Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica.
A conservação do patrimônio natural dos Campos Gerais
ROSEMERI SEGECIN MORO – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA,
DEPTO DE BIOLOGIA GERAL
[email protected]
Localizada na porção centro-leste do Paraná, a região dos Campos
Gerais é caracterizada como sendo de tensão ecológica no Bioma
Mata Atlântica e Campos Sulinos. Inclui as bacias do Alto Tibagi e do
Itararé, as cabeceiras do Rio Ribeira, e parte da bacia do Iguaçu.
Com alto nível de endemismo, é considerada prioritária para a
Conservação da Flora no Brasil (MMA/SBF, 2002).
A recente intensificação do uso da paisagem regional e a baixa
representatividade de áreas protegidas colocam os Campos Gerais,
juntamente com as Florestas com Araucária, entre os ecossistemas
mais ameaçados do Brasil (MMA/SBF, 2002). Com 1.176.141 ha, e
abrangendo 22 municípios, a região possui 22% de sua área ocupada
por Floresta Ombrófila Mista, em diversos estágios de sucessão, com
algumas
poucas
áreas
de
concentrações,
localizando-se
principalmente ao longo das encostas e vales dos rios. Na avaliação
de CASTELLA e BRITEZ (2004), quase a totalidade da Floresta com
Araucária nos Campos Gerais encontra-se em estágios iniciais ou
médios de regeneração (49% e 48%, respectivamente) ou seja,
áreas primárias não somariam mais do que 3,0%.
As estepes compreendem 17,5% do território, sendo 0,16% de
cerrados. Até o momento não foi realizado um trabalho abrangente
de caracterização do estado de conservação destes fragmentos. Da
área restante, cultivos ocupam 45,4% e reflorestamentos, 13,2%
(MELO et al., 2003).
Diante do quadro de modernização das atividades econômicas
vigentes na região, em especial as atividades agropecuárias, percebese uma transformação crescente na organização do uso e ocupação
da terra nos Campos Gerais. O reordenamento econômico
direcionado à retomada dos projetos silviculturais e à agricultura de
exportação, e o potencial para a transformação agrícola
proporcionado pelos sistemas de plantio direto, produziram, na última
década, um acentuado avanço dessas atividades nas áreas de
campos remanescentes. COSTA et al. (2004), perceberam que, nas
áreas de preservação permanente às margens da Represa de
Alagados, num período de 20 anos entre 1980 e 2001, houve uma
regressão de 49% de áreas de campo nativo, ocupados por cultivo.
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Outros trabalhos detectaram a mesma tendência nas microbacias do
Quebra Perna (KLAZURA, 2002) e São Jorge (UEPG/NUCLEAM, 2002).
Mesmo respeitando-se a legislação no tocante à áreas de Preservação
Permanente e Reserva Legal, ecossistemas vem sendo suprimidos
sem levar em consideração a biologia da conservação, com
conseqüências para a manutenção do equilíbrio no ambiente.
As áreas protegidas por Unidades de Conservação federais e
estaduais totalizam atualmente apenas 0,9 % de seu território, muito
abaixo da média mundial (5%). Com relação às Unidades de
Conservação de Proteção Integral, a região engloba cinco parques
estaduais: Vila Velha (3.122 ha e projeto de ampliação para 4.000
ha); Caxambu (968 ha); Guartelá (799 ha e projeto de ampliação
para 6.800 ha); Cerrado (420 ha) e Monge (250 ha), mais seis RPPNs
federais (1.650 ha), 18 estaduais (2.605 ha) e diversas Unidades de
Conservação municipais. Com relação às Unidades de Conservação de
Uso Sustentável, a porção leste dos Campos Gerais está incluída na
APA da Escarpa Devoniana, em processo de zoneamento (392.363 ha
distribuídos por 13 municípios, abrangendo cerca de 33% da área dos
Campos Gerais). Na categoria de uso direto existem ainda a Floresta
Nacional de Piraí do Sul (154 ha), Floresta Estadual do Passa Dois
(276 ha), Reserva Ecológica Poty (46 ha), Horto Florestal Geraldo
Russi (131 ha) e Reservas Florestais Córrego da Biquinha (23 ha) e
do Saltinho (9 ha).
