ODONATOFAUNA DE AMBIENTES DULCÍCOLAS NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE – PERNAMBUCO
Silva, F.M.(1); Capanaga, P.X.A.A.(1); Regueira, J.C.S.(1); Souza, E.C.A.(1); Iannuzzi, L.(1)
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(1)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Recife - PE, Brasil.
RESUMO
Atualmente a ordem Odonata constitui um dos grupos de insetos mais estudados. Estes
organismos hemimetábolos ocorrem em ambientes dulcícolas. Desta forma, os odonatos têm
sido utilizados como indicadores biológicos de mudanças de recursos em pequenos hábitats.
Este estudo objetivou fazer o levantamento da odonatofauna de áreas da Região Metropolitana
do Recife - Pernambuco. As capturas foram realizadas entre Agosto de 2012 a Março de 2013,
entre as 10hs e 13hs. Os espécimes observados foram capturados com redes entomológicas
(puçás), em seguida foram marcados, fotografados, pré-identificados e soltos, e os caracteres
foram registrados em caderno de campo para posterior auxílio na identificação. Foram
contabilizadas 46 espécies sendo destas 20 identificadas como morfoespécies em nível de
família ou gênero. A família com maior representatividade foi Libellulidae, amostrada em todos
os pontos. A construção de uma base de dados sobre a ordem odonata servirá para futuras
pesquisas, além da descrição de novas espécies e novos registros para a região.
Palavras-chave: Odonata; Diversidade, Levantamento.
INTRODUÇÃO
A Ordem Odonata pertence ao grupo
dos insetos paleopteros, caracterizados por não
conseguirem dobrar as asas sobre o corpo, são vulgarmente conhecidos como libélulas,
lava bunda, lavandeiras, zigue-zague, cavalo do cão, entre outros (Costa Lima, 1938).
Atualmente, a ordem abriga três subordens, sendo estas Anisoptera, Zigoptera e
Anisozigoptera. Entretanto,
o grupo dos Anisozigopteros possui apenas duas espécies existentes restritas a Índia e o
Japão (Dumont et al. 2010). O grupo dos odonatos conta com aproximadamente 6000
espécies e 31 famílias, entretanto a estimativa é que o número real seja de 7000
espécies. Para o Brasil são registradas 662 espécies, 14 famílias e 123 gêneros (De
Marco Jr. & Vianna, 2005, Kalkmam, 2008).
Os odonatos apresentam asas membranosas, aparelho mandibular mastigador robusto,
um conjunto ocular (Omatídeos) bastante desenvolvido e antenas curtas do tipo
setiforme.
Estes
insetos
são
hemimetábolos,
apresentando
durante
o
seu
desenvolvimento estágios de ovo, larva e adulto, sendo que a larva ocorre em ambientes
aquáticos e a fase adulta pode ser observada constantemente em voo, sendo esta
completamente adaptada ao meio aéreo. Estas características permitiram o grupo
desenvolver um modo de vida baseado em hábitos predadores oportunistas (Costa Lima,
1938; Loureiro, 2011; Cobert,1995).
Atualmente, a ordem é um dos grupos mais estudados dentre os insetos, atraindo a
atenção de curiosos pelas suas cores, seus voos incessantes, seu comportamento
agressivo. E ainda pelas peculiaridades de seus estágios larvais, que apresenta estrita
dependência com os ambientes dulcícolas durante seu desenvolvimento (Kalkman et al.,
2008), sendo recentemente utilizados como bioindicadores de qualidade ambiental e
água (Catling, 2005; Foote & Ronunrg, 2005; Watson, 1982).
O presente trabalho tem como objetivo estudar a diversidade e a distribuição de
Odonata em ambientes dulcícolas localizados no trecho da Região Metropolitana do
Recife (RMR-PE), a fim de reunir contribuições para estudos taxonômicos e
bioecológicos sobre a Odonatofauna no estado.
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização das áreas de estudo
A Região Metropolitana do Recife é formada por 14 municípios, totalizando uma
população de aproximadamente 3,3 milhões de habitantes, distribuída em uma área de
2.766 km2 que corresponde a 2,8% do Estado de Pernambuco. A RMR apresenta um
clima litorâneo úmido, influenciado por massas tropicais marítimas. A região apresenta
altas temperaturas, com média anual das máximas de 29,1ºC e média anual das mínimas
de 21,9ºC. Os totais anuais médios de precipitação nos municípios da região
metropolitana do Recife variam de mais de 2.200 mm, nas áreas litorâneas, até valores
próximos a 1.200 mm (Pfaltzgraff, 2003).
Amostragem
Quatro ambientes (pontos) dulcícolas, localizados nos municípios de São Lourenço da
Mata (SLM), Recife (REC), Olinda (OLI), Jaboatão dos Guararapes (JAB) e Igarassu
(IGA) foram visitados para amostragem: Pontos (SLM): Rio Capibaribe 1 (estádio da
copa), Rio Capibaribe 2 (Tiuma); Pontos (REC): Dois Irmãos, Cidade Universitária e
Ibura; Pontos (OLI) Rio doce; Pontos (JAB) Jordão e Jardim Piedade; Pontos (IGA)
Córrego da Conga. As coletas dos pontos de SLM, REC e IGA foram feitas próximos a
corpos de água permanentes em áreas naturais, enquanto que nos pontos de OLI e JAB
as coletas foram ocasionais e em regiões longe de corpos de água e em áreas
urbanizadas.
