AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE FECUNDIDADE DA PNAD-84∗ Laura L. Rodriguez Wong ∗∗ NOTA PRELIMINAR O presente documento tem por objetivo avaliar as informações que permitem estimar a fecundidade através da PNAD-84. Com tal finalidade são utilizadas, além da citada pesquisa, outras diversas fontes disponíveis como elementos de referência, entre elas a PNAD-76, o Censo Demográfico de 80, o Registro Civil de 1980 e 1984 e a Pesquisa Nacional de Saúde, Mortalidade e Planejamento Familiar de 1986 (PNSMPF). A avaliação dos dados da PNAD-84 é feita, em primeiro lugar, tentando medir o aumento da parturição de alguns grupos de mulheres, desta forma embora o número médio de filhos tidos carregue informação de tempos passados - ao considerar o incremento na parturição, tal como se verá mais adiante, poder-se-á apreciar o comportamento da fecundidade no período mais recente. Em segundo lugar, é considerada a informação sobre os nascidos no último ano, esta sim, passível de comparação com os dados do Registro Civil, a mesma que é feita através de estimativas do nível e da estrutura etária da fecundidade. Os dados apresentados referem-se, em geral, ao Brasil como um todo e suas grandes regiões, e em alguns aspectos da avaliação, quando a fonte de referência é o Registro Civil, a ênfase maior é dada ao Estado de São Paulo pela maior cobertura que as estatísticas vitais possuem nesta área. Com a finalidade de reforçar a comparação é utilizada também informação sobre a Grande São Paulo, dada a representatividade que esta área tem no País como um todo.1 227 ∗ ∗∗ 1 Trabalho realizado com s colaboração de Deise Akiko Oushiro e que recebeu apoio financeiro do CNPq. SEADE. Em 1984 a PNAD captou 385.000 nascimentos para a Grande São Paulo, número superior ao do: Estado: do Nordeste, do Rio de Janeiro, Paraná etc. 1. A INFORMAÇAO SOBRE PARTURIÇÃO A Tabela 1 tem por finalidade fazer um acompanhamento aproximado do aumento do número médio de filhos em algumas coortes de mulheres em dois momentos no tempo. É aproximado porque se dispõe apenas de grupos etários qüinqüenais e as fontes utilizadas referem-se a intervalos de quatro anos calendários. Em todo caso, assume-se que o seguimento é válido uma vez que no segundo momento da comparação, embora os dados não estejam referidos exatamente ao mesmo grupo de mulheres, grande parte destes refere-se às mulheres da coorte definida no primeiro momento. Consideram-se em primeiro lugar - feita a ressalva - duas coortes de mulheres com idades 45-49 anos, grupo etário no qual se atinge a parturição final, em dois momentos (1976 e 1980). Estas coortes definiram um número médio de filhos de 5,57 e 5,29, respectivamente. Observa-se que quatro anos depois, quando grande parte destas mulheres passa ao grupo etário 50-54 anos essa parturição final permaneceu como era de se esperar, praticamente inalterada, isto é, em 1980 e 1984 a parturição para ambas coortes foi de 5,38 e 5,21. Houve, todavia, uma variação relativa negativa de 3,4% para a coorte observada entre 1976 e 1980 e de 1,5% para a coorte observada entre 1980 e 1984. A proximidade de valores é um indicador da coerência entre as fontes utilizadas para fazer o acompanhamento das coortes e o fato de obter um valor ligeiramente inferior no segundo momento condiz com o erro típico das mulheres mais velhas tenderem a esquecer o número médio de filhos tidos. Note-se, ainda, que, ao comparar os dados de 1980 e 1984, a diferença pode ser considerada irrelevante. No caso da coorte de 1976 a diminuição é notadamente maior para o Nordeste, região onde é plausível esperar uma maior deficiência na qualidade de