1.956 Médicos Formados; 632 Residentes nas Especialidades; Perspectivas Médicas - V. 19(1): jan - jun 2008 Mais informações: www.fmj.br Revista da Faculdade de Medicina de Jundiaí - São Paulo - Brasil ISSN 0100-2929 PERSPECTIVAS MÉDICAS Volume 19(1) - janeiro / junho 2008. ÍNDICE ................................................................................................................................................................1 Editorial ..................................................................................................................................................................2 Normas de publicação ...........................................................................................................................................3 Artigos Originais Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica ................................5 Effects of the sensitization correction by specific immunotherapy in itching and sneeze in allergic rhinitis. Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três posições adotadas para sua palpação ......................................................................................................................10 Morphometric study of the anatomical localization of supraspinal tendon in three positions adopted to be palpable. Contribuição da equipe de Enfermagem na identificação de hábitos alimentares relacionados ao consumo de carboidratos e gorduras e o desenvolvimento do Diabetes Mellitus tipo II.......................................15 Contribution of the nursing team in the identification of the carbohydrates and fatnesses feed habits and the development of the type II Diabetes Mellitus. Análise morfométrica da localização do forame infra-orbitário ..............................................................................17 Morphometric analysis of the infraorbitary foramina location. Análise métrica da localização do forame mandibular ............................................................................................20 Metrical analysis of the mandibular foramina location Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo ......................23 Structure and stereology of the secretory epithelial cells of the rat ventral prostate submitted to passive smoking. Artigos de Revisão Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago............................................29 Relationship between gastroesophageal reflux disease and the esophageal adenocarcinoma. Impacto do uso de ácido fólico sobre os defeitos de fechamento do tubo neural.......................................................33 The impact of folic acid over neural tube defects. Relatos de Caso Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda................................................................................37 Diving goiter causing acute respiratory distress. Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore.......................................................................42 Technical aspects of the utilization of Sengstaken-Blakemore balloon. Atualização Cardiomiopatia Hipertrófica ..................................................................................................................................4 7 Hypertrophic Cardiomyopathy Internações Partos Cirurgias Atendimentos PSI* Atendimentos PSGO* Exames Laboratoriais Raio X Ultrassonografia 2007 7.024 3.508 (Tx. Cesárea: 33%) 1.952 51.769 23.332 59.381 17.504 1.189 2003 a 2007 28.334 14.324 (Tx. Cesárea: 35%) 6.333 198.576 85.523 251.549 68.112 7.931 ISSN 0100-2929 PERSPECTIVAS MÉDICAS Órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, - Estado de São Paulo, Brasil. Periodicidade semestral. ÍNDICE ............................................................................................................................................................................1 Editorial ..............................................................................................................................................................................2 Normas de publicação .......................................................................................................................................................3 Artigos Originais Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica ............................................5 Edmir Américo Lourenço, Fabrício Egídio Pandini, Adriana Lima Sanchez, Andrei Roberto da Silva. Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três posições adotadas para sua palpação ..................................................................................................................................10 Marcelo Rodrigues da Cunha, César Alexandre Fabrega de Carvalho, Eduardo José Caldeira, Felipe Faganelli Caboclo dos Santos, Thiago Cerizza Pinheiro, Maria José Salete Viotto. Contribuição da equipe de Enfermagem na identificação de hábitos alimentares relacionados ao consumo de carboidratos e gorduras e o desenvolvimento do Diabetes Mellitus tipo II...................................................15 Eduardo José Caldeira, Anne Pavlowa Alves Ruela, Marcelo Rodrigues da Cunha. Análise morfométrica da localização do forame infra-orbitário ..........................................................................................17 Eduardo José Caldeira, Bruno Azevedo Randi, Juliana Mandato Ferraguti, Elaine Minatel. Análise métrica da localização do forame mandibular ........................................................................................................20 Elaine Minatel, Bruno Azevedo Randi, Juliana Mandato Ferraguti, Eduardo José Caldeira. Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo ..................................23 Aldo Okamura, Bruno Busch Cameschi, Vitor Rafael Pastro, Lucília Cristiane Gazola, Marcelo Rodrigues da Cunha, Cesar Alexandre Fabrega Carvalho. Artigos de Revisão Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago........................................................29 Altair Pazeli, Sérgio Ferreira Módena, Carlos Eduardo Solé Vernin. Impacto do uso de ácido fólico sobre os defeitos de fechamento do tubo neural...................................................................33 Paulo Vitor Atsushi Takemoto, Nelson Lourenço Maia Filho. Relatos de Caso Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda............................................................................................37 André Afonso Nimtz Rodrigues, Fernando Antônio Maria Claret Alcadipani, Ana Carolina Okumura, Michelle Uchida, Vanessa Lentini da Costa, Fernanda Kistermarcker do Nascimento Bueno. Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore ..................................................................................42 Antonio Roberto Franchi-Teixeira, Gustavo Nero Mitssushi, Gustavo Andrade Fraga,, Durval Knox da Veiga Souza Nunes, Alexandre Venâncio de Souza, Gabriel Vieira Braga Ferraz Coelho, Ciro Eduardo Falconi, Lívia Ferraz Accorsi, Marina Martini Costa. Atualização Cardiomiopatia Hipertrófica ..............................................................................................................................................47 Carla de Almeida, Marco Antonio Freitas Filho, Milena Bezerra Leão, Lucimar Moraes Lima. Volume 19(1) jan. / jun. 2008 2 PERSPECTIVAS MÉDICAS Editor-Chefe Edmir Américo Lourenço Co-Editor Eduardo José Caldeira Corpo Editorial Paulo Vitor Atsushi Takemoto Ivan Senis Cardoso Macedo Bruno Azevedo Randi Juliana Mandato Ferragutt Juliana Nery de Souza Talarico Leandro Pompermayer Olivo Conselho Editorial Alcione Vendramin Parasitologia FMJ - Jundiaí - SP. Antonio de Castro Rodrigues Biologia Muscular - USP - Bauru - SP. Antonio Roberto Teixeira Hepatologia - FMJ - Jundiaí - SP Arnaldo Rodrigues Santos Júnior Biologia Aplicada UNESP - Jaboticabal - SP. Camila Contim Diniz de Almeida Francia Biologia da Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. César Alexandre Fabrega Carvalho Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edmir Américo Lourenço Otorrinolaringologia - FMJ - Jundiaí - SP. Eduardo José Caldeira Anatomia - FMJ - Jundiaí - SP. Edson Aparecido Liberti Anatomia - ICB - USP - São Paulo - SP. Elaine Minatel Anatomia - IB - UNICAMP - Campinas - SP. Evanisi Teresa Palomari Eletromiografia - UNICAMP - Campinas - SP. Francisco Eduardo Martinez Biologia da Reprodução - UNESP - Botucatu - SP. Jesus Carlos Andreo Morfologia - USP - Bauru - SP. João Bosco Ramos Borges Tocoginecologia - FMJ- Jundiaí - SP. Juliana Nery de Souza Talarico Enfermagem - FMJ- Jundiaí - SP. Leonardo dos Reis Silveira Fisiologia Humana e Cultura Celular - USP - SP. Marcelo Martinez Anatomia - UFSCar, São Carlos - SP. Marcelo Rodrigues da Cunha Anatomia - FMJ, Jundiaí - SP. Maria Cristina Traldi Enfermagem - FMJ - Jundiaí - SP. Nelson Lourenço Maia Filho Obstetrícia - FMJ - Jundiaí - SP. Progresso José Garcia Biologia Geral - UNESP - Botucatu - SP. Rodolfo Jorge Boeck Neto Cirurgia Oral - UNESP - Araraquara - SP. Suzana G. Moraes Embriologia - FMJ - Jundiaí - SP. Telma Guarisi Tocoginecologia - FMJ - Jundiaí - SP. Wandir Antonio Schiozer Cirurgia Plástica - FMJ - Jundiaí - SP. Wilson de Mello Júnior Morfologia - UNESP - Botucatu - SP. Conselho Científico Álvaro da Cunha Bastos, FMJ, Jundiaí - SP. Anuar Ibraim Mitre, FMJ, Jundiaí - SP. Armando Ântico Filho, FMJ, Jundiaí - SP. Ary Domingos do Amaral, FMJ, Jundiaí - SP. Augusto Dutra Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Ayrton Cássio Fratezi, FMJ, Jundiaí - SP. Célia Martins Campanaro, FMJ, Jundiaí - SP. Dagoberto Telles Coimbra, FMJ, Jundiaí - SP. Edna M. Cappi Maia, FMJ, Jundiaí - SP. Emilio Telesi Junior, FMJ, Jundiaí - SP. Evaldo Marchi, FMJ, Jundiaí - SP. Fernando Claret Alcadipani, FMJ, Jundiaí - SP. Flávio Alterthum, FMJ, Jundiaí - SP. Francisco G. Alcântara, FMJ, Jundiaí - SP. Hélio A. Lotério, FMJ, Jundiaí - SP. Ikurou Fujimura, FMJ, Jundiaí - SP. Itibagi Rocha Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Jalma Jurado, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Figueiredo Brito, FMJ, Jundiaí - SP. José Carlos Pereira Junior, FMJ, Jundiaí - SP. José Eduardo Martinelli, FMJ, Jundiaí - SP. José Hugo de Lins Pessoa, FMJ, Jundiaí - SP. Lenir Mathias, FMJ, Jundiaí - SP. Lia Mara Rossi Ferragut, FMJ, Jundiaí - SP. Luciano Gonçalves Nina, FMJ, Jundiaí - SP. Luiz P.W.C. Vasconcelos, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Dias, FMJ, Jundiaí - SP. Marco Antonio Herculano, FMJ, Jundiaí - SP. Maria das Graças B. F. Evangelista, FMJ, Jundiaí - SP. Marta B.C. De Sartori, FMJ, Jundiaí - SP. Paulo Rowilson Cunha, FMJ, Jundiaí - SP. Reinaldo V.B. Miranda, FMJ, Jundiaí - SP. Ricardo Porto Tedesco, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Anania de Paula, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Focaccia, FMJ, Jundiaí - SP. Roberto Teixeira, FMJ, Jundiaí - SP. Rodrigo Paupério S. de Camargo, FMJ, Jundiaí - SP. Rogério Bonassi Machado, FMJ, Jundiaí - SP. Saulo Duarte Passos, FMJ, Jundiaí - SP. Sergio Gemignani, FMJ, Jundiaí - SP. Simone Naomi Isuka, FMJ, Jundiaí - SP. Conselho Revisor Edmir Américo Lourenço Eduardo José Caldeira Perspectivas Médicas, 19(1): 2-2, jan. / jun. 2008 EDITORIAL Mais um exemplar da revista Perspectivas Médicas e este vem em uma época importante tanto para a Faculdade de Medicina de Jundiaí como para a ciência brasileira. Presenciamos a posse da nova diretoria da FMJ, finda uma direção que muito contribuiu para esta Instituição e espera-se que a nova direção com sabedoria tenha louros nesta nova etapa. Nova etapa também para a ciência brasileira, onde o Supremo Tribunal Federal concluiu um julgamento importante e liberou a utilização de células-tronco de embriões humanos para pesquisas científicas. Esta atitude mostra um amadurecimento de um Estado laico e o respeito à liberdade de expressão intelectual. O que se discute está acima da fé e da ciência, está sim na utilização da ciência em favor da vida. Esta é a importância da pesquisa dentro de instituições de ensino superior e que muitos ainda teimam em não entender. Contudo, tanto para a pesquisa brasileira como para a pesquisa FMJ, o tempo dirá o que será melhor. Eduardo José Caldeira Co-Editor Perspectivas Médicas v.19(1), jan. / jun. 2008 São Paulo, Faculdade de Medicina de Jundiaí. 21x28 cm Periódico científico de áreas da Saúde da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil. ISSN 0100-2929 1. Medicina - Saúde - Periódicos Revista PERSPECTIVAS MÉDICAS O Periódico Perspectivas Médicas é o órgão de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, S.P., com sede à Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens - Jundiaí, SP. - CEP 13202-550. Fone/Fax: (0xx11) 4587-1095. A Revista não aceita, em hipótese alguma, matéria científica paga em seu espaço editorial, embora aceite colaborações financeiras para viabilizar a continuidade de sua publicação, cedendo eventualmente espaços para anúncios relacionados à Saúde. O exemplar encontra-se na íntegra no site www.fmj.br, possibilitando "downloads" porém é proibida sua reprodução, total ou parcial, para quaisquer finalidades, sem autorização escrita e assinada pelo Editor. EXPEDIENTE Impressão: Gráfica Apollo Ltda. - Fone: 4587-5248 / 4587-8809 E-mail: [email protected] Diagramação: Editora Gráfica Apollo - Fabricio Luiz Felix Jornalista responsável: Cláudia Mello - Mtb 28.835 Tiragem: 1.200 exemplares 3 NORMAS DE PUBLICAÇÃO Normas de Publicação Periódico científico oficial da Faculdade de Medicina de Jundiaí, a Revista Perspectivas Médicas tem como objetivo a apresentação de trabalhos na área experimental básica e das áreas de saúde. Os trabalhos poderão ser originais, revisões, comunicações curtas, relatos de caso, cartas ao editor e outras. Os trabalhos devem ser encaminhados ao Corpo Editorial preferencialmente na forma eletrônica através do endereço: [email protected] ou para o endereço abaixo com cópia em CD: Corpo Editorial da Revista Perspectivas Médicas Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens, Jundiaí, São Paulo, CEP: 13202-550. Tel.: (11) 4587-1095. Princípios Gerais: As normas deverão ser obedecidas com rigor para que o trabalho seja encaminhado para avaliação com vistas à sua publicação. Os trabalhos devem ser inéditos, com aprovação em Comitê de Ética e ainda não publicados de forma completa em outro veículo de divulgação científica. Deve enquadrar-se em uma das diferentes seções, a saber: Artigos Originais: investigação experimental básica ou clínica, contendo título (45 caracteres ou 10 palavras no máximo) e palavras-chave (ambos em português e inglês), autor(es) - máximo de seis, principal titulação e Departamento, resumo (até 250 palavras), abstract, introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Revisões (máximo de 3000 palavras): artigo que sumariza o conhecimento atual em determinado campo e período, devendo incluir título e palavras-chave (ambos em português e inglês), autor(es) e titulação, resumo, abstract, introdução e objetivos, materiais e métodos, resultado da pesquisa, discussão e conclusões, agradecimentos e referências bibliográficas. Comunicações Curtas (máximo de 2000 palavras): artigos práticos, curtos e objetivos incluindo aspectos pessoais, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso (máximo de 2000 palavras): relato de um caso ou de uma série de casos, com justificada razão para publicação como raridade, aspectos inusitados, evolução atípica e/ou nova terapêutica, devendo seguir a estrutura de um artigo original. Cartas ao Editor (máximo de uma lauda): perguntas, respostas, comentários e opiniões a respeito de artigos publicados. Outras: destinada a idéias e inovações, terapêutica, normas e rotinas e atualizações, devendo seguir a estrutura de uma comunicação curta. Elementos Básicos à Publicação: A estrutura dos trabalhos deverá conter na primeira página: -A seção onde o trabalho deverá ser incluído, bem como a área de conhecimento. -Título do trabalho em português e inglês. -Palavras-chave e Key words, usando os descritores em Ciências da Saúde (DeCS)e o Medical Subject Headings (MeSH) acessáveis pelos endereços: http://www.bireme.org.br, http://decs.bvs.br ou www.nlm.nih.gov. -Nome do autor(es) identificado(s) com asterisco e logo abaixo a(s) titulação(ões) e local(is) de realização do trabalho. -Endereço completo para correspondência, incluindo telefone e e-mail. -Fonte de Financiamento. A partir da segunda página, numerá-las em seqüência no canto superior direito seguindo a estrutura, a saber: -Resumo em português e inglês contendo no máximo 250 palavras, fazendo referência à essência do assunto. -Introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão e conclusões, seguidos de agradecimentos e referências bibliográficas. Todas as referências citadas no corpo do texto deverão ser numeradas, entre parênteses ou colchetes e sobrescritas, por ordem de aparecimento no texto. -Em folhas separadas locar as tabelas, gráficos e figuras, que devem ser numeradas e legendadas de acordo com a ordem de aparecimento no corpo do texto. -Todas as imagens devem ser encaminhadas em jpg, png ou gif. -Referências Bibliográficas: devem ser apresentadas no estilo Vancouver, segundo as diretrizes do “International Comittee of Medical Journal Editors”, publicadas em “Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals”, ordenadas de forma numérica seqüencial e não alfabética, utilizando o Index Medicus para abreviaturas dos Jornais e Revistas. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com “List of Journals Indexed for Medline” através do endereço eletrônico http://nlmpubs.nlm.nih.gov/online/journals/ljiweb.pdf . Seguir a orientação abaixo; observar os negritos e pontuações: Periódico Perspectivas Médicas, 19(1): 3-4, jan. / jun. 2008 4 (Listar todos os autores; se exceder seis, acrescentar et al.) Perez-Yarza E, Moreno A, Lazaro P, Mejais A, Ramilo O. The association between respiratory syncytial virus infection and the development of childhood asthma: a systematic review of the literature. Ped Infect Disease 2007 aug; 26(8): 733-9. Tese Mehl JB. Alterações agudas na manometria anorretal e na tomografia computadorizada induzidas por esfincterotomia anal proximal e distalestudo experimental em porcos [tese]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 2006. Livro Freitas F.V, Py L, Cançado FLX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 110-9. Capítulo de Livro: Santos NOS, Romanos MTV. Resposta dos hospedeiros às viroses. In: Santos NOS, Romanos MTV, Wigg, MD, editors. Introdução à virologia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 19-23. Documento em formato eletrônico Araújo PCL, Gomes VC, Gonçalves VJ, Leal MC, Nióbey FMLI, Sabroza PC. Prognostic factors for hospital case-fatality due to diarrhea or pneumonia: a case-control study. Rev Saude Pública, 1992 dec.; 26(6): 369-78. <nome do site> acesso em: data. Todo o material enviado deve ser apresentado em Perspectivas Médicas, 19(1): 3-4, jan. / jun. 2008 letra tamanho 12, Times New Roman, espaço duplo, papel A4, com margens laterais de 2,5cm e se for enviado de forma impressa deverá ser em duas vias, mais uma cópia eletrônica, preferencialmente em CD. Preferir o editor de texto Word ou outro, compatível com Windows. Fluxo Todos os trabalhos enviados à análise para publicação são submetidos a dois pareceristas (pares) que opinam independentemente com base em parâmetros pré-determinados, com vistas à uniformidade da avaliação. Direitos Autorais A revista terá todos os direitos, inclusive de tradução em todos os países signatários da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. A reprodução total ou parcial em outros periódicos deverá mencionar a fonte e dependerá da autorização prévia da revista, sendo proibida para fins comerciais. DECLARAÇÃO Anexar a declaração prévia seguinte para publicação, em caso de aprovação: “Declaramos para fins de publicação na revista Perspectivas Médicas, que o presente artigo (Título) não foi e não será publicado em outro veículo de divulgação científica até o final da apreciação pelo Corpo Editorial. Igualmente, declaramos que todas as informações apresentadas no presente artigo estão de acordo com a opinião de todos os autores”. Todos os autores deverão assinar e datar. 5 ARTIGO ORIGINAL Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica. Effects of the sensitization correction by specific immunotherapy in itching and sneeze in allergic rhinitis. Palavras-chave: imunoterapia, rinite alérgica, asma. Keywords: immunotherapy, allergic rhinitis, asthma. Edmir Américo Lourenço* Fabrício Egídio Pandini** Adriana Lima Sanchez** Andrei Roberto da Silva** * Professor Adjunto, Regente da Disciplina Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. ** Médico Residente do 2º ano da Disciplina Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. de de medicamentosos usados na atualidade na prática médica. de de ABSTRACT The relevance of the allergic rhinitis is unquestionable, if be considered it´s high and increasing prevalence and the negative consequences in the quality of life of the attacked individual. The purpose of this study is to analyse the effectiveness of the immunotherapy in the symptoms of the itching and sneeze. The records of 281 patients from the archive of a particular physician's office had been studied, in Jundiaí, São Paulo state, Brazil in the period 19912004, age 2 up to 69 years old, clinical diagnosis of allergic rhinitis, positive prick tests for inhalants, submitted to injectable specific vaccinotherapy, with desensitization purpose, associated to environmental hygiene. It was considered the symptoms itching and sneeze, before, during and at finish of the treatment, quantified by a score from zero for absence of symptoms until three for severe symptomatology. It was analysed the results taking in account the sex distribution, the age, the scores of initial symptoms, after each one of the four vaccine flasks and the evolution of the symptomatology of the allergic rhinitis. The medium score of the itching symptom in all the studied population was 1,868 and of sneeze was 2,245 before the beginning of the treatment and at the final respectively 0,345 and 0,512. Such result represents a global symptomatologic improvement of 81,5% for itching and 77,2% for the symptom sneeze, not comparable to none clinical treatment at present time in the medical practice. Endereço para correspondência: Edmir Américo Lourenço - Rua do Retiro 424, 5º andar, conj. 53 e 54, Anhangabaú, Jundiaí, São Paulo - CEP 13209-000. E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 13 de setembro de 2007. Artigo aceito em 11 de dezembro de 2007. RESUMO É indiscutível a relevância da rinite alérgica, se for considerada sua prevalência elevada, crescente e os reflexos negativos na qualidade de vida do indivíduo acometido. Assim, a finalidade deste estudo foi de analisar a eficácia da imunoterapia nos sintomas de prurido e espirros em pacientes com rinite alérgica. Para isto foram estudados os prontuários de 281 pacientes provenientes de consultório particular, em Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil no período de 1991 a 2004, com 2 a 69 anos de idade, diagnóstico clínico de rinite alérgica, testes cutâneos positivos para inalantes, submetidos à vacinoterapia específica injetável, com finalidade dessensibilizante, associada à higiene ambiental. Considerou-se na anamnese os sintomas prurido e espirros, antes, durante e ao término do tratamento, quantificados num escore de zero para ausência de sintomas a três para sintomatologia severa. Na análise dos resultados foram feitas distribuições dos pacientes estudados, levando-se em conta o sexo, faixa etária, escores dos sintomas iniciais e ao final de cada um dos quatro frascos de vacina. O escore médio do sintoma prurido em toda a população estudada foi de 1,868 e de espirros de 2,245 antes do início do tratamento, enquanto ao seu término foi respectivamente de 0,345 e 0,512. Tal resultado representa