Capítulo 1 - Introdução: Todo desenho comunica uma ideia e a expressão gráfica é uma linguagem que passa o pensamento para o papel ou computador, facilitando a comunicação de quem envia ou recebe uma informação. O ensino de expressão gráfica nas universidades de engenharia, arquitetura, desenho industrial e design vem sofrendo uma desvalorização devido à falta de aplicação de conteúdos de desenho nos ensinos fundamental e médio, além de passar por outras restrições como uma redução na carga horária por causa da fusão dos métodos convencionais com os digitais. Quando o aluno que está na universidade, ou curso técnico, começa suas primeiras aulas de expressão gráfica, ele tem uma ideia equivocada que só vai usar a ferramenta digital (softwares de CAD e computador), chegando muitas vezes a menosprezar o desenho convencional. A maioria dos alunos que ingressam na universidade não conhece os fundamentos do desenho técnico e necessita de uma espécie de “alfabetização gráfica”, que vai desde o conhecimento de suas normas, simbologias, as posições de visualização de um objeto (de cima, de frente de lado), perspectivas, cortes, uso de escala, tipos de traços, formatos de papel, entre outros que têm como finalidade representar formas de acordo com a necessidade requerida pela modalidade que vai ser usada, seja de engenharia, arquitetura, design ou desenho industrial. Com o advento de novas tecnologias aplicadas ao ensino, houve uma falsa impressão de que os softwares gráficos resolveriam os problemas de desenho completamente, porém alguns alunos chegam à universidade com deficiência na visualização do objeto no espaço. Para suprir essa deficiência o professor precisa mudar a metodologia de ensinar a desenhar, aproveitando as possibilidades que a tecnologia trouxe, mas sempre tendo em mente que os programas gráficos não irão solucionar todos os problemas, e são um recurso a mais. Vale lembrar que os softwares são apenas ferramentas e obedecem comandos, entretanto, não fazem tudo sozinhos; é preciso conhecer bem cada comando para executar um desenho, seja ele bidimensional (2D) ou tridimensional (3D). 2 Expressão Gráfica Instrumental Nas aulas com os recursos digitais (com softwares de CAD), o que se aprende são comandos de desenho, comandos de modificação de um objeto, comandos de visualização, comandos de renderização e comando de impressão, ou seja, eles não pensam pelo usuário, apenas obedecem às determinações de quem usa a ferramenta digital. Este livro tem como objetivo mostrar os fundamentos da expressão gráfica indo desde o desenho geométrico básico, entrando nas noções do desenho técnico, passando pelos termos técnicos de uma edificação e abordando as noções básicas do desenho de arquitetura. As diferenças entre desenho técnico e desenho artístico No desenho técnico todos os elementos que fazem parte dele precisam obedecer às normas técnicas e podem ser plantas, projetos, esquemas etc., e o desenho artístico reflete o gosto e a sensibilidade de quem criou, podendo ser feito à mão, com várias técnicas como lápis de cor, grafite, carvão, pastel, nanquim etc. Evolução do desenho Ao longo do tempo, em diferentes épocas históricas, houve uma evolução das técnicas de representação gráfica que se desenvolveram de acordo com cada cultura e o modo de vida do homem. Desde a Pré-História até hoje, o desenho pôde comunicar hábitos e ideias de vários povos, e contribuiu para a compreensão do passado, sendo a primeira manifestação gráfica, estética e da cultura na história da humanidade. É uma das primordiais formas de expressão deixadas pelos vestígios e produtos culturais que contêm importantes revelações da luta do homem em manifestar sua evolução. Figura 1 - Desenho rupestre1. 1 Fonte: http://www.culturamix.com/cultura/arte/historia-da-arte-rupestre Capítulo 1 Introdução 3 Figura 2 - Egito 1000 anos AC. Livro dos mortos de Tebas. Figura 3 - Provável autorretrato de Leonardo da 2 Vinci - 1512 a 1515 . Os exemplos de representação gráfica acima são considerados desenhos artísticos. Os desenhos técnicos diferem dos artísticos por serem normatizados e terem que transmitir com muita precisão todas as características do objeto representado para que ele seja executado. Cada área ocupacional tem seu tipo de representação, como o desenho mecânico, de edificação (Engenharia e Arquitetura), de móveis, de instalações, entre outros, e (tem) seu próprio desenho técnico, de acordo com normas específicas, como nos exemplos abaixo: Figura 4 - Desenho técnico mecânico de uma peça3. 2 3 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci Fonte: http://dc436.4shared.com/doc/-pYqfv1d/preview.html 4 Expressão Gráfica Instrumental Figura 5 - Desenho de uma edificação - planta baixa Figura 6 - Desenho de marcenaria de um gaveteiro. Capítulo 1 Introdução 5 As normas técnicas que estabelecem as representações dos desenhos técnicos por meio de traços, simbologias, formato de papel, cotagens, entre outras convenções, no Brasil, é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Este livro vai abordar as normas técnicas de desenho técnico e de edificações. O desenho técnico e suas fases O desenho técnico passa por várias etapas até sua conclusão, assim como por vários profissionais. Tudo começa com a solicitação do cliente e a concepção parte de um esboço, passando por um estudo preliminar seguido de outras etapas de desenvolvimento, até ser aprovado para o desenho ser executado na prancheta ou computador, atendendo às normatizações existentes, com os elementos necessários à sua compreensão. Depois de pronto, o desenho técnico vai para o profissional que executará a peça ou construção, para ser lido, interpretado e executado, mas para isso é necessário que ele conheça as normas técnicas além dos fundamentos da geometria descritiva, que é a base do desenho técnico. Geometria descritiva: A Geometria Descritiva é um ramo da geometria que serve de base teórica para o desenho técnico e tem como objetivo representar objetos de três dimensões em um plano bidimensional. Esse método foi desenvolvido por Gaspard Monge4, que representa os objetos com precisão e trabalha com planos, faz rebatimentos e gera vistas, cortes, secções, no(s) plano(s) de projeção, determinação de verdadeiras grandezas (V.G.) de distâncias, ângulos e superfícies, bem como o cálculo de volumes a partir dos dados extraídos das projeções ortogonais. 4 Gaspard Monge ( 1746-1818)- Matemático francês que criou a geometria descritiva . O método “Mongeano “ foi usado inicialmente na engenharia militar e mais tarde foi aplicado não só em projetos de edificações como no desenho industrial. 6 Expressão Gráfica Instrumental Figura 7 - Objeto com os rebatimentos de acordo com os princípios da geometria descritiva