informação. Ao mesmo tempo nas Regiões Norte e Centro-Oeste nota-se um aumento de 8,4%, fato que é explicado por que no segundo momento a fonte utilizada é o Censo Demográfico que, como se sabe, inclui a zona rural do Norte que não foi incluída na PNAD-76; considerando o diferencial urbano/rural da fecundidade, era de se esperar um valor maior. Nos outros casos - Sudeste e especificamente Rio de Janeiro e São Paulo - dado que a variação é inferior a 5%, dispensam-se comentários. A coorte de 1980 apresenta em 1984 variações menores ainda, quando consideradas as grandes regiões, o que permite sustentar - da mesma forma que no caso do total do País - a idéia de coerência entre estas duas fontes: Censo Demográfico e PNAD-84. Em segundo lugar, pode-se fazer também o seguimento a coortes de mulheres que não tenham concluído seu período reprodutivo. Baseando-se 228 no fato de que a fecundidade está diminuindo, que a queda acelerou-se depois de 1980 e de que provavelmente as mulheres mais velhas seriam as grandes responsáveis por tal aceleração, deve-se esperar que mulheres próximas ao fim desse período não mais tenham tido filhos entre 1980 e 1984. Com efeito, as mulheres que em 1980 tinham entre 40 e 44 anos, praticamente não aumentaram sua parturição: elas declararam ter em média 4,95 filhos; em 1984, quando a grande maioria tinha entre 45 e 49 anos a parturição declarada foi de 4,99, isto é, um acréscimo inferior a 1%. De qualquer maneira, como o Brasil vem experimentando um declínio acelerado da fecundidade desde 1970, este dado pode não contribuir muito na avaliação dos dados uma vez que a mesma tendência pode ser constatada com a PNAD-76 ao seguir a coorte imediatamente mais velha: naquela de 40-44 anos em 1976, o acréscimo na parturição declarado em 1980, embora maior, também é pequeno: da ordem de 2%. A aceleração da queda atribuída às mulheres mais velhas evidenciasse melhor se inclui dentro destas, aquelas que, durante o intervalo de observação, tinham ainda possibilidade de aumentar sua parturição. Assim, consideram-se as mulheres que em 1980 tinham entre 35 e 39 anos na mesma Tabela 1, comparando-as com a geração imediatamente anterior, ou seja, as mulheres que em 1976 tinham essa mesma idade. Observa-se, assim, que a parturição alcançada pelas mulheres de 35-39 anos no Brasil de 1980 (4,22) experimentou um acréscimo aproximado de 6% apenas, pois em 1984 as mulheres com 40-44 anos declararam uma parturição de 4,47. Isto é uma constância que foi relativamente homogênea em todo o País salvo na Região Norte e Centro-Oeste onde a inesperada diminuição deve-se mais uma vez à cobertura rural do Censo Demográfico. Este comportamento aparece mais coerente se observa a tendência que apresentou a coorte da mesma idade em 1976 (isto é, uma coorte mais velha): as mulheres com 35-39 anos em 1976 aumentam sua parturição em aproximadamente 10% ao chegar em 1980. E excetuando as Regiões Norte e Centro-Oeste, em geral a parturição cresce significativamente. Fato normal pela natureza cumulativa do indicador utilizado, mesmo em situações de queda gradual da fecundidade, e que não se registrou no período 80-84. É útil lembrar que ainda se tratando de uma queda brusca, no grupo de mulheres mais jovens, onde a fecundidade assume as maiores expressões, registrar-se-á um aumento notável na parturição. A Tabela 2 mostra para 198084 que o incremento está em torno de um filho nas idades 20-24 ou 25-29 independente do nível da fecundidade e da velocidade de queda da mesma. 