Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. USO DE ENERGIA NUCLEAR: A TRAGÉDIA DE CHERNOBYL E A RETOMADA DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO Gabriel Sousa Melo* Iury dos Santos Façanha** RESUMO A energia nuclear vem sendo bastante contestada entre ambientalistas no Brasil por conta da retomada do Programa Nuclear Brasileiro, que provoca discussões acerca de uma possível tragédia, como a de Chernobyl, que possa causar danos irreparáveis ao país. A construção da usina Angra 3 é o ponto de partida da retomada do programa, que tem como objetivo aumentar o potencial energético do país. Todavia, diversos ambientalistas condenam o programa, pois temem que acidentes como o de Three Mile Island e Chernobyl se repitam, prejudicando o meio ambiente brasileiro. Sua posição perante o assunto é imutável, afirmando que existem apenas fins econômicos. Por outro lado, o Ministério da Ciência e Tecnologia confirma os fins econômicos, contudo demonstram também a parte ambiental do projeto 1, que visa diminuir a emissão de CO2, pois a indústria nuclear é a única que trata, acondiciona e mantém a guarda de todos seus rejeitos2, e minimizar riscos de acidentes ambientais durante o transporte da fonte de energia (urânio), pois necessita de pequena quantidade para geração de muita energia. Apesar de ter seus benefícios o uso da energia nuclear conta com diversos malefícios, como as tragédias ocorridas pelo seu uso. Three Mile Island e Chernobyl são as mais conhecidas por conta de sua dimensão, mas vamos nos conter com Chernobyl, que no dia 26 de abril de 2009 completou 23 anos. Chernobyl é uma pequena cidade da extinta União Soviética, hoje pertence à Ucrânia, que viveu vários dias de terror quando um erro em uma usina nuclear causou uma das piores tragédias humanas. Desde o ocorrido há grande incidência de casos de câncer em habitantes próximos ao local do acidente. Palavras-chave: Energia Nuclear, Chernobyl, Programa Nuclear Brasileiro, Angra III, Artigo 21, Princípio da precaução, Princípio da prevenção. Autores: Gabriel Sousa Melo, aluno do primeiro semestre do curso de Direito da Faculdade 7 de Setembro. Contato: [email protected] Iury dos Santos Façanha, aluno do primeiro semestre do curso de Direito da Faculdade 7 de Setembro. Contato: [email protected] Orientador: João Alfredo Telles Melo, professor de Direito Ambiental da Faculdade 7 de Setembro. Contato: [email protected] 1 Ler o documento: http://www.senado.gov.br/web/comissoes/cct/ap/AP20080702_ProdEnergiaNuclear_CNEN.pdf 2 Ler a pág. 32 do documento contido no domínio: http://www.senado.gov.br/web/comissoes/cct/ap/AP20080702_ProdEnergiaNuclear_CNEN.pdf Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 1. INTRODUÇÃO A abordagem desenvolvida nesse trabalho teve como base o aniversário de 23 anos da tragédia de Chernobyl, que coincidiu com os 23 anos de início das obras da usina Angra 3, a polêmica gerada em torno da retomada do Programa Nuclear Brasileiro e a ascendência do Direito Ambiental no cenário jurídico brasileiro, tendo em vista a enorme preocupação do mundo com o meio ambiente, que vem sendo cada vez mais degradado. Tal trabalho objetivou esclarecer a tragédia de Chernobyl, detalhando dados ocultados pelo governo da extinta União Soviética, explicar o que significa o Programa Nuclear Brasileiro, expondo seus possíveis danos e benefícios à sociedade brasileira conceituar o termo “energia nuclear”, citando os casos anteriores, e expor os princípios que estão envolvidos na controvérsia gerada em torno do tema proposto, viabilizando uma análise melhor da situação. A retomada desse programa foi tida como referência por ser um tema bastante atual, sendo exposta e explorada da maneira mais compreensível, para que seja possível informar corretamente a todos sobre o assunto, mostrando sua importância e discernindo as verdades das mentiras perante futuras discussões que possam surgir. Além disso, para a realização de tal pesquisa realizamos a metodologia de procedimento com utilização dos métodos histórico, comparativo, monográfico e estatístico, e as técnicas de documentação indireta e documentação direta extensiva, pois fizemos análises de um caso, o uso de energia nuclear, particularizando-o, a tragédia de Chernobyl e a retomada