Universidade de São Paulo Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia Escola Politécnica Faculdade de Economia e Administração Instituto de Eletrotécnica e Energia Instituto de Física A COGERAÇÃO DE ENERGIA NO SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE: CONTRIBUIÇÃO À MATRIZ ENERGÉTICA DO BRASIL Sílvia Maria Stortini González Velázquez Dissertação apresentada no Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Energia. São Paulo 2000 Universidade de São Paulo Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia Escola Politécnica Faculdade de Economia e Administração Instituto de Eletrotécnica e Energia Instituto de Física A COGERAÇÃO DE ENERGIA NO SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE: CONTRIBUIÇÃO À MATRIZ ENERGÉTICA DO BRASIL Sílvia Maria Stortini González Velázquez ORIENTADORA: Profa Dra Suani Teixeira Coelho Dissertação apresentada no Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Energia. São Paulo 2000 À minha mãe, meu espelho, a quem devo tudo o que sou. Agradecimentos À amiga Profa Dra Suani Teixeira Coelho, exemplo de caráter, responsabilidade e competência, por tudo que sempre fez por mim, inclusive ter me iniciado na carreira profissional. Ao Prof. Dr. Murilo Tadeu Werneck Fagá, pela orientação acadêmica nos primeiros momentos deste estudo. À Klabin Fabricadora de Papel e Celulose - Unidade de Negócio Paraná, pela autorização para o estudo aqui incluído e, em particular, ao competente Sr. Marcelo Gasparin pelo apoio e prontidão em atender as solicitações, imprescindíveis à realização deste trabalho. À amiga Profa Dra Lucia Bógus, pela leitura criteriosa dos originais e incentivo contínuo. Por último, mas não menos importante, ao meu marido Ramón, pela paciência, coragem, companheirismo, ânimo e amor. ÍNDICE 1. 1.1. 1.2. 2. 2.1. 2.1.1. 2.2. 3. 3.1. 3.2. 4. 4.1. 4.2. 4.2.1. 4.2.2. 4.2.2.1. 4.2.2.2. 4.2.2.3. 4.2.2.4. 4.2.3. 4.2.3.1. 4.2.3.2. 4.3. 4.3.1. 4.3.2. 5. 5.1. 5.1.1. 5.1.2. 5.1.3. Lista de Tabelas Lista de Figuras Resumo ABSTRACT INTRODUÇÃO............................................................................... A Situação do Setor Elétrico.......................................... Introdução.................................................................................... A Cogeração no Brasil................................................................ PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE PAPEL E CELULOSE........ Processo de Fabricação da Pasta Celulósica........................... Recuperação dos Produtos Químicos........................................... Processo de Fabricação de Papel.............................................. O SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE.................................... Situação Atual do Segmento...................................................... Levantamento de Dados de um Grupo de Empresas Selecionadas................................................................................ ANÁLISE TÉCNICA DO PROCESSO DE COGERAÇÃO............ Definição de Cogeração.............................................................. Tecnologias de Cogeração para o Segmento de Papel e Celulose........................................................................................ Tecnologias em Uso no Segmento de Papel e Celulose............... Tecnologias Comercialmente Disponíveis..................................... Ciclo CEST - Condensing Extration Turbine.................................. Caldeira de Leito Fluidizado.......................................................... Turbinas a Gás.............................................................................. Ciclo Combinado com Turbina a Gás............................................ Tecnologias em Desenvolvimento................................................. Turbinas a Gás com Injeção de Vapor.......................................... Gaseificação de Biomassa............................................................ Avaliação Técnica do Grupo de Empresas Selecionadas....... Introdução - Potencial Termodinâmico de cada Tecnologia.......... Avaliação do Potencial de Cogeração do Grupo de Empresas Selecionadas ................................................................................ ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DOS PROCESSOS DE COGERAÇÃO......................................................................... Análise Econômica da Cogeração para o Grupo de Empresas Selecionadas.............................................................. Custos de Instalação..................................................................... Custos de Combustível e O&M...................................................... Custos de Geração........................................................................ 1 6 6 12 21 21 22 26 28 28 39 42 42 44 46 48 48 50 52 55 57 57 59 62 62 64 68 69 70 70 70 6. ASPECTOS AMBIENTAIS NA COGERAÇÃO PARA O SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE....................................... 6.1. A Definição de Impacto Ambiental............................................. 6.2. A Definição de Externalidade..................................................... 6.3. Impactos Ambientais Causados pela Produção de Eletricidade................................................................................... Usinas 6.3.1. Hidrelétricas..................................................................... 6.3.2. Usinas Termelétricas................................................................... 6.3.3. Usinas Nucleares........................................................................... 6.4. Impactos Ambientais da Cogeração no Segmento de Papel e Celulose..................................................................................... 6.4.1. Biomassa (Resíduos e Lixívia)...................................................... 6.4.2. Gás Natural.................................................................................... 6.4.3. Vantagens na Substituição de Combustíveis Fósseis por Biomassa/Gás Natural................................................................... 6.4.3.1. Cálculo das Emissões Atuais de Poluentes para o Grupo de Indústrias Selecionadas................................................................. 6.5. Emissões de Carbono................................................................. 6.6. Avaliação Ambiental do Grupo de Empresas Selecionadas 6.6.1. Avaliação das Emissões de Carbono para o Grupo de Empresas Selecionadas - Oportunidades do Protocolo de Quioto................ 7. ESTUDO DE CASO: KLABIN - FABRICADORA DE PAPEL E CELULOSE S.A. - UNIDADE DE NEGÓCIO PARANÁ............... HISTÓRICO DO GRUPO 7.1. KLABIN........................................................ 7.2. KLABIN Fabricadora de Papel e Celulose S.A. - Unidade de Negócio Paraná............................................................................ 7.3. Necessidades de Vapor e Energia Elétrica do Processo de Fabricação de Celulose e Papel................................................. 7.4. Descrição da Área de Vapor e Energia - AVEN......................... Desmineralização......................................................................... 7.4.1. . 7.4.2. Geração de Vapor.......................................................................... 7.4.3. Energia Elétrica.............................................................................. 7.4.4. A Unidade de Cogeração............................................................... 7.5. Introdução de Tecnologias mais Eficientes no Processo de Cogeração.................................................................................... 7.5.1. Câmara de Combustão.................................................................. 8. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE COGERAÇÃO DA KLABIN. 8.1. Introdução.................................................................................... 8.2. 1a Configuração: Instalação de Uma Central Térmica a partir da Biomassa Disponível na Própria Indústria........................... 8.2.1. Fluxograma da Instalação.............................................................. 8.2.2. Dados Técnicos Gerais.................................................................. 8.2.3. Análise Termodinâmica................................................................. 8.3. 2a Configuração: Utilização de um Ciclo Combinado com Turbina a Gás, Queimando Gás Natural.................................... 8.3.1. Fluxograma da Instalação.............................................................. 74 74 75 77 78 79 83 84 86 89 91 91 94 98 99 103 103 104 105 108 108 109 109 110 112 114 116 116 117 117 118 118 120 120 8.3.2. Dados Técnicos Gerais.................................................................. 8.3.3. Análise Termodinâmica................................................................. 8.4. 3a Configuração: Implantação de um Ciclo Combinado com Turbina a Gás............................................................................... 8.4.1. Fluxograma da Instalação.............................................................. 8.4.2. Dados Técnicos Gerais.................................................................. 8.4.3. Análise Termodinâmica................................................................ 8.5. Análise de Viabilidade Econômica das Configurações Propostas para a KLABIN........................................................... 9. INSERÇÃO NA MATRIZ ENERGÉTICA....................................... 9.1. Experiências Internacionais....................................................... 9.2. A Legislação Brasileira Relativa à Auto-Produção de Energia Elétrica............................................................................ 9.3. Fatores Condicionantes ao Desenvolvimento da Cogeração. 9.3.1. Riscos............................................................................................ 9.3.2. Os Interesses Diferenciados.......................................................... 10. CONCLUSÕES.............................................................................. ANEXOS........................................................................................ BIBLIOGRAFIA............................................................................. 121 121 122 122 123 123 124 127 128 130 132 132 133 137 141 182 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1. Consumo de Eletricidade no Segmento de Papel e Celulose, por Categoria (MWh)................................................................. Tabela 3.2. Evolução no Consumo Total de Energia do Segmento de Papel e Celulose........................................................................ Tabela 3.3. Consumo de Combustíveis para Fins Térmicos, no Segmento de Papel e Celulose, por Categoria (teoc)................................. Tabela 3.4. Consumo de Combustíveis, para fins Térmicos, no Segmento de Papel e Celulose (teoc)........................................................ Tabela 3.5. Perfil Energético do Grupo de Empresas Selecionadas Comparado com o Segmento de Papel e Celulose................. Tabela 4.1. Potencial de Cogeração para o Grupo de Empresas Selecionadas (231.265 t/mês de celulose e 181.435 t/mês de papel.......................................................................................... Tabela 5.1. Custos de Geração de Eletricidade nas Indústrias Integradas de Papel e Celulose em Ciclo Combinado com Gás Natural.... Tabela 6.1. Valores das Emissões Específicas para Combustíveis Utilizados................................................................................... Tabela 6.2. Emissões de Poluentes para o Grupo de Indústrias Selecionadas, a partir dos Combustíveis Utilizados.................. Tabela 6.3. Consumo de Fósseis e Emissões de Carbono no Segmento de Papel e Celulose (1995)....................................................... Tabela 6.4. Emissões de Carbono Evitadas e Abatimento nas Emissões com as Novas Configurações.................................................... Tabela 6.5. Créditos de Carbono Correspondentes ao Abatimento das Emissões (Configuração - TG/C.C.)......................................... Tabela 7.1. Consumo de Vapor e Energia Elétrica em cada Etapa do Processo de Fabricação de Celulose e Papel........................... Tabela 8.1. Custos de Geração de Eletricidade (US$/MWh) na Klabin - 1a Configuração............................................................................. Tabela 8.2 Custos de Geração de Eletricidade (US$/MWh) na Klabin - 2a Configuração............................................................................. 31 32 37 38 40 66 72 92 93 99 101 101 108 125 125 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1. Figura 2.2. Figura 3.1. Figura 3.2. Figura 3.3. Figura 4.1. Figura 4.2. Figura 4.3. Figura 4.4. Figura 4.5. Figura 4.6. Figura 4.7. Figura 4.8. Figura 4.9. Figura 4.10. Figura 7.1. Figura Figura Figura Figura 7.2. 8.1. 8.2. 8.3. Processo de Fabricação da Pasta Celulósica........................ Processo de Fabricação de Papel......................................... Porcentagem do Consumo Total de Energia por Categoria.... Porcentagem do Consumo Total de Energia do Segmento.... Matriz Energética do Segmento em 1996................................ Sistema de Cogeração Tipo Topping...................................... Sistema de Cogeração Tipo Bottoming................................... Turbina a Vapor de Contra-Pressão........................................ CEST - Condensing Extraction Steam Turbine Cycle..........… Leito Fluidizado - Princípios.................................................... Turbina a Gás.......................................................................... Ciclo Simples de Turbina a Gás com Regenerador................. Ciclo Combinado com Turbina a Gás...................................... Ciclo de Turbina a Gás com Injeção de Vapor........................ Ciclo Combinado com Injeção de Vapor/Gaseificação de Biomassa.................................................................................. Distribuição de Vapor e Energia Térmica: KLABIN - Divisão Paraná...................................................................................... Distribuição de Energia Elétrica: KLABIN - Divisão Paraná..... Fluxograma da Instalação - 1a Configuração........................... Fluxograma da Instalação - 2a Configuração........................... Fluxograma da Instalação - 3a Configuração........................... 25 27 32 33 36 44 45 47 49 52 53 55 56 58 60 106 107 117 120 122 RESUMO O segmento de papel e celulose, juntamente com o de açúcar e álcool, está entre os maiores consumidores de biomassa e de energia do setor industrial, apresentando perfis energéticos adequados aos processos mais eficientes de cogeração. As indústrias de celulose, bem como as integradas (papel e celulose), geram grande parte da energia consumida a partir da lixívia produzida no próprio processo e de biomassa em geral. No entanto, as indústrias de papel apresentam reduzida capacidade de auto-geração. Neste contexto, o presente trabalho analisa um grupo de indústrias, correspondendo a aproximadamente 45% da produção do segmento, avaliando a situação atual dos sistemas de cogeração e o potencial de geração de eletricidade com a introdução de tecnologias mais eficientes e com menor impacto ambiental. Foram considerados combustíveis com menores emissões de poluentes, como a biomassa e/ou gás natural. Entretanto, apesar das vantagens ambientais, há dificuldades econômicas, pois o custo da energia gerada não é competitivo com as tarifas oferecidas pelas concessionárias. Por outro lado, há as perspectivas do Protocolo de Quioto, que aponta para os Clean Development Mechanisms, que poderão ser efetivados com os países desenvolvidos que necessitam reduzir suas emissões de carbono. Desta forma, a auto-suficiência energética desse segmento industrial - e mesmo a geração de excedentes para venda - pode ser uma oportunidade importante para investimento de capital estrangeiro, em vista do balanço de carbono quase nulo referente à geração de energia (a partir de biomassa, de forma sustentável). Através dos resultados obtidos nas análises nesta pesquisa apresentadas, sendo considerados alguns intervalos de valores previstos para as taxas de carbono, foram avaliadas as possibilidades de investimentos externos para diferentes cenários. Os resultados obtidos são, então, discutidos, visando a viabilidade econômica do empreendimento. O estudo de caso realizado na indústria Klabin Fabricadora de Papel e Celulose - Unidade de Negócio Paraná, possibilitou avaliar diferentes opções de geração de eletricidade, para atingir a autosuficiência. Os fatores apresentados, associados à crise atual do setor elétrico brasileiro, à falta de garantia na oferta de energia e aos riscos de interrupção no fornecimento, representam a justificativa deste trabalho. ABSTRACT The pulp and paper segment as well as sugar and alcohol, is among the largest biomass and energy consumers in the industrial sector, presenting energy profiles that fit to the most efficient co-generation processes. The pulp industries, as well as the integrated ones (pulp and paper), generate great part of the energy consumed starting from the black-liquor produced in the process and the biomass in general. However, the paper industries present reduced solemnity-generation capacity. In this context, the present study analyzes a group of companies, corresponding to approximately 45% of the total production of the segment, evaluating the current situation of the co-generation systems and the potential of electricity generation with the introduction of more efficient technologies and less environmental impact. Fuels with less pollution emissions were considered, like biomass and/or natural gas. However, in spite of the environmental advantages, there are economic restrictions, since the cost of the generated energy is not competitive with the tariffs offered by the concessionaires. On the other hand, there are the perspectives of the Protocol of Quioto, which points out for the “Clean Development Mechanisms”, that can be reinforced by the developed countries that need to reduce carbon emissions. This way, the energy self-sufficiency of this industrial segment - and even the surplus generation for sale - can be an important opportunity for foreign capital investments, in view of the almost neutral carbon balance (balanced carbon equation), regarding to the energy generation (starting from the biomass, in a sustainable way). Based on the results obtained in the analysis presented in this study, considering some intervals of values foreseen for the carbon rates, we analyzed external investment possibilities for different scenarios. The obtained results are then, discussed, seeking for the feasibility of the enterprise. A case study was conducted at Klabin Fabricadora de Papel e Celulose Paraná Business Unity, which allowed the analysis of different options for reaching self-sufficiency in electricity generation. The identified issues and aspects, associated to the current crisis of the Brazilian electric sector, the lack of confidence in the energy supply, besides the supply interruption risks, represent the main reasons of this study. 1 INTRODUÇÃO O segmento de papel e celulose está incluído entre os mais eletrointensivos do setor industrial. As indústrias de celulose (que utilizam o processo Kraft de fabricação da celulose), bem como as integradas (papel e celulose) geram grande parte da energia consumida (50 a 60%), a partir da lixívia produzida no próprio processo e de biomassa em geral (resíduos de madeira). No entanto as indústrias de papel produzem apenas 10% da eletricidade necessária ao processo, sendo o restante comprado das concessionárias, principalmente, pelo fato de não terem disponibilidade de combustível produzido nas próprias empresas (COELHO e IENO, 1993). Este trabalho objetiva a análise técnica e econômica da cogeração para que o segmento de papel e celulose atinja a auto-suficiência em geração de eletricidade, colaborando na oferta de energia através de um planejamento integrado do setor elétrico. Em particular é realizado um estudo de caso da indústria Klabin, situada em Telêmaco Borba, no Paraná, para análise da situação atual do sistema de cogeração existente, avaliando, também, o potencial de geração de eletricidade com a introdução de tecnologias mais eficientes. As possibilidades de auto-suficiência do segmento são analisadas, em particular com o uso de turbinas a gás, queimando gás natural, adaptadas ao sistema de geração existente. O rendimento obtido para este processo é expressivamente maior que o atual, permitindo mesmo a geração de excedentes que poderiam ser vendidos à concessionária. A avaliação econômica dos custos de geração indica a faixa de valores para os quais esta nova tecnologia será viável economicamente. As indústrias de celulose e as integradas utilizam como combustível nas caldeiras, para a geração de vapor, subprodutos (resíduos de madeira e lixívia), além de lenha e óleo. Este vapor além de ser necessário no processo 2 de fabricação do papel e da celulose, é também usado para produção de energia elétrica, através da cogeração (FONSECA, 1992, BONOMI, 1985). Com a utilização da biomassa (subprodutos) e do gás natural surge uma possibilidade promissora para o segmento, em vista das vantagens econômicas e ambientais. Havendo excedente de eletricidade gerado, este pode ser vendido às concessionárias, ou a terceiros, contribuindo para suprir as necessidades da demanda. Em vista da crítica situação do setor elétrico (COELHO e ZYLBERSZTAJN, 1998), a introdução de novas tecnologias corresponde, portanto, a importante melhoria, permitindo maior participação do setor privado na geração de eletricidade (CURY et al., 1997, SCHELEDER, 1997) e colaborando para a solução de alguns problemas que serão postos em questão, neste trabalho. “Na década de 90 o setor atravessa uma fase de reestruturação profunda, envolvendo não somente modificações na sua legislação, mas também iniciando um processo de privatização, dentro da nova política definida pelo Governo Federal. Esse processo foi introduzido, principalmente, em face da crise financeira iniciada na década de 70 e agravada ao longo do tempo, em conseqüência das tarifas mantidas em patamares reduzidos (entre outros motivos) como tentativa de combate à inflação de governos anteriores” (COELHO, 1999, p. 1). Esta crise impossibilita os investimentos necessários para garantir a oferta de energia, o que aliás é apontado como um dos motivos para a privatização do setor. Por outro lado, o consumo de energia, principalmente no setor residencial, vem apresentando um crescimento significativo desde 1994, com a implantação do “Plano Real” de estabilização econômica, que possibilitou a ampliação dos hábitos de consumo da população. Em conseqüência deste fato, desde 1996 a própria Eletrobrás vem acenando com a possibilidade de se concretizarem as previsões de falta de energia mencionadas nos seus mais recentes Planos Decenais de Expansão (Eletrobrás 1995,1996). 3 Os riscos de déficit apresentados são cada vez mais elevados, pois o aumento do consumo de energia elétrica associado a um período de poucas chuvas, tende a piorar a situação do abastecimento de energia elétrica, devido às características essencialmente hidráulicas da capacidade instalada no país. O Plano Decenal da Eletrobrás 1997-2006 (Eletrobrás, 1996) prevê que a capacidade hidráulica instalada não terá condições de suprir as previsões de consumo. Está prevista, portanto, a curto prazo, a construção de termelétricas, mas dependendo da participação de capital privado, em virtude das dificuldades do setor. Há, ainda, a preocupação com o aumento do preço do gás natural proveniente da Bolívia, devido à recente elevação do dólar. Inclusive, em fevereiro de 2000, inúmeros incentivos foram definidos pelo MME - Ministério de Minas e Energia - para tentar viabilizar as UTE’s - Usinas Termelétricas - a gás natural, incentivos estes que sempre foram recusados aos cogeradores com biomassa, como será analisado neste trabalho. Nesse cenário, a auto-suficiência de cogeradores (mesmo que não ocorra a venda de excedentes de eletricidade, como por exemplo aqueles produzidos pelas indústrias de papel e celulose), seria uma opção interessante para contribuir na oferta de energia, evitando (ou postergando) a construção de novas unidades de geração. Estudos anteriores (COELHO, 1992) mostram essa viabilidade para o segmento de álcool e açúcar. Apesar das muitas vantagens da geração descentralizada e da cogeração (SCHELEDER, 1997, WALTER, 1994, COELHO, 1992) nota-se que persistem dificuldades para sua implantação. Existe dentro do setor elétrico uma super-valorização do potencial hidrelétrico, mesmo com as restrições existentes ao aumento do parque hidrelétrico e com os impactos ambientais provocados pelas usinas hidrelétricas (detalhadamente discutidas em MOREIRA e POOLE, 1991). E, recentemente, as grandes térmicas a gás natural são objeto da mesma super-valorização. 4 Nas concessionárias, a compra de excedentes de auto-produtores, ainda é vista com reservas, mesmo após a privatização, pois se apóiam no questionamento da qualidade do serviço prestado pelo auto-produtor (ou cogerador), com exigências que muitas vezes não são cumpridas pela própria empresa (WALTER, 1994). Estudos sobre cogeração em diversos segmentos industriais (COELHO et al., 1996 e 1992, WALTER, 1994) realizaram análises técnicas e econômicas da cogeração a partir de biomassa, bem como verificaram seus aspectos ambientais e sociais. Em estudos posteriores (COELHO e ZYLBERSZTAJN, 1996) observou-se que apesar das vantagens para os setores envolvidos e dos benefícios ambientais aportados, esta opção para produção de eletricidade ainda encontra barreiras, principalmente não tecnológicas, impedindo sua implementação em larga escala. Verificou-se que, além de outros motivos, a legislação e a regulamentação ainda são inadequadas, além de existirem dificuldades de negociações entre as partes (COELHO, 1999). Deve-se considerar, também, as perspectivas do Protocolo de Quioto, estabelecendo as possibilidades de desenvolvimento dos Clean Development Mechanisms, em parceria com os países desenvolvidos que necessitam reduzir suas emissões de carbono. Desta forma, a auto-suficiência energética deste segmento industrial (ou mesmo a geração de excedentes para a venda) pode ser uma oportunidade importante para investimentos de capital estrangeiro, através deste mecanismo, em vista do balanço de carbono quase nulo referente à sua geração de energia, pelo fato de que a mesma é efetuada a partir de biomassa, e de forma sustentável. Além das vantagens da geração descentralizada, há também os aspectos positivos da geração de excedentes, entre elas a dinamização do setor de bens de capital e aumento da demanda de serviços especializados, aumento na arrecadação de impostos, aumento e/ou estabilização de empregos na zona rural (WALTER, 1994). 