229 Todavia, ao calcular o incremento anual da parturição, que seria o equivalente à taxa média anual do grupo etário, observa-se que este valor é semelhante ao obtido com o estimado a partir do dado sobre filhos nascidos no último ano informado pelas mesmas mulheres. Concluindo, o aumento mínimo da parturição registrado entre 1980 e 1984, nas idades próximas ao fim do período reprodutivo, ao mesmo tempo que fala em prol da qualidade do dado da PNAD-84 atestaria também a aceleração da queda e o papel determinante que as mulheres de 35 e mais anos tiverem nesta queda 2. A INFORMAÇÃO SOBRE OS FILHOS NASCIDOS VIVOS ANTERIOR NO ANO Uma informação fundamental para obter estimativas de fecundidade é o número de filhos nascidos vivos tidos pelas mulheres num período imediatamente anterior à data da coleta dos dados (período que usualmente é de um ano) e que serve para obter além do nível da fecundidade, sua estrutura ou padrão etário. No caso do Censo e da PNAD, estes indicadores são obtidos indiretamente através da data de nascimento do último filho tido nascido vivo e mediante a aplicação do conhecido método de Brass. Tal informação é adicionalmente ajustada à real idade da mãe que teve seus filhos durante o último ano, e que corresponde, em média, a 0,5 ano a menos que a idade declarada. Este tipo de estimativa é comparada a seguir com os dados obtidos diretamente do Registro Civil, a mesma comparação que é feita considerando em primeiro lugar o nível da fecundidade, através de algumas taxas específicas por idade e, em segundo lugar, a distribuição etária ou padrão. 2.1 As Taxas por Idade A avaliação das taxas neste item limita-se aos valores obtidos para o Estado de São Paulo e a Grande São Paulo, por ser nestas áreas em que a fonte de comparação, isto é, o Registro Civil, possui uma cobertura estimada superior a 90% e uma qualidade amplamente confiável. Os dados pertinentes estão na Tabela 3, que inclui os anos 1980, 1984 e 1983/86. A estimativa para a Taxa de Fecundidade Total (TFT) nas duas áreas consideradas è ligeiramente maior em 1980 se considerado o Registro Civil, sendo que a diferença é de 5% para o Estado e quase 9% na Grande São Paulo. Para 1984 as diferenças favorecem a PNAD, mas estas são desprezíveis (0,7 e 1,5%, respectivamente). 230 Deve ser lembrado a este respeito que para 1980 a aplicação do método de Brass foi feita numa situação atípica e conjuntural na qual a fecundidade parecia estar recuperando níveis perdidos com demasiada rapidez no período 1970-75. Daí que, em alguns casos, os quocientes da serie P1/F1 ficassem abaixo ou em torno de 1,0; indicando assim uma correção nula ou negativa. Já em 1984, a série P1/F1 teve um comportamento menos atípico, e concretamente P2/F2 mostrou níveis de correção de 1,10 para o Brasil, 1,11 para o total do Estado de São Paulo e 1,05 para sua Área Metropolitana. De qualquer forma, as considerações para 1980 não inviabilizam a informação sobre fecundidade no Censo, e complementarmente, ao obter para 1984 uma TFT mais próxima do Registro Civil, pode-se concluir mais uma vez que a PNAD-84 conseguiu reproduzir com a suficiente aproximação este aspecto da realidade brasileira, assumindo, claro está, o Registro Civil do Estado de São Paulo como ponto de referência. Com relação às taxas por idade, deve ser notado que estas não seguem uma tendência clara, para mais ou para menos, interessando, no entanto, ressaltar que entre as idades 20 a 29 - onde praticamente se define o nível da fecundidade - a variação está em torno de 5% apenas. De toda forma, o fato de corresponder à PNAD os valores menores, pode ser interpretado como uma omissão - embora pequena - da fecundidade. Por sua vez, ainda que o valor máximo não se localize no mesmo grupo etário (veja-se nos Gráficos 15 e 16 para