do Programa Nuclear Brasileiro. Os métodos usados podem ser explicados por conta da observação do passado para conceituar o presente (método histórico), pela comparação de fatos (método comparativo), pelo aprofundamento de estudos (método monográfico), pela apresentação de dados numéricos (método estatístico) e por representar um benefício social (método funcionalista). A utilização das referidas técnicas podem ser explanadas pela forma de pesquisa documental e bibliográfica (documentação indireta), através de páginas na internet e livros sobre o assunto, ou seja, intermediários, e pela consulta direto à fonte por diversos meios (documentação direta extensiva), como medidas de opinião e atitudes, análises de conteúdo, entre outros meios. 2. 2.1 DESENVOLVIMENTO A TRAGÉDIA DE CHERNOBYL Em 26 de abril de 1986, ocorreu na Ucrânia o pior acidente nuclear da história3. Causado por falha humana, o acidente aconteceu por problemas em hastes de controle do reator que foram mal projetadas e por erros no manuseio da máquina na Usina Nuclear de Chernobyl (originalmente chamada Vladimir Lenin4). Dentre as conseqüências do acidente cita-se a poeira radioativa que tomou conta do local e a contaminação dos seres viventes da região. Na madrugada do dia 26, a equipe responsável pelo plantão aproveitou o desligamento de rotina da unidade 4 para realizar um experimento que buscava verificar o que aconteceria com as bombas de resfriamento se houvesse interrupção de energia, mais especificamente, no momento do intervalo entre a interrupção e a ativação dos 3 Por Gabriela Cabral, da equipe brasilescola.com, em: http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm 4 Em: Por Juliana Carpanez, da Folha Online, em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 2 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. geradores de emergência. As bombas de resfriamento assumem um importante papel em uma usina nuclear, pois consegue bloquear o aumento das temperaturas dos reatores, local que armazena o combustível nuclear, impedindo assim trágicas conseqüências. Para tal experimento, a equipe desligou o sistema de segurança da unidade para evitar que houvesse interrupção de energia no reator e ainda reduziu a capacidade de energia do reator em 25%, o que motivou o acidente, pois a queda de energia foi maior do que a planejada, fazendo com que agissem rapidamente para reverter a situação. Porém, uma grande onda energética foi criada e o reator emergencial não funcionou para impedir a mesma. O crescimento acelerado de energia fez com que os reatores recebessem energia em quantidade maior do que suportava, causando uma grande explosão de 2000ºC de temperatura, o que impulsionou o incêndio do grafite existente que moderava os nêutrons no reator. O grafite por muitos dias permaneceu queimando, fazendo com que inúmeras tentativas de cessar fogo e impedir mais liberação de material radioativo fossem em vão. Não se sabe ao certo a quantidade de pessoas mortas em conseqüência do acidente e nem a quantidade de radiação liberada, pois as estatísticas das autoridades soviéticas foram distorcidas com o intuito de ocultar a real situação do problema5. Após o acidente foi construída uma estrutura de concreto e aço sobre o local acidentado e contaminado, o que recebeu o nome de sarcófago. O sarcófago tem a finalidade de impedir a liberação dos 95% do combustível nuclear ainda existente no local. De acordo com documentos sigilosos que pararam nas mãos de uma representante do Soviete Supremo, parlamento soviético, 10.198 pessoas já tinham sido hospitalizadas, das quais 345 mostravam sinas de lesões causadas pelas irradiações, mas o governo disfarçava pra esconder da população as proporções que a tragédia poderia chegar a atingir e até hoje a população não tem noção dos grandes danos causados pela tragédia, ou seja, o governo manipulava números para não parecer uma grande irresponsabilidade por parte deles6. Existem indícios de que as autoridades modificaram arbitrariamente os parâmetros para tentar curar os atingidos, alguns eram milagrosamente curados e mandados para casa, mas isso poderia agravar ainda mais a situação dos pacientes afetados. Enfim, foi um ato criminoso cometido pelo governo soviético7. Relatórios da época mostram que poderia chegar até 40.000 o número de mortos vitimas de câncer causado pela radiação. Os pesquisadores usaram cálculos teóricos baseados no modelo de Hiroshima8. O cálculo foi feito da seguinte forma: pegaram o número de mortos por conta do acidente e multiplicam por 10 que será aproximadamente o numero de pessoas que ainda virão a sofrer impactos da tragédia de Chernobyl9. 