Genebra
A capital da paz
Criamos um roteiro de três dias pela cidade suíça
conhecida por abrigar as mais importantes organizações
mundiais dedicadas a manter a relação pacífica entre os
países. Mas é bom saber que, de calma, ela não tem nada
Foto: Shutterstock
Por Danielle Motta
E
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la abriga a sede europeia da ONU, da Cruz Vermelha e mais de 190 organizações
geiros que foram para lá trabalhar nas entidades governamentais ou para buscar qualidade de
internacionais criadas para impedir que o mundo fique em “pé de guerra”. Gene-
vida e segurança. A cidade tem um dos melhores índices de desenvolvimento humano do pla-
bra, a segunda maior cidade da Suíça, é provavelmente o centro mais importante
neta. De quebra, também oferece mais de 50 parques e jardins, dezenas de museus, centros de
de diplomacia e cooperação mundiais. Não à toa, carrega a alcunha de Capital da Paz. Mas a
compras consagrados e, como era de se esperar, muitas relojoarias. Se esses já são bons moti-
rigidez dessas instituições nem de longe lembra o clima jovem, vibrante, moderno e cosmopolita
vos para visitá-la, prepare-se para conhecer mais. Criamos um roteiro que contempla o máximo
que toma conta da cidade. Quase 40% de sua população de 230 mil habitantes é de estran-
de atrações no destino e seus arredores. Uma deliciosa maratona turística pela cidade suíça.
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Suíça
1º DIA
Descobertas mil
Genebra oferece mais de
50 parques, dezenas de
museus, boas compras
e muitas relojoarias
que passou por uma grande remodelagem
no século 16 para ganhar a arquitetura que
exibe hoje e se transformar na principal igreja protestante de Genebra. Vale a pena encarar os 175 degraus para subir no alto de sua
torre: lá de cima dá para garantir boas fotos
do Lago Léman, que contorna a cidade.
À parte da vista panorâmica, essa igreja oferece também mistérios. Seus subterrâneos abrigam um sítio arqueológico que
revela um pouco do passado pré-romano de
Genebra, através de enigmáticos desenhos
rupestres feitos no século 3 antes de Cristo.
Uma passagem interna faz, ainda, a ligação com o Museu Internacional da Reforma, que tem um acervo imenso de objetos e
manuscritos originais, livros raros, gravuras
e pinturas que ilustram a relação entre a cidade e o movimento reformista. Isso porque
Genebra foi um dos principais cenários dessa revolução religiosa. Tanto que, em 1536,
chegou a proclamar-se uma república independente, como forma de repúdio ao pensa114
Fotos: Shutterstock
Sapatos confortáveis nos pés. Isso é tudo
o que você precisa para descobrir Genebra.
A cidade é perfeita para caminhar ou pedalar. Ela é plana, tem trânsito organizado e
seis pontos estratégicos, perto das principais
atrações, que disponibilizam bicicletas gratuitamente aos turistas. O viajante tem direito a
usar as magrelas por quatro horas (para cada
hora adicional, é cobrado o valor de CHF 2).
Isso é tempo suficiente para se embrenhar
pelas ruazinhas da Cidade Velha – o melhor
lugar para começar o passeio. Repleta de becos estreitos, casas de pedra, praças e galerias
de arte, essa parte da cidade ainda guarda heranças dos tempos romanos, quando Genebra era apenas um pequeno povoado.
Tanto a Idade Média quanto a época da
Reforma Protestante também estão representadas ali. No coração desse bairro histórico fica a Catedral St. Pierre, uma construção do século 12, originalmente Católica,
mento católico predominante no restante do
país – status em que permaneceu até 1798.
O Muro dos Reformadores, que fica
dentro do Parc des Bastions, exibe as estátuas de grandes personagens históricos responsáveis por esse movimento, como João
Calvino e Guillaume Farel.
Entendido tudo sobre o protestantismo, é
hora de seguir para o Lago Léman. Em sua
margem esquerda está o Jardin Anglais e o
Horloge Fleurie, um relógio de flores que virou símbolo da cidade – considerada, não por
acaso, a “capital mundial das relojoarias”.
