Conflito político e protesto social na América Latina, uma crise de hegemonia? Douglas Santos Alves (Unicamp) [email protected] Na década de 1980, muitos países latino-americanos transitaram de regimes autoritários para democráticos. As transformações no âmbito da política trouxeram a conquista de novos espaços políticos para a regulação dos conflitos sociais; mas também somaram-se às mudanças econômicas caracterizadas pela implementação das políticas neoliberais, tendo como conseqüência o agravamento do desemprego, da pobreza, além de diversas outras mazelas sociais. Constatam-se, também, grandes mudanças nos segmentos ativos e organizados da sociedade. O movimento sindical parece atravessar uma profunda crise enquanto que atores antes secundários passam a ganhar importância social e política. As contradições gestadas ao longo dessas transformações têm gerado freqüentes mobilizações e protestos populares, acarretando no crescente desgaste do próprio regime institucional, sem falar da classe política. Desse modo, seria possível falar de uma deslegitimação da “esfera” política a partir do comprometimento das bases materiais necessárias para a construção do consenso dentro da sociedade. Estaríamos, portanto, diante de situações de crise, que culminaram com a derrubada de presidentes Equador (2000), Argentina (2001) e Bolívia (2003). Dessa perspectiva, este projeto é um estudo exploratório com vistas a compreender a dinâmica do processo de queda dos presidentes. Por um lado, é necessário obter informações sobre em que condições se desenrolam os conflitos em questão, visualizando o contexto de transformações econômicas, sociais e políticas em que se inserem. Por outro lado, é importante identificar quais forças sociais e políticas entram em cena, de modo a entender como se configuram estes conflitos. Assim, busca-se averiguar em que medida essas forças se relacionam com as condições sob as quais se desenrolam tais conflitos para descobrir se os processos estudados caracterizam ou não crises de hegemonia. Argumenta-se nesse sentido que, independente das diferenças da história política, dos sistemas eleitorais ou partidários, estes países convergem para um comportamento semelhante que resulta na progressão de conflitos, derivando na expulsão dos presidentes eleitos. Para tanto, num primeiro momento serão avaliados dados agregados buscando perceber a evolução de variáveis de estabilidade democrática, desempenho econômico e indicadores sociais, entre outros, de modo a obter informações sobre em que condições se desenrolam os conflitos em questão. Para isso, é necessário buscar dados de cultura política de pesquisas sobre a América Latina, e indicadores econômicos e sociais. Também será feita pesquisa bibliográfica e na imprensa dos países estudados, incluindo a imprensa de opinião, ligada às organizações que participaram dos conflitos (organizações sindicais, movimentos sociais, organizações políticas etc.), bem como uma pesquisa documental, analisando cartas, declarações e documentos lançados a público pelos grupos e organizações que atuaram nestas crises. Esse procedimento visa identificar quais forças sociais e políticas configuram estes conflitos, como se organizam, sob que reivindicações e métodos de ação, bem como, contra o quê e contra quem estão lutando. Posteriormente, investigar-se-á a existência, ou não, de relações entre os dados obtidos nesses dois momentos de análise, de forma a traçar uma comparação, localizar as semelhanças gerais entre os processos dos três países em questão, e se o que houve foi a ocorrência de uma crise de hegemonia.