A luta por uma vida, a revolta por uma saúde precária e desumanizada.
Nesta nota gostaria de apresentar o caso da enfermidade do meu filho Aldo;
bem como, o meu repúdio ao descaso que acredito ter havido em relação
ao seu tratamento no Hospital Regional de Guanambi -Ba. Espero ainda
que essas palavras cheguem até a Presidenta Dilma Rousseff, pois em uma
das suas falas sobre a saúde essa semana é que “temos que colocar a saúde
da população em primeiro lugar” espero que essas palavras da Presidenta
sejam cumpridas.
O caso e o descaso
Tudo iniciou quando Aldo começou a queixar-se de uma dor de cabeça. A
princípio parecia se tratar de algo comum, ele não relatava ser as dores
muito fortes, mas mesmo assim percebia que o incomodava, pois passou a
ficar quieto, algo que não era muito do seu perfil. Não demorou muito para
ele começar a se inquietar ( e inquietar-me também) dizendo que as dores
estavam se intensificando. Então resolvemos levá-lo ao médico.
No dia 26-08-13, fomos ao pediatra, em Guanambi, ele pediu tomografia e
outros exames. Foi feita a tomografia e o resultado foi normal, o médico
passou a medicação e mandou embora para casa e pediu mais alguns
exames de sangue.
Mesmo com a medicação do médico de Guanambi, a dor continuava. No
início do dia 27-08-13, procurei um laboratório e pedi para fazer todos os
exames possíveis, e assim foi feito. Logo em seguida, chego ao Hospital e
Maternidade Amália Coutinho, da nossa cidade de Riacho de SantanaBahia, e digo: “Enfermeira, meu filho não passa bem e precisa ser
medicado. Ela me respondeu que não era naquela porta e sim pela outra o
atendimento do caso. Corri para a outra porta e a moça me disse: “Não é
aqui. Você já foi na outra portaria?”. Respondi que sim e que não voltaria,
que iria entrar por ali mesmo e naquela hora. A recepcionista disse que o
médico não iria atender porque pois estava indo almoçar e logo após para o
conforto ( e ainda não era meio dia). Eu tomei o braço do meu amado filho
e entrei dizendo que ele teria que atender naquele momento sim. Entramos,
ele demorou de chegar, mas chegou. Examinou Aldo e disse: “Isso é
enxaqueca. Criança dá enxaqueca também”. Mandou aplicar dipirona e
plazil na veia e deixá-lo em observação (uma observação, que o médico só
voltou a olhá-lo mais ou menos 17:00 h).
Como já tinha feito os exames, mostrei para ele e ele me disse: “Pra que
você foi fazer exame? Porque quem pede exame é o médico". Eu disse
que tinha sido desespero. Ele olhou e disse que não tinha dado nada, pediu
outros exames para fazer no dia seguinte, mas dessa vez no hospital.
Mesmo com dor de cabeça, o médico mandou que Aldo fosse para casa.
Pediu que procurasse um neuro, mas aquilo era enxaqueca.
No dia 28-08-13, retornamos ao hospital para fazer os exames que o
médico tinha pedido. Depois disso, fomos a Caetité passar no neuro. Lá, ele
examinou, pediu mais 3 exames ( exame de vista, eletrocefalograma com
mapeamento central e raio x de coluna). Como Aldo estava sentindo dor,
perguntamos para o neuro se ele não ia passar nenhum medicamento e ele
respondeu: “Dê um analgésico qualquer e tem 30 dias para o retorno”.
Fomos para Guanambi, fazer o exame de vista que ele pediu. Veio o
apagão e tivemos que voltar para casa.
Dia 29-08-13, às 5:00 h da manhã, já de saída para Guanambi para fazer
mais exames, as dores de Aldo aumenta, juntamente com náuseas. Rumo
ao hospital da nossa cidade... Chegando lá, o médico manda aplicar
dipirona e plazil na veia. Seguimos para Guanambi, foi feito o exame de
vista e deu tudo normal.
Voltamos ao pediatra que acompanhou nosso filho na segunda-feira e ele
disse que os exames estavam normais e que não tinha diagnóstico para o
nosso filho. Fez um encaminhamento para um neurologista num grande
centro. Perguntamos do que suspeitava e ele disse que poderia ser um
aneurisma. A partir daquele momento começa todo o nosso desespero. A
vontade que tinha era chegar naquele neurologista o mais rápido possível.