No centro do lago fica a Jet d’Eau, uma
das maiores fontes do mundo – ela alcança 140 metros de altura e jorra 500 litros de
água por segundo. Curiosamente, ela não foi
criada para embelezar o Léman. Longe disso,
era apenas uma forma de checar a pressão das
águas que descem das regiões mais altas e que,
por isso, poderiam servir para produzir energia
hidrelétrica no rio Rhône. De tão belo, o chafariz converteu-se em ponto turístico.
Por falar em águas, perto dali está o Quai
Du Monta-Blanc, o ponto de partida dos
cruzeiros que percorrem as cidades à beira
do lago. E também o Pâquis Baths, um de-
que com 448 pilares erguido em 1872 que
vira a “Copacabana” dos moradores e turistas nos meses de verão. Milhares de pessoas
vão lá para tomar banho de sol, mergulhar e
aproveitar as várias saunas disponíveis.
Se você já tiver saciado sua vontade de
curtir o Lago Léman, siga no sentido da
Quai des Bergues para uma parada na Favarger Boutique, uma das fábricas de chocolate
mais antigas da Suíça, aberta em 1826. Seus
proprietários oferecem um tour para conhecer todo o processo de produção do chocolate, com direito à degustação no final. Melhor ainda é sentar-se com calma em uma
das mesinhas para saborear um chocolate
quente, a bebida mais tradicional no país.
No retorno à Cidade Velha, passe pela
Rue de Rive, a principal rua de compras de
Genebra, que corre paralela ao lago. Mas tenha em mente que é um lugar para praticar a
arte de namorar vitrines: joias e relógios raríssimos estão à venda a preços estratosféricos.
Para que essas preciosidades caibam no orçamento, prefira as lojas da Rue Du Rhône,
Rue de La Confédération, Rue Du Marche e
Rue de La Croix-d’Or, que apesar de sofisticadas, são mais acessíveis. Já para adquirir
A Catedral
St. Pierre (acima)
era, originalmente,
católica. Depois
de várias reformas,
tornou-se a igreja
protestante mais
importante de
Genebra. Às
margens do Lago
Léman (ao lado), a
paisagem é repleta
de vinhedos e
vilarejos centenários
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Suíça
A Rota dos Relógios
é um dos passeios
clássicos da cidade
O Relógio de
Flores (acima) é
um dos símbolos
de Genebra,
considerada a
capital mundial das
relojoarias. O Palácio
das Nações (ao
lado) abriga a sede
europeia da ONU.
Na frente de sua
fachada estão as
bandeiras dos 193
países que fazem
parte da organização
e uma escultura
imensa de uma
Cadeira Quebrada,
que representa a
luta contra o uso de
minas antipessoais
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os famosos canivetes suíços das marcas Victorinox e Wenger, os melhores endereços são
os supermercados das redes Migros e Coop.
O roteiro do primeiro dia termina em
um jantar no distrito de Carouge. Só não
estranhe se você tiver a impressão de estar em uma cidadezinha da Itália. Carouge foi construída no século 18 a pedido
do Rei da Sardenha e, por essa razão, tem
a arquitetura e o charme típicos do Mediterrâneo italiano. Mas a culinária mais
saborosa dali é francesa. O restaurante L’Olivier de Provence oferece pratos
como guisado de lagosta, sopa de pescados e salmão, que podem ser desfrutados
em um terraço rodeado por árvores.
2º DIA
A vez dos museus
Acorde cedo. Hoje é dia de fazer uma
peregrinação aos museus de Genebra. A cidade contabiliza mais de 20 deles e, como é
impossível visitar todos em um só dia, priorize de acordo com o seu gosto e interesse.
tência do vidro – algo incomum de se encontrar em outras partes do mundo.
Pulando de um para outro, procure
pelo Museu de Arte e História, o maior de
Genebra, próximo ao centro histórico. Ele
funciona em um edifício do início do século 19 e guarda objetos de arte, pinturas
e artesanatos suíços datados dos tempos
da Pré-História à Idade Moderna. Reserve alguns minutos para prestigiar também
a sua coleção de antiguidades egípcias –
uma das mais belas da Europa.