5 Pelo exposto, a implementação da cogeração no segmento de papel e celulose aparece como uma possibilidade de produzir benefícios para os setores envolvidos, bem como para a sociedade como um todo. Esta é a colaboração que o presente estudo pretende oferecer, visando contribuir para que o planejamento energético do país inclua, efetivamente, mais opções de oferta de energia. 6 1. A SITUAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO 1.1. Introdução Ao longo da década de 1990, o setor elétrico foi profundamente reestruturado, estando praticamente concluído o novo Modelo Institucional para o setor. Esta transformação inclui não apenas modificações na sua legislação, mas também o processo de privatização em curso, no âmbito da política definida pelo Governo Federal. Essas mudanças institucionais visam reduzir o papel do Estado e abrir espaço para a participação do capital privado. Desde os anos 70 a crise do setor elétrico foi se agravando em conseqüência das tarifas mantidas em patamares reduzidos (entre outros motivos), como tentativa política de combate à inflação de governos anteriores. Nestas condições, inviabilizaram-se os investimentos necessários para garantir a oferta de energia, de forma que, segundo a Eletrobrás, nos últimos anos, os investimentos têm sido em média de R$ 4 bilhões anuais, sendo que a necessidade é de R$ 6 bilhões (Eletrobrás, 1996). O “Plano Real” possibilitou a ampliação dos hábitos de consumo da população, que só no 1º semestre de 1996 comprou 1,8 milhões de geladeiras, 4 milhões de televisores, 2,5 milhões de ferros de passar e milhares de outros produtos elétricos. Segundo HUKAI1, esses equipamentos representaram um consumo adicional de 3.100 GWh, o equivalente à metade da energia produzida pelas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, as duas maiores da Companhia Energética de São Paulo (CESP). De 1994 para 1995, o consumo de energia elétrica no setor residencial do Estado de São Paulo aumentou em 11,8% (BEN, 1996), de 1995 para 1996, em 8,6%, contra previsões iniciais de 2,6% (Eletrobrás, 1995, 1996). De 1996 para 1997 o aumento foi de 5,9% (BESP, 1998) e de 1997 para 1998, de 4,8% 1 HUKAI, R. IEE/USP. Comunicação Pessoal. São Paulo. 1996. 7 (BESP, 1999). O crescimento do consumo de eletricidade per capita, em 1996, foi em torno de 4% a.a. neste período (10% a.a. no setor residencial). O consumo foi de 90.000 GWh, atingindo um número de 10 milhões de consumidores, com uma potência instalada de 11.738 MW, sendo 95,6% correspondente à hidreletricidade (CESP/ELETROPAULO). A classe residencial foi responsável por cerca de 27% do consumo de eletricidade no país e para 1997 as perspectivas eram de um aumento de aproximadamente 6%, segundo a Eletrobrás. O crescimento do consumo de eletricidade entre 1992 e 1997 foi de mais de 16%. Desde 1996 há uma grande preocupação com o déficit de energia, pois o país que estava no auge do consumo de bens eletro-eletrônicos manteve o crescimento do consumo de eletricidade. As indústrias necessitam de maior quantidade de energia para atender o crescimento da demanda e o país depende do comportamento das chuvas para equilibrar o nível dos reservatórios. Durante o ano de 1996 foram veiculadas notícias sobre algumas medidas preventivas, que seriam tomadas em dois anos. Pela CESP/GCOI2 foi anunciado o cancelamento de todos os contratos de fornecimento de energia temporária com desconto para a indústria, que são firmados quando existe energia excedente. A Eletrobrás3, então, na época, anunciou: (a) a tentativa de retomar a operação da Usina Nuclear de Angra I (mesmo com as restrições ambientais, más condições das estradas para evacuação da cidade em caso de acidente, etc.); (b) a antecipação do horário de verão para a primeira semana de outubro e (c) a motivação dos consumidores para remanejar determinados processos de produção para horários noturnos, quando a oferta de energia é maior (criação de novos valores tarifários para o período noturno). Outras medidas foram sendo anunciadas, como: 2 3 ARCE, M. - Jornal O Estado de São Paulo - 1996. SAMPAIO NETO, F. - Jornal O Estado de São Paulo - 1996. 8 (a) acionamento de todas as centrais termelétricas a óleo e carvão da região Sul e Sudeste, para gerar 900 MW adicionais ao sistema, evitando sobrecarga e risco de blecaute nos horários de pico; (b) a negociação do gás natural da Bolívia; (c) a ampliação de Itaipu; (d) a importação de energia da Argentina; (e) a conclusão das obras da Usina Nuclear Angra II e (f) a construção de pequenas e médias usinas pela iniciativa privada. Com todos esses problemas, além de anos seguidos de investimentos abaixo do nível ideal e consumo maior que o previsto, o Brasil estava correndo o sério risco de ter um colapso no abastecimento de energia nos próximos anos. Uma das medidas anunciadas, posta em prática nessa época, para evitar sobrecarga e risco de blecaute nos horários de pico, foi o acionamento de todas as centrais termelétricas a óleo e carvão das regiões sul e sudeste, adicionando, realmente, os 900 MW ao sistema. Esse aumento do consumo de energia e o período de poucas chuvas agravaram a situação do abastecimento de energia elétrica dos meses seguintes. Sem tempo para iniciar alguma obra, o Brasil ficou na dependência do comportamento das chuvas. Além do consumo maior do que o previsto e da estiagem, os investimentos do setor estavam abaixo do nível ideal. Embora as previsões de déficit não tenham se concretizado ao longo do tempo, em 1999, o Ministério de Minas e Energia criou uma Comissão Especial para definir “Diretrizes Políticas para Implementação da Cogeração” no país, comissão esta que, quando este estudo estava em fase final, trabalhava na elaboração do documento em questão. Na verdade, o governo contava com o sucesso da privatização dessa área, onde a velocidade dos investimentos estava estimada entre US$ 5 e 6 9 bilhões por ano (entre 1995 e 1997 a média ficou em R$ 4 bilhões por ano), com ampliação da capacidade explorada de 2,5 mil a 3 mil MW (entre 93 e 94 a média ficou em 1,1 MW). O Plano Decenal de Expansão 1997-2006 previa para o período 1997/2001 a necessidade de investimentos da ordem de R$ 39 bilhões, sendo 49% para a geração, aí incluídos os investimentos previstos do setor privado, cuja participação deveria ser de 50% dos investimentos necessários (CARRARO, 1997), o que até 1999 não ocorreu. A elevação da taxa de câmbio aumentando o preço do gás natural e dos equipamentos importados para as novas Usinas Termelétricas foi considerada um dos motivos. Entretanto, especialistas consideram que o governo só vai atrair novos investimentos quando regulamentar a privatização com regras claras. Além do investimento para elevar a produção, uma outra obrigação do governo é racionalizar o uso da energia (GOLDEMBERG, 1996)4. Aliás, deve-se pensar seriamente que os investimentos previstos pelas grandes empresas estrangeiras vão exigir mais da infra-estrutura nacional, principalmente na área de energia. Hoje, os riscos de déficit estão cada vez mais elevados. Segundo CARRARO, 1997 o risco de déficit para 1997 se reduziu de 8% para 5%, devido às chuvas, mas ainda assim houve interrupções no fornecimento na região. De acordo com a Eletrobrás, o Sistema Interligado S/SE/CO, para o triênio 1998/2000, apresenta riscos anuais de déficit de energia que superam o critério de planejamento de 5%, atingindo o patamar de 15% em 1998 (Eletrobrás, 1996, p. 68), a menos que ocorra uma hidrografia favorável (como acabou acontecendo em 1996 e 1997), devido às essencialmente hidráulicas da capacidade instalada no país. 4 Jornal - O Estado de São Paulo - 04/08/1996. características 10 O próprio planejamento da Eletrobrás prevê que a capacidade hidráulica instalada e a instalar, com todos os aproveitamentos possíveis, não terá condições de suprir as previsões de consumo, havendo a necessidade de construção de termelétricas a curto prazo (Eletrobrás, 1996). A Eletrobrás reconhece também que as restrições que limitam os investimentos no setor elétrico têm postergado obras de transmissão, com sérios reflexos no comportamento do sistema: aumento de perdas, deterioração dos níveis de confiabilidade e até mesmo a situação extrema de não atendimento a determinadas cargas (Eletrobrás, 1996). Para a região S/SE/CO, a demanda máxima prevista para 1997 era de 38.667 MW, contra uma capacidade de 47.833 MW; no entanto, em junho do mesmo ano, a demanda da região atingiu o patamar de 41.700 MW, o que corresponde a um limite bastante crítico, segundo os especialistas do setor. O Estado de São Paulo, importador de aproximadamente 36% de seu consumo de energia elétrica (Furnas e Itaipu), atravessa uma situação particularmente difícil para garantir a oferta, sendo obrigado a ativar toda a sua capacidade instalada, principalmente durante o período seco: como já foi visto anteriormente, o consumo do Estado vem crescendo, e dos 98.000 GWh por ano consumidos em 1998 (BEN, 1999), apenas 4.780 GWh (4,9%) corresponde a auto-produção (BESP, 1999); valor este que reflete a reduzida quantidade de energia gerada em cogeração no Estado (COELHO, 1999). Em fevereiro de 2000 o Ministério de Minas e Energia anuncia a futura instalação de 17.000 MW no país em usinas termelétricas a gás natural, “considerando a crítica situação de risco de déficit”, segundo o Ministério. Entretanto, sabe-se que há dificuldade na oferta de gás natural, pois o gás natural da Bolívia não será suficiente para estas térmicas e há necessidade de construção de gasodutos. Além disso há a dificuldade no fornecimento da turbina a gás, uma vez que os fabricantes existentes no mercado interno (ABB, 11 G.E., Siemens) estão com a produção comprometida para os próximos dois anos, conforme informações recebidas. Nesse contexto, a auto-suficiência de cogeradores (mesmo que não ocorra a venda de excedentes de eletricidade, como por exemplo aqueles produzidos pelas indústrias de papel e celulose), seria uma opção interessante para contribuir na oferta de energia, principalmente no período seco e nos horários de pico, evitando (ou postergando) a construção de novas unidades de geração, como discutido adiante. A Lei 9074, do Produtor Independente, foi assinada em 1996 mas apenas em 1999 foram definidas as tarifas de pedágio5 (wheeling), fator imprescindível para a viabilização do Produtor Independente de Energia, por permitir a comercialização da energia gerada junto a terceiros. Entretanto, há incentivos especiais somente para as PCH’s - Pequenas Centrais Hidrelétricas. Além deste fato há a dificuldade relativa à falta de consenso entre as partes com relação ao preço de venda do excedente de eletricidade gerado à concessionária, sem garantia de contratos de vendas que poderiam viabilizar o investimento. São veiculadas regularmente campanhas publicitárias, visando a redução do consumo de eletricidade (PROCEL - Programa de Conservação de Energia Elétrica) junto ao setor residencial; porém, o setor industrial, apresenta um enorme potencial, merecedor de atenções especiais. Desde 1996, em função das ameaças de déficit, dos riscos de interrupção do fornecimento e até da perspectiva de elevação das tarifas, como começa a ser hoje sinalizado, algumas empresas passaram a considerar a possibilidade de investir em auto-geração, tendo como maior preocupação as 5 Pedágio é o termo empregado na designação do transporte de energia através da rede de um sistema elétrico. A energia não fica à disposição do sistema e sim das partes envolvidas - o produtor e o consumidor - que pagam uma taxa pelo uso da rede. O wheeling pode existir entre concessionárias, entre o produtor e uma concessionária, entre o produtor e qualquer consumidor e entre um centro produtor e outro consumidor de uma mesma empresa. 12 sérias dificuldades que enfrentariam na produção e na qualidade de seus produtos. 1.2 . A Cogeração no Brasil A cogeração é um método de conservação de energia em que, energia mecânica (eletricidade) e calor útil (vapor) são produzidos a partir de um único combustível. É importante esclarecer a diferença entre auto-produtor, que é todo aquele que produz energia (térmica, hidráulica, etc.) e cogerador, que é aquele que também produz energia, porém, com a característica técnica de produzir vapor e eletricidade. A cogeração surgiu na esteira dos choques do petróleo que provocaram a elevação dos custos de geração termelétrica, predominante nos países industrializados, e teve notável impulso naqueles países com a introdução de novas tecnologias, ao mesmo tempo em que se expandia a oferta de gás natural. Entretanto entre os possíveis cogeradores e o mercado interpunham-se as concessionárias monopolistas e verticalizadas, com o direito de exclusividade na geração, transmissão e distribuição de eletricidade em sua área de concessão, as quais nestas condições eram as únicas compradoras de energia elétrica. Em face dos benefícios decorrentes da maior eficiência energética e do menor consumo de combustíveis, os governos de muitos países estabeleceram regras que tornaram obrigatória a compra ou a livre negociação desta geração, o que correspondia a introduzir um certo nível de competição na margem de um mercado monopolista. 13 Os trabalhos desenvolvidos pela Secretaria de Energia do Ministério de Minas e Energia, apoiada por consultores internacionais, recomendam que se estabeleçam condições que encorajem investimentos econômicos numa perspectiva nacional, devendo a compra da energia de cogeração refletir custos de oportunidade adequados. No Brasil, isto implica que a geração térmica seja complementar à hidráulica, devendo ter seu custo reduzido quando houver abundância de energia secundária. Entre os principais obstáculos à cogeração no Brasil, do ponto de vista das concessionárias (SCHELEDER, 1997), existem os seguintes argumentos das concessionárias: a) a cogeração agravaria a já delicada condição de muitas concessionárias, algumas delas com super-investimentos e com dificuldades para repassar a energia própria aos consumidores (o que não ocorre em 1999 com as dificuldades na oferta); b) o projeto de cogeração pode se tornar anti-econômico pois, algumas instalações de cogeração não podem garantir uma operação contínua, estando sujeitas a paradas por quebra ou manutenção. Sendo assim, os cogeradores não podem dispensar o fornecimento de energia junto à concessionária local, dando a ela a possibilidade de estabelecer, para estes fornecimentos ocasionais, preços muito elevados. Na verdade, esta dificuldade pode ser contornada com políticas adequadas (COELHO, 1999); c) a energia elétrica excedente dos cogeradores, na maioria dos casos, desperta pouco interesse por parte das concessionárias, por representar pequenos blocos de energia, de forma que as mesmas preferem equacionar seu suprimento por meio de alguns poucos contratos de maior porte. Entretanto, vários estudos (COELHO, 1999, WALTER, 1994), analisam as vantagens deste processo, como sua maior eficiência, menor consumo de combustível e portanto menor emissão de poluentes, além das vantagens da geração descentralizada. 14 Em geral, a cogeração ainda não progrediu significativamente no país, limitando-se à auto-produção de energia elétrica e produção de vapor de processo em algumas unidades industriais nas áreas de petróleo e petroquímica, papel e celulose, siderurgia, produção de açúcar e álcool, sem venda de excedentes significativos às concessionárias. No setor sucroalcooleiro, a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), no Estado de São Paulo, adotava uma política de contratos experimentais de aquisição de energia excedente, porém a preços não compensadores para a expansão da cogeração naquele segmento. Após a privatização parece não haver maior interesse por parte da concessionária. Um estudo detalhado desta situação encontra-se em COELHO, 1999. É necessário lembrar que o setor elétrico, por falta de investimentos, opera hoje mais próximo ao limite de sua capacidade, sendo necessário agregar geração ao sistema nos próximos anos, independente do combustível ser petróleo ou gás natural ou mesmo biomassa. Contudo, é importante lembrar que “(...) o país dispõe de opções nacionais (e ambientalmente adequadas) do ponto de vista energético, que poderiam ser utilizadas de forma mais coordenada e eficiente, em particular na situação que atravessamos”.6 Estima-se haver um expressivo potencial de produção de energia elétrica por processos de cogeração, em especial nas regiões industrializadas, no segmento de papel e celulose, no sucro-alcooleiro, e também no setor terciário (de comércio e serviços), como por exemplo, hospitais, aeroportos, hotéis, shopping centers e outros (BELLINI, 1998), superando a capacidade das termelétricas convencionais indicadas no Plano Decenal de Expansão. Sob o ponto de vista do sistema elétrico nacional como um todo SCHELEDER, 1997 analisa que a viabilização de investimentos em cogeração assume um caráter prioritário, pelas seguintes razões: 6 COELHO, S.T., 1999 - CENBIO Notícias - no 5, p. 2 15 a) a medida em que a geração se realiza com maior eficiência energética, a produção de energia elétrica ocorre a custos economicamente favoráveis; b) são dispensados os vultosos investimentos na transmissão e aliviados os sistemas de distribuição existentes, pois a produção se dá próxima aos centros de carga; c) pelo fato dos investimentos necessários serem privados, a cogeração se torna interessante para a atual fase de transição, diante da limitada capacidade de investimento das concessionárias e à mobilização ainda insuficiente de novos investidores; d) com a chegada do gás natural à região sul/sudeste, em 1998/1999, abre-se uma ampla perspectiva para a cogeração, com reflexos positivos no desenvolvimento de companhias distribuidoras de gás e na formação de um mercado voltado ao uso eficiente daquele combustível; e) aumento da confiabilidade da transmissão e distribuição pela produção descentralizada de energia, tendendo a reduzir a incidência de falhas no sistema interligado e f) do lado do consumidor/cogerador, aumenta substancialmente a garantia de disponibilidade de energia, livrando-o das eventuais falhas e interrupções do sistema elétrico externo. O conjunto desses fatores mostra a vantagem de se incentivar e promover o processo de cogeração no âmbito nacional. Para tanto é fundamental a iniciativa das indústrias e dos empreendedores que, identificando a possibilidade de uma instalação, viabilizem seu projeto. As concessionárias (SCHELEDER, 1997), entretanto, questionam essas vantagens, sob diversos argumentos e pelas seguintes preocupações: a) eventual necessidade de abrir mão de suprimentos a preços menores ou de geração própria; b) possibilidade de excedentes nos contratos de suprimento vigentes; c) obrigação de arcar com os prejuízos de conexões que não gerem um faturamento que as justifique; 16 d) incidências de custos adicionais de serviços de operação e de transação decorrentes deste tipo de conexão e intercâmbio, em múltiplos suprimentos de menor porte e e) sentimento de perda de consumidores e de receita. COELHO, 1999 (p.75) discute esses fatores e explica o desinteresse em programas de conservação de energia por parte de muitas concessionárias; “(...) é freqüente nas (concessionárias) (...) o receio de “perder” os seus maiores clientes (...). Esta “perda” não representa apenas uma “perda econômica” (...) mas também a perda de poder político (...)”. Os últimos planos indicativos da expansão do setor elétrico brasileiro, elaborados sob a coordenação da Eletrobrás e com a participação de todas as empresas concessionárias do país, embora não contemplem a cogeração e/ou auto-produção como esperado, representam em termos conceituais, um importante avanço sobre os ciclos de planejamento anteriores (SCHELEDER, 1997). Em primeiro lugar, reconhecem a possibilidade de maiores índices de risco na garantia de suprimento de energia em curto prazo, como decorrência da redução dos níveis de investimento do setor estatal nos últimos dez anos e da necessidade, ainda não totalmente preenchida, de novos instrumentos legais e regulatórios capazes de atrair recursos financeiros de outras fontes, no momento em que o Brasil inicia um novo ciclo de crescimento econômico. Essa constatação sinaliza oportunidades para os agentes empresariais interessados na expansão do setor. Em segundo lugar, admitem a importância dos programas de conservação de energia, consubstanciados no PROCEL, como uma das medidas mitigadoras dos índices de déficit no período analisado. Finalmente, determinam que, no próximo decênio, será necessário promover uma maior participação da geração termelétrica na expansão, 17 considerando essa oportunidade como complementação dos aproveitamentos hidrelétricos previstos. Além de contribuir para a garantia do suprimento de energia elétrica, a solução térmica pode ser integrada com as demais políticas voltadas para o crescimento econômico e para o desenvolvimento social do Brasil. Dentro desse conceito, a instalação de usinas termelétricas de grande porte, previstas nos planos de expansão, deve ser comparada com as oportunidades de cogeração industrial e comercial, principalmente nas regiões mais desenvolvidas e industrializadas do país, oferecendo maiores oportunidades de negócios e empregos. Além da cogeração ser mais eficiente do que a geração convencional, em termos energéticos, podendo atingir níveis superiores a 80%, eliminando o desperdício e reduzindo o consumo e a importação dos combustíveis necessários, existem os vários aspectos positivos da geração descentralizada, conforme analisado por WALTER, 1994. A cogeração constitui uma alternativa adequada por representar soluções locais, dispersas e de menor porte. As unidades de cogeração instaladas junto às indústrias, centros comerciais, hotéis, aeroportos, hospitais e outras concentrações de consumo de eletricidade e energia térmica, permitem o atendimento dessas importantes parcelas do mercado sem a necessidade de elevados investimentos adicionais em transmissão e distribuição, liberando a energia já disponível para outros usuários de menor consumo. Com isso se privilegia a maior eficiência na produção e no uso de energia e a integração da política de desenvolvimento energético com as demais políticas nacionais. As informações disponíveis sobre a auto-produção, de uma forma geral, e sobre a cogeração, em particular, não permitem uma caracterização exata do papel dessas tecnologias na geração elétrica, no Brasil. Os dados do Balanço Energético Nacional indicam, no entanto, uma forte redução da auto-produção, notadamente entre 1970 e 1986 (WALTER, 1994). A partir daí apresentou uma pequena elevação e estima-se que a auto-produção contribua, em 1998, com 18 aproximadamente 6,7% da geração elétrica total (BEN, 1999). Em função da precariedade dos dados, a participação da cogeração é ainda mais difícil de ser identificada. O GCPS - Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos, da Eletrobrás, realizou um estudo - Estimativa do Potencial de Cogeração no Brasil - em 1999, objetivando atender uma diretriz governamental (do Ministério de Minas e Energia), onde informa a potência instalada de cogeradores e identifica os potenciais de cogeração, com ênfase nos projetos passíveis de inclusão nos Planos Decenais de Expansão, mediante consultas às concessionárias, entidades de classe, empresas e literatura especializada. Mais adiante serão analisados os resultados obtidos para o segmento de papel e celulose. A ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica - criada em substituição ao DNAEE pela Lei 9427 (1996)7, com a finalidade de regular e fiscalizar a produção, a transmissão e a distribuição de energia elétrica, vem trabalhando na regulamentação de processos ligados à cogeração, como a qualificação do cogerador, e à demanda suplementar de reserva (ambos colocados em consulta pública em setembro de 1999) em conformidade com as políticas e diretrizes do Governo Federal. Em 2000 (Resolução 21/2000) foi definida a “qualificação do cogerador”. Uma outra dificuldade para a implementação de projetos de cogeração se refere ao gás natural, que era considerado uma opção privilegiada para a cogeração e a produção descentralizada de eletricidade. Porém, passou a ser visto sob uma nova óptica: 90% dos projetos de cogeração de eletricidade na Grã-Bretanha, 75% nos EUA e 60% no Japão se baseiam no gás natural. Sua utilização em sistemas de turbina a gás, de evolução tecnológica recente, permite atingir elevada eficiência térmica e reduzidos custos de investimento 7 Em paralelo, foi criada a CSPE - Comissão de Serviços Públicos de Energia, com o papel de órgão regulador e fiscalizador para atuar sobre os serviços de energia elétrica e distribuição de gás canalizado, no Estado de São Paulo. 