Educação física e aprendizagem: o prazer do aprendizado fora das quatro paredes
1. Marcio Rogério Martins 2. Maysa Alahmar Bianchin
fevereiro/2007
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Resumo: A Educação Física atual, por não querer tratar de tudo, especializou-se no seu objetivo de
estudo, o movimento humano. No entender dos estudiosos esse movimento não acontece sozinho,
toda ação tem uma intenção, seja ela expressa ou funcional, e sempre determinada pela sua
dimensão cultural. O jogo, o esporte, a dança, o trabalho, qualquer gesto é sempre sustentado por
significado. Com toda essa intenção, busca-se uma nova visão para as aulas, onde as ações
cognitivas, afetivas, sociais e motoras possam proporcionar ao nosso aluno uma situação onde as
crianças se vejam obrigadas a pensar e planejar a sua movimentação, vivenciando cada movimento
não só com músculos e tendões.
Devemos ter claro então que a Educação Física é muito mais abrangente, e de extrema importância
para o desenvolvimento da criança na fase escolar e esquecer um pouco a Educação Física voltada
para o ensino do esporte, percebendo, erroneamente, como isto, não corresponde às necessidades da
criança nesta fase de seu desenvolvimento. Contudo não estamos dizendo que o ensino do esporte
não tenha a sua importância, mas não dentro das aulas de Educação Física escolar. Assim pode-se
vislumbrar uma prática escolar despida de preconceitos em relação ao comportamento corporal dos
alunos, oferecendo a todos o direito de uma educação motora. Resgatamos então a educação física
escolar nas raízes e verificamos que ela tem uma importância muito maior do que imaginávamos.
Devemos então através deste trabalho demonstrar os benefícios que essa educação pode efetuar em
todas as áreas do conhecimento.
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Palavras-chave: Educação Física escolar. Desenvolvimento. Educação motora. Movimento humano.
Esporte.
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Abstract: The current physical education, for not wanting to treat of everything, specialized in his/
her study objective, the human movement. In understanding of the specialists that movement it
doesn't happen alone, all action has an intention, be she expresses or functional, and always certain
for his/her cultural dimension: the garoe, the sport, the dance, the work, any gesture and always
sustained by meaning. With alI that intention, a new vision is looked for for the classes, where the
actions cognitive, affectionate, social and motive can provi de to our student a situation where the
children see each other forced the to think and to plan his/her movement, living each movement not
only with muscles and tendons.
We should have egg white then that the Physical education is much including, and of extreme
importance for the child's development in the school phase and to forget a little the physical
education gone back to the teaching of the sport, noticing, erroneously, as this, it doesn't correspond
to the child's needs in this phase of his/her development. However we are not saying that the
teaching ortlw sport doesn't have his/her importance, but no inside of the classes of school physical
education. It can be glimpsed like this a taken off school practice of prejudices in relationship with
the students' corporal behavior, offering to all the right of a motive education. We rescued the
school physical education then in the roots and we verified that she has a very larger importance of
the than we imagined. We owed then through this work to demonstrate the benefits that that
education can make in all ofilie areas ofthe knowledge.
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Key-word: School physical education. Development. Motive education. I move human Sport.
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Introdução:
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Nas últimas duas décadas a Educação Física tem procurado fazer uma ampla reflexão de sua própria
identidade, abrangendo discussões como conceitos, paradigma, metodologia, identidade acadêmica,
pesquisa, objeto de estudo, preparação e atuação profissional. Inicia-se então, no final da década de
80, uma considerável mudança na Educação Física tanto no que dizia respeito à natureza da área
quanto aos seus objetivos, conteúdos, pressupostos pedagógicos e metodológicos.
Oliveira (1981), assim como Medina (1983) discutiam sobre a importância de se questionar
criticamente os valores que vinham sendo dados à Educação Física, contrapondo-se à visão
fragmentada do comportamento humano, à mecanização e automatização dos movimentos, o
modelo tecnicista de ensino, defendendo o humanismo não diretivo, uma sociedade mais justa e
igualitária o que passou a ser o princípio norteador da Educação Física.