Atrações com essa mesma “pegada” artística você vai encontrar aos montes no
Quartier des Bains, bairros que concentra
o maior número de galerias de arte, museus
e ateliês. É possível escolher, por exemplo,
entre o Centro de Fotografia de Genebra e
o Museu de Arte Moderna e Contemporânea, os mais interessantes.
Outra opção é conhecer a Rota dos Relógios. Genebra abriga fábricas de 14 das
marcas mais consagradas do mundo. A produção das primeiras delas começou em 1541,
quando João Calvino proibiu a população
Fotos: divulgação
Inicie pela região das organizações internacionais, seguindo pela Quai Du Mont-Blanc,
no sentido oposto à Cidade Velha. Ali está o
imponente Palácio das Nações, que não chega a ser exatamente um museu, mas é parada obrigatória pela importância que exerce no
trabalho de manter as relações diplomáticas
e de segurança no mundo. Há visitas guiadas
quatro vezes ao dia, feitas em 15 idiomas, para
conhecer o Salão da Assembleia, as coleções
de arte e a biblioteca que estão em seu interior. O prédio, levantado entre 1929 e 1937,
abrigou, até 1946, a Liga das Nações, uma
entidade criada por 44 países com o intuito
de evitar guerras. Depois disso, virou casa da
Organização das Nações Unidas (ONU) e, em
1966, tornou-se a sede europeia da ONU, a
segunda mais importante depois de Nova York.
Aproveite que está ali e chegue ao Museu Ariana, ao lado do Palácio das Nações.
Em sua construção em estilo neoclássico
estão expostas mais de 20 mil peças que
contam os 12 séculos de história da cerâmica e os mais de setecentos anos de exis-
de usar joias. A decisão forçou joalheiros a
reinventarem seus ofícios, passando a produzir relógios. Menos de 50 anos depois, esses
acessórios já eram considerados os melhores
do mundo – qualidade que carregam até hoje.
Por isso, não é raro encontrá-los expostos pelas ruas e prédios, a exemplo do maior
pêndulo já construído. Ele fica no saguão do
Hotel Cornavin e está suspenso a uma altura de 30 metros, que vai do nono andar até
o piso térreo. Este é, inclusive, um dos hotéis
mais badalados por ficar próximo ao Palácio
das Nações, à Quai Du Mont-Blanc e à estação ferroviária. Também não está distante do
monumental Relógio Solar e a Laser, na Quai
Wilson, outra atração da Rota. A obra um tanto curiosa foi idealizada pela artista húngara
Klara Kuchta para simbolizar a tecnologia dos
relógios de Genebra. Por isso, seu mostrador
de 6 metros de diâmetro é feito de aço inoxidável, vidro e fibras óticas – que fazem brilhar
198 estrelas em uma espécie de mapa celeste.
Mais intrigante ainda é o Relógio Musical da Passage Malbuisson. A cada hora,
16 sinos de bronze tocam enquanto 13
Museu Internacional da
Cruz Vermelha
Todo o trabalho desenvolvido há mais de 150 anos pela Cruz
Vermelha – a organização humanitária internacional criada para dar
assistência às vítimas de guerra e desastres naturais – está registrado
em detalhes no Museu Internacional da Cruz Vermelha. São centenas
de fotografias, filmes, esculturas e documentos históricos expostos
em 11 salas. O rico acervo faz dele um dos mais interessantes da Europa. A atração, porém, está fechada desde julho de 2011 para uma
grande reforma e deve ser reaberta somente em 2013.
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Suíça
Calendário
12 de maio
Caves Ouvertes
Desde 1987, cerca
de 80 vinícolas
de Genebra e de
cidades vizinhas
abrem suas portas
para o público. Além
de vinhos, a maioria
também oferece
um cardápio com
pratos elaborados
especialmente para
combinar com os
sabores da bebida.
22 a 24
de junho
21ª Fête de
la Musique
Por três dias, a
cidade é tomada
por concertos,
apresentações
de corais e de
orquestras e shows
de punk rock, jazz
e outros estilos.
