Matematicamente pensando: Desemprego jovem
Carlos Morais
Um dos grandes problemas de Portugal, e de muitos outros países, é o desemprego. O
desemprego quando associado à falta de condições para se poder ter uma vida digna, ainda é mais
grave. Esta situação é preocupante em todas as idades, mas é particularmente grave quando atinge
jovens a quem nunca foi dada a possibilidade de exercerem uma profissão.
Uma questão que se coloca a qualquer cidadão europeu é a seguinte: a Comissão Europeia e
os países que a constituem estão a olhar corretamente para o fenómeno do desemprego? Cada
desempregado é uma pessoa, que como pessoa tem direitos e obrigações. Acredito que uma das
grandes razões para o aumento galopante do desemprego é a falta de equilíbrio entre os direitos e as
obrigações das pessoas e das organizações.
Quando saliento os direitos e as obrigações não estou a pensar em qualquer governo,
organização ou pessoa em particular, mas nas consequências e nos apoios que muitas organizações
dispõem para se instalarem, prometendo tudo o que os governos querem ouvir, de seguida quando
atingem os seus objetivos de lucro desaparecem para outros países, procurando novos incentivos e
novas formas de acumular riqueza, sem qualquer interesse ou preocupação com o bem-estar das
pessoas que as serviram e ajudaram a atingir os seus objetivos.
Por outro lado, o esforço de cada país e da Comunidade Europeia para resolver o problema
do desemprego nem sempre produz os resultados desejados, continuando a verificarem-se situações
de elevado desemprego e de grande fragilidade no emprego que muitos jovens conseguem. Como
indicador relativo às preocupações de diminuir o desemprego, saliento a informação apresentada
num artigo pulicado no jornal público de 22/05/2015, com o título “Portugal vai receber 48 milhões
de euros para combater desemprego jovem”.
Quando surge a palavra milhões pensa-se que vem aí muito dinheiro, permitindo que um
jovem desempregado possa pensar, talvez chegue agora a minha vez. Acreditar que o dia de amanhã
vai ser melhor que o de hoje é sempre bom, mas projetar o futuro sobre bases pouco sólidas não
ajuda muito a atingir objetivos consistentes e duradoiros. No desenvolvimento do referido artigo
salienta-se que “Portugal vai beneficiar do reforço da antecipação das verbas destinadas à Iniciativa
para o Emprego dos Jovens” (…) “em causa estão 48,2 milhões de euros que serão colocados à
disposição do país para subsidiar programas de combate ao desemprego dos jovens” (…). “Em
Portugal, havia 324,4 mil jovens (entre os 15 e os 34 anos) que estavam nessa situação no primeiro
trimestre deste ano”.
Os números em contextos sociais têm sentido quando se relacionam, nomeadamente
utilizando operações elementares como adição, subtração, multiplicação e divisão. Assim, a
primeira situação que ocorre quando temos milhões de euros, para ajudar milhares de jovens é
responder à questão seguinte: gastando a mesma importância com cada jovem, quanto se pode
gastar com cada um? O resultado é pouco animador? Menos de 150 euros. Quando se chega a este
número não surgem respostas, mas muitas interrogações sobre o efeito da iniciativa na diminuição
do desemprego.
Poderemos continuar a acreditar que a diminuição do desemprego acontece com o
financiamento público de programas de aprendizagem, estágios ou formação contínua para
desempregados? São louváveis as iniciativas referidas, desde que não se tornem objeto de formas de
vida.
É urgente que os estagiários e as pessoas que frequentam cursos não formais de
aprendizagem, por não terem ocupação, sejam considerados desempregados para que possamos ter
valores reais do desemprego e não exista manipulação do número de desempregados de cada país.
Quando são oferecidos aos jovens estágios para diminuir o desemprego e programas de
aprendizagem para os ocupar, não se contribui para uma sociedade moderna e desenvolvida, mas
sim para uma sociedade sem perspetivas de futuro, com baixa autoestima transformando os sonhos
de progresso e de sucesso numa luta pela sobrevivência.
Morais, C. (2015). Matematicamente pensando: Desemprego jovem. Mensageiro de Bragança, 28 de maio de 2015, p.
5.
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