19 (SCHELEDER, 1997). Era esperado, inclusive, que com o gás da Bolívia, ocorresse um deslocamento no tipo de combustível consumido para geração de energia, substituindo, principalmente, o óleo combustível. Porém, a partir de janeiro de 1999, em vista da elevação dos preços do gás natural (cotado em dólares), em conseqüência da elevação da taxa de câmbio, há sinalização da inviabilidade da geração termelétrica a partir desse combustível, o que é agravado pelo fato de que também os equipamentos são importados. Em 1999 foi noticiado que investidores adiaram qualquer decisão de investimentos em geração de energia a partir do gás natural da Bolívia, pois o câmbio atual inviabiliza a geração termelétrica a partir de gás natural, estimada em R$ 60/MWh. Na época em que o gás da Bolívia estava cotado entre 2 - 3 US$/MMBTU, ao câmbio da época (com o real valorizado em US$ 1,24), este valor já era considerado elevado por muitos especialistas, para viabilizar investimentos em Usinas Termelétricas com esse combustível. Diante do atual patamar das taxas de câmbio, quase o dobro do que era anteriormente, existe a possibilidade de se manter o gás natural num preço equivalente a 70% do preço do óleo combustível, estimulando a competitividade do gás8. Depois disso, foi estabelecido preço especial para o gás natural (1,94 - 2,26 -2,55 US$/MMBTU), visando viabilizar as UTE’s. Uma indicação do papel reservado à cogeração nos próximos anos pode ser obtida a partir da análise do Plano 2015, documento de referência do planejamento de longo prazo do setor elétrico brasileiro. Neste documento é reconhecida a importante contribuição dessa tecnologia para a expansão do sistema elétrico em vários países. Para o caso brasileiro, no entanto, o texto se limita à recomendação de seu estudo e a avaliação de seus impactos sobre o 8 COELHO, S.T., 1999 - CENBIO Notícias - no 5, p.2 20 sistema elétrico e energético nacional (WALTER, 1994). Em COELHO, 1999 é apresentada uma discussão, em particular, a respeito da questão da reduzida participação da cogeração e das energias renováveis no planejamento. Em 1999 esperava-se que ocorressem mudanças, com a instalação da Comissão Especial para definir as “Diretrizes Políticas para Implementação da Cogeração”, no Ministério de Minas e Energia. Entretanto, como será visto, a ênfase acabou por ser dada às térmicas a gás natural (17.000 MW previstos em fevereiro de 2000), apresentado como combustível “limpo”, sem maiores atenções à biomassa, a despeito do potencial. 21 2. PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE PAPEL E CELULOSE9 A título de informação básica será realizada uma apresentação geral do processo de fabricação de celulose (incluindo a recuperação de produtos químicos) e do processo Kraft de fabricação de papel. Existem outros processos de produção de celulose, como por exemplo o processo termomecânico, não incluídos aqui, porque fogem ao contexto. 2.1 . Processo de Fabricação da Pasta Celulósica A madeira, matéria-prima utilizada na fabricação da celulose, é cortada após atingir certa idade e diâmetro das toras. O transporte desde a floresta é feito por meio de caminhões e são descarregadas através de agarradeiras móveis que retiram as toras dos caminhões para serem colocadas nas mesas transportadoras e enviadas aos tambores descascadores, que retiram e separam as cascas. As toras descascadas passam pelos picadores onde são reduzidas a pequenos fragmentos chamados cavacos, que passam pelas peneiras vibratórias, onde se separam as lascas e os finos, antes de entrarem nos digestores. O processo de cozimento é o chamado Kraft ou sulfato (o mais utilizado), que consiste em tratar os cavacos com lixívia branca (que é uma mistura de soda cáustica e sulfeto de sódio), a certa temperatura, pressão e tempo. O cozimento é interrompido quando se atinge a dissolução do maior grau possível de material não celulósico, composto principalmente de lignina e extrativos, preservando, porém, a qualidade e o rendimento da celulose. 9 Este item se baseia em material recebido por ocasião de visita à Cia. Suzano de Papel e Celulose, em 1996. 22 Nesta etapa a celulose passa por um processo de depuração, onde são separados os materiais não cozidos, como nós e palitos, bem como outras impurezas. O próximo passo é a lavagem, que separa da celulose os materiais orgânicos dissolvidos durante o processo de cozimento, juntamente com os inorgânicos. A lavagem consiste de vários estágios em sistema de contracorrente e circuito fechado, desenvolvidos em equipamento conhecido como mesa plana. A lixívia resultante do primeiro estágio, denominada lixívia preta (ou licor negro), é enviada à unidade de evaporação. Em seguida a celulose passa pelo processo de pré-branqueamento, onde é submetida ao tratamento com oxigênio, em meio alcalino, num reator pressurizado, a uma temperatura de 95 oC por, aproximadamente, 60 minutos. A lignina residual dissolvida é deslocada no processo de lavagem na segunda mesa plana, utilizando-se água quente e limpa no último estágio. A lixívia deslocada do primeiro estágio é enviada ao chuveiro do último estágio de lavagem da primeira mesa plana. A celulose pré-branqueada é lavada e estocada, de onde pode ser enviada ao branqueamento, para máquinas de papel ou unidades de secagem. 2.1.1. Recuperação dos Produtos Químicos A recuperação dos produtos químicos é realizada em três etapas: evaporação, caldeira de recuperação e caustificação, uma vez que sua recuperação é importante por motivos econômicos e ambientais. Na primeira etapa a água é evaporada para concentrar os sólidos, constituídos de álcalis e lignina, para possibilitar a queima na caldeira de recuperação. 23 A caldeira de recuperação, (também chamada caldeira Tomlinson) é o equipamento mais importante e complexo da planta; é o maior tanto em tamanho quanto em investimento dentro de uma fábrica de celulose, que usa como combustível a lixívia preta concentrada. A quantidade de lixívia preta gerada no mundo é de 0,5 milhões de toneladas de sólido seco por dia, sendo quase 50% desse valor gerado na América do Norte. O Brasil, junto com a Indonésia e outros países que apresentam baixo custo de produção de madeira, têm mostrado um rápido crescimento dessa taxa de geração, na produção de celulose (LARSON e CONSONNI, 1997). A maioria das caldeiras Tomlinson instaladas na América do Norte é da década de 80, tendo vida útil de aproximadamente 5 a 20 anos; assim, a maioria delas nos EUA (e Canadá) precisará, em breve, de cuidados ou mesmo substituição. Com isso, espera-se que a cogeração com caldeiras Tomlinson seja substituída pelos sistemas de cogeração com gaseificação da lixívia, utilizando turbinas a gás, que oferecem eficiência elétrica mais elevada, maiores cuidados ambientais, maior segurança para as indústrias (LARSON et al., 1997). A gaseificação da lixívia vem sendo desenvolvida nos EUA desde os anos 80, porém, o primeiro gaseificador começou a funcionar em 1996. Vários estudos foram realizados (CONSONNI et al., 1997) para verificar o desempenho desses sistemas, incluindo a gaseificação da biomassa (LARSON et al., 1997). LARSON e CONSONNI, 1997 avaliam diversas configurações para gaseificação da lixívia e comparam com os sistemas de cogeração com caldeiras Tomlinson. As principais funções da caldeira Tomlinson são recuperar os produtos químicos, transformando os sais de sódio da lixívia preta em carbonato de sódio e sulfato em sulfeto de sódio e recuperar energia, produzindo vapor pela combustão do material orgânico solubilizado durante o cozimento. Opera em 24 pressões e temperaturas elevadas (60 bar e 950 oC), que são valores comuns, na prática, para minimizar corrosão na fornalha e no superaquecedor). O vapor pode ser extraído da turbina a 4 bar e 12 bar para ser utilizado no processo. Pode-se encontrar, em algumas plantas no mundo, caldeiras Tomlinson operando a pressões mais elevadas (80 bar) (LARSON e CONSONNI, 1997). Os produtos químicos obtidos nesse processo são dissolvidos em lixívia branca fraca (água de processo) formando assim a lixívia verde, que é enviada à caustificação, processo este que efetiva a conversão da lixívia verde em lixívia branca reutilizável no processo de polpamento. Completa-se assim o ciclo de álcalis. O processo de branqueamento, citado anteriormente, pode ser definido como um tratamento físico-químico que tem por objetivo melhorar as propriedades da pasta celulósica a ele submetida. Algumas propriedades relacionadas com este processo são: alvura, limpeza e pureza química. No branqueamento das pastas químicas, em que a maior parte da lignina foi removida previamente pelo processo de polpação, devem ser removidos derivados de lignina, ainda remanescentes na pasta. Após essa remoção são aplicados produtos químicos que modificam quimicamente as substâncias coloridas, descolorando-as. Os parâmetros usuais que medem a eficiência do branqueamento são as propriedades ópticas da pasta (alvura, brancura, opacidade e estabilidade de alvura), relacionadas com a absorção ou reflexão da luz. Após isto a pasta celulósica está pronta para ser bombeada para as máquinas de papel e/ou para extração de celulose. A figura 2.1. ilustra o processo de fabricação da pasta celulósica. 25 Figura 2.1 - Processo de Fabricação da Pasta Celulósica toras lenha H2O casca descascamento caldeira biomassa cavacos superdim. vapor H2O preparação de cavacos caldeira óleo vapor cavacos vapor vapor óleo combustível licor de cozimento (licor branco) NaOH, Na2S cozimento turbina H2O licor depuração e lavagem energia elétrica evaporação licor negro (15% soda) O2 deslignificação com O2 licor negro concentreado (60 a 70% soda) H2O licor lavagem vapor (4 atm) para o processo caldeira de recuperação* vapor H2O vapor (12 atm) para o processo licor verde (lignina residual dissolvida) licor de cozimento caustificação (licor branco) vapor CaCO3 estoque vapor Forno de calcinação CaO de cal máquina de papel W unidades de secagem branqueamento agentes de branqueamento para tratamento de efluentes pasta celulósica para máquina de papel *Transforma os sais de sódio em Carbonato de Sódio e Sulfeto de Sódio. Fonte: Cia Suzano de Papel e Celulose, 1998. óleo combustível 26 2.2. Processo de Fabricação do Papel As máquinas para fabricação de papel são equipamentos que permitem produzir uma folha de papel de uma largura determinada e de um comprimento infinito. São por isso conhecidas como máquinas contínuas. São máquinas modernas, constituídas de várias seções independentes, cada seção com uma característica própria e com funções definidas. A fabricação do papel consiste essencialmente de três etapas principais, partindo-se da matéria-prima (celulose), que são: preparação da massa, formação da folha e secagem. Na primeira etapa - preparação da massa - é realizado o desfibramento para soltar as fibras numa solução de água, é feita a depuração, destinada a manter a pasta livre de impurezas e, também, a refinação que dará qualidades exigidas ao papel através da moagem das fibras. Além disso, é feito o tingimento, a colagem (adição de cola de breu), a correção do pH e a adição de aditivos. A segunda etapa - formação da folha - poderá ser realizada de maneira manual, em mesa plana ou num cilindro. A terceira e última etapa é a secagem, que é conseguida, inicialmente, prensando-se a folha, para retirar toda a água possível, e depois, fazendo-a passar por cilindros de ferro aquecidos, dispostos em duas linhas, horizontalmente, uma sobre a outra. A alimentação de vapor e a retirada de condensado são feitas através dos eixos. A figura 2.2. ilustra o processo de fabricação de papel. 27 Figura 2.2. - Processo de Fabricação de Papel Pasta Celulósica Aditivos Preparação de Massa Formação Água Branca (Branqueamento) Máquina de Papel Prensagem Secagem Vapor Papel Acabamento Papel Embalado Fonte: Cia. Suzano de Papel e Celulose, 1998. 28 3. O SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE 3.1. Situação Atual do Segmento Neste capítulo, será feita uma análise do consumo de energia no grupo de empresas considerado, por categoria, bem como do consumo de combustíveis fósseis e de biomassa, a partir de dados médios do segmento, levantados pela BRACELPA - Associação Brasileira dos Fabricantes de Celulose e Papel, dos dois últimos anos disponíveis (1995/1996). O segmento de papel e celulose foi escolhido para o presente estudo pelo fato de ser altamente intensivo em consumo de energia elétrica/térmica e de ter disponibilidade de combustível, como a lixívia (ou licor negro) subproduto do processo de fabricação da celulose e biomassa (lenha, cascas, resíduos florestais). Segundo a BRACELPA, as indústrias do segmento estão divididas em quatro categorias, a saber: - Categoria A: Indústrias de Celulose - Categoria B: Indústrias de Papel - Categoria C: Indústrias de Papel para fins Sanitários - Categoria D: Indústrias Integradas - fabricantes de papel e celulose O segmento de papel e celulose está incluído entre os mais eletrointensivos do setor industrial. As indústrias de celulose, geram grande parte da eletricidade consumida (80 a 85%), bem como as integradas, fabricantes de papel e celulose (50 a 60%), a partir da lixívia produzida no próprio processo e de biomassa em geral. No entanto, as indústrias de papel produzem apenas 10% da eletricidade necessária no processo, sendo o restante comprado das concessionárias, pelo fato de não terem disponibilidade de combustível produzido nas próprias empresas (BRACELPA, 1998). 29 Pelo fato do segmento ser eletro-intensivo, o processo de cogeração aparece como de fundamental importância: nele, além da produção de energia elétrica (de origem termelétrica) a ser consumida no processo, é gerado o vapor necessário (energia térmica), na maior parte dos casos em paridade térmica10, como analisado a seguir. As atividades do segmento proporcionam 102 mil empregos diretos, sendo cerca de 67 mil na indústria e outros 35 mil na lavoura. Plantou e reformou 102 mil hectares de reflorestamentos, sendo que ao final do ano de 1997 existiam 1,423 milhão de hectares próprios (BRACELPA, 1998). O consumo de madeira durante o ano de 1997 foi estimado em 48,6 milhões de m3, sendo 89% para produção de celulose/pastas e 11% para fins energéticos (BRACELPA, 1998). Em 1995 a produção nacional foi de 5,8 milhões de toneladas de papel e 5,4 milhões de toneladas de celulose. Já em 1997 a produção foi de 6,5 milhões de toneladas de papel (5,5% maior que em 1996) e 6,3 milhões de toneladas de celulose (2,1% maior que em 1996), que representou um faturamento equivalente a R$ 7,1 bilhões. A programação de expansão do segmento até 2002 é para mais 2,25 milhões de toneladas de celulose (BRACELPA, 1998). A partir da década de 80, devido aos sucessivos aumentos de preço do petróleo, foi implantado, pelo Governo Federal, um programa de substituição de combustíveis importados (derivados de petróleo); através deste programa, a participação destes combustíveis fósseis caiu de 49% para 19% do total, em 1996 (BRACELPA, 1997). Em termos de energia elétrica, entretanto, o crescimento baseou-se na eletricidade comprada das concessionárias (de 56,3% para 66,6% do total consumido de eletricidade, BRACELPA, 1991). Houve uma inversão nesses valores, e em 1996 as indústrias do segmento compraram 48,55% do total consumido (BRACELPA, 1997). 10 Paridade térmica é a forma de operação em que a quantidade de eletricidade gerada é definida a partir do consumo de vapor do processo. 30 Para se analisar a situação atual, será apresentado um levantamento de dados feito pela BRACELPA, onde foram consideradas 96 empresas informantes, 38 empresas estimadas, de um total de 154 cadastradas, utilizando todos os tipos de combustíveis, independente do fato de serem comprados ou inerentes ao processo, inclusive energia elétrica consumida em caldeiras e capotas de máquinas de papel. A auto-produção de eletricidade no segmento de papel e celulose é ainda reduzida: apenas 26,7% das indústrias possuem geração própria, correspondendo a aproximadamente 48% da energia total consumida (tabela 3.2. e figura 3.2.), média brasileira de 199611 e dependente do tipo de indústria, conforme pode ser observado na tabela 3.1. e figura 3.1.. A maioria das empresas de papel não tem geração própria: apenas 15 (15,15%) em um total de 99 empresas no Brasil possuem geração própria, das quais 13 com hidreletricidade e 2 com geração térmica. O contrário é observado nas indústrias integradas, onde de 26 empresas, 17 (65,38%) possuem geração própria (11 com geração térmica, uma com hidreletricidade e 5 com hidreletricidade e térmica). Nas de celulose, de um total de 6 empresas, 3 possuem geração térmica e uma possui geração térmica e hidrelétrica (BRACELPA, 1997). De acordo com os dados da tabela 3.1., pode-se observar que, em termos de produção, as indústrias de papel e integradas apresentam uma pequena redução (-2,79% e -2,22%, respectivamente); as outras obtiveram significativo aumento: 18,49% nas de celulose, 10,70% nas de sanitários. Considerando-se a situação econômica de recessão do país, nessa época, estes resultados podem ser considerados como positivos. 11 Vilas Boas, P. BRACELPA. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1998. 31 Tabela 3.1. - Consumo de Eletricidade no Segmento de Papel e Celulose, por Categoria (MWh) INDÚSTRIA Celulose 1995 A. Produção 12 1996 Papel 1995 Sanitários 1996 Integradas 1995 1996 456.259 505.064 4.198.112 4.104.833 1.727 7.500 2.734.570 2.337.837 1.207.510 1.224.535 384.242 471.525 1.907.456 1.956.208 1.912.379 2.200.755 1.289.851 1.335.134 385.969 479.025 4.642.026 4.294.045 846 948 1.811.152 2.146.009 1.977.359 1.922.267 1995 1996 B. Consumo de Eletricid. B1. Auto- 1.539.502 1.818.809 13 Gerada B2. Comprada 372.877 381.946 82.341 110.599 B3. Consumo total C. Consumo Específico 1056 1026 652 695 1106 1046 (kWh/t) Fonte: BRACELPA,1997. Ainda na tabela 3.1., analisando-se o consumo de eletricidade do segmento, chega-se a conclusões importantes. Atualmente as tarifas de eletricidade estão particularmente reduzidas para os consumidores industriais14. Este fato faz com que a auto-geração de eletricidade pela própria empresa seja desinteressante do ponto de vista econômico, como veremos adiante. Por outro lado, inexplicavelmente, observou-se significativo aumento 12 Não incluem as indústrias produtoras de pasta de alto rendimento, altamente intensivas em consumo de eletricidade (2.084 kWh/t). No Brasil elas representam apenas 4,1% da produção vendável, mas consomem 8,28% da eletricidade total consumida pelo segmento (BRACELPA,1996). 13 Na energia elétrica auto-gerada foi considerada tanto a eletricidade de origem termelétrica como hidrelétrica. Nas indústrias de papel, a participação da hidreletricidade é de 26.678 kW, correspondendo a 87,8% de um total de 30.387 kW instalados para geração própria (representando 35,9% da potência hidrelétrica total instalada da categoria). Entretanto, nas indústrias integradas, a hidreletricidade se apresenta com participação de 46.564 kW instalados de um total de 621.582 kW instalados para geração própria, correspondendo a 7,5% (representando 62,7% da potência hidrelétrica total instalada da categoria). Nas indústrias de celulose a participação da hidreletricidade é reduzida, tanto no total autogerado (0,34%) quanto na participação da potência hidrelétrica total instalada da categoria (1,35%) (BRACELPA, 1997). 14 Por exemplo, para a Elektro - concessionária do Estado de São Paulo - a tarifa média para os consumidores Classe A2 em 1999, é de 47 R$/MWh. No entanto, informações do segmento, reportam uma média de 67 R$/MWh, no Paraná (COPEL). 32 no consumo específico de eletricidade de 1995 para 1996, nas indústrias de papel e sanitários, como mostra a tabela 3.1., contrariando a tendência de conservação e utilização racional de energia. Observe-se que este fato não se verificou nas indústrias de celulose e integradas, que reduziram seu consumo específico em 2,8%, de 1995 para 1996. Figura 3.1. - Porcentagem do Consumo Total de Energia por Categoria % DO CONSUMO TOTAL DE ENERGIA POR CATEGORIAS 1996 16,1% 5,8% 26,5% Sanitários 51,7% Integradas Celulose Papel Fonte: BRACELPA, 1997. Tabela 3.2. - Evolução no Consumo Total de Eletricidade no Segmento de Papel e Celulose (MWh) Consumo de 1995 % do total 1996 % do total Auto-gerada 4.358.140 52,95 4.274.745 51,45 Comprada 3.872.085 47,85 4.034.214 48,55 TOTAL 8.230.255 Eletricidade Fonte: BRACELPA, 1997. 8.308.959 33 Figura 3.2. - Porcentagem do Consumo Total de Energia do Segmento % DO CONSUMO TOTAL DE ENERGIA DO SEGMENTO 1996 48,55% Auto-gerada 51,45% Comprada Fonte: BRACELPA, 1997. Nas indústrias de celulose e nas integradas, é consumida toda a lixívia produzida (subproduto inevitável do processo Kraft, ou sulfato, de fabricação de celulose, poluente, que é queimado na caldeira de recuperação, gerando o vapor), e que reduz substancialmente o consumo de outros combustíveis (LARSON, 1990, BONOMI, 1985). Mesmo assim, ocorre significativo consumo de óleo combustível, em particular nos fornos de cal; recentemente vem inclusive ocorrendo aumento no consumo deste derivado (24% de 1996 para 1997, BRACELPA, 1998), provavelmente devido aos seus preços reduzidos. Pelo fato de possuírem a matéria-prima (madeira), estas indústrias consomem também combustíveis de origem vegetal (biomassa), que corresponde aos resíduos disponíveis após o processamento da madeira (cavacos, cascas e resíduos florestais em geral), além da lenha (tabela 3.3.). Assim, nas indústrias de celulose e nas integradas, devido à grande disponibilidade de subprodutos do processo (tabela 3.3.), a auto-geração de eletricidade é elevada (tabela 3.1.); nas fábricas de celulose, por exemplo, foi gerada, em 1996, 82,64% da energia elétrica consumida, principalmente a 34 partir de origem termelétrica, queimando lixívia e biomassa; daí o elevado consumo desses combustíveis verificado na tabela 3.3.. É gerada, também, uma pequena quantidade de eletricidade de origem hidrelétrica, porém, desprezível quando comparada com a de origem térmica. Nas indústrias integradas, a situação de auto-produção é a seguinte: apesar da quantidade de eletricidade auto-gerada (64%) ser menor quando comparada com a das fábricas de celulose (82,6%), deve-se observar o fato do consumo de eletricidade ser elevado no setor de papel da fábrica integrada (tabela 3.1.). O perfil de consumo de combustíveis é semelhante ao das indústrias de celulose, sendo mais expressivo o consumo de óleo combustível (tabela 3.3.), pela necessidade de complementar a energia gerada por cogeração. Nas indústrias de papel (papel e sanitários), a situação é diferente. Pelo fato de não haver combustível disponível gerado pelo próprio processo, a autogeração de eletricidade é efetuada em Usinas Hidrelétricas ou com combustíveis comprados (óleo combustível e/ou lenha e em alguns casos gás natural proveniente da Bacia de Campos - tabela 3.3.), o que não é viável economicamente, devido às baixas tarifas cobradas pelas concessionárias de energia elétrica (COELHO et al., 1995 e 1993). Por isso observa-se que a parcela de eletricidade auto-gerada nestas indústrias é ainda reduzida, como pode ser observado na tabela 3.1.. O gás natural começa a ter uma participação significativa, principalmente nas indústrias localizadas em região onde, atualmente, há disponibilidade (eixo Rio-São Paulo). Era esperado que, com o gás da Bolívia, ocorresse um deslocamento no tipo de combustível consumido, substituindo principalmente o óleo combustível. Porém, no presente momento, em vista da elevação dos preços do gás natural (cotado em dólares), em conseqüência da elevação da taxa de câmbio, há sinalização da inviabilidade da geração termelétrica a partir desse combustível. No momento em que este trabalho estava sendo editado ocorreu definição de tarifas especiais de gás natural para 35 Usinas Termelétricas (2,26 US$/MMBTU)15, mas não houve definição de condições especiais para cogeração. A partir da tabela 3.3. observa-se uma estabilidade no consumo específico de combustíveis em todas as indústrias do segmento, em média. No entanto o consumo total de óleo combustível aumentou significativamente nas indústrias de celulose e de papel (139,12% e 34,84%, respectivamente) e apresentou uma pequena redução nas de papel para fins sanitários e integradas (-0,09% e -1,56%, respectivamente). A energia elétrica mencionada nas tabelas 3.3. e 3.4. a seguir, para fins térmicos, é devida a caldeiras elétricas implantadas no segmento em épocas anteriores, das quais ainda existem algumas não desativadas, porém, é evidente, pelos dados, o andamento do processo de extinção dessas caldeiras. Observe-se que, apesar de mencionado pela BRACELPA (tabelas 3.3. e 3.4.), os combustíveis são usados para fins térmicos, os valores citados incluem os combustíveis utilizados para a cogeração de eletricidade, que em alguns casos é significativa; não se encontram disponíveis dados desagregados sobre o consumo de combustíveis para fins térmicos e de geração de energia elétrica. Com os valores fornecidos pela BRACELPA16 (tabela 3.4.), pode-se construir a figura 3.3., que mostra a participação de cada energético na matriz do segmento, onde se nota que a lixívia é o principal combustível utilizado, representando 48,26% de todo o combustível utilizado. Em seguida vêm os derivados da madeira (lenha, cascas e cavacos) que representam 23,68%, enquanto que os combustíveis fósseis (óleo combustível, gás natural e outros) limitam-se a 21,94%. O restante é composto por vários outros energéticos de 15 Jornal - O Estado de São Paulo - 24/09/1999. Para elaboração da matriz energética do segmento, todos os insumos energéticos foram transformados em toneladas equivalentes de óleo combustível, utilizando-se para este fim os valores constantes no Anexo I. 16 36 pouca representatividade no segmento, como por exemplo, o bagaço de cana, o carvão mineral e a energia elétrica comprada. Figura 3.3. - Matriz Energética do Segmento em 1996 MATRIZ ENERGÉTICA DO SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE - 1996 3%6% 10% 9% 5% 48% Cavacos Óleo Combustível Outros Lenha Licor Negro 19% Cascas Gás Natural Fonte: BRACELPA, 1997. O segmento de papel e celulose tem grande potencial para se tornar auto-suficiente em termos energéticos, produzindo todo o vapor e eletricidade necessários ao processo, mas, como se observou, a auto-geração é ainda bastante reduzida. São bastante conhecidas as dificuldades do setor industrial quanto à garantia de disponibilidade de energia, devido às eventuais falhas e interrupções do sistema elétrico e à falta de confiabilidade da transmissão e distribuição da energia elétrica. São, também, amplamente conhecidas as vantagens para o setor em garantir o seu suprimento, sem risco de interrupção. A seguir as tabelas 3.3. e 3.4. ilustram o consumo de combustíveis do segmento, dos dois últimos anos disponíveis (1995 e 1996). Tabela 3.3. - Consumo de Combustíveis, para Fins Térmicos, no Segmento de Papel e Celulose, por Categoria (teoc) INDÚSTRIA Celulose 1995 Papel Sanitários 1995 1996 Integradas 1995 1996 1996 1995 1996 2.146.009 1.977.359 1.922.267 456.259 505.064 4.198.112 4.104.833 1.811.152 A – Produção (t) B – Consumo de Derivados 94.184 B.1-Óleo Combustível 34.691 B.2-Gás Natural 0 B.3-Outros Derivados 128.875 Sub-total C – Consumo de Alternativos (teoc) 25.513 C.1-Lenha 153.088 C.2-Cavacos 71.234 C.3-Cascas 104.262 C.4-Resíduos 0 C.5-Bagaço de Cana 0 C.6-Carvão Mineral 904.862 C.7-Licor Negro 4.207 C.8-Energia Elétrica 7.828 C.9-Outras Alternativas 1.270.993 Sub-total 225.211 37.598 53 262.862 164.292 42.544 0 206.836 221.534 59.446 0 280.980 44.407 14.800 8.462 67.669 44.367 7.024 13.330 64.720 461.065 37.955 1.031 500.321 453.888 44.388 1.261 499.538 44.438 150.023 94.542 94.385 920 0 1.064.938 0 2.119 1.452.264 190.505 112.221 6.214 4.542 0 0 0 11.171 0 324.653 119.181 109.593 2.023 2.863 0 0 0 2.635 770 237.065 39.639 17.068 0 0 995 0 0 1.682 0 59.384 45.571 7.777 0 0 1.117 0 0 1.839 0 56.304 215.653 329.132 235.420 13.236 3.853 134.090 1.313.852 8.890 281 2.254.407 232.114 212.757 177.169 23.772 22.725 152.887 1.372.739 2.686 161 2.197.011 D – Consumo total (B+C) 1.399.869 1.715.126 531.489 518.046 127.053 121.024 2.754.727 2.696.548 773 799 269 269 278 240 656 657 (teoc) 17 E – Consumo Específico kgeoc (1000xD)/A Fonte: BRACELPA, 1997. 