“Levantamento Da Condição Sócio-cultural-econômica Dos Moradores Da APA /
Coqueiral – MG”
Ana Cristina Campos Rodrigues, bolsista da Proex 1 no 3º e 4º módulo da graduação,
atualmente no 8ºmódulo de Ciências Biológicas, [email protected], UFLA; Luiz
Antônio de Bastos Andrade, orientador do projeto e professor titular do DAG / UFLA;
Vicente Gualberto, co-orientador, [email protected], professor titular do DCS / UFLA;
Exzovildres Queiroz Neto, co-orientador, [email protected], doutorando na UNICAMP.
A APA-Coqueiral foi criada com a finalidade de proteger e conservar a qualidade ambiental e
os sistemas naturais ali existentes. Está localizada no município de Coqueiral, sul de Minas
Gerais. O objetivo central do projeto apoiado pela Proex-UFLA e Emater-Coqueiral, foi
efetuar o levantamento da condição sócio-cultural-econômica. O critério estabelecido para a
análise foi baseado nos dados de entrevistas por uma amostragem de 79 famílias moradoras
da APA. A pesquisa aponta que a economia local gira em torno principalmente do café. Com
uma média de quatro moradores por casa, a grande maioria reside no próprio estabelecimento,
sendo que cerca de 25 % das famílias tem um morador que presta serviços fora da
propriedade. Muitas famílias possuem outros terrenos de plantio em comunidades mais
próximas ao lago de Furnas. A desigualdade social também está presente entre os moradores
da APA
Palavras chave: Levantamento, realidade sócio-cultural-econômica, APA.
Introdução
Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) as afaz são unidades de
conservação, destinadas a proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais
ali existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da população local e também
objetivando a proteção dos ecossistemas regionais. (Resolução nº. 10, 1988, art. 1). Em 17 de
1
Projeto de extensão “Levantamento da condição sócio-cultural-econômica e percepção
ambiental dos moradores da APA – Área de Proteção Ambiental / Coqueiral – MG”, apoiado
pela Proex-UFLA em 2007, realizado na APA do município de Coqueiral, MG.
maio de 2002 foi criada a APA de Coqueiral, no município de Coqueiral com a finalidade de
assegurar o bem estar das populações ali existentes, bem como a de todo município; a
melhoria da qualidade de vida, além de proteger e preservar a fauna, flora e os recursos
hídricos, promovendo assim o uso sustentável da área para as gerações futuras. A
administração da APA e as demais atividades a ela referentes serão reguladas e exercidas pelo
Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente (CODEMA – Coqueiral).
Este projeto titulado de “Levantamento da condição sócio-cultural-econômica e percepção
ambiental dos moradores da APA – Área de Proteção Ambiental / Coqueiral – MG”,
aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFLA teve como objetivo central efetuar o
levantamento da condição sócio-cultural-econômica dos moradores da APA / Coqueiral –
MG.
Para a implantação de uma APA é necessária a geração de dados, embasados em informações
científicas, visando o registro definitivo e oficial junto aos órgãos ambientais pertinentes
(Arruda, 1999). O resultado deste projeto indica as potencialidades e as limitações dos
moradores da área, através de métodos de pesquisa social e acrescenta embasamentos
científicos na construção do Plano de Manejo da APA.
1 Referencial teórico
Considerando a necessidade de aliar a recuperação dos recursos e a permanência dos
proprietários nas terras, foi sugerida a elaboração da APA no município de Coqueiral, a qual
se encontra em processo de implantação. Para um bom funcionamento de uma APA é
necessária a adoção de critérios estabelecidos por Lei que visem estreitar as relações das
atividades produtivas com as de conservação ambiental.
A Área de Proteção ambiental do Município de Coqueiral possui 6837,5 hectares e está
localizada no extremo norte do município, limitando-se com parte do lado formado pela
Represa de Furnas, com os municípios de Boa Esperança, Aguanil, Campo Belo e
Nepomuceno. Esta área foi selecionada por ser a que mais se destaca no município em termos
de existência de mosaicos de mata atlântica, ainda em bom estado de conservação, sendo
praticamente a única área do município onde ainda restam fragmentos da vegetação nativa.
