Emigração 51 As mulheres, filhas dos grandes proprietários, costumam manter-se solteiras em vez de casar com alguém de baixa condição social. Outras podiam casar-se, mas para além da freguesia e com alguém da mesma condição social. Assim, procurava-se não criar problemas de divisão da propriedade, «minimizar possíveis ameaças ao capital simbólico possuído pela parentela e centralizando especificamente na posição e potencialidade nupcial das suas mulheres»46. Tendo em conta a classe social, os proprietários casam pela posição social e exercem um certo controlo, em relação aos herdeiros através do favorecimento, de quem casa cedo e quem fica em casa. É preciso atrasar a divisão legal do património. Mesmo que um dos cônjuges tenha falecido, nenhum dos herdeiros pode receber a sua parte da herança sem a morte dos progenitores. O que acontece, por vezes, é que os herdeiros vão ficando em casa, vivem todos juntos e contribuem para a unidade do património familiar. O herdeiro escolhido, normalmente, fica em casa e tenta que haja um senso comum entre os sucessores, pois há que evitar a partilha do património. No entanto, os outros irmãos recebem uma parte da herança, que pode ser dinheiro ou leiras dos 2/3 da legítima. O interesse da escolha do herdeiro – o sucessor – é adiar e evitar o mais possível a divisão do património. É importante referir que este processo de escolha do herdeiro privilegiado pode ser pacífico. Acontece, por vezes, o herdeiro poder comprar as partes aos seus irmãos, numa tentativa de consolidar, uma vez mais, o património. Assim como o património pode ser dividido de modo igual entre os herdeiros. Os lavradores casam com o sentido de arranjar mais mão-de-obra para trabalhar, e a escolha vai recair num homem ou mulher que tenha reputação de bom trabalhador. «Uma casa é considerada forte e rica em mão-de-obra se possui muitos filhos com bons hábitos de trabalho»47. Para as famílias dos lavradores, os filhos deviam ser leais com os pais. Tinham a obrigação e dever de cuidar dos pais até ao fim das suas vidas e trabalhar para eles até aos filhos terem a idade de 21 anos. A obrigação de cuidar dos pais está intrinsecamente ligada à herança. Não se pode esquecer que as crianças eram tidas como adultas em ponto pequeno, apesar de elas se encontrarem mais protegidas nas famílias abastadas do que nas famílias pobres. Entre os lavradores, e tendo em conta que os filhos eram sinónimo de mão-de-obra, a educação destas era integrada no projecto familiar e económico da casa. 46 O’NEIL, Brian, ibidem, p. 232. 47 Idem, ibidem, p. 251.