Freire (1989 e 1991) discute em seus trabalhos a preocupação com o excesso de racionalismo da
educação e da Educação Física, enfoca o respeito à cultura e a individualidade da criança, o
estímulo à criatividade e a liberdade individual. "Corpo e mente devem ser entendidos como
componentes que integram um único organismo".
Contudo nossa cultura não guarda mais esses valores, iniciou-se um novo tempo onde a educação
pelo movimento caminha compreendendo não somente os aspectos motores, mas também o
desenvolvimento das relações afetivas e cognitivas, proporcionando aos alunos o desenvolvimento
do pensar, sentir e o agir.
Entretanto, de onde saiu essa idéia?
Segundo Piaget “as raízes do raciocínio lógico terão que se basear na coordenação das
ações a partir do nível sensório-motor, cujos esquemas tem importância fundamental desde o inicio”
(1983, p. 72).
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Nesta fala, o autor indica alguns aspectos fundamentais para a compreensão da importância da ação
como meio de construir o conhecimento. Desta forma coloca-se em cheque toda ação pedagógica
centrada especificamente na cognição, onde ao longo do tempo a escola deixava o corpo de fora da
sala de aula, sendo a sala local exclusivo para o raciocínio. Assim a Educação Física deverá atuar
juntamente com outras disciplinas, garantindo que, de fato as ações físicas possam ser estruturadas
adequadamente proporcionando um desenvolvimento global na criança.
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Nesta perspectiva, entendemos que o contexto educacional seja um caminho fundamental rumo a
este processo de uma educação global, que parte a princípio de um conhecimento prévio a um
desenvolvimento deste conhecimento que irá se estruturar com o passar do tempo. Pois antes
mesmo de aprender a ler e a escrever, a criança já se comunica por meio de expressões corporais e
escreve por meio de códigos gráficos, brinca e joga espontaneamente.
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Educação Psicomotora
Ao considerarmos a escola como um espaço de aprendizagem, entendemos que o jogo utilizado
como metodologia nas aulas de educação física no ambiente escolar poderá, contribuir
consideravelmente, no processo de aprendizagem da leitura e escrita, além de influenciar nas
relações sociais.
Essa leitura da pratica pedagógica justifica nosso trabalho remetendo-nos a refletir sobre esta
proposta na tentativa de compreender e minimizar a extensão e complexidade do problema.
Assim pode-se dizer que a motricidade humana está ligada a toda significação de nossa existência,
com isso existindo uma relação com o que somos, acreditamos, pensamos e sentimos. O corpo
então é um corpo de expressões e movimentos e é através da Educação Física que a criança
descobre suas possibilidades cinestésicas, expressando-se com seu corpo e em seu corpo, com os
movimentos iguais aos que fazem com a escrita e a leitura.
Constata-se em relação à educação psicomotora, a necessidade da criança expandir seus
movimentos. O sujeito constrói, assim como o conhecimento, os movimentos, construção essa que
depende não somente de recursos biológicos e psicológicos, mas também das condições do meio
ambiente no qual vive. (Freire, 1989).
De acordo com Piaget (1977), a ação psicomotora é considerada como precursora do pensamento
representativo e do desenvolvimento cognitivo, e afirma que a interação da criança em ações
motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetivos do seu meio e essencial para o
desenvolvimento integral. A atividade sensório-motora é importante para o desenvolvimento de
conceitos espaciais e na habilidade de utilizar termos lingüísticos.
Contudo o jogo tem papel fundamental para o desenvolvimento fisico-motor, devendo ser
aproveitado num trabalho integrado com outras áreas de desenvolvimento. Assim pode-se dizer que
o desenvolvimento motor não acontece pela padronização das ações, mas sim: pela complexidade,
diversidade, variabilidade, Constancia e consistência dos jogos a serem trabalhados.
