ESTUDO DO EFEITO AUGER EM MOLÉCULAS PELA TEORIA DAS COLISÕES INELÁSTICAS - I A. M. DIAS* Instituto de Ciências Exatas. Universidade de Alfenas. Caixa Postal 23. 37130-000 Alfenas, MG. Brasil. RESUMO: O objetivo deste trabalho é apresentar um modelo aproximado do Efeito Auger, baseado na Teoria das Colisões Inelásticas, que permita calcular as energias médias dos elétrons ejetados para as diversas faixas do espectro Auger de moléculas. DESCRITOR: Efeito Auger. SUMMARY: The aim of this work is to present an approximated model of Auger Effect, based in the Inelastic Collision Theory, for calculation of the average energies of electrons ejected to bands of molecules Auger spectra. HEADINGS: Auger Effect. * M.Sc., ITA(1981), Professor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade de Alfenas, Alfenas-MG. Rev da Univ de Alfenas,1(4):51-54,1994. 1. INTRODUÇÃO O Efeito Auger (AUGER,1925) observado com átomos, consiste em uma transição eletrônica não acompanhada de radiação, com ejeção de um elétron a partir de um estado inicial do átomo com "buraco" na camada eletrônica mais interna. Inicialmente, um átomo neutro recebe uma radiação de energia E, capaz de retirar um elétron de sua camada eletrônica K, deixando-o com um "buraco" nesta camada. Nos átomos leves, há grande possibilidade de que tal "buraco" seja preenchido por um elétron proveniente das camadas eletrônicas externas, por uma transição não radioativa. Esta transição é acompanhada da ejeção de um elétron com energia cinética T. Obtém-se experimentalmente o espectro destas ejeções medindo-se a intensidade relativa dos elétrons ejetados para diversos valores de T. A Figura 1 ilustra o processo, mostrando um dos estados finais possíveis do sistema. Nesta figura, W representa elétrons de valência "fracamente ligados" e S representa elétrons de valência "fortemente ligados" (MODDEMAN et alli, 1971). --------------- W --------------- W ----o----o----- W --------------- S --------------- S ---------------- S + e- E --------------- K (GS) -------o------- K ---------------- K (I) (F) Figura 1- Efeito Auger Normal K-WW. Os pequenos círculos (o) representam “buracos” na camada eletrônica. I e F representam os estados inicial e final considerados no processo. GS representa o “Ground State” do sistema. O processo Auger normal corresponde à transições representadas por K-WW, K-WS e KSS. A primeira letra representa a camada com o "buraco" no estado inicial (I) e as duas letras seguintes representam as camadas com "buracos" no estado final (F) do sistema. As transições correspondentes a estes processos Auger normais conduzem a linhas mais intensas no espectro Auger. Várias outras "linhas satélites" no espectro Auger podem ser identificadas por transições envolvendo uma excitação inicial de um elétron da camada K em um estado discreto. A identificação destas linhas satélites não é uma tarefa fácil (MODDEMAN et alli, 1971). 2. INTERESSE PELO EFEITO AUGER Como a energia de transição depende, em primeira aproximação, da energia de ligação do elétron K, o espectro Auger constitui, de certo modo, uma "radiografia" do sistema. Assim, este processo tem sido usado como uma técnica eficiente de detecção de impurezas em superfícies de materiais. Processos industriais que envolvem a usinagem de superfícies de precisão e livres de impurezas, como por exemplo a fabricação de discos para microcomputadores, podem empregar o processo Auger para a determinação de prováveis impurezas indesejadas nessas superfícies. Este é um exemplo da importância do domínio desta tecnologia e do interesse dos físicos moleculares pelo estudo deste processo em todo o mundo (SHIRLEY,1973), (SIEGBAHN et alli, 1975), (JENNISON, 1980 e 1981), (KLEIBER et alli, 1981). 3. TEORIA A seção de choque para a ionização de um átomo de hidrogênio no Ground State (GS), com ejeção de um elétron com energia x2/2 na direção x , foi obtida por Massey e Mohr em 1933 (LANDAU e LIFCHITZ, 1966, p. 674), como: d x 8 dx (1) k 2 x3 d x é equivalente à fórmula de Rutherfrod (LANDAU e LIFCHITZ, 1966, p.669-670), para a seção de choque relativa ao intervalo de energia d, para q >> (1/a0), onde a0 é da ordem das dimensões atômicas e –hq representa o momento do elétron ejetado, ou seja: e 4 d d (2) E 2 onde E é a energia do elétron incidente e a energia do elétron espalhado, que, por analogia com (1), corresponde à energia do elétron ejetado. A seção de choque d n relativa a uma transferência