A INTER-RELAÇÃO ENTRE DESENHO INSTRUCIONAL E TUTORIA: ASPECTOS IMPRESCINDÍVEIS DA QUALIDADE NA MODALIDADE EDUCACIONAL A DISTÂNCIA Márcia Regina de Oliveira Coordenação de Produção de Materiais Didáticos Universidade Católica de Brasília Bernadete Moreira Pessanha Cordeiro Direção de Cursos de Graduação a Distância Universidade Católica de Brasília Sandra Mara Bessa Ferreira Direção de Cursos de Graduação a Distância Universidade Católica de Brasília Resumo Com base em dois aspectos imprescindíveis para a qualidade da educação a distância, o presente estudo, a partir de uma perspectiva qualitativa, busca realizar um levantamento bibliográfico sobre a definição, as características e a aplicação do desenho pedagógico e sua relação com a tutoria e identificar, por meio da análise dos registros dos fóruns, a percepção dos estudantes sobre esta relação. Diante de tais análises, essa pesquisa evidenciou que, na percepção de estudantes de um curso de especialização em Educação a Distância, que há uma relação direta e interdependente entre o desenho instrucional e a tutoria e que a forma como os dois são planejados, moldados, e o tipo de material didático e mídias adotados é que definem o grau de flexibilidade e interatividade do processo educativo. Palavras-chave: Desenho Instrucional. Tutoria. Inter-relação. Flexibilidade. Interatividade. Abstract Based on two indispensable aspects to the quality of distance education, from a qualitative perspective, the present study conduct a literature review on the definition, characteristics and application of instructional design and its relation to mentoring; beyond, this study intends to identify, through analyzing of records of the forums, the students' perceptions about this relationship. Face of such analysis, this research showed that in the perception of students from a specialization course in distance education, there is a direct relationship and interdependence between the instructional design and mentoring. How both are designed, molded, and type of didactic material and media adopted defining the degree of flexibility and interactivity of the educational process. Key - Words: Instructional Design. Tutoring. Interrelationship. Flexibility. Interactivity. 1 INTRODUÇÃO Há evidências teóricas de uma inter-relação entre o desenho instrucional e a tutoria. Autores como Filatro (2004/2008) e Ramal (2003), dentre outros, reforçam a ideia de que a forma como os dois são planejados e o tipo de material didático e mídias adotados é que definem o grau de flexibilidade e interatividade do processo educativo, bem como são aspectos imprescindíveis na avaliação da qualidade da educação a distância. Diante disso, o objetivo geral deste estudo foi verificar, por meio da análise das participações do fórum “desenho x tutoria” e de aportes teóricos, se há interferência do desenho pedagógico na ação da tutoria. Com vistas a alcançar esse objetivo, buscamos: a) realizar um levantamento bibliográfico sobre a definição, as características e a aplicação do desenho pedagógico e sua relação com a tutoria; b) identificar a percepção dos estudantes sobre a relação existente entre “desenho x tutoria”, por meio da análise dos registros dos fóruns. O tema da pesquisa é relevante na medida em que amplia a visão sobre a importância de se planejar um desenho pedagógico para a EAD que auxilie o tutor a criar condições para que os estudantes possam construir conhecimentos de forma colaborativa e autônoma. Ao mesmo tempo, o estudo traz, por meio das análises dos estudantes, subsídios que possibilitam realizar reflexões sobre o desenho pedagógico e a tutoria em relação à qualidade na modalidade a distância. 2 DESENHO INSTRUCIONAL O desenho instrucional1 é composto por elementos que descrevem como a aprendizagem irá ocorrer e como serão alcançados os objetivos educacionais estabelecidos. É seu papel apresentar cenários com ações e estratégias fundamentadas em teorias e pesquisas sobre a aprendizagem do indivíduo, com o fim de resultar na produtividade e qualidade do processo de ensino e aprendizagem de um curso a distância. Ele deve considerar o públicoalvo, os objetivos, as mídias de interação e o processo de avaliação da aprendizagem. Sendo assim, ele pode ser definido como: A estrutura de apresentação do conjunto de conteúdos e de situações de aprendizagem compostos e dispostos estrategicamente de modo a serem utilizados pelo docente e pelos cursistas com a finalidade de potencializar a construção coletiva da comunicação, do conhecimento, da docência, da