XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL FENOLOGIA REPRODUTIVA E INFLUÊNCIA DO TAMANHO DOS INDIVÍDUOS NA PRODUÇÃO DE FRUTOS DE DUAS ESPÉCIES ARBÓREAS TROPICAIS Kelly Fernandes de Oliveira Ribeiro - Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Instituto de Biologia, C.P.: 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. [email protected] Valéria Forni Martins – Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação, Centro de Ciências Agrárias, C.P.: 153, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar campus Araras, Rodovia Anhanguera km 174, 13600-970, Araras, SP, Brasil. Flavio Antonio Maës dos Santos – Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, C.P.: 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. Introdução A fenologia reprodutiva de diversas espécies de plantas tem sido amplamente estudada no nível de população. Porém, poucos estudos abordam estratégias individuais (Otárola et al. 2013). Um fator que pode resultar em diferenças na fenologia dos indivíduos é o tamanho dos adultos (Munguia-Rosas et al. 2011; Pires et al. 2014). Como indivíduos maiores são capazes de captar mais recursos que podem ser investidos na reprodução (MullerLandau et al. 2006), eles potencialmente produzem uma maior quantidade de flores e frutos. Objetivo Os objetivos do presente estudo foram conhecer a fenologia reprodutiva e investigar a influência do tamanho dos indivíduos na produção de frutos de duas espécies arbóreas da Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no Parque Estadual da Serra do Mar, Ubatuba-SP. Material e métodos Todos os indivíduos grandes de Faramea picinguabae M. Gomes (Rubiaceae) e Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins (Monimiaceae) foram monitorados mensalmente por um ano entre 2008 e 2009 dentro de duas parcelas permanentes de 1 ha cada (TB1 e TB2). Foi estimada a intensidade das fenofases reprodutivas (botão, flor, fruto verde e fruto maduro) de cada indivíduo com o índice de Fournier. Também foram medidos o diâmetro na altura do solo (DAS) e o volume da copa de cada indivíduo. Para estimarmos a produção de frutos, multiplicamos a intensidade máxima da fenofase de frutos verdes e maduros pelo volume da copa. A frequência e a intensidade das fenofases reprodutivas foram analisadas com métodos de estatística circular. A relação entre presença de estruturas reprodutivas e tamanho dos indivíduos (DAS) foi analisada por meio de regressão logística. Usamos regressão linear simples para analisar a relação entre a produção de frutos calculada e o DAS. As análises foram realizadas para cada espécie nas duas parcelas separadamente usando-se o Ambiente Estatístico R (R Core Team 2014). 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Resultados A maior intensidade das fenofases coincidiu com a maior frequência de indivíduos na mesma fenofase. Os padrões fenológicos foram semelhantes entre as parcelas para ambas espécies. As fenofases botão, fruto verde e maduro de F. picinguabae foram observadas ao longo do ano, com meses de pico na produção de botões. Já as flores estiveram presentes apenas em fevereiro e agosto. Para M. schottiana, observamos a sucessão dos períodos de maior frequência de botões (outubro e novembro), flores (novembro e dezembro), frutos verdes (novembro a maio) e frutos maduros (maio a setembro). A sazonalidade foi observada em botões (TB1:U² = 0,50; TB2:U² = 0,75; p < 0,01) e flores (TB1:U² = 0,29; TB2:U² = 0,48; p < 0,01) de F. picinguabae e botões (TB1:U² = 1,00; TB2:U² = 0,68; p < 0,01) e flores (TB1:U² = 0,48; TB2:U² = 0,39; p < 0,01) de M. schottiana. Indivíduos maiores de F. picinguabae se reproduziram mais do que os menores em TB1 (b = 2,09; p = 0,015) e TB2 (b = 1,61; p = 0,009). Todos os indivíduos de M. schottiana em TB1 (n = 5) se reproduziram, enquanto nenhum se reproduziu em TB2 (n = 