ISSN 2236-4420 263 Alterações no perfil proteico em sementes de Araucaria angustifolia durante a maturação e sua relação com a viabilidade Cristhyane Garcia1; Marília Shibata1; Cileide Maria Medeiros Coelho2; Francine Lunardi Farias Soares1; Miguel Pedro Guerra1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias – UFSC/CCA, Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais, Rodovia Admar Gonzaga, 1346, Bairro Itacorubi, CEP 88.034-001, Florianópolis, SC. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias – UDESC/CAV, Av. Luiz de Camões, 2090, Bairro Conta Dinheiro, CEP 88.520-000, Lages, SC. E-mail: [email protected] Resumo: Objetivou-se avaliar o teor de proteínas solúveis totais e as diferenças no perfil protéico nos tecidos de sementes de Araucaria angustifolia (Bert) O. Kuntze em dois estádios de maturação. A partir de uma amostra representativa da população obteve-se uma amostra de sementes para realizar o teste de germinação (25 °C) e outra amostra foi utilizada para separar o eixo embrionário, cotilédones e megagametófito. Determinou-se o grau de umidade e extraíram-se as proteínas solúveis em cada tecido da semente, a partir dos quais realizou-se eletroforese em dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) 12%. O grau de umidade das sementes no estádio I (início da fase de maturação - mês de abril) foi 12% superior em relação ao estádio IV (início da dispersão das sementes maduras - mês de julho). Em ambos os estádios, o eixo embrionário e os cotilédones apresentaram grau de umidade superior ao megagametófito. Já o teor de proteínas solúveis não diferiu entre os tecidos do eixo embrionário e cotilédones para as sementes em estádio I, mas esta diferença foi acentuada no estádio IV. O perfil das proteínas do eixo embrionário e cotilédones apresentou subunidades proteicas de em torno de 48 kDa, 30 kDa, 25 kDa e 6 kDa. Entretanto, no megagametófito do estádio I, apenas duas subunidades proteicas foram observadas (25 kDa). Apesar de ocorrer um decréscimo no grau de umidade da semente ao longo da maturação, houve incremento no teor de proteínas solúveis do embrião, particularmente no tecido do eixo embrionário. Conclui-se que o decréscimo no teor de água não foi limitante para o acúmulo de proteínas durante a maturação; tais alterações não refletiram na viabilidade das sementes de A. angustifolia. Palavras chave: pinheiro brasileiro, maturidade fisiológica, germinação, SDS-PAGE. Changes in the protein profile of Araucaria angustifolia seeds during maturation and its relationship with viability Abstract: The aim of this study was to evaluate the total soluble protein content and differences in the protein profile in the tissues of Araucaria angustifolia seeds in two maturation stages. Seeds for the germination test (25 °C) and for the separation of the embryonic axes, c otyledons and megagametophyte were obtained from a representative population. From each tissue, soluble proteins were extracted and the moisture content was determined. The electrophoresis was performed on sodium dodecyl sulfate (SDS-PAGE) 12%. The seed moisture content in stage I (early phase of maturation – month of April) was 12% higher than in stage IV (early dispersal of mature seeds – month of July). In both stages, embryonic axes and cotyledons showed higher moisture content than the megagametophyte. The soluble protein content did not differ among embryonic axes and cotyledon tissues in stage I seeds, but a significant difference was observed in the stage IV. The protein profile from embryonic axes and cotyledons showed protein subunits around 48 kDa, 30 kDa, 25 kDa and 6 kDa. However, only two protein subunits were detected (25 kDa) in stage I megagametophyte. Despite the decrease in seed moisture content during seed maturation, the embryo protein content increased, mainly in the embryonic axes tissue. The results indicate that the decrease in water content did not limit protein accumulation during maturation and did not affect the viability of A. angustifolia seeds. Key words: brazilian pine, physiological maturity, germination, SDS-PAGE. Magistra, Cruz das Almas-BA, v. 24, n. 4, p. 263-270, out./nov. 2012. 