Os espetáculos
acontecem nos
principais pontos
turísticos de
Genebra, como o
Parc des Bastions.
19 de julho a
12 de agosto
Fêtes de Geneve
(fetesdegeneve.ch)
É o maior evento
da Suíça, com mais
de 250 concertos
musicais gratuitos
oferecidos próximos
ao Lago Léman.
Também há a maior
queima de fogos
da Europa, além de
parque de diversões
e barracas com
comidas típicas.
7 a 9 de
dezembro
Fête de
L’Escalade
Cidade Velha (1602.ch)
A tradicional festa
celebra a derrota
desastrada das
tropas francesas
de Savoy no
ataque de 12 de
dezembro de 1602.
A comemoração
tem direito a desfiles
de membros da
Companhia de 1602
– montados a cavalo
e usando trajes e
armas de época – e
uma procissão de
velas com mais de mil
pessoas fantasiadas.
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Foto: Dreamstime
(ville-ge.ch/culture/fm)
carruagens puxadas por cavalos desfilam
diante dos ponteiros. O ritual é uma alusão à celebração da Escalade, a festa que
comemora o ataque mal-sucedido das tropas francesas de Savoy para conquistar
Genebra, em 12 de dezembro de 1602.
Quem encerra a rota é o Museu Patek
Philippe. Nele, estão guardadas centenas
de criações da empresa de relógios homônima, fundada em 1839, que vão de modelos antigos e caixinhas musicais a fotografias de artigos fabricados a partir do século
16 na Suíça – além de uma biblioteca inteiramente dedicada à relojoaria.
Se ainda tiver fôlego, não deixe de experimentar a noite de Genebra. A cidade abriga
casas noturnas sofisticadas, como a Griffin’s
Club. Dividida em diversos lounges e bares, ela
é ponto de encontro de celebridades suíças e
francesas, que se reúnem para aproveitar uma
seleção musical de qualidade. Mas vá preparado: os preços ali não são nada camaradas.
3º DIA
Pelos arredores
Chega de corre-corre. O último dia é para
relaxar. Logo nas primeiras horas da manhã,
dirija-se ao Teleférico de Salève para subir à
montanha que marca a fronteira entre a Suíça
e a França. Para chegar até ele, pegue o ônibus
número 8, perto da Pont Du Mont-Blanc.
O bondinho de acesso, criado em 1932,
sai do vilarejo de Veyrier e vai a 1.097 me-
tros de altura, até atingir o topo. A subida tem
uma pitada de adrenalina: devido à posição
da montanha, ela é acentuada e rápida. Mas
a emoção é recompensadora. Do alto, é possível ter a vista de 360º de Genebra, do Lago
Léman e do Mont Blanc. Sem contar as trilhas para caminhadas, de onde você pode ter
bons ângulos do Alpes Suíços – um paraíso
para fotógrafos amadores e profissionais.
Aproveite para almoçar ali mesmo, no
Restaurante Horizon, sentado em uma das
mesas colocadas diante das imensas janelas de vidro de frente para a paisagem panorâmica. Na descida, você pode dar uma
escapadinha até o lado francês da fronteira para comprar alguns dos mais de 100
tipos de queijos vendidos na vila de Pas de
l’Échelle, aos pés de Salève. Só não se esqueça de levar o passaporte: ele é solicitado na passagem de um país para o outro.
Com a tarde livre, volte à Genebra e dedique-se ao minicruzeiro pelo rio Rhône. O
passeio parte da Quai des Moulins de I’lle
às 14h15 e dura pouco menos de três horas. Faça a reserva no dia anterior e chegue
ao menos 30 minutos antes da partida, para
garantir um bom lugar no barco. Isso porque, no trajeto, vilarejos com construções
centenárias, vinhedos e casas erguidas quase dentro do rio descortinam a cada quilômetro percorrido pela embarcação. Um belo
contraste (e um respiro) para quem acabou
de enfrentar uma maratona de atrações em
uma Genebra tão rica em cultura e história.
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