FÁCIES SEDIMENTARES DAS FEIÇÕES
GEOMORFOLÓGICAS DA ÁREA DE CONFLUÊNCIA DOS
RIOS BRANCO E GRANDE, REGIÃO OESTE DA BAHIA
Georghinton Diego dos Santos Feitosaa, Gisele Barbosa dos Santosb
a
Universidade Federal do Oeste da Bahia, e-mail: [email protected]; bUniversidade
Federal do Oeste da Bahia, e-mail: [email protected]
Palavras-chave: Fácies; Terraços Fluviais; Planície de Inundação.
Introdução
Sistemas deposicionais fluviais envolvem a interação entre
processos sedimentares que atuam em diversas escalas de
tempo e espaço. Esta interação apresenta dinâmica complexa
e gera produtos de grande variabilidade nos depósitos
aluvionares, cujas partes elementares são as fácies
deposicionais (Sawakuchi & Giannini 2006) . Diante disso, o
estudo de sequências aluviais pretéritas (paleoambientes),
subsidia o conhecimento sistemático do período Quaternário.
Assim, “o presente pode ser a chave para se compreender o
passado” como postula a teoria do Uniformitarismo criada
por Hutton no séc. XVIII e aprimorada por Lyell no séc.
XIX. Portanto, a reconstituição dos aspectos deposicionais é
importante tanto do ponto de vista da história quaternária,
quanto para a preservação dos ecossistemas no que se refere
ao uso e ocupação deste ambientes. Visto que a evolução da
dinâmica deposicional pode servir de subsídio para
evidenciar mudanças futuras que podem atestar o atual uso e
ocupação desta área investigada. As deposições fluviais que
condicionaram o desenvolvimento do ambiente fluvial revela
os mecanismos e processos como as características dos grãos
e a deposição das partículas finas (silte e argila) e grossas
(areia). Nesta perspectiva o tamanho da partícula pode
indicar evidências do material depositado, caso tenha sido
desenvolvido em ambientes com alto (árido), médio
(transição) ou baixo (úmido) grau de energia, assim
conciliado a datação, este tipo de procedimento pode
auxiliar no entendimento dos processos deposicionais e na
possibilidade de mudanças ambientais. O objetivo deste
trabalho foi investigar a geomorfologia fluvial, da área de
confluência dos rios Branco e Grande, por meio do
levantamento e caracterização dos níveis deposicionais. Com
finalidade de interpretar a história da evolução fluvial
pretérita evidenciada pelos paleoníveis deposicionais (níveis
de terraços). A área de estudo está inserida na bacia do rio
Grande, um dos principais afluentes da margem esquerda do
rio São Francisco, sendo o maior tributário na região,
segundo Alves et. al. (2009) toda a bacia abrange uma área
76089 km² e se encontra no extremo oeste do estado da
Bahia. A confluência dos dois rios ocorre na porção central
da bacia do Rio Grande, a sub-bacia do Branco possui uma
área de 8102 km2 (Figura 1).
Figura 1: Localização da área de estudos.
Material e Métodos
Para o mapeamento da área de confluência entre os rios
Branco e Grande, foram usadas como base imagens do
satélite Rapideye. Estas imagens foram adquiridas pelo
convênio entre a Universidade Federal da Bahia UFBA e a
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
(SEI). Desta maneira a pesquisa foi dividida em duas etapas:
a) Cálculo da superfície de tendência. Para o cálculo de
Superfície de Tendência foi utilizada uma imagem SRTM/30
metros pelo projeto TOPODATA (Valeriano, 2008) que
foram adquiridos para as análises deste estudos no endereço
(http://www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php).