5 Por Gabriela Cabral, da equipe brasilescola.com em: http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm 6 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 7 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 8 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 9 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 3 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Os números se tornaram totalmente flexíveis, pois não se falava mais em 40.000 vitimas, mas sim em 4.000 prováveis mortes. Após 20 anos os números já previstos foram comprovados, quatro mil mortos10. Alguns anos depois, na França e principalmente na Córsega, foram registrados vários casos de câncer de tireóide com o mesmo risco de gravidade daqueles vistos em Chernobyl, ou seja, os países vizinhos também foram afetados drasticamente11. O elemento mais perigoso que saiu do reator no acidente de Chernobyl não foi o césio, nem o plutônio, foi a mentira. Uma mentira que se espalhou como a radioatividade pelo país e pelo mundo inteiro12. 23 anos após o acidente de Chernobyl e a região ainda continua desabitada. Atualmente oito milhões de pessoas vivem irregularmente em áreas contaminadas na Ucrânia, Rússia e principalmente na Bielo-Rússia. Há 23 anos eles continuam a consumir os alimentos radioativos, que os contamina pouco a pouco. Esse problema levantado em 1986 pela Confederação Soviética na conferencia de Viena foi simplesmente ignorado pelas autoridades13. Na Bielo-Rússia, cerca de 300 mil crianças sofre as conseqüências da contaminação, apresentando deformidades corporais e até mentais, sem falar da fauna e da flora que também foi extremamente afetada pelo ocorrido14. Chernobyl marcou o desarmamento dos dois maiores rivais nucleares do mundo, pois mostrou a todos a grande destruição que poderia ser gerada caso ocorresse uma guerra nuclear entre URSS e EUA15. 2.2 A RETOMADA DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO 2.2.1 O PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO A procura pela tecnologia nuclear no Brasil teve inicio na década de 50, com o Almirante Álvaro Alberto, que importou duas ultra-centrifugadoras da Alemanha para o enriquecimento do urânio, em 195316, no entanto a decisão de implementar uma usina termonuclear no Brasil só ocorreu em 1969, quando a Furnas Centrais Elétricas S.A. foi escolhida pra construí-la. Em junho de 1974, as obras da primeira usina termonuclear do Brasil, Angra 1, estava em andamento quando o Governo Federal decidiu ampliar o projeto e autorizou a construção da segunda usina, Angra 2, formando o Complexo Nuclear Almirante Álvaro Alberto. 10 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 11 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 12 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 13 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 14 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 15 Reportagem de Thomas Johnson, exibida no canal Discovery Channel Civilization, em data não encontrada, mas presente em: http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 16 Por autor desconhecido, em: http://www.nuctec.com.br/educacional/enbrasil.html 4 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Em 1981, Brasil e Alemanha assinaram o Acordo de Cooperação Nuclear17. O acordo estabelecia a construção de oito reatores nucleares para geração de eletricidade, e a implantação de uma indústria teuto-brasileira (de origem alemã e brasileira) para a fabricação de componentes e combustível para os reatores, além de permitir ao Brasil desenvolver a tecnologia de urânio enriquecido. O fato de o Brasil não ter assinado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares - TNP, em julho de 1968, era objeto de preocupação mundial. Entretanto, mediante intensa pressão, Alemanha, Brasil e a Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, oito anos mais tarde, estabeleceram garantias mais rígidas que as estabelecidas no TNP a fim de assegurar o uso pacífico da energia nuclear, ou seja, evitar a construção de armas nucleares18. 