(EMATER, 2002)
Uma das grandes questões atuais em termos de atividades agropecuárias é, em termos
práticos, saber como conciliar produção com agressões menos drásticas, conseqüências
naturais advindas de práticas de manejos pertinentes, aos diferentes compartimentos
ambientais de um ecossistema, notadamente ‘a pedosfera, atmosfera e hidrosfera’(Gualberto
et al., 2003). Assim uma segurança na geração de informações se torna muito importante.
A Área de Proteção Ambiental (APA), como Unidade de Conservação, é uma área em geral
extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos
ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações
humanas, e tem como objetivos básicos proteger diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (IBAMA, 2004).
Conforme Griffith et al. (1995), as APAs diferem da maioria das outras categorias de
unidades de conservação principalmente porque suas terras permanecem nas mãos dos
proprietários, ou seja, seus donos podem usar e alterar a área de forma controlada, sem que o
Estado exija sua total preservação.
A não necessidade de desapropriação, tão problemática às unidades de conservação de uso
indireto, foi a característica que mais contribuiu para a explosão de APAs durante a década de
1980, entretanto apesar da aparente facilidade com que poderiam ser criadas, necessitando
apenas de um decreto e sem necessidade de se levantar fundos para indenizações, sua
implantação revelou-se tão complicada quanto a das outras categorias de UC’s (Unidades de
Conservação). Assim, muitas APAs passaram a constituir o rol dos chamados parque de
papel. (ROPER, 2001)
Cortês, 2003 assevera que “A gestão exige a participação dos agentes envolvidos, daqueles
que participaram da imposição de limitação do direito de propriedade e daqueles que tiveram
seus direitos limitados”. Essa problemática registrada em outras APA’s ocorre devido à
quantidade de agentes com os quais deve se lidar nestas áreas, diferentemente das demais
categorias de UC’s cuja decisão está no poder publico, via de regra o único detentor do direito
de propriedade sobre a área. No caso da APA Coqueiral esta colocação se encaixa no sentido
de que a organização da área esta sob responsabilidade de órgãos da prefeitura, da EMATER
e dos próprios moradores da área. A Universidade se faz presente através de pesquisas
cientificas, como no caso dessa pesquisa a qual procura esclarecer as realidades sóciocultural-econômicas tanto dos moradores como dos órgãos envolvidos, facilitando o diálogo
entre eles. Segundo o MMA, 1999, em relação ao acesso de informação: Não basta que as
instituições públicas responsáveis pelas diversas fases da gestão divulguem e disseminem
dados e informações. Para a efetivação dessa participação, é preciso que as informações
derivadas dos exercícios de gestão possam ser adaptadas aos diferentes públicos a que se
destina, criando condições de comunicação necessárias ao entendimento dos meios e dos
objetivos da gestão pretendida.
2 Metodologia
2.1 O método do estudo sócio econômico dos moradores da APA – Coqueiral.
O critério estabelecido para a análise da realidade sócio-cultural-econômica dos moradores da
APA foi baseado nos dados obtidos de entrevistas de uma amostragem de 79 famílias
moradoras da APA, além do Levantamento expedito, informações documentais e entrevistas
com o responsável pelo projeto da APA, Sr. Luis Geraldo Marciano Reis – responsável pelo
escritório local da EMATER e; com outros agentes sociais envolvidos com a APA.
Em um primeiro momento foi feito um levantamento expedito, ou seja, um reconhecimento
geográfico da área. A princípio serviu para um conhecimento da área sob a óptica geográfica
e com isso foi possível aperfeiçoar os questionários de acordo com esta realidade. Em outro
momento, dentro das comunidades do Ermo e Capituvas foram aplicados os questionários
para as entrevistas semi-estruturadas. Outras fontes de informação para analisar a realidade
sócio-cultural-econômica dos moradores da área foram os registros em diários de pesquisa,
uma revisão dos documentos da APA e a transcrição de uma conversa entre os pesquisadores,
gravada logo após um dia de campo durante a segunda viagem.