17 Os consumos específicos são calculados dividindo-se o consumo em kg pela produção líquida em toneladas, sendo que todos os combustíveis são transformados em equivalente de óleo combustível, usando-se os poderes caloríficos médios do Anexo I. 37 38 Tabela 3.4. - Consumo de Combustíveis, para Fins Térmicos, no Segmento de Papel e Celulose (teoc) 1995 1996 Variação 8.442.882 8.687.778 2,90% B1. Óleo combustível 763.948 945.000 23,7% B2. Gás Natural 129.990 148.456 14,21% 9.763 14.643 49,99% 903.700 1.108.100 22,62% C1. Lenha 471.310 441.304 -6,37% C2. Cavacos 611.509 481.051 -21,33% C3. Cascas 312.868 273.734 -12,51% C4. Resíduos 122.040 121.019 -0,84% 4.848 24.762 410,73% 134.090 152.887 14,02% 2.218.714 2.437.677 9,87% C8. Energia Elétrica 25.950 7.160 -72,41% C9. Outras Alternativas 8.109 3.050 -62,39% Sub – Total (t) 3.909.437 3.942.644 0,85% D. Consumo Total (B+C) (t) 4.813.138 5.050.744 4,94% 570 581 1,98% A. Produção (t) B. Consumo de Derivados (t) B3. Outros Derivados Sub - Total C. Consumo de Alternativos (t) C5. Bagaço-de-Cana C6. Carvão C7. Licor Negro E. Consumo Específico18 (kgeoc) (1000 x D)/ A Fonte: BRACELPA, 1997. Pelo exposto, a implementação da cogeração no segmento de papel e celulose aparece como uma possibilidade de produzir benefícios para os setores envolvidos, bem como para a sociedade como um todo. A seguir (item 3.2.) apresentamos o levantamento de dados de um grupo de empresas selecionadas, com a finalidade de avaliar a situação atual 18 Idem tabela anterior. 39 de cogeração do grupo, bem como o seu potencial de geração de eletricidade com a introdução de tecnologias mais eficientes, utilizando combustíveis com menor impacto ambiental. 3.2. Levantamento de Dados de um Grupo de Empresas Selecionadas O segmento de papel e celulose é um dos segmentos industriais com maior consumo de energia, tendo consumido mais de 8.000 GWh de eletricidade em 1996, representando 8% do consumo do setor industrial (BRACELPA, 1997). Entretanto, apesar da grande quantidade de subprodutos de processo existentes nas indústrias integradas e de celulose, o segmento ainda apresenta reduzida capacidade de auto-geração. Por outro lado, observou-se um aumento significativo no consumo de combustíveis fósseis (20% de 1995 para 1996, BRACELPA, 1997), e uma redução nos combustíveis renováveis, com uma maior emissão de poluentes. Para uma análise preliminar do potencial de cogeração nas indústrias de papel e celulose (que será apresentado no item 4.3.) foi selecionado um grupo de seis empresas integradas, que apresenta uma produção de 231.265 t/mês de celulose e 181.435 t/mês de papel, correspondente a 45% da produção nacional do segmento. Em média, a energia elétrica produzida por cogeração (210 MW) nas empresas escolhidas corresponde a 65% do consumo do grupo (234.388 MWh/mês). A finalidade do estudo é avaliar a introdução de tecnologias mais eficientes, já comercializadas no país, bem como a utilização de combustíveis com menor impacto ambiental. Os levantamentos efetuados permitem a avaliação da situação atual dos sistemas de cogeração existentes nas empresas da amostra, bem como a avaliação do potencial de geração de eletricidade com a introdução das tecnologias mais eficientes. 40 A tabela 3.5. apresenta o perfil energético do grupo de empresas selecionadas e compara com os dados globais do segmento (planilha Anexo II). Tabela 3.5. - Perfil Energético do Grupo de Empresas Selecionadas Comparado com o Segmento de Papel e Celulose Dados Globais** Produção de Celulose Grupo de Empresas Selecionadas* 514.167 231.265 511.667 181.435 356.229 151.438 336.184 82.950 692.413 234.388 (t/mês) Produção de Papel (t/mês) Energia Elétrica AutoGerada (MWh/mês) Energia Elétrica Comprada (MWh/mês) Energia Elétrica Total (MWh/mês) Fonte: *Velázquez et al., 1999 e **BRACELPA, 1997. Como pode-se observar pela tabela acima, o grupo de empresas selecionadas é responsável por 45% da celulose e 35% do papel produzidos pelo segmento. A energia elétrica auto-gerada pelo grupo eqüivale a 65% da energia total consumida por ele e a 43% da quantidade auto-gerada pelo segmento e sua energia total consumida, a 34% daquela consumida pelo segmento. Foram analisadas, neste grupo, apenas as indústrias integradas (fabricantes de papel e celulose), uma vez que trabalhos anteriores já analisaram o potencial de cogeração nas indústrias de papel, em termos tecnológicos, em particular com a utilização de turbinas a gás, permitindo até 41 mesmo a geração de excedentes (que poderiam ser vendidos às concessionárias) (COELHO et al.,1995, COELHO et al., 1993). Na época contava-se com o gás natural da Bolívia como disponibilidade futura, e assim o emprego de turbinas a gás seria indicado (pelo melhor desempenho que os ciclos de turbina a vapor convencional). Atualmente, do ponto de vista técnico, de fato o segmento tem possibilidades de se tornar auto-suficiente em termos energéticos, produzindo todo o vapor e eletricidade necessários ao processo, mas as barreiras econômicas continuam significativas, como analisado adiante. 42 4. ANÁLISE TÉCNICA DO PROCESSO DE COGERAÇÃO Neste capítulo são analisadas, do ponto de vista técnico, as tecnologias disponíveis. São calculados os rendimentos possíveis de serem obtidos em processos já existentes, utilizando equipamentos mais eficientes. São calculadas, também, as potências possíveis de serem geradas elevando-se a pressão de operação das caldeiras e introduzindo-se o condensador. É analisada a utilização de turbinas a gás em conjunto com turbinas a vapor, nos chamados ciclos combinados. 4.1. Definição de Cogeração Cogeração é um vocábulo de origem americana empregado desde os anos setenta para designar a geração simultânea de calor e trabalho (energia mecânica/elétrica). Nas unidades de cogeração, o calor e o trabalho são produzidos a partir da queima de um único combustível, com a recuperação de parte do calor rejeitado, qualquer que seja o ciclo termodinâmico empregado. Desta forma trata-se de um processo de geração de energia mais eficiente do que simplesmente a geração de energia elétrica, pois a partir da cogeração ocorrem dois produtos. Em conseqüência imediata da maior eficiência, tem-se a menor emissão de poluentes, desde que seja utilizado o mesmo combustível. É uma tecnologia conhecida e empregada desde o início do século XX; porém, com o passar dos anos, foi perdendo a importância (meados dos anos 70) e a partir da década de 80 foi recuperando sua posição devido às tendências de desregulamentação do setor elétrico em alguns países e à adoção de políticas de racionalização do uso da energia. No final dessa década passou a ser valorizada também pela minimização dos impactos ambientais (WALTER, 1998), com redução das emissões globais de CO2 (o sistema consome quantidade menor combustível, comparado com os sistemas 43 convencionais) e pela maior possibilidade de emprego de combustíveis renováveis, como a biomassa. Segundo HORTA NOGUEIRA, 1994, na cogeração são importantes as seguintes relações: α = energia mecânica / elétrica (processo) energia térmica β = energia mecânica / elétrica (central térmica) energia térmica Os valores de α dependem somente do processo, sendo mais elevados quanto mais energia mecânica/elétrica se requeira, por unidade de energia térmica. Já o coeficiente β é função exclusiva do sistema de cogeração, ou seja, da tecnologia e do rendimento do equipamento utilizado19. A relação energia mecânica/térmica (de processo) para segmentos industriais brasileiros varia, em média, de 0,070 (alimentos/bebidas) a 3,701 (metalurgia), sendo que para o segmento aqui estudado se encontra com o valor médio de 0,213. A cogeração apresenta inúmeras vantagens e entre elas deve-se citar as altas eficiências globais de conversão térmica (75 a 90%)20, muito superiores aos índices da geração térmica convencional. Como citado anteriormente, apresenta vantagens em termos ambientais, além da garantia de fornecimento com a utilização, inclusive, de rejeitos e subprodutos dos processos. Por outro lado , existem inconvenientes, tais como: rentabilidade em muitos casos duvidosa, confiabilidade não garantida e motivação relativamente 19 Maiores detalhes podem ser encontrados em HORTA NOGUEIRA, 1994. η =( Qproc + W ) / Qcomb . No entanto, rigorosamente, pela 2a Lei da Termodinâmica, calor e trabalho são energias de qualidade diferente, pois calor não pode ser transformado integralmente em trabalho (embora o inverso seja possível), e não poderiam ser somadas algebricamente. 20 44 limitada, devido aos elevados níveis de investimento e do tempo de retorno (WALTER, 1994). Conforme analisado no capítulo anterior, em particular devido as limitações econômicas do setor elétrico, dependente da participação do capital privado, a cogeração se apresenta como uma opção interessante na contribuição à oferta de energia elétrica, permitindo a geração descentralizada, com unidades menores, mais flexíveis, próximas aos centros de consumo, além de serem sistemas mais eficientes e menos poluentes. 4.2. Tecnologias de Cogeração para o Segmento de Papel e Celulose As tecnologias de cogeração podem ser separadas em dois grandes grupos, de acordo com a ordem relativa de geração de potência e calor: os ciclos topping (figura 4.1.) e os ciclos bottoming (figura 4.2.). Figura 4.1. - Sistema de Cogeração Tipo Topping Combustível Água Caldeira vapor Turbina WT vapor para o processo Fonte: PERES, 1999. 45 Figura 4.2. - Sistema de Cogeração Tipo Bottoming Combustível vapor Água Caldeira para o processo Tur- WT bina vapor Fonte: PERES, 1999. Nas tecnologias que operam segundo o ciclo topping, os gases de combustão a uma temperatura mais elevada são utilizados para geração de eletricidade ou de energia mecânica. O calor rejeitado pelo sistema de geração de potência é utilizado para atender os requisitos de energia térmica do processo; assim, esta modalidade de cogeração produz energia elétrica ou mecânica para depois recuperar calor, que é fornecido geralmente na forma de vapor para o processo (podendo também fornecer água quente ou fria e ar quente ou frio). Esta é a configuração mais comum dos processos de cogeração. As tecnologias que operam segundo o ciclo bottoming envolvem a recuperação direta de calor residual (que normalmente é descarregado na atmosfera), para a produção de vapor e energia mecânica ou elétrica (em turbinas de condensação e/ou contrapressão). Nesse tipo de tecnologia, primeiro a energia térmica é usada no processo, e então a energia dos gases de exaustão é utilizada para a produção de energia elétrica ou mecânica. 46 Apenas os ciclos topping podem fornecer real economia na energia primária, pois a maioria das aplicações dos processos requer vapor de baixa pressão, que é convenientemente produzido neste ciclo. A produção de eletricidade num ciclo a vapor, de uma forma geral, é feita através de um ciclo de Rankine tradicional com turbina a vapor, o que corresponde a uma tecnologia em uso comercialmente há mais de 100 anos. No caso de geração somente de energia elétrica, usa-se uma turbina de condensação: o vapor na saída da turbina vai para o condensador onde é totalmente condensado para retornar à caldeira. Para produção simultânea de eletricidade e vapor (cogeração), pode-se usar a turbina de contrapressão (figura 4.3.), a mais usada atualmente no Brasil, ou uma turbina de condensação e extração, no processo chamado CEST - Condensing Extraction Steam Turbine (figura 4.4.). Neste processo, parte do vapor é extraído da turbina numa pressão intermediária, indo para o processo; o restante expande na turbina até a pressão do condensador, condensa e retorna à caldeira juntamente com o condensado do processo. Este é o processo com turbina a vapor que apresenta os melhores rendimentos de produção de energia elétrica (COELHO, 1992). 4.2.1. Tecnologias em Uso no Segmento de Papel e Celulose Como já visto, as indústrias de celulose, pelo fato de terem disponibilidade de combustíveis (lixívia e resíduos de madeira, em grandes quantidades e praticamente sem custo), tendem a ser auto-suficientes (gerando de 80 a 85% da eletricidade consumida) (BRACELPA, 1997 e COELHO, 1993). A lixívia produzida possui significativo poder calorífico21, por isso, quando é alimentada nas “caldeiras de recuperação” para recuperar os reagentes químicos, é aproveitada para produzir vapor d’água. No entanto, esta produção de vapor a partir da lixívia não é suficiente para o consumo nas fábricas de celulose, havendo necessidade de complementação em caldeiras 21 PCI médio de 13.000 kJ/kg. 47 convencionais, que utilizam biomassa (lenha, cavacos, cascas, resíduos florestais) e mesmo óleo combustível. Também nas indústrias integradas (produção de papel e celulose), a porcentagem de energia elétrica produzida por cogeração é significativa (50 a 60% em 1996). O vapor gerado na caldeira de recuperação, a partir da lixívia, corresponde a 55 - 85% do vapor consumido no processo de celulose e papel. Os dois tipos de caldeira utilizados, em geral, produzem vapor de média e alta pressão (40 a 60 bar, dependendo da pressão da caldeira de recuperação), que expande em turbinas a vapor de contra-pressão; as extrações intermediárias são efetuadas para fornecer vapor nas diferentes pressões requeridas pelo processo. Em geral não é utilizado condensador. No caso das indústrias integradas, as extrações de vapor são a 4 e 12 bar para consumo no processo, conforme mostra, a seguir, a figura 4.3.. Figura 4.3. - Turbina a Vapor de Contra-pressão CALDEIRA alta pressão retorno de condensado do processo TURBINA para o gerador para o processo (4 atm) para o processo (12 atm) Fonte: COELHO et al., 1996. 48 No forno de cal é queimado óleo combustível (65 a 202 kg de o.c./t 22 CaO ). Estudos efetuados (BONOMI, 1985) avaliam a possibilidade de substituição de óleo combustível pela lenha; no entanto, os baixos preços do óleo combustível no Brasil23 não incentivam a substituição e muitas indústrias usam-no também como complemento nas caldeiras a vapor, além da biomassa. Nas indústrias de papel não há disponibilidade de combustível na planta. O combustível comprado é queimado em caldeiras de baixa pressão (10 a 12 atm), às vezes expandindo em turbinas de contrapressão até 4 atm (em média), para ser utilizado na máquina de papel (2,8 kg de vapor / tonelada de papel, COELHO e IENO, 1993). Em muitos casos, não existe turbina, o vapor expande em válvulas redutoras de pressão, sendo também usadas Usinas Hidrelétricas. Nestas indústrias a situação é mais delicada, pois a maioria da eletricidade consumida é comprada das concessionárias (91,71% em 1996 BRACELPA, 1997). Em geral, o combustível usado é óleo combustível e/ou lenha (em alguns casos, gás natural da Bacia de Campos). 4.2.2. Tecnologias Comercialmente Disponíveis Este item analisa as tecnologias disponíveis para aumentar o rendimento dos processos de cogeração. 4.2.2.1. Ciclo CEST - Condensing Extration Steam Turbine A aplicação mais imediata é o aumento de pressão nas caldeiras (60 a 80 atm) e a introdução de turbinas de extração-condensação no processo chamado Ciclo CEST - Condensing Extraction Steam Turbine (figura 4.4.). 22 23 Uma caldeira usada na produção 1000 t/d de celulose consome 200 t/d de cal (CaO) (BONOMI, 1985). Óleo 1A, colocado na planta: 0,1258 US$/kg. GASPARIN, M., Klabin. Comunicação Pessoal. 2000. 49 Neste processo, parte do vapor é extraído da turbina em uma ou mais pressões intermediárias, indo para o processo e o restante expande na turbina até a pressão do condensador, condensa e retorna à caldeira juntamente com o condensado do processo. Figura 4.4. - CEST - Condensing Extraction Steam Turbine Cycle CALDEIRA Licor negro CALDEIRA Biomassa Turbina de alta pressão CALDEIRA Lenha complementar 24 para o gerador TURBINA Vapor de processo (12 atm) BOMBA CONDENSADOR Vapor de processo (4 atm) água de retorno do processo Fonte: COELHO et al., 1996. Apesar das perdas introduzidas pela condensação25, a maior potência produzida pela turbina (devido à pressão de saída mais baixa) aumenta o 24 Se necessário. Estas perdas são obrigatórias pela 2ª Lei da Termodinâmica: o enunciado de Kelvin-Planck afirma que o rendimento de um ciclo a vapor não pode ser 100%. Sendo o rendimento do ciclo dado por Wciclo/QQ, e sendo Wciclo = Q Q - QF , onde Q Q e QF são respectivamente os calores trocados com as fontes quente (caldeira) e fria (condensador), é obrigatória a perda de calor no condensador, de modo que o rendimento seja inferior a 100%. 25 50 rendimento do processo (IENO, 1993 e COELHO, 1992) e o vapor de processo é extraído em pressões intermediárias (4 e 12 atm), conforme as necessidades. Para adaptar este sistema a uma instalação existente, seria necessária a troca das caldeiras de baixa e média pressão por caldeiras de alta pressão. Como a maior parte dessas caldeiras nas indústrias é antiga (anteriores a 1968, conforme estatística do segmento - o último levantamento foi feito em 1993 e não se tem notícias de levantamentos mais recentes) e alimentadas a óleo combustível, por ocasião da troca poderiam ser alterados o tipo de combustível e a pressão de trabalho. 4.2.2.2. Caldeira de Leito Fluidizado Borbulhante26 Uma outra opção é a substituição das caldeiras existentes por caldeiras mais eficientes para a queima de biomassa27, como por exemplo as caldeiras de leito fluidizado borbulhante (figura 4.5.). O sistema de combustão utilizado nessas caldeiras (BFB - Bubbling Fluidized Bed) é indicado quando se tem disponibilidade de combustíveis de baixo poder calorífico associado a um alto teor de umidade e cinzas, como ocorre nas fábricas de celulose e integradas. As cascas de árvores são normalmente utilizadas como combustível e é possível associar e facilmente queimar, outros combustíveis. A aplicação desse sistema, como será analisado em detalhes adiante (no estudo de caso na Klabin do Paraná), resulta num melhor aproveitamento dos resíduos florestais gerados, associado a uma alta eficiência28 e disponibilidade operacional da caldeira, permitindo a eliminação de todas as outras caldeiras e a utilização apenas da biomassa e da lixívia (GASPARIN et al., 1997). A utilização deste tipo de combustão é recente em escala industrial no Brasil, sendo encontrada apenas na Aracruz e na Klabin do 26 Este item se baseia em GASPARIN, 1997 e 1999. Ou mesmo a reforma da caldeira existente envolvendo a troca da câmara de combustão, instalação de economizador e precipitador eletrostático, como foi feito na indústria Klabin Fabricadora de Papel e Celulose, no Paraná. 28 No caso da Klabin, o custo do vapor gerado nas novas condições diminuiu, em média, 22% em relação à média de 1996 (GASPARIN et al., 1997). 27 51 Paraná, mas é aplicada em larga escala em outras regiões, como na Escandinávia. Na caldeira de leito fluidizado borbulhante, as partículas de areia formam um leito compacto e quando o ar ascende através das partículas sólidas do leito, numa determinada vazão, atinge-se um ponto em que o peso das partículas sólidas é anulado e se inicia a fluidização. Se a vazão do gás é aumentada ainda mais, bolhas começam a aparecer propagando-se em ascensão através do leito, num processo chamado “borbulhamento”. As bolhas são regiões vazias que se formam logo acima dos bicos de distribuição de ar, ou grid, conferindo ao leito a aparência de líquido em ebulição (daí o nome “leito fluidizado borbulhante”). Elas arrastam os sólidos para cima e o refluxo dos sólidos arrasta o gás para baixo, resultando numa região de mistura por refluxo. O movimento das bolhas e dos sólidos induzidos conferem ao leito fluidizado suas propriedades mais importantes, como a uniformidade de temperatura, a troca térmica favorável e a mobilidade dos sólidos. A transferência de calor do leito para os tubos da parede é favorecida devido à renovação contínua das partículas induzidas pelo deslocamento das bolhas. A mistura axial das partículas é rápida devido seu movimento ser associado aos das bolhas. A excelente mistura resulta em uma temperatura uniforme do leito. A caldeira de leito fluidizado borbulhante consiste de câmara de combustão, sistema de alimentação de combustível, sistema de alimentação de areia, sistema de ar para combustão, leito de combustão, tubos de parede de água e sistema de retirada e cinzas. Na parte superior da fornalha localizam-se os superaquecedores primário e secundário, o boiler bank e no passe traseiro o pré-aquecedor de ar a gás e o economizador. Esse tipo de caldeira permite a queima de vários resíduos industriais e agrícolas que não poderiam ser incinerados por motivos ambientais. A queima 52 do combustível é praticamente completa e o excesso de ar é reduzido, permitindo um processo de combustão mais eficiente do que as caldeiras convencionais, queimando os mesmos combustíveis. A geração de vapor pode variar (de 25 a 100%) durante a operação normal, com a caldeira atendendo as variações rápidas de carga. A formação de NOX é reduzida pela baixa temperatura do leito e pela injeção de ar por estágios. O custo operacional é reduzido devido a não existência de peças móveis e o controle automatizado do processo é mais vantajoso. Figura 4.5. - Leito Fluidizado - Princípios Gases Combustível Areia Cinzas Ar para fluidização Fonte: GASPARIN, 1999 . 4.2.2.3. Turbinas a Gás As turbinas a gás são equipamentos inicialmente desenvolvidos para aplicação 29 aeronáutica, com alto rendimento termodinâmico29 COELHO, S.T. CENBIO/USP. Comunicação Pessoal. São Paulo. 1999. e alta 53 confiabilidade, devido à finalidade para a qual são projetadas, além de permitirem fácil manutenção. Por esses motivos as turbinas a gás foram adaptadas (turbinas estacionárias) para a geração de energia elétrica, em geral queimando gás natural. As turbinas a gás diferem das turbinas a vapor tradicionais pelo fato de utilizarem os gases provenientes da câmara de combustão conforme o esquema da figura 4.6.. Figura 4.6. - Turbina a Gás combustível Câmara de combustão Compressor Turbina W ar gases Fonte: VAN WYLLEN et al., 1998. A turbina a gás é uma máquina térmica, onde a energia química de combustão é transformada em trabalho mecânico útil através do eixo da turbina. Sua classificação básica é feita em relação ao ciclo termodinâmico, onde pode-se ter: ciclo aberto ou ciclo fechado. 54 O ciclo de Brayton é o ciclo ideal para a turbina a gás simples e corresponde à turbina utilizada na propulsão de aviões a jato. No caso do ciclo aberto, o compressor terá a função de comprimir o ar para a câmara de combustão, onde misturado com o combustível, tem-se uma combustão contínua. Os produtos da combustão, a alta temperatura30, realizam o trabalho mecânico no eixo da turbina, através de uma expansão na mesma. A velocidade de saída é, também, extremamente elevada31, no caso de aplicações aeronáuticas. Em geral, a turbina e o compressor estão montados num eixo comum de tal forma, que o trabalho necessário para a compressão do ar é obtido a partir do trabalho de expansão dos gases na turbina. Para fornecer a energia mecânica ao gerador elétrico, em aplicações estacionárias, a turbina a gás é reprojetada, reduzindo muito a velocidade de saída dos gases. Essas turbinas adaptadas para a produção de energia elétrica são chamadas estacionárias, podendo ser aeroderivativas ou heavy-duty. As aeroderivativas são as de menor porte (adaptadas a partir das de avião) com potência de até 40 MW (COELHO, 1992). As heavy-duty podem ter maior porte, com potência de até 330 MW32. O rendimento de um ciclo de turbina a gás (24 a 42%) pode ser elevado pela introdução de um regenerador, de acordo com a figura 4.7.. Nesse ciclo, a temperatura do gás de exaustão33, que deixa a turbina no estado 4 da figura 4.7., é maior do que a temperatura do gás que deixa o compressor. Portanto, calor pode ser transferido dos gases de descarga para os gases a alta pressão que deixam o compressor, economizando combustível. Se isso for feito num trocador de calor de contra-corrente, que é conhecido como regenerador, a temperatura do gás de alta pressão que deixa o regenerador, Tx , no caso ideal, pode ser igual a T4 , que é a temperatura do 30 Podem atingir até 1.200 oC (COELHO, 1992). Provoca o empuxo no avião (900 a 1.000 km/h) (COELHO, 1992). 32 WALTER, A. UNICAMP. Comunicação Pessoal. São Paulo, 2000. 33 Da ordem de 600 oC nas heavy-duty e 500 oC nas aeroderivativas (COELHO, 1992). 31 55 gás que deixa a turbina. Nesse caso, a transferência de calor da fonte externa é necessária somente para aumentar a temperatura Tx para T3. Figura 4.7. - Ciclo Simples de Turbina a Gás com Regenerador regenerador y 2 x câmara de combustão 1 3 compressor 4 gases turbina W Fonte: VAN WYLLEN et al., 1998. As turbinas a gás podem operar em ciclos simples, como descrito acima, ou em ciclos combinados, quando há maior necessidade de geração de eletricidade. 