Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] A SEMANA SANTA (Por Marcelo Rodolfo da Costa) Sabemos bem que durante a Semana Santa, a Igreja celebra os mistérios da reconciliação, realizados pelo Senhor Jesus nos últimos dias da sua vida, começando por sua entrada messiânica em Jerusalém.O tempo da Quaresma se prolonga até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao santo Tríduo Pascoal. O Tríduo Pascal tem início na quinta-feira santa, prossegue com a sexta da paixão, e chega ao ápice na Vigília Pascal terminando com as Vésperas do Domingo da Ressurreição. É importante recordar que "as ‘férias’ da Semana Santa, desde a Segunda até inclusive a Quinta-feira, têm preferência sobre qualquer outra celebração" e por tanto nestes dias não se deve administrar os sacramentos do Batismo e da Confirmação. É importante que nestes dias se ofereçam em todas as paróquias, capelas, colégios, hospitais e centros de evangelização, horários amplos para facilitar aos fiéis o acesso ao Sacramento da Reconciliação como preparação espiritual para acompanhar ao Senhor Jesus na entrega de Si mesmo por nós. É muito conveniente que o tempo da Quaresma termine com alguma celebração penitencial que sirva de preparação para uma participação mais plena no mistério pascoal. QUARTA FEIRA SANTA PROCISSÃO DO ENCONTRO NOSSO SENHOR DOS PASSOS E NOSSA SENHORA DAS DORES Dentro da Semana Santa, também chamada de “A Grande Semana”, em muitas paróquias, especialmente no interior, realiza-se a famosa “Procissão do Encontro” entre: o Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores. Os homens saem de uma Igreja com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e as mulheres saem de outra igreja com Nossa Senhora das Dores. Acontece então o doloroso encontro entre a Mãe e o Filho. O padre, então, proclama o célebre Sermão das Sete Palavras, que na verdade são sete frases: 1 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] 1. Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. (Lc 23,34 a); 2. Hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23,43); 3. Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe. (Jo 19,26-27); 4. Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?! (Mc 15,34); 5. Tenho sede. (Jo 19,28 b); 6. Tudo está consumado. (Jo 19,30 a); 7. Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. (Lc 23,46 b). O sacerdote, diante das imagens, faz uma reflexão com estas frases, chamando o povo à conversão e à penitência. O silêncio é grande, O TRÍDUO PASCAL DA PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO É o cume de todo o ano litúrgico. Assim como no corpo humano é o coração que irriga o sangue vital para todo o corpo, no ano litúrgico é o tríduo pascal que ocupa esta função. Ele é como o coração que bombeia vida para todo o ano. No interno do nosso ano litúrgico, a solenidade da páscoa tem o mesmo destaque que o domingo tem ao longo da semana. O motivo para tanta importância é muito simples: foi especialmente pelo mistério de sua páscoa que Cristo realizou a obra da redenção humana e a perfeita glorificação do Pai. QUINTA FEIRA SANTA - MISSA DO CRISMA (CATEDRAL) Na Quinta-feira Santa, óleo de oliva misturado com perfume (bálsamo) é consagrado pelo Bispo para ser usado nas celebrações do Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordenação.Sempre que houver celebração com óleo, deve estar à disposição do ministro uma jarra com água, bacia, sabonete e toalha para as mãos. Não se sabe com precisão, como e quando teve início a bênção conjunta dos três óleos litúrgicos. Fora de Roma, esta bênção acontecia em outros dias, como no Domingo de Ramos ou no Sábado de Aleluia. 