2.2 Entrevistas
Inicialmente usamos como referência o questionário usado no subprojeto coordenado por
Helena Maria Ramos Alves: “Identificação de estratégias de desenvolvimento rural
sustentável para cafeicultores do Sul de Minas Gerais” dentro do projeto: “Estratégias,
Modelos e Geotecnologias para a caracterização e monitoramento de Agroecossistemas
Cafeeiros de MG”. Um questionário é uma série de perguntas organizadas com o objetivo de
levantar dados para a pesquisa (Nogueira, 1968); e justamente por se tratar de problemas
centrais distintos a serem pesquisados, os objetivos do questionário foram adaptados. Este
questionário é constituído de perguntas fechadas que, segundo Phillips, 1974, limita o
entrevistado a uma escolha entre alternativas específicas. Este tipo de pergunta produz uma
maior uniformidade entre os entrevistados nas dimensões específicas para análise. Ao mesmo
tempo, as perguntas funcionaram como um roteiro de entrevista semi-etruturada. As
entrevistas foram feitas nas próprias casas dos moradores da APA; e muitas vezes a equipe foi
recebida com café e quitandas, como tradicionalmente se faz em Minas Gerais. Por causa
desse acolhimento e por ter a entrevista caráter de uma conversa, mesmo que direcionada, se
criou uma interação entre os entrevistados e entrevistadores. Nogueira (1968) cita esta
interação como um motivo de dúvida quanto à validade científica dos dados, pois há
possibilidade de os entrevistados serem influenciados em suas respostas, consciente ou
inconscientemente, pelo entrevistador. Em nossa equipe discutimos cada pergunta com o
intuito de impedir ao máximo a possibilidade de tendenciar às respostas.
A metodologia escolhida foi a amostragem, isto é, uma seleção de um subconjunto de
unidades de um conjunto maior (Phillips). Essa ferramenta ajuda o pesquisador a generalizar,
com uma margem de erro conhecida, as descobertas baseadas nos seus dados.
A equipe teve auxilio do morador Dé do Ermo, o qual demonstrou uma importante
consciência ambiental e grande dedicação e conhecimento sobre a APA. Durante as idas de
campo, Dé esteve presente no momento de apresentação entre pesquisadores da equipe e
moradores. Este fato foi decisivo para a boa recepção por parte dos entrevistados. Também
auxiliou o grupo, em relação à localização e a infra-estrutura.
2.3 Diário de pesquisa e outros registros
Nogueira (1968) separa diferentes fontes de dados a serem analisados. Dentre as citadas em
seu livro foi utilizado nesta pesquisa um diário, isto é, um registro cotidiano e minucioso das
observações, acontecimentos, manifestações de comportamento, conversas, estabelecimento
de novos contatos, desenvolvimento ou transformação das relações já estabelecidas com
elementos da comunidade, sendo muito útil para visualizar o conjunto da organização social e
cultural. Também foi utilizado um registro gravado de uma conversa entre a equipe de
pesquisadores logo após um dia de campo. Este foi transcrito e utilizado para acrescentar à
análise, as experiências e conhecimento dos outros membros do grupo, referente ao objeto da
investigação. A pesquisa documental é capaz de reforçar o entendimento em estudos de caso
pela capacidade de situar os relatos contemporâneos em um contexto histórico. Estes nos
falam das aspirações e intenções dos períodos aos quais se referem (MAY, 2004). As fontes
incluem leis, declarações estatutárias, os próprios relatos de pessoas sobre incidentes ou
períodos. Para esta pesquisa o documento referente ao Projeto da APA foi utilizado, assim
como a Internet que foi consultada para verificação das leis ambientais, artigos, contatos,
dados e valores.
