DANÇA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INCLUSÃO SOCIAL FERREIRA, E.L;FAEFID/UFJF CATALDI , C.L. FEFID/UFJF O presente trabalho é uma reflexão do processo civilizador na teoria de Nobert Elias e o desenvolvimento da dança para pessoas com deficiência. Partimos do pressuposto que, para os bailarinos com deficiência física, a dança significa uma possibilidade de transformação social, saindo do lugar da impossibilidade gerado pela deficiência, para a possibilidade da materialidade do movimento corporal. Segundo Elias (1995), o indivíduo é uma categoria histórica, o que significa que o indivíduo nasce numa dada configuração, a qual pressupõe um domínio do comportamento. O processo civilizador, segundo concebe o autor citado, comporta uma dimensão que é necessariamente coletiva e social, mas também uma dimensão particular e individualizada, que remete para a compreensão dos processos de introjeção das demandas e pressões sociais e coletivas: nesta medida o autor sugere-nos um duplo procedimento de análise para a compreensão deste processo civilizador. Uma sociogênese e uma psicogênese, capazes de iluminar a construção social da civilização como uma forma específica e particular de configuração social, historicamente marcada. Não sendo uma necessidade da História, a civilização inscreve-se no campo das ações e decisões humanas, comportando um olhar sobre os indivíduos como construtores e construídos pela sociedade. Para o autor, o domínio das emoções nos seres humanos é central na sua teoria. O processo se dá a partir dos mecanismos de autocontrole que vão se configurando também nas esferas psíquica e social, as quais se entrelaçam. Elias mostra a existência de uma conexão forte entre as alterações na estrutura social e as mudanças no comportamento dos indivíduos revelados pelo avanço de patamares de vergonha, repugnância, controle e principalmente autocontrole. Deste ponto de vista, parece-nos possível pensar as transformações pelas quais passam as pessoas com deficiência na dança em cadeira de rodas. Elias não estudou a sociedade dos indivíduos com deficiência, porém a sociedade mais ampla dos indivíduos e sua obra nos fornecem subsídios para pensar algumas questões sobre o tema deste trabalho. No processo histórico, as pessoas com deficiência foram constituídas e reconhecidas pelas suas limitações e não como totalidade do ser humano. Sendo assim, a estigmatização advinda do corpo imperfeito está presente em todas as relações das pessoas com deficiência, e é reproduzida até hoje pelas instituições (família, escola, etc). Isto ocorre porque a condição corporal foi/é entendida dentro da lógica do desvio da normalidade, onde existem “eficientes e deficientes”. Este é o principio sob o qual se erige todas as construções de estigmas e as justificativas da segregação. Os deficientes dotam um universo de condutas e representações de ambiguidades, as quais revelam um denso entrecruzamento de fronteiras simbólicas, isto é, do perfeito, imperfeito, do possível, impossível, do excluído. Reside aqui, portanto a coisificação do corpo, construindo uma segregação que ultrapassa as paredes institucionais. Esta segregação fica, e muitas vezes passa a fazer parte de sua identidade, fazendo-o sentir-se impotente perante aos mecanismos sociais. É neste ponto que a dança para as pessoas deficientes pode abrir novas possibilidades, uma vez que a mesma possibilita uma vivência diferenciada nos princípios pedagógicos sociais, estabelecendo assim, uma oposição à estrutura individual e consequentemente social. Portanto, a experiência com a dança para as pessoas com deficiência, é reveladora de uma sociabilidade construída com base na irregularidade. Por outro lado, Nobert Elias aponta que a sociedade é somativa, o que importa são as relações e as funções que se estabelecem destas relações. Neste modelo sistêmico, funcional, então, não interessa o número de indivíduos que se relacionam e sim, como se relacionam a partir do controle das emoções. Portanto as possibilidades de relações entre os indivíduos são inúmeras. Embora não podemos dizer que a dança compreende a totalidade da vivência e dos processos de identificação dos mesmos, cabe ressaltar que ela é um instrumento para torná-los visível. Assim sendo, vamos pensar aqui a dança para as pessoas com deficiência. Numa apresentação artística, por exemplo, temos presente dois lados da sociedade, composta por indivíduos diversificados. De um lado temos indivíduos com padrões diferenciados de gestos corporais e do outro lado, temos uma platéia que está sendo afetada. Temos aqui dois lados se interagindo, mas as interações são absolutamente diversificadas. Vale ressaltar também que, segundo Elias (1995), as condutas padronizadas prevalentes em qualquer sociedade, em qualquer tempo, não são imutáveis. Por isto, os sentidos são muito singulares1. As pessoas com deficiência, então, re-significam a dança, misturando valores e referencias que aparentemente, permanecem separados e incongruentes. Considerando que a dança está cada vez mais presente nos eventos sociais e esportivos, isto se torna um indicativo de mudanças individuais e sociais. Desta forma, o processo de inclusão social está se tornando cada vez mais abrangente, complexo e sofisticado. BIBLIOGRAFIA ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro : Zahar, 1995. -----. A sociedade de corte. Lisboa : Estampa, 1987. ----- Sobre o Tempo. Jorge Zahar Editor, Rio De Janeiro, 1998. ----- Mozart, sociologia de um gênio. Trad. de Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1995. 1 Singular aqui é no sentido de particularizar ----- O Processo Civilizador – Uma História dCostumes. Jorge Zahhar Editor, Vol. 1, 1994. ----- O Processo Civilizador – Formação do Estado e Civilização. Jorge Zahhar Editor, Vol. 2, 1994.