264 Garcia et al. Introdução A espécie Araucaria angustifolia (Bert) O. Ktze. é a única do gênero com ocorrência natural no Brasil. Ao longo de décadas, esta conífera da Mata Atlântica representou a principal fonte de madeira (Astarita e Guerra, 1998), cuja intensa exploração a tornou criticamente ameaçada de extinção (Farjon, 2006). As sementes da espécie são recalcitrantes e sensíveis à dessecação (Tompsett, 1984; Farrant et al., 1989; Panza et al., 2002), o que dificulta sua utilização em programas de restauração ambiental. Aspectos da maturação das sementes têm sido alvo de investigação, pois os pesquisadores reconhecem que tal conhecimento é fundamental quando se procura obter um material de melhor qualidade (Terra et al., 2010). As proteínas de reserva têm sido consideradas marcadores do processo de maturação em embriões zigóticos de gimnospermas e angiospermas (Dunstan et al., 1998). Além de serem importantes fontes de carbono, as proteínas são os únicos compostos de reserva em sementes que possuem o nitrogênio em sua composição (Buckeridge et al., 2004a), e fornecem os aminoácidos, cujos usos são essenciais aos processos de germinação e desenvolvimento da plântula a partir do crescimento embrionário (Shewry et al., 1995; Buckeridge et al., 2004b). Algumas alterações celulares durante o crescimento, o desenvolvimento e em resposta aos fatores ambientais podem ser compreendidas através da expressão de proteínas envolvidas na bioquímica celular (Chen e Harmon, 2006; Franco et al., 2009). Entender a atuação de proteínas e genes associados ao desenvolvimento da semente pode contribuir para o aprimoramento de técnicas de propagação e conservação de germoplasma (Zhen et al., 2012). Na área de ciência em sementes a pesquisa sobre tais técnicas associadas aos mecanismos moleculares tem sido estimulada (Miller et al., 2010). Além disso, estudos sobre o processo de maturação de sementes recalcitrantes podem permitir uma melhor compreensão das alterações estruturais e funcionais envolvidas no desenvolvimento do embrião zigótico (Santos et al., 2006). O uso de técnicas de microscopia pode auxiliar na identificação e localização de proteínas nos tecidos de embriões e megagametófito de sementes de A. angustifolia (Panza et al., 2002). Nas coníferas, tanto embriões somáticos quanto embriões zigóticos acumulam proteínas de reserva em abundância durante a fase de maturação dos embriões (Hakman, 1993). Apesar de sua importância, as informações sobre a mobilização de proteínas de reserva em sementes de gimnospermas ainda são escassas (Capocchi et al., 2011). Os poucos trabalhos visando identificar e avaliar as alterações na expressão de proteínas durante o desenvolvimento das sementes de A. angustifolia, em geral, investigaram o padrão eletroforético durante o desenvolvimento do embrião zigótico (Santos et al., 2006; Silveira et al., 2008; Balbuena et al., 2009), mas pouco foi descrito até o momento sobre as mudanças no perfil proteico durante a fase de acúmulo de reservas na semente. Assim, esta pesquisa foi realizada buscandose avaliar o teor de proteínas solúveis totais e as diferenças no perfil proteico do eixo embrionário, cotilédones e megagametófito de sementes de A. angustifolia em dois estádios da maturação, buscando-se obter informações sobre o padrão de alocação das proteínas e sua relação com a viabilidade das sementes. Material e Métodos Para os experimentos, foram utilizadas sementes coletadas em dois estádios de maturação, provenientes da região do planalto sul de Santa Catarina, altitude média de 950 m, onde o clima é o subtropical temperado (temperatura média de 14 C), constantemente úmido (UR média de 82%), e os solos são, predominantemente, derivados de rochas ácidas e básicas (Epagri, 1999). Pinhas de A. angustifolia foram coletadas nos meses de abril e julho e as sementes foram classificadas em estádios I (104 dias do ano e 19 meses após a polinização) e IV (183 dias do ano e 22 meses após a polinização) de maturação conforme, Shibata et al. (2012). Optouse por utilizar sementes coletadas nas fases inicial (estádio I) e final da maturação (estádio IV), diferenciadas em função de seu grau de umidade, a fim de que as condições mais contrastantes fossem avaliadas. Após o beneficiamento, as sementes foram subdivididas em quatro repetições. Algumas sementes foram mantidas íntegras para a realização dos testes de umidade e germinação; as demais sementes tiveram seus eixos embrionários, cotilédones e megagametófitos isolados. Determinou-se o grau de umidade das sementes inteiras a partir de duas repetições de três sementes cortadas transversalmente. E para os diferentes tecidos da semente, foram utilizadas duas repetições contendo 10 amostras de cada tecido Magistra, Cruz das Almas-BA, v. 24, n. 4, p. 263-270, out./nov. 2012. 