o Estado de São Paulo e Grande São Paulo), esta pouca variação permitiria sustentar a idéia de semelhança entre o Registro Civil e a PNAD; aspecto que será considerado mais adiante. Em segundo lugar, nas idades mais avançadas, a PNAD-84 e a PNSMPF do período 1983/86, apresentam em geral valores maiores. Por ser pesquisas de campo, estas fontes teriam captado melhor este fenômeno, corrigindo, assim, a tendência das mulheres mais velhas a se omitirem no Registro Civil, comportamento que estaria presente mesmo em situações de boa cobertura, como no caso do Estado de São Paulo. 2.2 A Estrutura Etária Neste item, compara-se a estrutura etária obtida indiretamente, como já foi assinalado, pelo Censo Demográfico e pela PNAD-84 com os dados do Registro Civil, assumindo, como no caso anterior, que, nos casos em que as estatísticas vitais são razoavelmente completas, a informação sobre a estrutura etária será mais fidedigna neste último caso. Assim, através de algumas medidas resumo da distribuição etária para o total do País, grandes regiões e Estado de São Paulo apresentadas na Tabela 4, obtém-se uma primeira visão das semelhanças ou não, que possam existir nas diferentes fontes. 231 Ao considerar a idade média, nota-se que, em 1980, a diferença entre o obtido no Censo e o declarado no Registro Civil oscila em torno de um ano. Nas grandes regiões, a diferença é de pouco mais, sendo que a estrutura no Censo é sempre mais velha. A exceção é para o Sudeste, no qual, além de apontar uma idade média de 29 anos, este valor é ligeiramente maior no Registro Civil. A coincidência de valores neste caso, deve-se à inclusão do Estado de São Paulo nesta região, onde os valores da idade média diferem em apenas 0,16 anos. No caso da Grande São Paulo, cujo contingente de nascimentos é maior que o de muitos outros estados, o valor da idade média é o mesmo: 27,8 anos. Para 1984, as diferenças neste indicador são em geral menores (0,58 anos para o total do País), e igual que no caso anterior, a estrutura obtida indiretamente tende a ser mais velha, embora nunca mais do que 1 ano. As maiores coincidências localizam-se nas Regiões Norte, Sudeste e Sul. Há uma sutileza a salientar: a semelhança no caso da Região Norte deve ser atribuída ao tipo de cobertura urbana em cada fonte: exclusiva no caso da PNAD-84 e predominante no caso de Registro Civil. No caso do Sul e Sudeste, a coincidência deve-se à maior cobertura das estatísticas vitais tanto nas áreas rurais como urbanas para estas duas regiões. A maior semelhança - em termos de idade média - entre as fontes comparadas para 1984 parece sugerir que a PNAD esteve mais próxima do Registro Civil do que o esteve o Censo Demográfico em 1980. Em termo dos outros indicadores que aparecem na mesma Tabela 4, especificamente os menores valores para o desvio médio absoluto também parecem apontar nessa direção. 0 teste do X quadrado com 6 ou 3 graus de liberdade permite chegar à mesma conclusão. No entanto, ao comparar os valores do Estado de São Paulo, nota-se que é em 1980 que a estrutura etária se repete em ambas fontes: Censo e Registro Civil. Os indicadores são praticamente os mesmos e as diferenças são inexpressivas. A semelhança, tal como se ilustra na série de gráficos, é óbvia em 1980. Por sua vez, para 1984, embora a similitude seja menos aparente, é necessário acrescentar que as diferenças continuam sendo pequenas. Estas parecem irrelevantes para questionar a validade da PNAD-84. Observe-se que as diferenças entre as idades médias é de 0,38 anos para o Estado com um todo e 0,25 anos para a Grande São Paulo; os desvios padrão praticamente são iguais em ambas fontes; e, as