Utilização de Resíduos Agroindustriais Como Substrato na Produção de Mudas de Tomateiro. Juliano Tadeu Vilela de Resende1; Marcos Ventura Faria1; Elisabete Domingues Salavador1; Francisco Vilela Resende2; Nicolau Mallmann1; Sérgio Denega1; Elaine Maria dos Santos1; Douglas Dias de Almeida3; Pablo Forlan Vargas4; Anderson Quartiero3; Renato Mercedes3, Thales Pádua Moraes5. 1 UNICENTRO/PR – DEAGRO - Docentes do Departamento de Agronomia, Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03, Campus Universitário de Guarapuava/Cedeteg – email: [email protected]; 2 EMBRAPA/hortaliças; 3 UNICENTRO/PR – Acadêmicos do curso de Agronomia; 4 UNESP/FCAV- mestrando; 5 Eng. Agrônomo, estagiário. RESUMO A produção de mudas de alta qualidade depende fundamentalmente do substrato utilizado, pois este exerce influência em todas as fases de desenvolvimento das mudas. Este trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade da maravalha carbonizada, como componente de substratos na produção de mudas de tomateiro da cultivar Bônus. Os tratamentos foram determinados a partir de combinações do substrato comercial Plantimax®, casca de arroz carbonizada e maravalha carbonizada. Na casca de arroz e na maravalha, adicionou-se fertilizante em quantidade equivalente, em valor nutricional, ao substrato comercial, utilizado como testemunha. Foram avaliadas as características emergência das plântulas, altura de planta, diâmetro na base do hipocótilo, massa seca da parte aérea, do sistema radicular e da massa seca total. Os tratamentos não apresentaram diferença significativa para o número de plantas emergidas e diâmetro da base do hipocótilo na avaliação final. Os tratamentos Plantimax® + maravalha carbonizada nas proporções 1:1 e 1:2 e maravalha carbonizada promoveram substancial aumento na altura das plântulas, bem como promoveram incremento nos teores de massa seca da parte aérea, do sistema radicular e da massa seca total, em relação aos demais tratamentos. Verificou-se a viabilidade da utilização da maravalha carbonizada como componente de substratos para produção de mudas de tomateiro. PALAVRAS-CHAVE: Lycopersicon esculentum, maravalha, casca de arroz ABSTRACT Agroindustrial refuses used in horticultural substrates for tomato seedlings production. The high-quality seedlings production depends, mainly, on the substrate, that influences all the stages of development of seedlings. This research had the objective to evaluate the use of carbonized sawdust as substrate component for growing tomato seedlings Lycopersicon esculentum cv. “Bonus”. 7 variants were set up: (1) carbonized rice hulls, (2) carbonized sawdust and (3) Plantimax®, a commercial substrate, latter mixed whether with (1) or (2) in different proportions. Carbonized rice hulls and carbonized sawdust were fertilized to have equivalent nutrient content compared to the commercial substrate. Plantimax® was used as standard. At the end of the experiments conducted seedlings’ germination, seedlings’ length, diameters at the hypocotyls’ base, fresh weights of the cormus’, fresh weight of the roots and dry weights of total plants. For parameters seedlings germination and diameter at the hypocotyl’s base no significant differences were detected. The treatments carbonized sawdust, Plantimax® and Plantimax® added carbonized sawdust (1:1 and 1:2) showed positive effects on seedlings’ height, fresh weight of the plant, fresh weight of the roots and total dry weight compared to others treatments. It could be verified the viability of the use of carbonized sawdust as substrate for tomato seedlings production. KEYWORDS: Plantimax®, carbonized sawdust, carbonized rice hulls, seedling production. A base da horticultura moderna sustenta-se sobre a produção de mudas de elevada qualidade, quer seja ornamental, frutífera ou olerícola. A partir dessas mudas, podem ser obtidas plantas adultas com excelentes atributos (Gonçalves, 1994). A produção de mudas de alta qualidade é uma estratégia para melhorar a agricultura e, de certa forma, diminuir o impacto ambiental causado no solo. O substrato é o componente mais sensível e complexo do sistema de produção de mudas, pois, qualquer variação na sua composição pode comprometer a sua qualidade, exercendo influência desde a germinação das sementes até o desenvolvimento final das plantas (Minami,1995). O termo substrato é aplicado em horticultura a todo material sólido, distinto de solo, natural, residual, mineral ou orgânico que colocado num recipiente, em forma pura ou em mistura, permite a fixação do sistema