2.2.2 A RETOMADA No dia 18 de agosto de 2008, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, apresentou ao presidente Lula os objetivos e metas para a retomada do Programa Nuclear Brasileiro. O plano abrangeria os setores de defesa (propulsão naval de submarinos), de produção de combustível nuclear, de aplicações nucleares (medicina, indústria, agricultura e P&D), de gerenciamento de rejeitos radioativos, de licenciamento, segurança e impacto ambiental de instalações, além do setor de energia, que hoje produz 1957 MW (657 MW em Angra 1 e 1300 MW em Angra 2) e passaria a produzir 1400 MW com o reinicio da construção da usina Angra 3, o que seria necessário para abastecer uma cidade como Rio de Janeiro 19, no entanto, devido aos protestos formais e informais, a construção foi mais uma vez adiada. No dia 19 de abril, o presidente Lula mais uma vez anunciou que as obras para construção da usina, depois de 23 anos, seriam retomadas20. O plano, que hoje faz parte do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, custará ao todo cerca de R$7,5 bilhões, sendo 70% vindos dos cofres públicos e o restante a ser financiado no mercado internacional21. O funcionamento da usina está previsto para 2014, atendendo à meta do Plano Decenal de Energia - PDE 2007/2016. Toda essa demora na conclusão do projeto gira em torno de dois problemas: as dificuldades para emissão de uma licença ambiental e a proposta de construir mais quatro centrais nucleares, além de Angra, sendo duas no nordeste, com início previsto para outubro de 2009, e duas no sudeste, com previsão de escolha do local em 201022. 2.2.3 O PROBLEMA A problemática gerada em torno do assunto se refere à emissão da licença para construção de Angra 3. Segundo as pessoas que são contra a retomada do programa, seria feito um mau uso da energia nuclear, alegando que o aperfeiçoamento do Brasil na matéria do desenvolvimento nuclear estimularia a atividade nuclear, no 17 Por Cecília Maria Leite Costa, em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/htm/fatos/AcordoNuclear.asp 18 Por Cecília Maria Leite Costa, em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/htm/fatos/AcordoNuclear.asp 19 Por Hugo Bachega, em 04/03/2009, no domínio: http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/03/04/ibama-emite-licenca-para-angra-3-condicionada44-exigencias-754691798.asp 20 Por Marcio Aith e Flávio Ferreira em matéria publicada na Folha de São Paulo do dia 19/04/2009. 21 Por Eletronuclear, em: http://www.eletronuclear.gov.br/inicio/index.php - Angra 3 22 Por Roberto Salles Xavier, analista sênior da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 23/05/2007. http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=47204 5 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. sentido da construção de uma bomba atômica. Foi o que afirmou o diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA, Mohamed ElBaradei, durante uma conferência internacional sobre energia nuclear em Pequim, no dia 20 de abril de 200923. Além disso, há alegações de que a nova usina possa causar danos irreparáveis ao meio ambiente, pois ocorreriam mudanças extremas na fauna e na flora do local, no entanto seus habitantes não concordam com a afirmação. Outro problema, que foi contestado pelo Greenpeace, é o fato de o Congresso Nacional não ter sido consultado sobre a construção de Angra 3, conforme determina a Constituição Federal de 1988 através do Decreto 75.870/75, que autoriza a construção de Angra 324. Segundo especialistas vinculados ao Greenpeace, o ciclo de produção de energia nuclear, chamado de “ciclo do perigo”, começa com a mineração do urânio, que é extraído e convertido em um pó amarelo, o yellow cake. A operação é realizada em Caetité, na Bahia, sendo realizada em condições precárias, pois não funciona com autorização de operação permanente, expondo o homem, o solo e a água a riscos de contaminação elevados, sempre com emissão de CO225. O yellow cake é transportado de caminhão por mais de 700 quilômetros até chegar ao porto de Salvador, seguindo depois de navio até o Canadá, onde é convertido em