diferenças médias absolutas inferiores a 10%. Em outras palavras, se o Registro Civil é fiel espelho da realidade, a PNAD-84 teria conseguido também se aproximar desta. Deve ser salientado ademais, que o fato de que a PNSMPF acusar valores similares na série de indicadores considerados (menos de 0,5 232 ano na idade média, um desvio médio inferior a 5% etc.) constituem forte evidência de que a realidade está, sem dúvida, contida nestas fontes. Uma observação em detalhe das estruturas etárias, apresentadas na série de gráficos e na - Tabela 5, permite ver na sua totalidade o comportamento e grau de semelhança já mencionados. De uma forma geral, pode-se constatar dois fenômenos: em primeiro lugar, no casos em que o Registro Civil tem a máxima cobertura - isto é, São Paulo e a Região Sudeste de certa forma - observa-se que o Censo de 1980 é o que mostra maior similitude. Já no caso da PNAD-84 a semelhança é menos óbvia, no entanto, a idéia de similitude permanece. Em segundo lugar, para o conjunto das regiões, ao comparar PNAD-84 e Registro Civil o que se constata é o comportamento típico das mulheres mais velhas a se omitir no Registro Civil, característica que já foi observada ao tratar das taxas por idades para o Estado de São Paulo, e que está presente também nas grandes regiões. Desta forma, confirmar-se-ia a afirmação de que a coleta indireta, no caso, a PNAD-84, teria captado de forma mais completa o perfil da fecundidade das mulheres mais velhas. 2.3 A Linearização das Curvas de Fecundidade Nos gráficos antes mencionados, as diferenças entre uma estrutura etária e outra acentuam-se, por se tratar de distribuições proporcionais. Assim, uma menor representatividade das mulheres jovens repercute num maior peso relativo das mulheres de idades mais avançadas. Com o propósito de contornar este aspecto e ao mesmo tempo optar por um mecanismo que explique e resuma melhor a comparação entre as fontes utilizadas, decidiu-se incluir, neste documento, outra alternativa de avaliação. Trata-se do uso da função de Gompertz, que permite transformar a curva polinomial da fecundidade numa expressão Iinear 2 : F(x) = (TFT) A (ExpB) (ExpX) Esta expressão é linearizada mediante um duplo logaritmo de forma tal a chegar a uma expressão do tipo: V(X) = Alfa + Beta(X) expressão que tem sido utilizada com alguma freqüência para observar a evolução da estrutura etária da fecundidade, e pode ser aplicada aqui para comparar as estruturas de várias fontes num mesmo período. 233 2 Para maiores detalhes, veja: CELADE: "Métodos para projecciones demográficas" San José, Costa Rica - 1984. Os valores de Alfa e Beta são obtidos de forma semelhante ao do Sistema Logito de Brass em que a estrutura etária definida como estándar - no caso a que servirá como referência para a comparação - assume os valores para Alfa = 0,0 e Beta = 1,0. Para facilitar a interpretação dos valores obtidos, deve-se considerar que: Valores de Alfa maiores que 0,0 associam-se a uma idade média da fecundidade menor do que na "estándar" e valores menores que 0,0 representam uma idade média maior. Valores de Beta maiores que 1,0 associam-se a uma maior concentração da estrutura do que na "estándar" e valores menores que 1,0 indicam uma menor concentração.3 Assim, atribuindo sempre á estrutura do Registro Civil os valores de Alfa = 0,0 e Beta = 1,0 pode-se medir a proximidade da estrutura obtida de outras fontes a esta. Na Tabela 6 apresentam-se os valores obtidos para 1980 e 1984. Assumindo que o Registro Civil, mesmo que vagarosamente, tende a uma maior cobertura e qualidade, o que se observa é que, em geral, os valores de Alfa e Beta tendem