de energia En – E0 (diferença de energia do sistema após e antes da colisão) está relacionada à perda de energia do elétron incidente através da Frenagem Eficaz Diferencial (LANDAU e LIFCHITZ, 1966, p.676), dada por: dE ( En E0 )d n (3) n onde tanto pode ser sobre os estados do espectro discreto como sobre o espectro contínuo, e dE n representa a energia média perdida por elétron dentro de um ângulo sólido dado. É razoável supor que a perda de energia seja proporcional à variação de energia do elétron ejetado. Vamos admitir, então, a relação: dE c (4) d onde o sinal negativo significa que um acréscimo em E implica um decréscimo em Vamos agora inferir um valor para c. O processo que conduz ao Efeito Auger inicia-se com o sistema no GS, no qual é provocada a ionização de um elétron da camada K por colisão com elétrons rápidos, suposta inelástica nesta construção, que conduz a ejeção de elétrons com energia T por transições não radioativas do sistema. Portanto, da equação (3), vem que: dE Ek d n onde Ek=E0 -En, sendo Ek a energia necessária para ionizar o elétron K, que corresponde à primeira fase do processo. Da equação (2), d 2 d Logo, temos que dE / d Ek / 2 . Da experiência (MODDEMAN et alli, 1971), pode-se observar que: E k B 2 E k ( N 2 ) E k (O2 ) B ( N 2 ) B (O2 ) 2 E k ( N 2 ) E k (O de CO) B ( N 2 ) B (O de CO) 2 0,007 (5) Assim, vamos inferir c Ek3 / 6 . Com isto e a equação (4), podemos obter que dE E k3 6 d (6) Agora, a partir das equações (3), (4) e (6), pode-se obter que E k3 d 6 ( EGS E f )d (7) onde EGS = E0 representa a energia do Ground State do sistema, antes da ionização, e Ef = En , a energia final do sistema. Das equações (2) e (7), obtemos d 6 E k3 ( EGS E f )d (8) Com este resultado, lembrando-se que k2=(2mE/ 2 ), usando-se a equação (1) e as unidades atômicas m=1, e=1, =1 e a condição E = Ek necessária para que ocorra o Efeito Auger, tem-se, finalmente que fGS Ek 4 ( EGS E f ) Ek 1/ 3 (9) onde fGS fornece a energia média dos elétrons ejetados para cada processo GS f, acompanhado do Efeito Auger. Os resultados obtidos pela equação (9) foram comparados com as energias médias para cada faixa B, C, e D do espectro das moléculas N2, O2 e CO, obtidas experimentalmente por MODDEMAN et alli (1971). Para obter (EGS –Ef), foi usado o mesmo esquema do trabalho de MODDEMAN et alli, à luz do teorema de Koopman, ou seja: (EGS – Ef) = 2 1 , para o processo GS K-WW; para o processo GS K-WS; = 22 , para o processo GS K-SS. A Tabela 1 a seguir resume a comparação dos resultados. Tabela 1- Resumo dos resultados. Todas as energias estão em eV. A coluna fGS representa a energia média calculada pela equação (9) deste trabalho. A coluna exp representa as energias médias experimentais obtidas a partir das energias medidas para cada faixa por MODDEMAN et alli (1971). Molécula N2 Efeito Auger GS K-WW K-WS K-SS Linha Espectral Ek B 409,9 C D EGS - Ef 34,2 55,4 76,6 fGS exp 403,4 343,5 308,3 358,7 337,9 315,0 O2 GS K-WW K-WS K-SS B C D 544,2 37,6 59,4 81,2 570,4 489,7 441,3 496,2 466,4 - GS K-WW K-WS K-SS GS K-WW K-WS K-SS B C D B C D 295,9 34,6 55,6 76,6 34,6 55,6 76,6 260,2 222,2 199,7 583,4 498,1 447,6 248,3 225,6 492,3 464,3 442,3 CO C O 542,1 5. CONCLUSÃO Como se observa pela Tabela 1, as energias médias calculadas pela equação (9) deste trabalho representam uma razoável aproximação para as energias médias experimentais. Uma breve análise mostra que um fator de correção da ordem de 0.9 na equação (9) deste trabalho poderia melhorar consideravelmente os resultados teóricos calculados, Em um próximo trabalho, a introdução desta correção será estudada no sentido de melhorar o modelo proposto. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGER, P.J., Phys. Radium, 6:205, 1925. MODDEMAN, W.E. et alli. Determination of the K-LL Auger Spectra of N2, O2, CO, NO, H2O and CO2, J. Chem. Phys. 55(5):2317-2336, 1971. SHIRLEY, D.A., Theory of KLL Auger Energies Including Static Relaxation, Phys. Rev. A, 7(5):1520-1528, Jan 1973. SIEGBAHN, H.; ASPLUND, L. And KELFVE, P., The Auger Spectrum of Water Vapour, Chem. Phys. Lett., 69(3):435-440, Feb 1980. JENNISON, DWIGHT R., Initial-State relaxation effects in molecular Auger Spectra, Phys. Rev. A, 23(3):1215-1222, Mar 1981. KLEIBER, J.A.; JENNISON,K.R. and RYE,R.R., Analysis of the Auger Spectra of CO and CO 2, J. Chem. Phys., 75(2):650-662, Jul 1981. LANDAU, L. et LIFCHITZ, E., Mecanique Quantique, Moscou, Editions MIR, 1966, 718 p.