4.2.2.4. Ciclo Combinado com Turbina a Gás É possível analisar também a introdução de turbinas a gás em conjunto com turbinas a vapor, formando os chamados ciclos combinados, permitindo aumento considerável no rendimento do processo e uma maior geração de eletricidade. Neste processo, os gases de exaustão da turbina a gás, com temperatura ainda elevada (500 a 600 oC), podem ser aproveitados para produzir vapor d’água superaquecido de alta pressão, numa caldeira de 56 recuperação (Heat Recovery Steam Generator - HRSG), expandindo na turbina a vapor, sendo os gases descarregados para a atmosfera a temperaturas menores (aproximadamente 100 oC - 150 oC) (IENO, 1993). Em geral, o combustível utilizado é o gás natural, mas existem estudos em desenvolvimento para a queima de gases de baixo poder calorífico, como subprodutos do processo siderúrgico e gás de biomassa. Os ciclos combinados (figura 4.8.) representam a tecnologia de maior eficiência térmica, em operação hoje. Figura 4.8. - Ciclo Combinado com Turbina a Gás Caldeira Licor negro turbina de alta pressão Caldeira Biomassa turbina a vapor para o gerador gás natural vapor para o processo C.C. c.c . C para o condensador (se necessário) TG para o gerador turbina a gás gases ar vapor Caldeira de Recuperação exaustão água de alimentação Fonte: COELHO et al., 1996. 57 O rendimento térmico do ciclo combinado é a relação entre a potência total líquida produzida - da turbina a gás e da turbina a vapor, descontados os consumos de energia nas bombas e compressor - e a energia disponível no combustível, alimentado na câmara de combustão da turbina a gás. Assim, para a mesma quantidade de combustível alimentada, a potência produzida no ciclo combinado é maior e, conseqüentemente, maior o seu rendimento (COELHO, 1992). IENO, 1993 estuda detalhadamente a variação da eficiência térmica de um ciclo a vapor tradicional, quando transformado em ciclo combinado. 4.2.3. Tecnologias em Desenvolvimento As tecnologias mais eficientes para produção de eletricidade a partir de biomassa vêm sendo desenvolvidas em vários países, como analisa WALTER, 1998. Os motivos principais são as limitações quanto à eficiência dos ciclos a vapor com biomassa, mas principalmente, pelas vantagens ambientais, em particular a redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa - no caso o CO234 - mas também pela redução das emissões dos gases responsáveis pelas chuvas ácidas - óxidos de enxofre e de nitrogênio - e das emissões de material particulado (WALTER, 1998), quando são usados combustíveis fósseis. 4.2.3.1. Turbinas a Gás com Injeção de Vapor As turbinas a gás com injeção de vapor (STIG - Steam Injected Gas Turbine - WILLIAMS e LARSON, 1991) têm elevado rendimento e já se encontram em fase de comercialização em outros países. 34 Na biomassa utilizada de forma sustentável, as emissões de CO2 são praticamente nulas, conforme discutido adiante, neste trabalho. 58 Este ciclo com injeção de vapor (STIG) representa uma outra alternativa para a utilização de turbinas a gás, onde parte do vapor produzido na caldeira de recuperação, a partir dos gases de exaustão, é injetado na câmara de combustão da turbina a gás (figura 4.9.). Como a potência consumida pela bomba de alimentação de água para a caldeira de recuperação é reduzida, obtem-se um aumento na potência líquida produzida pelo ciclo. Devido à flexibilidade dos ciclos STIG, quando a demanda de vapor no processo é reduzida, o vapor em excesso é injetado na turbina, de modo a aumentar a produção de eletricidade, gerando um excedente que pode ser vendido a terceiros ou às concessionárias. Figura 4.9. - Ciclo de Turbina a Gás com Injeção de Vapor combustível C.C. c.c . C TG vapor de processo para o gerador turbina a gás gases ar vapor Caldeira de Recuperação exaustão Bomba água de alimentação Fonte: COELHO et al., 1996. 59 4.2.3.2. Gaseificação da Biomassa A longo prazo existe a possibilidade de utilização de turbinas a gás com combustíveis gaseificados (lixívia e madeira, LARSON, 1990), o que corresponde a uma tecnologia em desenvolvimento (estudada com detalhes, para bagaço de cana, em WALTER, 1994, COELHO, 1992, e outros). Em WALTER, 1998 encontra-se, também, detalhes dos processos de gaseificação, tipos de gaseificadores de biomassa e o processo de limpeza do gás obtido. A eficiência e, por conseqüência, a economicidade dos sistemas de geração de eletricidade a partir de gaseificadores de biomassa dependem principalmente do desempenho da turbina a gás. WALTER, 1998 que analisa detalhadamente os aspectos técnicos das turbinas a gás para gás de biomassa, avalia que os avanços tecnológicos das turbinas a gás tendem a ser significativos nos próximos anos, pela ação integrada de fabricantes de turbinas a gás e centros de pesquisa. Para que a biomassa seja utilizada na alimentação da turbina a gás é necessário submetê-la a um processo de gaseificação ou liquefação e posterior limpeza dos gases, o que corresponde a um item bastante importante do processo em questão. O sistema de gaseificação da biomassa e acoplamento da unidade de gaseificação a uma turbina a gás é chamada BIG-GT - Biomass Integrated Gasifier/Gas Turbine35 (figura 4.10.). Para que a produção de eletricidade ocorra com eficiência, os gases de exaustão da turbina precisam ser aproveitados em sistemas de cogeração, na produção de vapor para alimentar a turbina a vapor de um ciclo combinado, ou ainda na produção de vapor a ser injetado na própria turbina a gás (figuras 4.9. e 4.10.) (WALTER, 1998). 35 COELHO, 1992 faz a avaliação técnica, econômica e ambiental desse processo, no setor sucroalcooleiro. 60 No processo STIG com gaseificador, os gases de exaustão da turbina a gás produzem vapor na caldeira de recuperação antes de serem descarregados na atmosfera; parte do vapor produzido é usada no gaseificador, parte é injetada na câmara de combustão e o restante é enviado ao processo. Esta é uma tecnologia praticamente descartada para biomassa36. Figura 4.10. - Ciclo de Turbina a Gás com Injeção de Vapor/Gaseificador de Biomassa biomassa limpador de partículas gaseificador vapor cinzas partículas compressor exaustão vapor para o processo câmara de combustão vapor caldeira de recuperação bomba ar C TG para o gerador Turbina a gás com injeção de vapor ar Fonte: COELHO et al., 1996. 36 WALTER, A. UNICAMP. Comunicação Pessoal. São Paulo, 2000. água de alimentação 61 Existem inúmeros trabalhos que descrevem e analisam as tecnologias nos sistemas de gaseificação (WALTER, 1998 e 1994, COELHO, 1992 e outros). WALTER, 1998 apresenta um estudo que identifica diferentes iniciativas de desenvolvimento de sistemas de gaseificação de biomassa nos últimos anos, envolvendo diferentes processos e organizações de vários países. Nesse trabalho pode-se encontrar detalhes dos projetos em desenvolvimento nos EUA: no Havaí (com bagaço de cana), em Vermont (com madeira), em Minnesota (com alfafa) e no Brasil , na Bahia (Projeto SIGAME Sistema de Gaseificação Integrada de Madeira para Geração de Eletricidade, com madeira), que é uma iniciativa internacional, com a participação de empresas brasileiras. Há, ainda, o Projeto da Copersucar para Geração de Energia por Biomassa (para utilização de biomassa, bagaço de cana e resíduos), que é coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (COELHO, 1999). No caso do segmento de papel e celulose é de particular importância a gaseificação da lixívia. Esta tecnologia se apresenta como mais uma opção de produção de energia elétrica, pois a lixívia é, como vimos, um subproduto do processo de fabricação (sulfato) de celulose, que deve ser reprocessada para recuperar os reagentes do processo. Segundo WALTER, 1998 essa tecnologia de gaseificação de lixívia já vem sendo estudada há alguns anos, na Finlândia37 e no Estados Unidos. A introdução dessa tecnologia possibilitaria um aumento significativo da quantidade de eletricidade gerada (em relação ao processo atualmente utilizado de caldeira de recuperação e turbina a vapor), além de sensível redução dos custos do processo, uma vez que pode ocorrer a recuperação direta dos produtos inorgânicos, substituindo os processos de recuperação que requerem o uso de cal. WALTER, 1998 informa, ainda, que várias indústrias de equipamentos têm projetos de gaseificadores para a lixívia mas, segundo empresários do segmento de papel e celulose e pesquisadores, o desenvolvimento da 37 Desde 1993 uma unidade piloto vem sendo testada, numa fábrica de celulose (WALTER, 1998). 62 tecnologia BLGCC - Black Liquor Gasification/Combined Cycle (Gaseificação de Licor Negro Acoplada a Ciclos Combinados) - está num estágio anterior ao da gaseificação da biomassa e portanto ainda oferece muitos riscos. 4.3. Avaliação Técnica do Grupo de Empresas Selecionadas 4.3.1. Introdução - Potencial Termodinâmico de cada Tecnologia No estudo realizado pelo GCPS da Eletrobrás, em 1999, seguidas as diretrizes para ele estabelecidas pelo MME, destaca-se o estímulo à cogeração e à geração descentralizada de energia mediante a identificação dos potenciais existentes no mercado e das barreiras que inibem essas atividades, propondo as ações necessárias ao seu desenvolvimento em condições competitivas. Nesse trabalho foi estimado um potencial termodinâmico38, que representa um potencial limite de cogeração máximo teórico, calculado com base no Balanço Energético Nacional e foram avaliados, para alguns segmentos industriais, o potencial técnico39 e econômico40. Foi realizado, também, um levantamento do potencial de mercado41 que contém o conjunto de projetos de cogeração dos grandes consumidores de energia elétrica, com decisão de investimento já definida. A diferença entre os potenciais econômicos e os de mercado indica o horizonte de expansão da cogeração e para sua concretização o setor elétrico pretende atrair novos agentes, mediante a definição de políticas de incentivo à cogeração. Segundo a Eletrobrás (GCPS, 1999), o potencial técnico de geração de eletricidade nas indústrias de papel e celulose deve atingir 1.740 MW instalados até o ano 2003, o que corresponde a um considerável aumento (se 38 É calculado considerando-se que toda a demanda de calor é atendida por sistemas de cogeração, independente de viabilidade tecnológica e econômica, correspondendo ao valor máximo teórico que a cogeração poderia aportar. 39 É a parcela de potencial termodinâmico passível de ser aproveitada com os equipamentos e tecnologias disponíveis. 40 É a parcela do potencial técnico que apresenta indicadores de viabilidade econômica suficientemente bons para sua implantação. 41 É a parcela do potencial econômico que possui efetivas possibilidades de implantação. 63 ocorrer) com relação à atual potência instalada de 718 MW. Este potencial seria obtido através da utilização de resíduos, com a complementação de gás natural, conforme já estudado anteriormente (VELÁZQUEZ et al., 1999). O potencial de mercado é estimado em 1.189 MW, para 2003. Ainda de acordo com este estudo, no setor sucro-alcooleiro, por exemplo, o potencial técnico deve atingir 4.020 MW instalados até 2003. Hoje a potência instalada é de 995 MW, com um potencial de mercado identificado de 1.175 MW, para a mesma época. Ainda no estudo da Eletrobrás foi observada grande semelhança entre os segmentos de papel e celulose, álcool e açúcar e siderúrgico, pois todos dispõem de combustível residual, apresentando características diferenciadas no que diz respeito à auto-suficiência. Neste item 4.3., foi analisado um grupo de indústrias integradas, pelo fato de serem as maiores consumidoras de eletricidade dentro do segmento e de apresentarem grande potencial para cogeração. Foram efetuadas simulações comparando a situação adaptada como atual com as situações correspondentes às tecnologias consideradas, com a finalidade de se atingir a auto-suficiência da indústria, eventualmente com pequena geração de excedentes. As avaliações foram realizadas mantendo-se os níveis de consumo atual de vapor de processo, sem considerar possíveis reduções. O potencial de cogeração no segmento de papel e celulose já foi avaliado anteriormente por COELHO e IENO, 1993, onde foram discutidas várias opções tecnológicas. Neste trabalho estas opções foram reavaliadas e estão apresentados somente os casos com utilização do ciclo CEST Condensing Extraction Steam Turbine e do ciclo combinado com turbina a gás. 64 4.3.2. Avaliação do Potencial de Cogeração do Grupo de Empresas Selecionadas Este estudo já havia sido efetuado em 1997, sendo aqui atualizado para dados recentes. A partir de levantamento destes dados (1998), incluindo a produção de papel e celulose e o perfil energético atual dos sistemas de cogeração já existentes, com a porcentagem de energia auto-gerada, é analisada a otimização do processo de geração de vapor, em cada empresa, para que cada uma delas se torne auto-suficiente, verificando o potencial adicional que poderá ser gerado, com a introdução de tecnologias mais eficientes. COELHO et al., 1996 levantou o potencial de cogeração (teórico) que poderia ser obtido com tecnologias ainda em desenvolvimento, como a gaseificação de biomassa e de lixívia. Neste estudo foram consideradas apenas as tecnologias comercialmente disponíveis no país, apesar do enorme potencial (teórico) que poderia ser obtido com tecnologias ainda em desenvolvimento, como a gaseificação de biomassa e de lixívia (COELHO et al., 1996, LARSON, 1990). Foram considerados combustíveis com menores emissões de poluentes, como a biomassa e/ou gás natural e verificou-se que a cogeração no segmento pode ser uma opção importante para a contribuição na oferta de energia. Como já mencionado, na maior parte dos casos as instalações de cogeração incluem as configurações usuais: caldeiras de média pressão (45 a 60 bar), definida pela pressão da caldeira de recuperação de lixívia. O vapor produzido expande nas turbinas de extração/contrapressão (salvo alguns casos isolados em que existe turbina de extração-condensação), indo para o processo. 65 Para a avaliação do potencial de cogeração do grupo de empresas selecionado, correspondendo a 231.265 t/mês de celulose e 181.435 t/mês de papel, conforme descrito no item 3.2., foram consideradas duas configurações (planilha anexo II): Configuração 1: Esta opção visa manter a auto-suficiência térmica (vapor de processo), utilizando entretanto equipamentos de cogeração mais eficientes que os atuais. Nesta configuração, que corresponde aproximadamente à situação atual (à exceção das pressões de trabalho e das eficiências42 dos equipamentos), a geração de eletricidade é determinada pelo vapor disponível (necessidade de vapor do processo), que expande na turbina até as pressões do processo (figura 4.4.). O sistema inclui caldeiras de alta pressão (60 bar e 470 oC), queimando toda a biomassa (cascas, cavacos, etc) disponível, além das caldeiras de lixívia. No caso em que o vapor gerado não é suficiente, uma caldeira adicional (a lenha, por motivos ambientais) é prevista para substituir as caldeiras existentes que (na maior parte dos casos) usam combustíveis fósseis (óleo, carvão). Em todos os casos são adotadas eficiências mais elevadas para os equipamentos, quando comparadas com a situação atual. O vapor gerado é então alimentado numa turbina de extração/condensação. Configuração 2: Esta opção objetiva a auto-suficiência térmica e elétrica de cada indústria, através da instalação de uma turbina a gás queimando gás natural com caldeira de recuperação, gerando vapor para alimentar a turbina a vapor (condensação/extração), sendo mantidas as caldeiras de biomassa e de recuperação (lixívia) (figura 4.8.). A tabela 4.1. indica os resultados obtidos, como a energia gerada para a situação atual da amostra e para as duas configurações propostas, bem como a quantidade adicional de combustível consumida. 42 Rendimento das caldeiras igual a 80% e rendimento isentrópico das turbinas igual a 70%. 66 Os resultados obtidos para a configuração 1 indicam ainda déficit de eletricidade para algumas indústrias. Para o grupo, há um déficit de 22.570 MWh/mês, apesar de inferior ao déficit atual, que é de 82.950 MWh/mês. Neste caso o consumo adicional de biomassa (lenha) seria cerca de 2.093 t/d, correspondendo a um total consumido, praticamente, igual a metade da biomassa já em uso (5.022 t/d). Já na configuração 2, além da auto-suficiência energética, verifica-se a geração de algum excedente de eletricidade (85.050 MWh/mês), apesar de não ser prevista a venda de excedentes na análise econômica. Nesta opção, o consumo de gás natural seria de 1.288.090 Nm3/d (correspondendo a 32% da oferta do gasoduto Brasil-Bolívia) Tabela 4.1. - Potencial de Cogeração para o Grupo de Empresas Selecionadas (231.265 t/mês de celulose e 181.435 t/mês de papel) OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO Energia Gerada (MWh/mês) Potência Instalada (MW) Situação Atual 151.438 210 -82.950 -115 vários Configuração 1 CEST 221.661 308 -22.570 -31 2.093 t/d (biomassa) Configuração 2 T.G. 326.866 454 +85.050 +115 1.288.090 Nm3 /d (G.N.) Fonte: VELÁZQUEZ el al., 1999. Excedente/ Excedente/ Consumo Défict Défict Adicional de (MWh/mês) (MW) Combustível 67 - Conclusão Preliminar Através da análise da situação atual dos sistemas de cogeração existentes no grupo de empresas selecionadas, pôde-se verificar que o potencial de geração de eletricidade das indústrias do grupo, com a introdução de tecnologias mais eficientes, já comercializadas, se apresenta elevado, além das vantagens na utilização de combustíveis com menores emissões de poluentes (biomassa e gás natural). Isto mostra que a cogeração, no segmento de papel e celulose, pode ser uma opção importante para contribuição na oferta de energia. 68 5. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DOS PROCESSOS DE COGERAÇÃO As vantagens da cogeração, como a maior eficiência energética e seu menor impacto ambiental, somente apresentam significado prático a partir de uma análise de seus aspectos econômicos, que podem ser apresentados de maneira distinta, dependendo do ponto de vista do analista, quer seja o cogerador, quer a concessionária ou mesmo a sociedade. Para a sociedade, a cogeração apresenta vantagens quanto a aspectos ambientais, diversificação na matriz energética e descentralização quanto ao fornecimento de energia, entre outros. Entretanto, para a concessionária, que não vê vantagens associadas à cogeração (COELHO, 1999), pode-se relacionar benefícios, como a postergação de investimentos em capacidade, melhorias na confiabilidade e no fator de carga. Por outro lado, para a execução de projetos de cogeração, são determinantes os aspectos econômicos do ponto de vista do auto-produtor, pois é ele quem, definitivamente, empreende a atividade. Na implantação de tecnologia mais eficiente em substituição às existentes, é fundamental a avaliação dos investimentos necessários para a sua implantação, bem como os custos de geração de eletricidade, comparados com a tarifa atual. Neste capítulo será analisada a viabilidade econômica da cogeração no segmento de papel e celulose, com o levantamento dos investimentos junto a fabricantes de equipamentos e o cálculo dos custos de geração para a tecnologia de Ciclo Combinado com Turbina a Gás, que é aquela que permite atingir a auto-suficiência energética nas indústrias escolhidas. A finalidade é avaliar a viabilização dos investimentos para auto-suficiência ou mesmo a possibilidade de eventual venda de excedentes. 69 5.1. Análise Econômica da Cogeração para o Grupo de Empresas Selecionadas Em seguida à análise técnica efetuada para o grupo de empresas selecionadas, é aqui realizada uma análise econômica (Anexo III), cujos resultados estão apresentados, adiante, na tabela 5.1., que indica os custos de geração para diferentes condições financeiras e diversos preços para o gás natural. Como o objetivo era atingir a auto-suficiência em geração de eletricidade, foi descartada a primeira configuração e nesta análise, considerada apenas a segunda (ciclo combinado com turbina a gás), pelo fato de que a primeira configuração (CEST) não permite atingir a auto-suficiência em termos de energia elétrica. A análise econômica foi efetuada pelo método convencional, atribuindo à eletricidade a amortização do investimento e considerando, portanto, que o custo do vapor de processo é nulo. Outros estudos utilizam a análise termoeconômica em base exergética, a qual permite uma análise mais rigorosa dos custos da eletricidade e do vapor de processo, através dos métodos de partição (BEJAN et al., 1996), como efetuado para o segmento de açúcar e álcool (COELHO, 1999). Para a realização desta análise econômica, foram adotadas diferentes condições financeiras, escolhidas de modo a incluir desde as condições tradicionalmente usadas pelo setor elétrico, até aquelas consideradas viáveis pela iniciativa privada, efetuando-se uma análise de sensibilidade para diversos preços do gás natural. Foram calculados os custos de capital, adotando-se valores médios para o investimento de 1.200 US$/kW instalado, obtido junto a fabricantes de equipamentos, de combustível e de O&M (adotado 3 US$/MWh43). 43 Valor histórico. 70 5.1.1. Custos de Instalação No processo considerado para aumento do rendimento da eletricidade cogerada - adaptação de turbina a gás/HRSG ao ciclo existente, com aumento da pressão do vapor, foram adotadas estimativas conservadoras para os custos de instalação. Pelo fato de não serem fabricados no Brasil, sua viabilidade depende de importação. Deve-se observar também que os custos da turbina a gás importada dependem da taxa de câmbio, além dos impostos de importação. O fator de capacidade (FC) foi adotado em 80%. 5.1.2. Custos de Combustível e O&M Para o combustível considerado (gás natural), foram utilizados valores médios de 1999 (1,94 - 2,26 - 2,55 US$/MMBTU)44 definidos, recentemente, pela ANP/ANEEL para Usinas Termelétricas a Gás Natural. O fator de carga foi considerado 80%, em termos conservadores. Para O&M foi considerado o valor de 3 US$/MWh. 5.1.3. Custos de Geração Os custos de geração (US$/MWh) foram calculados através da expressão: Cg = Cc + Ccomb + CO&M onde: Cg = custo de geração Cc = custo de capital Ccomb = custo de combustível CO&M = custo de operação e manutenção 44 Sendo que 2,26 US$/MMBTU é o preço do gás destinado para geração térmica - Jornal O Estado de São Paulo - 24/09/99. 71 Os custos de capital foram calculados a partir do valor do investimento, aplicadas as taxas de 10%, 25 anos; 15%, 20 anos; 20%, 15 anos, calculado o fator de recuperação de capital (FRC). O custo de capital (Cc) é calculado por: Cc = (Investimento * FRC) / 8760h/a * FC) onde, fator de recuperação de capital (FRC) é calculado por: FRC = i(1+i)n / [(1+i)n-1] sendo i a taxa de desconto para n anos. O fator de recuperação de capital permite a estimativa do custo de manutenção do mesmo estoque de capital encontrado no início do período. Todavia esse capital deveria incluir, tanto o capital físico (equipamentos) quanto o capital natural (recursos naturais exauríveis, ou de difícil renovação) e também o capital humano. Diversos métodos e técnicas de valoração estão sendo desenvolvidos por diversas áreas do conhecimento (RACY, 1999)45. Nesta pesquisa optou-se por não indicar tais métodos pois os mesmos não alcançaram consenso na análise de sua aplicação. Maiores detalhes sobre estas técnicas podem ser encontrados em COELHO, 1999 e SERÔA DA MOTTA, 1990. Ganhos e perdas de bem-estar, resultantes de uma decisão de investimento ocorrerão ao longo de um dado tempo. Assumindo-se que essas variações de bem-estar se traduzem em valores monetários, para somá-las e comprá-las será necessário adotar uma taxa de desconto, que represente a equivalência entre um ganho (ou perda) hoje e um ganho (ou perda) no futuro (SERÔA DA MOTTA, 1990). 45 RACY, C. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Economia e Administração. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1999. 72 Para o cálculo do custo de combustível, foi usada a fórmula: Ccomb = (preço do combustível) * 860 / (PC * rend.) onde PC é o poder calorífico do combustível e rend. é o rendimento termodinâmico do processo de geração. Tabela 5.1. - Custos de Geração de Eletricidade nas Indústrias Integradas de Papel e Celulose em Ciclo Combinado com Gás Natural (US$/MWh) Condições Preço do gás natural (US$/MMBTU) financeiras 2,55 2,26 1,94 10%, 25 anos 38,12 36,27 34,23 15%, 20 anos 46,60 44,75 42,72 20%, 15 anos 55,87 54,01 51,98 Fonte: VELÁZQUEZ el al., 1999. Dado que o fator de recuperação de capital foi calculado pela taxa de retorno, representado pelos diferentes custos de oportunidade, serão assumidos como fatores de comparação os custos de geração e os custos de compra de energia (das concessionárias). Como pode ser observado nos resultados acima, nem mesmo com condições financeiras dificilmente aceitas pelo setor privado (10%, 25 anos) e com os menores valores adotados para o gás natural, os custos de geração não se mostram competitivos com as tarifas elétricas ofertadas pelas concessionárias (média de 47 R$/MWh), principalmente nos níveis atuais de taxa de câmbio (1,97 R$/US$ em novembro de 1999), pois a análise de sensibilidade indicou que a cogeração só seria interessante economicamente, para valores de tarifas elétricas acima de 34 US$/MWh. É importante observar 73 que não foi considerada a venda da eletricidade excedente, gerada nessa configuração porque, durante a realização da pesquisa, não houve demonstração de interesse, por parte das empresas do grupo, nesse tipo de negócio. Com certeza, se essa possibilidade fosse considerada, os custos de geração poderiam ser menores. A diferença entre o custo de geração da eletricidade e a tarifa da eletricidade ofertada pela concessionária será melhor observada quando, do custo de geração estiverem descontados os créditos de carbono (Protocolo de Quioto - Capítulo 6) e as tarifas, acrescidas das externalidades (COELHO, 1999). Assim, obteria-se uma estimativa mais precisa da recuperação do capital investido. Fica assim evidente a necessidade de outros mecanismos que possibilitem a implementação da cogeração. Um desses mecanismos poderia ser com base nas emissões de carbono evitado, dentro das oportunidades do Protocolo de Quioto, como será discutido adiante. 