3 Análise e discussão dos resultados
Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa sócio-econômica-cultural, a partir
das entrevistas, diário de pesquisa e outros registros. O resultado da Percepção Ambiental será
analisado em outro trabalho. Estes dois estudos se confrontam e se complementam já que as
ações sócio-econômicas estão intrinsecamente ligadas ao meio ambiente.
3.1 Comunidades
As principais comunidades rurais existentes na área são Posses, Capituvas, Ermo, Sapé, Santa
Clara, Barbosas, Belém, Serra e Cachoeira. Sobre esta última há divergências quanto a sua
localização, pois, segundo os documentos do projeto da APA – Coqueiral, a comunidade de
Cachoeira está localizada dentro da área, e segundo as informações obtidas durante o
levantamento expedito, apenas uma parte dela, denominada Cachoeira de baixo, consta dentro
da APA. Ali havia uma hidrelétrica que foi desativada em 1920 e que hoje é tida como ponto
turístico. Capituvas engloba as comunidades de Mandioca, Coelho, Arroz Doce, Córrego das
Canas, Serra dos Pedro. Na comunidade Barbosa desponta uma grande quantidade de
cupinzeiros. Em Boa Vista está localizada uma enorme formação rochosa, de onde se avista
toda a região. Na comunidade do Ermo está localizada, a 1021 metros de altitude e área
superior a 40 hectares, a principal formação rochosa do município, conhecida como Pedra do
Ermo de onde também se tem uma visão panorâmica da região. Estas formações rochosas são
apontadas como potencialidades ecoturísticas para a APA.
Entre todas, as comunidades do Ermo, Capituvas, Cachoeira, Posses e Sapé são mais
estruturadas por possuírem venda, Igreja e Escola.
3.2 Estrutura familiar
O método de amostragem desenvolvido deu-se de forma aleatória na escolha de qual
integrante da família seria entrevistado, o que resultou em 40% das entrevistas concedidas
pelas mulheres da casa. A grande maioria dos moradores de Capituvas e do Ermo reside no
próprio estabelecimento, sendo que alguns possuem outros terrenos de plantio em
comunidades mais próximas ao lago de Furnas. Em cerca de 25 % das casas tem um morador
que presta serviços fora da propriedade, mas a grande maioria tira a renda apenas do próprio
terreno. 14 % das famílias recebem salário, além da renda do próprio terreno. A média é de
quatro moradores por casa. Os casais mais idosos moram na área há mais de 20 anos, mas
também há uma quantidade razoável de casais que se juntaram entre 10 e 20 anos atrás. Nos
últimos cinco anos, poucas famílias de fora migraram para a área, enquanto que o caminho
inverso é percorrido por um grande número de jovens que abandonam os estudos e o trabalho
na roça em busca de um emprego na cidade.
Muitos casais jovens, filhos dos moradores mais antigos, moram em terras herdadas ou dadas
como presente de casamento. A repartição com a família foi um dos motivos dos terrenos
terem diminuído de acordo com o que foi evidenciado através dos questionários.
Como estes aposentados não têm mais como trabalhar na lavoura, sua terra costuma ser
dividida, sendo que a parte maior fica para os filhos. Sua propriedade consiste da própria casa
e uma pequena área ao redor. Em Capituvas a quantidade de aposentados é grande e estes
costumam mudar para a beira da estrada, ou para alguma comunidade com posto de saúde,
devido às dificuldades.
No caso das famílias mais jovens, a diminuição dos terrenos se deu por causa de dificuldades
financeiras oriundas de endividamento e do gasto excessivo no combate a pragas e
besourinhas típicas da região.