aprendizagem e da avaliação. (SANTOS & SILVA, 2009, p. 3) No desenvolvimento do desenho instrucional, deve-se, portanto, observar alguns princípios pedagógicos importantes, como os apontados por Ramal (2003): abordagem pedagógica voltada para provocar a participação ativa do estudante; processo educativo que leve à reflexão sobre a realidade vivida; ênfase na formação e no desenvolvimento de 1 Entenda-se, aqui, desenho instrucional, design instrucional e desenho pedagógico como sinônimos. competências; estímulo na autonomia e aprendizagem significativa; ênfase no construtivismo, que defende o conhecimento como fruto de uma elaboração pessoal, resultado de um processo interno de pensamento; currículo em rede; e abordagem crítico-reflexiva dos conteúdos. Franciosi e Santos (2006 apud CALDEIRA, 2010, p. 4) arriscam ainda os caminhos/ etapas a seguir para um bom desenvolvimento e implementação do desenho instrucional: No intuito de atingir seus objetivos o design instrucional passa por algumas etapas que consistem em responder três questões: Aonde vamos? (os objetivos da instrução); Como chegaremos lá? (as estratégias e mídias instrucionais); Como saberemos quando chegarmos? (avaliação). Assim, o design instrucional pode nortear o planejamento de Ambientes Virtuais de Aprendizagem a fim de esclarecer a real intenção da metodologia e ações experienciadas no processo de ensino e de aprendizagem, tendo a clareza dos objetivos para que o desenvolvimento e a sua implementação sejam realizados o mais objetivamente possível. Logo, o desenho representa a organização pedagógica e suas etapas. As etapas da organização definem: a grade de conteúdos, a formulação de objetivos e metas, as estratégias pedagógicas, o modelo de tutoria, as formas de interação, os meios tecnológicos e as ferramentas de comunicação que serão usadas nos processos interativos. Essas etapas possuem partes rígidas, que não podem ser alteradas, mas também contêm partes flexíveis, que podem ser aprimoradas durante o planejamento e a execução. 2.1 Desenho Instrucional Fixo X Contextualizado O modelo de desenho instrucional adotado pode variar conforme os diferentes contextos e teorias educacionais e os usos distintos da tecnologia na educação. Assim, podemos falar em desenho instrucional fixo e contextualizado. O desenho instrucional fixo, também conhecido como modelo tradicional, separa as fases de concepção (análise, design e desenvolvimento, avaliação) e execução (implementação) e envolve “o planejamento criterioso e a produção de cada um dos componentes do design instrucional, antecipadamente à ação de aprendizagem” (FILATRO, 2008, p. 19). Embora tenha correspondência com as fases gerais do modelo tradicional (fixo), o desenho instrucional contextualizado (DIC) foge dos padrões lineares. Assume-se que as operações “ocorrem recursivamente ao longo de todo o processo, sem envolver nenhum grau absoluto de predição ou prescrição” (FILATRO, 2004, p. 116). De acordo com Filatro (2004), a diferença está em que a identificação de necessidades de aprendizagem, a definição de objetivos, a caracterização dos alunos e o levantamento de restrições ocorrem ao longo do processo de construção do desenho pedagógico do curso. Portanto, apresenta-se como um modelo mais flexível e dinâmico. Moore (2007, s/p) a esse respeito afirma que: As estruturas dos cursos de EaD podem ser mais rígidas ou mais flexíveis, e isso é determinado não apenas pelas mídias utilizadas e pelas características dos professores e alunos, mas, principalmente, pela filosofia e pela cultura das instituições educacionais ou das empresas responsáveis pelos cursos. Em se tratando do modelo de interatividade e tutoria a ser adotado no curso que está sendo planejado, existe um continuum, com diversas possibilidades, sendo seus extremos: a autoinstrução radical e a construção coletiva de conteúdos. No que diz respeito ao primeiro, Litto e Formiga (2009) afirmam que: O foco do modelo tradicional [ou design instrucional fixo] está na apresentação da matéria pelo educador, por meio de textos escritos, cujo conteúdo tem a função de transportar as informações que deverão ser assimiladas pelo educando. Nessa perspectiva, a concepção de aprendizagem privilegia a auto-aprendizagem, cabendo ao educando dedicar-se e esforçar-se em aprender o que lhe é ensinado. Não é esperado que haja questionamentos de sua parte, por isso o conteúdo é tratado e apresentado na forma de verdades cientificamente estabelecidas. (...) O que dá suporte a essa abordagem é a perspectiva de formação para