a se aproximar mais de 0,0 em 1984. Isto é, simplificando o raciocínio, a PNAD estaria mais próxima do Registro Civil do que o Censo esteve em 1980. Os valores mais semelhantes são para a Região Norte - pelos motivos expostos no item 2.2 - e as Regiões Sudeste e Sul. O mesmo raciocínio aplica-se aos valores de Beta: é em 1984 em que os valores mais se aproximam de 1,0. Quando considerado o Brasil, como um todo, os valores parecem indicar que se trata na verdade do mesmo fenômeno - ou em todo caso - de fenômenos muito similares. Isto permitiria afirmar, invertendo o papel das fontes na comparação, que, se a PNAD é uma pesquisa confiável - e os dados sobre parturição já o sugerem -, o Registro Civil, quando considerado como um todo, aos poucos vá se tornando também uma fonte confiável de investigação demográfica. Para o particular caso do Estado de São Paulo, tal como se constatou ao tratar das medidas de tendência central, a estrutura etária ficou mais bem retratada na ocasião do Censo Demográfica, no entanto também 234 3 A respeito do intervalo de variação destes parâmetros, interessa salientar que as variações ao comparar fecundidades extremas (como, por exemplo, níveis equivalentes a TFT =1,2vs. TFT =9,01 é possível obter valores de Alfa entre -0.5 e 1,4, aproximadamente, e valores de Beta entre 0,5 e 1.8. para 1984, os valores de Alfa e Beta, localizam-se muito próximos do Registro Civil, o que, mais uma vez, serve de argumento em prol da PNAD-84. 3. CONCLUSÕES As considerações vertidas ao longo do presente trabalho permitem colocar a maneira de resumo as seguintes conclusões: - As informações para estimar a fecundidade tanto do Censo de 1980 como da PNAD-84, mostram-se bastante coerentes entre si, especificamente ao comparar a informação sobre a parturição de um mesmo grupo de mulheres em dois momentos no tempo. - No que se refere à informação sobre fecundidade atual, ou mais recente, isto é, o número de filhos nascidos vivos no período anterior à pesquisa embora o Censo Demográfico mostre uma maior aderência, característica comprovada ao utilizar o Registro Civil de áreas de cobertura máxima na comparação - a PNAD mostrou-se também altamente confiável. - Em áreas onde o Registro Civil é mais completo, por isso mesmo melhor reflexo da realidade, a comparação com a PNAD constatou níveis e padrões praticamente idênticos: nesta última, subestima-se ligeiramente a fecundidade nos grupos onde as taxas alcançam sua máxima expressão e, por isso mesmo, tornando irrelevantes tais diferenças. Em contrapartida, esta pesquisa pareceria captar melhor a fecundidade das mulheres de idades mais avançadas. - Nessa comparação, tanto o teste do X quadrado como a linearização mediante a transformação de Gompertz, mostram diferenças estatisticamente insignificantes. Por extensão, pode-se concluir que no resto do País a PNAD84 teria conseguido, também, refletir a realidade. - Finalmente, conseqüência do anterior, se a informação sobre filhos nascidos vivos, fundamental para o estudo da fecundidade, é um dado confiável, é de se esperar que todos os dados sobre esta temática, coletados na PNAD-84 também o sejam. 235 236 TABELA 2 PARTURIÇÃO DAS MULHERES DOS GRUPOS ETÁRIOS 20-24, 25-29 E 30-34 NO CENSO DE 1980 E NA PNAD 1984 PARA ALGUMAS UNIDADES FEDERATIVAS DIFERENÇA NÚMERO MÉDIO DE FILHOS DAS MULHERES COM IDADE REGIÃO ABSOLUTA* RELATIVA ANUAL (*) (%) TAXA ESPECÍF DIFERENÇA ENTRE PARA A IDADE A TAXA ESPECÍF. 