gás e transportado até a Holanda. Todo o percurso oferece grande risco de contaminação do mar, por meio de um possível vazamento, e da camada de ozônio, por meio da emissão de CO226. Na Holanda o urânio é enriquecido, consumindo mais energia e gerando mais gases de efeito estufa, depois é novamente trazido para o Brasil, para o porto do Rio de Janeiro. Em seguida viaja de caminhão até a fábrica de combustível nuclear, em Resende, onde é convertido novamente em forma sólida e, finalmente, enviado às usinas nucleares, em Angra dos Reis, onde é convertido em energia27. Portanto, a maior emissão de CO2 é, segundo o Greenpeace, durante o processo de extração e enriquecimento do urânio, contrariando a estratégia de marketing da indústria nuclear 28, que consiste em convencer a sociedade e as autoridades de que a energia nuclear é limpa porque não emite gases do efeito estufa. No dia 4 de março de 2009, o IBAMA emitiu mais uma licença autorizando a retomada das obras da usina, todavia fez quarenta e quatro exigências à Eletronuclear para que a decisão prosseguisse, entre elas, a principal, está a apresentação de um demonstrativo para construção de um depósito para resíduos radioativos e de combustíveis usados, melhoria de trânsito de Angra dos Reis, programa de educação ambiental sobre as questões nucleares e o monitoramento das tartarugas marinhas em sua área de influência29. 23 Revista France Presse, divulgada no dia 20 de abril de 2009, número da edição não encontrada. Por Daniel Roncaglia, no domínio: http://www.conjur.com.br/2008-out10/construcao_angra_nao_encontra_barreiras_juridicas 25 Por Greenpeace Brasil, em 14/10/2008, no domínio: http://vimeo.com/1966657 26 Por Greenpeace Brasil, em 14/10/2008, no domínio: http://vimeo.com/1966657 27 Por Greenpeace Brasil, em 14/10/2008, no domínio: http://vimeo.com/1966657 28 Por Greenpeace Brasil, no domínio: http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/energia-nuclear-xclima 29 Por Hugo Bachega, em 04/03/2009, no domínio: http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/03/04/ibama-emite-licenca-para-angra-3-condicionada44-exigencias-754691798.asp 24 6 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Recentemente, no dia 7 de abril de 2009, o grupo ambientalista Greenpeace fez um protesto no mar em frente às usinas Angra 1 e 2 contra os investimentos do governo federal na retomada do Programa Nuclear Brasileiro, demonstrando a insatisfação de pelo menos parte da população brasileira. Os manifestantes propõem o uso de energias renováveis, como a eólica30. Segundo a organização, um parque eólico com o dobro da capacidade de Angra 3 poderia ser construído em dois anos pelo mesmo valor, evitando o agravamento do aquecimento global e gerando milhares de empregos31. Entretanto, mais uma vez, o Governo Federal, por meio da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, emitiu no dia 9 de março de 2009 uma licença parcial para construção da usina, referindo-se à concretagem complementar dos locais que receberão edificações de segurança nuclear e à impermeabilização da área onde será erguido o prédio que abrigará o reator de Angra 3 e o prédio auxiliar à operação do reator. Para a emissão da licença, especialistas analisaram documentos técnicos do Relatório Preliminar de Análise de Segurança – RPAS, enviado à Comissão Nacional de Energia Nuclear pela Eletronuclear, e concluíram que os projetos para as atividades mencionadas na licença parcial são satisfatórios para a parte inicial do processo de construção da usina32. Para que o licenciamento da construção da usina em si, ou outras instalações de grande porte, é necessário emitir uma licença mais específica, mediante o cumprimento de outros requisitos técnicos (consultar documento33). Segundo Juliana Caranez, da Folha Online, a vida útil de um reator gira em torno de vinte e um anos, que sendo ultrapassado esse tempo, poderá ocorrer degradação de componentes críticos e surgimento de incidentes de operação, culminando possivelmente num grave acidente34. Portanto, no caso das obras da usina Angra 3, que mesmo não estando totalmente concluídas, chegam à marca de vinte e três anos, enquadrando-se na situação referida pela jornalista. 