3). Encontramos relação positiva entre produção de frutos e DAS para F. picinguabae em TB1 (n = 30; R² = 0,73; b = 2,66; p < 0,001) e TB2 (n = 30; R² = 0,61; b = 2,28; p < 0,001). Já M. schottiana não apresentou relação entre produção de frutos e tamanho em TB1 (p > 0,05). Discussão O padrão de floração sazonal e concentrado no período chuvoso, como observado nas espécies estudadas, é característico das espécies arbóreas de Mata Atlântica (Morellato et al. 2000). A sincronia da floração em determinada época do ano pode ser interpretada como uma estratégia para evitar a perda de pólen e aumentar a atratividade das plantas para os polinizadores (Sanchez-Azofeifa et al. 2003). O padrão de frutificação assazonal exibido pelas espécies estudadas, também característico da comunidade de Mata Atlântica, sugere que os fatores climáticos não limitam a produção de frutos (Morellato et al. 2000). Muitas espécies produzem frutos que são consumidos por animais (Martins et al. 2014), de forma que a frutificação ao longo do ano mantém a comunidade de frugívoros e favorece a dispersão (Suarez, 2015). Somente uma das espécies estudadas mostrou relação entre reprodução e tamanho, com indivíduos maiores produzindo mais frutos. Para F. picinguabae o tamanho dos adultos é capaz de influenciar o desempenho reprodutivo dos indivíduos (Otárola et al. 2013). No entanto, a ausência de relação entre produção de frutos e tamanhos dos indivíduos de M. schottiana pode ter sido influenciada pela análise com baixo número de indivíduos femininos amostrado nas parcelas estudadas. Conclusão As espécies estudadas exibiram padrão sazonal de floração, coincidente com o período chuvoso, e assazonal de frutificação, o que deve fornecer recursos aos frugívoros ao longo do ano. Para uma das espécies o tamanho foi capaz de influenciar a produção de frutos dos indivíduos. Referências bibliográficas Martins, V.F., Cazotto, L.P.D., Santos, F.A.M. Dispersal spectrum of four forest types along an altitudinal range of the Brazilian Atlantic Rainforest. Biota Neotropica, 14(1): 1-22, 2014. Morellato, L.P.C., Talora, D.C., Takahasi, A., Bencke, C.C., Romera, E.C., Zipparro, V.B. Phenology of Atlantic Rain Forest Trees: A Comparative Study. Biotropica, 32:811-823, 2000. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Muller-Landau, H.C. et al. Testing metabolic ecology theory for allometric scaling of tree size, growth and mortality in tropical forests. Ecol. Lett., 9: 575-588, 2006. Munguia-Rosas, M.A., Ollerton, J., Parra-Tabla, V. Phenotypic selection on flowering phenology and size in two dioecious plant species with different pollen vectors. Plant Species Biol., 26: 205-212, 2011. Otárola, M.F., Sazima, M., Solferini, V.N. Tree size and its relationship with flowering phenology and reproductive output in Wild Nutmeg trees. Ecol. Evol., 1-9, 2013. Pires, J.P.A., Silva, A.G., Freitas, L. Plant size, flowering synchrony and edge effects: What, how and where they affect the reproductive success of a Neotropical tree species. Austral Ecol., 39: 328-336, 2014. R Core Team (2014). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. URL http://www.R-project.org/. Sanchez-Azofeifa, A., Kalacska, M.E., Quesada, M., Stoner, K.E., Lobo, J.A., Arroyo-Mora, P. Tropical Dry Climates. In: Schwartz, M. D. (ed.) Phenology: An Integrative Environmental Science. Kluwer Academic Publishers, Dordrecht, 2003, p.212-137. Suarez, M.R. Estrutura espacial e variação temporal da chuva de sementes ornitocóricas em uma Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. Instituto de Biologia, Campinas, SP, UNICAMP. 2015, 74 p. (FAPESP pela bolsa de mestrado de Kelly Ribeiro (2014/11559-1) e como parte do Projeto Temático Biota/Gradiente Funcional (03/12595-7). CAPES pela bolsa de mestrado de Kelly Ribeiro e CNPq pela bolsa de doutorado de Valéria Martins (142295/2006-0). 3