265 Garcia et al. (eixos embrionários, cotilédones e megagametófito). Determinou-se o peso das amostras e transferiu-as à o estufa a 105 ºC±3 C, por 24 horas (BRASIL, 2009). O teste de germinação foi conduzido utilizando-se quatro repetições de 25 sementes, acondicionadas em bandejas plásticas com substrato areia, previamente esterilizada, sob luminosidade o constante e temperatura de 25 C, em câmara germinativa tipo BOD. Previamente ao teste, as sementes foram tratadas com solução de hipoclorito de sódio (2%, v/v), por 3 minutos. As avaliações de porcentagens de plântulas normais foram realizadas 70 dias após o início do teste de germinação. A extração das proteínas solúveis totais foi realizada através da metodologia descrita por Steiner (2005), com adaptações (Farias et al., 2011), em que 100 mg de massa fresca de eixos embrionários, cotilédones e megagametófitos, por repetição, foram macerados com auxílio de nitrogênio líquido e extraídos com tampão fosfato de sódio dibásico (20 mM) pH 7,5, EDTA (1 mM), NaCl (50 mM), glicerol (10% v/v), PMSF (1 mM) e β-mercaptoetanol (1,5% v/v). Os teores de proteínas solúveis totais das amostras foram quantificados espectrofotometricamente pelo método de Bradford (1976), utilizando albumina de soro bovino como padrão 2 (BSA 0 – 800 µg/mL, R = 0,9845, y= 0,0005x + 0,0171). Para as análises eletroforéticas, 20 µg de proteína de cada amostra foram submetidas a eletroforese em gel de poliacrilamida SDS-PAGE 12% (Laemmli ,1970), a 100 V por 2 horas em cuba Mini-Protean II electrophoresis cell II (Bio-Rad Laboratories, Hercules, CA, USA). Posteriormente, os géis foram corados com azul de coomassie 0,1%, conforme Alfenas (1998) por 12 horas e descorados com solução de ácido acético 10%, metanol 45% e água destilada 45%. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado. Os dados obtidos em porcentagem foram transformados em arco seno √x/100. Realizou-se análise de variância e teste de Tukey para separação de médias, a 5% de probabilidade, através do programa estatístico SAS (2003). A análise dos resultados obtidos pela eletroforese de proteínas foi qualitativa, buscando-se avaliar, visualmente, a presença e intensidade das bandas. Resultados e Discussão A análise do grau de umidade possibilitou diferenciar os estádios de maturação das sementes provenientes das duas épocas de coleta. As sementes no estádio I apresentaram maior grau de umidade (58%) em relação ao estádio IV (46%) (Figura 1). Observou-se que um maior percentual de água foi mantido nos tecidos do eixo embrionário e dos cotilédones, enquanto que o inverso foi observado no megagametófito para os dois estádios de maturação (Figura 1). Portanto, este tecido foi o que mais contribuiu para que houvesse redução no grau de umidade das sementes íntegras ao longo do período de maturação. Figura 1 - Grau de umidade de sementes de Araucaria angustifolia nos estádios I e IV, nos tecidos: eixo embrionário, cotilédones e megagametófito. As letras referem-se ao teste de Tukey (P<0,05), sendo: maiúsculas – comparação entre os diferentes tecidos; minúsculas – comparação entre estádios de maturação. Magistra, Cruz das Almas-BA, v. 24, n. 4, p. 263-270, out./nov. 2012. Garcia et al. 266 Estabelecer uma relação entre as variações de entanto, Fernandez (2002), também estudando umidade com o percentual de germinação é sementes maduras desta espécie, encontrou importante, especialmente para sementes maiores teores no megagametófito (24 mg) do que recalcitrantes, pois pequenas alterações no grau de no embrião (17,69 mg). Os resultados observados umidade podem representar danos à viabilidade das quanto ao teor de proteína apresentaram relação sementes. Com base nesta afirmação realizou-se o positiva com aqueles do trabalho de Balbuena et al. teste de germinação e observou-se que no