2 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] O motivo de se fixar tal celebração na Quinta-feira Santa deve-se ao fato de ser este último dia em que se celebra a missa antes da Vigília Pascal. São abençoados os seguintes óleos: Óleo do Crisma - Uma mistura de óleo e bálsamo, significando plenitude do Espírito Santo, revelando que o cristão deve irradiar "o bom perfume de Cristo". É usado no sacramento da Confirmação (Crisma) quando o cristão é confirmado na graça e no dom do Espírito Santo, para viver como adulto na fé. Este óleo é usado também no sacramento do sacerdócio, para ungir os "escolhidos" que irão trabalhar no anúncio da Palavra de Deus, conduzindo o povo e santificando-o no ministério dos sacramentos. A cor que representa esse óleo é o branco ouro. Óleo dos Catecúmenos - Catecúmenos são os que se preparam para receber o Batismo, sejam adultos ou crianças, antes do rito da água. Este óleo significa a libertação do mal, a força de Deus que penetra no catecúmeno, o liberta e prepara para o nascimento pela água e pelo Espírito. Sua cor é vermelha. Óleo dos Enfermos - É usado no sacramento dos enfermos, conhecido erroneamente como "extrema-unção". Este óleo significa a força do Espírito de Deus para a provação da doença, para o fortalecimento da pessoa para enfrentar a dor e, inclusive a morte, se for da vontade de Deus. A cor é roxa. MISSA VESPERTINA Marca o início do nosso tríduo pascal. Com a missa vespertina da Ceia do Senhor, na qual nós recordamos a instituição da eucaristia e junto rendemos graças a Deus pela instituição do ministério sacerdotal e pelo mandato do serviço fraterno. Ainda sobre a noite da Quinta-Feira Santa, o primeiro dia do tríduo, é bom que saibamos alguns detalhes. Já vimos que naquela noite celebramos a instituição da Eucaristia, do ministério sacerdotal e do mandato do serviço fraterno. É característico desta noite, o gesto do lava-pés, sinal do amor do Cristo por nós, que se traduz em gestos concretos. Ao celebrar este mesmo gesto do Cristo, nós renovamos anualmente os nossos compromissos de sermos servos dos demais. Nesta noite canta-se o hino de louvor (glória que havia sido suspenso desde a quarta-feira de cinzas) e, enquanto cantamos, todos os instrumentos que também haviam sido suspensos desde o início 3 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] da quaresma, são tocados durante todo o canto. Mesmo os sinos, quando existirem, devem ser tocados durante o canto do glória. Depois deste canto, todos os instrumentos devem silenciar até o canto do glória da missa da vigília pascal, no Sábado Santo a noite. O silêncio tanto dos instrumentos como dos sinos querem ser sinal e expressão de humildade semelhante à humildade do Cristo que se humilha e se despoja até a morte na cruz. Não obstante, esta indicação de silêncio total, a Igreja permite e recomenda que se utilize algum instrumento modesto para acompanhar e sustentar o canto litúrgico. Logo depois da comunhão da missa da Quinta-Feira santa, os dons eucarísticos consagrados para a Sexta-Feira Santa (nunca a igreja celebra a eucaristia na Sexta-Feira Santa), são transladados para um altar lateral ou outra capela devidamente preparada, onde permanecerão para a adoração dos fiéis. Uma vez feita à transladação dos dons consagrados, o sacerdote presidente e seus ajudantes procedem a desnudação do altar. O altar que também é um dos símbolos do Cristo presente entre nós, é destituído de todo enfeite para que expresse o rebaixamento do Cristo que celebramos daquele momento em diante. Terminado isto tem início a adoração do Santíssimo que nesta noite tem características próprias: deve ser silenciosa. SEXTA FEIRA SANTA Durante à tarde aproximadamente às 15 horas, toda a Igreja celebra a paixão de Nosso Senhor. Desde que a igreja existe, este sempre foi o principal dia de jejum, penitência e luto pela morte do Senhor. Santo Irineu que viveu no terceiro século narra que no seu tempo este jejum durava 24 horas e que era um jejum absoluto, quando nenhum cristão comia nem bebia nada. Somente no quarto século a Igreja organizou uma liturgia própria para este dia. A celebração consistia na veneração da cruz e na escuta da narração da paixão. Somente mais tarde é que foi acrescentada a comunhão dos fiéis e então, a liturgia ficou com os três momentos que conhecemos: liturgia da palavra, veneração da cruz e comunhão dos fiéis. a) - A LITURGIA DA PALAVRA: a cerimônia tem início com a entrada silenciosa do celebrante e de seus ajudantes, os quais vão em procissão até o altar que está totalmente nu (símbolo do despojamento de Cristo) e ajoelham-se. Assim eles permanecem em oração por alguns minutos. Este 4 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] momento é chamado prostratio (do latim, que significa: prostração). Logo em seguida se procede a primeira leitura tirada do profeta Isaias: 