Estão em fase de criação o Parque Nacional dos Campos Gerais
(21.749 ha) e a Reserva Biológica das Araucárias (16.078 ha), unidos
por um corredor biológico de 31.698 ha, o Refúgio de Vida Silvestre
do Rio Tibagi, nas várzeas dos rios Guaraúna, Imbituvão e Tibagi
(MMA, 2005). Quando implantadas. estas unidades elevariam para
6,8% as áreas oficialmente protegidas, bastante próximo do
recomendado pela ONU, mas ainda distante dos 14% considerado
ideal (WWF, 2000). Esforços para ampliar a área conservada dos
Biomas Mata Atlântica e Campos Sulinos, com Floresta com
Araucária, estepes e savanas, esbarram na resistência dos setores
produtivos, que têm questionado a legitimidade das ações do IBAMA
e a delimitação das áreas propostas, ainda que as desapropriações
atinjam, em média, não mais de 18 a 23% de áreas com atual uso
agro-florestal.
No momento, apenas os parques estaduais de Vila Velha e Guartelá
constituem áreas contínuas protegidas relativamente expressivas,
embora isoladas de outras unidades. Análises de lacuna por SIG
tornaram possível evidenciar as áreas críticas que deveriam ser
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poupadas do processo de desenvolvimento, ou restauradas (MELO et
al., 2003). As áreas que se encontram melhor conservadas situam-se
ao longo do reverso da Escarpa Devoniana, com altitudes superiores
a 1.000 metros, das quais duas apresentam remanescentes de
vegetação ainda significativos (BILENCA; MINARRO, 2004): (1) parte
norte dos Campos Gerais, na direção sudoeste-nordeste, entre o
cânion do rio Iapó (região do Guartelá), no município de Tibagi, e o
ribeirão Cambará, no município de Piraí do Sul; (2) porção central dos
Campos Gerais, na direção noroeste-sudeste, nos municípios de
Ponta Grossa e Palmeira. Inclui as nascentes do rio Tibagi e a maioria
de seus afluentes iniciais. MELO et al. (2003) apontaram nestes
compartimentos quatro áreas recomendadas para estabelecimento de
novas unidades de conservação: Serra do Monte Negro (município de
Piraí do Sul); margem esquerda do Rio Fortaleza em Piraí da Serra
(Piraí do Sul e Tibagi), bacia do Quebra Perna, na margem direita do
Rio Tibagi (Ponta Grossa) e Serra do Monge (Lapa). Pesquisas do
Núcleo de Estudos em Meio Ambiente da Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG/NUCLEAM, 2002), apontam adicionalmente a
bacia do rio Pitangui (incluindo os mananciais de Alagados, em Ponta
Grossa e Castro) e relictos de cerrado no Gaminhova, à margem
esquerda do Rio Tibagi (município de Tibagi).
Assegurar que as populações possam se comunicar é fundamental
para a manutenção da biodiversidade dos Campos Gerais. A
conectividade entre áreas de vegetação nativa possui grande
expressividade ecológica como corredor biológico para espécies
campestres e florestais. Como a quase totalidade dos campos secos
está explorada com agricultura e reflorestamentos, que avançam
sobre os campos rupestres e mesmo sobre os úmidos e brejosos,
intensificam-se os estudos de gestão ambiental para a preservação,
recuperação e implantação de corredores biológicos (PONTES FILHO
et al., 1995; ROCHA et al., 1990, 2001; MELO et al., 2001).
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WWF – World Wide Fund for Nature. Áreas protegidas ou espaços ameaçados:
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Federais brasileiras de uso indireto. Disponível em: www.wwf.org.
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