Para
o
levantamento dos níveis deposicionais em ambiente de SIG
foi utilizada a metodologia de Zani et al. (2012). Esta
simples operação removeu a superfície de tendência da
imagem SRTM original, gerando uma nova imagem com os
valores de altitude, onde elevações residuais positivas estão
acima da tendência (terraços) e as depressões negativas
abaixo (canais, meandros abandonados, lagoas, espiras,
paleocanais). b) Levantamento dos níveis deposicionais em
campo. A identificação e caracterização dos níveis
deposicionais foi realizada a descrição dos diferentes níveis
das sequências deposicionais aluviais. Para tanto, foram
observadas as seguintes características dos depósitos: textura
do material, cor, arranjo, organização, espessura, presença e
tipo de estruturas primárias, presença e tipos de concreções,
mosqueamentos e matéria orgânica, além disso foi feita a
correspondência com os ambientes de sedimentação
propostos por Miall (1996).
em ambientes com média a alta energia. Já a Fácies 2: nível
silto-arenoso maciço; areia muito fina a média (predomínio
de areia fina); presença de raízes; marrom. Interpretada
como Fsm: Depósitos de canais abandonados ou brejos
(Figura 3). O Nível de Terraço Superior possui apenas a
Fácies 1: nível arenoso maciço; areia muito fina a grossa
(predomínio de areia fina); marrom claro; presença de
matéria orgânica. Interpretada como Sm/Smo: ocorrência
deve-se ao transporte de sedimentos pelo canal em
ambientes com média a alta energia (Figura 4).
Resultados e Discussão
Foram identificados três níveis deposicionais aluviais, sendo
dois níveis de terraços - Nível Superior; Nível Inferior e um
Nível de Planície atual - além destas unidades foram
descritas a estratigrafia de uma Espira de Meandro e um
Paleocanal inseridos no nível da atual planície e no Terraço
Inferior respectivamente. O Nível da Planície apresenta em
sua Fácies 1e : nível silto-arenoso maciço; areia muito fina a
fina (predomínio de areia muito fina); cinza claro; Fácies 2:
nível silto-arenoso maciço; areia muito fina a fina
(predomínio de areia muito fina); marrom escuro;
mosqueamento menos abundante que o nível inferior. Podem
ser interpretadas como fácies Fsm: Depósitos de canais
abandonados ou brejos. E Fácies 3: nível areno-siltoso; areia
muito fina a média (predomínio de areia muito fina); marrom
escuro; presença de mosqueamento; presença de raízes;
estratificação laminar plano paralela. Pode ser interpretada
como: Fm e Fl: geometria em lençol, refletindo acresção
vertical (Figura 2).
Figura 3: Descrição de fácies do Terraço Inferior
Figura 4: Descrição de fácies do Terraço Superior
Figura 2: Descrição de fácies da Planície
O Nível de Terraço Inferior apresenta em sua Fácies 1: nível
arenoso maciço; areia muito fina a média (predomínio de
areia média); marrom claro. Interpretado como Sm/Smo:
ocorrência deve-se ao transporte de sedimentos pelo canal
A espira de meandro localizada na planície atual apresentou
Fácies 1 e 3: nível siltoso maciço; areia muito fina a grossa
(predomínio de areia muito fina); cinza claro. Interpretadas
como Fsm: Depósitos de canais abandonados ou brejos. E a
Fácies 2: nível silto-argiloso maciço; areia muito fina a
grossa (predomínio de areia muito fina); marrom claro.
Interpretada como Fm e Fl: canal abandonado (Figura 5 A).
O Paleocanal contido no Nível do Terraço Inferior possui
em sua Fácies 1: nível argilo-siltoso maciço; areia muito
fina a grossa (predomínio de areia fina); marrom claro.
Interpretada como Fm: evidencia um ambiente de
baixíssima energia relacionado a pântanos e lagoas durante
as fases de abandono dos canais. E Fácies 2: nível siltoso
maciço; areia muito fina a grossa (predomínio de areia muito
fina); presença de mosqueamento e matéria orgânica; cinza
claro. Interpretada como Fsm: Depósitos de canais
abandonados ou brejos (Figura 5 B).
e dinâmica dos canais fluviais, como em processos de
avulsão e consequente abandono de canais (Magalhães Jr.&
Saadi 1994). A perda de energia do sistema está revelada
pelo afinamento do tamanho das partículas para o topo dos
depósitos, com a grande deposição de pelitos, indica a
ocorrência de climas mais úmidos a parir do início do
Holoceno.