3.3 Café e leite
A economia local gira em torno principalmente do café, o qual é produzido em Coqueiral e
levado às Cooperativas pelos próprios agricultores. Independente de quantas sacas serão
transportadas, são eles próprios que pagam o frete da viagem. Segundo dados não oficiais,
70% dos produtores do município são cooperados da Capeb localizada em Boa Esperança a
30km de Coqueiral. Apenas 30% dos produtores são cooperados da Cocatrel localizada em
Três Pontas a 60km de Coqueiral. As cotas para se tornar cooperado, segundo informações,
fornecidas em abril de 2007 das próprias cooperativas, são de R$240,00 e R$1000,00. A
relação entre o valor das cotas e a porcentagem de produtores em cada cooperativa, demonstra
uma realidade sócio-econômica, na qual a maioria dos agricultores paga uma cota mais barata
para conseguir escoar seu café e garantir o lucro.
Pelas observações da pesquisa, os agricultores não mostram insatisfação com o café, mas
também não mostram nenhuma empolgação. Muitos ainda vendem o café para atravessadores
e perdem grande parte do valor de seu café. Mesmo que em Coqueiral estejam localizados o
Sindicado dos Trabalhadores Rurais e o Sindicato dos Produtores Rurais, dentre os
entrevistados apenas citaram a participação em algum destes dois Sindicatos. Embora os
agricultores demonstrarem seu interesse em que a comunidade se organize a fim de valorizar
seu produto, existe certa dificuldade em relacionar-se.
A pecuária leiteira também tem bastante expressividade dentro da APA. São oito tanques
espalhados pelas comunidades e inseridos no sistema de leite granelizado. As Cooperativas
que atendem o município também são a Capeb e a Cocatrel. O leite a granel consiste na coleta
de leite nas propriedades rurais, onde o leite é resfriado em tanques distribuídos nas rotas da
coleta. Em artigo da revista Tecnologia e Treinamento, são destacadas as principais vantagens
da granelização como diminuição dos gastos com latões, economia de transporte, melhoria na
qualidade do leite devido a uma melhor higienização em todo o processo.
3.4 Dívidas
O Pronaf, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar é um programa da
Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário(SAF/MDA)
que disponibiliza crédito rural de acesso simplificado para promoção do aumento da renda
familiar; criação de novos postos de trabalho no campo e estímulo a produção de alimentos.
Durante as entrevistas algumas famílias citaram o endividamento com o Pronaf. Para solicitar
o financiamento, a família deve ser enquadrada em um dos Grupos, o que vai depender da
renda bruta anual familiar, do tamanho da terra e do número de empregados permanentes. A
Emater em Coqueiral, há dez anos, é responsável pela mediação entre o agricultor e o Banco
do Brasil. Segundo o órgão, 90% dos agricultores do município utilizam financiamento do
Pronaf. Os extensionistas da Emater acreditam que o endividamento é causado pela frustração
nas lavouras por causa das mudanças ambientais.
3.5 Escolaridade
Segundo dados do IBGE, no município de Coqueiral são 1694 estudantes matriculados no
ensino fundamental, 400 no ensino médio e 243 no ensino pré-escolar público estadual ou
municipal. São 97 docentes no ensino fundamental, sendo que 66 lecionam em escola estadual
e 31 lecionam em escola municipal No ensino médio são 17 no ensino estadual e no ensino
pré-escolar municipal são 19. No total são 13 escolas para ensino fundamental, uma escola
para ensino médio e 11 escolas para grupo pré-escolar. De acordo com a Fundação João
Pinheiro, órgão de pesquisas do Estado de Minas Gerais, o município de Coqueiral usa 70 %
do seu potencial em educação.
Das 79 casas visitadas, em 67 destas, havia pelo menos um adulto (20-80 anos) desistente de
escola e apenas seis casos de pessoas que estudaram ou ainda estudam em nível superior.
Foram registrados dezenove adolescentes e jovens que abandonaram a escola devido à
necessidade de sua mão de obra no serviço doméstico. Em geral, as crianças vão à escola,
tanto nos grupos das comunidades ou na própria cidade de Coqueiral com o auxílio de
transporte. Isso pode significar que os estudos e o diploma ganharam mais valor nos últimos
20 anos (tempo pressuposto de quando houve maior desistência da escola). Também foram
registrados dois casos de idosos com mais de 60 anos que se declararam analfabetos.