74 6. ASPECTOS AMBIENTAIS NA COGERAÇÃO PARA O SEGMENTO DE PAPEL E CELULOSE Os impactos da ação do homem sobre o Meio Ambiente assumem grande importância nos dias de hoje, face à quantidade dos efeitos danosos provocados, que colocam em risco a sustentabilidade da vida humana no planeta. Frente a essa realidade, o homem necessita repensar seus conceitos de crescimento econômico e seu comportamento em relação à natureza. Neste contexto, a energia tem grande participação, pois não existe forma de produção ou consumo de energia, que seja isenta de impactos ambientais. “Estes impactos, de maneira geral, estiveram ausentes do cálculo econômico, como se a natureza fosse indestrutível e seus recursos inesgotáveis” (BOLOGNINI, 1996, p. 64). O valor econômico do meio ambiente deve ser analisado, bem como as técnicas e métodos que podem ser utilizados para se proceder à sua avaliação; devendo-se distinguir as técnicas diretas das indiretas. As diretas envolvem a consulta à sociedade para identificar suas opções e o valor que atribuem aos bens ambientais. As técnicas indiretas medem os custos dos danos e os benefícios através de funções de causa e efeito no mercado real (BOLOGNINI, 1996). 6.1. A Definição de Impacto Ambiental Impacto ambiental é definido por LA ROVERE, 1990 como uma alteração, favorável ou desfavorável, no meio ambiente ou em algum de seus componentes, produzida por uma determinada ação ou atividade. Segundo ele, os impactos ambientais podem ser diretos ou indiretos, manifestar-se a curto ou a longo prazo, ser de curta ou longa duração, reversíveis ou irreversíveis, de 75 natureza cumulativa ou sinérgicos. Estas características dificultam até mesmo a simples identificação dos impactos de um grande projeto sobre o meio ambiente, pois certos efeitos podem ser observados a curto prazo, desaparecendo em seguida e depois voltando a se produzir. Além disso produzem em conjunto um efeito resultante, que é diferente da soma das contribuições de cada fator isolado. Segundo LA ROVERE, 1990, são grandes as dificuldades de quantificação dos impactos ambientais: apenas em poucos casos é possível avaliar quantitativamente, com precisão, os impactos ambientais, porém não se deve esquecer daqueles impactos ambientais, que só se consegue avaliar qualitativamente. Qualquer que seja o instrumento escolhido para analisar os impactos ambientais ressalta a importância da sua avaliação econômica, da identificação clara de quais são efetivamente os custos e benefícios ambientais, pois as decisões a serem tomadas a nível de ressarcimento da sociedade e as decisões de evitar o dano dependem da sua valoração. A Economia do Bem-Estar, ramo da Microeconomia, tem por objetivo a alocação ótima de recursos, que maximiza o bem-estar dos agentes econômicos. A Economia Ambiental ao adotar esse instrumental, objetiva a melhor alocação dos recursos ambientais, avalia os danos e benefícios decorrentes do seu uso e os quantifica e internaliza no cálculo econômico dos agentes. 6.2. A Definição de Externalidade “Externalidades” são custos ou benefícios que não estão incluídos nos preços de um bem ou mercadoria. Na sua identificação e avaliação são usados os conceitos e as técnicas da Economia do Bem-Estar, visando atingir o uso ótimo dos recursos ambientais. Existe um grande número de externalidades na geração e no uso da energia elétrica. 76 Na análise da economia ambiental, tem-se considerado a degradação do meio ambiente como um caso excepcional do mercado, no qual se verifica uma tendência a um uso não ótimo, ou no qual não se faz o melhor uso de suas funções. Estas funções consistiriam na provisão de bens naturais, de recursos naturais (para produzir bens econômicos) e de local para descarte dos subprodutos inevitáveis da atividade econômica. Muitos estudiosos vêm o meio ambiente como “um sistema integrado e muito sensível, que provê meios para a sustentação de todas as formas de vida” (PEARCE, 1985). Para adequar a economia ambiental a esta visão mais ampla e integrada da ciência e do homem, muitas investigações têm sido realizadas em direção a conceituações mais completas. Essa tendência vem se estendendo ao estudo das externalidades. As relações dos processos agrícolas e industriais com o uso sustentável do Meio Ambiente dão origem a externalidades, sejam custos ou benefícios que devem ser contabilizados nas atividades econômicas. As externalidades devem ser absorvidas na contabilidade empresarial, tanto sob a forma de melhor tecnologia, como sob a forma de pagamentos (multas e sanções monetárias) por danos à sociedade. Nos países desenvolvidos começa a ser utilizada a prática de avaliar os custos ambientais e internalizá-los nos cálculos, por força de normas e padrões, ou através de taxas e impostos pela quantidade e qualidade de poluente emitido. Pelos motivos já expostos, no Brasil, o planejamento da oferta de energia, bem como o estabelecimento de tarifas e preços públicos devem levar em conta as externalidades que representam a real absorção de custos pela sociedade. A simples imposição de limites e medidas de mitigação de impactos que não sejam levadas em conta nos preços e nos orçamentos públicos pode levar a uma alocação ineficiente de recursos que impeça a expansão das atividades menos impactantes. Os combustíveis fósseis que 77 apresentam maior carga poluente devem ter uma parcela de custos externos adicionada a seu custo convencional. As externalidades positivas e negativas que ocorrem, podem ser identificadas e, com algum esforço e o auxílio de técnicas variadas, pode-se chegar a algum tipo de quantificação, que mesmo imperfeito pode servir de base para ações de internalização nos custos, que irão sendo aperfeiçoadas. O cálculo dos custos de geração é tradicionalmente baseado em análises econômicas convencionais, sem levar em conta as externalidades, como os custos sociais e ambientais. Isso faz com que esses custos de geração sejam artificialmente reduzidos, não viabilizando investimentos em Conservação de Energia, Cogeração, etc. 6.3. Impactos Causados pela Produção de Eletricidade A construção e operação de centrais elétricas causam severas modificações no meio ambiente. Um estudo da Pace University (OTTINGER et al., 1991) demonstrou que os impactos ambientais causados pelas centrais elétricas afetam a população humana, a flora, a fauna, as colheitas, florestas e peixes; os materiais de construção, metálicos, tecidos e também trabalhos artísticos e bens sociais (particularmente o clima e a recreação). Em anos recentes houve um crescimento no interesse sobre os impactos globais, como o efeito estufa, chuva ácida e perda da biodiversidade, causados pelas centrais elétricas. FURTADO, 1996 realizou uma pesquisa que avaliou os custos ambientais de três opções tecnológicas de produção de eletricidade no Brasil, que teve como objetivo contribuir para a incorporação de externalidades ambientais no processo de seleção de fontes de geração de energia elétrica no planejamento energético. 78 A seguir serão revisados os impactos relevantes causados por três opções tecnológicas de produção de eletricidade: hidrelétricas, térmicas e nucleares. 6.3.1. Usinas Hidrelétricas Atualmente, a análise da questão ambiental tem um papel fundamental na seleção de novas fontes de geração de energia elétrica, uma vez que o principal potencial remanescente no Brasil está na Amazônia. Essa região tem um ecossistema extremamente complexo, que pode ser alterado pela construção de barragens, com conseqüências danosas para o meio ambiente. Além disso, o reassentamento de populações e a mobilização de grande número de trabalhadores pode causar profundas alterações nas condições sociais, econômicas e culturais da região. “Embora esses impactos sejam amplamente conhecidos o Plano 2015 ainda privilegia esta opção de geração” (COELHO, 1999, p. 157). Por essas razões a análise dos custos ambientais se reveste de significativa importância e devem ser cuidadosamente estimados de modo a refletirem os custos sociais reais impostos à sociedade. A construção da barragem e a formação do reservatório alteram as dinâmicas existentes na ecologia da região, principalmente quando o rio é transformado num lago artificial. A região é afetada por uma série de mudanças (BOLOGNINI, 1996, FURTADO, 1996, MOREIRA E POOLE, 1991) devido a: • a alterações do ecossistema aquático e terrestre, cujos efeitos podem ser severos na flora, fauna, clima, qualidade da água e etc.; • formação de novo ecossistema e • alterações econômico-sociais e das condições culturais, inicialmente, pela mobilização e utilização de grandes massas de trabalho durante os estágios de construção da represa e pela interação com a população existente e, num 79 segundo instante, pelo deslocamento de pessoas localizadas na área do reservatório. A construção de usinas hidrelétricas na Região da Amazônia, por exemplo, exige especial atenção, visto que a maioria delas pode afetar a população indígena. De acordo com a Constituição Brasileira (1988), o desenvolvimento de recursos hídricos localizados em áreas indígenas requer concessão prévia do Congresso Nacional. A Eletrobrás (1990) estabelece que a construção dessas plantas é proibida no seguintes casos: • em terras indígenas e • em áreas onde elas podem adversamente afetar grupos nativos, particularmente no caso de grupos com ou sem contato recente com o resto da sociedade e põem em perigo esses grupos onde a população exibe sérias desigualdades. Em termos de ecologia, alega-se que o deslocamento de animais da área inundada para as florestas é praticamente em vão. Os animais lá existentes competem com os novos que estão chegando, até que cada espécie se reduz a aproximadamente os mesmos níveis prévios. Esta alternativa apresenta outros impactos ambientais, tais como as emissões de metano (CH4), que também é responsável pelo efeito estufa aliado ao dióxido de carbono (CO2), como conseqüência da degradação da biomassa submersa (COELHO, 1999). 6.3.2. Usinas Termelétricas Na geração termelétrica os impactos ambientais também não são considerados e as opções são sempre no sentido de minimizá-los e não evitálos. Os principais poluentes na geração termelétrica são a emissão de dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) 80 e material particulado (MP). A identificação destes impactos depende de vários fatores relacionados às características das usinas, como atmosféricos, químicos, geofísicos e condições ecológicas e fisiológicas. Os impactos ambientais causados pelas usinas térmicas, que contribuem com os fenômenos de aquecimento global e chuvas ácidas têm preocupado a comunidade científica e a opinião pública mundial devido às conseqüências imprevistas para a vida na terra. O dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), e óxido de nitrogênio (NOx) são os gases que contribuem para o aquecimento global, sendo que o dióxido de carbono é responsável por 90% do fenômeno. O principal problema relacionado às emissões de dióxido de carbono é que não há equipamento econômico e prático para evitá-las. Entretanto como meio de equilibrar as emissões de dióxido de carbono são geralmente propostas as plantações das florestas. Há vários riscos associados com emissões de dióxido de carbono, e o mais intrigante é o efeito estufa, que pode causar um aumento na temperatura da terra, com conseqüências imprevistas no clima do planeta. Supondo um aumento nas emissões de 1 por cento ao ano, no período de 50 a 100 anos haveria um aumento, em média, de 2 oC a 4 oC na temperatura do planeta (BOLOGNINI, 1996). Por conseqüência altera as condições climáticas mundiais, causando impactos profundos em ecossistemas, agricultura, recursos hidráulicos, provocando a nível mundial sérias conseqüências sócioeconômicas . A principal causa de emissões de dióxido de carbono é a combustão de carvão, óleo e gás, que somam dois terços do total das emissões, enquanto o desflorestamento, queimadas e outras fontes são responsáveis pela terceira parte. 81 A chuva ácida é caracterizada pela redução do pH da água da chuva. É a causa principal da morte de florestas em muitos países e do declínio ecológico de lagos e rios. A queima de carvão é a principal fonte deste fenômeno, que está fortemente relacionado com as emissões de óxidos de enxofre (SOx) e óxidos de nitrogênio (NOx) (BOLOGNINI, 1996). A Legislação Ambiental brasileira não controla emissões de NOX de fontes estacionárias (Usinas Termelétricas). Em termos oficiais, a legislação brasileira estabelece padrões de controle de poluição atmosférica; este controle é definido através de padrões de emissão de poluentes, que determinam a quantidade máxima permissível de poluentes que uma determinada fonte poluidora pode emitir (COELHO, 1999). Em termos de padrões de emissão é utilizada a legislação a respeito de fontes estacionárias de combustão (Usinas Termelétricas) (CONAMA Resolução no 008 de 06/12/90) que restringe-se a fontes novas, incluindo apenas os poluentes SOX e MP emitidos nos gases e combustão. A atuação da CETESB é voltada, principalmente, para as emissões veiculares, através do PROCONVE (que sem dúvida são importantíssimas, porém faz-se necessário também o controle das emissões de fontes estacionárias). FURNARI e VERGNHANINI, 1997 observam a falta de controle de emissões de fontes estacionárias no Brasil e alertam que, mesmo a CETESB, reconhecida como o melhor órgão estadual do país no controle de emissões, não tem meios para controlá-las, por falta de legislação adequada e de haver atuação dos órgãos responsáveis. A esse respeito, COELHO, 1999 observa que: a) a legislação se refere apenas a fontes novas, desobrigando portanto os equipamentos velhos (e, conseqüentemente, com maior potencial poluente) a seguir os padrões estabelecidos; b) não são estabelecidos padrões de emissão para os poluentes CO e NOX. A maioria dos países não estabelece padrões de emissões para CO considerando que, em condições de operação normais 82 (equipamentos adequadamente regulados), as taxas de emissão são reduzidas. Ao mesmo tempo, a legislação internacional estabelece limites para o NOX, ao contrário do Brasil e c) A grande maioria dos equipamentos nacionais queimam óleos combustíveis ultraviscosos, produzidos pela Petrobrás, a partir dos resíduos de fundo da destilação do petróleo, diluídos com frações mais leves. Segundo o IPT, esses combustíveis requerem particular atenção quanto à emissão de poluentes, uma vez que combustíveis mais pesados produzem na sua queima maior diversidade e, freqüentemente, maiores quantidades de poluentes para cada quantidade de energia liberada. A falta de padrões de emissão para o NOX é preocupante pelo fato de que, a partir da maior disponibilidade de gás natural (gasoduto Brasil-Bolívia) sua utilização será mais intensa, utilizado em ciclos combinados com turbinas a gás (correspondendo a uma tecnologia muito mais eficiente em termos de geração de energia termelétrica e, conseqüentemente, de menor custo de geração). O gás natural costuma ser apresentado como “combustível ecológico”, “não poluente”, quando na verdade trata-se de um combustível menos poluente do que os demais combustíveis fósseis, desde que adotadas as medidas de controle de poluição adequadas, como em outros países. Segundo COELHO, 1999 e VILLANUEVA et al., 1998, os fabricantes de turbinas a gás possuem modelos convencionais e outros com “emissões reduzidas de NOX”. Para as novas instalações de termelétricas a ciclo combinado, serão utilizadas as turbinas com as câmaras de combustão modificadas, para menor emissão de NOX, sem que haja uma legislação que exija essa condição? Para SO2 e MP, que são os únicos poluentes para os quais foram definidos padrões no Brasil, observa-se que os padrões nacionais permitem emissões superiores àquelas de outros países. 83 Os óxidos de enxofre podem causar problemas de saúde, redução de visibilidade e corrosão de materiais. Podem também afetar a fauna e a flora, incluindo problemas econômicos devido a redução de colheitas (BOLOGNINI, 1996). As emissões dos óxidos de nitrogênio (poluente mais crítico na combustão do gás natural) também contribuem com muitos outros problemas na qualidade do ar, inclusive para a redução da camada de ozônio. Estas emissões causam problemas respiratórios, cardiovasculares e de rim, perda de cores de tinta, impactos na visibilidade, e redução do crescimento das plantas (BOLOGNINI, 1996). Entretanto, os veículos representam a principal fonte de óxidos de nitrogênio. O ozônio, um poluente secundário, é um óxido foto-químico, componente principal da fumaça encontrada em cidades grandes. Ao mesmo tempo a camada de ozônio é benéfica à vida porque funciona como uma barreira às emissões ultravioletas. No nível do solo uma concentração alta de ozônio é prejudicial à saúde (asma e bronquite) e para o ambiente. Compostos orgânicos voláteis contribuem com a camada de ozônio, enquanto monóxido de carbono causa problemas de saúde, particularmente doenças respiratórias (BOLOGNINI, 1996). 6.3.3. Usinas Nucleares Os principais impactos ambientais de usinas nucleares são os seguintes: • emissões de rotina nas operações da usina; • risco de acidentes catastróficos, tal como ocorrido em Chernobyl e Ilha de Três Milhas; • médio e baixo nível de desperdício; • proliferação da energia nuclear para propósitos militares; • lixo atômico e • desmontes. 84 Além disso, o sistema de refrigeração por água pode causar estrago à fauna aquática, como ocorre, também, em outras tecnologias. O ciclo de combustível nuclear causa emissões de dióxido de carbono durante a mineração do urânio, a fabricação do combustível e a construção da usina. De acordo com FURTADO, 1996 a energia nuclear é um recurso razoavelmente limpo, e deveria ser uma solução para evitar estragos ao meio ambiente causados por outras usinas de energia térmica, pois apresenta algumas vantagens quando comparada com outros recursos, embora reconheça os problemas de risco, responsabilidade e aceitação pública deste recurso. A energia nuclear forneceu em torno de 17% da energia elétrica do mundo em 1990, evitando portanto emissões de CO2 adicionais de 25% na geração de energia elétrica, ou 9% no total de emissões devido ao estoque de energia global por combustíveis fósseis. Como principal vantagem, ele salienta que a energia nuclear não emite gases e ácidos poluentes, e além do mais essa fonte de combustível é relativamente menos escassa do que o óleo e o gás. Além do risco de acidentes, a questão dos resíduos radioativos do processo (SAUER, 1994) é ainda objeto de discussão, mesmo nos países desenvolvidos que utilizam usinas nucleares. A usina nuclear de Angra I, ao final de sua vida útil, terá gerado aproximadamente 700 toneladas de combustíveis irradiados. No caso de Angra II esses valores devem dobrar (SAUER, 1994). 6.4. Impactos Ambientais da Cogeração no Segmento de Papel e Celulose Para o desenvolvimento deste item serão avaliadas as emissões de poluentes para cada combustível (como óleo diesel, óleo combustível, carvão) e assim será mostrada que a utilização da biomassa e do gás natural é benéfica, sob o ponto de vista da redução da poluição, quando comparada com 85 a combustão de insumos energéticos de origem fóssil, na geração de energia elétrica em sistemas de cogeração. A utilização da biomassa, sob uma forma de renovabilidade contínua, permite a fixação do carbono através de um balanço natural de equilíbrio entre o carbono emitido na queima e o carbono capturado pela nova planta em crescimento (ressalvados os cuidados necessários relativos ao uso do solo e da água associados ao processo de plantio), além da ausência de enxofre na biomassa. Juntamente com a conservação e o uso racional da energia, a utilização da biomassa, de maneira equilibrada, pode tornar-se o grande salto tecnológico para a produção de energia, associada ao conceito de desenvolvimento sustentado, garantindo o crescimento econômico e a preservação ambiental (ZYLBERSZTAJN e COELHO, 1992). Pelo fato da biomassa (lixívia, cascas, cavacos e resíduos florestais em geral) ser um resíduo inevitável do processo de fabricação da celulose e de se apresentar em grandes quantidades, esta é considerada uma excelente opção, inclusive em termos ambientais, para a cogeração. Com as tecnologias atuais, o processo se mostra ineficiente, porém existem tecnologias mais eficientes para utilizá-la, como já foi visto. A possibilidade do uso do gás natural foi levada em consideração, já que com a concretização do gasoduto Brasil-Bolívia, poderemos contar com uma oferta mais expressiva desse combustível na matriz energética do país. Porém, é importante lembrar dos impactos ambientais causados pelas emissões de NOX e da falta de padrões para esse controle no Brasil. Também para a sociedade a cogeração de eletricidade, a partir da biomassa, apresenta benefícios. Os benefícios ambientais da biomassa já são conhecidos, em particular pelo balanço quase nulo das emissões de carbono, mesmo levando em conta as emissões de outros poluentes (quando comparadas com fósseis) (COELHO, 1999). 86 No caso das emissões de carbono, somente no Estado de São Paulo, em 1996, foram de 64,79 milhões de toneladas (COELHO, 1999) originadas pela queima de combustíveis fósseis (50% maior que em 1982), sendo o setor industrial responsável por mais de 30% das emissões (BEESP, 1997). Por outro lado, a utilização de biomassa como combustível para geração termelétrica em substituição ao óleo combustível, carvão e outros combustíveis fósseis reduz a emissão de poluentes principalmente pela ausência de enxofre e particulados. Dentro do segmento de papel e celulose, os benefícios ambientais nas indústrias de papel foram analisados em outros estudos (VILLANUEVA e COELHO, 1998), com a comparação das emissões de poluentes quando o óleo combustível é substituído pelo gás natural. Os resultados obtidos demonstraram que a situação do grupo de indústrias de papel estudado se apresenta como uma situação intermediária, em termos ambientais, quando relacionada com o uso do ciclo CEST, que aumenta a energia total gerada (aumentando o consumo de óleo combustível), elevando as emissões de poluentes. Observou-se, também, que apesar do gás natural ser considerado um combustível limpo, ele emite uma considerável quantidade de NOX, que precisaria ser controlada. As indústrias de celulose, também já foram estudadas (HORTA NOGUEIRA e WALTER, 1995, SILVEIRA e HORA NOGUEIRA, 1990). Por este motivo serão aqui analisadas as indústrias integradas. 6.4.1. Biomassa (resíduos e lixívia) Biomassa é a quantidade de material orgânico na terra, particularmente resíduos de plantas, que no campo da energia é usada para descrever todas as formas de plantas e derivados que podem ser convertidos em energia utilizável, como madeira, resíduos urbanos e florestais, grãos, talos, óleos vegetais e esterco. A energia gerada pela biomassa é também conhecida como “energia verde” ou “bioenergia”. 87 Uma das formas de utilização da biomassa é através da queima direta para produzir energia térmica e eletricidade. É uma fonte primária de energia, que está em desenvolvimento e provê 14% da energia total do mundo46. Seu uso oferece vantagens tanto para os países desenvolvidos quanto para os países em desenvolvimento. Por exemplo, a energia que provém da biomassa, pode substituir aquela gerada por hidrelétricas, e assim reduzir as inundações preservando a flora, o habitat para a vida selvagem, agindo como uma barreira à degradação da terra. Além disso, pode evitar a locomoção da população das terras que serão alagadas para outras, com os vários “impactos sociais” conhecidos. Existem muitas vantagens na utilização da biomassa como combustível, pelas reduzidas emissões de poluentes, em particular porque não contêm enxofre, não emitindo SO2 na combustão. A substituição de combustíveis fósseis pela biomassa reduz as emissões de carbono, que causam o efeito estufa (aquecimento global da terra). As emissões de CO2, pela queima de biomassa, podem ser consideradas praticamente nulas, pois o CO2 liberado na reação química é reabsorvido no próximo ciclo de vida da planta (fotossíntese). Apenas quando se considera o ciclo completo da biomassa, incluindo o consumo direto e indireto de fósseis verifica-se a emissão de CO2 (COELHO, 1999, MANN e SPATH, 1997). A utilização de biomassa provoca um incremento na economia da região e do país, proporcionando a geração de empregos, não só pela dinamização do setor de equipamentos, como na área rural (fixando e/ou aumentando o número de empregos no campo), evitando a migração para as cidades, além de aumentar o recolhimento de impostos. 46 www.energyhouse.com/bun/informat.htm 88 Além disso, um programa integrado de desenvolvimento rural baseado num gerenciamento efetivo de biomassa, pode colaborar para desenvolver produtos novos e mais competitivos, aumentar a produtividade das terras e a rentabilidade da agricultura tradicional, bem como diminuir as importações de petróleo, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial do país. Como acontece com qualquer tipo de combustível, deve ser adequadamente administrado, de forma sustentável, evitando o desmatamento, que por sua vez, pode diminuir a diversidade genética de nossas florestas, com todos os prejuízos já conhecidos. A importância da biomassa como objeto de estudo tornou-se inegável na sociedade moderna. No Brasil, em 1995, os recursos da biomassa respondiam por cerca de 27% (14% - lenha e 13% - produtos da cana-de-açúcar) da produção total de energia primária, sendo portanto proporcional à toda produção nacional de combustíveis fósseis - 26,8% (FREITAS, 1998). No caso da lixívia (licor negro), um resíduo inevitável do processo de fabricação da celulose, altamente tóxico e poluente, há inúmeras vantagens na reciclagem. Nela estão presentes todos os produtos químicos utilizados no processo “sulfato” de fabricação de celulose, e que se não fosse utilizada como combustível, na caldeira de recuperação (com a finalidade de recuperar estes produtos químicos e gerar vapor), deveria ser descartada com elevados impactos ambientais em rios, lagos e lençóis freáticos. O setor industrial consome 43,5% de toda a biomassa utilizada no país. O segmento de papel e celulose é, dentro do setor industrial, um dos maiores consumidores de biomassa, representando 15% do consumo do setor e 7% do consumo final de biomassa no país (BEN, 1999). A lixívia representa 48% de sua matriz energética, seguida de 24% entre cascas, cavacos e lenha. Segundo a BRACELPA, 1997, dos 2.696.548 MWh gerados pelas indústrias integradas em 1996, 1.372.739 MWh foram gerados a partir da lixívia. 