estádio I, (2009) para o perfil proteico em 2-DE, o qual permitiu 84% das sementes estavam viáveis enquanto que no detectar um maior teor de proteínas nos embriões estádio IV, houve um acréscimo para 91%, porém em relação ao megagametófito, mesmo em estádios este aumento não foi significativo (Figura 2). Com anteriores à maturação no desenvolvimento das sementes de A. angustifolia. isso, nota-se que a redução no grau de umidade não foi limitante para alterar a viabilidade das sementes. Em trabalho realizado por Eira et al. (1994), foi verificado que houve perda total da viabilidade das sementes desta espécie, ao atingirem umidade em torno de 38%, sendo este considerado nível letal para as sementes. Em sementes de Archontophoenix alexandrae, espécie que também possui comportamento recalcitrante, não houve decréscimo na porcentagem de germinação das sementes com a redução de 47,5% para 35,4% em seu grau de umidade (Martins et al., 2003). Em sementes de Inga vera, a redução no grau de umidade de 76,8% para 55,4% não alterou a taxa de germinação (Bonjovani e Barbedo, 2008). Mas uma redução moderada no grau de umidade em Figura 2 - Porcentagem de germinação de sementes de Araucaria angustifolia nos estádios I e IV de sementes florestais recalcitrantes de Magnolia ovata maturação. As letras referem-se ao teste de foi acompanhada de um pequeno acréscimo na Tukey (P<0,05). germinação, atribuída à possível continuação do processo de maturação, mesmo após a coleta das sementes (José et al., 2011). Como não foram observadas diferenças na viabilidade das sementes, buscou-se verificar mais detalhadamente como ocorrem as alterações bioquímicas com base na quantificação e visualização do perfil proteico. O teor de proteínas solúveis totais nas sementes de A. angustifolia diferiu entre os tecidos das sementes analisadas, no estádio I observou-se maior acúmulo no eixo -1 embrionário (12,39 mg.g ) e nos cotilédones (13,76 -1 mg.g ), entretanto no estádio IV, apenas o eixo embrionário apresentou maiores teores do que os -1 demais tecidos com 22,06 mg g (Figura 3). Silveira et al. (2008), em estudo sobre o -1 Figura 3 - Teor de proteínas solúveis (mg.g mf) de eixos conteúdo de proteína durante o desenvolvimento de embrionários, cotilédones e megagametófitos sementes de A. angustifolia nos tecidos do eixo de sementes de Araucaria angustifolia nos embrionário e megagametófito, obtiveram valores estádios I e IV. As letras referem-se ao teste -1 semelhantes entre 18 e 27 mg g em sementes de Tukey (P<0,05), sendo: maiúsculas – coletadas no mês de março, classificadas em estádio comparação entre os diferentes tecidos; maduro. Os resultados observados também estão minúsculas – comparação entre estádios de em similaridade com o relatado por Astarita et al. maturação. (2003), onde os cotilédones e eixos embrionários de A. angustifolia apresentaram maiores concentrações de proteínas solúveis do que o megagametófito. No Magistra, Cruz das Almas-BA, v. 24, n. 4, p. 263-270, out./nov. 2012. Garcia et al. A semente de A. angustifolia tem como principal reserva o amido (Tompsett, 1984), o qual é armazenado no megagametófito, tipicamente o órgão com função de reserva em sementes da espécie. Apesar disso, o embrião maduro de A. angustifolia apresentou elevado teor de proteínas. Isto pode ser explicado pela presença de vacúolos de proteínas de reserva em eixos embrionários e cotilédones de A. angustifolia (Panza et al., 2002). Através de análises histoquímica e ultraestrutural em sementes maduras, além da presença de vacúolos proteicos, tais autores também observaram corpos proteicos no megagametófito, tecido constituído principalmente por amido. Além disso, há grande quantidade de proteína em todo o citoplasma celular em embriões zigóticos de A. angustifolia durante a maturação, inclusive nas regiões meristemáticas (Rogge-Renner et al., 2012). Em relação ao perfil geral de proteínas nos diferentes tecidos das sementes, foram visualizadas três bandas principais com, aproximadamente, 48 kDa, 30 kDa e 25 kDa, exceto no megagametófito do estádio I, onde diferenças acentuadas ocorreram em função da ausência das bandas em torno de 48 kDa e 30 kDa e menor intensidade nas proteínas de, aproximadamente, 25 kDa (Figura 4). Tais resultados