2.2.4 A JUSTIFICATIVA Segundo os defensores do projeto, os investimentos nessa área trariam apenas benefícios “não só para o Brasil, mas para todos os seres do planeta” 35, pois iremos dispor de soluções mais limpas para geração de energia, contribuindo para a diminuição da emissão de CO2 e do problema energético do país. O advogado Fernando Furriela, que defende o Greenpeace na ação afirma que o decreto foi revogado pelo presidente Fernando Collor em março de 1991, além do risco ao meio ambiente, o governo está violentando o Estado de Direito. Antes de o IBAMA dar um licenciamento, o Congresso deveria ter sido consultado sobre a obra36. 30 Em: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/04/07/materia.2009-04-07.6367828854/view Por Rebeca Lererm coordenadora da Campanha de Energia do Greenpeace, em 07/04/2009, no domínio: http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/noticias/de-frente-para-usinas-nucleare 32 Assessoria de Imprensa da CNEN, no domínio: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=62212 33 “Garantia da qualidade para segurança de usinas nucleoelétricas e outras instalações”, páginas 07 a 21, em http://www.cnen.gov.br/seguranca/normas/doc/Nrm116.swf 34 Reportagem exibida no domínio : http://www.achetudoeregiao.com.br/RJ/usina_nuclear4.htm 35 Por Roberto Salles Xavier, analista sênior da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 23/05/2007. http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=47204 36 Por Daniel Roncaglia, no domínio: http://www.conjur.com.br/2008-out10/construcao_angra_nao_encontra_barreiras_juridicas 31 7 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Além de tudo, segundo a Eletronuclear, de todas as fontes de energia térmica de grande escala disponíveis, o urânio é o maior destaque, fator favorável ao Brasil, que possui as maiores reservas do mineral no mundo, com destaques para Ceará, Bahia, Minas Gerais e Paraná. Além disso, no caso de Angra 3, a tarifa projetada seria de R$138,14/MWh, próximo dos R$137,44/MWh alcançados pelas usinas térmicas vencedoras dos últimos leilões de “energia nova”, realizados pelo governo37. 2.3 REGULAMENTAÇÃO 2.3.1 O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO FEDERAL O artigo 21, inciso XXIII, alínea A da Constituição Federal diz que: “Compete à União: explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: a) Toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional ” 38. Com base no caput do artigo 21, “Compete à União”, podemos dizer que fica implícito que a exploração dos serviços e instalações nucleares e o monopólio sobre os mesmos são exclusivos da União, pois, de acordo com o autor Felipe Vieira39, estão subentendidas as denominadas “competências exclusivas”, que determina indelegável, no caso, a exploração da referida atividade. Tal competência exclusiva, referida no artigo 21, é de natureza administrativa40 e não é passível de delegação, ou seja, a União poderá exercer a exploração por meio de uma empresa privada, em ausência de uma estatal competente, sem que esta tome decisões por si só, cabendo sempre à União a decisão final sobre quaisquer assuntos envolvidos no ato do monopólio, da exploração ou das instalações nucleares, no sentido de manter a soberania nacional. Em relação à alínea do artigo, pode-se citar que no Brasil existem 18 normas jurídicas que regulamentam o setor nuclear, além de ser necessária a aprovação da atividade perante o Congresso Nacional. Para construir uma usina é preciso a emissão de quatro licenças. Em julho de 2008, o IBAMA concedeu a Licença Prévia para Angra 3, que tem 60 exigências a serem cumpridas pela Eletronuclear. Nessa primeira fase do licenciamento, o IBAMA avalia a localização e a concepção do empreendimento, atestando a sua viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases41. Todavia, tal aprovação não fica difícil no atual cenário político brasileiro, haja vista que o partido do presidente possui maioria tanto no Senado como na Câmara. Os que não simpatizam são facilmente comprados, já que a corrupção é cada vez mais frequente no Brasil. 