Os grupos escolares até 1º grau situados dentro da APA estão nas comunidades do Ermo,
Capituvas e Posses. Nas demais comunidades as crianças e adolescentes contam com o
transporte escolar da prefeitura nos períodos de manhã, tarde e noite para levá-los até estas
escolas na zona rural ou até mesmo na zona urbana de Coqueiral. Outros grupos escolares nas
comunidades de Santa Clara e Barbosas atendem crianças que ainda não freqüentam o 1ºgrau,
os chamados grupos.
3.6 Água e Saneamento básico
Os moradores em sua maioria aproveitam as nascentes, minas ou córregos d’água para o
abastecimento. A bomba elétrica é comumente utilizada para puxar água, que acaba sendo
dividida entre duas ou mais famílias. Algumas comunidades têm a opção pela água de poço
artesiano do SAAE, a qual deixa 80% dos beneficiados satisfeitos.
Quanto ao saneamento básico da casa, segundo o respondido às entrevistas, a água usada na
cozinha e na lavanderia costuma ser despejada a céu aberto, sendo às vezes desviada para a
horta. O destino da descarga é a fossa, na maioria das vezes seca. Alguns ainda destinam às
fossas, a água da lavanderia e da cozinha. Foi observado que as fossas estão localizadas
próximas de onde tiram a água para sustento. Outros casos de famílias entrevistadas que não
possuem nem ao menos uma fossa para o banheiro reforça a desigualdade na consciência
ambiental dos moradores.
3.7 Transporte
Em épocas de chuva, o transporte escolar não alcança chegar até algumas comunidades, como
Capituvas, por onde passam estradas de difícil acesso, onde 40 % das famílias entrevistadas
reclamaram do acesso às suas propriedades. Dentre os restantes, alguns afirmaram que a
situação melhorou desde que o volume das chuvas diminuiu, por isso não consideram tal
dificuldade como um problema. Alguns contaram casos de quando eram crianças e
costumavam caminhar à escola por mais de 10 km debaixo de chuva e por isso vêem no
passado a glória do presente. Estes fatos podem mostrar uma das causas que influenciaram a
grande desistência da escola há duas décadas atrás.
3.8 Coleta Seletiva
Foi contabilizado na pesquisa que 77,5% dos moradores queimam o lixo, 11% enterram, 7,5%
queimam e enterram e 4% usufruem serviços de lixeiros.
Informalmente foram notificadas algumas idéias circundantes. A primeira é que pela
proximidade com a cidade, há facilidade e certa dependência de consumo, acarretando no
acúmulo de muitas embalagens de produtos. A segunda é que já existe um projeto para
colocar um ponto de coleta seletiva na comunidade do Ermo, faltando apenas escolher o local
e implantá-lo. A verba adquirida com a venda dos materiais recicláveis seria revertida à
própria comunidade. A partir de informações das entrevistas 57,5% acreditam que o correto a
fazer com o lixo é enterrar. Os que acham que o certo é a coleta são 38%, e 4,5% não sabem
qual seria o modo correto.
3.9 Embalagens dos agrotóxicos
O principal motivo para darmos a destinação final correta para as embalagens vazias dos
agrotóxicos é diminuir o risco para a saúde das pessoas e de contaminação do meio ambiente.
(ANDEF). A Lei Federal nº de 09.974 de 06/06/00 e Decreto n.º 4.074 de 08/01/02 tem como
objetivo disciplinar a destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos e determinar as
responsabilidades para o agricultor, o revendedor, o fabricante e para o Governo na questão
de educação e comunicação. O não cumprimento destas responsabilidades poderá implicar em
penalidades previstas na legislação específica e na lei de crimes ambientais (Lei 9.605 de
13/02/98), como multas e até pena de reclusão. O Instituto Nacional de Processamento de
Embalagens Vazias (INPEV) é responsável pelo transporte adequado das embalagens de
agrotóxicos devolvidas às Unidades de Recebimento, ambientalmente licenciadas para o
destino final (Recicladoras ou incineradoras).