52, 13- 53, 12. É o conhecido texto do canto do servo do Senhor, que os cristãos sempre leram como uma descrição profética da paixão do seu Senhor. Em seguida recita-se o Salmo 30 que exprime, ao mesmo tempo, a dor pelos sofrimentos de Cristo e a confiança em Deus que é sempre fiel. A segunda leitura é de Hebreus 4, 14-16: 5, 7-9: trata-se da exultação do grande sumo sacerdote (Cristo) que tornou-se a causa de salvação para todos os que lhe obedecem. O canto de aclamação é a própria citação de Filipenses 2, 8ss. Ele fala do mistério pascal de Cristo, da sua obediência até a morte de cruz e da sua exaltação. O Evangelho é de João 18, 1-19, 42: narra a paixão do Senhor. Depois de lido o evangelho, se for oportuno, recomenda-se ao sacerdote presidente da eucaristia que faça uma pequena homilia, mas sem prolongar-se muito, pois este é o dia de contemplar a paixão do Senhor. Terminada a pequena homilia, segue-se à grande oração universal, constituída de 10 orações com a mesma estrutura temática onde se reza: pela Igreja, pelo Papa, pelas várias ordens sacras, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos nossos irmãos Hebreus, pelos governantes, por todos os homens e suas necessidades e pela Salvação do mundo inteiro. b) - A ADORAÇÃO DA CRUZ: o sacerdote ou o diácono encontra-se no fundo da Igreja e, lá recebe a cruz toda coberta. Ele a conduzirá até o altar, parando ao longo do caminho por três vezes. Em cada parada o sacerdote descobrirá uma parte da cruz, dizendo ou cantando: eis o lenho da cruz, no qual foi pregado o Cristo Salvador do mundo; ao que a assembléia responderá: vinde adoremos e, permanecendo de joelhos, rezará em silêncio. Chegada ao altar, a cruz será segurada por dois ajudantes em um lugar de destaque, onde toda a assembléia possa vê-la. Neste momento começa então a adoração da cruz. Todo o presbitério presente, bem como os fiéis, dirigem-se em procissão até a cruz, ajoelham-se e beijam-na. Durante toda a procissão dos fiéis para a adoração e o beijo da cruz, executam-se cantos apropriados. c) - A COMUNHÃO DOS FIÉIS: terminada a adoração, o altar que estava descoberto desde o final da missa da ceia do Senhor, na quinta-feira, agora é coberto por uma toalha simples e sobre esta são colocados o corporal e o missal. Então, o Santíssimo Sacramento é trazido do local onde fora depositado depois da missa de quinta-feira e é colocado sobre o altar. Em silêncio, todos adoram o Senhor presente na Eucaristia. 5 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] Segue-se a oração do pai-nosso, a elevação da hóstia consagrada e em seguida, todos os fiéis comungam. Terminada a comunhão, observa-se um espaço de silêncio e em seguida o ministro sacerdotal reza duas orações: uma é a oração depois da comunhão, na qual rende-se graças à Deus pelo dom da vida nova que nos é doada através da morte e ressurreição do Senhor; a outra é a oração sobre o povo, através da qual o sacerdote pede consolação e perdão à todo o povo de Deus, o seu crescimento na fé e a redenção eterna. SÁBADO SANTO A vigília da noite da ressurreição é considerada por toda a Igreja como a mãe de todas as nossas vigílias. O ponto culminante do tríduo é a vigília pascal (celebrada na noite de sábado) Nesta noite a Igreja espera vigilante a ressurreição do seu Senhor, celebrando-a com seus sacramentos. Não há uma hora precisa para iniciar esta vigília, mas a Igreja pede que nunca ela seja iniciada antes do anoitecer de sábado; a não ser que os participantes da celebração sejam idosos e/ou doentes, que não tenham condições de participar da mesma durante a noite. Do mesmo modo que ela só deve começar depois do escurecer, também deve terminar antes do amanhecer do domingo. Tanto na sexta-feira santa como no sábado até a celebração da vigília pascal, a igreja recomenda que todos os seus filhos observem o jejum. A celebração da noite da páscoa: inicialmente não havia uma celebração litúrgica própria para este dia. Até a meia-noite do sábado era guardado luto pela morte de Cristo, que era acompanhado de um jejum completo. Somente depois disto, quando a igreja terminava de celebrar a Eucaristia e os batizados dos catecúmenos, é que o jejum e o luto se transformavam em total alegria. A liturgia desta noite, que foi sendo organizada aos poucos, hoje é constituída de quatro momentos: a) - RITO DAS LUZES OU DO FOGO: faz-se uma fogueira na frente da Igreja e toda a comunidade se reúne em torno dela. O celebrante e seus ajudantes devem dirigir-se para a fogueira, carregando consigo o círio pascal. Uma vez estando todos reunidos ali, procede-se a benção do fogo. Este rito está ligado ao antigo costume de acender o fogo através da fricção de duas pedras. 