Referências bibliográficas
Alves, R. R. 2011. Gênese e evolução da paisagem
quaternária no médio São Francisco: fatos e evidências na
bacia do rio Grande-Bahia. Tese (Doutorado em Geografia),
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG. 298p.
Alves, R. R.; Serato, D. S.; Campos, E. H.; Campos, P. B.
R.; Rodrigues, S. C. As Relações Existentes entre a
Ocorrência das Formas do Relevo e o Uso do Solo na Bacia
do Rio Grande - BA. 2009.
Figura 5: Descrição de fácies (A) Espira de Meandro
inserida na Planície; (B) Paleocanal inserido no Terraço
Inferior
O levantamento estratigráfico permitiu interpretar que os
depósitos dos terraços possuem materiais mais grosseiros,
relacionados a climas mais secos, com predomínio de
inteperismo físico. Durante o Quaternário os grandes
processos na bacia hidrográfica do rio Grande, tinham
caráter agradacional e foi aos poucos sendo substituído pelo
atual, o denudacional. Nesse contexto durante todos os
processos deposicionais do período desenvolveram-se
feições como os paleocanais, terraços aluviais e a rede de
drenagem, corroborando trabalhos de Alves (2011), em
outros depósitos da região da bacia do rio Grande. A
mudança climática recente condicionou os processos de
deposição, influenciando o ambiente de confluência, o que
acarretou na deposição de partículas mais finas, como argila
e silte, esta última em grande quantidade. Nesse sentido os
terraços caracterizam-se por disporem de uma grande
quantidade de areia fina e média, mostrando-se um ambiente
de formação mais energético, ou seja, sendo de média a alta
energia, por transportar partículas maiores, entretanto, na
planície atual os canais transportam partículas menores,
indicando clima mais úmido e predominância de partículas
finas resultantes da intensificação do inteperismo químico.
Considerações Finais
A análise de superfície de tendência mostrou a variabilidade
de feições que existem em uma área de confluência, onde o
gradiente altimétrico é muito sutil. O estudo das tendências
gerais e das flutuações locais auxiliou no mapeamento de
feições que estão nas porções mais baixas da área, como as
planícies e a paleodrenagem, bem como as áreas altas, os
terraços. Portanto, recomenda-se que futuras pesquisas sejam
feitas incluído datações, para que se identifique a ação
climática dentro desse ambiente fluvial, para compreender as
deposições diferentes na planície fluvial e nos terraços, a fim
de complementar o que foi constatado neste trabalho.
Recomenda-se também investigações a respeito da
neotectônica, pois esta pode interferir diretamente na forma
Magalhães Jr., A. P. & Saadi, A. 1994. Ritmos da dinâmica
fluvial neo-cenozôica controlados por soerguimentos
regionais e falhamento: o vale do Rio das Velhas na região
de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Geonomos. v. 2 n.
1. pp. 42-54
Sawakuchi, A. O.; Giannini, P. C. F. 2006. v. 36 (2), pp.
347-358. Complexidade em sistemas deposicionais Revista
Brasileira de Geociências.
Miall, A. D. 1996. The geology of fluvial deposits:
sedimentary facies, basin analysis, and petroleum geology.
Berlim: Springer-Verlag. 582 p.
Valeriano, M. M. 2008. Topodata: Guia Para Utilização de
Dados Geomorfológicos Locais. INPE, São José dos
Campos.75p.
Zani, H.; Assine, M. L.; McGlue, M. M. 2012. Remote
sensing analysis of depositional landforms in alluvial
settings: Method development and application to the Taquari
megafan, Pantanal (Brazil). Geomorphology. 161–162. pp.
82-92.
Download

SED175 - Georghinton Diego dos Santos Feitosa