O OLHAR DOS QUE ESCUTAM A ADOLESCÊNCIA:
SINGULARIDADES DA CLÍNICA ATUAL
III Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
Renata Cardoso Plácido Ayub**, Davisson Gonçalves Giaretta* e
Mônica Medeiros Kother Macedo***
**Mestranda em Psicologia Clínica, *Auxiliar de Pesquisa, ***Professora Orientadora FAPSIPUCRS
Programa de Pós Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS,
Resumo
As mudanças inerentes à passagem da vida infantil para a vida adulta caracterizam a
adolescência. As contínuas transformações sócio-culturais sofridas pelos adolescentes têm
sido objeto de estudo da clínica psicanalítica. Disto decorrem contribuições da Psicanálise as
quais têm articulado modalidades psicopatológicas que se fazem presentes, nesta idade da
vida, com mudanças impostas pela cultura atual. Sabe-se que o contexto familiar
contemporâneo está atravessado primordialmente pela dificuldade no estabelecimento de
vínculos e manutenção de papéis, assim como pelo desprestígio da função paterna. Nesse
sentido, o presente estudo pretende investigar, a partir da experiência da escuta de
psicanalistas, as características e peculiaridades que marcam a clínica com adolescentes na
atualidade. Trata-se, portanto, de um estudo qualitativo, cujo método visa utilizar descrições
narrativas, as quais serão analisadas, tornando possível a obtenção de subsídios para
compreensão da complexidade do objeto de estudo. Participarão desta pesquisa dez
profissionais com experiência na clínica com adolescentes, seguindo o critério de
exaustão/saturação dos dados. Como instrumento de coleta de dados será utilizada uma
entrevista semi-estruturada, de questões abertas, a qual será gravada em áudio e,
posteriormente, transcrita para garantir a fidedignidade dos dados. Os participantes do estudo
assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados obtidos serão
analisados através da Análise de Conteúdo proposta por Bardin e discutidos a luz dos
construtos psicanalíticos. Pretende-se, portanto, através deste estudo, identificar a partir da
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experiência da escuta de Psicanalistas, quais são as configurações contemporâneas de
padecimento psíquico na adolescência. O presente estudo integra as pesquisas do Grupo de
Pesquisa “Fundamentos e Intervenção em Psicanálise” do Programa de Pós Graduação em
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: Adolescência; Clínica psicanalítica; Demandas terapêuticas e Psicanálise.
Introdução
A adolescência é um período do ciclo vital caracterizado pela ocorrência de
transformações biológicas, psíquicas e sociais. É um tempo marcado pela intensidade de
sentimentos e questionamentos, que se intersecciona com as modificações decorrentes da
puberdade. Sabe-se, porém, que as características psíquicas deste processo dependem da
cultura e da sociedade a qual se desenvolve o indivíduo.
As mudanças inerentes à passagem da vida infantil para a vida adulta, comportam-se
em si uma complexidade que merece ser exploradas. Neste sentido, a Psicanálise apresenta-se
como importante recurso de reflexão sobre a temática adolescente.
A construção de uma nova identidade é uma das tarefas psíquicas da adolescência. A
sociedade oferece, de acordo com a sua cultura, rituais tradicionais de passagem à idade
adulta, que funcionam como mediações simbólicas entre o adolescente e o meio, que lhe
conferirá o ‘status’ de adulto. As configurações da contemporaneidade, aliadas à
complexidade desta etapa da vida promovem por vezes condições de padecimento psíquico.
Observa-se cada vez mais uma redução do período historicamente caracterizado como
infância e a expansão da adolescência. A sociedade atual tem experenciado uma adultez com
critérios indefinidos, fato que dificulta, segundo Birman (2006), demarcações, em termos de
subjetividade das idades da vida. O autor sugere que estabelece-se uma conseqüente desordem
familiar, onde a relação com a questão dos cuidados foi significativamente afetada, refletindo
nas novas formas de subjetivação da adolescência.
Pretende-se, com este estudo, identificar a partir da experiência da escuta de
Psicanalistas, quais são as configurações de padecimento psíquico dos adolescentes na clínica
atual, bem como contribuir com a proposição de possíveis medidas preventivas de intervenção
na prática psicanalítica da adolescência.
Metodologia
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Para que se possa atingir os objetivos propostos, será realizado um estudo qualitativo.
Este método visa utilizar descrições narrativas, obtidas geralmente por meio de entrevistas,
que são analisadas tornando possível a obtenção de respostas para o problema e as concepções
teóricas dentro da complexidade do objeto de estudo (Moura, 1998). Neste contexto, a
abordagem qualitativa trabalha com significados - ocultos ou manifestos, crenças, valores e
demais conceitos acerca da subjetividade (Minayo, 2000).
Participarão desta pesquisa, no mínimo, dez psicanalistas com experiência de pelo
menos dez anos na clínica com adolescentes. Utilizar-se-á o critério de exaustão/saturação dos
dados, conforme propõe Bodgan e Biklen (1994). Nesta perspectiva, as informações obtidas
estão contempladas em suas semelhanças e diferenças e, em razão da repetição do conteúdo,
passam a não trazer novas compreensões para a investigação.
Será realizada, de forma individual, uma entrevista semi-estruturada de questões
abertas, que será gravada em áudio e, posteriormente, será transcrita para garantir a
fidedignidade dos dados.
À entrevista contemplar-se-á, adicionalmente, a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após a transcrição das entrevistas,
serão identificadas a partir das verbalizações dos participantes, categorias de análise, cujos
dados serão analisados através da Análise de Conteúdo proposta por Bardin (1988) e
discutidos a luz da Psicanálise.
Resultados e Conclusão
Atualmente o estudo não possui conclusões, uma vez que encontra-se na etapa de
construção do Projeto de Pesquisa a ser encaminhado para a Comissão Científica da
Faculdade de Psicologia da PUCRS e, posteriormente, para o Comitê de Ética da
PUCRS.
Referências Bibliográficas
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. 1988
BIRMAN, J. Tatuando o desamparo. Em: Cardoso, M.R. Adolescentes. São Paulo: Escuta.
2006.
BLOS, P. Adolescência: uma interpretação psicanalítica. São Paulo: Martins Fontes. 1998
BODGAN, R., BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria
e aos métodos: Porto. 1994.
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MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. (7 ed.). São
Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco. 2000.
MOURA, M. L. S. Manual para elaboração de projetos de pesquisa. Rio de Janeiro:
UERJ. 1998.
ROSA, M.D. 2002 Adolescência: da cena familiar à cena social. Revista Psicologia USP 13
(2). Disponível em: http://www.scielo.br. Acessado em: 20 de maio 2008.
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