De volta pra casa com o intuito de viajar para um grande centro naquela
tarde, lembramos-nos de um médico em Caetité. Como era caminho de
casa, não custava nada tentar o 9º médico. Ele olha Aldo, disse que estava
sintomático e resolveu enterná-lo para no outro dia ser avaliado por uma
neurologista. A dor de Aldo aumenta, a médica plantonista pediu para
transferí-lo, regulou no centro e arrumou vaga no Roberto Santos. Já com a
UTI arrumada, Aldo entra em coma. O médico disse que naquele estado ele
não suportaria a viagem até Salvador. Pediu uma vaga na CTI em
Guanambi e fomos para lá.
Repúdio ao Hospital Regional em Guanambi
30-08-13 fomos recebidos por 2 médicos plantonistas às 3:30 h, eles
examinaram e não disseram nada. Começa o descaso... quando passo pelo
portão, o guarda diz: “Ei senhora, cuidado! Você não pode ficar passando
aqui assim não, porque seu filho está com meningite”. Eu respondi: “Quem
te falou? Eu não fui comunicada”. Ele disse: “ O hospital todo está
comentando”. Então comecei a perceber o zum zum zum. Ficamos todo o
dia sem muita assistência. Procuramos por várias vezes, o médico
responsável por aquela ala, qual era o problema do menino e a resposta
dele era sempre a mesma: “Depois eu converso com vocês”. E esse depois
nunca chegava.
Às 18:00 h, tiraram meu filho do quarto e levaram para a sala para fazer
uma tomografia. As 18:30 h, chega o neuro. Disse que tinha analisado a
tomografia e disse que não tinha dado nada, fez a comparação de uma para
outra e disse que estava igual, não tinha dado nada e que o quadro era
complexo, que ele não sabia dizer o que era. Perguntei se ele viria no outro
dia e ele disse “Senhora, eu não posso ficar ao lado do seu filho”. Então,
entramos em contato com outro neuro em Salvador, relatamos o caso e ele
disse que poderia ser encefalite e que poderia ser aplicado aciclovil. O
hospital foi comunicado e não quiseram aplicar. O neuro que havia me dito
que não sabia que dia iria aparecer, surgiu no dia 31 pela manhã dizendo:
“Seu filho já era, se tivesse banco de órgãos, já podia doar os órgãos”.
Comentei com ele sobre o neuro de Salvador e ele me disse que o mesmo
profissional que tinha em Salvador, tinha também em Guanambi e que
Aldo não tomaria nenhum remédio. Eu e meu esposo fiicamos juntos
pensando o que fazer. Chega o neuro no corredor do hospital em meio a
outras pessoas e diz: “ Vocês têm outros filhos? Respondemos que sim,
mais dois filhos. Ele falou: “É bom cuidar dos outros porque terão o
mesmo problema”. Falei: “Doutor, então escreve o laudo e assina pra gente
sair. Ele disse: “Não vou assinar nada, vá pedir ao outro médico”.
31-08-13 sem médico acompanhando com mais atenção, sem neuro, que
não voltou mais, sem remédio. Fazer o quê?
Ouvimos falar de um certo chefe de UTI que tinha lá e que até então não
tínhamos sido apresentado. Ao mesmo tempo em que existiam aqueles que
faziam descaso, também encontramos os que intecederam, quase que
imploraram, quase que ajoelharam para o chefe da UTI ver o nosso Aldo.
Aquele chefe muito educado, inteligente, porém resistente. Foram muitos
argumentos que usamos na tentativa de convencê-lo , mas em vão, pois ele
é quem detinha o conhecimento e o poder de decisão naquele momento.
Fez testes e testes e disse que era tudo positivo para o hospital. Aproveitei
para dizer: “O senhor é o chefe? Então olha aí a limpeza desse espaço, esse
lixeiro a derramar, já faz quase 48 horas que estamos aqui e nada de
limpeza”. Dissemos ainda que gostaríamos de fazer uma ressonância e ele
respondeu que não, pois o Aldo não aguentaria.