37 “Por que construir Angra 3”, em: http://www.eletronuclear.gov.br – Angra 3 Constituição da República Federativa do Brasil 39 VIEIRA, Felipe. Comentários à Constituição. Rio de Janeiro: Editora Ferreira, 2005, p. 274 40 , Felipe. Comentários à Constituição. Rio de Janeiro: Editora Ferreira, 2005, p. 275 41 Liana Fernandes de Jesus, advogada da Eletronuclear, em entrevista ao site: http://www.conjur.com.br/2008-out-10/construcao_angra_nao_encontra_barreiras_juridicas 38 8 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 2.3.2 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO VS. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO Analisaremos agora dois princípios fundamentais existentes no âmbito do direito ambiental, são eles: o princípio da precaução e o princípio da prevenção. Alguns autores entendem que para o direito ambiental a prevenção não é o mesmo que a precaução, portanto são princípios autônomos. Pelo princípio da prevenção o perigo é concreto, a atividade exercida é considerada perigosa, ou seja, já há o conhecimento do risco, ou pelo menos de que há um risco possível e eminente42. A precaução, por sua vez, lida com a possibilidade abstrata do risco, sem saber ao certo se tal atividade causará ou não dano ambiental43. Além disso, o princípio da precaução está diretamente ligado à atuação preventiva. Ambos objetivam proporcionar meios para impedir que ocorra a degradação do meio ambiente, ou seja, são medidas que, essencialmente, buscam evitar a existência do risco. Entretanto, o princípio da precaução é prioritariamente utilizado quando o risco de degradação do meio ambiente é considerado irreparável ou o impacto negativo ao meio ambiente é tamanho que exige a aplicação imediata das medidas necessárias à preservação. Atualmente, não vale atentar apenas para as crises financeiras que o mundo vem passando, mas é preciso também analisar a crise ambiental que é geral. Ambiente esse muitas vezes ferido ou colocado em risco apenas por interesses econômicos. Então, é preciso analisar bem os riscos antes de pensar em reiniciar o Programa Nuclear Brasileiro para que não venha a acontecer aqui no Brasil tragédias como a que ocorreu em Chernobyl. 3. CONCLUSÃO Podemos concluir que no caso da tragédia de Chernobyl é possível utilizar, mediante a hipótese de crime de responsabilidade civil, previsto no art. 225, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988, que diz que “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados44”, os excludentes da responsabilidade civil ambiental, pois, segundo nossas pesquisas, não houve dolo, ou seja, não houve a intenção de causar uma tragédia de tamanhas proporções, haja vista que o objetivo da equipe responsável pela usina era realizar um experimento nos equipamentos. Entretanto, mesmo sem o dolo, os responsáveis deverão cumprir penas restritivas ou administrativas previstas na Legislação Ambiental, que vão desde prestação de serviços à comunidade até a prisão, mediante análise da gravidade, dos antecedentes criminais e da situação econômica do infrator. No caso do Programa Nuclear Brasileiro, uma possível tragédia, salvo sob sabotagem comprovada, também será incluída no princípio dos excludentes da responsabilidade civil ambiental, seguido das mesmas penas e análises. 42 MACHADO, P.A. L. Estudos de Direito Ambiental. São Paulo: Malheiros, 1994, p.35 ALBEGARIA, Bruno. Direito Ambiental e a Responsabilidade Civil das Empresas. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2005, p. 111. 44 Artigo 225, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988 43 9 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Todavia, é importante ressaltar que diante das inovações da lei 9.605/98, a punição é extinta com apresentação de laudo que comprove a recuperação do dano ambiental. Portanto, cabe aos cidadãos brasileiros fiscalizar as obras, mesmo que não sejam retomadas, pois oferecem riscos na situação em que se encontram, a fim de evitar a repetição da tragédia, mantendo preservadas a fauna e a flora do local. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 8. ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. 940 p. ALBERGARIA, Bruno. Direito Ambiental e a Responsabilidade Civil das Empresas. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2005. 208 p. MACHADO, P.A.L. Estudos de Direito Ambiental. São Paulo: Malheiros, 1994, 166 p. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. rev. ampl. e atual. 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