uma melhora sintomatológica de 81,5% para o sintoma prurido e de 77,2% para o sintoma espirro, superior à maioria dos tratamentos INTRODUÇÃO A prevalência crescente da rinite alérgica em todo o mundo, apontada pelo ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood), seu papel como um fator de risco para a asma, segundo a classificação ARIA (Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma), seu impacto na qualidade de vida do indivíduo e seu elevado custo social apontam para a necessidade de se dispor de melhores opções para a abordagem (1) terapêutica desta doença . Como observa-se na atualidade, um terço da população do planeta apresenta problemas físicos decorrentes desta doença e Perspectivas Médicas, 19(1): 5-9, jan. / jun. 2008 6 Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica - Edmir A. Lourenço e cols. somando-se a isto temos também os custos pessoais, sociais e econômicos, refletindo em conjunto na qualidade de vida do indivíduo acometido. Com base em inferência de dados publicados nos Estados Unidos da América, estima-se que no Brasil 15 milhões de pessoas sofram de rinite alérgica, ocasionando um impacto social de 1 milhão de dias/ano de absenteísmo escolar e 5 milhões de dias/ano de absenteísmo no trabalho, estes últimos representados por 1,7 milhões de dias reais e os demais 3,3 milhões de dias por queda da produtividade, do rendimento do trabalhador em suas tarefas. Como custo financeiro direto e indireto, isto representa mais de 1,9 bilhões de dólares ao ano (2). O tratamento dessensibilizante com o uso da imunoterapia específica realizada com os alérgenos purificados está em uso freqüente desde 1911 para o tratamento de doenças alérgicas respiratórias. É mais eficaz nas crianças e em adultos jovens, com eficácia demonstrada pela utilização de placebo duplo-cego em estudos controlados na rinoconjuntivite alérgica e na asma alérgica (3). A imunoterapia tem o potencial de reduzir permanentemente as respostas imunológicas anormais da rinite alérgica e curar os sintomas nasais em longo prazo, mesmo após o término do tratamento e, além disso, pode impedir o início de novas sensibilizações em pacientes alérgicos e a progressão da rinite para a (4) asma . Trabalhos realizados indicam que a imunoterapia específica tem o potencial de reduzir significativamente os sintomas e o uso de medicação, além de impedir a progressão da asma para um quadro clínico mais severo da doença, por exemplo, embora muitos autores contestem tais resultados, tornando discutível este tipo de terapia(5). As técnicas biológicas moleculares modernas sugerem que a imunoterapia possa afetar respostas do Th ou perfis alergeno-induzidos da citocina, mas não há um consenso entre os pesquisadores. Entretanto, é provável que a interleucina-5 (IL-5) seja a citocina mais importante envolvida na eficácia clínica da imunoterapia e a supressão da síntese da IL-5 alergenoinduzida esteja envolvida no mecanismo da imunoterapia (4,6). A dessensibilização através de vacinas realizada como tratamento de alergias tem como objetivo, ou a inativação das células Th2 alérgeno-específicas, que deixam de estimular a produção de IgE nos linfócitos B, ou a indução das célulasTh1 alérgeno-específicas. Assim, espera-se manter em repouso ou corrigir uma resposta imune já conduzida de forma exagerada e inoportuna. O incremento da qualidade na fabricação de extratos alergênicos, cada vez mais purificados ao longo das últimas décadas, a melhor compreensão dos mecanismos de ação da imunoterapia, a segurança para a saúde do paciente (baixo risco) e a estandardização dos extratos e vias de administração têm legitimado o uso de vacinas dessensibilizantes na orientação terapêutica de doenças respiratórias alérgicas(3). Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar os resultados obtidos no prurido e espirros de pacientes portadores de rinite alérgica com a administração do tratamento imunoterápico dessensibilizante injetável para inalantes específicos. MATERIAL E MÉTODOS Foram analisados os prontuários de 281 pacientes de ambos os sexos, com idade variando de 2 anos e 10 meses a 69 anos, com diagnóstico clínico de rinite alérgica e testes cutâneos positivos para inalantes, submetidos à vacinoterapia específica para inalantes, com finalidade dessensibilizante, num período de 14 anos, de 1991 a 2004, em consultório particular na cidade de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil. Os sintomas prurido (P) e espirros (E) foram quantificados de forma de cruzes de acordo com a intensidade, com vistas à redução da subjetividade das respostas (Quadro 1). Para compilar os dados, foram considerados os seguintes valores em números cardinais para somatória da pontuação: zero(0) para ausência do sintoma; um(1) para sintomatologia leve ou uma cruz; dois(2) para sintomatologia moderada ou duas cruzes; três(3) para sintomatologia severa ou intensa ou três cruzes. O levantamento dos dados foi realizado levando-se em conta os sintomas prurido e espirros, antes e depois do tratamento dessensibilizante para inalantes. A seguir, foi tirada uma média de cada sintoma, ao término da aplicação de cada frasco de vacinas, considerando-se para efeito desta pesquisa, o final do 4° frasco como término do tratamento, independentemente de ter sido prorrogado o tratamento de alguns poucos pacientes com um ou mais frascos de reforço. Os alérgenos foram identificados, em todos os pacientes incluídos no estudo, através da realização de testes alérgicos cutâneos por puntura, sem que o Quadro 1: Quantificação dos sintomas: prurido (P) e espirros(E). Perspectivas Médicas, 19(1): 5-9, jan. / jun. 2008 7 Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica - Edmir A. Lourenço e cols. paciente estivesse fazendo uso de medicamentos antihistamínicos ou descongestionantes há no mínimo sete dias. Foram testados rotineiramente os alérgenos através de extratos padronizados de poeira doméstica, Dermatophagoides farinae, Dermatophagoides pteronyssinus, Blomia tropicalis, Alleuroglyphos ovatus, Suidasia pontificiae, Tyrophagus putrescentiae, fungos do ar, pelos de animais domésticos, pólens de flores, lã, gramíneas e penas de pássaros. A quantificação dos resultados foi efetuada comparativamente à resposta à histamina como parâmetro de positividade e à solução fisiológica a 0,9% como padrão de negatividade. Ausência de resposta foi considerada como negativa (-). Foi considerada como resposta positiva a presença de pápula e eritema. Respostas de intensidade semelhante à da histamina foram considerados como três cruzes (+++). Respostas menos intensas que à histamina foram classificadas como uma ou duas cruzes (+ ou ++) e as mais intensas, como quatro ou cinco cruzes (++++ ou +++++). A leitura foi sempre realizada (7) após 15 a 20 minutos, a exemplo de Grevers et al. . Os critérios de inclusão dos pacientes neste trabalho foram: idade superior a dois anos, sintomatologia clínica compatível com rinite alérgica, estabelecimento do diagnóstico de rinite alérgica a inalantes através de testes cutâneos por puntura, realização do tratamento dessensibilizante para os inalantes específicos identificados nos testes cutâneos, tendo sempre a mesma procedência das vacinas e a mesma técnica de aplicação exclusivamente subcutânea, tendo concluído sempre os quatro frascos de vacinas em concentrações crescentes. O primeiro frasco continha uma concentração fraca de alérgenos, com 0,008 URC (unidades de reatividade cutânea), equivalente a 1:100.000 PNU/ml, que foi administrada a cada 7 dias num total de 8 doses. O segundo frasco continha uma concentração média de alérgenos, com 0,08 URC, equivalente a 1:10.000 PNU/ml, aplicada a cada 10 dias num total de 8 doses. O terceiro frasco foi o forte, com 0,8 URC, equivalente a 1:1.000 PNU/ml, que foi administrado a cada 14 dias num total de 7 doses e finalmente o quarto frasco foi o extra-forte, com 8 URC, equivalente a 1:100 PNU/ml a cada 21 dias num total de 9 doses. Ao término de cada frasco de vacinas foi realizada uma consulta de reavaliação incluindo quantificação dos sintomas clínicos e exame clínico otorrinolaringológico. As consultas de reavaliação foram todas realizadas rotineiramente com o paciente não acometido por viroses em sua fase aguda e sem uso de medicações de qualquer tipo há no mínimo uma semana. Em caso de virose, a reavaliação era realizada logo após melhora de sua sintomatologia. A todos os pacientes tratados foi fornecido um impresso contendo minuciosas orientações sobre higiene ambiental com vistas à redução da exposição aos alérgenos detectados, dieta sem corantes e prescrita solução acaricida para uso ambiental. Foi vetado o uso de antiinflamatórios não-esteróides, ácido acetil-salicílico, anti-histamínicos e corticosteróides, exceto em crises agudas, nas quais foi administrado um curto ciclo de anti-histamínicos orais. A todos foi incisivamente orientado que comunicassem ao médico acompanhante quaisquer medicamentos consumidos. Foram excluídos da casuística todos os pacientes que abandonaram o tratamento em qualquer de suas fases por quaisquer motivos, portadores de hiperssensibilidade aos componentes da vacina, assim como os pacientes que deixaram de realizar uma ou mais consultas de revisão, rotineiramente efetuadas ao término de cada frasco de vacinas. RESULTADOS Os resultados encontrados são mostrados a seguir. Tabela 1: Distribuição por sexo dos pacientes estudados. Tabela 2: Distribuição dos pacientes estudados por faixas etárias. Espirros Tabela 3: Escores médios por sintoma, antes do tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes na população estudada (n=281). Tabela 4: Escore médio da intensidade dos sintomas prurido e espirros ao término do 1° frasco de tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes (n=281). Perspectivas Médicas, 19(1): 5-9, jan. / jun. 2008 8 Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica - Edmir A. Lourenço e cols. Tabela 5: Escore médio da intensidade dos sintomas prurido e espirros ao término do 2° frasco de tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes (n=281). Tabela 6: Escore médio da intensidade dos sintomas prurido e espirros ao término do 3° frasco de tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes (n=281). Tabela 7: Escore médio da intensidade dos sintomas prurido e espirros ao término do 4° e último frasco de tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes (n=281). Gráfico 1: Escore médio da intensidade dos sintomas prurido e espirros (pontuação) no início e ao término do tratamento dessensibilizante por vacinoterapia específica para inalantes. Pontuação zero = ausência do sintoma; 1 = sintoma leve; 2 = moderado; 3 = intenso. DISCUSSÃO As provas cutâneas são reconhecidas em toda a literatura médica mundial como eficientes e precisas para o diagnóstico etiológico das rinites alérgicas por inalantes, fato que não ocorre nas rinites nãoespecíficas, vasomotoras, eosinofílicas, (1) medicamentosas e alimentares . Além da certeza diagnóstica, norteiam com extrema segurança a composição das vacinas a serem utilizadas na terapia da doença. Embora a imensa maioria dos pacientes apresente testes cutâneos positivos para poeira doméstica e ácaros, não é indicado vacinar a todos os alérgicos (1) respiratórios com esses alérgenos padronizados . Algumas vezes temos inclusive à disposição no comércio, vacinas padronizadas com estes alérgenos. A resposta para esta conduta é simples, pois os testes cutâneos são, acima de tudo, diagnósticos da afecção denominada alergia de vias respiratórias a inalantes e esta deve sempre ser diagnosticada previamente a qualquer tratamento de longa duração e isto é o que indica o bom senso. Além disso, a opção de tratamento dessensibilizante Perspectivas Médicas, 19(1): 5-9, jan. / jun. 2008 deve ser reservado para pacientes com sintomatologia rebelde aos tratamentos convencionais e sempre deve ser aliado à indispensável higiene ambiental, com vistas à redução da exposição aos alérgenos detectados e à prescrição de solução acaricida para uso ambiental. A vacinoterapia tem a grande vantagem de não apresentar quaisquer incompatibilidades com antihistamínicos sistêmicos e tópicos, cromoglicato dissódico, corticosteróides tópicos e sistêmicos, nem restrições a eventuais complementações cirúrgicas. Observou-se também que as unidades de medida usadas nas diferentes concentrações da vacina foram: PNU (Unidades de Nitrogênio Protéico), considerada como não ideal e a URC (Unidades de Reatividade Cutânea), considerada como ideal (URC de 50% em 1:800 corresponde a 1 URC nesta diluição e 800 URC quando não diluída). O frasco fraco da vacina corresponde à concentração de 0,008 URC, o frasco médio à 0,08 URC, o frasco forte à 0,8 URC e o frasco extra-forte à 8 URC. Quanto à realização dos testes cutâneos, pode-se utilizar a puntura simples e não intradérmica, devido às respostas serem similares e ser a segunda opção muito dolorosa, fato que pode dificultar a realização dos mesmos em crianças. Tempos de quinze a vinte minutos após a puntura de todos os alérgenos a serem testados, observou-se como suficientes para a leitura do resultado dos testes, sendo indicado não ultrapassálos, tendo em vista que as reações cutâneas tendem a se esvaecer, o que pode dificultar de sobremaneira sua análise. É possível, em casos de dúvida, realizar testes de provocação nasal para a constatação do desencadeamento de uma crise de prurido, espirros, coriza hialina e/ou eventualmente obstrução nasal em poucos minutos, contudo este não é um teste quantitativo, mas apenas qualitativo. Em indivíduos anérgicos ou sob efeito de alguns medicamentos podem ocorrer todas as respostas negativas, inclusive à histamina e evidentemente esses testes deverão ser desconsiderados e repetidos no futuro. Tais medicamentos são principalmente os descongestionantes sistêmicos, os antigripais e os antihistamínicos. Já corticosteróides sistêmicos e tópicos não alteram o resultado dos testes cutâneos. Alguns pacientes apresentam dermografismo e a resposta à solução fisiológica pode ser uma pápula e até mesmo um eritema, ambos muito menores que a da histamina; para o examinador, este passa a ser o parâmetro de negatividade de resposta e assim deve ser comparado a todos os alérgenos testados. A via ideal de aplicação é a substância. Aplicações intradérmicas ou intramusculares são inadequadas e podem reduzir substancialmente e decisivamente os efeitos e o resultado do tratamento dessensibilizante. Nas crises agudas foi administrado um curto ciclo de anti-histamínicos orais, referido na literatura como prática usual que não falseia os resultados das avaliações de eficácia do tratamento e que neste trabalho foram feitas entre 5 e 7 dias após cessação do 9 Efeitos da imunoterapia dessensibilizante específica no prurido e espirros da rinite alérgica - Edmir A. Lourenço e cols. (8) medicamento de acordo com outros autores . Foram considerados os resultados exclusivamente obtidos após a aplicação subcutânea dos 4 frascos básicos de vacina, desconsiderando-se os resultados finais após eventuais frascos de reforço, aplicados na dose de 1 ml a cada 30 dias. Some-se à eficácia, a grande segurança do tratamento realizado, uma vez que apenas um paciente entre todos os que foram excluídos da casuística, o foi em virtude de hiperssensibilidade aos componentes da vacina, que desencadeava crise de broncoespasmo após cada dose aplicada e este fato repetiu-se mesmo com a aplicação de doses mais diluídas. Quanto à distribuição dos pacientes por sexo, foi observada uma predominância do sexo masculino (58,7%) sobre o feminino (Tabela 1). A média de idade dos pacientes foi de 17 anos e 3 meses, com uma freqüência superior a 55% compreendidos na faixa etária de 6 a 18 anos de idade (Tabela 2). É citada na literatura pesquisada a maior eficácia da imunoterapia nas crianças e em adultos jovens do que mais tardiamente na rinoconjuntivite alérgica e na asma alérgica (3). O escore médio dos sintomas prurido e espirros, de acordo com os critérios metodológicos estabelecidos neste trabalho, em toda a significativa casuística estudada (n=281) foi de respectivamente 1,868 e 2,245 antes do início do tratamento e de 0,345 e 0,512 ao seu término. Devem ser ressaltados os escores intermediários durante o tratamento, que confirmaram a melhora progressiva da sintomatologia (Tabelas 3 a 7 e Gráfico 1). É citada tal resultado representa elevada porcentagem de melhora sintomatológica, não comparável a nenhum tratamento clínico medicamentoso usado na atualidade na prática médica, salientando-se ainda a comprovada imunidade conferida ao paciente a médio e longo prazos (8) . CONCLUSÕES Assim, após análise dos resultados pode-se detectar que a imunoterapia específica injetável para inalantes mostrou grande eficácia na melhora dos sintomas prurido e espirros em pacientes portadores de rinite alérgica. Referências Bibliográficas 1 - Schultz A, Stuck BA, Feuring M, Hörmann K, Wehling M. Novel approaches in the treatment of allergic rhinitis. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2003; 3(1):21-7. 2 - Soler, R, Carrillo T. Alergia: a epidemia do século XX. Alergia Conferrence Reports, XX Congresso da Academia Européia de Alergologia e Imunologia Clínica (Berlim, Alemanha) 2001;1(1): 3-4. 3 - Demoly P, Dhivert-Donnadieu H, Bousquet J. Vaccinations aux allergenes chez l'enfant. Allerg Immunol (Paris) 2000 ;32(10):397-401. 4 - Ohashi Y, Nakai Y, Tanaka A, Kakinoki Y, Washio Y, Nakai Y. Allergenspecific immunotherapy for allergic rhinitis: a new insight into its clinical efficacy and mechanism. Acta Otolaryngol Suppl 1998; 538:178-90. 5 - Polzehl D, Keck T, Riechelmann H. 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Morphometric study of the anatomical localization of supraspinal tendon in three positions adopted to be palpable. Palavras-chave: músculo supraespinhal, posição, palpação, morfologia. Keywords: supraspinal muscle, position, palpable, morphologic. Marcelo Rodrigues da Cunha* César Alexandre Fabrega de Carvalho* Eduardo José Caldeira* Felipe Faganelli Caboclo dos Santos** Thiago Cerizza Pinheiro** Maria José Salete Viotto*** * Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. **Alunos do 2º ano do Curso de Graduação Médica da FMJ, Jundiaí, São Paulo. ***Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, São Carlos, São Paulo. Endereço para correspondência: Marcelo Rodrigues da Cunha - Departamento de Morfologia e Patologia Básica da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Rua. Francisco Telles, 250. Caixa Postal 1295. Vila Arens Jundiaí, SP. CEP: 13202-550. Fone: (11)45871095. Contato: [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 27 de janeiro de 2008. Artigo aceito em 20 de março de 2008. RESUMO A localização subacromial do tendão do músculo supraespinhal (MSE) torna-o alvo de lesões por movimentos repetitivos de elevação do membro superior, caracterizando a síndrome do impacto do ombro, que é uma doença comum na clínica ortopédica. Desta maneira, um conhecimento detalhado da topografia deste tendão muscular torna-se necessário durante as avaliações clínicas, visando à adequada abordagem terapêutica. Foram realizadas dissecções de 19 ombros cadavéricos para a localização do tendão do MSE. No estudo morfométrico, foram executadas medidas da região do ombro em três posições, a saber: com o membro superior na posição neutra, antebraço sobre o abdome e antebraço atrás do dorso. Com isto, procurou observar qual dessas posições tornaria o tendão do MSE mais exposto e de mais fácil acesso à palpação. Os resultados mostraram que o tendão do MSE está localizado dentro de uma área triangular situada entre o tubérculo maior do úmero, acrômio e o processo coracóide da escápula. Além disso, notou-se que na posição do antebraço atrás do dorso, associado à rotação interna do ombro, ocorre um deslocamento anterior das porções intra e extramuscular do MSE, Perspectivas Médicas, 19(1): 10-14, jan. / jun. 2008 levando à exposição de maior quantidade de fibras musculares que se deslocam de uma posição subacromial para uma localização mais anterior ao acrômio. Tal posição expõe melhor o tendão do MSE à palpação, além de facilitar a avaliação e aplicação das técnicas de tratamento durante as lesões do mesmo. ABSTRACT The subacromial localization of the tendon of the supraspinal muscle (SM) becomes the aim of wounds by repetitive movements of elevation of the upper member, characterizing to syndrome of the impact of the shoulder, being this a common pathology in the clinical orthopedic. Of this way, a knowledge detailed of the topography of this muscular tendon becomes-itself necessary during the clinical evaluations as well like the handling of the even. They were carried out dissecation of 19 post-mortem shoulders for approach of the tendon of the SM. In the study morphometric, were performed measures of the region of the shoulder with the upper member in the neutral position, forearm about the abdomen and forearm supported about the spine. With this, it found to observe which of those three positions would become the tendon of the SM displayed and of easier access to be palpable. The results showed that the tendon of the SM is located inside an area triangulate situated between the biggest tubercle of the humerus, acromio and the trial coracoid of the scapula. Beyond that, noticed itself that in the position of the forearm about the spine associated to the internal rotation of shoulder, a previous displacement occurs of the portions intra and extramuscular of the SM, causing to the exposition of bigger quantity of muscular fibers that are dislocated of a position subacromial for a more previous location to the acromio. Such position exposes better the tendon of the SM to be palpable beyond facilitate the test of application of the techniques of handling during the wounds of the even. INTRODUÇÃO O tendão de inserção do músculo supraespinhal é alvo de impacto e compressão contra o arco coracoacromial durante a elevação do braço devido à sua localização subacromial no ombro. Tal situação pode resultar na síndrome do impacto do ombro, 11 Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três pos... - Marcelo R. da Cunha e cols. principalmente quando os movimentos do membro superior são repetitivos ao longo da atividade ocupacional do indivíduo, podendo até ser caracterizado como um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT). Esta doença é freqüente na clínica ortopédica e manifesta-se por dor, rigidez, inflamação, fibrose e degeneração tendinosa e articular do ombro, afetando principalmente o tendão (1) do músculo supraespinhal . Alguns métodos específicos já foram descritos para avaliar a condição patológico-normal do músculo supraespinhal na síndrome do impacto. Cyriax (1993) foi um dos primeiros a sugerir posições específicas do ombro para facilitar a localização e a palpação do tendão do músculo supraespinhal. Assim, o autor cita a posição na qual o braço é colocado em rotação interna e leve hiperextensão(2). Entretanto, Hawkins e Bokor (1990) propuseram a posição em que o antebraço é colocado sobre o abdome(3) e Nicholson e Clendaniel (1989) indicaram a posição neutra do membro superior (4) ou com ligeira hiperextensão do ombro . Posteriormente, Mattingly e Mackarey (1996), avaliando as posições propostas na literatura, utilizaram medidas goniométricas em ombros de cadáveres e concluíram que a posição que produz melhor exposição e acesso à palpação do tendão do músculo supraespinhal é adução (10 graus) associada à rotação medial (80-90 graus) e a hiperextensão (30(5) 40 graus) do ombro . Segundo Neer (1972), o tendão do músculo supraespinhal localiza-se anterior e inferiormente ao (6) acrômio . Com rotação interna, este tendão é conduzido para uma posição ainda mais anterior enquanto que na rotação externa a face de inserção do músculo supraespinhal apresenta localização lateral ao terço anterior do acrômio. Assim, a elevação do braço em rotação interna ou externa, faz com que a "zona crítica hipovascular" do músculo supraespinhal situa-se inferior ao ligamento coracoacromial ou na borda anterior do acrômio. Desta maneira, é coerente presumir que saliências na superfície inferior da borda anterior do acrômio podem impactar e lesar o músculo (7) supraespinhal . Entretanto, na literatura consultada sobre os estudos morfométricos do tendão do músculo supraespinhal, verificou-se uma ausência de correlações específicas e diretas entre as análises morfológicas efetuadas e a prática terapêutica. Com este propósito, desenvolvemos este estudo visto a necessidade de conhecer topograficamente este tendão, pois o mesmo não pode ser distinguido só pela (8,9) palpação . Desta maneira o objetivo foi fornecer dados métricos para a localização precisa do tendão do músculo supraespinhal bem como padronizar em qual posição do membro superior o torna mais exposto à palpação e, conseqüentemente, às técnicas de tratamento. MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados 10 ombros direitos e 9 ombros esquerdos de cadáveres de indivíduos adultos, de ambos os sexos, integrantes do acervo do Laboratório de Anatomia do Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Através de incisões na estratigrafia superficial do Figura 1: Fotografia do ombro esquerdo em vista antero-superior onde foram afastadas as partes do músculo deltóide (D) seccionado. Nota-se a porção intramuscular (I) e extramuscular (E) do tendão do músculo supra-espinhal (S), que se fixa no tubérculo maior do úmero (TM) e localizado dentro de uma área triangular delimitada pelo acrômio, tubérculo maior do úmero e processo coracóide (PC) da escápula. ombro, o músculo deltóide foi dissecado e seccionado transversalmente. No coto proximal do músculo deltóide, realizou-se um corte longitudinal que o dividiu em duas metades, anterior e posterior. A seguir, os cotos do músculo deltóide foram rebatidos em direção aos seus pontos de fixação óssea. Isto permitiu a visualização da região subacromial do ombro, visando expor a maior área possível do tendão do músculo supraespinhal (Figura 1). Figura 2: Representação esquemática das tomadas métricas efetuadas. A- acrômio; B- processo coracóide; C- tubérculo maior do úmero; D- ligamento coracoacromial; E- tendão do músculo supraespinhal. 