durante longo tempo ficamos abraçados - papai e eu. Eu não ousava olhar para o seu rosto. No final eu olhei e vi que ele estava sorrindo. - Michael - disse-me papai - você sabe por que as pessoas compram presentes umas para as outras? - Sim - respondi - Para demonstrar o seu amor. - Você me deu o presente mais precioso do mundo! Será que há uma demonstração maior do que esta? - ele perguntou, apontando para as garrafinhas. De repente eu senti que era o menino mais rico do mundo, o mais amado do mundo, que tem o melhor pai do mundo. Este foi o melhor presente que ganhei na minha vida, e aquele foi o aniversário mais feliz que o papai teve. Nós somos muito felizes! Chayim Walder em "Yeladim Messaprim al Atsmam", baseado em cartas recebidas de crianças. Tradução de Guila Koschland. Permissões exclusivas para a Nascente.