▼ Questão 57 — Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta! — Não entra! Não entra! repercutiu a multidão em coro. E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo. — Aguenta! Aguenta! Aluísio Azevedo, O cortiço, 1890, parte X. O fragmento acima mostra a resistência dos moradores de um cortiço à entrada de policiais no local. O romance de Aluísio Azevedo a) representa as transformações urbanas do Rio de Janeiro no período posterior à abolição da escravidão e o difícil convívio entre ex-escravos, imigrantes e poder público. b) defende a monarquia recém-derrubada e demonstra a dificuldade da República brasileira de manter a tranquilidade e a harmonia social após as lutas pela consolidação do novo regime. c) denuncia a falta de policiamento na então capital brasileira e atribui os problemas sociais existentes ao desprezo da elite paulista cafeicultora em relação ao Rio de Janeiro. d) valoriza as lutas sociais que se travavam nos morros e na periferia da então capital federal e as considera um exemplo para os demais setores explorados da população brasileira. e) apresenta a imigração como a principal origem dos males sociais por que o país passava, pois os novos empregados assalariados tiraram o trabalho dos escravos e os marginalizaram. Resolução O trecho, extraído do capítulo X, narra o momento em que a polícia, procurando entrar no cortiço de João Romão para apartar um violento corpo a corpo entre o português Jerônimo e o mulato Firmo, sofre resistência do proprietário e dos moradores. Infelizmente, a passagem não pode ser associada, com correção, a nenhuma das alternativas que a questão apresenta. Ambientada na última década do Segundo Reinado, a ação romanesca cita alguns dos principais atores sociais envolvidos nos últimos anos de vigência da escravidão negra, isto é, os cativos (Bertoleza, por exemplo) e os abolicionistas (a cena da condecoração de João Romão como membro honorário da Sociedade Abolicionista do Rio de Janeiro). Esses elementos tornam insustentável a alternativa a, segundo a qual o romance “representa as transformações urbanas do Rio de Janeiro no período posterior à abolição da escravidão”. A alternativa b afirma que a obra defende a Monarquia recém-derrubada, quando, na verdade, a ação do romance é anterior à proclamação da República. A alternativa c responsabiliza a “elite paulista cafeicultora”, que sequer aparece na obra, pelas mazelas sociais do Rio de Janeiro. Afirmar que a narrativa “valoriza as lutas sociais que se travavam nos morros”, como faz a alternativa d, é ignorar que o cortiço da ficção se localiza na baixada de Botafogo e que as casas populares da vida real avançaram maciçamente sobre o morro somente após o replanejamento urbano do prefeito Pereira Passos (1902-1906), portanto após a confecção da narrativa. Por fim, a alternativa e equivoca-se ao atribuir os males da imigração a uma suposta concorrência desleal com o trabalho escravo, e não ao arrivismo dos imigrantes, como ocorre na obra. Para que a alternativa a fosse considerada correta, a expressão “romance”, presente no enunciado da questão, deveria ser entendida apenas na acepção de “impressão” ou “edição”, já que O cortiço, publicado em 1890, dois anos depois da abolição da escravidão, poderia ser recebido como um comentário discursivo e político sobre o “difícil convívio entre ex-escravos, imigrantes e poder público”. Em nenhum momento, contudo, o vocábulo é assim definido; pelo contrário, a transcrição de um trecho do livro dá ao termo o sentido de “narrativa”. Parece que a Banca, lamentavelmente, confundiu análise de enunciado ficcional com análise de características da época. Sem resposta