1- distância entre o ponto mais alto do tubérculo maior do úmero e o ápice do processo coracóide; 2- distância entre o ponto mais alto do tubérculo maior do úmero e o ângulo acromial. 3- distância entre o ângulo acromial e o ápice do processo coracóide; 4- distância entre o ponto médio da margem anterior do tendão do músculo supraespinhal e ápice do processo coracóide; 5- distância entre o ponto mais alto do tubérculo maior do úmero e ponto médio da margem lateral do ligamento coracoacromial. Perspectivas Médicas, 19(1): 10-14, jan. / jun. 2008 12 Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três pos... - Marcelo R. da Cunha e cols. Gráfico 1: Médias (cm) das cinco medidas nas posições: neutra (A); antebraço sobre o abdome (B) e antebraço atrás do dorso (C). Com o auxílio de um goniômetro, os membros superiores foram colocados nas seguintes posições citadas pela literatura: A- Neutra; B- Posição sugerida por Hawkins e Bokor (1990) na qual o antebraço é colocado sobre o abdome padronizando-se uma flexão de cotovelo a 60 graus(10); C Posição de Cyriax onde o braço permanece em rotação medial, adução e ligeira extensão, sendo esta posição obtida colocando-se o antebraço fletido atrás do dorso. Em cada uma das três posições foram realizadas cinco medidas com o auxílio de um paquímetro (Figura 2). A partir dos dados morfométricos, calculou-se as médias e seus desvios-padrão. Foi então realizado um estudo estatístico, que constituiu na aplicação da análise de variância (ANOVA) para comparação entre as posições do membro superior em cada uma das variáveis estudadas e o Teste de Comparações Múltiplas (“Post Hoc”) nos casos de rejeição das igualdades entre as situações encontradas pelo ANOVA. Os resultados foram correlacionados aos achados morfológicos a fim de buscar a posição mais indicada para a localização do tendão do músculo supraespinhal, bem como quantificar a maior ou menor exposição deste tendão em relação aos acidentes ósseos palpáveis in vivo. RESULTADOS Nas dissecções foram reconhecidas duas porções do tendão do músculo supraespinhal, sendo uma intramuscular na qual, as fibras musculares convergiam obliquamente e uma extramuscular. A porção intramuscular estava situada anteriormente à articulação acromioclavicular e ao acrômio e profundamente ao ligamento coracoacromial. A porção extramuscular foi visualizada anteriormente ao acrômio e lateralmente ao ligamento coracoacromial. Perspectivas Médicas, 19(1): 10-14, jan. / jun. 2008 Desse modo a maior parte do tendão localizava-se dentro de uma área triangular delimitada pelo tubérculo maior do úmero, acrômio e o processo coracóide da escápula. Por outro lado, fibras do músculo supraespinhal foram observadas inferiormente ao acrômio e à articulação acromioclavicular constituindo assim, parte do assoalho do espaço subacromial. Próximo à sua inserção, o tendão do músculo supraespinal estava em sintopia com o tendão do músculo infraespinhal e ântero-medialmente com a porção longa do músculo bíceps braquial (Figura 1). A partir das tomadas métricas adotadas, foi efetuada uma somatória dos valores referentes aos ombros direitos e esquerdos e calculada uma média única para cada variável em cada uma das três posições usadas (Gráfico1). As médias dos valores referentes às variáveis adotadas diferiram significamente (p < 0,05) entre as posições utilizadas, à exceção da variável acrômio processo coracóide (p > 0,05). Considerando-se a posição neutra como referência, a média para a distância entre o tubérculo maior do úmero e o ápice do processo coracóide foi de 3,92cm (Gráfico1). Houve uma diminuição significativa desse valor (p > 0,05) quando o antebraço foi colocado atrás do dorso ou sobre o abdome, aproximando-se assim, essas duas saliências ósseas. Conseqüentemente, nessas duas posições, à medida que o processo coracóide se aproximou do tubérculo maior do úmero, este se distanciou do ângulo acromial. Quanto à distância entre o tubérculo maior do úmero e o ângulo acromial, ocorreu um aumento significativo desse valor (p < 0,05) quando o antebraço foi colocado atrás do dorso. Desse modo, as médias encontradas para a posição neutra e o antebraço sobre o abdome foram significativamente semelhantes entre 13 Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três pos... - Marcelo R. da Cunha e cols. si (p > 0,05), mas ambas apresentaram-se menores (p < 0,05) que a encontrada para a posição na qual o antebraço foi colocado atrás do dorso (Gráfico1). As médias encontradas para as distâncias entre o ângulo acromial e ápice do processo coracóide nas três posições não diferiram entre si. Os valores da variável que envolveu borda anterior do tendão do músculo supraespinhal e ápice do processo coracóide foram diferentes (p<0,05) nas posições adotadas Tendo a posição neutra como referência, pode ser notado que a borda anterior do tendão do músculo supraespinhal estava mais próxima do processo coracóide quando o antebraço foi colocado atrás do dorso (Gráfico1). Em relação à distância entre o tubérculo maior e o ponto médio do ligamento coracoacromial, verificou-se que os valores obtidos nas posições neutra e antebraço atrás do dorso não diferiram estatisticamente entre si (p>0,05). Porém, esta distância diminuiu significativamente (p<0,05) quando o antebraço foi colocado sobre o abdome (Gráfico 1). Na posição de antebraço atrás do dorso (Figura 3C), notou-se que a exposição do tendão do músculo supraespinhal ficou mais acentuada quando comparada com as posições neutra (3A) e antebraço sobre o abdome (3B). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO O tendão do músculo supraespinal está intimamente aderente à cápsula articular do ombro, mantendo relações anatômicas com os tendões dos músculos infraespinhal e subescapular (10) . Esses tendões juntamente com o do músculo redondo menor (11) constituem o manguito rotator musculotendíneo . Devido à disposição destes tendões, o manguito rotator protege a articulação glenoumeral, conferindo-lhe estabilidade através da fixação da cabeça do úmero à cavidade glenóide da escápula. Dos músculos que compõem este manguito, o tendão do músculo supraespinhal é o mais comumente lesado devido à sua inserção subacromial, predispondo-o ao impacto e compressão contra o arco coracoacromial durante os movimentos repetitivos de elevação do braço, como ocorre nas atividades ocupacionais. Codman & Akerson (1931) foram os primeiros a reconhecer a prevalência de rupturas do tendão do (12). músculo supraespinhal A partir de então, outros trabalhos têm sido realizados na tentativa de elucidar as causas e conseqüências da síndrome do impacto que afeta principalmente este músculo decorrente de lesões (13) por esforços repetitivos (LER) . Durante as nossas dissecções, observou-se que o tendão do músculo supraespinal apresentava duas porções, sendo uma intramuscular e outra extramuscular. O reconhecimento dessas porções foi (14) citado por Ito et al(1995) . A maior parte do tendão do músculo supraespinhal pode ser localizada dentro de uma área triangular situada entre o tubérculo maior do úmero, acrômio e o processo coracóide da escápula. Inferiormente ao acrômio e à articulação acromioclavicular, observou-se fibras do músculo supraespinhal fazendo parte do assoalho do espaço subacromial. Alguns autores referem que na posição anatômica ou neutra do ombro, o tendão do músculo supraespinal está localizado profundamente ao acrômio e, sendo assim, torna-o inacessível à palpação e às técnicas de tratamento(5). As observações anatômicas e métricas feitas nos ombros dissecados em nosso trabalho demonstraram que para tornar o tendão do músculo supraespinhal mais exposto foi necessário colocar o ombro em uma posição que resultasse num aumento significativo da distância entre o tubérculo maior do úmero e o ângulo acromial além de permitir uma aproximação entre a borda anterior deste tendão e o processo coracóide. Assim sendo, verificou-se que na posição de antebraço atrás do dorso, houve um Figura 3: Fotografia do ombro em posição neutra (A), antebraço sobre o abdome (B) e antebraço atrás do dorso (C). Na figura C evidencia-se um aumento considerável da distância entre tubérculo maior do úmero (TM) e acrômio, além de grande parte do tendão do músculo supraespinhal (S) localizado anteriormente ao acrômio, tornando-o mais exposto à palpação. 5x. Perspectivas Médicas, 19(1): 10-14, jan. / jun. 2008 14 Estudo morfométrico da localização anatômica do tendão do músculo supraespinhal em três pos... - Marcelo R. da Cunha e cols. deslocamento anterior e lateral das porções intra e extramuscular do tendão, como também de fibras musculares de uma posição subacromial para uma localização mais anterior ao acrômio. Estes dados estão em consonância com os apresentados por Mattingly e Mackarey (1996) (5). A distância entre o tubérculo maior do úmero e o ápice do processo coracóide diminuiu quando o antebraço foi colocado atrás do dorso ou sobre o abdome como conseqüência da rotação medial do úmero que ocorre nessas posições. Entretanto, a distância entre o tubérculo maior do úmero e o ângulo acromial permaneceu inalterado na posição neutra do ombro e naquela em que o antebraço era posicionado sobre o abdome. Já o tubérculo maior afastou-se do ângulo acromial quando o antebraço foi colocado atrás do dorso como resultado de um deslocamento anterior da cabeça do úmero provocada pela extensão do ombro. O espaço entre o ângulo acromial e o ápice do processo coracóide foi praticamente constante nas três posições adotadas e isto ocorreu porque os pontos utilizados para essa medida referem-se a duas saliências ósseas pertencentes a um único osso, a escápula, não havendo assim nenhum deslocamento entre eles durante os movimentos da articulação escápulo-umeral. Analisando a distância entre a borda anterior do tendão do músculo supraespinhal e o ápice do processo coracóide, verificou-se que, colocando o antebraço sobre o abdome, o movimento de rotação medial do ombro contribuiu para a diminuição desta variável comparando com a posição neutra. Tais estruturas ficaram consideravelmente aproximadas quando esta rotação foi associada à extensão do ombro durante a posição de antebraço atrás do dorso. No que se refere ao espaço entre o tubérculo maior do úmero e o ponto médio do ligamento coracoacromial, evidenciou-se uma aproximação destas duas estruturas anatômicas quando o antebraço foi colocado sobre o abdome como resultado do movimento de rotação medial do úmero. Essa distância não se alterou de maneira significativa quando foi comparada nas posições: neutra e antebraço atrás do Perspectivas Médicas, 19(1): 10-14, jan. / jun. 2008 dorso. Nesta última, a extensão do ombro, deslocando a cabeça umeral anteriormente, não permitiu maior aproximação entre o tubérculo maior do úmero e o ponto médio do ligamento coracoacromial, apesar de ter ocorrido o movimento de rotação medial. Tendo em vista a importância do músculo supraespinhal na movimentação e estabilidade da articulação escápulo-umeral, bem como a localização anatômica do seu tendão, que o predispõe a processos patológicos diversos, acreditamos que este trabalho contribui com informações importantes para as condições morfofuncionais e clínicas do mesmo. AGRADECIMENTOS: Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos e PIBIC/CNPq Referências bibliográficas 1 - Mendonça HP, Assunção AA. Association between shoulder diseases and work: a brief review. Rev Bras Epidemiol 2005; 8: 213-22. 2 - Cyriax JH, Cyriax PJ. CYRIAX´S illustrated manual of orthopaedic medicine. 1993; 2.ed, Oxford: Butterworth Heinemann, p. 1233. 3 - Hawkins RJ, Bokor DJ. 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Contribution of the nursing team in the identification of the carbohydrates and fatnesses feed habits and the development of the type II Diabetes Mellitus. Palavras-chave: diabetes mellitus, dieta, desenvolvimento do diabetes. Key-words: diabetes mellitus, diet, and diabetes development. Eduardo José Caldeira* Anne Pavlowa Alves Ruela** Marcelo Rodrigues da Cunha*** * Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica, Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. **Acadêmico do Curso de Enfermagem da Faculdade de Jaguariúna, FAJ, Jaguariúna, São Paulo. ***Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica, Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. Endereço para correspondência: Eduardo José Caldeira - Departamento de Morfologia e Patologia Básica (FMJ) - Rua Francisco Telles, 250 Vila Arens, Jundiaí, SP - Fone (11) 4587 1095 - Caixa Postal 1295 - e-mail: [email protected] Suporte: Programa de Iniciação Científica PIC-FAJ Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 11 de dezembro de 2007. Artigo aceito em 21 de janeiro de 2008. RESUMO A incidência de pacientes com diabetes tem aumentado mundialmente durante os últimos anos, com aproximadamente 171 milhões de indivíduos diabéticos tendendo esse número a dobrar nos próximos 25 anos, principalmente devido à alimentação. Assim, o objetivo do presente estudo foi identificar os hábitos alimentares mais freqüentes em indivíduos da cidade de Campinas, estado de São Paulo, antes de estabelecido o desequilíbrio glicêmico crônico, correlacionando a influência da dieta rica em carboidratos e gorduras com o desenvolvimento do diabetes. Para tal foram aplicados 500 questionários a indivíduos diabéticos tipo II de 30 a 80 anos de idade. Nestes questionários abordou-se a rotina alimentar diária destes indivíduos antes de detectado o estado hiperglicêmico. Os resultados demonstraram que 93% dos indivíduos consumiam diariamente carboidratos, além disso, 89% consumiam gorduras antes de estabelecido o efetivo estado diabético. Assim, a partir dos resultados pode-se concluir que a dieta dos indivíduos antes de apresentarem o desequilíbrio glicêmico crônico era principalmente de carboidratos e gorduras, o que pode ter influenciado no risco de ocorrência do diabetes mellitus tipo II. ABSTRACT In the world the incidence of patients with diabetes has increased during the last years, with approximately 171 millions of diabetic individuals, with tendency that number it fold us near 25 years. Like this, the aim of the present study was establish the feed habits more frequent in individuals of the Campinas town, São Paulo state, before of established the imbalance glicemic chronic, correlating the influence of the carbohydrates and fatnesses feed habits and the development of the type II Diabetes Mellitus. A total of 500 questionnaires were utilized to type II diabetic individuals between of 30 to 80 years old. In these questionnaires approached itself the routine feed daily of these individuals before of detected the hyperglycemic state. The results showed that 93% of the individuals consumed daily carbohydrates, beyond that, 89% consumed fatnesses before of established the effective diabetic state. Then, based on results it can be concluded that the diet of the individuals before of will present the imbalance glicemic chronic to be constituted mainly of carbohydrates, and fatnesses, what may have influenced in the risk of occurrence of the type II diabetes mellitus. INTRODUÇÃO Mundialmente a incidência de pacientes com diabetes tem aumentado durante os últimos anos, com aproximadamente 171 milhões de indivíduos diabéticos tendendo esse número a dobrar nos próximos 25 anos, sendo no Brasil a quarta causa mortis (1,2). A principal característica do diabetes é a hiperglicemia refletindo uma deficiência na utilização dos carboidratos, resultado de uma anormalidade na secreção de insulina ou do efeito desta sobre os tecidos(3,4). Esta doença debilita seus portadores levando-os a deficiências nos tecidos de revestimento, doenças vasculares, renais, oftálmicas, neurológicas, bem como perda de peso, problemas digestivos, alteração na cicatrização de lesões e a incidência de infecções, normalmente levando o indivíduo ao afastamento das suas atividades (5,6) . Além do conhecimento das várias complicações que o indivíduo diabético apresenta, sabe-se também que a dieta pode ser um fator de risco para a ocorrência desta (7) patologia . Assim, o objetivo do presente estudo foi identificar os hábitos alimentares mais freqüentes em indivíduos diabéticos da cidade de Campinas estado de São Paulo, antes de estabelecido o desequilíbrio glicêmico crônico, correlacionando a dieta rica em carboidratos e gorduras e o desenvolvimento do Perspectivas Médicas, 19(1): 15-16, jan. / jun. 2008 16 Contribuição da equipe de Enfermagem na identificação de hábitos alimentares relac... - Eduardo J. Caldeira e cols. Tabela 1 - Média relativa diária de consumo de carboidratos e gorduras em 500 indivíduos diabéticos avaliados antes da detecção do desequilíbrio glicêmico. Letras diferentes entre grupos alimentares diferem no nível de 5% de significância diabetes tipo II. MATERIAIS E MÉTODOS No presente trabalho 500 indivíduos diabéticos tipo II foram submetidos a um questionário sobre seus hábitos alimentares em relação ao consumo de carboidratos e gorduras. A seleção destes indivíduos diabéticos tipo II priorizou a idade de 30 a 80 anos, período o qual normalmente ocorrem os sinais e sintomas clínicos desta doença. O questionário utilizado identificou estes grupos alimentares e a freqüência com que estes alimentos eram consumidos diariamente pelos indivíduos antes da detecção do desequilíbrio glicêmico. Os questionários foram aplicados aleatoriamente em locais públicos da cidade de Campinas pelo mesmo pesquisador durante um ano. Alguns dados como sexo, condição social e identificação dos indivíduos da pesquisa foram mantidos em sigilo, pois não foram observadas diferenças nos dados analisados. Todo o trabalho foi realizado de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Jaguariúna (CEP: 01/2006). O estudo da comparação entre os dados obtidos foi analisado utilizando a média relativa percentual das variáveis entre os grupos alimentares, (8) complementado com teste T de Student . RESULTADOS Após avaliar os questionários dos indivíduos diabéticos, observou-se em relação aos carboidratos que do total de indivíduos avaliados, 93% destes consumiam este grupo alimentar e 53% destes o faziam pelo menos três vezes ao dia. O consumo de gorduras foi estabelecido em 89% dos indivíduos, sendo que 7% destes consumiam este grupo alimentar pelo menos três vezes diariamente (Tabela 1). DISCUSSÃO De acordo com os resultados pode-se observar que os grupos alimentares identificados como mais freqüentes na dieta dos indivíduos antes de desenvolverem o diabetes mellitus tipo II foram principalmente carboidratos e gorduras. Estes resultados são concordantes com Choi et al., que avaliando 1,243 homens com diabetes tipo II observaram que a incidência de diabetes mellitus tipo II estava relacionada a dietas ricas em gorduras(7). Outro estudo, também analisando a influência da dieta no desenvolvimento do diabetes revelou que em gestantes, dietas ricas em carboidratos também resultam em significativo aumento da ocorrência desta (9) doença, além de poder comprometer o seu tratamento . A relação da dieta e a obesidade, bem como a incidência do diabetes também tem sido estudada por Perspectivas Médicas, 19(1): 15-16, jan. / jun. 2008 outros autores. É estimado que 40% da população adulta européia apresente obesidade, sendo esta condição relacionada a doenças cardiovasculares e ao diabetes mellitus tipo II(10,11,12). Assim, estudos de controle de peso e assistência psico-social vem sendo realizadas por equipes da área de saúde, incluindo os profissionais da Enfermagem, na tentativa de uma melhora no controle de diferentes doenças incluindo o diabetes(13,14,15). Assim, a partir da contribuição da equipe de Enfermagem na identificação dos resultados, pode-se concluir que a dieta básica diária da maioria dos indivíduos, antes de determinado o desequilíbrio glicêmico crônico, era principalmente de carboidratos e gorduras. Cabendo ressaltar que esta dieta pode ter influenciado na ocorrência do diabetes mellitus tipo II. AGRADECIMENTOS: PIC/FAJ, CAPES, FAPESP E CNPq. Referências bibliográficas 1 - Pace AE, Nunes PD, Ochoa-Vigo K. Family knowledge about the problematic of patients with diabetes mellitus. Rev Latino Am Enfermagem 2003;11:312-9. 2 - Ritz E. Consequences of late referral in diabetic renal disease. Acta Diabetol 2002; 39:3-8. 3 - Robbins SL. Doenças Sistemicas. In: Diabetes Mellitus. Patologia Estrutural e Funcional. 4a ed. Canada: W.B.Sunders Company; 1989. p. 238-50. 4 - Conget I. Diagnosis, classification and pathogenesis of diabetes mellitus. Rev Esp Cardiol 2002;55:528-38. 5 - Stefan SF. 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Revista Enfermagem Brasil 2006; 4:6-9. 17 ARTIGO ORIGINAL Análise morfométrica da localização do forame infra-orbitário. Morphometric analysis of the infraorbitary foramina location. Palavras-chave: morfometria, localização, forame infra-orbitário. Key words: morphometry, location, infraorbitary foramina. Eduardo José Caldeira* Bruno Azevedo Randi** Juliana Mandato Ferraguti** Elaine Minatel*** * Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica, Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. ** Acadêmicos do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ, Jundiaí, São Paulo. *** Professor Doutor do Departamento de Anatomia, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, Campinas, São Paulo. Endereço para correspondência: Eduardo José Caldeira - Departamento de Morfologia e Patologia Básica - Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ - Rua Francisco Telles, 250 - Vila Arens, Jundiaí, SP - Fone (11) 4587 1095 - Caixa Postal 1295 e-mail: [email protected] region is indicated the local anesthesia, for this is necessary the knowledge of the regional anatomy for the success of this procedure. Thus, the present study showed the relative position of infraorbitary foramina, in adult skulls, as well as correlates the knowledge of this position in relation to complications occurred during anesthetic procedures. The infraorbitary foramina were evaluated in 242 adult skulls, where the relative position of this was observed regarding palpable anatomical points during anesthetic procedures. After the analysis of the results was not observed significant differences in the position of the foramina in relation of the antimers, however, the analysis of this position can contributed like a tool for anesthetic procedures in the nasal region, as well as can avoid complications during these procedures. Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 07 de dezembro de 2007. Artigo aceito em 12 de fevereiro de 2008. RESUMO O nariz, localizado na face, é local freqüente de traumas incluindo fraturas, tornando-se uma área de grande interesse estético e funcional. Em procedimentos cirúrgicos na região nasal é indicada a anestesia local, sendo necessário o conhecimento da anatomia regional para o sucesso deste procedimento. Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a posição relativa do forame infra-orbitário, em ambos antímeros de crânios de cadáveres adultos, bem como correlacionar o conhecimento da posição desta estrutura anatômica as complicações ocorridas durante procedimentos anestésicos. Os forames infraorbitários foram avaliados em 242 crânios de cadáveres adultos onde se observou a posição relativa desta estrutura em relação a pontos anatômicos palpáveis durante procedimentos anestésicos. A partir da análise dos resultados não se observou diferenças significativas na posição dos forames infra-orbitários em relação aos antímeros, contudo, a análise desta posição contribui como uma ferramenta auxiliar durante procedimentos anestésicos na região nasal, bem como pode evitar complicações durante estes procedimentos. ABSTRACT The nose, in the face, is a frequent site of traumas including fractures, becoming an area of great functional and esthetic interest. To surgeries in this INTRODUÇÃO O nariz é dividido em porção externa e interna. Sendo o início do sistema respiratório, localizado na face, o nariz é local freqüente de traumas incluindo fraturas e lacerações, tornando-se uma área de grande (1,2,3,4) interesse estético e funcional . Em procedimentos cirúrgicos na região nasal pode ser utilizada tanto a anestesia local quanto a geral(5). Diversos estudos vêm demonstrando, que os pacientes relatam preferência pela anestesia local devido ao conforto, segurança, menores complicações e menor tempo de recuperação pós-cirurgico, além do menor (5,6,7,8,9,10,11,12) custo . Para realização de procedimentos anestésicos locais é necessário o conhecimento da anatomia regional, sendo este fator essencial para o (6) sucesso da anestesia . Assim, um procedimento de fundamental importância para cirurgias nasais é o bloqueio anestésico do nervo infra-orbitário(1,13). O bloqueio anestésico deste nervo pode ser obtido através do forame infra-orbitário, que se localiza no osso maxilar, inferiormente à borda infra-orbitária e lateralmente à (1) abertura piriforme em ambos antímeros . Alguns cuidados devem ser tomados durante a aplicação da anestesia neste local devido à presença da musculatura facial, ramos do nervo facial e o globo ocular que está imediatamente superior ao local da aplicação. Em procedimentos mal realizados, por exemplo, pode ocorrer a paralisia temporária dos músculos palpebrais, o que justifica cautela durante estes procedimentos(1,6). Para isso é necessário conhecer a localização dos forames do crânio e das estruturas ao seu redor, bem como a angulação da agulha para a Perspectivas Médicas, 19(1): 17-19, jan. / jun. 2008 18 Análise morfométrica da localização do forame infra-orbitário - Eduardo J. Caldeira e cols. realização de bloqueios anestésicos(13,14). Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a posição relativa do forame infra-orbitário, em ambos antímeros de crânios de cadáveres adultos, bem como correlacionar o conhecimento da posição desta estrutura anatômica às complicações ocorridas durante procedimentos anestésicos. MATERIAIS E MÉTODOS A posição anatômica do forame infra-orbitário foi avaliada nos antímeros direito e esquerdo em 242 crânios de cadáveres adultos do Laboratório de Anatomia da Faculdade de Medicina de Jundiaí e do Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia da Unicamp. Para obter a posição relativa dos forames infra-orbitários foram tomados como referências os seguintes pontos anatômicos palpáveis durante o procedimento anestésico: borda da abertura piriforme, processo temporal do osso zigomático, borda inferior da cavidade orbitária e processo alveolar da maxila, todos em relação ao forame infra-orbitário. Para realizar as medidas foi utilizado um paquímetro de tamanho 3” (Lee Tools, China). Após a obtenção das medidas em milímetros, estas foram submetidas à análise estatística para obtenção da média relativa da posição dos forames nos antímeros direito e esquerdo, complementada com teste T de Student para os níveis de significância(15). RESULTADOS No antímero direito a distância mínima do forame infra-orbitário em relação à margem infra-orbital foi de 5,16 mm e a maior distância foi de 7,56 mm, estando em média a 6,35 mm. Com relação ao ponto anatômico do processo temporal do osso zigomático a distância mínima foi de 22 mm e a maior distância foi de 24 mm no antímero direito, ficando em média em 23 mm. A menor distância observada entre o forame infraorbitário e o processo alveolar da maxila no antímero direito foi de 21,70 mm e a maior distância foi de 31,85 mm, tendo em média uma distância de 26,80 mm. Com relação à distância entre o forame infra-orbitário e a abertura piriforme, observou-se uma distância mínima de 11,08 mm e uma distância máxima de 19,80 mm, prevalecendo à média de 15,40 mm no antímero direito (Tabela 1). No antímero esquerdo a menor distância entre o forame infra-orbitário e a margem inferior da cavidade orbital foi de 4,78 mm e a maior distância foi de 8,56 mm, contudo, em média observou-se 6,67 mm em relação a este ponto anatômico. A menor distância observada em relação ao processo temporal do osso zigomático foi de 20,87 mm e a maior distância foi de 24,86 mm no antímero esquerdo, estando em média a uma distância deste processo de 22,86 mm. Com relação ao processo alveolar da maxila a menor distância ficou em torno de 26,01 mm e a maior distância foi de 28,55 mm, ficando em média a uma distância de 27,20 mm. A distância mínima observada em relação a abertura piriforme no antímero esquerdo foi de 13,90 mm, enquanto a distância máxima foi de 17,85 mm, prevalecendo uma média de 15,90 mm (Tabela 1). DISCUSSÃO A posição relativa do forame infra-orbitário em relação à margem inferior da cavidade orbitária foi em média de 6,51 mm entre os dois antímeros, valor este semelhante ao encontrado por Aziz et al. (2000), que após estudarem 47 cadáveres observaram valores médios de 8,0 mm em homens e 7,8 mm em mulheres, podendo chegar a 10,5 mm em cadáveres masculinos e 9,5 mm em femininos(16). Diferente dos valores médios encontrados por Kazkayasi et al. (2001) que após analisarem a posição relativa do forame infra-orbitário (17) em 35 cadáveres obtiveram a média de 4,2mm . Semelhante ao encontrado por Hindy & Abdel-Raouf (1993), que detectaram em 30 cadáveres egípcios de idades diferentes uma distância mínima de 2,4 mm e uma distância máxima de 6,1 mm(18). Ainda em relação à borda inferior da cavidade orbitária, Chung et al. (1995) encontraram uma média de 6,35mm para o antímero direito e 6,67mm para o antímero esquerdo após analisar 124 cadáveres coreanos, também similares aos valores encontrados neste estudo(19). Com relação à abertura piriforme foi encontrada a média de 15,65 mm entre os antímeros, valor relativo também encontrado por Aziz et al. (2000) analisando (16) 47 cadáveres . Já Hindy & Abdel-Raouf (1993) e Kazkayasi et al. (2001) encontraram valores menores, em média entre 14,7 mm até 17,23mm(17,18). Analisada a distância entre o forame infra-orbitário e o processo alveolar da maxila foi encontrado no presente estudo 27 mm de distância média entre essas estruturas. Hindy & Abdel-Raouf (1993), estudando a relação do forame infra-orbitário com o processo alveolar da maxila, determinaram que o forame infra- Tabela 1: Médias relativas da localização (mm) do forame infra-orbitário em relação aos pontos anatômicos e antímeros. * * * Diferenças não significantes. Perspectivas Médicas, 19(1): 17-19, jan. / jun. 2008 19 Análise morfométrica da localização do forame infra-orbitário - Eduardo J. Caldeira e cols. orbitário se encontra em oposição ao segundo molar em 50% dos casos e em 15% dos casos alinhados ao primeiro pré-molar ou então entre os dois pré(18) molares . Kaskayasi et al. (2001), estudando também a forma do forame infra-orbitário, observaram que este se apresentava oval em 34,3% dos casos, redondo em 36,8% e semi-lunar em 27,1% além da apresentação dupla em 5,7% dos casos(17). Resultado este, divergente aos encontrados por Hindy & Abdel-Raouf (1993) e Aziz et al. (2000) que observaram a forma semi-lunar em 10% e a apresentação dupla em 15% dos casos(16,18). No presente trabalho é importante destacar que entre os antímeros não houve diferenças significantes em relação à posição relativa dos forames infraorbitários, o que pode se um fator importante para auxiliar em casos de localização destas estruturas. O conhecimento da forma e posição desta estrutura anatômica tem importância clínica, como por exemplo, em casos de bloqueios anestésicos do nervo infra(1) orbitário . Sendo este conhecimento fator essencial para o sucesso da anestesia e para evitar complicações, como por exemplo, bloqueio de ramos do nervo facial (1,6) devido a proximidade regional . Assim, foi possível concluir que a posição exata do forame infra-orbitário pode apresentar pequenas variações decorrentes de fatores como idade, sexo e etnia. Contudo, foi observado um padrão de posição dos forames infra-orbitários em relação aos antímeros. Tal conhecimento pode contribuir como uma ferramenta auxiliar de localização deste forame durante procedimentos anestésicos na região nasal, bem como evitar complicações durante estes procedimentos. AGRADECIMENTOS: NAPED/FMJ, Departamento de Morfologia e Patologia Básica FMJ, Departamento de Anatomia IB Unicamp, FAPESP e PIBIC/CNPq. Referências bibliográficas 1 - Moore KL; Dalley AF. Anatomia orientada para a clínica. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro; 4 ed., 2001, p.1021 2 - Wild DC; El Alami MA; Conboy PJ. Reduction of nasal fractures under local anaesthesia: an acceptable practice? Surgeon 2003;1(1):45-7. 3 - Copeu E; Metin K; Ozsunar Y; Culhaci N; Ozkok S. The interdomal fat pad of the nose: a new anatomical structure. Surg Radiol Anat 2004; 26(1):14-8. 4 - Ullah F; Tahir M; Masoodurechman Aslam M. Mammalian bite injuries to the head and neck region. J Coll Physicians Surg Pak 2005; 15(8):485-8. 5 - Watson DJ; Parker AJ; Slack RW; Griffiths MV. 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Endereço para correspondência: Eduardo José Caldeira - Departamento de Morfologia e Patologia Básica - Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ - Rua Francisco Telles, 250 - Vila Arens, Jundiaí, SP - Fone (11) 4587 1095 - Caixa Postal 1295 - e-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 04 de novembro de 2007. Artigo aceito em 26 de fevereiro de 2008. RESUMO A mandíbula é formada por ramo e corpo, sendo que no ramo mandibular pode-se observar em sua face medial o forame mandibular, o qual possui um trajeto ínfero-anterior originando o canal mandibular que da passagem à divisão mandibular do nervo trigêmio. Clinicamente, esta região é um local de escolha para o bloqueio anestésico para intervenções nos dentes mandibulares posteriores. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a posição relativa do forame mandibular em mandíbulas de cadáveres adultos, correlacionando a posição deste forame a problemas clínicos encontrados em procedimentos anestésicos. A posição do forame foi avaliada em 177 mandíbulas através da medida da distância do forame mandibular aos pontos craniométricos condílico e gônio, além da distância da borda anterior e posterior do ramo mandibular. A partir dos resultados pode-se observar a localização relativa do forame mandibular, bem como uma variação individual significativa, caracterizada entre a posição do forame mandibular e o ponto condílico. O que pode ser causada por disfunções mastigatórias que acarreta em alterações estruturais no côndilo da mandíbula e consequentemente problemas funcionais na articulação temporomandibular. Além disso, esta variação de posição do forame mandibular certamente pode Perspectivas Médicas, 19(1): 20-22, jan. / jun. 2008 comprometer a localização precisa dessa estrutura anatômica, levando a falhas em procedimentos anestésicos. ABSTRACT The mandible is formed by branch and body, and that at the mandibular branch is observed the mandibular foramina, which originates the mandibular meatus that of the passage to the mandibular trigeminal nerve. Clinically, this region is a locality of choice for the anesthetic interventions in the mandibular backside teeth. Like this, the aim of the present study was evaluate the relative position of mandibular foramina in adult jaws, correlating the position of these foramina to clinical problems found in anesthetic procedures. The position was evaluated in 177 jaws through the measure of the distance of the mandibular foramina to the craniometric points. The relative location of the mandibular foramina showed a significant individual variation, characterized between the positions of the mandibular foramina in relation of the condylar point. What can be caused by masticatory dysfunctions that cause structural alterations in the mandibular condyle and consequently functional problems in the temporomandibular joint. Thus, this variation in the position of the mandibular foramina certain can commit the localization of this anatomical structure, causing problems in anesthetic procedures. INTRODUÇÃO A mandíbula é formada por ramo e corpo e desenvolve-se a partir da cartilagem do primeiro arco (1) branquial . Apresenta vários centros de ossificação situados no corpo principalmente na região onde será o futuro forame mentual(2,3). Nesta região pode-se observar anteriormente a presença dos músculos mentuais, os quais podem ser importantes barreiras biológicas, além de determinar o trajeto de infecções de origem bucal(4). O ramo mandibular apresenta em sua face medial o forame mandibular limitado medialmente por uma projeção óssea denominada língula, a qual se insere o ligamento esfenomandibular(5). O forame possui um trajeto ínfero-anterior originando o canal mandibular, o qual da passagem à divisão mandibular do nervo trigêmio(6). Clinicamente, esta região é um local de escolha para o bloqueio anestésico para intervenções nos dentes mandibulares posteriores(7). Inclusive, alguns autores citam que falhas neste 21 Análise métrica da localização do forame mandibular. - Elaine Minatel e cols. bloqueio anestésico podem estar relacionadas à (8) presença de forames acessórios nesta região . Além disso, as próprias variações dimensionais da mandíbula podem comprometer a localização deste forame prejudicando também o bloqueio anestésico do nervo mandibular, sendo necessários estudos (9,10,11) topográficos desta região . Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a posição relativa do forame mandibular em 177 mandíbulas de cadáveres adultos, correlacionando a posição deste forame a problemas clínicos encontrados em procedimentos anestésicos. MATERIAIS E MÉTODOS A posição do forame mandibular foi avaliada em 177 mandíbulas de cadáveres adultos do Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia/ UNICAMP e do Laboratório de Anatomia da Faculdade de Medicina de Jundiaí/ FMJ, sendo obtida em cada antímero, através da medida da distância do forame mandibular aos pontos craniométricos condílico e gônio(6), além da distância da borda anterior e posterior do ramo mandibular (Figura 1). Após a obtenção destas medidas realizou-se a média relativa comparativa entre os antímeros, complementada com teste T de Student(12). RESULTADOS No antímero direito a distância mínima do forame mandibular em relação ao ponto condílico foi de 11 mm e a maior distância foi de 25 mm, estando em média a 15,30 mm. Com relação ao ponto gônio, a distância mínima foi de 16 mm e a distância máxima de 26 mm, estando em média a uma distância de 22,30 mm. A menor distância observada entre o forame mandibular e a borda anterior do ramo da mandíbula foi de 12 mm e a maior distância foi de 20 mm, tendo em média uma distância de 17 mm. Com relação a distância entre o forame mandibular e a borda posterior do ramo da mandíbula observou-se uma distância mínima de 10 mm e uma distância máxima de 15 mm, prevalecendo uma média de 12,50 mm (Tabela 1). No antímero esquerdo a maior distância entre o forame mandibular e o ponto condílico foi de 25 mm e a menor distância foi de 10 mm, contudo a média foi de 19, 96 mm. Com relação ao ponto gônio, a maior distância foi de 30 mm e a menor distância foi de 16 mm, estando em média a uma distância de 22,56 mm. Com relação à borda anterior do ramo mandibular, o forame esteve a uma distância máxima de 22 mm e mínima de 14 mm, estando em média a uma distância de 18,06 mm. Com relação a distância entre o forame mandibular e a borda posterior do ramo observou-se uma distância mínima de 10 mm e máxima de 15 mm, prevalecendo em média a uma distância de 11,90 mm (Tabela 1). DISCUSSÃO A posição relativa do forame mandibular em relação ao ponto condílico no antímero direito foi de 15,30 mm e no antímero esquerdo esta distância média foi significantemente maior, com valor de 19,96 mm. Valor este, semelhante aos achados por Mbajiorgu (2000), que após analisar a posição do forame mandibular em 38 adultos africanos detectou uma distância média geral de 22,50 mm(11). Distância esta, descrita por Radlanski et al. (2003) e por Mbajiorgu (2000), que podem apresentar variações individuais no eixo vertical(3,11). Variações não detectadas por Huang (2003), que após analisar 74 mandíbulas de homens e 79 mandíbulas de mulheres, não observou diferenças significantes entre as distâncias dos forames mandibulares em relação à incisura da mandíbula e a (13) borda posterior do ramo mandibular . Com relação ao ponto gônio observou-se que a distância média até o forame mandibular foi de 22,23 mm no antímero direito e de 22,56 mm no antímero esquerdo. Distâncias inferiores às apresentadas por Oguz & Bozkir (2002), que após analisarem as distâncias dos forames mandibulares em relação à borda inferior do ramo da mandíbula apresentaram uma distância média de 30,97 mm no antímero direito e 29,75 mm no antímero esquerdo(14). Semelhantes às observadas por Mbajiorgu (2000), onde suas análises demonstraram uma média geral de 28,44 mm de distância entre o forame A C D B Figura 1: Figura esquemática da mandíbula humana onde se observa o forame mandibular (Seta), a distância dos pontos craniométricos condílico (A) e gônio (B), bem como as distâncias da borda anterior (C) e posterior do ramo mandibular (D) em relação a este forame. 5X. Tabela 1: Médias relativas da localização (mm) do forame mandibular em relação aos pontos anatômicos em cada antímero. 22,30 * Diferem em 5% de significância Perspectivas Médicas, 19(1): 20-22, jan. / jun. 2008 22 Análise métrica da localização do forame mandibular. - Elaine Minatel e cols. mandibular e a borda inferior da mandíbula(11). Com relação à distância média do forame mandibular em relação à borda anterior do ramo da mandíbula foi observada a média de 17 mm no antímero direito e 18,06 mm no antímero esquerdo. Semelhantes ao descrito também por Mbajiorgu (2000), que determinou uma distância média geral do forame mandibular em relação à borda anterior do ramo mandibular de 18,95 m(11). Enquanto, Oguz & Bozkir (2002), após analisar 34 mandíbulas humanas, obtiveram uma distância média do forame até o ângulo anterior do ramo da mandíbula de 16,90 mm no antímero direito e 16,78 mm no antímero esquerdo(14). No presente estudo, a distância do forame mandibular em relação à borda posterior do ramo da mandíbula apresentou média de 12,50 mm no antímero direito e 11,90 mm no antimero esquerdo. Médias estas inferiores as observadas por Huang (2003), que descreveu uma distância relativa de 16,75 (13) mm em homens e 16,08 mm em mulheres . Contudo, Oguz & Bozkir (2002), apresentaram valores intermediários com distância média de 14,09 mm no (14) antímero direito e 14,37 mm no antímero esquerdo . Variações nas dimensões mandibulares são relatadas e podem comprometer procedimentos clínicos. Principalmente se estas variações estiverem (15) relacionadas à borda posterior do ramo mandibular . Estas diferenças dimensionais da mandíbula comprometem a localização deste forame podendo prejudicar o bloqueio anestésico do nervo (9,10,11) mandibular . Assim, a partir dos resultados pode-se observar a localização relativa do forame mandibular, bem como uma variação individual significativa, caracterizada entre a distância do forame mandibular em relação ao ponto condílico. O que pode ser causada por disfunções mastigatórias que acarreta em alterações estruturais no côndilo da mandíbula e conseqüentemente problemas funcionais na articulação temporomandibular. Além disso, esta variação de posição do forame mandibular certamente Perspectivas Médicas, 19(1): 20-22, jan. / jun. 2008 pode comprometer a localização precisa dessa estrutura anatômica, levando a falhas em procedimentos anestésicos. AGRADECIMENTOS NAPED/FMJ, Departamento de Morfologia e Patologia Básica FMJ, Departamento de Anatomia IB Unicamp, FAPESP e PIBIC/CNPq. Referências bibliográficas 1 - Plant MR, MacDonald ME, Grad LI, Ritchie SJ, Richman JM. Locally releaded acid prepatterns in the first branchial arch cartilages in vivo. Dev Biol 2000; 222: 22-6. 2 - Lee SH, Kim YS, Oh HS, Yang KH, Kim EC, Chi JG. Prenatal development of the human mandible. Anat Rec 2001; 263: 314-25. 3 - Radlanski RJ, Renz H, Klarkowski MC. Prenatal development of the human mandible 3D reconstructions, morphometry and bone remodeling pattern, size 12-117 mm CRL. Anat Embryol 2003; 10: 115-22. 4 - Caldeira EJ, Ferragut JM, Cunha MR, Garcia PJ. Avaliação anatômica de fístula na região mentual. Perspectivas Médicas, 2007; 18: 16-8. 5 - Gardner E, Gray DJ, O'Rahilly R. Anatomy: A regional study of human structure. 1 ed. Philadelphia; W.B. Saunders Company, 1975, 815. 6 - Sischer E, Dubrul EL. Sischer and DuBrul's Oral Anatomy, 8 ed., EUA, Ishiyaku EuroAmerica Inc. Publishers, 1991, 390. 7 - Stein P, Brueckner J, Milliner M. Sensory innervation of mandibular teeth by the nerve to the mylohyoid: implications in local anesthesia. Clin Anat 2007; 20: 591-5. 8 - Pyle MA, Jasinevicius TR, Lalumandier JA, Kohrsk J, Sawyer DR. Prevalence and implications of accessory retromolar foramina in clinical dentistry. Gen Dent 1999; 47: 500-3. 9 - Nicholson ML. A study of the position of the mandibular foramen in the adult human mandible. Anat Rec 1985; 212(1):110-2. 10 - Hwang TJ, Hsu SC, Huang QF, Guo MK. Age changes in location of mandibular foramen. Zhonghua Ya Yi Xue Hui Za Zhi 1990; 9(3): 98103. 11 - Mbajiorgu EF. A study of the position of the mandibular foramen in adult black Zimbabwean mandibles. Cent Afr J Med 2000; 46(7): 184-90. 12 - Montgomery DC. Design and analysis of experiments. 1 ed. John Wiley, New York, 1991, 649. 13 - Huang J. Study on the location of mandibular foramen and measurement of sigmoid notch and ramus. Shanghai Kou Qiang Yi Xue 2003; 12(4): 284-7. 14 - Oguz O, Bozkir MG. Evaluation of location of mandibular and mental foramina in dry, young, adult human male, dentulous mandibles. West Indian Med J 2002; 51(1):14-6. 