89 6.4.2. Gás Natural Entre os combustíveis fósseis, o gás natural é o menos poluente (tabela 6.1.). Sua baixa capacidade poluidora pode ser observada quando comparada aos combustíveis usuais de origem fóssil, principalmente no que tange à emissão de gases sulfurosos, em virtude de seu baixo teor de enxofre (MENDES, 1996), mas é importante ressaltar que as emissões de NOX são altas (COELHO, 1999), e que não são controladas pelos órgãos ambientais no Brasil, pois não há legislação adequada no país. Sua participação na matriz energética brasileira ainda é reduzida (2,1% do consumo final, representando aproximadamente 6 milhões de metros cúbicos em 1996, segundo BEN, 1997), mas as perspectivas são de aumento devido ao gás natural da Bolívia, com previsão inicial de 4 milhões de m3/d, passando para 8 milhões de m3/d em 2000, podendo atingir 30 milhões de m3/d. É importante discutir os aspectos positivos da utilização do gás natural em substituição aos combustíveis usuais de origem fóssil e poderá ser observado que o mesmo pode ter inúmeras aplicações que ajudam a melhorar as condições ambientais e inclusive reduzem a emissão dos gases provocadores do efeito estufa. Como analisa GOMES, 1996 (p.34) “A adoção de critérios de internalização de custos ambientais na indústria e na produção de energia, tais como os custos dos equipamentos anti-poluição, o tratamento e armazenagem de combustíveis nucleares ou ainda a inundação de áreas e o deslocamento de populações pela construção de hidrelétricas, tenderão cada vez mais a colocar o gás como alternativa energética de menores impactos ambientais”. Realmente o gás natural tem vantagens que são concretas, quando comparadas com os demais combustíveis fósseis, mas é conveniente lembrar que ele é mais poluente que a biomassa, principalmente com relação às emissões de carbono (IPCC, 1995). 90 Diversos estudos já analisaram o gás natural, sua origem, composição, principais propriedades e características (BELLINI, 1998, MENDES, 1996, GOMES, 1996). Entre suas diversas utilidades, deve ser destacado seu uso como combustível na geração de energia, sendo considerado o combustível mais apropriado para uso em turbinas a gás. BELLINI, 1998 dá uma atenção especial à distribuição de gás no Brasil e em particular ao atual sistema de distribuição de gás no Estado de São Paulo. Face às expectativas nacionais decorrentes das preocupações referentes a um possível risco de déficit no setor elétrico brasileiro, em decorrência particularmente dos reduzidos níveis de investimentos efetuados, o governo brasileiro busca novas alternativas para a minimização do problema, com o aumento da participação do gás natural na matriz energética brasileira, existindo inúmeros estudos que relatam o histórico detalhado do gasoduto Brasil-Bolívia (BELLINI, 1998; MENDES, 1996). O gás, proveniente do gasoduto Brasil-Bolívia, deverá abastecer as termelétricas previstas para o Estado: Usina de Piratininga, com capacidade de 450 MW e Petroquímica de Paulínia, com igual capacidade. Existem também os contratos de intenções assinados entre a distribuidora e as indústrias interessadas em projetos de cogeração (5,66 milhões de m3 por dia) (BELLINI, 1998). Com a elevação da taxa de câmbio do dólar, houve a elevação do preço do gás e dos preços dos equipamentos necessários (turbinas a gás), todos importados (e conseqüentemente com seus preços agora mais elevados). Adiante serão discutidas as medidas de incentivo que foram dadas pelo MME para viabilizar as UTE’s a gás natural. No capítulo anterior foi calculado o consumo de gás necessário para um grupo de indústrias de papel e celulose (1,2 milhões Nm3/d), o que corresponde 91 a um valor significativo pois, somente a necessidade de gás para abastecer a Usina de Piratininga, é de 2,1 milhões de m3 por dia47. Assim, permanece a dúvida: apesar das vantagens da cogeração com gás natural (BELLINI, 1998, MENDES, 1996), existirá oferta de gás natural para a cogeração? 6.4.3. Vantagens na Substituição de Combustíveis Fósseis por Biomassa/Gás Natural Neste item será feita a avaliação das emissões de poluentes no processo de cogeração, em particular para o grupo de indústrias selecionadas (item 3.2.) a partir dos fatores de emissão de poluentes para cada combustível utilizado nas tecnologias propostas (item 4.3.). 6.4.3.1. Cálculo das Emissões Atuais de Poluentes para o Grupo de Indústrias Selecionadas Para calcular as emissões de poluentes para o grupo foi considerada, inicialmente, a situação atual de utilização do óleo combustível e em seguida sua substituição por biomassa e gás natural. O óleo combustível tem significativa participação na matriz energética brasileira, apresentando um consumo de 13.964.205 t em 1998 (BEN, 1999), não apenas em geração termelétrica (10%), mas também como energético nos vários setores (65% do total corresponde ao consumo do setor industrial). É um dos responsáveis pela poluição atmosférica, através das emissões de SO2, NOX e material particulado, além do carbono, na forma de CO e CO2. A partir dos valores adotados (tabela 6.1.) para os fatores de emissão de poluentes do óleo combustível, da madeira e do gás natural, foram calculadas 47 IENO, G.O. IEE/USP. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1999. 92 as emissões para o grupo de indústrias selecionadas (Anexo IV), e apresentadas na tabela 6.2.. Tabela 6.1. - Valores das Emissões Específicas para os Combustíveis Utilizados Emissões específicas Emissões específicas Emissões específicas Óleo Combustível Madeira *** (25% de umidade) Gás Natural**** (kg / 10 kcal)***** (lb /t) (kg / m3) SO2 3,507* - - NOX 0,800** - 0,00677 MP 0,240** 6,6 - CO 0,015** - 0,001161 VOC - 1,34 - Poluentes 6 Fontes: *calculado em COELHO, 1999, para o óleo combustível nacional. **calculado em FURNARI eVERGNHAGNINI, 1997. ***EPA, 1985. ****MENDES, 1996. Nota: ***** kcal de óleo combustível consumido. A análise partiu da situação atual do grupo de indústrias, onde o combustível fóssil utilizado é principalmente o óleo combustível. Prosseguindo com a análise foi considerada a substituição do óleo combustível pela biomassa, conforme a configuração 1, da análise técnica (item 4.3.). Para concluir a análise de emissões de poluentes, foi considerada a substituição do óleo combustível por gás natural, que entre os combustíveis fósseis é o menos poluente (BELLINI, 1998, MENDES, 1996, GOMES, 1996), conforme a configuração 2, da análise técnica (item 4.3.). 93 A seguir, a tabela 6.2. apresenta os resultados da análise, cuja planilha de cálculos se encontra no Anexo IV. Tabela 6.2. - Emissões de Poluentes para o Grupo de Indústrias Selecionadas, a partir dos Combustíveis Utilizados Situação Atual Poluentes Pot. Inst. (210 MW) (t / d) Configuração 1 Configuração 2 Pot. Inst. (308 MW) Pot. Inst. (454 MW) Emissões Redução Emissões Redução (t / d) (%) (t / d) (%) SO2 0,004 – 0,0149 - 100 - 100 NOX 0,0034 - 100 0,0008 24 CO 0,0001 - 100 0,0001 - MP 0,0010 0,0008 80 - 100 VOC n.d. 0,0002 - - 100 Fonte: Cálculos da autora. - Conclusão Preliminar Através da análise dos resultados obtidos, pode ser observado, como já era esperado, que o consumo de óleo combustível implica em emissões mais elevadas. Ficam evidentes, também, as maiores vantagens ambientais da biomassa em relação ao gás natural, correspondentes às emissões de carbono e de NOX. Estas vantagens serão discutidas, com detalhes, no item 6.5., onde serão calculadas, a partir das emissões de CO2, as emissões de carbono por MWh gerado, o abatimento de carbono em t/ano e os créditos de carbono correspondentes ao abatimento das emissões, para a situação atual do grupo e para as novas configurações. 94 6.5. Emissões de Carbono Na virada do milênio, um dos maiores desafios do homem é encontrar maneiras de reduzir a concentração de gás carbônico na atmosfera. O dióxido de carbono (CO2) juntamente com o CH4 são os principais responsáveis pelo chamado efeito estufa, o fenômeno que, segundo a maioria dos especialistas, está fazendo a temperatura do planeta subir48. Além de reduzir essas emissões, é ainda preciso retirar o excesso já liberado. Entretanto, não existem mecanismos viáveis que permitam a operação de um sistema capaz de retirar gás carbônico da atmosfera de forma contínua e progressiva. Já em 1988, nos Estados Unidos, em uma reunião da Comissão de Energia e Recursos Naturais do Senado, foi dado o primeiro alerta público de que os indícios eram tão grandes que o efeito estufa já era uma realidade. Foi dado um tom oficial ao que muitos cientistas já sabiam há décadas: a liberação do CO2 na atmosfera, quer pela destruição das árvores, quer pela queima de combustíveis fósseis, tornaria inevitável o aquecimento do planeta. Apesar disso, o mundo industrial continuou a lançar, diariamente, toneladas de CO2 na atmosfera. Sua concentração aumentou de 270 partes por milhão, antes da revolução industrial, para cerca de 350 partes por milhão, no início desta década. A cada ano, segundo a organização ambientalista Greenpeace, são lançadas 6 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Os países industrializados conhecem bem o problema, porém o ritmo das discussões é muito mais lento do que as modificações por que passa o planeta. Em 1997, durante a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Quioto, no Japão, ficou estabelecido um corte significativo sobre as emissões de CO2 registradas em 1990 (redução de 5%, em média), o que implica em fortes mudanças nas matrizes energéticas dos 48 “O ano de 1997 entrou para a lista dos anos mais quentes da história.” Flávio Gut, 1998 - Revista Silvicultura - no 75, pg. 42. 95 países industrializados. Isto significa reduzir as atuais emissões em cerca de 900 milhões de toneladas de carbono por ano. Como o custo da redução de cada tonelada de CO2 é estimado em até US$ 100, isto significa que o custo total pode atingir entre US$ 90 e US$ 100 bilhões. O Protocolo de Quioto, que ainda está sendo objeto de inúmeros debates, por vários especialistas, constitui um enorme passo no qual os países, pela primeira vez na história da humanidade, reconheceram seus compromissos globais na condução dos destinos do planeta e, ao mesmo tempo, assumiram uma responsabilidade partilhada, de acordo com o grau de desenvolvimento e estruturação econômica de cada um. Acredita-se que será aceito o conceito de comercialização internacional de créditos de seqüestro de carbono (retirada da atmosfera) ou da redução de emissão de gases-estufa. Isto significa que os países que conseguirem reduções abaixo de suas metas poderão vender esse crédito para outro país que não as consiga. Esse é um ponto importante, pois permite que o objetivo de reduzir a concentração de CO2 na atmosfera tenha um custo global menor. Países com baixo custo marginal de redução de emissões passarão a ser provedores desse tipo de serviço ambiental, enquanto países com maiores custos de redução de emissões poderão comprar esses serviços. Três mecanismos incluídos no Protocolo de Quioto deverão regulamentar as transações internacionais por créditos de redução de emissões. Países industrializados poderão transacionar suas cotas de emissão entre si, ou em projetos de implementação conjunta que levem à redução de emissões em outros países industrializados. Países em desenvolvimento participarão desse mercado através dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (CDM - Cleam Development Mechanisms), proposto pelo Brasil, em Quioto. Esse mecanismo terá o papel de direcionar investimentos de países industrializados em projetos que levem à redução de emissões de gases efeito estufa (ou absorção de gás carbônico em florestas) em países em 96 desenvolvimento. E, por fim, o Protocolo regulamenta os métodos aceitos para efetivar tais reduções (ASPEN FORUM, 1999). O CDM foi definido, no Protocolo de Quioto, como um instrumento de mercado com o potencial para prover apoio financeiro para países em desenvolvimento (não incluídos no Anexo I), em troca de certificados de redução de emissões; esses certificados serão usados pelos países desenvolvidos (países pertencentes ao Anexo I), para cumprir parte dos acordos de limitações e redução de emissões. Para os países em desenvolvimento o CDM representa um novo e poderoso canal para assistência técnica e financeira, como também para fluxos de investimentos diretos, promovendo desenvolvimento sustentável. Os países desenvolvidos poderão usar a Certificados de Redução de Emissões (Certified Emissions Reductions - CER), obtidos através de projetos desenvolvidos nos países não pertencentes ao Anexo I, como parte dos acordos de limitações e redução de emissões. O CER pode ser visto como um novo produto a ser comercializado, possivelmente no ano 2000, entre entidades públicas e privadas. Uma vez o projeto certificado, o CER será oferecido aos países industrializados, por um processo de licitação. Comprando o CER os investidores não estarão assumindo o custo do projeto, mas o valor de mercado do CER, eliminando certos riscos associados diretamente aos projetos. Durante o U.S. - Brazil Global Aspen Forum49, realizado em novembro de 1998, foram discutidos inúmeros assuntos relativos à natureza do CDM, como sua disseminação e implementação. O compromisso estabelecido entre 49 O U.S. - Brazil Aspen Fórum foi desenvolvido pela Câmara Americana de Comércio no Brasil, em conjunto com a Universidade do Colorado, com apoio da USP e do Lawrence Berkeley Laboratory (São Roque, 1998, Aspen, 1998, São Roque, 1999). 97 os países do Anexo I, para reduzir as emissões quantificadas em 5% abaixo dos níveis de 1990 (aproximadamente), significa um esforço que representa uma diminuição de 30% nos níveis de emissões que poderiam ser atingidos em 2008 - 2012, se nenhuma medida fosse tomada (ASPEN FORUM, 1999). Esses mecanismos podem criar uma grande variedade de negócios nos próximos anos e talvez o Brasil tenha condições necessárias para participar de desses negócios. Afinal, os custos de redução de emissões são geralmente menores em países em desenvolvimento. É de especial importância o estudo desenvolvido pelo IEA - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo - o Projeto Floram (Florestas Ambientais), propondo criar um mecanismo que associe as vantagens da emissão de certificados de seqüestro de carbono e contratos futuros de madeira. A fórmula garante a transferência de recursos dos países desenvolvidos para o Brasil, reativando assim, a indústria de base florestal, abalada desde o fim do subsídio para o reflorestamento, em 1987. A absorção do carbono jamais entrou na equação financeira das empresas de reflorestamento, mas é provável que isso ocorra agora porque há interesse das nações industrializadas em reduzir as emissões globais de carbono. Estudiosos50 mostram que países como a Noruega e Holanda não conseguem reduzir suas emissões nem abaixo dos níveis atuais e começam a promover o plantio de florestas em países tropicais para que elas absorvam parte do carbono emitido por eles. Países do Sudeste da Ásia e Caribe já se beneficiaram desse interesse. O Brasil tem várias vantagens, representadas pelo clima e solo, além de disponibilidade de mão-de-obra, maior produtividade, menor idade de corte 50 Bastos Cruz e Amantino de Freitas, 1998 - Revista Silvicultura - no 75, p. 44. 98 (aproximadamente 7 anos, para o eucalipto) e tecnologia de plantio disponível. Assim, no caso da madeira, precisa ser desenvolvida a conceituação de um certificado de reflorestamento que possa ser vendido nos mercados internacionais aos maiores emissores de CO2 e interessados na indústria base florestal. Os resultados obtidos seriam aplicados no plantio de florestas para fins ecológicos e industriais no Brasil, suprindo a lacuna deixada pelo fim dos incentivos fiscais. Com base em cálculo da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura, o custo médio de implementação de um hectare de floresta é de US$ 850 e a manutenção gira em torno de US$ 50 por ano, em seis anos. Ou seja, US$ 1.150 por hectare até a maturação da floresta. Cada hectare seqüestraria anualmente 9 toneladas de carbono, ou 63 toneladas de carbono em sete anos. Se o seqüestro de uma tonelada de carbono for vendido a US$ 10, ou US$ 630 em sete anos, tem-se mais da metade do investimento necessário para a implantação do projeto. No que se refere à utilização da biomassa no setor industrial, apesar das inúmeras discussões que vêm ocorrendo, ...”a cogeração de eletricidade a partir de biomassa representa quase um consenso de que é, de fato, uma possibilidade concreta para aplicação dos CDM’s” (COELHO, 1999, p.181). 6.6. Avaliação Ambiental do Grupo de Empresas Selecionadas Neste item são avaliadas as reduções nas emissões de carbono decorrentes da introdução de tecnologias de cogeração mais eficientes nas empresas de papel e celulose e da substituição dos combustíveis utilizados por biomassa e/ou gás natural, com menores emissões de carbono. E, a partir de valores (conservadores) para a taxação de carbono, é discutida a contribuição que este mecanismo teria para a introdução de processos de cogeração mais eficientes no segmento de papel e celulose, em particular com a possibilidade de investimentos de países desenvolvidos. 99 6.6.1. Avaliação das Emissões de Carbono para o Grupo de Empresas Selecionadas - Oportunidades do Protocolo de Quioto As emissões de carbono devido à utilização de combustíveis fósseis são elevadas no segmento de papel e celulose. No Estado de São Paulo, por exemplo, as emissões correspondem a 10% da emissões do setor industrial, apesar do elevado consumo de biomassa (resíduos do processo). Assim sendo, há espaço para a introdução de combustíveis menos poluentes, substituindo os fósseis utilizados. A tabela 6.3. ilustra a participação significativa do óleo combustível nas emissões do segmento. No caso da lenha, deve ser observado que, apesar das emissões contabilizadas, o valor líquido será aproximadamente nulo, se a mesma for produzida de forma sustentável, como se sabe. É dentro deste contexto - a substituição do óleo e carvão por combustíveis com menores emissões de carbono - que podem se situar as oportunidades do Protocolo de Quioto, como discutido a seguir. Tabela 6.3. - Consumo de Fósseis e Emissões de Carbono (CO2) no Segmento de Papel e Celulose (1995) Consumo (1995) Combustível Unidade Emissões CO2 (Mt) (1995) São Paulo* Brasil** São Paulo* Brasil*** 88.000.000 105.000.000 0,160 0,191 Gás natural m3 Carvão toneladas 0 187.000 0,000 0,292 Lenha**** toneladas 1.190.000 2.887.000 0,820 1,989 400.000 792.000 1,170 2,317 Óleo comb. m 3 Fontes: * BEESP, 1996 **BEN 1996 *** Calculadas a partir de SP em VELÁZQUEZ, 1999. Nota: ****Considerando-se o uso sustentável, as emissões líquidas são nulas. 100 Considerando-se as novas configurações analisadas no item 4.3., no primeiro caso pode ser considerado que as emissões de carbono são nulas. Na verdade, mesmo apenas quando se considera o ciclo completo, incluindo os combustíveis fósseis consumidos direta ou indiretamente, ocorrem emissões de carbono. Neste caso, os resultados disponíveis indicam, por exemplo, 0,046t de CO2 por MWh gerado numa instalação de gaseificação de madeira/ciclo combinado (MANN e SPATH, 1997), contra 0,87 e 0,38t de CO2/MWh nos casos de óleo combustível e gás natural, respectivamente, para tecnologias disponíveis, porém sem considerar o ciclo completo. Também no caso da cogeração no setor sucroalcooleiro, as emissões no ciclo completo correspondem a 0,053 - 0,080t de CO2/MWh (COELHO, 1999). Assim, adotando-se as emissões da biomassa nulas e calculando-se as emissões referentes ao gás natural (Anexo II), obtém-se os valores apresentados na tabela 6.4., correspondentes à redução nas emissões de carbono com as tecnologias mais eficientes. Assim, dentro dos mecanismos do Protocolo de Quioto, a ser introduzido a partir do ano 2000, existe uma oportunidade para colaborar nos investimentos necessários à cogeração com tecnologias mais eficientes. Dentro desta perspectiva, pode-se avaliar quais seriam os créditos correspondentes a esta redução de emissões. As tabelas 6.3. e 6.4. apresentam os resultados obtidos, considerando-se valores conservadores para a taxa de carbono (US$ 10 a US$ 100 por tonelada de carbono evitado). Para o cálculo efetuado foram consideradas as emissões de carbono a partir do BEESP e a energia elétrica gerada em cada configuração adotada no item 4.3.; a partir destes dados, foram calculadas as emissões (e as reduções) de carbono por MWh gerado. 101 Tabela 6.4. - Emissões de Carbono Evitadas e Abatimento nas Emissões com as Novas Configurações para o Grupo de Indústrias Configuração atual Configuração 151 Configuração 2 Emissões de carbono Abatimento de carbono (toneladas de C/MWh (toneladas C/ano) gerado) 0,314 Não há Aprox. nulas 570.204 0,017 504.175 Fonte: VELÁZQUEZ et al., 1999. Notas: Emissões específicas (BEESP), conforme segue: 1. Gás Natural: 53,3 t de CO2/TJ 2. Óleo Combustível: 73,5 t de CO2/TJ 3. Carvão: 93,4 t de CO2/TJ Considerando que o investimento para a configuração 2 deva ser amortizado pela eletricidade gerada, a análise econômica anterior indica um custo de geração em torno de 34 a 56 US$ /MWh (para as condições da tabela 5.1.). A título de exemplo, para 47 US$ /MWh, a tabela 6.5. adiante indica a influência dos créditos de carbono na análise econômica. Tabela 6.5. - Créditos de Carbono Correspondentes ao Abatimento das Emissões (Configuração 2 - T.G./C.C.52) TAXA DE CARBONO CRÉDITOS US$/tC 10 20 50 100 US$/ANO 5.041.746 10.083.492 25.208.730 50.417.461 2,81% 5,079% 15,84% 37,64% ABATIMENTO CUSTO DE GERAÇÃO Fonte: BEESP e VELÁZQUEZ et al., 1999. 51 O combustível é biomassa (resíduos do processo e lenha). Turbina a gás em ciclo combinado, queimando com gás natural, adaptada à instalação existente, em substituição à caldeira de óleo combustível. 52 102 - Conclusões Preliminares Como esperado, quando se substitui os combustíveis mais poluentes (como óleo combustível) por biomassa ou gás natural, ocorre uma redução nas emissões de carbono (maior no caso da biomassa) e, conseqüentemente, há a oportunidade para que obtenção de créditos correspondentes às taxas de carbono, abrindo a oportunidade para que investidores de países desenvolvidos se interessem em participar de projetos conjuntos em cogeração, dentro das perspectivas do Protocolo de Quioto. Apesar das inúmeras controvérsias ainda existentes com relação ao Protocolo, não apenas na definição do caso base mas também na participação (ou não) de países em desenvolvimento na redução de emissões de carbono, esta parece ser uma oportunidade interessante para colaborar na viabilização da cogeração no país, em particular em vista das perspectivas de déficit de energia, como vem sendo sinalizado pelo setor elétrico. Esta possibilidade pode ser ainda mais significativa para a introdução de tecnologias mais eficientes, ainda em desenvolvimento, como os sistemas de gaseificador/turbina a gás, alimentados com madeira ou lixívia (COELHO et al., 1996, WILLIAMS e LARSON, 1992, LARSON, 1990). Entretanto, além das dificuldades tecnológicas mencionadas, há também barreiras econômicas, com as quais este mecanismo poderia colaborar para eliminar. Apesar do caráter preliminar da análise aqui apresentada, verifica-se que o segmento de papel e celulose, juntamente com o de açúcar e álcool (COELHO, 1999), é um candidato importante para a implementação dos CDM’s, permitindo a introdução de tecnologias mais eficientes de cogeração e, conseqüentemente, colaborando para a garantia de energia das próprias empresas, na eventualidade de interrupções no fornecimento de energia por parte das concessionárias. 103 7. ESTUDO DE CASO: KLABIN - FABRICADORA DE PAPEL E CELULOSE S.A. - UNIDADE DE NEGÓCIO PARANÁ Este capítulo se inicia com um breve histórico do Grupo Klabin e da Klabin - Fabricadora de Papel e Celulose S.A. - Unidade de Negócio Paraná, escolhida para o estudo. A seguir é feita a descrição da AVEN - Área de Vapor e Energia - que é responsável pela geração e distribuição de água desmineralizada, vapor, energia elétrica e ar comprimido, destinados à unidade fabril e fazenda. É realizado também um estudo de caso detalhado para análise da situação atual do sistema de cogeração existente, sendo avaliado seu potencial de geração de eletricidade com a introdução de tecnologias mais eficientes a partir de dados obtidos em visitas à indústria Klabin, em Monte-Alegre, no Paraná. Este estudo foi incluído a partir do estudo anterior, realizado para o grupo de indústrias selecionadas, quando observou-se que seria interessante estudar uma indústria em separado. 7.1. Histórico do Grupo Klabin A IKPC - Indústrias Klabin de Papel e Celulose S.A., ou Klabin, como é mais conhecida, é uma holding de capital aberto, fundada em 1934 pela empresa controladora Klabin Irmãos & Cia., estabelecida em 1899. É a maior organização do segmento na América Latina; seu parque industrial consiste, atualmente, de 3 unidades florestais, 4 fábricas de celulose, 11 fábricas de papel e 15 fábricas de produtos de papel. Suas atividades envolvem desde o reflorestamento até a fabricação de celulose fibra curta e fibra longa, papéis para imprensa, impressão, 104 embalagens e para fins sanitários, e conversão de papéis em produtos higiênicos, caixas de papelão ondulado, sacos multifoliados e envelopes. O volume de vendas consolidadas da Klabin em 1997 foi de 1274 mil toneladas de celulose, papel e produtos de papel. A receita consolidada de vendas alcançou o montante de R$ 1.214,1 milhões, sendo R$ 237 milhões de exportações. O Grupo Klabin adotou o “Desenvolvimento Sustentado”, como forma de harmonizar ou minimizar o impacto de suas atividades produtivas no meio ambiente. Esta filosofia manifesta-se no setor industrial com a busca de tecnologias não agressoras ao meio ambiente, e no florestal com a manutenção de florestas nativas preservadas junto a seus reflorestamentos, a fim de garantir a biodiversidade e equilíbrio dos ecossistemas da região. Ao todo são 221 mil hectares de reflorestamentos de pinus, eucalipto e araucária, de onde provém toda a madeira utilizada pela empresa, e 100 mil hectares de matas nativas preservadas e protegidas. 