Em outras palavras, as aulas de educação física não devem ser mera repetição de movimentos
perfeitos. Esses movimentos serão descobertos pelas crianças que buscam alcançar sua meta, com
isso dia após dia superando o que realizavam anteriormente e estabelecendo novas formas de
conduta.
Segundo Piaget, citado por Freire (1989), para adaptar-se ao mundo, para resolver problemas, para
agir sobre o mundo, transformando-o, o sujeito constrói movimentos corporais específicos,
dirigidos por um fim e orientados por uma intenção: são os esquemas de ação. É por estes esquemas
que o ser humano se expressará em todas as ocasiões de sua vida.
Os argumentos usados para justificar a educação psicomotora na educação colocam em evidência
seu papel na prevenção das dificuldades escolares. Mas antes de tudo a educação psicomotora deve
ser uma experiência ativa de confrontamento com o meio. Portanto os exercícios corporais e as
atividades despertadoras visam especialmente assegurar o desenvolvimento harmonioso dos
componentes corporais, afetivo e intelectual, objetivando a conquista de uma relativa autonomia.
Sendo assim podemos concordar que a conscientização e domínio do corpo,a
esquema corporal, a coordenação psicomotora,as
apropriação do
noções de tempo-espaço são objetivos
importantes que precisam ser trabalhados antes do aprendizado da escrita e leitura. Após a fixação
das bases motoras e o domínio dos gestos da escrita é que devemos ensinar a criança a dominar o
lápis. Compreende-se então, que a
atividade de escrita implica num movimento com direção
definida, além disso a criança deve também ser capaz de identificar e compreender o significado
simbólico da palavra antes mesmo da escrita . Entretanto o trabalho psicomotor, tal como
conhecemos, resulta numa melhora da aptidão para aprendizagem, respeitando as fases de
desenvolvimento de cada criança, sendo que neste tipo de aprendizagem não apenas a meta a ser
atingida e fixada, mas o esquema de ação são importantes dentro do processo ensino aprendizagem
do movimento humano. Assim a medida que a criança cresce e se desenvolve surgem novos
interesses, novos aprendizados proporcionando uma estreita relação entre maturação,crescimento,
desenvolvimento e aprendizagem escolar.
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O Jogo e Aprendizagem
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Durante muito tempo se confundiu ensinar com transmitir, onde o aluno era considerado um agente
passivo e o professor um transmissor do conhecimento e o que e pior o aprender ocorria pela
repetição, sendo que o aluno que não sabia era responsável por essa deficiência e era castigado.
Atualmente essa idéia é tão absurda, pois sabe-se que não existe aprendizagem, se esta não
acontecer através de uma construção de saberes, sendo o professor um facilitador do processo em
busca do conhecimento.
Nesta perspectiva Antunes (1999) nos mostra que o interesse dos alunos passou a ser a força que
comanda o seu aprendizado, sendo que o professor passa a ser um gerador de situações estimulantes
e eficazes, dentro deste contexto o jogo ganha seu espaço e passa a ser ferramenta ideal para a
aprendizagem, ajudando o aluno a continuar suas descobertas e enriquecer sua personalidade.
Assim a medida que a criança cresce e se desenvolve, surgem novos interesses, novas situações de
troca, novos aprendizados e conseqüentemente os jogos vão se modificando, proporcionando uma'
estreita relação entre os processos de maturação, crescimento e desenvolvimento (afetivo, cognitivo
e social) bem como o aparecimento de novos interesses e objetivos.Para que esse desenvolvimento
ocorra tem que haver uma organização desses jogos que são explicados por Piaget (1978 e 1996)
por meio da estrutura da própria inteligência da criança. Desta forma a criança quando joga, opera
com significado o movimento e suas ações, tomando assim consciência das suas escolhas e
decisões, por isso o jogo apresenta-se como elemento básico no processo educacional,
proporcionando mudanças em relação aqulele que aprende.