15 - Keros J, Kobler P, Baucic I, Cabov T. Foramen mandibulae as an indicator of successful conduction anesthesia. Coll Antropol 2001; 25 (1): 327-31. 23 ARTIGO ORIGINAL Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo. Structure and stereology of the secretory epithelial cells of the rat ventral prostate submitted to passive smoking. Palavras-chave: próstata ventral, tabagismo, histologia, morfologia, estereologia. Key Words: ventral prostate, smoking, histology, morphology, stereology. Aldo Okamura* Bruno Busch Cameschi** Vitor Rafael Pastro** Lucília Cristiane Gazola** Marcelo Rodrigues da Cunha*** Cesar Alexandre Fabrega Carvalho*** * Aluno do 6° ano do curso de graduação médica da Faculdade de Medicina de Jundiaí(FMJ), Jundiaí, São Paulo. ** Aluno do 4° ano do curso de graduação médica da FMJ, Jundiaí, São Paulo. *** Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Patologia Básica da FMJ, Jundiaí, São Paulo. Endereço para correspondência: César Alexandre Fábrega Carvalho - Departamento de Morfologia e Patologia Básica - Faculdade de Medicina de Jundiaí, Rua Francisco Telles, 250. Caixa Postal 1295. Vila Arens. Jundiaí, São Paulo. CEP 13202-550. Fone: (0xx11) 4587-1095. [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 06 de janeiro de 2008. Artigo aceito em 13 de maio de 2008. RESUMO O tabagismo é conhecido pelos efeitos deletérios nos diversos sistemas orgânicos, inclusive no genital masculino. Todavia, sua relação com alterações na glândula prostática não está bem definida. Assim, o presente trabalho objetivou avaliar a morfologia do lobo ventral da próstata de ratos submetidos ao tabagismo passivo utilizando técnicas de morfometria e estereologia. Para tal, submeteram-se os ratos do grupo tabagista a 1500cc de fumaça/dia por 60 dias, simulando um ambiente de fumantes. Terminado o tratamento, os animais do grupo controle e tabagista foram anestesiados; seus lobos ventrais dissecados e submetidos a técnicas histológicas rotineiras. As lâminas foram coradas, examinadas e fotografadas. Os resultados apresentaram ácinos atrofiados e espaçados entre si; volume citoplasmático e celular reduzidos, mudança da forma nuclear das células epiteliais e alterações estromais que sugerem hipertrofia do microambiente estromal e diminuição da fertilidade. ABSTRACT The tobacco dependence causes the deleterious effects in the diverse organic systems, including in the genital male organs. However, its relation with alterations in the prostate gland is not all defined. Thus, the present study aim to evaluate the morphology of the ventral prostate of rats submitted to the passive smoke using the morphometrics and stereologic techniques. The smoke group was submitted to 1500cc of smoke/day per 60 days, having simulated an environment of smokers. After treatment, the control and smoker group animals had been anesthetized, and samples of ventral prostate were obtained from the two groups and submitted to routine histological techniques. The results showed atrophied acini and up stromal spaced between itself; cytoplasm and cellular volume reduced, including this, the change of the nuclear form of the epithelial cells and stromal alterations that suggest hypertrophy of the stromal micro-environment and can cause diminution of the fertility. INTRODUÇÃO O hábito de fumar é considerado a mais grave causa evitável de doenças e óbitos prematuros da história da humanidade. Anualmente, mais de 4 milhões de pessoas morrem em decorrência desse vício podendo chegar a 10 milhões até o ano de 2030(1). Quando um indivíduo é exposto a fumaça do cigarro, principalmente a que sai da ponta acesa, ele aspira cerca 4.720 substâncias tóxicas assim como aquele que fuma ativamente. Em média, esse ar poluído contém três vezes mais nicotina e monóxido de carbono e até cinqüenta vezes mais substâncias cancerígenas que a fumaça que entra pela boca depois de passar pelo (1) filtro . Tanto estudos experimentais quanto clínicos verificaram os efeitos prejudiciais da nicotina sobre o (2,3) sistema genital masculino . A administração de nicotina em modelos animais induziu atrofia testicular com degradação celular e diminuição da síntese de (4) esteróides . Tanto a nicotina quanto a cotinina podem inibir a 3-hidroxiesteróide dihidrogenase, enzima importante no metabolismo da testosterona e dihidrotestosterona, o que pode alterar a ação (5) androgênica nas glândulas sexuais acessórias . Diferentes estudos realizados em roedores, demonstraram que a morfogênese, manutenção da Perspectivas Médicas, 19(1): 23-28, jan. / jun. 2008 24 Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo. - Aldo Okamura e cols. (6) atividade funcional, morfologia , proliferação e diferenciação(7,8,9) das células das glândulas sexuais acessórias são reguladas por andrógenos testiculares. A testosterona é o principal andrógeno a induzir a diferenciação da próstata(10). Além da testosterona, acredita-se que outros hormônios estejam implicados no processo de crescimento e funcionamento dessas glândulas sexuais, tal como os estrógenos e a prolactina (10,11) . Atualmente, a importância dos hormônios androgênicos e estrogênicos tem sido demonstrada no desenvolvimento de patologias prostáticas a partir de estudos clínicos e experimentais(12,13,14,15). Nos roedores, a próstata é uma glândula complexa formada por três pares de lobos: ventral, lateral e dorsal que correspondem, em estrutura e função, à organização da próstata humana(16,17). A secreção prostática é formada por diferentes constituintes que permitem condições favoráveis aos espermatozóides para o sucesso da fertilização do óvulo(18, 19). Existe considerável heterogeneidade quanto à sensibilidade androgênica, entre os pares de lobos prostáticos(17). O lobo ventral da próstata (LVP) é dentre outros, o mais andrógeno-sensível. sendo constituído (17) de ácinos revestidos por epitélio simples . Cada ácino consiste de células colunares assentadas em nítida (18) membrana basal . Os ácinos glandulares são envoltos por estroma constituído de fibroblastos que produzem matriz extracelular, além de células musculares lisas, (20) macrófagos, vasos sangüíneos e fibras nervosas . O estroma e o epitélio interagem. Essa interação, na próstata, é responsável pelo equilíbrio morfofuncional(21). A membrana basal é o elo dessa interação oferecendo suporte mecânico e fisiológico ao epitélio secretor(22,23). O desequilíbrio da interação entre o epitélio e o estroma na glândula prostática favorece a formação do carcinoma prostático(11). Várias hipóteses têm sido correlacionadas à manifestação da Hiperplasia Prostática Benigna (HBP) e do Carcinoma Prostático (PCa). Entretanto, é importante destacar que o desencadeamento destas doenças não está associado exclusivamente à herança genética e a idade. Outros fatores como a dieta, alcoolismo, diabetes e o tabagismo, podem estar relacionados ao desencadeamento precoce da HBP e do PCa. Assim, considerando a importância da próstata no processo reprodutivo e o alto índice de afecções nessa glândula, bem como os resultados controversos dos possíveis efeitos da fumaça de tabaco sobre as doenças prostáticas, o presente estudo objetivou avaliar a histologia associada a parâmetros estereológicos do lobo próstata ventral de ratos frente ao tabagismo passivo. compartimento acrílico dotado de um sistema de exaustão acionado a cada 1 minuto de exposição a 50 cc de fumaça (Fig. A). O grupo controle recebeu ar no lugar da fumaça. Antecedendo ao início do experimento os animais do grupo tabagista foram adaptados com Figura A – Caixa de tratamento dos animais. doses gradativas de fumaça de cigarro. Completados os 60 dias de tratamento, todos os animais foram anestesiados e submetidos a laparotomia abdomino-pélvica para a dissecção e coleta do lobo ventral da próstata. Após o procedimento cirúrgico o LVP foi submetido às técnicas histológicas rotineiras. Finalmente, as lâminas foram coradas com Hematoxilina & Eosina, Picrossirius Red & Silver e Tricrômio de Masson. Além disso, foram realizadas medidas para determinação quantitativa das frações de volume ocupadas pelo núcleo (Vfn) e pelo citoplasma (Vfcit) em campos pré-determinados. Essas medidas foram realizadas através de uma ocular 10X, contendo retículo de integração quadrilátero com 100 pontos acoplados ao microscópio de luz e objetiva de 100X. As medidas foram realizadas através de contagem dos pontos localizados sobre os núcleos (Pn) e sobre o citoplasma (Pcit) das células (Fig. C) de 5 campos previamente definidos por lâmina, totalizando 25 Diâmetro menor MATERIAIS E MÉTODOS Rattus novergicus albinus com 12 semanas de vida foram divididos em 2 grupos de 5 animais, sendo um controle e outro tabagista. O grupo tabagista foi exposto à fumaça de cigarro de teor médio, por 60 dias consecutivos (1500cc/30minutos/dia), em Perspectivas Médicas, 19(1): 23-28, jan. / jun. 2008 Diâmetro maior Figura B – Medida dos diâmetros maior e menor dos núcleos. 25 Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo. - Aldo Okamura e cols. normalidade de Shapiro-Wilks. O nível de significância assumido foi de 5% e o software utilizado para análise foi o SAS versão 8.2. Ponto citoplasmático Ponto nuclear Figura C - Contagem dos pontos nucleares e citoplasmáticos. campos por grupo(24). A partir desses valores foram calculadas: 1) Médias dos volumes dos núcleos : Vn( m³) = 4/3 . (d/2)². D/2. 2) Pontos celulares : Pc = Pcit+Pn 3) Frações (%) de volume ocupadas pelo núcleo em relação à célula: Vfn = Pn / Pc 4) Volume de fração citoplasmático :Vfcit = VfcVfn, onde Vfc = 100%. 5) Volume citoplasmático através de "regra de três": Vcit = Vn.Vfcit / Vfn 6) Volume celular: Vc= Vn + Vcit 7) Forma nuclear: Fn=D/d Após obtenção destes valores, estes foram descritos através de médias e desvio-padrão. Foram realizados os seguintes testes estatísticos: T de Student e MannWhitney quando os dados não passaram pelo teste de RESULTADOS O lobo ventral da próstata dos animais controles apresentou ácinos próximos com mucosa glandular levemente pregueada. O epitélio secretor constituído por células colunares com núcleos e nucléolos evidentes ocupando região basal celular. O volume celular médio foi de 828,4 ìm3 sendo 734,4 ìm3 para o citoplasma e 154 ìm3 para o núcleo (Tabela 1 e Figura D). A forma nuclear tendeu a elíptica. Na região supranuclear celular o complexo de Golgi apresentouse bem desenvolvido. No lúmen secreção apresentou-se com aspecto homogêneo. A Membrana basal mantevese íntegra e retilínea. Na região estromal as fibras colágenas distribuíram-se homogeneamente ao redor dos ácinos. Nos animais do grupo tabagista foi evidente o afastamento entre os ácinos com maior pregueamento da mucosa. O epitélio secretor apresentou células amplamente atrofiadas com núcleos ocupando porção mais basal da célula. O volume celular médio foi de 600,6 ìm3, sendo 449,40 ìm3 para o citoplasmático e 151,20 ìm3 para o núcleo (Tabela 1 e Figura D). A forma nuclear tendeu a esférica. Assim como no controle foram observados: lúmen com secreção homogenia; membrana basal íntegra, porém levemente pregueada. O estroma apresentou-se aumentado com distribuição heterogênea das fibras colágenas ao redor dos ácinos. Tabela 1- Média volumétrica do citoplasma, núcleo, célula (ìm3) e forma nuclear no lobo ventral da próstata dos grupos tabagista e controle. * Diferem em 5% de significância. Perspectivas Médicas, 19(1): 23-28, jan. / jun. 2008 26 Estrutura e estereologia do epitélio secretor do lobo ventral da próstata frente ao tabagismo passivo. - Aldo Okamura e cols. Figura D: 1 – Histologia de animais - controle: ácinos próximos, com mucosa glandular (Mg) levemente pregueada (HE) x 250. 2 - Ácinos com evidente afastamento (seta) (HE). x 250. 3 – Células epiteliais com núcleos (n) elípticos e nucléolos evidentes ocupando região basal celular. Região supranuclear com Complexo de Golgi bem desenvolvido. Altura epitelial (seta). Lúmen (*) com secreção de aspecto homogêneo. Membrana basal (mb) íntegra e retilínea. (Tricrômio de Masson). x 750. 4 - Células epiteliais com núcleos esféricos (n) ocupando porção mais basal da célula. Altura epitelial (seta). Lúmen (*) com secreção de aspecto homogêneo. Membrana basal (Mb) íntegra e levemente pregueada. Estroma (Es) aparentemente aumentado. Vaso sanguíneo (Vs). (Tricrômio de Masson). x 750. 5 – Estroma (Es) com distribuição homogênea das fibras de colágeno ao redor dos ácinos (Picrossirius red-Luz Polarizada). x 250. 6 – Estroma (Es) com distribuição heterogênea e acumulada de fibras de colágeno ao redor dos ácinos (Picrossirius red-Luz Polarizada). x 250. Fotos 1, 3 e 5: animais - controle. Fotos 2, 4 e 6: animais tabagistas passivos. Perspectivas Médicas, 19(1): 23-28, jan. / jun. 2008 27 Estrutura Estrutura ee Estereologia estereologia do Epitélio epitélio secretor Secretor do do lobo Loboventral Ventralda dapróstata Próstatafrente Frenteao aotabagismo Tabagismopassivo. Passivo.- Aldo Aldo Okamura Okamura ee cols. cols. DISCUSSÃO A integridade morfofuncional do sistema reprodutor é fundamental para fertilidade masculina. Nos roedores esse sistema é bem desenvovido, sendo a espécie mais fértil dentre os mamíferos. Portanto, estudo em roedores, frente à efeitos de diferentes drogas, é relevante como parâmetro para entender a etmologia da infertilidade ou da patogênese do sistema reprodutor. Os resulttados atuais demonstraram que os animais expostos à fumaça do cigarro tiveram alterações morfológicas do LVP, caracterizadas por: ácinos atrofiados e espaçados entre si; diminuição significativa do volume citoplasmático e celular; mudanças da forma nuclear. Estudos relacionando aos efeitos da fumaça do cigarro com alterações da glândula prostática de ratos não se tem descrito na literatura. Todavia, artigos recentes demonstraram que a nicotina promove alterações prostáticas significativas como: atrofia celular, caracterizada principalmente pela diminuição do volume (25,26) citoplasmático e mudanças na forma nuclear . Também, foi destacada a presença de neoplasia intraepitelial prostática (NIP). Esses estudos destacaram que os efeitos deletérios na próstata dos roedores foram atribuídos às alterações no metabolismo androgênico provocados pelo desequilíbrio no eixo hipotálamohipófise-gonadal. Por outro lado, em testículos de ratos, submetidos ao tabagismo crônico, foram verificados ação direta da nicotina na atividade da (28) hidroxilase e inibição da 3á-hidroxiestereoidedehidrogenase. Tais estudos demonstraram mudanças dos níveis de testosterona no soro com conseqüente redução do peso prostático. Outros estudos, com administração de nicotina, verificaram modificações funcionais testiculares levando-os a redução significativa do nível de testosterona(4,27). Dessa forma, verifica-se que a nicotina, direta ou indiretamente, induz o testículo ao desbalanço da síntese androgênica, promovendo alterações morfofuncionais significativas da próstata, semelhante ao alcoolismo(29) e a (30) castração . Além disso, as alterações estromais do LVP, verificadas no presente trabalho, são características típicas de ablação androgênica. Na castração, o estroma sofre modificações importantes na sua morfologia desestabilizando a interação estromaepitélio, favorecendo conseqüências funcionais associadas à infertilidade ou a doenças mais sérias como a hiperplasia estromal prostática ou câncer. Assim sendo, mediante as alterações encontradas no presente trabalho conclui-se que a exposição à fumaça de cigarro, mesmo que passivamente e por períodos não tão extensos, leva a alterações morfológicas significativas da glândula prostática dos roedores podendo interferir na capacidade fértil bem como na aceleração do processo de envelhecimento glandular culminando em lesões pré-malignas prostáticas. Assim, concluiu-se que a exposição à fumaça de tabaco pode levar ao comprometimento da morfologia epitelial prostática o que pode comprometer o funcionamento glandular, bem como a fertilidade. A exposição à fumaça de tabaco, apesar de comprometer a morfologia epitelial prostática, não promoveu completa interrupção da secreção prostática e as alterações epiteliais prostáticas frente ao tabagismo não apresentaram indícios de patogenia. Por outro lado, às alterações estromais sugerem hipertrofia do micro-ambiente estromal. SUPORTE Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundo de Apoio à Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí (NAPED). Referências Bibliográficas 1. Yugar-Toledo, JC & Moreno-Junior, H.- Implication of active and passive smokings pathway on the atherosclerotic plaque instability. Rev Soc Cardiol–SP 2002; 4: 595-605. 2. Sterling, TD & Kobayashi, D. A critical review of reports on the effect of smoking on sex and fertility. J Sex Res 1975; 11: 201-17. 3. Vogt, HJ; Heller, WD; Borelli, S. Sperm quality of healthy smokers, exsmokers, and never-smokers. Fertil Steril 1986; 45(1): 106-10. 4. 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The Prostate 2000; 45: 253-8. 29 REVISÃO DE LITERATURA Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago. Relationship between gastroesophageal reflux disease and the esophageal adenocarcinoma. Palavras-Chave: esôfago, doença do refluxo gastroesofágico, esofagite, Barrett, adenocarcinoma. Key words: esophagus, gastroesophageal reflux disease, Barrett, esophagitis, adenocarcinoma. Altair Pazeli* Sérgio Ferreira Módena** Carlos Eduardo Solé Vernin*** * Médico Residente de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina de Jundiaí no Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, Jundiaí, São Paulo. **Professor Auxiliar da Disciplina de Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo. *** Médico Residente de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina de Jundiaí - Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, Jundiaí, São Paulo. Endereço para Correspondência: Altair Pazeli. Rua Whately, 471 - Vila Arens - Jundiaí, SP. CEP: 13202-520. Telefone: +55 (11) 8178-4986. Email: [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 07 de novembro de 2007. Artigo aceito em 27 de fevereiro de 2008. RESUMO A importância do estudo da relação entre a Doença d o R e f l u x o G a s t ro e s o f á g i c o ( D R G E ) e o Adenocarcinoma do Esôfago (ACE) está envolvida com o aumento expressivo dos casos novos de ACE diagnosticados. Assim, o objetivo do presente estudo foi estabelecer a relação entre a DRGE e o aparecimento de neoplasias de esôfago. O estudo da carcinogênese esofágica implicada na seqüência DRGE-Esôfago de Barrett (EB)-ACE tem sido impulsionado pelos estudos de biologia molecular, que têm mostrado a sua implicação com protooncogenes e genes de supressão tumoral. Para a ocorrência do EB, os fatores de risco do meio ambiente como dieta e obesidade, assim como a DRGE devem interagir com características genéticas que definem susceptibilidade pessoal e/ou familial. Os fatores mais relacionados com a transformação maligna incluem: genes p53, homeobox Cdx1/2 e Adenomatous polyposis coli (APC), TGF-, telomerase, c-erbB-2, c-myc, bcl-2, ciclinas, quinases ciclinasdependentes (CDK). Assim, o papel dessas alterações gênicas nas lesões pré-malignas e malignas pode, no futuro, orientar condutas preventivas de detecção ou mesmo indicar tratamentos mais conservadores ou mais agressivos. ABSTRACT There is an increasing importance of the study of the relationship between the gastroesophageal reflux disease (GERD) and the adenocarcinoma of the esophagus (ACE) because of the expressive increase in the number of cases of ACE diagnosed. Thus, the aim of this study was to establish the relationship between GERD and the development of esophagus neoplasia. The study of the esophageal carcinogenesis sequence in the ACE involves the Barrett's Esophagus (BE) and of the GERD molecular biology knowledge advances and it's relationship with proto-oncogenes and tumoral suppression genes. For the occurrence of the BE, environmental risk factors such as diet and obesity, as well as GERD must interact with genetic characteristics, defining personal and/or familial susceptibility. The factors related to the malignant transformation include: genes p53, homeobox polyposis Cdx1/2 and Adenomatous coli (APC), TGF- telomerase, c-erbB-2, c-myc, bcl-2, ciclines, quinases ciclines-dependents (CDK). The role of these genetic modifications in the premalignant lesions can, in the future, lead to prevention and early detection for better treatment. INTRODUÇÃO A importância do estudo da relação da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e o Adenocarcinoma do Esôfago (ACE) está envolvida com o aumento expressivo dos casos de ACE diagnosticados ultimamente em pacientes com diagnóstico prévio de DRGE. No passado, o Carcinoma Espinocelular de Esôfago (CECE) era um dos tipos de neoplasia mais estudada por ser mais prevalente, tendo tido bem determinada sua relação com o tabagismo, o etilismo, a raça negra, e (1) o baixo nível sócio-econômico . Recentemente, tem crescido a importância do ACE dentre os cânceres de esôfago, principalmente pelo aumento de sua prevalência, em 100%, em países desenvolvidos do ocidente, principalmente em brancos do sexo masculino, de maior nível sócio-econômico e com DRGE crônica, que leva à metaplasia intestinal especializada no esôfago distal conhecida como Esôfago de Barrett (EB)(2). Nos EUA, a DRGE sintomática tem prevalência estimada em 7% da população. Destes, 2 a 15% irão desenvolver EB em 5 anos, estando sob um risco de 30 a 40 vezes maior que a população de desenvolver ACE, ou seja, 0,01% à 0,15% da população geral estará sob Perspectivas Médicas, 19(1): 29-32, jan. / jun. 2008 30 Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago - Altair Pazeli e cols. risco de desenvolver o ACE(3). Diversas condições estão associadas à DRGE, como a Hérnia Hiatal por Deslizamento (Tipo I), a esclerose sistêmica progressiva, a sondagem gástrica prolongada, as intervenções cirúrgicas da junção esôfago-gástrica, a pressão intra-abdominal aumentada e as anomalias da função gástrica. A prevalência da DRGE é de difícil determinação, pois apesar de haver dados disponíveis, eles são de difícil interpretação (4). Os estudos esbarraram na incerteza de como o diagnóstico da DRGE foi estabelecida e pela noção de que o refluxo pode ser recorrente(5). O tratamento envolve tanto medidas clínicas (comportamental e medicamentosa) quanto cirúrgicas. O não diagnóstico ou o não tratamento adequado da DRGE leva a lesões mais graves, como o EB, e conseqüentemente a maior prevalência de neoplasia. O EB pode ser dividido em curto (<3 cm) (EBC) e longo (>3 cm) (EBL), porém, ambos podem ter focos de (6) displasia de alto grau e levar ao ACE . Até 80% das lesões não regridem apesar do tratamento cirúrgico, permanecendo o risco para desenvolvimento do (7) tumor . O estudo da carcinogênese esofágica (seqüência DRGE EB ACE) tem ganhado impulso com os estudos de biologia molecular que tem mostrado a implicação de genes e substâncias químicas no processo. Com isso, o objetivo desse artigo de revisão foi estabelecer a relação entre a DRGE e o aparecimento da neoplasia de esôfago. MATERIAIS E MÉTODOS Após estabelecimento das palavras-chave em fontes indexadas de literatura científica foi realizada revisão da literatura, com seleção qualitativa dos artigos. Após levantamento e análise criteriosa dos artigos selecionados, estes foram separados por assuntos e discutidos à luz dos conhecimentos adquiridos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ainda existem controvérsias na literatura com relação à progressão do EB para ACE e estudos como o de Drewitz, 1997, não confirmam uma incidência de câncer tão elevada, tendo sido detectada a presença de ACE em apenas 4% dos casos de EB estudados e, num seguimento de 57 meses, outros 2,5% foram (8) diagnosticados . A displasia é um marcador imperfeito para o desenvolvimento do câncer, uma vez que a mesma pode regredir e ser de difícil diagnóstico. Sendo assim, o critério histopatológico não pode predizer o curso do EB nos pacientes sem displasia ou com displasia de baixo grau. Deste modo o seguimento endoscópico não apresenta custo-benefício