Depois de muita insistência, ele autorizou fazer a ressonância. Fomos atrás
da UTI para levar, clínica para fazer, médico para acompanhar, TUDO
POR NOSSA CONTA. Depois dessa ressonância, começaram a dizer que
era um tumor, mas não nos chamaram para nos informar, ficamos sabendo
através de terceiros. Depois surge a conversa que já não era mais tumor e
sim herniação comprimindo o cerebelo. Mas isso tudo de ouvir dizer,
porque a nós eles não vinham informar.
Recebemos um relatório mal digitado e cheio de interrogações.
Ouvir dizer que naquele Hospital Regional de Guanambi tinha pediatra,
chamei por uma e nada. Escrevi uma carta para ela e não consegui entregar.
Tentamos falar com a assistente social e ela mais “bruta que uma porta",
nem quis ouvir o que tínhamos a dizer. Minha cunhada também tentou,
voltou e sentou no banco cabisbaixa. Naquele momento eu disse para ela
que tudo aquilo só me dava força.
Mandaram me oferecer uma psicóloga. Nada contra psicólogas, mas
naquele momento eu precisava de força jurídica. Veio uma profissional em
psicologia muitíssimo educada, perguntei: “Você pode servir de saco de
pancada?” Ela disse: “Sim”. Fomos à conversa, depois disso ela pegou em
minha mão e disse: "Sou sua amiga, vamos organizar a papelada para a
transferência do seu filho".
01-9-13 o chefe da UTI, falou conosco que nenhum medicamento poderia
ser aplicado, uma vez que não resolveria. Eu pedi: “aplica”. Ele
drespondeu: “Por quê?”.Então eu disse:" Para mostrar o amor que temos
por ele doutor". Logo em seguida mandou colocar um soro e um remédio,
somente por colocar. Ao chegar a tarde, teve uma enfermeira que me disse
que não ia continuar a aplicar porque estava suspenso. Corri lá na ficha e
não estava escrito suspenso. Depois foi a maior enrola para continuar a
aplicar.
Falei com o chefe da UTI: “Dr. vamos trazer um neuro até nosso Aldo, um
neuro de fora, da capital”. Ele disse: “ Vocês não vão conseguir porque
Aldo não é importante”!
Como já tinha escrito uma carta para a pediatra, transformei-a e enviamos à
Jorge Sola, o Secretário Estadual de Saúde do Estado da Bahia. Já havia
passado mais de 24 horas e nada de resposta. Estava com uma carta pronta
para Dilma. Traduzimos a minha carta para o inglês e jogamos nas redes
sociais também dos Estados Unidos.
E a Ouvidoria Púbica? Só sabia prometer e nada. Nesse país tão cheio de
diferenças! E se fosse filho de políticos? Se fosse filho de “ricos”? Com
certeza, não passariam por isso.
Meus amigos do face, meus parentes, amigos e amigos de amigos... a
imprensa amiga, esses sim fizeram valer a verdade!
Secretário de Saúde, quase 48 horas... onde está você???!!!
Corri no pátio do Regional de Guanambi, abracei uma árvore e disse “Só
saio daqui, quando Deus mandar uma luz”. Nesse momento, um rapaz de
Bom Jesus da Lapa liga e diz: “Vou resolver tudo”. Eu disse que não
acreditava.
Uma notícia nos trouxe de volta a esperança perdida, pois depois de oito
dias de luta incansável , o Diretor do Hospital queria falar com os pais de
Aldo! Até que enfim!
Meu celular não parava. Estava também com o celular da minha irmã,
atendi a uma ligação da minha cidade, que gritava, berrava, melhor
dizendo,e dizia assim: “ Para de pressionar família, o político tal não tem
nada a ver com isso. Para. Para. Para. Isso é problema do Estado. E eu
disse: “Sou eu fulana, a mãe de Aldo”. Ela tentou contornar, mas eu disse
que não me importava com o que ela dissera, que estava bem.
A imprensa me ligava, eu sem poder falar ainda, cheguei a sentir que
algumas pessoas me tomavam como louca. Minha vontade era de gritar,
mas em nenhum momento desci do salto, graças a Deus. Meus pais são
pessoas muito simples, mas honestas, souberam me educar. Calar na hora
certa e também reivindicar seus direitos na hora certa. Sempre lembrava da
minha mãe, ela foi toda a minha força. Pensava se fosse ela, jamais
abaixaria a cabeça e assim também era Aldo.