radicular, desempenhando, portanto, papel de suporte para a planta (Cadahia, 1998). O substrato, além de prover a sustentação da planta, é fonte de nutrientes e permite a troca grossa no sistema radicular (Gonçalves, 1995), sendo composto de uma parte sólida (partículas minerais e orgânicas) e uma gasosa formada pelos poros, que podem ser ocupados pela água e/ou ar. Os substratos devem ser isentos de fitopatógenos e de sementes de plantas invasoras, e devem apresentar ótimas propriedades físicas e teores adequados de nutrientes. Esses substratos facilitam, inclusive, a retirada das mudas em ponto de transplante com torrão. São, em geral, constituídos por vermiculita expandida, materiais orgânicos (turfa, casca de Pinus, carvão de casca de arroz, resíduos agroindustriais ou composto orgânico), fertilizantes e aditivos (Filgueira, 2000). O substrato deve apresentar como características principais: baixa densidade, elevada capacidade de retenção de água, isenção de contaminações, baixo custo, teor de sais solúveis, quantidades adequadas de macro e micronutrientes necessárias ao bom desenvolvimento das mudas. Estas características dificilmente encontram-se presentes em um único material sendo, portanto necessária à mistura de vários ingredientes para se conseguir uma combinação desejável (Minami, 1995). A constituição básica da maior parte dos substratos comerciais baseia-se na mistura de casca de Pinus, turfa, vermiculita e perlita. As diferenças entre eles ocorrem em função da variação das proporções utilizadas e na ausência de alguma das substâncias, além da suplementação mineral que é dada a cada formulação. O pequeno volume de substrato e a alta taxa de lixiviação, particularmente de N, representam dificuldades na manutenção de níveis adequados de nutrientes devido, principalmente, a alta freqüência de irrigação. Com isso as quantidades de nutrientes encontrados nos substratos são insuficientes para um bom desenvolvimento das plantas até a fase de transplantio sendo, portanto, necessário se fazer fertilizações complementares. Aeração adequada, razoável capacidade de retenção de água e drenagem livre, são qualidades físicas ideais do substrato, uma vez que o sistema radicular é confinado a um volume restrito a ser explorado. Esta aeração é imprescindível ao bom desenvolvimento das plântulas, principalmente pelo fornecimento de oxigênio. Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência da maravalha, resíduo agroindustrial, como componente de substratos na produção de mudas de tomateiro. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em bandejas de isopor de 128 células sob estufa no setor de olericultura da Universidade Estadual do Centro Oeste/UNICENTRO-PR. O ensaio foi montado em DBC com sete tratamentos e três repetições, sendo cada parcela constituída de 32 células. Foram semeadas duas sementes do híbrido de tomate Bônus, do tipo Santa Cruz, por célula e com posterior desbaste após germinação, permanecendo apenas uma planta por célula. O resíduo agroindustrial testado foi a maravalha, subproduto poluente das madeireiras, que foi utilizado após carbonização como componente na elaboração dos substratos. Os tratamentos foram determinados a partir das combinações do substrato comercial Plantimax®, casca de arroz carbonizada e maravalha carbonizada. Na casca de arroz e na maravalha, adicionou-se fertilizante formulado (08-28-16) em quantidade suficiente, de forma a equivaler em valor nutricional ao substrato comercial, utilizado como testemunha. Os materiais foram combinados em diferentes proporções, conforme cada tratamento: Plantimax®; Plantimax® + casca de arroz carbonizada na proporção de 1:1; Plantimax® + casca de arroz carbonizada na proporção de 1:2; Plantimax® + maravalha carbonizada na proporção de 1:1; Plantimax® + maravalha carbonizada na proporção de 1:2; Maravalha carbonizada + casca de arroz carbonizada na proporção 1:1 e Maravalha carbonizada. Os tratamentos foram avaliados quanto à germinação, altura de planta, diâmetro na base do hipocótilo, massa seca da parte aérea, massa seca do sistema radicular e massa seca total. A germinação foi avaliada aos 5, 10 e 15 dias após a semeadura, onde se considerou geminada a semente que emitiu para fora do solo o caulículo. A altura de planta, medida da base do hipocótilo até o ápice da muda, e o diâmetro do hipocótilo na região da base foram avaliados aos 15, 25 e 35 dias após a semeadura. Os valores correspondentes à massa seca da parte aérea, do sistema radicular e total foram obtidos a partir de oito plantas coletadas aleatoriamente de cada parcela, no ponto de transplante. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os tratamentos não apresentaram diferença significativa para o número de plantas emergidas ao final da terceira avaliação, porém pode-se observar que os tratamentos maravalha carbonizada, Plantimax® e Plantimax® + maravalha carbonizada, nas proporções de 1:1 e 1:2, sobressaíram em relação aos demais tratamentos para emergência na primeira e segunda avaliação (tabela 1). Essa diferença pode ser explicada talvez em função da maior capacidade de retenção de água que apresenta a maravalha, propiciando melhores condições para germinação. Os tratamentos Plantimax® + maravalha nas proporções 1:1 e 1:2 e maravalha carbonizada promoveram substancial aumento na altura das plântulas em relação aos demais tratamentos (tabela1). Para a característica diâmetro da base do hipocótilo, não foi observada diferença significativa entre os tratamentos avaliados (tabela 2). Para os teores de massa seca da parte aérea, sistema radicular e massa seca total, novamente detectou-se uma superioridade dos tratamentos Plantimax® + maravalha carbonizada nas proporções 1:1 e 1:2 e maravalha carbonizada em relação aos demais tratamentos, como pode ser observado na tabela 2. Tabela 1. Número médio de plantas emergidas e altura média de plântulas (em cm), cultivadas em diferentes substratos em bandejas de isopor de 128 células em casa de vegetação. UNICENTRO: Guarapuava-PR, 2004. Tratamento Plantimax® Plantimax® + casca de arroz carbonizada 1:1 Plantimax® + casca de arroz carbonizada 1:2 Plantimax® + maravalha carbonizada 1:1 Plantimax® + maravalha carbonizada 1:2 Maravalha + casca de arroz carbonizada 1:1 Maravalha carbonizada \1 Plantas emergidas Altura de plantas em cm Avaliações Avaliações 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª 25,66 a\1 31,00 a 31,00 a 3,10 b 5,27 b 6,30 b 16,00 a 30,33 a 30,66 a 2,92 b 5,52 b 6,70 b 0,67 18,66 b 28,66 a 2,40 b 5,58 b 7,13 b b 21,00 a 32,00 a 32,00 a 5,72 a 9,98 a 12,03 a 21,33 a 31,00 a 31,00 a 4,83 a 9,83 a 11,56 a 0,00 19,33 b 24,33 a 2,19 b 5,62 b 7,39 b 13,00 a b 31,00 a 31,00 a 4,82 a 8,79 a 11,99 a médias seguidas de mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Skott Knott (=0,05) Tabela 2. Diâmetro médio da base do hipocótilo e teores da massa seca da parte aérea, do sistema radicular e massa seca total de mudas cultivadas em diferentes substratos em bandejas de isopor de 128 células em casa de vegetação. UNICENTRO: Guarapuava-PR, 2004. Tratamento Diâmetro do hipocótilo em cm 1ªavaliaçã 2ª 3ªavaliaçã o avaliação o Massa seca em gramas MSPA MSR MST Plantimax® Plantimax + casca de arroz carbonizada 1:1 Plantimax + casca de arroz carbonizada 1:2 Plantimax + maravalha carbonizada 1:1 Plantimax + maravalha carbonizada 1:2 Maravalha + casca de arroz carbonizada 1:1 Maravalha carbonizada \1 0,34 b\1 0,78 a 1,10 a 0,05 b 0,01 b 0,06 b 0,49 b 0,97 a 1,24 a 0,06 b 0,02 b 0,08 b 0,51 b 1,14 a 1,42 a 0,05 b 0,01 b 0,06 b 0,73 a 1,35 a 1,60 a 0,22 a 0,05 a 0,27 a 0,57 a 1,10 a 1,50 a 0,17 a 0,07 a 0,24 a 0,41 b 0,86 a 1,16 a 0,08 b 0,03 b 0,11 b 0,45 b 0,96 a 1.65 a 0,18 a 0,05 a 0,23 a médias seguidas de mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Skott Knott (=0,05) A partir dos resultados é possível inferir a viabilidade da utilização da maravalha carbonizada como componente de substratos para produção de mudas de hortaliças, visto o incremento obtido no crescimento e desenvolvimento das mudas de tomate. Um outro fator importante a salientar é o aproveitamento desses resíduos agroindustriais, que até então considerados na região de Guarapuava como poluentes, em função da grande produção e principalmente da dificuldade de decomposição em função da alta relação C/N presentes nesses materiais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CADAHIA, C. Fertirigación: cultivos hortícolas y ornamentales. Madrid: MundiPrensa, 1998. 475p. FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV, 2000. 402p. GONÇALVES, F.C. Armazenamento de melão “Piele de Sapo” sob condições de ambiente. Mossoró, 1994. 42p. Monografia (Graduação) – Escola Superior de agricultura de Mossoró. GONÇALVES, A.L. Substratos para produção de plantas ornamentais. In: MINAMI, K.; TESSARIOLI NETO, J.; PENTEADO, S.R.; SCARPARE FILHO, J.A.; SILVEIRA, R.B.A. Produção de mudas de alta qualidade em horticultura. São Paulo: Fundação Salim Farah Maluf, 1995b. p. 108-115. MINAMI, K. Produção de mudas de alta qualidade. São Paulo. T.A. Queiroz, 1995. 135p.