efetivo(9). Para a ocorrência do EB, os fatores de risco do meio ambiente como dieta e obesidade, assim como a DRGE devem interagir com características genéticas que definem susceptibilidade pessoal e/ou familial. Polimorfismos em vários genes (genes de reparo de DNA, detoxicação química e produtores de citocinas) Perspectivas Médicas, 19(1): 29-32, jan. / jun. 2008 parecem ser responsáveis por esta predisposição(10). O aparecimento do EB pode decorrer da conversão direta de células já diferenciadas ou de uma célula tronco (pluripotencial). Os genes descritos responsáveis pelo aparecimento do EB são: p63 (homólogo do fator de transcrição do p53. Normalmente está presente na camada basal do epitélio escamoso, mas está ausente no epitélio colunar simples. Estudos em camundongo knockout para este gene revelaram crescimento de epitélio colunar no esôfago após estímulo); homeobox Cdx1/2 (várias evidências indicam que o Cdx2 é um gene importante na especialização das células do intestino embrionário. No adulto sua expressão é encontrada nos cólons e intestino delgado, mas não no estômago e esôfago. Está hiperexpressa na metaplasia intestinal. Alterações nos componentes da matriz extracelular, citocinas e ativação de fatores de crescimento (TGF-) também (11) participam na gênese do EB) . A transformação maligna ocorre quando uma única célula epitelial adquire capacidade de iniciar clone proliferativo com capacidade de renovação (célula tronco neoplásica). A ocorrência de mudanças genéticas seqüenciais é responsável pela seleção clonal e heterogeneidade tumoral. A primeira ocorrência é o aumento da capacidade proliferativa do epitélio, que se divide não somente a partir das camadas basais do (12) epitélio, mas também das camadas apicais . A telomerase é uma ribonucleoproteína que sintetiza DNA telomérico nos tecidos germinativos e células tumorais imortais. Telômeros mais longos são encontrados na metaplasia intestinal e no câncer da junção esôfago-gástrica quando comparado com a mucosa gástrica normal. Morales et al, 1998, detectou forte reatividade da RNA-telomerase, em 100% dos adenocarcinomas de esôfago e das displasias de alto grau(13). A base das criptas da metaplasia no EB demonstrou fraco a moderado nível de RNAtelomerase, em 70% dos casos, enquanto 90% nas displasias de baixo grau tiveram níveis moderados de RNA-telomerase. Os resultados desse estudo mostraram que o epitélio de Barret pode conter população de células imortais e que o aumento significante no nível de RNA-telomerase acompanha a transição de displasia de baixo grau para de alto grau e que altos níveis de RNA-telomerase acompanham o desenvolvimento de ACE na grande maioria dos casos. Outro fator envolvido é o oncogene, que é um protooncogene que perdeu a capacidade de inibir a proliferação celular. Pode ser tanto a forma modificada de um gene normal ou viral, ou ser um gene normal com hiperatividade. Dentre eles, destacamos o c-erbB2 que é encontrado numa grande variedade de tumores, tendo sido comprovada relação entre sua presença e a aneuploidia, além da maior agressividade. A hiperexpressão do c-erbB2 está associada à metástase distante e portanto à progressão da doença(14), c-myc que é encontrado em 30% dos tumores esofágicos e sua imunorreatividade pode distinguir adenomas de (14) adenocarcinomas , bcl-2 que foi demonstrado em 31 Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago - Altair Pazeli e cols. adenocarcinomas esofágicos, assim como na metaplasia intestinal e na displasia. A diminuição de sua expressão parece estar associada a um pior (15) prognóstico . Genes supressores de tumor são genes que inibem a proliferação celular, regulando negativamente ou inibindo a via de transdução. Em geral são genes recessivos. Destacamos o p53 que é o mais implicado em carcinogênese. O p53 normal mantém as células em repouso na fase G1 do ciclo celular(16). Também tem papel na síntese e reparo do DNA, estabilidade (17) genômica, diferenciação celular e apoptose . Alterações do gene p53 são demonstradas em aproximadamente 40% a 70% dos tumores esofágicos e parecem ocorrer relativamente cedo na carcinogênese, estando presente na seqüência displasia adenoma carcinoma(18,19,20). A análise de 77 amostras de 30 espécies de esofagectomia de pacientes com EB e adenocarcinoma no Barret identificou mutação do p53 em 57% dos adenocarcinomas e expressão do p53 em 67% dos adenocarcinomas. Dos 17 casos com mutação do gene, a expressão do p53 foi observada em 94%. A mutação do p53 foi detectada mais freqüentemente na displasia de alto grau do que a de baixo grau. Em contraste, a expressão do p53 foi presente em 85% da displasia de alto grau e em 71% da displasia de baixo grau. Nenhuma mutação ou expressão foi encontrada nas áreas de metaplasia. Em conclusão, as alterações do p53 foram observadas durante a transição de (21, 22) displasia de baixo grau para de alto grau . Somente a expressão do p53 não parece predizer a progressão do EB para o ACE, pois apenas 50% dos adenocarcinomas no Barrett e 5 a 10% das metaplasias de Barrett têm alterações nesse gene. Tumores com alteração do p53 parecem indicar pior prognóstico, mas isso ainda é controverso na literatura(23,24). Também, o gene Adenomatous polyposis coli (APC) está envolvido no mecanismo de adesão inter-celular, na composição do cito-esqueleto, além da sinalização e homeostase celulares por manutenção da polaridade da célula. E pode estar alterado nos adenocarcinomas, porém não nos carcinomas epidermóides. A alteração no APC ocorre antes ou depois do aparecimento do adenocarcinoma, portanto esse gene não é necessário (10, 25) para a progressão da doença . Reguladores do ciclo celular como as ciclinas, quinases ciclinas dependentes (CDK) e seus inibidores regulam o crescimento celular, a diferenciação, sobrevivência e morte celulares. A maioria dos carcinomas esofágicos apresentam hiper-expressão da ciclina D, E e CDK. A hiper-expressão de ciclina E está freqüentemente associada com câncer de esôfago, e a amplificação gênica pode ser encontrada em 10% dos casos independentemente do tipo histológico. A alteração na expressão das proteínas ciclina D, E, p53 e p21 apresentam correlação com o prognóstico(26, 27). A maioria dos tumores esofágicos expressam fatores de crescimento e seus receptores, incluindo, TGF- e EGFR, em níveis superiores à mucosa normal. EGFR, EGF e TGF- foram detectados em grande escala pela imunohistoquímica. O CDX1 é um fator de transcrição intestinal que está expresso durante o desenvolvimento intestinal, todavia pode ocorrer em áreas de metaplasia intestinal. A proteína CDX1 pode ser detectada nos ACE e da junção esôfago-gástrica(14). A agressão esofágica ocasionada pela DRGE leva à metilação dos genes APC e CDKN2A encontrados normalmente na mucosa, levando ao EB, displasia e ACE. Eades et al analisando um painel de 20 genes em 104 amostras de 51 pacientes com ACE, encontraram hipermetilação aberrante em diferentes lócus nos mesmos tecidos tumorais, sugerindo haver um descontrole na metilação desses tumores. Esses autores também demonstraram que tecido normal e metaplásico de pacientes com evidência de displasia e adenocarcinoma associado tiveram maior incidência de hipermetilação quando comparado aos tecidos similares sem a progressão da doença, indicando que a presença de hipermetilação talvez possa identificar pacientes com EB com maior risco de degeneração maligna(25). A COX-2 não é normalmente detectada na maioria dos tecidos, e é induzida em resposta à interleucina 1, interferon , FNT e receptor para fator de crescimento epidérmico (EGFR). O refluxo de ácido e de bile associado ao COX-2 parece estar relacionado com o desenvolvimento de ACE. Hiperexpressão in vitro de COX-2 tem efeito celular, tais quais: aumento da proliferação e redução da apoptose, promover angiogênese, diminuir a expressão de E-caderina e aumentar o potencial de invasão e de metástases. Estudos epidemiológicos demonstram uma redução de 50 a 90% na incidência de carcinoma de esôfago em pacientes fazendo uso de aspirina ou de antiinflamatórios não hormonais. Expressão de COX-2 em biópsias de 56 pacientes com EB foi analisada através de imunohistoquímica, sendo encontrada em 75% dos casos benignos; em 83% dos casos com baixo grau de displasia e em 100% dos casos com alto grau de displasia e de adenocarcinoma(28). CONCLUSÃO Clones pré-malignos apresentam heterogeneidade biológica e gênica, tais quais: mutações no p53, mutações no p16, aneuploidia e metilação anormal em etapas de diferenciação, proliferação e apoptose, permitindo a progressão da doença. Anormalidades nos fatores de crescimento da família EGFR e nas células de adesão, especialmente no complexo caderina/catenina podem ocorrer precocemente. O estudo desses eventos moleculares poderia levar a um diagnóstico mais acurado e o entendimento da seqüência metaplasia, displasia e desenvolvimento do adenocarcinoma no Barrett. A utilização de métodos que avaliam a proliferação celular, expressão de oncogenes, de genes supressores de tumor e de fatores de crescimento pode aprimorar a análise patológica tecidual e, conseqüentemente, alterar a terapia e sobrevivência dos pacientes com adenocarcinoma no EB. A habilidade em se identificar Perspectivas Médicas, 19(1): 29-32, jan. / jun. 2008 32 Relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o adenocarcinoma de esôfago - Altair Pazeli e cols. alteração de determinado gene, associado com o desenvolvimento tumoral pode ser de grande valia na detecção de lesões pré-malignas. As alterações dos marcadores analisados em pacientes com mucosa benigna sugerem que o epitélio metaplásico pode ter risco maior de desenvolvimento de câncer, e indica acompanhamento mais intensivo com a aplicação do método endoscópico acompanhado de múltiplas biópsias. O papel dessas alterações gênicas nas leões pré-malignas pode, no futuro, orientar condutas preventivas de detecção ou mesmo indicar tratamentos mais conservadores ou mais agressivos nestes casos. Referências bibliográficas 1 - Brugge WR, Lee MJ, Carey RW. Endoscopic ultrassound stagging criteria for esophageal cancer. Gastrointest Endosc 1997;45: 147-52. 2 - Lagergren J, Bergstrom R, Lindgren A. 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RESUMO Os defeitos do fechamento do tubo neural (DFTN) são malformações que freqüentemente ocorrem durante a quarta semana da embriogênese. O desenvolvimento do tubo neural é um processo extremamente controlado pelos genes e modulado por fatores ambientais, envolvendo interações gene-gene, gene-ambiente e gene-nutriente.Acredita-se que na maioria dos casos de DFTN tem origem multifatorial. A suplementação de ácido fólico nas mulheres tem se mostrado a principal medida de prevenção dos DFTN, pois vem reduzindo gradativamente a prevalência destes defeitos ao longo dos anos. Por estes motivos, este trabalho tem como objetivo analisar por meio de uma revisão qualitativa da literatura o impacto do uso de ácido fólico sobre os DFTN. Alguns trabalhos constataram uma relação entre fatores como idade, nível socioeconômico e escolaridade materna com a prevalência dos DFTN. Ao avaliar a adesão materna ao uso adequado de ácido fólico suplementar, foi observado em alguns estudos que a minoria das mulheres seguiam as orientações médicas. A dosagem diária de ácido fólico que se mostrou mais eficiente na prevenção dos DFTN está entre 0,4 e 0,8 mg, porém para as mulheres com história prévia de filhos com DFTN a dosagem recomendada está entre 4,0 e 5,0 mg por dia. Outra alternativa, utilizada por alguns países, foi adição de ácido fólico nos alimentos, obtendo como resultados preliminares uma redução de 40% nas taxas de DFTN. Infelizmente devido às inúmeras dificuldades inerentes à suplementação materna, a prevalência ainda permanece elevada em alguns países. Por este motivo acreditamos que a adição de ácido fólico em alimentos de alto consumo e também economicamente acessíveis à população seria uma medida preventiva de saúde pública eficiente e com favorável relação de custo e benefício. ABSTRACT Neural tube defects (NTDs) are malformations that frequently occur during the fourth week of embryonic development. The process of neural tube development is highly controlled by genes and modulated by environmental factors, consisting of gene-gene, geneenvironment, and gene-nutrient interactions. Most cases of NTD present a multifactorial etiology. Folic acid supplementation in pregnant women has been shown to be the principal means of preventing NTD and has increasingly reduced the prevalence of such defects in recent years. Therefore, this study aims to analyze the impact that folic acid use has had on NTDs through a review of the literature. Some studies have shown that the prevalence of NTD is related to factors such as age, socioeconomic level, and maternal level of education. Studies evaluating maternal compliance with the appropriate use of folic acid supplementation have demonstrated that the majority of such women are n o n c o m p l i a n t w i t h p h y s i c i a n - p re s c r i b e d supplementation. The dose of folic acid that has proven to be the most efficient in preventing NTDs is 0.4-0.8 mg/day. However, for women with a history of NTDaffected pregnancy, the recommended dose is 4-5 mg/day. In some countries, folic acid has been added to food products, and preliminary results show a 40% reduction in NTD rates. Unfortunately, due to the innumerable difficulties inherent to maternal supplementation, the prevalence remains high in some countries. Therefore, we believe that the addition of folic acid to high consumption, economically accessible foods would be an efficient, preventive public health measure with a favorable cost and benefit ratio. INTRODUÇÃO Os defeitos do fechamento do tubo neural (DFTN) são malformações congênitas que freqüentemente Perspectivas Médicas, 19(1): 33-36, jan. / jun. 2008 34 Impacto do uso de ácido fólico sobre os defeitos de fechamento do tubo neural - Paulo V. A. Takemoto e col. ocorrem devido a uma falha no fechamento adequado do tubo neural embrionário, durante a quarta semana (1) de embriogênese . São as malformações mais comuns após as malformações cardiovasculares no recém nascido(1,2,3), sendo os mais importantes a anencefalia, a (1,4) espinha bífida e encefalocele . A anencefalia é a ausência completa ou parcial do cérebro e do crânio, sendo uma malformação letal, pois a maioria das crianças anencéfalas são natimortas ou morrem pouco tempo após o nascimento(5,6). A espinha bífida é um defeito de fechamento ósseo posterior da coluna vertebral, este defeito pode ser recoberto por uma camada de pele normal (espinha bífida oculta), ou associar-se com uma protrusão cística, podendo conter meninges anormais e líquido cefalorraquidiano (meningocele), ou então se associar a elementos da medula espinhal e/ou nervos (mielomeningocele). Na encefalocele existe uma herniação do cérebro e (5) meninges através de um defeito na calota craniana . O desenvolvimento do tubo neural é um processo extremamente controlado pelos genes e modulado por fatores ambientais, envolvendo interações gene-gene, gene-ambiente e gene-nutriente; entretanto, a etiologia exata do DFTN ainda não está bem esclarecida. Existe um consenso de que a maioria dos casos de DFTN tem origem multifatorial, tendo um significativo componente genético que interage com inúmeros (1,7,8) fatores de risco ambientais . Está sendo proposto que principalmente os genes ligados ao metabolismo do ácido fólico estão envolvidos com o fechamento do tubo neural (9,10). Além dos genes, outros agentes teratogênicos estão possivelmente envolvidos, podendo-se citar o uso de antagonistas do ácido fólico (Ácido valpróico, Carbamazepina e Trimetoprima) durante a gestação, assim como antecedentes de diabetes mellitus materno, (11-14) obesidade, deficiência de zinco e hipertermia . Até o momento o fator de risco mais associado com (15) os DFTN é a deficiência materna de ácido fólico , entretanto, o mecanismo exato do envolvimento do ácido fólico na embriogênese do tubo neural ainda não está claro, atualmente acredita-se que o ácido fólico previne os DFTN estimulando as reações de metilação (16) celular . Por estes motivos, este trabalho tem como objetivo analisar o impacto do uso de ácido fólico sobre os defeitos de fechamento do tubo neural, através de revisão bibliográfica pertinente. MATERIAIS E MÉTODOS Realizou-se uma revisão qualitativa sistemática da literatura através da pesquisa em bases de dados MEDLINE, PUBMED, LILACS e SciELO. A seleção dos trabalhos limitou-se às publicações entre 2000 e 2007. Nesta triagem foram encontrados Perspectivas Médicas, 19(1): 33-36, jan. / jun. 2008 respectivamente 341 artigos, dos quais 36 eram do tipo revisão. Em seguida, foram selecionados a partir do título e resumo 44 artigos, sendo posteriormente estudados e discutidos na integra para a elucidação e elaboração do presente trabalho. RESULTADOS Foram analisados integralmente 44 artigos, sendo observada inicialmente uma prevalência extremamente variável de acordo com o local analisado. Em um estudo realizado na China foi constatada uma prevalência de 13,87 /1000 nascimentos, que é considerada uma das mais elevadas do planeta(15,16), enquanto que em outros locais são encontradas taxas mais baixas, como na Turquia com 2,7/1000(17), na (18) França com 1,06/1000 , nos Estados Unidos com (19) (20,21) 0,95/1000 , no México com 3,6/1000 , no Chile (22) com 1,7/1000 e no Brasil com 4,73/1000(5). A suplementação de ácido fólico periconcepcional e durante o primeiro trimestre de gravidez tem reduzido a (1,5,14,15,20,22) prevalência dos DFTN , por este motivo alguns trabalhos buscaram avaliar a adesão materna ao uso adequado de ácido fólico suplementar, sendo constatado na Austrália que de 304 gestantes, apenas 30% seguiram as orientações médicas em relação a dose e tempo da administração do ácido fólico, enquanto que 43% utilizaram de forma irregular ou inadequada e 27% não utilizaram a suplementação(23). Em outro estudo desenvolvido na China, envolvendo 143 mães de crianças com DFTN, foi observado que apenas 11,2% delas utilizavam permanentemente a suplementação com ácido fólico, enquanto que menos de 5,0% delas utilizaram esta suplementação conforme (15) as orientações médicas . Foi constatado que os resultados da prevenção dos DFTN dependem tanto da população quanto da dose de (20) ácido fólico utilizada . A redução dos casos de DFTN (24) variou de 50-91% , estas diferenças podem ser relacionadas com a incidência destes defeitos em (25) determinadas comunidades . A maioria dos autores relatam redução de 50% utilizando-se dose diária de (19,20,25) 0,4 mg por dia de ácido fólico . Foi realizado estudo utilizando dose de 0,8 mg por dia, obtendo redução de 92%, enquanto que ao utilizar dose de 6,0 mg por dia os resultados não foram tão eficazes(20). Também foi estudado o efeito de multivitamínicos contendo ácido fólico, resultando em redução de 8391%, enquanto que a administração de unicamente ácido fólico resultou em redução de 71%, desta forma, constatamos a eficiência destes multivitamínicos na prevenção dos DFTN (24,26). DISCUSSÃO Defeitos congênitos vêm liderando a causa de morte 35 Impacto do uso de ácido fólico sobre os defeitos de fechamento do tubo neural - Paulo V. A. Takemoto e col. infantil em países desenvolvidos e em desenvolvimento e contribuem significativamente para os abortos e (1,2,17) deficiências infantis . Devido à gravidade dos DFTN e sua alta morbimortalidade, tornam-se muito importantes o aconselhamento genético, a suplementação dietética com ácido fólico e o diagnóstico pré-natal das malformações do tubo neural, como observado nesta revisão de literatura. Este pode ser feito através da dosagem de alfafetoproteína sérica materna, dosagem de alfafetoproteína no líquido amniótico, presença de acetilcolinesterase no líquido amniótico e principalmente (27,28) pela ultra-sonografia . Muitos estudos analisaram o impacto da suplementação materna com ácido fólico sobre os DFTN, observando uma redução da prevalência destes defeitos(1,5,14,15,20,22,29), porém em outros estudos as (30,31) prevalências dos DFTN permanecem estáveis . Em recente trabalho realizado na França, foi constatado que somente as recomendações relacionadas ao uso do ácido fólico não foram suficientes para diminuir (18) significativamente a prevalência dos DFTN , demonstrando desta forma que o ácido fólico é importante para a prevenção dos DFTN, porém não é o único fator, sendo estes defeitos de origem multifatorial(1,8,32,33,34). Alguns trabalhos constataram uma relação entre fatores como idade, nível socioeconômico e escolaridade materna com a prevalência dos DFTN (15,35) . Ao analisar a idade, as mulheres com idade inferior a 20 anos ou superior a 30 anos possuem um risco maior de ter filhos com DFTN(15,35,36,37). O nível socioeconômico mostrou-se como fator de risco para os defeitos do tubo neural em diversos estudos(15,35,38). Em estudo realizado nos Estados Unidos foi possível relacionar os DFTN com a escolaridade materna(39). Em outro estudo realizado na China foi observada uma relação inversa entre o nível de escolaridade materna e a prevalência DFTN, sendo que nas mulheres que possuíam nível primário ou menos tinham risco três vezes maior de ocorrer os DFTN(15). Estas informações nos trazem a possibilidade da não adesão materna às orientações médicas, principalmente em relação à suplementação com ácido fólico. Ao avaliar a adesão materna ao uso adequado de ácido fólico suplementar, foi observado em alguns estudos que a minoria das mulheres seguiam as orientações médicas relacionadas (15,23,40) à dose e intervalo de tempo da suplementação . A dosagem diária de ácido fólico que se mostrou mais eficiente na prevenção dos DFTN está entre 0,4 e 0,8 mg, e as doses acima de 1,0 mg devem ser evitadas porque podem mascarar neuropatias relacionadas com a deficiência de vitamina B12 e a outros potenciais (15,20) efeitos colaterais , porém para as mulheres com história prévia de filhos com DFTN a dosagem (9,20,41) recomendada está entre 4,0 e 5,0 mg por dia . Uma alternativa barata e eficiente para a suplementação diária de ácido fólico é a administração de uma dose única de 5,0mg por semana de ácido fólico(20,42). Outra alternativa, utilizada por alguns países frente as inúmeras dificuldades em relação a suplementação com ácido fólico, foi a introdução deste em alimentos, vale citar que alimentos enriquecidos com ácido fólico como os cereais matinais são escassos e economicamente inviáveis para a maioria da população, por este motivo o ácido fólico deve ser adicionado a alimentos economicamente acessíveis e também de alto consumo no país. Podemos citar o exemplo do Chile, que foi o primeiro país da América do (12) Sul a realizar esta suplementação , obtendo como resultados preliminares uma redução de 40% nas taxas (22) de DFTN . Na Inglaterra e na Irlanda, também foi possível observar uma queda da prevalência após a (43) implementação de adição de ácido fólico a cereais . Esta medida tem se mostrado eficiente na prevenção dos DFTN, sendo também uma oportunidade economicamente favorável de oferecer ácido fólico à população ultrapassando as barreiras sociais e (44) econômicas . CONCLUSÃO Acredita-se que os DFTN têm origem multifatorial, porém a suplementação de ácido fólico durante a gravidez tem se mostrado principal medida de prevenção dos DFTN, pois vem reduzindo gradativamente a prevalência destes defeitos ao longo dos anos. Infelizmente devido a inúmeras dificuldades inerentes à suplementação materna, a ocorrência destes defeitos ainda permanece elevada em alguns países. Por este motivo acreditamos que no Brasil a adição de ácido fólico em alimentos de alto consumo e também economicamente acessíveis à população seria uma medida preventiva de saúde pública eficiente e com favorável relação de custo e benefício. Referências bibliográficas 1 - Padmanabhan R. Etiology, pathogenesis and prevention of neural tube defects Review article. Congenital Anomalies 2006;46:55-67. 