As coletas foram realizadas entre agosto de 2012 e Março de 2013, durante o horário
das 11hs às 13hs. Para a captura dos espécimes, foram utilizadas redes entomológicas
(puçás), com os indivíduos sendo capturados junto à vegetação marginal ou durante o
voo em cada um dos ambientes.
Foi realizado um esforço amostral de cerca de 2 h/coletor em cada ponto. Os espécimes
capturados foram preservados em acetona, em seguida fixados em álcool e mantidos em
envelopes com os dados de campo. Em seguida foram identificados ao menor nível
possível de acordo com trabalhos de BORROR, 1942, RIS, 1930 e por fim algumas
imagens foram enviadas a especialistas que validaram os táxons.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram contabilizadas sete famílias, 17 gêneros e 20 morfoespécies identificadas até o
nível de família e 26 espécies da ordem Odonata para as áreas amostradas da RMR – PE
neste trabalho. Sendo do total, 27 espécies pertencentes à família Libellulidae, 6 da
família Aeshenidae, 1 da Familia Cordullidae, 2 da família Gomphidae, 6 da família
Coenagrionidae, 2 da família Calopterigidae e 1 da família Protoneuridae.
Foi possível identificar as seguintes espécies: Achantagrion sp.; Argia sp.;
Coryasphaena adnexa; Erythemis vesiculosa, Erythemis peruvianna; Erythrodiplax
basalis;
Erythrodiplax
fulva;
Erythrodiplax
fusca;
Erythrodiplax
ochracea;
Erythrodiplax umbrata; Erythroxiplax sp.1; Erythroxiplax sp.2; Haetarina sp.;
Haetarina simplex; Ischinura capreolous; Mycrathyria hespersis; Mycrathyria sp.;
Neoneura sylvatica; Orthemis discolor; Pantala flavences; Perithemis lais; Perithemis
mooma; Telebasis filiola; Tramea cophysa e Zenithoptera lanei.
Na Figura 1 podemos observar os dados mais detalhados para cada município avaliado,
onde é possível visualizar a partir da legenda a composição de espécies em cada cidade.
De Marco Jr & Vianna, 2005 em seu trabalho discute sobre o esforço amostral para
coleta de Odonata no Brasil e mostra uma perspectiva sobre os dados existentes para o
Estado de Pernambuco, no qual se esperava encontrar uma riqueza total de um a dez
gêneros e espécies de Odonata. Entretanto a ausência de especialistas e estudos tanto
para Pernambuco quanto para a Região Nordeste é uma das causas para valores tão
baixos.
A reunião do conjunto de dados apresentados neste trabalho juntamente com os estudos
de Capanaga et al. (2013a), Capanaga et al. (2013b), e Silva et al. (2013) configuram os
primeiros registros para a odonatofauna de Pernambuco. Podemos observar nestes
trabalhos a alta abundância da família Libellulidae, que é a família mais diversificada e
amplamente distribuída na região neotropical. Da mesma forma que a família
Libellulidae, o gênero Erythrodiplax, que pertence a esta família, tem ocorrido com
grande abundância nas áreas estudadas, constituindo a família e o gênero dominante nas
amostragens
da
região
Figura 1. Composição de espécies em cada cidade das espécies encontradas em cada
cidade e sua distribuição no Mapa da Região Metropolitana do Recife – Pernambuco.
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
Tabela 1. Distribuição das espécies de Odonata em cada município da RMR – PE,
representadas na Figura 1.
C. adnexa
P. flavences
Erythroxiplax sp.1
Gomphidae sp.2
D. obscura
P. lais
Erythroxiplax sp.2
Libellulidae sp.1
Diastatops sp.
P. mooma
Aeshnidae sp.1
Libellulidae sp.2
E. vesiculosa
T. cophysa
Aeshnidae sp.2
Libellulidae sp.3
E. basalis
Z. lanei
Aeshnidae sp.3
Libellulidae sp.4
E. fulva
Achantagrion sp.
Aeshnidae sp.4
Libellulidae sp.5
E. fusca
Argia sp.
Aeshnidae sp.5
Libellulidae sp.6
E. ochracea
Haetarina sp.
Coenagrionidae sp.1
Libellulidae sp.7
E. umbrata
H. simplex
Coenagrionidae sp.2
Libellulidae sp.8
M. hespersis
I. capreolous
Coenagrionidae sp.3
Libellulidae sp.9
Mycrathyria
sp.
N. sylvatica
Cordullidae sp.1
O. discolor
T. filiola
Gomphidae sp.1
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Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
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CONCLUSÃO
O conhecimento da Odonatofauna da região encontra-se em uma
estagio inicial de atividades, onde ainda existe um amplo campo de
descobertas e questões a serem explanadas nas áreas de taxonomia,
biogeografia e ecologia do grupo.
Este conhecimento para a região e o país é essencial, pois permite
dimensionar as características ambientais e o seu grau de integridade,
auxiliando na conservação da biodiversidade.
A construção de uma base de dados sobre a odonatofauna servirá para
futuras pesquisas, além da descrição de novas espécies e novos registros
para o estado.
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Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
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CAPANAGA, P. X. A. A; SILVA, F. M; SOUZA, E. C. A; NETO, I.
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Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
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