6 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] Os cristãos viram neste gesto, uma imagem do Cristo, a "pedra angular", que abatida pelos golpes da cruz, derramou sobre nós o fogo do Espírito Santo. O círio pascal aceso simboliza o Cristo que ressuscitou da noite das trevas da morte. Ele representa, portanto, o Cristo vivo no meio da comunidade reunida em seu nome. Na preparação do círio, o celebrante incide sobre ele uma cruz, enquanto diz: Cristo ontem e hoje, princípio e fim. Na parte superior da cruz incidida, o celebrante inscreve a primeira letra do alfabeto grego e na parte inferior, a última e diz: Alfa e Omega. Entre os braços da cruz, são traçadas as cifras do ano corrente, enquanto o sacerdote diz: a Ele o poder e a glória por todos os séculos, amém. Nas extremidades e no centro da cruz são colocados 5 grãos de incenso, devidamente colados em pregos. Enquanto estes são colocados sobre a cruz já traçada sobre o círio, o sacerdote diz: por meio de suas santas chagas (1), suas chagas gloriosas (2), nos proteja (3) e nos guarde (4) o Cristo Senhor, amém (5). Tendo feito isto, o sacerdote acende o círio e diz: a luz de Cristo que ressuscitou glorioso destrua as trevas do coração e do espírito. b) - A LITURGIA DA PALAVRA: no total deveriam ser proclamadas 9 leituras: duas do Novo Testamento e 7 do Antigo. Porém, de acordo com as condições dos fiéis que participam da celebração, estas leituras podem ser reduzidas até a duas. Quando isto tiver que ser feito, uma das duas leituras deverá ser sempre aquela que narra a passagem do mar vermelho, pois esta prefigura o mistério pascal de Cristo. Quando lemos todas as leituras normalmente, logo após a última leitura do Antigo Testamento, canta-se o glória e os sinos com todos os instrumentos musicais que tinham sido suspensos na quintafeira a noite, recomeçam a tocar novamente, proclamando a alegria pela ressurreição. Em seguida, são lidos: a Epístola e o Evangelho, que é precedido pelo canto do aleluia, que havia sido deixado lá no início da quaresma. c) - A LITURGIA DO BATISMO: desde os primeiros anos da Igreja, a noite da páscoa sempre foi o momento predileto para a celebração dos batizados. Portanto, se houverem batizados, celebram-se normalmente. Caso eles não existam, todos os cristãos renovam as promessas do batismo. Terminada a celebração dos batismos ou a renovação das promessas do batismo, procede-se à oração dos fiéis. d) - A LITURGIA EUCARÍSTICA: se algum adulto tiver sido batizado nesta celebração, ele deverá levar os dons eucarísticos para o altar. É um costume antigo da Igreja, utilizar a primeira oração 7 Instituto de Filosofia e Teologia João XXIII Av. São José, 921 – Centro São José dos Campos – SP CEP 12.209-621 [email protected] eucarística para esta celebração. Nela estão previstas orações especiais pelos neo-batizados. A celebração é concluída com a benção e a dupla aleluia. DOMINGO DE PÁSCOA Tudo neste dia nos fala do mistério pascal de Cristo: a primeira leitura é de Atos 10, 34-43, onde escutamos o testemunho de Pedro sobre o mistério pascal de Cristo. A segunda, é de Colosenses 3, 1-4 ou 1Coríntios 5, 6-8: ambas nos convidam a pensar nas conseqüências de termos participado da morte e ressurreição de Cristo. O Evangelho, é de João 20, 1-9 e narra a páscoa de Cristo. A Igreja recomenda que na homilia deste dia, os ministros acentuem a unidade do mistério salvífico da páscoa de Cristo; da sua paixão, morte e ressurreição como um todo único e nunca como momentos separados. Igualmente, é importante ressaltar o valor do tríduo pascal como o momento mais alto de todo o ano litúrgico. Finalmente, a celebração das segundas vésperas do domingo de páscoa conclui solenemente o sacro tríduo da páscoa do Senhor. FONTES CIC (Catecismo da Igreja Católica); Vivendo a Semana Santa; Uma Feliz e Santa Páscoa! 8