25-29 EM 1984 E O INCREMENTO ANUAL (%) 20-24 EM 1980 25-29 EM 1984 BRASI L 0,9022 1,8041 0,9019 99,97 0,2255 0,1788 20,70 Pernambuco 1,0258 2,2412 1,2154 118,48 0,3039 0,2473 18,61 Minas Gerais 0,7748 1,6382 0,8634 111,44 0,2159 0,1655 23,33 Rio de Janeiro 0,6837 1,3918 0,7081 103,57 0.17~0 0,1387 21,65 São Paulo 0,7572 1,5059 0,7487 98,88 0,1872 0,1599 14,57 Rio Grande do Sul 0,6703 1,3755 0,7052 105,21 0,1763 0,1339 24,05 DIFERENÇA NÚMERO MÉDIO DE FILHOS DAS MULHERES COM IDADE ABSOLUTA* REGIÃO RELATIVA ANUAL (*) (%) TAXA ESPECÍF DIFERENÇA ENTRE PARA A IDADE A TAXA ESPECÍF. 25-29 EM 1984 E O INCREMENTO ANUAL (%) 20-24 EM 1980 25-29 EM 1984 BRASIL 1,9835 2.758 0,7745 39,05 0,1936 0,1386 28,42 Pernambuco 2,3763 3,5425 1,1662 49,08 0,2916 0,1822 37,51 Minas Gerais 1,8606 2,6452 0,7846 42,17 0,1962 0,1256 35,97 Rio de Janeiro 1,4971 2,0708 0,5737 38,32 0,1434 0,1041 27,42 São Paulo 1,6376 2,3116 0,6740 41,16 0,1685 0,1049 37,74 Rio Grande do Sul 1,5011 2,1311 0,6300 41,97 0,1575 0,1109 29,59 Pressupondo um intervalo qüinqüenal FONTE: IBEGE, Censo Demogr3fico de 1980e PNAD-84. 237 TABELA 3 ESTADO DE SÃO PAULO E GRANDE SÃO PAULO, 1980 E 1984 TAXAS DE FECUNDIDADE POR IDADE SEGUNDO DIVERSAS FONTES GRUPO ETÁRIO ESTADO DE SÃO PAULO GRANDE SÃO PAULO 1980 REG. CIV. CENSO VAR. REG. CENSO VAR. REL. CIV. REL. 15-19 73.59 66,99 8,97 66,86 62,10 7,12 20-24 187.73 174,55 7,02 180,57 163,80 9,29 25-29 188.01 150,57 3,96 78720 169,40 9,57 30-34 129.80 725,59 3,24 131,66 120,60 8,40 35-39 71.69 70,27 2,06 70,85 64,50 8,96 40-44 25.35 25,18 0,67 23,14 27,60 6,66 45-49 4.54 3,85 75,20 3,95 3,40 13,92 TAXA DE 3.4 3.23 5.00 3.32 3.03 8.86 FECUNDIDADE TOTAL 1984 REG. CIV. PNAD VAR. REG. CENSO VAR. REL. CIV. REL. 15-19 75.45 66,30 10,95 66,54 59,40 10,73 20-24 164.49 157,70 4,73 160,15 154,70 3,40 25-29 151.43 159,90 -5,59 749,16 757,40 -5,52 30-34 100.56 104,90 -4,32 101,02 1120 -10,08 35-39 53.56 62,40 -15,64 53,89 62,90 -76,72 40-44 19.36 17,20 17,76 79,02 72,30 35,33 45-49 2.76 2,50 9,42 2,78 3,00 -7,91 TAXA DE 2.83 2.85 -0.71 2.76 2.80 -1.51 FECUNDIDADE TOTAL 19831986 REG. CIV. PNSMPF VAR. (*) REL. 15-19 73.44 72.10 1.82 20-24 161.16 158.00 1.96 25-29 147.9 158.00 -6.83 30-34 96.90 117.80 -21.57 35-39 52.02 63.90 -22.84 40-44 18.36 14.70 19.93 45-49 3.06 0.00 TAXA DE 2.76 2.92 -5.73 FECUNDIDADE TOTAL Nota: No caso do Censo e da PNAD as taxas foram obtidas através do método Brass, utilizando como fator de correção P2/F2 (*) Estimativas preliminares FONTE: IBGE, Censo demográfico de 1980, PNAD-84. BENFAM, PNSMPF-1986. 238 Tabela 4 BRASIL, GRANDES REGIÕES E ESTADO DE SÃO PAULO, 1980 E 1984INDICADORES DA ESTRUTURA ETÁRIA DA FECUNDIDADE IDADE MÉDIA Regiões REG.CIV. CENS0 DIFERENÇA (a) DESVIO ESTÁNDAR REG.CIV. CENSO VARIAÇAO RELATIVA DESVIO ABSOLUTO X QUADRADO (b) (c) (c) (d) 2,76 5,32 9,97 11,29 0,80 7,14 1980 BRASIL Norte 28,51 28,30 2935 29,41 0,84 1,11 6,96 6,95 7,11 7,32 Nordeste 29,14 30,24 1,10 6,92 728 520 71,41 7,16 Sudeste 29,09 28,82 27 6,88 6,83 0,73 3,28 0,70 Sul 28,14 29,41 7,27 6,87 7,32 6,55 5,88 0,33 Centro-Oeste 27,40 28,63 723 6,80 7,19 5,74 76,43 1,87 6,62 0,15 Est. de São Paulo 27,72 27,88 0,16 6,67 Grande São Paulo 27,82 27,82 0,00 6,52 Est. de São Paulo 27,12 27,56 7,92 0,03 0,05 0,00 4,93 0,74 0,59 1983/86 0,44 1984 BRASIL 27,62 28,20 0,58 6,59 6,93 5,16 8,39 Norte 28,12 27,87 25 7,11 7,06 0,70 5,71 24 Nordeste 28,27 29,06 0,79 6,68 7,16 7,19 15,99 2,17 Sudeste 27,64 27,90 26 6,59 6,73 2,12 75,33 2,77 Sul 27,44 27,67 0,23 6,67 6,59 720 7,17 0,71 Centro-Oeste 26,29 27,07 0,78 6,49 6,88 6,01 76,78 1,92 Est. de São Paulo 27,72 27,50 0,38 6,45 6,51 0,93 7,98 0,51 Grande São Paulo 27.35 27,60 0,25 6,58 6,37 3,19 8.05 0.42 (a) Em anos (b) Por Cem (c) Calculado para as idades 20 a 39 (d) Tendo como referência o Registro Civil FONTE ~. Tabela 5 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249