Relatório Técnico nº 99 642-205 – 330/384 10.2.8 Consolidação das informações obtidas com a remoção dos escombros As informações geológico-estruturais, os mapeamentos das cicatrizes de ruptura associadas às descontinuidades do maciço rochoso, os mapeamentos dos elementos estruturais do túnel durante a remoção dos escombros, os depoimentos de testemunhas e as análises dos resultados da instrumentação indicaram o que se segue: • Há uma estreita relação entre as direções das anomalias detectadas por meio de ensaios geofísicos de resistividade elétrica realizados para essa investigação com as direções verificadas nos mosaicos formados pelo concreto e pelo asfalto rompidos no colapso, destacando-se as direções paralelas e ortogonais à foliação, assim como as direções oblíquas à direção ortogonal à foliação. Esses lineamentos de superfície correspondem às estruturas que tiveram uma participação mais ativa na ruptura. Em resumo, pode-se afirmar que a forma final da cava foi condicionada pelas feições estruturais do maciço rochoso. • O mapeamento geológico-estrutural do maciço rochoso realizado durante a remoção dos escombros identificou descontinuidades cisalhadas ou tracionadas em função do colapso. As principais descontinuidades estruturais do maciço rochoso e que estão associadas às cicatrizes de ruptura mapeadas foram as seguintes: o Cicatrizes de ruptura paralelas à foliação (sub-longitudinais à escavação) no lado Abril, no lado Passarelli e na parede do Poço Capri no lado Passarelli. Relatório Técnico nº 99 642-205 – 331/384 o Cicatrizes de ruptura ortogonais à foliação (transversais à escavação), nas regiões das estacas: 7,0+80, 7,0+84, 7,0+95, 7,1+05, 7,1+10 a 7,1+15. • As principais evidências advindas do mapeamento dos escombros foram as seguintes: o Observou-se a existência de quatro grandes trechos com características distintas na região da cava, trechos 1 a 4, cada qual indicando uma tendência de movimentação distinta. Esses trechos estão compreendidos entre as estacas 7,0+84 a 7,0+91 (trecho 1, representado pela seção da estaca 7,0+87), estacas 7,0+91 a 7,1+00 (trecho 2, representado pela seção da estaca 7,0+98), estacas 7,1+00 a 7,1+10 (trecho 3, representado pela seção da estaca 7,1+04) e estaca 7,1+10 até o túnel remanescente (trecho 4, representado pela seção da estaca 7,1+13). o A posição final dos escombros indica que os primeiros componentes a ruir foram as paredes do rebaixo, sobre as quais se depositaram os demais elementos estruturais. Tal fato permite descartar a hipótese de ruptura da abóbada do túnel-estação, por sobrecarga decorrente de características geológicas não previstas. o Em boa parte das seções representativas analisadas, os segmentos das calotas que são formadas por quatro segmentos (1-2, 2-3, 3-4 e 4-5) romperam na posição das emendas. Em todas as seções analisadas, o segmento 2-3 foi encontrado deslocado para o lado Abril sugerindo uma tendência de movimento horizontal neste sentido. • Outro aspecto importante no conjunto das informações coletadas foi o depoimento do Sr. Pedro Prata que viu cerca de 6 a 8 cambotas, envolvidas em concreto, completamente tombadas no piso do túnel do lado Abril e que se localizava entre o portal e a região central do túnel. Essa descrição está bastante próxima do constatado durante a remoção dos escombros no lado Abril, no segundo trecho, compreendido entre as estacas 7,0+91 a 7,1+00 (Figura 10.59 e 10.60). Relatório Técnico nº 99 642-205 – 332/384 10.3 Mecanismo Provável de Ruptura Com base nos diversos levantamentos de campo e análises realizadas, apresentase a seguir o provável mecanismo de ruptura do túnel-estação sentido Faria Lima. As memórias de cálculo do CVA e as análises de verificação desta investigação, que constam dos Anexos J1 a J3, indicam que o carregamento sobre o arco estrutural da calota tendia para o carregamento geostático, dada a baixa cobertura do túnel, os sistemas de descontinuidades sub-verticais (longitudinal e ortogonal ao eixo do túnel) e a redistribuição de tensões induzida pela escavação de um poço de grandes dimensões. No entanto, a massa deslizante foi guiada pela direção predominante da foliação, o que impõe maiores esforços no sistema maciço-suporte na parede do lado Abril. Esse carregamento associado à concepção estrutural do túnel levou a zonas críticas de estabilidade durante a escavação do primeiro rebaixo, localizadas abaixo da sapata do arco da calota, ou seja, atrás da parede do rebaixo. A escavação do primeiro rebaixo, no sentido do final do túnel-estação para o poço, primeiramente expõe a parede do rebaixo do lado Passarelli a uma situação desfavorável, quando o feixe de descontinuidades longitudinais e sub-verticais do lado Passarelli interceptou a fundação do arco da calota (Figura 10.18). De acordo com a instrumentação isso ocorreu próximo da estaca 7,1+05 onde também ocorre uma descontinuidade ortogonal ao eixo do túnel (Figura 10.81). Isto ocorreu em meados de dezembro de 2006 e a partir daí todos os instrumentos acusaram mudança de padrão de comportamento. Isto pode ser justificado por ser esta região um ponto de fragilidade do sistema maciçosuporte e por conseqüência ocorre uma redistribuição de tensões, fazendo com que outros locais fiquem mais carregados e próximos ao seu limite de carga. Eventuais considerações sobre carga hidráulica atuante nessas descontinuidades são ainda mais desfavoráveis. Uma nova condição se apresentou quando a escavação chega a seu terço final onde ocorre a intersecção da descontinuidade longitudinal sub-vertical do lado Abril com a região do apoio do arco da calota, levando a uma situação crítica em termos de estabilidade que se torna insustentável na medida em que a escavação avança em direção ao poço, onde as condições de redistribuição de tensões para o sistema maciçosuporte são muito restritas. Nota-se que a instrumentação acusou um acréscimo de Relatório Técnico nº 99 642-205 – 333/384 deslocamentos maior entre as estacas 7,0+87 e a 7,0+97 no período imediatamente anterior ao colapso. Outro fator que pode ter contribuído para estes acréscimos de deslocamentos nessa região é a presença das descontinuidades ortogonais ao eixo do túnel e que estão apresentadas na Figura 10.18 (7,0+84 e 7,0+94). Vale lembrar que a seqüência de detonações que vinha sendo empregada, com o primeiro fogo nas bancadas laterais, tende a piorar as frágeis condições de estabilidade das paredes. Todas as condições requeridas para o processo de instabilidade estavam presentes, o qual poderia ocorrer a qualquer momento, provavelmente sendo iniciado por um processo de gatilho, que se traduz por um pequeno aumento dos esforços atuantes ou uma pequena redução da resistência. O provável gatilho do mecanismo do colapso deve estar no lado Abril, no maciço posicionado atrás da parede do rebaixo, potencializado por uma conjunção formada pelas descontinuidades sub-verticais, paralelas e ortogonais à direção da foliação, e eventualmente outras oblíquas, formando uma condição de cunha crítica que seria a primeira a iniciar o processo de ruptura. Tal hipótese é confirmada pelos resultados da instrumentação já citados, pelas informações obtidas na remoção dos escombros acima mencionadas e pelos depoimentos de observadores que presenciaram o início do colapso. Outro mecanismo possível e similar a este pode ter ocorrido do lado Passarelli, na região do entorno da estaca 7,1+05, trecho 3, e que também encontra respaldo nos resultados da instrumentação.