Foi abordado nos questionários o suposto destino destas embalagens na área da APA e foi
detectado que de todos os usuários de agrotóxicos, 31% queimam as embalagens de
agrotóxicos junto às outras embalagens, 15% enterram as embalagens, 46% as devolve e 8%
as guarda. Na comunidade de Arroz Doce, dentro de Capituvas, os moradores demonstraram
um maior cuidado com o destino das embalagens de agrotóxicos, mas as informações com
relação à regulamentação sobre destinação final de embalagens não parece ser bem
esclarecida.
4 Conclusões e recomendações
Pelas estradas do sul de Minas Gerais se vê muitos plantios de café, mas entrando nas
comunidades rurais do município de Coqueiral se nota que a qualidade de vida, como em todo
sul de Minas, diminuiu. Uma das causas ocorre em virtude da queda da fertilidade do solo,
assoreamento dos córregos e rios e erosão. Estes são fatores ligados ao uso indevido do solo e
às práticas de plantio depreciativas, que em conjunto com as atividades abióticas
potencializam a degradação e diminuem a produtividade e geração de renda.
A desigualdade social também está presente entre os moradores da APA. Há diferenças, no
que diz respeito a bens materiais como a infra-estrutura da casa, a posse de máquinas para a
roça e meios de transporte. Esta pesquisa não buscou identificar se os diferentes incentivos,
desde a educação até à falsa ilusão de que adquirir bens materiais é sinal de qualidade de vida,
dependem da classe social a que a família se inclui.
Segundo Américo Sommerman o sistema competitivo que move o mundo atualmente leva a
humanidade ao avanço tecnológico, gera muitas riquezas materiais, mas trás a tona uma perda
do sentido profundo da vida, responsável pela destruição da natureza do meio ambiente e pelo
grande sofrimento moral da sociedade, sendo uma das causas do grande número de males
psíquicos e físicos que se proliferam. Este contexto também atinge as zonas rurais e neste
caso a área da APA de Coqueiral. Durante as entrevistas foi notável a falta de interação entre
os vizinhos na comunidade de Capituvas, mesmo morando em casas próximas.
As recomendações partem diretamente dos relatos dos moradores sobre suas dificuldades e
suas demandas primordiais, como exemplo Seu Geraldo da comunidade do Ermo, o qual
mostrou a demanda de incentivo por parte da prefeitura para que os jovens permaneçam na
zona rural. Ele também espera vender sua horta em Coqueiral através de um caminhão da
prefeitura que passe em todas as casas que se interesse em fazer horta para vender e adquirir
uma renda a mais.
Em relação à água, enquanto uns desviam a água, que se torna cada vez mais escassa para
reaproveitamento na horta, outros poluem a única oportunidade que tem. Foram registradas
algumas reivindicações informais por um sistema simples de tratamento de esgoto,
principalmente para as comunidades onde as casas são próximas umas das outras. . Em uma
das estradas que saem do Ermo, mora Seu Tarcísio em uma área baixa de brejo que está
subindo devido à inundação. Está buscando uma maneira de drenar a água. Os outros
moradores ao redor deste brejo soltam o esgoto diretamente.
A qualidade das escolas também foi citada pelos entrevistados e a demanda apresentada é a
inclusão no mundo digital, através de aulas de computação. Foram evidenciados moradores
que buscam alternativas de renda, valorizando o saber local. É o caso de Dona Maria
Waldecir que na época da goiaba faz doces e vende na cidade. Em Capituvas mora Dona
Rosa, uma senhora artesã de 73 anos que trabalha desde a plantação do algodão até a
finalização das rendas no tear e também a família de Seu Nivaldo, que se dedica à fabricação
caseira de doces e queijos a partir do leite, buscando uma alternativa, agregando valor aos
seus produtos.
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