Espaço de Práticas em Sustentabilidade
Casos Práticos / UNISOL
Rodrigo Maia
A união faz
a reciclagem
União de esforços para melhorar a vida dos catadores:
renda aumentou em 12 vezes e reciclagem sextuplicou na região
Em 2002, a professora de psicologia social da Universidade Federal de São João del Rei, Valéria
Heloísa Kemp, resolveu iniciar um projeto de pesquisa com o objetivo de formar uma associação de
catadores de material reciclável na cidade. Ela já conhecia essa realidade, pois fez sua pesquisa de
doutorado sobre uma cooperativa de catadores de Belo Horizonte. Em São João del Rei, a professora
coordenava uma incubadora de cooperativas de trabalho.
O primeiro passo foi conhecer e cadastrar os catadores. Alunos saíram pelas ruas e foram ao lixão da
cidade em busca dos profissionais. Os catadores passaram a ser convidados para reuniões semanais
na universidade. “Chamávamos catadores de outras regiões para mostrar como a articulação poderia
ser melhor do que o trabalho isolado”, lembra Valéria. Para montar a associação, foi necessário mais
de um ano de conversas. Dinâmicas de grupo ajudaram os catadores a extravasar suas principais
preocupações. “Construímos um estatuto e um regimento que tivesse a cara deles”, diz a professora.
Ajuda de áreas diferentes
Para lidar com a complexidade do projeto, um grupo multidisciplinar foi criado na universidade.
Participaram alunos de psicologia, administração, ciências contábeis, ciências econômicas, ciências
biológicas e filosofia, além de professores de áreas distintas, como engenharia de produção,
educação, ciências sociais e ciências administrativas e contábeis. Os alunos de psicologia, por
exemplo, ajudavam a lidar com as questões de divisão de trabalho, confiança e liderança. Os de
ciências econômicas, contábeis e os de administração organizavam a gestão do negócio. Os de
biologia tratavam das questões de reciclagem.
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No primeiro um ano e meio de formação da associação, 16 alunos se revezavam para ajudar os
catadores. Era preciso cuidar dos mínimos detalhes: desde organizar os postos de trabalho, até pesar,
registrar, prensar, separar e vender o material. E pequenas mudanças se fizeram necessárias. Os
trabalhadores estavam acostumados a separar o lixo em 4 ou 5 categorias. Mas era possível utilizar
40 diferentes denominações. “Quanto mais específicas as categorias, maior o valor agregado do
material”, explica Valéria. Conforme os catadores se apropriavam da gestão, os alunos iam ficando
na retaguarda.
Uma série de parcerias ajudou a viabilizar o projeto. A primeira foi com a prefeitura, responsável pela
coleta do lixo da cidade. A prefeitura pagou, desde o início, o aluguel de um galpão e uma bolsa
para os alunos que trabalhavam no projeto. Um plano para a compra dos primeiros equipamentos,
como picador de papel e balança, foi aprovado com a Fundação Banco do Brasil. Com o apoio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foram adquiridos outros
equipamentos, além de uniformes, computadores e material de segurança e de escritório.
Software acessível
Os desafios não foram poucos. Como fazer com que um público semianalfabeto controlasse uma
planilha Excel? O aluno de psicologia David Romeros aproveitou a sua formação anterior de técnico
em contabilidade e resolveu criar, junto com um colega, um software específico para controlar as
finanças dos catadores. “Nós queríamos que eles pudessem fazer tudo por conta própria. Então,
criamos um software – o Catafácil – bem amigável e simples, com ícones com a figura dos catadores”,
conta David. Depois de 18 meses de tentativas, Romeros e seu colega chegaram a uma solução
técnica, que foi patenteada e começou a atrair interesse de cooperativas de outros lugares do Brasil.
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David também credita ao projeto a sua escolha em fazer mestrado em psicologia social. Segundo
ele, a troca de experiência com os catadores foi muito rica. “Nas negociações de compra e venda,
aprendemos muito com eles”, exemplifica. A coordenadora do projeto enfatiza a importância da
iniciativa para os alunos. “Eles aprendem que podem transformar a realidade e usar o que sabem
em prol do país. Além disso, criam
soluções que surgem da troca de
visões de mundo diferentes”, analisa
Valéria.
Em 2005 e 2006, o projeto foi
contemplado no Concurso Banco
Real
Universidade
Solidária.
A parceria entre o Banco Real
(incorporado ao Santander em
2010) e a Unisol premia as melhores
iniciativas para engajar estudantes
e professores universitários na
implementação de projetos sociais.
Com o prêmio, a associação de
Software Catafácil, desenvolvido por universitários:
catadores de material reciclável de
ajuda para catadores controlarem suas finanças
São João del Rei passou a contar
com o suporte de consultores da Unisol e técnicos do Banco Real, que ajudaram a aprimorar o
projeto. “Esse prêmio foi muito importante, pois a participação dos consultores valorizou o trabalho
dos catadores. Eles eram muito discriminados, mas começaram a se assumir depois das primeiras
visitas da Unisol”, relata David. Hoje, os catadores são clientes do Real e responsáveis pela reciclagem
do lixo na agência de São João del Rei.
Um dos principais objetivos do Concurso Banco Real Universidade Solidária com os catadores foi
a implantação de um projeto piloto de coleta diferenciada na região do entorno do galpão. Visitas
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foram conduzidas a um total de 1.805 imóveis, com a distribuição de folhetos explicativos sobre
reciclagem e separação entre lixo seco e lixo molhado. Os catadores foram preparados para dar
palestras e estiveram em cinco escolas, atingindo aproximadamente 1.700 estudantes. Esse projeto
– inclusive com a distribuição de cartilhas com conteúdo específico para os diferentes públicos –
alcançou excelentes resultados, como o aumento da reciclagem e da renda dos catadores.
Os catadores de materiais recicláveis representam um elo importante da cadeia de reciclagem
no Brasil, mas vivem, em geral, de forma precária. Esse projeto desenvolvido por professores
e alunos da universidade mudou essa realidade. Os catadores se uniram em uma associação e
profissionalizaram-se. Como resultado, a reciclagem ganhou força e eles multiplicaram os seus
rendimentos. A produção média mensal sextuplicou – de 4 para 24 toneladas em dois anos (de
outubro de 2005 a outubro de 2007). A renda média mensal saltou de R$ 50 para R$ 600 no mesmo
período – ou seja, aumentou 12 vezes.
Ficha da Prática
Instituição:
Associação de Catadores de Material Reciclável de São João del Rei
O que faz:
Reúne catadores de materiais recicláveis de São João del Rei
Prática:
Envolveu universitários, professores, prefeitura, Universidade Solidária e iniciativa privada na
profissionalização e aprimoramento do trabalho dos catadores
*Este case foi produzido no ano de 2009 e conta a história de uma iniciativa realizada antes da integração dos
bancos Real e Santander. Para preservação do histórico, seu conteúdo não foi alterado.
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