assemelham-se com algumas proteínas visualizadas 267 por Fernandez (2002) no megagametófito e no embrião de sementes de A. angustifolia, onde as bandas mais intensas tinham em torno de 28 kDa, 20 kDa, 21 kDa e 13-12 kDa, enquanto que no megagametófito de sementes de Araucaria bidwillii, as quatro bandas principais possuem cerca de 21 kDa, 20,7 kDa , 7 kDa e 4 kDa (Capocchi et al, 2011). Em relação aos diferentes estádios de maturação, a intensidade das bandas foi maior no estádio IV, com destaque para as bandas em torno de 30 kDa, 25 kDa e 6 kDa. Este fato é esperado, pois as proteínas são consideradas marcadores da maturação dos embriões zigóticos, e seus acúmulos ocorrem principalmente no final do desenvolvimento das sementes. Além disso, a síntese de proteínas foi intensificada, possivelmente para dar início ao crescimento do eixo embrionário e, consequentemente, à protrusão da radícula, já que as proteínas podem ser reguladas pós-tradução. Acredita-se que as sementes com comportamento recalcitrante continuam seu processo de desenvolvimento em direção à germinação, de forma mais rápida a partir do momento em que as sementes se desligam fisiologicamente da planta matriz (Marcos Filho, 2005). Figura 4 - Perfil eletroforético de proteínas do eixo embrionário (EE), cotilédone (C) e megagametófito (M) de Araucaria angustifolia nos estádios I (104 dias do ano e 19 meses após a polinização) e IV (183 dias do ano e 22 meses após a polinização) de maturação. P – Padrão de peso molecular (kDa). As setas indicam a ausência de bandas (48 e 30 kDa) e redução da intensidade de bandas (25 kDa) no megagametófito no estádio I, e aumento na intensidade de bandas no estádio IV (48, 30, 25 e 6 kDa). Magistra, Cruz das Almas-BA, v. 24, n. 4, p. 263-270, out./nov. 2012. Garcia et al. Apesar da alteração do perfil proteico do estádio I para o IV de maturação, este resultado não apresentou relação com o percentual de germinação, o qual manteve-se em 90%. Sabe-se que a redução na qualidade fisiológica das sementes está relacionada a alterações bioquímicas que conduzem ao comprometimento de suas atividades metabólicas (Tunes et al., 2009). Conforme os resultados observados entre os estádios de maturação I e IV, as alterações bioquímicas verificadas no teor e perfil das proteínas não foram suficientes para comprometer a qualidade fisiológica destas sementes. Apesar da viabilidade das sementes ao longo do processo de maturação não sofrer alterações, algumas proteínas sintetizadas tardiamente durante esta fase podem favorecer o desenvolvimento inicial das plântulas e posterior estabelecimento a campo. Experimentos que avaliem o perfil proteico durante e após a germinação e estabelecimento a campo poderiam elucidar estas questões. A variação constatada nos diferentes tecidos de sementes de A. angustifolia nos dois estádios de maturação demonstrou que há necessidade de um maior aprofundamento de estudos relacionados às alterações bioquímicas associadas às fisiológicas. Além disso, a relação de tais processos metabólicos com a longevidade e a deterioração das sementes deve ser investigada, uma vez que as sementes de A. angustifolia perdem rapidamente sua viabilidade, dificultando a conservação desta espécie. Conclusões O decréscimo no grau de umidade da semente do estádio I para o IV não é limitante para o acúmulo de proteínas na semente de A. angustifolia, sugerindo uma continuidade na síntese proteica nos eixos, cotilédones e megagametófito após o início da maturação, uma vez que o perfil proteico do estádio IV apresentou bandas com maior intensidade nos três tecidos. A viabilidade das sementes não é modificada pela alteração do perfil proteico e pelo teor de água nos estádios I e IV da maturação das sementes de A. angustifolia. Referências 268 associated with seed development in Araucaria augustifolia. Biologia Plantarum, v. 47, p. 53–59, 2003. ASTARITA, L.V.; GUERRA, M.P. Early somatic embryogenesis in Araucaria angustifolia – induction and maintenance of embryonal-suspensor mass culture. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 10, p. 113-118, 1998. ALFENAS, A. C. Eletroforese de isoenzimas e proteínas afins: fundamentos e aplicações em plantas e microrganismos. 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