No nosso entender, o jogo como recurso pedagógico proporciona à criança um aprendizado mais
prazeroso, possibilitando oferecer um conjunto de novas propostas dentro das aulas de Educação
Física. Dentro deste contexto o jogo deixa de ser somente lúdico e se torna também educacional,
não perdendo é claro suas características já acima mencionadas, pois a aprendizagem através do
movimento envolve relações entre o corpo e a mente.
A idéia de aplicar o jogo à educação partiu do princípio que, toda criança tem necessidade de uma
educação integral, assegurada pelo desenvolvimento de habilidades, movimentos e atitudes através
da Educação Física. Por isso pode-se dizer que a criança quando
joga se expressa, assimila e constrói sua realidade.
Por esse motivo, a participação em jogos contribui para formação de atitudes como respeito
mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, responsabilidade, sendo que jogando a
criança aprende o valor do grupo e seu próprio valor. Desta forma, colocamo-nos a pensar sobre a
ação pedagógica centrada somente na cognição, a escola ao longo de sua história deixou de lado o
corpo, a sala de aula era o único espaço de raciocínio e inteligência, ao corpo restou a quadra, o
pátio e o recreio.Como vemos o jogo nas mãos do educador será usado como uma importante força
educativa e não somente o jogo pelo jogo, pois o jogo proporcionará a criança reproduzir suas
vivências, transformando o real de acordo com seus desejos e interesses, assim expressando e
construindo sua realidade.
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Considerações Finais
Quando falamos em educação motora, motricidade, cultura corporal, estamos nos referindo a
movimento. Esta importância não se restringe apenas ao aspecto biológico. Independente das
divergências e discussões em torno das diferentes abordagens, pode-se evidenciar um aspecto
comum entre elas que é a importância do movimento no desenvolvimento do ser humano.
O que precisa ser compreendido é que não existe manifestação humana não-corpórea, logo o corpo
é a sede de todos os pensamentos, sentimentos e ações. Compreender o que é um só e mais ainda,
trabalhar com essa união é um dos fatores que desencadearam nossas pesquisas. De acordo com
Magil e Cratty (1975) o corpo é um meio de conhecimento para os demais aspectos, pois no início
todo conhecimento é motor dividindo-se posteriormente em cognitivo e afetivo. Portanto, pensamos
em um trabalho com o corpo abrangendo as características acima mencionadas e também a
vinculação do movimento com intenções, raciocínios e planos de ações elaboradas onde as
atividades têm um significado com o concreto e com o real, interesse daquele que é mais importante
do processo, o aluno.
A primeira vista esta proposta chama atenção pela sua pretensiosidade, levando por terra aquela
concepção de uma Educação Física ultrapassada, mas, no entanto essa idéia de educação pelo
movimento proporcionará ao educador a elaboração e a construção de um projeto pedagógico onde
o trabalho corporal é a peça fundamental. Assim como as outras disciplinas a Educação Física
proporciona um aprendizado significativo, onde são respeitados os conhecimentos inerentes, e
proporcionado ao aluno atividades, onde a criança irá aprender e desenvolver conhecimentos e
poderes sobre si própria e sobre o mundo. A educação física deve então atuar como qualquer outra
disciplina dentro do contexto escolar, sem se tomar uma atividade auxiliar. Para tanto, ela associa
uma pedagogia de desenvolvimento e formação, preocupada com a formação integral dos alunos.
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SÉRGIO, M. Educação física ou ciência da motricidade humana? Campinas: Papirus, 1989.
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Professor de Educação Física e Motricidade Humana, Especialista em Psicopedagogia. Docente nos
Cursos de Graduação em Educação Física e Pedagogia na UNORP, docente Curso de Graduação em
Educação Física na UNILAGO.
Professora Doutora em Neurociência e Comportamento – USP, Professora adjunta do departamento
de neurociência na FAMERP e Docente nos cursos de Psicologia e Terapia Ocupacional na UNORP.
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