2 - Manning N, Archer N. Treatment and outcome of serious structural congenital heart disease. 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André Afonso Nimtz Rodrigues* Fernando Antônio Maria Claret Alcadipani** Ana Carolina Okumura*** Michelle Uchida*** Vanessa Lentini da Costa*** Fernanda Kistermarcker do Nascimento Bueno*** * Professor colaborador da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, da Faculdade de Medicina de Jundiaí(FMJ), Jundiaí, São Paulo. ** Professor Adjunto da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMJ, Jundiaí, São Paulo. *** Alunos do 6º ano do curso de graduação em Medicina da FMJ, Jundiaí, São Paulo. Endereço para Correspondência: Ana Carolina Okumura - Avenida Pistóia nº 20, Vila São Paulo, Jundiaí, SP. - CEP 13203-460. e-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 23 de outubro de 2007. Artigo aceito em 12 de fevereiro de 2008. RESUMO Os autores relatam um caso de uma paciente com bócio mergulhante e sua evolução ao longo de mais de 10 anos, até o desenvolvimento de insuficiência re s p i r a t ó r i a a g u d a , c o m u m q u a d ro d e broncopneumonia, requerendo remoção cirúrgica do bócio. Para isto, foi necessária esternotomia, devido ao grande volume da tireóide. Apesar do procedimento bastante invasivo e das complicações agudas que se seguiram, a evolução da paciente foi satisfatória, sem complicações permanentes. ABSTRACT The authors report a case of a patient who had a diving goiter, and her evolution along over 10 years, until the development of acute respiratory distress, with a bronchopneumonia, requiring surgical removal of the goiter. Sternotomy was made necessary, due to the large volume of the thyroid. In despite of the very invasive procedure, and of the following acute complications, the patient evolution was satisfactory, without permanent complications. INTRODUÇÃO O bócio mergulhante é uma afecção rara da tireóide, a qual tem desafiado cirurgiões desde sua primeira descrição, em 1749. Ele consiste em uma glândula aumentada de tamanho, peso e volume, (1) invadindo o tórax, total ou parcialmente . Sua incidência decresceu em países como os EUA, onde o uso de sal ionizado tornou-se rotineiro, enquanto em outros locais, a ocorrência de grandes (2) bócios multinodulares é mais freqüente . É mais incidente no sexo feminino, principalmente acima de 60 anos de idade. Estima-se que corresponda a apenas 1% dos casos de bócio, sendo responsável por cerca de 7% dos tumores do mediastino, e 3% a 20% das tireoidectomias(1). Ainda não está clara a fisiopatogenia da doença, mas supõe-se que o tamanho do pescoço, a hipertrofia da musculatura cervical e a cifose acentuada possam predispor à ocorrência da afecção(1). Costuma apresentar um quadro crônico, de evolução lenta e caráter insidioso, podendo ser assintomático em até 65% dos casos. Quando sintomático, geralmente manifesta-se através de massa cervical palpável e sintomas de compressão das estruturas adjacentes, como dispnéia, mais freqüente, e disfagia progressivas e síndrome da veia cava superior, podendo ocorrer insuficiência respiratória aguda em alguns casos(1,2,3 4). Não são comuns alterações da função tireoideana, com o bócio mergulhante, contudo, quando elas ocorrem o hipertireoidismo é mais comum que o hipotireoidismo. A grande maioria representa massas benignas no mediastino superior e anterior, sendo o risco de malignidade de 2,5% a 15%(1). O diagnóstico inclui avaliação hormonal, tireoidograma, raio X, tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM), sendo que, no rastreamento da afecção, não houve diferença na eficácia do diagnóstico quando se realizou TC (1, 2) seguida de RNM comparado à TC isolada . O tratamento é cirúrgico, uma vez que o tratamento conservador costuma não ter sucesso. Além disso, a cirurgia geralmente apresenta baixas taxas de morbidade e de mortalidade, e ainda devem ser considerados os riscos de malignidade e da ocorrência de insuficiência respiratória aguda(1,2,3,5). A grande maioria dos bócios mergulhantes pode ser removida via cervicotomia, sendo a esternotomia ou a toracotomia ocasionalmente necessárias(2, 3, 5, 6, 7, 8). Os resultados do tratamento cirúrgico costumam ser satisfatórios, com resolução completa dos sintomas, de forma que a morbidade relacionada à cirurgia é maior quando feita tireoidectomia total e há maior Perspectivas Médicas, 19(1): 37-41, jan. / jun. 2008 38 Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda - André Afonso Nimtz Rodrigues e cols. mortalidade quando o procedimento é realizado em (1,2,6,7) situações de urgência por obstrução aguda . As complicações decorrentes da cirurgia são lesões do nervo laríngeo recorrente, hipoparatireoidismo transitório ou permanente, disfonia permanente, pneumonia. Ainda há relatos da ocorrência de (1,3,4,5) traqueomalácia requerendo traqueostomia . Assim, neste trabalho, descrevemos um caso de bócio mergulhante, destacando sua evolução, implicações clínicas, tratamento empregado e evolução pós-operatória. RELATO E RESULTADOS M. M. R., sexo feminino, branca, 63 anos de idade, procedente de Jundiaí, estado de São Paulo, encontrava-se em acompanhamento com o cirurgião de cabeça e pescoço, em função de um bócio tireoideano intratorácico, diagnosticado havia mais de 10 anos. Apresentava apenas antecedente de hipertensão arterial leve. No ano de 1994, aos 60 anos de idade, já apresentava achados radiológicos sugestivos de bócio intratorácico. Raio X (RX) cervical: aumento de partes moles da base do pescoço bilateralmente, com alargamento do mediastino superior e desvio da traquéia para a direita (Figuras 1 e 2). Encontrava-se, então, eutireoidea e assintomática. Tinha USG da tireóide, de 1999, evidenciando glândula de dimensões aumentadas, principalmente à esquerda, com vários nódulos sólidos (o maior com 3,8 x 3,5 cm Figura 1: Radiografia Cervical. Demonstrando em vista lateral um aumento de partes moles de base do pescoço (seta). Perspectivas Médicas, 19(1): 37-41, jan. / jun. 2008 Figura 2: Radiografia Cervical. Demonstrando em vista Postero-Anterior um aumento do mediastino, com desvio da traquéia para a direita (seta). no lobo esquerdo) e císticos, predominando à esquerda; dimensões do lobo direito: 7,8 x 3,3 x 2,9 cm; dimensões do lobo esquerdo: 11,7 x 8,6 x 4,3 cm; boa mobilidade dos lobos tireoideanos (à deglutição), sem alterações no calibre dos vasos cervicais ou adenomegalias cervicais anteriores. No ano de 2001, por receio de ser submetida à cirurgia, recebeu radiodoterapia (300 mci), em outro serviço; no entanto, o tratamento não teve êxito. Em 2002, ainda acompanhada pela Cirurgia de Cabeça e Pescoço, realizou nova USG da tireóide, que mostrava glândula com volume de 500 cc, com múltiplas imagens nodulares sólidas (a maior com 5,0 cm no lobo esquerdo), e algumas calcificações grosseiras; lobo direito: 12,3 x 6,7 x 5,4 cm; lobo esquerdo: 14,2 x 7,8 x 6,2 cm; sem alterações no calibre dos vasos cervicais ou adenomegalias cervicais anteriores; aspecto compatível com bócio multinodular. Apresentava, na ocasião, TSH = 0,063 (valores de referência: 0,4 a 5,0); T4 livre = 1,46 (VR: 0,8 a 1,9); T3 livre = 3,4 (VR: 1,8 a 4,6). Por temor do ato cirúrgico e ausência de sintomatologia importante, a paciente recusava-se a s e r s u b m e t i d a à c i r u rg i a , s e g u i n d o s o b acompanhamento. Em 2004, a paciente apresenta sintomas da compressão de estruturas adjacentes (em especial do trato respiratório superior), porém, sem causar grandes impactos em sua vida, de forma que ela se 39 Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda - André Afonso Nimtz Rodrigues e cols. recusava ser submetida a um procedimento cirúrgico. Nesse ano, foram feitos novos RX cervical e de tórax, mostrando: efeito de massa (com contornos bocelados e focos de calcificações) em região cervical esquerda, estendendo-se para mediastino superior, causando importante desvio da traquéia e da laringe para a direita, compatível com bócio mergulhante Figura 5: Radiografia de Tórax, demonstrando em vista pósteroanterior um efeito de massa estendendo-se para mediastino superior com desvio de traquéia para a esquerda (seta). Figura 3: Radiografia Cervical, demonstrando em vista póstero-anterior um efeito de massa à esquerda (seta). Figura 6: Radiografia de Tórax, demonstrando em vista lateral um efeito de massa estendendo-se para mediastino superior (seta). Figura 4: Radiografia Cervical. demonstrando em perfil um efeito de massa em região cervical (seta). (Figuras 3,4,5,6). Também foi realizada TC cervical para controle da afecção, evidenciando: extenso processo expansivo da tireóide (8,0 x 12,0 x 14,0 cm); lesão heterogênea, com zonas sólidas e císticas, com calcificações grosseiras e captação heterogênea do contraste, deslocando e comprimindo todas as estruturas vizinhas, faringe, laringe, vasos cervicais e traquéia; prolongando-se para o tórax. Possuía, então, TSH = 0,01 (VR: 0,53 a 4,7); T4 livre = 1,92 (VR: 0,93 a 1,7). Os sintomas evoluem, aumentando progressivamente, até que, em 30 de maio Perspectivas Médicas, 19(1): 37-41, jan. / jun. 2008 40 Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda - André Afonso Nimtz Rodrigues e cols. de 2006, a paciente é internada em outro serviço, requerendo cuidados em UTI, por insuficiência respiratória, em tratamento de broncopneumonia (com levofloxacina), com volumoso bócio mergulhante comprimindo vias aéreas superiores, levando à dificuldade respiratória alta, com períodos de dispnéia, cornagem e cianose. Apresentava-se eutireóidea Figura 8: Radiografia de Tórax, demonstrando no período pós-operatório a drenagem de pneumotórax à esquerda (seta). Figura 7: Radiografia de Tórax, demonstrando no período pré-operatório o volumoso bócio mergulhante (seta). (Figura 7). Recebeu tratamento clínico, até a compensação do quadro, em 7 de junho de 2006, quando a paciente é transferida ao Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, para ser submetida a tireoidectomia. Na admissão, apresentava-se consciente, orientada, pouco dispnéica, hemodinamicamente estável, com murmúrio vesicular presente bilateralmente com roncos difusos à ausculta pulmonar. No dia 8 de junho de 2006, a paciente foi submetida à tireoidectomia total. Inicialmente, a abordagem foi via cervicotomia, no entanto, diante da impossibilidade de remover a tireóide por essa via (não se atingia a porção inferior da glândula), foi, então, realizada a cervicotomia (de 15 cm). Dessa forma, foi possível constatar que a tireóide, de grandes dimensões, desviava bastante a traquéia para a direita e interpunha-se sobre a gordura pericárdica e dos grandes vasos. Procedeu-se à liberação cuidadosa da glândula, a qual apresentou peso de 980g (780g do lobo esquerdo, e 200g do lobo direito). Observa-se que foram identificados o nervo laríngeo recorente e duas paratireóides, à direita. Após o término da cirurgia, a paciente permaneceu estável, e foi levada à UTI, traqueostomizada, em ventilação mecânica, com dreno à vácuo na cicatriz cirúrgica cervical. Evoluiu com pneumotórax à esquerda, o qual foi drenado. Recebeu suporte clínico; volume e transfusão de hemoderivados 4 unidades de concentrado de hemácias, e 2 unidades de plasma fresco congelado; antibioticoterapia com gatifloxacina e cefazolina; Perspectivas Médicas, 19(1): 37-41, jan. / jun. 2008 Puran T4 e gluconato de cálcio (Figura 8). Após melhora do quadro, recuperando-se progressivamente, já sem fazer uso de ventilação mecânica, após ter sido sacado o dreno de tórax, traqueostomizada, a paciente recebe alta da UTI, sendo admitida na enfermaria em 14 de junho de 2006, quando foi, também, sacado o dreno da cicatriz cervical. Recebe alta hospitalar no dia 23 de junho de 2006, seguindo com acompanhamento no Ambulatório da cirurgia de cabeça e pescoço. Evolui bem, sem outras complicações. O resultado do exame anátomo-patológico da peça cirúrgica foi: material com superfície capsular lobulada, acastanhada, com áreas hemorrágicas irregulares; aos cortes, parênquima multinodular, colóide, com múltiplos focos de calcificação e áreas hemorrágicas; recebendo o diagnóstico de bócio colóide multinodular da tireóide (mergulhante), sem sinais de malignidade. DISCUSSÃO O presente caso refere-se à evolução de uma paciente com bócio mergulhante ao longo de cerca de 12 anos. Em concordância com o que é mais freqüente, segundo a literatura, é descrita a afecção em uma mulher, na sexta década de vida(1). Em função de a paciente recusar-se a ser submetida à cirurgia, por medo do procedimento e, também, pelo fato da doença ter caráter insidioso, com sintomas os quais inicialmente pouco interferia na qualidade de vida da paciente, contudo, ela evolui causando compressão e juntamente com uma broncopneumonia, causou um quadro de insuficiência respiratória aguda, exigindo a remoção cirúrgica do bócio. Similar ao descrito na literatura, onde se observa sintomas de compressão de estruturas cervicais e torácicas, podendo causar dispnéia, disfagias progressivas, além de ocorrer insuficiência respiratória aguda em alguns (2,3,4) casos . Pelo grande volume da glândula, a paciente foi submetida a um procedimento bastante invasivo, 41 Bócio mergulhante causando insuficiência respiratória aguda - André Afonso Nimtz Rodrigues e cols. requerendo inclusive esternotomia, o que costuma ser exceção nos casos de bócio mergulhante, com complicações agudas. Apesar disso, ela evolui de maneira satisfatória, não havendo danos permanentes. Evolução esta também observada por diferentes autores(1,2,3,5). Não há um consenso na literatura a respeito do momento ideal para a realização da cirurgia, sendo esta bem-indicada em pacientes adultos jovens, com boas condições de saúde e sintomáticos, mas, em idosos, debilitados e assintomáticos, a indicação do procedimento deve ser individualizada, levando-se em conta o risco (1) relativo de complicações e de mortalidade . Obviamente, a indicação do tratamento cirúrgico deve respeitar a aceitação do paciente, e a paciente do caso em questão evoluiu bem, sem complicações permanentes, no entanto, se o procedimento pudesse ter sido realizado mais precocemente, provavelmente as condições da paciente seriam mais favoráveis. Referências bibliográficas 1 - Maia FRF, Araújo LR. Bócio mergulhante, quando operar?. Arq Bras Endocrinol Metabol 2002; 46 (6): 708-15. 2 - Newman E, Shaha AR. Subesternal goiter. 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Perspectivas Médicas, 19(1): 37-41, jan. / jun. 2008 42 RELATO DE CASO Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore. Technical aspects of the utilization of Sengstaken-Blakemore balloon. Palavras-chave: hemorragia digestiva alta, balão de Sengstaken-Blakemore, hipertensão portal, varizes esofágicas. Key words: upper digestive bleeding, Sengstaken-Blakemore balloon, portal hypertension, esophageal varices. Antonio Roberto Franchi-Teixeira* Gustavo Nero Mitssushi** Gustavo Andrade Fraga*** Durval Knox da Veiga Souza Nunes**** Alexandre Venâncio de Souza**** Gabriel Vieira Braga Ferraz Coelho**** Ciro Eduardo Falconi***** Lívia Ferraz Accorsi****** Marina Martini Costa****** *Professor Adjunto, Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, (FMJ), Jundiaí, São Paulo. **Médico Residente do 1° ano do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, Campinas, São Paulo. ***Médico Residente do 1° ano do Hospital Vila Alpin, SUS, São Paulo. ****Médico Residente do 1° ano do Hospital São Vicente de Paulo e FMJ, Jundiaí, São Paulo. ***** Alunos do 6° ano de Graduação do Curso Médico da FMJ, Jundiaí, São Paulo. ******Alunos do 3° ano de Graduação do Curso Médico da FMJ, Jundiaí, São Paulo. Endereço para Correspondência: Antonio Roberto Franchi-Teixeira - Rua Barão do Rio Branco, nº 223, Apto. 74, CEP: 13201-670 Vila Ana Rosa, Jundiaí, SP. Telefone: (11) 8383-0037; E-mail: [email protected] Artigo ainda não publicado Artigo recebido em 11 de outubro de 2007. Artigo aceito em 06 de janeiro de 2008. RESUMO A hemorragia digestiva alta é uma complicação freqüente das varizes esôfago-gástricas. Para diminuir a morbimortalidade, o tamponamento das varizes com o balão de Sengstaken-Blakemore pode ser necessário até que a endoscopia terapêutica esteja disponível. Em muitos serviços de emergência o balão ainda é o principal instrumento para o controle imediato do sangramento varicoso. No entanto, há evidências de que o balão tem sido mal utilizado, causando altas taxas de complicações aos pacientes. Assim, o objetivo deste trabalho foi discutir os aspectos técnicos da utilização e fixação do balão de Sengstaken-Blakemore (BSB). A partir disso, observou-se que o balão de Sengstaken-Blakemore ainda é útil no controle da hemorragia digestiva alta por sangramento de varizes esofagianas. Sendo a sua fixação um aspecto importante quando relacionado a complicações como necrose de asa do nariz e aspiração brônquica. Contudo, também neste caso, um capacete de críquete Perspectivas Médicas, 19(1): 42-46, jan. / jun. 2008 foi adaptado para facilitar a sua fixação com tração adequada. Após a observação dos resultados, o uso do balão de Sengstaken-Blakemore ainda é uma importante opção de tratamento de “ponte” na hemorragia digestiva alta por ruptura de varizes esofagianas, devido ao seu baixo custo e grande disponibilidade. ABBSTRACT Upper digestive bleeding is a frequent complication of esophageal varices. To reduce morbid-mortality rates the use of Sengstaken-Blakemore balloon can be necessary until therapeutic endoscopy is available. In many emergency services the balloon is still the main instrument to prompt control of the variceal bleeding. However, there are evidences that the balloon is being misused, with high complication rates. Thus, the aim of this study was discuss the technical aspects of the utilization and fixation of the Sengstaken-Blakemore balloon. After observed these aspects, the SengstakenBlakemore balloon is still useful to control upper digestive bleeding due to esophageal varices. However, the adequate fixation is an important aspect related to complications, such as lateral nasal process necrosis and lung aspiration. The adequate fixation and traction was to perform with an adapted cricket helmet. The Sengstaken-Blakemore balloon is still an important bridge treatment for upper digestive bleeding due to esophageal varices, because it is cheap and highly available INTRODUÇÃO No Brasil, as hepatopatias crônicas decorrentes do abuso do álcool e das hepatites virais crônicas são doenças prevalentes. As hepatopatias crônicas estão freqüentemente associadas com a presença de algum grau de hipertensão portal (HP). A hipertensão portal também ocorre em casos de esquistossomose hepatoesplênica, doença ainda bastante prevalente em algumas regiões do país. A hemorragia digestiva alta (HDA) é uma complicação freqüente das varizes esofagogástricas e, devido à sua gravidade, necessita de suporte clínico emergencial. No atendimento inicial a essa complicação, várias medidas terapêuticas devem ser tomadas em conjunto. Inicialmente, o uso 43 Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore - Antonio Roberto Franchi Teixeira e cols. precoce de drogas vasoativas que diminuem a pressão do sistema esplâncnico venoso (glipressina, terlipressina, somatostatina) pode ser de grande valia ( ) ¹ . Em países mais desenvolvidos, quando há forte suspeita de hemorragia digestiva alta, a equipe de paramédicos está autorizada a aplicar a primeira dose dessas drogas ainda durante o transporte do paciente ao centro de referência. Há evidências que a diminuição da pressão portal será de valia nos casos de sangramento por varizes de esôfago, como também em casos de sangramento decorrentes de outras lesões, como a lesão de Mallory-Weiss ou úlcera péptica(2). Quando da entrada desses enfermos ao serviço de emergência, a avaliação inicial geralmente é realizada por um médico emergencista, muitas vezes com formação em Medicina Interna. O exame físico desses doentes deve ser minucioso e incluir uma correta avaliação da condição hemodinâmica (pulso, pressão arterial, volume urinário e obtenção de acesso venoso p a r a e v e n t u a i s re p o s i ç õ e s d e l í q u i d o s e hemoderivados). A presença de estigmas ao exame físico (ascite, spyders, esplenomegalia) e dados da história pregressa podem sugerir a etiologia da hipertensão portal, seja de etiologia cirrótica ou esquistossomótica. Essa diferenciação é importante porque os pacientes cirróticos que dão entrada a um serviço de emergência com quadro de sangramento de varizes esofagianas em conseqüência de hipertensão portal possuem uma reserva hepática bastante depauperada ( ) ² . Já os doentes esquistossomóticos podem apresentar sangramentos vultosos por ruptura de varizes, mas ainda possuírem uma boa reserva hepatocítica. Essa diferenciação entre os dois grupos de enfermos pode significar uma escolha terapêutica mais adequada e, conseqüentemente, um melhor resultado final do tratamento. Estudos laboratoriais que incluam a detecção de anemia, plaquetopenia, alterações de coagulação e parâmetros de função hepática e renal também devem ser solicitados. Esses doentes certamente vão se beneficiar de uma endoscopia digestiva alta para o correto diagnóstico do local de sangramento e para realização de tratamentos específicos como a escleroterapia das varizes (³ ). No entanto, poucos serviços de urgência dispõem de equipe de endoscopia disponível no momento do atendimento, e não raramente o médico emergencista tem de aguardar por um período de algumas horas, até que a endoscopia possa ser realizada (4). Com o intuito de diminuir a morbimortalidade desses doentes, o emprego de tamponamento das varizes com o balão de Sengstaken-Blakemore (BSB) pode ser necessário até que a endoscopia esteja disponível. Em muitos serviços de emergência, principalmente em centros menores, o balão ainda é o principal instrumento para o controle imediato do sangramento varicoso. No entanto, há evidências clínicas de que o balão de Sengstaken-Blakemore tem sido mal utilizado, e com isso a sua eficácia é diminuída e as taxas de complicações se elevam (5). Os principais problemas relacionados à má utilização do balão e as principais complicações decorrentes estão listados na Tabela 1. Assim, o objetivo deste trabalho foi discutir os aspectos técnicos da utilização e fixação do BSB. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado através do uso do BSB de acordo com protocolos e adaptações da utilização e fixação deste na atividade clínica (5) junto a pacientes do Hospital Municipal Mário Gatti da cidade de Campinas, estado de São Paulo, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, estado de São Paulo e Hospital de Caridade São Vicente de Paula, Hospital associado à Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo. Todo o experimento foi realizado após aceite pelo Comitê de Ética em Pesquisa destas instituições. Tabela 1: Problemas técnicos do uso do balão de Sangstaken-Blakemore. Perspectivas Médicas, 19(1): 42-46, jan. / jun. 2008 44 Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore - Antonio Roberto Franchi Teixeira e cols. RESULTADOS O uso do balão de Sengstaken-Blackmore no tratamento agudo do sangramento devido à ruptura de varizes esofagogástricas foi bastante útil, seja como terapia definitiva ou como tratamento provisório. As falhas no uso do balão foram relacionadas aos problemas de treinamento inadequado durante o período de Internato e Residência Médica. A passagem, fixação e controle do BSB foram realizados por cirurgiões. Sendo isto indicado no primeiro ano de residência em cirurgia, por ser a passagem do BSB um procedimento mais simples, contudo, a supervisão fica a cargo de outro residente mais graduado. Os demais residentes de outras especialidades geralmente não adquirem treinamento adequado para a colocação do BSB. No entanto, a ocorrência desse evento em ambiente de ProntoSocorro ou UTI não é infreqüente. Não raramente, a presença de um cirurgião para a passagem imediata do BSB não é possível, e o procedimento tem de ser realizado pelo médico assistente, como foi observado neste trabalho. Observou-se em muitos casos que a passagem do BSB pode ser traumática, com lesões de estruturas nobres, como a traquéia, esôfago e faringe. Outras vezes, a fixação do BSB não é feita de maneira correta, e o método torna-se ineficaz. Algumas outras situações ocorrem onde o BSB foi bem locado, bem fixado, porém o controle das pressões nos balões não é realizado de forma correta, o que contribui para o insucesso do método. DISCUSSÃO A passagem do BSB, nem sempre é um procedimento fácil. Muitas vezes o paciente encontra-se agitado em encefalopatia ou torporoso devido à anemia intensa, com rebaixamento do nível de consciência. Portanto, a passagem do BSB é ato médico que não deve ser realizado por pessoal de outras áreas. Como a causa da hepatopatia que levou ao quadro pode ser infecciosa, todos os equipamentos de proteção, como avental, gorro máscara, luvas e óculos de proteção, devem ser utilizados (5). O médico deve dispor de equipamento de aspiração adequado e da ajuda de um ou dois assistentes. Primeiramente o BSB deve ser novo ou esterilizado em óxido de etileno. Os balões devem ser testados, pois não raramente há problemas de vazamento de ar das câmaras. O médico deve posicionar-se na cabeceira do paciente e promover uma adequada lubrificação das narinas com geléia anestésica. Alguns serviços preconizam que, ao abaixar a temperatura do BSB, o látex se tornaria um pouco mais rígido, o que facilitaria a progressão do balão pelas coanas e faringe (7). No entanto, não há evidências que comprovem a eficácia de tal manobra. Alguns serviços também recomendam o uso de fio guia no interior da sonda para facilitar a progressão do BSB, porém isso pode causar lesões importantes e deve ser evitado similar ao relatado em (6) outro estudo . Perspectivas Médicas, 19(1): 42-46, jan. / jun. 2008 Inicialmente a narina deve ser lubrificada com solução em gel de medicamento anestésico (xylocaína®). A colocação do BSB deve ser feita de maneira lenta, gradual e suave, algumas vezes solicitando-se ao paciente que realize o movimento de deglutição. Outras vezes, é necessário que se realize uma manobra de flexão da cabeça em direção ao peito, para corrigir o ângulo de passagem da sonda pelo seio piriforme. Durante todo o procedimento deve-se atentar para vômitos e deve ser realizada aspiração da orofaringe quando necessário, a fim de se evitar broncoaspiração. Em relação à confirmação do posicionamento do balão, vários métodos podem ser utilizados. A utilização do raio-X simples de abdome pode ser muito útil na correta localização do balão gástrico. A utilização da ultrassonografia abdominal é um método inócuo que também pode rapidamente ser realizado ainda na sala de urgência, quando este for disponível(8). O balão gástrico do BSB deve acoplar-se suavemente no fundo gástrico, através de uma gentil tração em direção cranial. Essa tração suave é que permite que o balão esofágico, uma vez insuflado com a correta pressão, possa tamponar o ponto de sangramento (Figura 1). Em relação às pressões utilizadas nos balões gástrico e esofágico algumas considerações são pertinentes. Primeiramente, o balão gástrico (geralmente com inserção de cor branca) necessita ser insuflado com uma quantidade de ar de aproximadamente 300 a 400 cc, pois dessa forma o Figura 1: Esquema do posicionamento correto do balão de Sengstaken - Blakemore 45 Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore - Antonio Roberto Franchi Teixeira e cols. balão adquire um volume compatível com seu acoplamento no fundo gástrico. A pressão no balão gástrico não necessita ser aferida. Quanto ao balão esofágico (geralmente de cor vermelha), tradicionalmente se recomendava à insuflação de uma quantidade de ar suficiente para conferir uma pressão de 35- 40 cm de água. No entanto, a observação clínica trouxe evidências de que pressões tão elevadas podem causar prejuízos à mucosa do esôfago (Figura 2). Geralmente, as varizes esofagianas se rompem quando ultrapassam o limite pressórico de 12-15 mmHg (9). Raramente a pressão das varizes ultrapassa os 20 mmHg, portanto a insuflação do balão esofágico com pressões de 20- 25 mmHg parecem ser suficientes para um correto tamponamento das varizes. Utilizando esses níveis pressóricos no balão esofágico, a incidência de lesões isquêmicas da mucosa esofagiana é minimizada. Muito importante é checar a pressão do balão esofágico a cada período de 4 horas, pois pequenos vazamentos no tubo de inserção ou no próprio balão podem diminuir a pressão e assim, comprometer a eficácia do método. Essa aferição pode ser realizada de maneira simples, utilizando-se o manômetro aneróide de um esfigmomanômetro de uso (8) rotineiro em hospitais . Deve se tomar cuidado para que não ocorram vazamentos inadvertidos de ar durante a tomada da pressão. É importante salientar que o balão esofágico do BSB deve ser desinsuflado periodicamente, para que a mucosa esofagiana possa receber perfusão sangüínea. Não há consenso dessa periodicidade, mas tradicionalmente costuma-se desinsuflar o balão a cada período de 6 horas. O BSB não deve ser retirado precocemente, pois a necessidade de uma nova passagem é sempre traumática para o doente. Por outro Figura 2: Necrose extensa da mucosa esofagiana por excessiva pressão no balão esofágico (seta). Figura 3: Necrose da cartilagem nasal por tração inadequada do balão (seta). Figura 4: Tração inadequada do balão de Sangstaken (seta). Figura 5: Capacete de críquete adaptado para tração do balão (seta). Perspectivas Médicas, 19(1): 42-46, jan. / jun. 2008 46 Aspectos técnicos da utilização do balão de Sengstaken-Blakemore - Antonio Roberto Franchi Teixeira e cols. lado, a permanência do BSB por períodos superiores há 24 horas está associada a lesões isquêmicas da mucosa esofagiana. Como regra geral, recomenda-se que o BSB seja utilizado pelo menor período necessário para o controle do sangramento, até que a endoscopia esteja disponível. Caso a endoscopia demore mais de 6 horas para ser realizada, recomenda-se que o balão esofágico seja desinsuflado por um período de 30 minutos, mas que o BSB seja mantido in loco, com o balão gástrico insuflado. Isso possibilita a re-insuflação do balão caso o doente volte a sangrar. A endoscopia pode ser realizada com o balão locado e desinsuflado, funcionando como uma simples sonda nasogástrica. Isso é importante porque, caso o endoscopista não consiga um controle efetivo do sangramento, o BSB pode ser re-insuflado. No entanto, caso a hemostasia endoscópica atinja o almejado sucesso, o próprio endoscopista pode encarregar-se da retirada do BSB. Os métodos de fixação do BSB são importantes para a efetividade do tratamento. A fixação mais comum é aquela que utiliza uma saliência confeccionada com esparadrapo comum ao redor da sonda, que acaba por se apoiar na asa nasal. Esse método pode produzir ferimentos dolorosos, podendo inclusive levar à necrose da cartilagem alar nasal (Figura 3). Métodos que fixam o balão ao teto ou ao leito através de sistemas de roldanas tipo tração ortopédica são igualmente ineficazes e perigosos (Figura 4). Eles não proporcionam liberdade de movimentação e acidentes graves podem ocorrer, principalmente se o doente apresentar agitação por encefalopatia hepática. As complicações relacionadas a broncoaspiração decorrente de má fixação do balão comprometem em muito o estado geral e conseqüentemente o prognóstico desses doentes. Temos utilizado rotineiramente, desde há alguns anos, um método de fixação do balão à armação externa de um capacete de críquete adaptado para tal(10) (Figura 5). Esse método promove uma adequada fixação do BSB, com manutenção do eixo de tração para baixo, evitando escoriações nasais. A manutenção constante da tração, sem exercer pressão sobre a asa do nariz, Perspectivas Médicas, 19(1): 42-46, jan. / jun. 2008 aumenta a efetividade do método(11). Além disso, o doente pode mover a cabeça livremente, pois o eixo de tração do balão acompanha os movimentos laterais do crânio. Em caso de agitação psicomotora por encefalopatia, o capacete serve de proteção contra trauma crânio-encefálico. Assim, o balão de Sengstaken-Blakemore ainda é uma opção de tratamento muito importante na prática, devido a seu baixo custo e grande disponibilidade, ainda que nas regiões mais remotas. Muitos problemas decorrentes da má utilização do balão têm contribuído para seu parcial descrédito como medida terapêutica de urgência. Os principais problemas na utilização do balão se relacionam com deficiência no treinamento do médico e falhas nos sistemas de fixação, contudo a possibilidade da correta utilização do balão como tratamento temporário, até que a endoscopia esteja disponível, pode significar uma melhora dos índices de sobrevida. Referências bibliográficas 1 - Avgerinos A. Approach to the management of bleeding esophageal varices: role of somatostatin. Digestion 1998; 59 Suppl 1: 1-22. 2 - Burroughs AK, Planas, R, Svoboda P. Optimizing emergency care of upper gastrointestinal bleeding in cirrhotic patients. Scand J Gastroenterol 1998; Suppl 226: 14-24. 3 - Ogawa K, Ishikawa S, Naritaka Y. Clinical evaluation of endoscopic injection sclerotherapy using n-butyl-2-cyanoacrylate for gastric variceal bleeding. J Gastroenterol. Hepatol 1999; 14 (3): 245-50. 4 - Conn HO, Lebrec D, Terblanche J. The treatment of oesophageal varices: a debate and a discussion. 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Carla de Almeida* Marco Antonio Freitas Filho** Milena Bezerra Leão* Lucimar Moraes Lima*** * Médica Residente da Clínica Médica do Hospital São Vicente de Paula, HSVP, Jundiaí, São Paulo. ** Médico Assistente da Enfermaria da Clínica Médica Feminina do Hospital São Vicente de Paula, HSVP, Jundiaí, São Paulo. *** Professora da disciplina de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ e Médica Responsável pela Enfermaria da Clínica Médica Feminina do Hospital São Vicente de Paula, HSVP, Jundiaí, São Paulo. Endereço para correspondência: Carla de Almeida - Faculdade de Medicina de Jundiaí, Rua Francisco Telles, 250. Caixa Postal 1295, Vila A re n s - J u n d i a i , S P. C E P 1 3 2 0 2 - 5 5 0 - E mail:[email protected] Artigo ainda não publicado. Artigo recebido em 02 de novembro de 2007. Artigo aceito em 11 de março de 2008. RESUMO A Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é um distúrbio relativamente comum, mas pouco diagnosticado. A maioria dos pacientes com CMH é assintomática, recebendo o diagnóstico ao acaso por alteração nos exames físicos de rotina ou em eletrocardiogramas pré-operatórios. O risco de morte em pacientes com CMH é alto, sendo a principal causa de óbito súbito em jovens. Assim, neste relato de caso descrevemos uma CMH e suas correlações clínicas mais importantes. ABSTRACT The Hypertrophic Cardiomyopathy (HCM) is a relatively common cardiac disease; however, it is apparent underdiagnosed and major assymptomatic. The most common circumstances that permit diagnosis are the routine examination or abnormal electrocardiographic pre-operatively, this is caused by the most patients are asymptomatic. Hypertrophic Cardiomyopathy is an important cause of sudden death in patients, including young people. Thus, this work reports the HCM and the clinical factors involved. INTRODUÇÃO A Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é causada por uma mutação genética que ocorre em 1 a cada 500 pacientes de uma população geral, sendo considerada por alguns autores uma desordem comum(1-6), contudo, esta doença é pouco diagnosticada devido ao seu curso clínico benigno e de difícil reconhecimento clínico(5). Reconhecida como a causa mais comum de morte cardíaca súbita entre jovens, esta condição pode apresentar-se em qualquer fase da vida, desde a infância até pacientes acima de 90 anos. Sendo passível de tratamento, seu conhecimento torna-se importante para a diminuição da mortalidade súbita, (6) principalmente entre jovens . Assim, este relato tem como objetivo atualizar o tema e suas correlações clínicas mais importantes. MATERIAIS E MÉTODOS Realizou-se um levantamento dos prontuários de pacientes atendidos no Hospital São Vicente de Paula (HSVP) da cidade de Jundiaí, estado de São Paulo, tendo sido detectado um caso de CMH, que foi acompanhado desde o diagnóstico até sua internação no setor de Clínica Médica do HSVP, além de um levantamento de dados atuais sobre esta condição e suas correlações clínicas mais importantes. RESULTADOS E RELATO DE CASO Paciente, J.M.S., 61anos, viúva e aposentada, natural de Juazeiro, estado da Bahia, residente na cidade de Campo Limpo, estado de São Paulo, apresentou-se ao serviço do HSVP. A referida paciente apresentava antecedente de hipertensão arterial há dois anos e fazia uso de hidroclorotiazida 25mg/dia e captopril 25mg 3x/dia. Na sua entrada no Serviço de Emergência do HSVP apresentava quadro de fraqueza, letargia e confusão mental intermitente, além de desorientação há dois dias. Negava febre, tosse, expectoração, disúria, ingesta abusiva de medicação, déficits de força nos membros, alteração da marcha ou liberação esfincteriana. Ao exame físico encontrava-se em bom estado geral, corada, hidratada, acianótica, anictérica, afebril, já com melhora da confusão mental inicial, Glasgow 15, sem déficit motor ou sensitivo periférico e sem rigidez de nuca. Sua freqüência cardíaca e pressão arterial apresentavam-se Perspectivas Médicas, 19(1): 47-50, jan. / jun. 2008 48 Cardiomiopatia Hipertrófica - Carla de Almeida e cols. respectivamente em 78 bpm e 140-90mm/hg, sem estase jugular, ictus palpável com duas polpas digitais na linha hemiclavicular esquerda no 5 ° espaço intercostal esquerdo (EICE) propulsivo. Apresentava também sopro mesossistólico rude ejetivo +++/4+ audível em todos os focos e com irradiação para fúrcula esternal e carótidas, além de aumento da intensidade com manobra de Valsava. MV+ simétrico sem ruídos adventícios, FR = 18 rpm, abdome globoso, normotenso, RHA+, sem sopros abdominais, o fígado não apresentava-se palpável e baço não estava percutível. Os membros inferiores (MMII) estavam sem edemas, o pulso presente e simétrico. Foram realizados exames bioquímicos de eletrólitos, hemograma e urina I, todos sem alterações. A tomografia computadorizada (TC) de crânio apresentou características de normalidade. O exame Doppler de carótidas não mostrou lesões obstrutivas. A Radiografia de tórax apresentou área cardíaca no limite superior da normalidade. O eletrocardiograma mostrou ritmo sinusal com hipertrofia ventricular esquerda e padrão “strain”. O ecocardiograma bidimensional mostrou AE de 44mm, FEVE de 92%, massa ventricular esquerda de 284g, Figura 1: Imagem de ventriculografia mostrando hipertrofia do ventrículo esquerdo. Durante a contração septal, na fase inicial da sístole, nota-se colapso da via de saída do ventrículo, com obstrução precoce ao esvaziamento ventricular e conseqüente aumento do estresse de parede (seta curta). Logo a seguir, com a diminuição da obstrução, nota-se o esvaziamento quase completo do ventrículo esquerdo, configurando-se uma “sístole dupla”. O volume sistólico final é reduzido e isto explica a alta fração de ejeção documentada também no ecocardiograma (seta longa). Perspectivas Médicas, 19(1): 47-50, jan. / jun. 2008 além da espessura do septo e parede cardíaca de 17mm. Foi observada também, uma hipertrofia ventricular esquerda concêntrica importante, além de colabamento sistólico inicial da via de saída do ventrículo esquerdo. A p ó s e s t e s e x a m e s re a l i z o u - s e u m a Cineangiocoronariografia, onde foram observadas coronárias normais e ventriculografia esquerda com hipertrofia simétrica, o que pode resultar em obstrução inicial importante da via de saída cardíaca, além disso, o gradiente intraventricular apresentou-se em 60mm/Hg. Durante a evolução a paciente manteve-se hemodinamicamente estável, sem alterações neurológicas e foi medicada com beta-bloqueador com controle de freqüência cardíaca e resposta satisfatória (Figura 1). DISCUSSÃO A evolução da patofisiologica determinante deste quadro clínico de CMH inclui obstrução ao fluxo sangüíneo do ventrículo esquerdo por movimento anterior da valva mitral e contração ventricular septal com disfunção diastólica, além da diminuição do relaxamento e da complacência do VE e aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio com isquemia por arritmias supraventriculares (principalmente fibrilação atrial) e taquicardia concomitante à fibrilação ventricular(1-7). A maioria dos pacientes com CMH são assintomáticas, tendo diagnóstico realizado após um episódio cardíaco agudo, sendo, segundo alguns (6) autores diagnosticado em exames de rotina . Também é citado na literatura que os sintomas se acentuam em adultos acima de 55 anos de idade(7). Assim, os sintomas, por ordem de freqüência, são: dispnéia, precordialgia, palpitações, síncope e présíncope e outros menos freqüentes, como DPN, ICC e tontura(7). O risco de morte súbita em pacientes com CMH é alto, sendo considerados fatores de risco para este evento: paradas cardíacas prévias, taquicardia ventricular, história de morte súbita em dois ou mais (8) familiares jovens e a espessura da parede miocárdica . O exame físico é habitualmente normal em pacientes assintomáticos e naqueles sem obstrução na via de saída do VE. O pulso venoso jugular em geral é normal, mas pode apresentar onda elevada devido à contração atrial vigorosa, resultante da diminuição da distensibilidade do ventrículo direito (VD) por hipertrofia do septo interventricular. O pulso carotídeo é característico, apresentando um ascenso rápido, uma vez que não existe obstrução na protossístole, diminuindo na metade da sístole (aspecto digitiforme), quando aparece a obstrução e pode no final, apresentar discreta elevação. Pode-se palpar frêmito sistólico ao nível da ponta ou no bordo esternal esquerdo baixo. O 1° ruído é normal, enquanto o 2° pode apresentar desdobramento paradoxal, quando ocorre acentuada obstrução na via de saída do VE. O 3° e 4° ruídos podem estar presentes, sendo mais freqüente o último, pela 49 Cardiomiopatia Hipertrófica - Carla de Almeida e cols. contração atrial vigorosa. Na maioria dos pacientes com a forma obstrutiva ausculta-se sopro sistólico rude em crescendo-decrescendo, que se inicia logo depois do 1°ruído, sendo este melhor audível entre o foco mitral e o bordo esternal esquerdo baixo e não se irradia para o pescoço(7,9). Com relação aos exames de imagens, o eletrocardiograma (ECG) pode mostrar sinais de hipertrofia, sendo alterações do segmento ST, alterações da onda T, alargamento da onda P, ondas q anormais e ausência de onda R nas derivações (6) precordiais esquerdas as alterações mais comuns . Em estudo realizado no Brasil com 214 pacientes 84% apresentava sinais de HVE no ECG, 17% aumento de (10) AE e 8% fibrilação atrial . O Raio X de tórax tem valor limitado, podendo ser observado aumento do átrio esquerdo em pacientes com regurgitação mitral e aumento da área cardíaca em pacientes com formas avançadas, em que ocorre dilatação do VE. Nestes, sinais de congestão pulmonar também podem ser observados. O Ecodopplercardiografia constitui hoje o melhor método diagnóstico da CMH, bem como de sua evolução. Em pacientes com janela acústica pobre, o ecocardiograma pode não ser conclusivo, então deve ser realizada ressonância magnética. A hem o dinâ m ica revela d im in u içã o d a distensibilidade diastólica do VE e gradiente de pressão entre a cavidade e a câmera subaórtica formada pelo septo espessado e a cúspide anterior da valva mitral que se aproximam. Esse gradiente de pressão na via de saída do ventrículo pode variar de 0 a (9) 175mmqHg . A ressonância magnética também é um instrumento bastante preciso no diagnóstico de cardiomiopatia hipertrófica, avaliando os diversos padrões de hipertrofia, a função ventricular e o gradiente pressórico entre a via de saída do ventrículo esquerdo e a aorta, além de ser extremamente útil no diagnóstico diferencial com outras entidades. É método diagnóstico (11) equivalente ao Eco Doppler . Com relação ao tratamento, este tem o objetivo de aliviar os sintomas, melhorando, assim, a qualidade de vida, e, em longo prazo, evitar ou retardar a progressão (7) da doença para morte súbita . O tratamento nãoinvasivo consiste, em orientações de conduta, como por exemplo, a de não realizar exercícios físicos intensos ou esportes competitivos. Esses pacientes poderão, dependendo do caso, ser candidatos ao implante de cardioversor-desfibrilador. Para aqueles que apresentam obstrução na via de saída, com ou sem insuficiência mitral, deve-se instituir a prevenção da endocardite infecciosa da mesma forma que se faz com pacientes portadores de outras cardiopatias consideradas de risco. A prescrição de medicamentos para pacientes assintomáticos deve ser direcionada apenas para os portadores de obstruções importantes, uma vez que há informações que indicam ser a obstrução em repouso um fator preditor de progressão desfavorável em longo prazo em direção à insuficiência cardíaca e morte. As drogas beta-bloqueadoras (geralmente propranolol ou atenolol) estão indicadas, principalmente por atenuar aumentos provocáveis do gradiente. Já para pacientes sintomáticos as drogas indicadas podem ser: beta-bloqueadoras, bloqueadoras dos canais de cálcio (primeira escolha para as formas não obstrutivas), disopiramida (para pacientes que não respondem às duas citadas anteriormente) e amiodarona (indicada para pacientes com taquicardia ventricular não sustentada). Contudo, é importante lembrar que o tratamento invasivo é indicado para pacientes com sintomas graves de insuficiência cardíaca (classe funcional III/IV da NYHA), que apesar de receberem medicação em doses eficazes, são considerados refratários ao tratamento clínico. O tratamento invasivo também deverá ser indicado pela presença de gradiente na via de saída do ventrículo esquerdo (> 50 mmHg) ou resposta não satisfatória ao tratamento clínico(7,12). Para isso as opções são a miectomia septal transaórtica (excisão da porção hipertrofiada do septo), o marcapasso atrioventricular e a oclusão do ramo septal da artéria coronária descendente anterior. Naqueles pacientes refratários e que não apresentam obstrução, o tratamento invasivo é limitado, podendo ser incluídos entre eles os pacientes em fase avançada com disfunção sistólica, para os quais estaria indicado o transplante cardíaco(2). O marcapasso é útil nos indivíduos sintomáticos ou com gradiente de fluxo. Este aparelho leva à inversão da despolarização ventricular, reduzindo o movimento sistólico anterior da válvula mitral, fazendo com que a porção hipertrófica se contraia após a saída da maior parte do sangue do VE, reduzindo o gradiente de pressão VE–Aorta. A utilização prolongada do marcapasso não é conhecida até o presente momento(7). O marcapasso permite também um tratamento (1) medicamentoso mais agressivo . Com relação às indicações de implantação de desfibriladores cardíacos, estas ainda são incertas, apresentando resultados controversos sobre o seu (10-15) benefício . O prognóstico da MCH está relacionado com a interação entre hipertrofia ventricular esquerda, remodelamento cardíaco e alteração da função (10) cardíaca . CONCLUSÃO Assim, em conclusão, apesar de ser uma desordem comum, a cardiomiopatia hipertrófica é pouco diagnosticada, sendo o conhecimento de sua evolução e meios diagnósticos fundamental para o tratamento adequado e diminuição de morte súbita em jovens. Referências bibliográficas 1 - Maron B, Mckenna W. American College of Cardiology/European Society of Cardiology Clinical Expert Consensus. Document on Hypertrophic Cardiomyopathy 2003;42(9):2-14. 2 - Nishimura A, Ommen R. Use of Echocardiography in patients with Hypertrophic Cardiomyopathy : clinical implications of Massive Perspectivas Médicas, 19(1): 47-50, jan. / jun. 2008 50 Cardiomiopatia Hipertrófica - Carla de Almeida e cols. Hypertrophic. Am J Cardiol 2005; 95:790-792. 3 - Marron BJ. Hypertrofhic Cardiomyopathy. 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