a reprodução, não para a autonomia. Por outro lado, temos um desenho mais flexível, centrado nos interesses e necessidades dos alunos e na construção coletiva de conhecimentos. A interação com o tutor e com os outros alunos torna-se uma importante condição para que a aprendizagem se configure. Dessa forma, o aluno tem a oportunidade de desenvolver uma visão mais crítica e uma postura mais colaborativa. Segundo Litto e Formiga (2009), no método sociointeracionista (que geralmente baseia o design instrucional contextualizado): Ao produzir o texto, o educador (...) preocupa-se em disponibilizar situações diversificadas que propiciem o envolvimento e a participação do educando no processo de aprendizagem. (...) O texto é entendido como um recorte do campo do saber abordado, que precisa ser ampliado com outros textos. Para cumprir seu papel, o material didático impresso, nessa perspectiva, precisa provocar no aluno uma forte intenção de ampliar sua reflexão e de construir significados. Além disso, é fundamental que promova a interação do estudante com outros estudantes, pois o diálogo exige discussões e argumentos que fomentam a compreensão do tema tratado no texto. As funções do tutor, nesse caso, se expandem para outras funções pedagógicas, como: promover a auto-reflexão do estudante, guiar os estudantes no processo de encontrar outras fontes de informação, “costurar” comentários dos alunos, sugerir que os estudantes expliquem ou elaborem melhor suas ideias, dentre outras. O desenho pedagógico mais flexível permite que o tutor tenha uma maior autonomia em decidir como ele irá interagir com os alunos. Já em um desenho pedagógico mais rígido, geralmente a tutoria se limita a responder a dúvidas. Portanto, o projeto de desenho pedagógico será influenciado pela concepção pedagógica escolhida e se dará em um continumm, entre o mais rígido e o mais flexível. 3 METODOLOGIA A partir de uma perspectiva qualitativa e da pesquisa bibliográfica e documental, foram realizadas análises descritivas das postagens de fóruns virtuais de discussão de três turmas da disciplina Planejamento de Cursos a Distância, do curso Especialização em Educação a Distância da Universidade Católica de Brasília Virtual. Participaram do estudo aproximadamente 40 estudantes, distribuídos em 10 grupos, com quatro participantes em média, os quais refletiram sobre a inter-relação entre desenho instrucional e tutoria, quando submetidos a uma determinada figura para análise em uma das atividades propostas na referida disciplina, realizada no período de 21/08/09 a 04/06/10. A atividade proposta consistia em analisar e discutir, em grupo, a Figura 1 a seguir – que faz uma correlação entre rigidez e flexibilidade na inter-relação entre desenho instrucional e tutoria e, em consenso, elaborar uma única resposta e disponibilizá-la no fórum plenária. Figura 1 – Desenho X Tutoria: Fonte - CORDEIRO (2010). 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para facilitar a compreensão das postagens e reflexões dos grupos analisados, eles foram identificados aqui por ordem numérica. O grupo 1, ao analisar a figura disponibilizada no fórum, concluiu que o desenho pedagógico, como meio de planejamento do processo de ensino-aprendizagem, tem como meta definir os objetivos educacionais, as mídias educativas e de comunicação, a concepção e execução dos materiais didáticos, a metodologia de ensino, os sistemas de avaliação e tutoria e as relações dos estudantes entre si. Segundo o grupo 2, a tutoria não deve se limitar apenas a responder a dúvidas dos alunos, mas a articular e a interagir com eles, especialmente motivando-os a dar continuidade à busca do conhecimento. A mediação realizada pelo tutor é de fundamental importância para o sucesso do curso e a permanência dos alunos no decorrer das diversas atividades. Desenho e tutoria são dois segmentos que devem estar totalmente articulados no momento da criação de um curso, devem caminhar juntos, uma vez que a EAD possui como principal característica a mediação humana permeada por uma equipe de profissionais que compõe um sistema tutorial. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) No tocante à relação específica aprendiz-tutor, o grupo 3 apontou que as características de um processo em EaD devem estar a todo momento embasando este relacionamento, o que transparece que o aluno não está em uma situação para ser depósito de informações (educação bancária), mas, pelo contrário, para assumir um papel ativo no seu aprendizado. Dessa forma, a mediação do tutor é imprescindível para estimular/direcionar o estudante no senso de responsabilidade, para não confundir um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) com um ambiente em que tudo pode ser feito, como e na hora que quiser. Essa interação entre estudante e tutor é relatada também por Maia (2007), que diz que a internet possibilita elevado nível de interação e diálogo intenso e dinâmico por meio de ferramentas como fórum e chats, em que o estudante participa com comentários. Maia (2007) completa informando que a manipulação das mídias permite que esse diálogo seja ampliado e, em consequência, diminui a distância transacional e a sensação psicológica de separação, gerando o que a autora chama de senso de comunidade. (apud UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) Segundo o grupo 3, devido ao caráter flexível da EaD, um senso de organização e responsabilidade deve ser passado aos estudantes, pois, partindo do princípio de que a EaD desenvolve uma aprendizagem colaborativa, quando um aluno desorganiza seus estudos, isto pode refletir nos estudos dos demais colegas. Por exemplo, quando um aluno deixa de participar de um fórum e de contribuir com seus conhecimentos no mesmo, ele se desvirtua deste processo de colaboração. O tutor assume então a responsabilidade de promover em um AVA uma ação orientadora global que promova a comunicação entre todos os personagens envolvidos em um curso. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) De acordo com o grupo 4, o estabelecimento dos objetivos gerais e específicos do curso é um mecanismo primordial para pensarmos a melhor forma de interação ou tutoria. A pouca interação com a tutoria não necessariamente é um fator negativo para a aprendizagem, se considerarmos que a produção e a escolha dos materiais didáticos adequados também funcionam como estimulador do aluno na organização de sua aprendizagem e contribuem para que este desenvolva sua autonomia nesse processo. A utilização de hiperlinks, materiais audiovisuais e materiais impressos bem elaborados mantêm a motivação do aluno, restando à tutoria apenas o papel de suporte técnico ao estudante. O grupo 5 afirma com veemência que o desenho pedagógico não deve ser rígido, destacando a importância da flexibilidade como facilitadora da interação entre tutoria e estudante. Quanto mais flexível for o desenho pedagógico melhor vai ser o processo educacional, pois a troca de saberes ocorrerá com mais frequência e mais facilidade. É por meio da flexibilidade que o desenho pedagógico se adapta e acompanha as mudanças ocorridas na realidade. A figura mostra que o tutor e os alunos interagem e participam ativamente do processo educacional de acordo com a flexibilidade existente no desenho pedagógico. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) O grupo 5 frisa ainda que o “desenho pedagógico é que determina a forma como a aprendizagem vai ocorrer”. Ele precisa oferecer condições para que a aprendizagem ocorra de forma significativa, com um intercâmbio de conhecimentos e experiências, pois o aluno tem de ter um papel ativo na ação educativa na educação a distância. A caracterização do modelo é definida pela frequência de utilização de uma ou de outra atividade. Por exemplo, se um professor prioriza atividades de leitura, estudos dirigidos e perguntas e respostas, o foco é transmissão do conhecimento. Por outro lado, quando utiliza tarefas que possibilitem a pesquisa, como: situações-problema, análise de casos e debates em grupo, a sua resposta pedagógica é a construção do conhecimento. (UCB, 2010, UEA 3, aula 3, AVA, fórum) O grupo 6 destacou que, em cursos de EaD, o desenho pedagógico deve ser flexível, de forma que possa haver uma interação e articulação entre tutor-aluno e alunoaluno no processo de ensino-aprendizagem, pois o curso a distância tem a característica de um estudo independente, em que o educando busca obter conhecimento por meio de trocas de experiências e de informações com o professor/tutor ou colega de turma. O tutor tem de provocar no aluno as dúvidas e auxiliá-los a chegar a alguma resposta. E concluem que: O fundamental é pensar um desenho pedagógico que ofereça condições para que a aprendizagem aconteça de maneira significativa, relevante, colaborativa e instigante, estimulando a autonomia e a auto-gestão, combinadas com um apoio pedagógico baseado na interação. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum). O grupo 7, ao analisar a figura, concluiu de forma sucinta que o desenho pedagógico mais flexível permite que o tutor tenha uma maior autonomia em decidir como ele irá interagir e articular com os alunos e que, em um desenho pedagógico mais rígido, geralmente a tutoria se limita a responder a dúvidas. Logo, o projeto de desenho instrucional será influenciado pela concepção pedagógica escolhida e se dará em um continumm entre o mais rígido e o mais flexível. Durante a leitura do texto-base desta disciplina, percebemos que as decisões a respeito da tutoria compõem apenas uma parte das decisões feitas no desenho pedagógico do curso, visto que o ‘desenho geral do curso fornece um mapa de navegação para a elaboração do conteúdo, para a produção do material didático e para a preparação da tutoria’ (UCB, 2010, UEA 3, aula 3, p. 9). Porém, tais decisões irão exercer total influência sobre o processo de ensino-aprendizagem: irão definir se tal processo centrar-se-á na transmissão do conhecimento ou na construção do conhecimento (p. 6). (apud UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) O grupo 8 enfatizou a importância quanto aos materiais didáticos utilizados, que também são apresentados conforme a concepção pedagógica adotada. A abordagem que defende o foco na transmissão de conhecimentos utiliza materiais didáticos que forneçam o maior conteúdo possível, com direcionamento da aprendizagem pelo professor/tutor. Materiais que propõem maior interatividade, com textos, hipertextos, glossário, indicação de sites diversos e recursos de multimídia são os mais indicados para cursos que adotam a abordagem de construção do conhecimento, na medida em que exigem capacidade de aprendizagem autônoma. Possibilita ao aprendiz a pesquisa, a descoberta, as indagações, os estudos de caso, a resolução de problemas propostos por uma tutoria que não apenas responde a dúvidas, mas articula e interage no sentido de mobilizar para o conhecimento em espiral. Por fim, o grupo 8 aponta que: Os educadores não podem ter a ilusão de que o material irá agir por si só. Apesar disso, ele deve ser concebido de forma a oferecer um apoio sólido para o aluno. Mesmo com materiais didáticos bem elaborados, é função do tutor auxiliar o aluno na compreensão desse material e ampliar os temas nele apresentados. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) Dessa forma, conforme apontou o grupo 9, o tutor pode fazer a mediação entre o aluno e o material ou pode criar condições para que o aluno o faça. Os alunos também podem fazer a mediação do conteúdo com outros participantes ou com seu grupo de trabalho. O tutor pode propor atividades, diálogos e problematizações que incentivem o debate e a troca de saberes. Ele também pode colocar tarefas e questionamentos que incentivem o aluno a se tornar mais autônomo, refletindo e pesquisando com mais frequência. O aluno pode se sentir motivado a procurar na internet vídeos, mídias, gráficos, desenhos e fotos que complementem o conteúdo, disponibilizado-os no ambiente virtual. Alguns aprendizes também podem motivar outros alunos a pesquisarem na internet novas formas de complementar o conteúdo proposto. Nosso fórum é um exemplo disso, pois as pessoas constroem e partilham colaborativamente conhecimentos com outros participantes. Aqui vemos um assunto sendo explorado, detalhado e destrinchado. Vemos desenhos e gráficos sendo modificados e reconstruídos com o intuito de fornecer explicações mais detalhadas sobre o tema proposto pela professora. Na EAD, há a colaboração e a construção do conhecimento feita em conjunto, onde todos nós somos responsáveis pela nossa aprendizagem. (UCB, 2010, UEA 3, AVA, fórum) Por fim, o grupo 10 apontou que a função da tutoria varia de acordo com o desenho pedagógico, devendo estar em consonância com ele. Como ilustrado na figura, o grupo apontou que o papel do tutor num desenho mais rígido se resume em transmitir informação e tirar dúvidas, enquanto o papel do aluno é o de aprender o que foi planejado. Ele é somente um receptor de conteúdo. Em EAD, nestes modelos, com base em conceitos de auto-instrução radical, o aluno interage apenas com o conteúdo dos materiais didáticos, não existindo quase nenhum relacionamento interpessoal. Segundo o grupo 10, em modelos com característica mais flexível o professor descobre que precisa reinventar sua forma de ensinar. Deve atuar como um facilitador, auxiliando o aluno a avançar no processo de aprender, motivando-o de forma a desenvolver e alcançar os objetivos de aprendizagem propostos. Estes modelos utilizam tarefas que possibilitam a pesquisa e sua perspectiva pedagógica é a construção do conhecimento. Nestes