Pessoas da minha cidade ligavam e ofereciam psicólogos. Eu já tinha Deus
e 2 lá no Regional (inclusive uma dessas, entrou no quarto em que Aldo
estava falando alto.. lastimável isso... toda descabelada, nem eu que estava
lá há tanto tempo... disse que eu tinha que aceitar a situação e acreditar no
hospital).
Em nenhum momento eu duvidei deles, queria somente um tratamento
humanizado! Meu esposo sempre presente. Peguei no braço da psicóloga,
coloquei-a do lado do meu filho e disse assim. “Fique aí, ele agora é seu
filho, cruze os braços, cruze... ela olhou espantada para mim e saiu...
passou a só me olhar de longe.
Não falei com a imprensa logo, porque a psicóloga “amiga” me pediu. Ela
foi “legal” comigo. Dei uma entrevista maleável para o jorna À Tarde, pois
naquele momento tinha que ser assim. Mas dissemos para o Diretor;"
Esperaremos até às 18:00 hs e mais nenhum minuto". Enfim conseguimos
autorização para remover meu filho!!!
07 de Setembro dia da Independência, que independência?
Para irmos ao Aeroporto, a Assistente Social queria que pagássemos a UTI!
Imaginem só!
Falamos, vamos chamar a imprensa, ela saiu e chamou a SAMU.
Rumo ao aeroporto, lá o médico da UTI aérea disse que Aldo não
suportaria. Peguei na mão do médico e disse: “Sossega seu coração, pois
Deus está conosco! E que seja feita a vontade Dele, mas não podemos
cruzar os braços".
A todo momento, nos sentimos abandonados pelo Hospital Regional de
Guanambi, até um fax era difícil passar. O médico falou alto comigo, eu
disse: “ Pare agora. Quem é você? Por incrível que pareça, é muito mais
fácil conseguir um avião do que passar um fax nesse hospital". Meu esposo
chegou e ficou pedindo calma. Ele lutou incansavelmente fazendo ligações
para outros hospitais e neuros. “Que calma,que nada. Só saio de perto dessa
máquina, depois que eu ver o papel “correr”. O médico disse para meu
esposo: “ Mas que mulher é essa sua, viu senhor”!
Chegamos em Salvador. Sensação de dever cumprido. Fomos recebidos por
um pediatra. Ele me perguntou se eu acreditava em milagre porque em
nenhum momento, ninguém tinha avisado para ele que deveria deixar vaga
para o Aldo. Ou seja, O Secretário de Saúde não reservou UTI para o meu
filho. Será que eles acreditavam que o Aldo iria morrer durante a viagem?
Olhem o dedo de Deus!
Naquela conversa com o pediatra, me desmontei, não sabia se chorava de
alegria por ele ter conseguido de última hora o leito ou por repúdio à Saúde
Baiana.
Espero que essas palavras cheguem até a PRESIDENTA e que deixem de
“blá, blá, bla”, de tanta promessa, que acordem, que botem “a mão na
saúde...”
Enfim, deram um banho em Aldo. Foram feitos exames . Recebemos um
tratamento normal . Quem decidiu o final foi Deus, porém muita coisa
ficou a esclarecer, como, por exemplo, possíveis causas da doença... a
neuro pediatra estava com um livro em mãos para falar daquela doença que
atingira nosso filho...
Ficamos sem nosso filho, mas esperamos que outros pais não fiquem
sem seus filhos como nós, pedimos as autoridades que façam valer pelo
menos o direito à vida, já que as outras coisas são um pouco mais
difíceis.
Chamamos a atenção de pais, de parentes que tem alguém em situação
semelhante para que gritem, exponham seus casos, chamem a
imprensa, denuncie os hospitais que não tratam bem as pessoas, lutem
por seus direitos, faça como nós, e mesmo se o resultado não foi o que
esperávamos, mas pelo menos tivemos a ousadia e a coragem de soltar
a voz e irmos a busca de uma possibilidade.
Fica aqui o repudio ao HRG e aos médicos que não tiveram a coragem
de ousar nem o respeito a nossa dor. É repugnante sabermos que essas
pessoas fazem isso com muitas pessoas que na simplicidade de suas
vidas não tomam a iniciativa de gritar e rasgar o silêncio.
Essa história não pode parar aqui....
Maria Rosa da Rocha Teodoro.
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