modelos, o tutor tem um papel de sujeito do pensar, do agir e do avaliar o seu trabalho pedagógico e o aluno participa deste processo, sendo ativo na construção de seu próprio conhecimento. As configurações das relações entre os atores se estruturam em processos de grande interatividade interpessoal. O aprendizado do aluno é apoiado por uma tutoria que passa de uma posição de autoridade, detentora de todo o conhecimento, e assume um papel de facilitador. Ao mesmo tempo, o aluno passa do papel de ouvinte para o papel de aprendiz ativo. Ele também é responsável por esta relação. Em um aprendizado flexível, com aprendizagem focada no aluno, este deve se pautar pela curiosidade e motivação, pois, assim, articula, interage, participa ativamente, aprende e ensina. Analisando a figura apresentada e as postagens dos grupos nos fóruns, podemos perceber que, na percepção dos estudantes participantes da pesquisa, existe uma relação direta entre a tutoria e o desenho pedagógico, e que o modelo de desenho proposto definirá os processos de interatividade e tutoria. A tutoria é parte integrante do desenho pedagógico, e juntos se complementam. Assim, quanto mais flexível for o desenho pedagógico, mais possibilidade de desenvolver um trabalho flexível terá o professor/tutor, inclusive usufruindo de maior interação e articulação com os demais envolvidos no processo educativo. Ao contrário, quanto mais rígido for o desenho, menos autonomia o tutor terá, o que resulta em um trabalho reduzido a responder às dúvidas dos educandos. É fundamental salientar ainda que as opiniões dos estudantes estão carregadas de sua própria experiência com a educação a distância. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das análises aqui apresentadas, vemos que a linha bidirecional rigidez/flexibilidade mostra que alguns modelos de cursos trabalham com etapas bem definidas, em que as estruturas de desenho pedagógico e tutoria podem se apresentar mais ou menos rígidas ou flexíveis. Em modelos que têm o planejamento centralizado na figura do professor, responsável por controlar o aprendizado e responder às dúvidas dos alunos, o ensino tem a função de transmitir conhecimentos e a estrutura do desenho apresenta-se mais rígida. Outros modelos são flexíveis, como o contextualizado, voltado para a formação de sujeitos autônomos e conscientes de seu papel na sociedade. Este modelo de desenho flexível permite que as etapas do processo de planejamento possam ser reavaliadas ao longo do processo. O aprendizado está pautado nas interações e colaborações de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, permitindo ao aluno compartilhar experiências, construir novas aprendizagens, adquirir autonomia e autoconfiança. Dessa forma, o presente estudo deixa claro que, na perspectiva dos estudantes analisados, há uma relação direta e interdependente entre o desenho instrucional e a tutoria e que a forma como os dois são planejados, moldados, e o tipo de material didático e mídias adotados é que definirão o grau de flexibilidade e interatividade do processo educativo. REFERÊNCIAS CALDEIRA, Luana Matheus. Desenho instrucional: a construção do diálogo na educação a distância. Artigo resultante da participação no projeto de Pesquisa: Inter-relações entre educação e comunicação: diálogo entre mídia e o desenho pedagógico –Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC. Disponível em: <http://200.19.105.203/index.php/udescvirtual/article/viewFile/1925/1483> Acesso em: 20 set. 2010. CORDEIRO, Bernadete M. P. Figura 1– dicotomia entre desenho e tutoria. In: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. Centro Católica Virtual/Educação a Distância. Curso de pós-graduação lato sensu em educação a distância. UEA 3 – Planejamento em EAD. Plataforma Moodle. Disponível em: <http://moodle2.catolicavirtual.br/course/view.php?id=9457>. Acesso em: 5 set. 2010. Acesso ao conteúdo com login e senha. FILATRO, Andrea. Design instrucional contextualizado: educação e tecnologia. 2. ed. São Paulo: Senac, 2004. ______. Design instrucional na prática. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008. LITTO, Fredric M; FORMIGA, Marcos (Orgs.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. RAMAL, Andrea Cecília. Educação com tecnologias digitais: uma revolução epistemológica em mãos do desenho instrucional. In: SILVA, Marco (Org.). Educação online. São Paulo: Edições Loyola, 2003. SANTOS, Edméa; SILVA, Marco. O desenho didático interativo na educação on-line. 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