7.2. Klabin Fabricadora de Papel e Celulose S.A. - Unidade de Negócio Paraná A Unidade de Negócio Paraná, a principal da Klabin, compreende o maior complexo integrado florestal-industrial do país e está localizada em Monte-Alegre, município de Telêmaco Borba, no Paraná. Operando desde 1946, a fábrica de Monte-Alegre tem passado por sucessivos programas de expansão e modernização, e sua capacidade anual de produção é de 580 mil toneladas de celulose por ano (1997) e 577 mil toneladas de papel, sendo 70% para embalagem e 30% para imprensa e impressão. Esta unidade proporcionou em 1997 um total de 4.852 empregos diretos, entre próprios e de terceiros, dois quais 2.405 na fábrica de Monte Alegre e 2.447 no setor florestal. 105 Dentre os papéis fabricados destacam-se o Cartão Duplex para embalagem de líquidos e o Kraftliner, utilizado na produção de caixas pela Unidade Papelão Ondulado e também destinado à exportação. A Klabin possui nesta região uma área de mais de 215 mil hectares, sendo 118 mil ha reflorestados com Pinus taeda, Pinus elliottii, Araucária angustifolia e Eucalipto. As espécies de eucalipto plantadas são principalmente Eucalyptus grandis, Eucalyptus saligna e Eucalyptus dunnii (detalhes sobre as atividades silviculturais estão no Anexo VII). A empresa mantém ainda 82 mil ha de mata nativa como área de preservação permanente, visando a manutenção da biodiversidade. O incremento médio anual para as duas principais culturas, pinus e eucalipto são de 28 e 38 m3 de madeira sólida com casca por ha/ano, respectivamente. Considerando que, em média, o pinus gera 17% de casca e o eucalipto 13%, disponibiliza-se aproximadamente 30.000 t de casca por mês para serem utilizadas como combustível na caldeira de biomassa. Como complemento para geração de vapor ainda são utilizados em média 12.000 t/mês de cavaco originado basicamente de eucalipto. 7.3. Necessidades de Vapor e Energia Elétrica do Processo de Fabricação de Celulose e Papel Com a descrição das etapas do processo de fabricação de celulose e papel (capítulo 2.) fica evidente a necessidade de vapor e para atendê-las, principalmente no cozimento da madeira nos digestores, no processo de recuperação química da soda utilizada e na secagem do papel. As figuras 7.1. e 7.2. detalham os consumos de vapor e eletricidade, em cada etapa do processo. Figura 7.1. - Distribuição de Vapor e Energia Térmica: Klabin - Divisão Paraná 1159 t cavaco CALDEIRA 4 CAVACO CALDEIRA 5 ÓLEO 2,7 t/h 46,0 Bar - 430 C 29077 t casca 5674 t cavaco 531 t óleo 1167 t óleo 1A 50,9 t/h TG4 208,0 t/h 230,9 t/h 47,2 t/h 356,8 t/h 3,3 t/h 6,1 t/h 20,7 MWh 6,19 MWh TG5 13,9 t/h 3,3 t/h 127,4 t/h 62,8 t/h 4,8 MWh 0 MWh TG6 RECUPERAÇÃO LICOR NEGRO CALDEIRA 6 BIOMASSA/ÓLEO 18,7 t/h 0 t/h 46369 tss licor 87 t óleo 1A TG7 48,6 t/h 109,8 t/h 117,2 t/h 12,5 Bar - 220 C 130,3 t/h 30,2 t/h COZIMENTO 16,3 t/h BRANQUEAMENTO 71,7 t/h SECAGEM 2,7 t/h EVAP/CDR 4,0 Bar - 165 C 219,1 t/h 16,1 t/h COZIMENTO 61,5 t/h SECAGEM 98,0 t/h EVAP/CDR 2,5 t/h ATMOSFERA ENERGIA ELÉTRICA: TÉRMICA: 31,69 MWh HÍDRICA: 22,50 MWh COPEL: 32,20 MWh Fonte: Klabin - Divisão Paraná, 1999. 106 Figura 7.2. Distribuição de Energia Elétrica: Klabin - Divisão Paraná VILA PREPARO DE MADEIRA 0,7 MWh 2,7 MWh ACAMPAMENTOS U II MAUÁ 0,6 MWh 10,5 MWh 6,6 kV 2,4 kV TF 60 TF 30 U I MAUÁ 12 MWh 11,4 kV TF 61 COPEL 32,2 MWh 69 kV Barramento Transferência Barramento Principal TF 90 TF 80 TF 70 6,6 kV TF 40 6,6 kV TG 20,62 MWh UTILIDADES 6,15 MWh TF 45 TF 50 2,4 kV TG 11,08 MWh SECAGEM 31,04 MWh EVAP/RECUPERAÇÃO 5,47 MWh COZIMENTO BRANQUEAMENTO 20,99 MWh PASTA MECÂNICA 14,16 MWh ETA ELEVATÓRIA 0,68 MWh OBS: A diferença de 3,91 MWh entre o gerado e distribuido são perdas e outros Fonte: Klabin - Divisão Paraná, 1999. 107 108 A partir das figuras 7.1. e 7.2. foi construída a tabela 7.1., que ilustra, de forma resumida, os consumos de vapor e de energia elétrica nas etapas do processo de fabricação de celulose e papel. Tabela 7.1. - Consumo de Vapor e Energia Elétrica nas Etapas do Processo de Fabricação de Celulose e Papel Consumo de Vapor Consumo de (t/h) Eletricidade Etapa do Processo Cozimento Evaporação/Caustificação/ Caldeira de Recuperação Branqueamento Secagem 4 bar 12 bar (MWh) 16,1 30,2 16,17 98,0 2,7 5,47 0,0 16,3 4,82 61,5 71,7 31,04 Fonte: GASPARIN, M., 1999. 7.4. Descrição da Área de Vapor e Energia - AVEN A AVEN da empresa é responsável pela geração e distribuição de água desmineralizada, vapor, energia elétrica e ar comprimido, destinados à unidade fabril e fazenda. 7.4.1. Desmineralização Esse processo consiste em adequar a água a ser utilizada para a geração de vapor nas caldeiras de força e recuperação e controlar a temperatura de vapor de média e baixa pressão. A água de alimentação das caldeiras é uma combinação de água desmineralizada e condensado que retorna, principalmente, das máquinas de papel, planta de evaporação e turbo-gerador de condensação. Este 109 condensado, eventualmente, pode ser desviado para a estação de tratamento de efluentes por contaminação de sílica, alcalinidade alta ou presença de sólidos suspensos. 7.4.2. Geração de Vapor A geração de vapor consiste em transformar os combustíveis e água de alimentação, em vapor de alta pressão, através das caldeiras de força e posteriormente distribuí-lo em pressões menores que o processo exige, através de turbo-geradores e válvulas redutoras. Os principais fatores de controle são a pressão e a temperatura do vapor. Até 1982 a biomassa, na matriz energética da indústria, contribuía com 63% da geração de vapor. A partir da instalação de uma nova caldeira, a participação atingiu 82% em 1996. A partir do início de 1997, com a reforma da caldeira de biomassa de grelhas, para leito fluidizado borbulhante a participação da biomassa na geração de vapor chegou a 91%, complementada com 9% de óleo53. 7.4.3. Energia Elétrica A Klabin gera parte da energia elétrica consumida, que representa 62,7% de um total de 86,4 MW, que é fornecida pelas seguintes fontes: Usina Hidrelétrica Presidente Vargas, Usina Termelétrica e COPEL. A Klabin consumiu 746.496 MWh (1997), o que representa 17,5% da energia total consumida pelas indústrias integradas do país, e gerou 468.052 MWh correspondendo a 20% da energia total gerada pelo mesmo grupo. A Usina Hidrelétrica Presidente Vargas foi oficialmente inaugurada em 26/01/53, sendo a primeira fonte de energia elétrica a ser utilizada e com isso 53 O que representa, hoje, quase 2 t/h. GASPARIN, M. Klabin. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1999. 110 viabilizar a construção e operação da fábrica. Atualmente, opera a plena carga e gera 26% da eletricidade consumida pela empresa. A Usina Termelétrica conta com os turbo-geradores 4, 5, 6 e 7 e com as caldeiras de força 4, 5, 6 e 7, gerando 36,7% da energia elétrica consumida. Finalmente, a COPEL - Companhia Paranaense de Energia Elétrica, fornece os 37,3% restantes. Estas fontes, que operam em conjunto, são interligadas em 69 kV, com a concessionária local (figura 7.2.) através de subestações que também fazem o rebaixamento para 6,6 kV (termelétrica) e 2,4 kV (hidrelétrica) para distribuir aos diversos consumidores. Os principais controles operacionais são os níveis de tensão que podem ser adequados pelos geradores, transformadores ou pela COPEL e freqüência que normalmente é controlada pela COPEL, embora em casos especiais possa ser controlada internamente. Cada alimentador de energia possui um sistema de proteção contra surtos. 7.4.4. A Unidade de Cogeração Como já foi visto nos itens 2.1. e 2.2., o vapor, numa fábrica de papel e celulose, é principalmente utilizado para o cozimento da madeira nos digestores, no processo de recuperação química da soda usada no cozimento e para secagem do papel nas máquinas, consumindo, respectivamente, em média, 13%, 25% e 38% de todo o vapor gerado. Conforme pode ser observado pela figura 7.1., são utilizados três níveis de pressão e temperatura. As caldeiras geram vapor superaquecido a 46 bar e 430 oC, que posteriormente, através dos turbo-geradores, é distribuído a 12,5 bar e 220 oC e 4,0 bar e 165 ºC. 111 Pode-se observar, também através da figura 7.1., que as caldeiras 1, 2 e 3 foram desativadas, pois além de serem da década de 60, estarem com sua vida útil esgotada e defasadas tecnologicamente, queimavam carvão. A caldeira 4, é uma caldeira pequena para as condições atuais e utiliza cavaco como combustível e a caldeira 5 é uma caldeira que queima óleo. A caldeira 6, originariamente é uma VU-40 vertical, circulação natural, dois tubulões, para 150 t/h de vapor a 46 bar e 430 º C, utilizando como combustível, de forma combinada, casca, cavaco, carvão pulverizado e óleo. Entrou em operação em fevereiro de 1983 e desde então ocorreram vários problemas, que provocaram baixa disponibilidade operacional e baixa confiabilidade da caldeira, gerando um alto custo, dispendido principalmente por manutenção e substituição de combustível. A queima de carvão pulverizado foi abandonada em 1990, por problemas ambientais54 (GASPARIN, 1999). Com isso a capacidade de geração de vapor da caldeira caiu para menos de 65% da capacidade nominal. Partiu-se, então, para a reforma dessa caldeira, que deveria prever, além do aproveitamento da capacidade ociosa da caldeira (o que permitiria a desativação das caldeiras a carvão, melhor rendimento, menor desperdício, menor impacto ambiental e rapidez nas respostas da planta às necessidades de vapor. Para satisfazer essas condições, optou-se pela troca da câmara de combustão, pelo leito fluidizado atmosférico, com a instalação de um economizador e precipitador eletrostático. A distribuição do vapor de média e baixa pressão é feita por 3 turbogeradores. Os turbo-geradores 4 e 5 são Stal Laval de dupla rotação, com contrapressão e sangria para média pressão; trabalham regulando velocidade. 54 Lançava 4.000 mg/Nm3 de particulados na atmosfera. GASPARIN, M. Klabin. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1999. 112 O turbo-gerador 7, ABB, de contrapressão e extração, através de um regulador eletrônico, mantém constantes as pressões de vapor de 12,5 bar e 4,0 bar. Existe um outro turbo-gerador Stal Laval, o de número 6, de condensação para 30 t/h de vapor. Normalmente, os turbo-geradores são suficientes para garantir a distribuição do vapor, porém no caso de anormalidades, existem válvulas redutoras. O consumo médio de vapor na planta é de 350 t/h. Desta geração, 56% é proveniente da lixívia, 35% de biomassa (casca e cavaco), e 9% de óleo. Aproximadamente 63% do vapor gerado, depois de utilizado no processo retorna sob a forma de condensado. A reposição é feita com água desmineralizada e vapor de baixa pressão. Na caldeira 6 as emissões gasosas são controladas por um precipitador eletrostático dimensionado para emissões menores que 50 mg/Nm3. O monitoramento é feito por um opacímetro na chaminé da caldeira. As cinzas retiradas do precipitador são encaminhadas à floresta para compostagem do solo. A caldeira 4 separa particulados dos gases através de ciclones e as cinzas coletadas por ele são, também, utilizadas na floresta para compostagem do solo. As caldeiras 1, 2 e 3 foram desativadas, como já foi dito anteriormente, pelo tempo de vida, defasagem tecnológica e principalmente pelos impactos ambientais que provocam, com a utilização de carvão mineral. 7.5. Introdução de Tecnologias mais Eficientes no Processo de Cogeração A empresa em 1997 introduziu alterações no processo de geração de vapor, e uma delas foi a reforma da caldeira de biomassa, pelos seguintes motivos: altos custos com manutenção, baixa confiabilidade operacional, 113 possibilidade de eliminação do uso do carvão mineral como energético, rapidez nas respostas a geração de vapor, redução de desperdícios e custos operacionais, além de melhor rendimento térmico. Com o abandono da queima de carvão pulverizado, acarretando a queda de 65% da capacidade de geração da caldeira, para atingir sua capacidade nominal optou-se pela troca da câmara de combustão, instalação de um economizador e precipitador eletrostático e readequação do sistema de controle de temperatura de vapor. A escolha pelo leito fluidizado borbulhante se deu, principalmente, pela existência de peças móveis na fornalha, possibilidade de queima de combustíveis pobres sem pré-condicionamento e a alta resposta para variações de carga. Os combustíveis utilizados, no caso da Klabin, são a casca de pinus e eucalipto, numa proporção de 80% para 20%, respectivamente, com umidade média de 58%. O cavaco também é utilizado e basicamente todo gerado com umidade média de 40%. O sistema está sendo adequado para queima de lodo biológico, proveniente do tratamento de efluentes55. A casca é preparada e estocada a céu aberto para depois ser transportada através de correia até os silos, com roscas extratoras. A granulometria da biomassa é um dos fatores importantes para se garantir uma boa fluidização; 90% deve ter seu tamanho (largura + altura + comprimento) menor que 100 mm e apenas 10% tamanho até 300 mm. A densidade média deve ser de 290 kg/m3 . 55 GASPARIN, M - Klabin. Comunicação Pessoal. Paraná, 1999. 114 Existem seis alimentadores de biomassa, todos de um lado só da fornalha, localizados na parte frontal do combustor a uma altura de 3,6 m do grid. O combustível só é liberado para alimentação após a temperatura do leito de areia atingir 500 ºC, e é bloqueado quando a média de temperatura do leito ultrapassar 950 ºC. O aquecimento inicial do leito é feito com óleo combustível. 7.5.1. Câmara de Combustão A fornalha tem formato retangular com área total de 63,2 m2 (5,788 x 10,920 m). O grid é uma superfície de tubos resfriados a água, contendo 2922 bicos de injeção de ar, com 200 mm de altura, cada um com seis furos de 6 mm. A função dos bicos é a fluidização uniforme do material do leito. A seção refratada do combustor (para proteger contra a erosão e não afetar a transferência de calor)56 estende-se até 4,0 m acima da superfície do grid. É nesta região que a combustão se processa mais intensamente. A parte inferior do leito é onde a areia se mistura mais vigorosamente, causando turbulências. O material do leito é misturado com o combustível que entra e é fluidizado pelo ar primário. As partículas menores são levadas no fluxo ascendente e as partículas pesadas caem de volta no piso do grid. O processo de combustão é acentuado pelo recobrimento das paredes de água com refratário, porque limita a absorção do calor na parte superior da câmara de combustão. Deste modo é obtida uma temperatura mais alta durante o processo de combustão, o que promove a queima completa dos produtos indesejáveis. Todo o ar de combustão e o combustível são alimentado nesta região da câmara. O ar primário é conduzido ao grid através de uma caixa de ar. O ar é, 56 GASPARIN, M - Klabin. Comunicação Pessoal. Paraná, 1999. 115 também, alimentado em duas outras regiões da fornalha: o chamado ar secundário inferior é alimentado 3,0 m acima do grid e o ar secundário superior a 4,9 m acima do grid. É nesta região que a combustão é completada. A câmara de combustão possui instalados, nas paredes laterais, a 4,0 m do grid, dois queimadores de partida que utilizam óleo como combustível e são aplicados no procedimento de aquecimento do leito, até 500 ºC, quando, então, é liberada a queima de biomassa. 116 8. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE COGERAÇÃO DA KLABIN 8.1. Introdução Para melhorar o rendimento do processo de cogeração uma das opções é aumentar a pressão e a temperatura do vapor gerado na caldeira. Nas instalações de cogeração a vazão de vapor na turbina de contrapressão é definida pelas necessidades do processo. A Klabin opera à pressão de 46 bar, definida pela caldeira de recuperação de lixívia (no coletor de vapor) juntamente com a caldeira de biomassa com leito fluidizado. Pela disponibilidade de biomassa ainda existente optou-se, primeiramente, por usá-la (biomassa excedente) num ciclo a vapor independente com turbina de condensação, uma vez que as necessidades de vapor de processo estão atendidas. A outra opção a ser considerada é a utilização de um ciclo combinado com turbina a gás queimando gás natural, para complementar a geração de energia, tornando-a auto-suficiente. A terceira opção seria, ainda visando a auto-suficiência, a utilização de um ciclo combinado com turbina a gás para gerar toda energia que hoje é comprada57 da COPEL. Todos os cálculos efetuados neste capítulo, bem como as equações correspondentes ao balanço energético, estão apresentados no Anexo V. 57 A quantidade de energia comprada da COPEL, considerada neste capítulo, se refere a valores médios anuais, que em períodos de pico de fabricação, chegam a atingir aproximadamente 43 MW. GASPARIN, M. Klabin. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1999. 117 8.2. 1a Configuração: Instalação de uma Central Térmica a partir da Biomassa Disponível na Própria Indústria 8.2.1. Fluxograma da Instalação A figura 8.1. mostra a instalação proposta na 1a Configuração, que corresponde a um ciclo a vapor regenerativo, com dois pré-aquecedores de água de alimentação, turbina com duas extrações e condensação. Figura 8.1. - Fluxograma da 1a Configuração Caldeira m1 = 1 kg/h 1 Turbina WT 10 9 2 m2 B III 3 m3 Pré II Aquecedor m8 = 1 – m2 B Pré I Aquecedor II 4 m 4 = 1 – m2 – m3 6 5 BI Condensador 118 8.2.2. Dados Técnicos Gerais Apresentamos a seguir os principais dados técnicos adotados. a) Combustível a ser utilizado - biomassa disponível: Casca: 20.000 t/mês - 27,7 t/h - PCI = 1.800 kcal/kg Cavaco: 8.000 t/mês - 11,1 t/h - PCI = 2.200 kcal/kg b) Caldeira: Pressão do vapor na saída da caldeira: 85 bar Temperatura do vapor na saída da caldeira: 490 oC Rendimento adotado: 79% c) Turbina: Pressão do vapor no 1o estágio:12 bar Pressão do vapor no 2o estágio: 4 bar Pressão do vapor no 3o estágio: 0,1 bar Rendimentos adotados: 1o estágio: 86% 2o estágio: 87% 3o estágio: 83% d) Bombas: Rendimentos adotados: Bomba I: 50% Bomba II: 75% Bomba III: 85% 8.2.3. Análise Termodinâmica da Instalação Proposta A partir da quantidade de biomassa disponível, do estabelecimento dos dados referentes à caldeira, turbina e bombas, foram inicialmente calculadas as entalpias de saída reais, para cada um dos equipamentos. 119 A seguir, com os dados anteriores, o rendimento adotado para a caldeira, e pela aplicação da 1a Lei da Termodinâmica para a mesma, obtémse a quantidade de vapor gerado: m1 = mv = 96.000 kg/h. Aplicando a 1a Lei da Termodinâmica para os dois pré-aquecedores (processo adiabático), calcula-se a quantidade de vapor que é extraída no 1o e 2o estágios da turbina, sendo que, por diferença é calculada a quantidade de vapor alimentado no condensador. Com a aplicação da 1a Lei da Termodinâmica na turbina (processo adiabático), obtém-se a potência gerada de 25 MW. Após o cálculo do calor gerado pela caldeira, da potência gerada pela turbina e da potência consumida pelas três bombas (aplicação da 1a Lei), obtém-se a eficiência térmica58 do ciclo, que corresponde a aproximadamente 36,5%. A eficiência térmica real comparada com o máximo rendimento59 possível (teoricamente) desse ciclo a vapor, calculado em 58% (Carnot), implica que esse processo é possível (η < ηmax). - Conclusão Preliminar Na análise termodinâmica desta 1a Configuração, utilizando toda a biomassa disponível, não foi possível tornar a indústria auto-suficiente, pois a instalação gera, com os resíduos disponíveis, apenas 25 MW (e o processo necessitaria de 43 MW). 58 O rendimento termodinâmico de um ciclo a vapor (motor térmico) é a relação entre a potência líquida produzida na turbina a vapor (descontados os consumos nas bombas) e o calor fornecido na caldeira pela queima do combustível. 59 De acordo com a 2a Lei da Termodinâmica, o rendimento máximo possível de um ciclo a vapor é dado por 1 - (TF / TQ), onde TF e TQ são respectivamente as temperaturas absolutas das fontes fria e quente. 120 8.3. 2a Configuração: Utilização de um Ciclo Combinado com Turbina a Gás, Queimando Gás Natural. 8.3.1. Fluxograma da Instalação A figura 8.2. mostra a instalação proposta na 2a Configuração, que consiste em instalar uma turbina a gás em ciclo combinado, queimando gás natural, para gerar o vapor necessário à turbina a vapor. A finalidade é atingir a auto-suficiência; o ciclo combinado deverá gerar potência suficiente para complementar60 a potência gerada (25 MW) na configuração anterior. Figura 8.2. - Fluxograma da 2a Configuração 2 3 C.C. W T.G. COMP 1 TG ar 4 gases 85 atm 5 vapor água CALDEIRA HRSG 1 a.Configuração 6 T.V. ≈ T.V. ≈W exaustão T.V. 9 B B 25 MW 7 CONDENS 60 8 CONDENS Lembrando que em períodos de pico de fabricação a compra da COPEL chega a atingir 43 MW (1999). 121 8.3.2. Dados Técnicos Gerais Potência gerada pela 1a Configuração: 25 MW (turbina a vapor) Potência a ser gerada na turbina a gás/ciclo combinado: 43 - 25 = 18 MW a) Dados para o ciclo de turbina a gás: Combustível a ser utilizado: gás natural - PCI = 9.065 kcal/Nm3 Relação de Compressão: 1:10 Cpar = 1,0035 kJ/kgK T1 = 25 oC; T3 = 1000 oC; T6 = 150 oC b) Dados para o ciclo a vapor: P5 = 60 bar; T5 = 400 oC; P7 = 0,1 bar 8.3.3. Análise Termodinâmica Conforme cálculos apresentados no Anexo V, a turbina a gás desta configuração gera 14,2 MW e portanto a turbina a vapor deverá gerar apenas 3,8 MW, completando 18 MW. A partir do calor gerado pela câmara de combustão, obtém-se o consumo de combustível: 2,8 t/h de gás natural. O cálculo do rendimento térmico61 apresentou um resultado de 61%; valor elevado, devido ao fato de terem sido adotados processos ideais. - Conclusão Preliminar A análise termodinâmica desta 2a Configuração indica a geração de 14,2 MW pela turbina a gás. Segundo fabricantes de equipamentos consultados, 61 O rendimento térmico do ciclo combinado é a relação entre a potência total líquida produzida (da turbina a gás e da turbina a vapor), descontados os consumos de energia nas bombas e no compressor e a energia disponível no combustível (mv x PCI) alimentado na câmara de combustão da turbina a gás. 122 este não é um resultado que viabiliza a utilização da turbina a gás em ciclo combinado, pois os gases de exaustão deixam-na a uma temperatura muito baixa, sem condições de vaporizar o líquido no HRSG. Assim sendo, para a avaliação econômica, que será realizada posteriormente, esta possibilidade será descartada. 8.4. 3a Configuração: Implantação de um Ciclo Combinado com Turbina a Gás. 8.4.1. Fluxograma da Instalação A figura 8.3. mostra a instalação proposta na 3a Configuração, que consiste em instalar um ciclo combinado com turbina a gás, queimando gás natural. A finalidade é atingir a auto-suficiência. Figura 8.3. Fluxograma da 3a Configuração C.C. W T.G. COMP 1 TG ar 4 gases 5 vapor água HRSG 6 ≈W T.V. exaustão T.V. 9 B 7 8 CONDENS 123 8.4.2. Dados Técnicos Gerais Potência a ser gerada: 40 MW a) Dados para o ciclo a gás: Combustível a ser utilizado: gás natural - PCI = 9.065 kcal/Nm3 Relação de Compressão: 1:10 Cpar = 1,0035 kJ/kgK T1 = 25 oC;T3 = 1200 oC; T6 = 150 oC; Patm = 0,92 bar Rendimentos: compressor: 90%; turbina a gás: 90%; câmara de combustão: 95% b) Dados para o ciclo a vapor: P5 = 60 bar; T5 = 400 oC; P7 = 0,1 bar Rendimento: turbina a vapor: 84% 8.4.3. Análise Termodinâmica Conforme cálculos apresentados no Anexo V, são obtidas as temperaturas reais de saída de ar do compressor e dos gases da turbina a gás, a partir dos rendimentos adotados para os equipamentos. A turbina a gás em questão deve ter o seu compressor alimentado com 322.580 kg/h de ar, nas condições especificadas nos cálculos para, em seguida, ser queimado com 5,8 t/h de combustível (gás natural) e assim gerar 30 MW. Já a turbina a vapor de condensação, quando alimentada com 42.903 kg/h de vapor, gera uma potência de 10 MW. O rendimento térmico deste ciclo combinado foi calculado em 55%. - Conclusão Preliminar A análise termodinâmica desta 3a Configuração indica a geração da potência necessária, em condições satisfatórias, a partir de gás natural. 124 8.5. Análise de Viabilidade Econômica das Configurações Propostas Neste item será feita a análise de viabilidade econômica das configurações propostas para tornar a Klabin auto-suficiente em energia elétrica, através do levantamento de investimentos junto a fabricantes de equipamentos e do cálculo dos custos de geração para as duas configurações avaliadas tecnicamente no item anterior, conforme planilhas apresentadas no Anexo VI. Nesta análise foram consideradas apenas a 1a e 3a configurações, pelo fato da 2a não apresentar condições técnicas satisfatórias, sendo seguida a mesma metodologia da análise econômica do Capítulo 5.. Para a 1a Configuração foi considerado custo de instalação igual a 900 US$/kW. Para o combustível utilizado (casca e cavaco in natura) foram utilizados valores variando entre 0 e 25 R$/t. Foram considerados o fator de carga igual a 80% e o valor de 3 US$/MWh para os custos de O&M. O custo de instalação para a 3a Configuração foi considerado igual a 1100 US$/kW. Foram utilizados valores médios de 1999, para o combustível empregado (gás natural), variando de 1,94 a 3 US$/MMBTU. Foram considerados os mesmos valores da 1a Configuração, referentes ao fator de carga e aos custos de O&M. As tabelas 8.1. e 8.2. indicam os custos de geração para diferentes condições financeiras e diversos preços dos combustíveis utilizados em cada configuração. 125 Tabela 8.1. - Custos de Geração de Eletricidade (US$/MWh) na Klabin: 1a Configuração Condições Preço do Combustível (casca e cavaco in natura) financeiras R$/t 0 5 10 15 25 10%, 25 anos 17,14 21,23 25,33 29,42 37,61 15%, 20 anos 23,50 27,60 31,69 35,78 43,97 20%, 15 anos 30,45 34,54 38,64 42,73 50,92 Fonte: Cálculos da autora. Tabela 8.2. - Custos de Geração de Eletricidade (US$/MWh) na Klabin: 3a Configuração Condições Preço do Combustível (gás natural) financeiras US$/MMBTU 3 2,55 2,26 1,94 10%, 25 anos 33,18 31,25 30,00 28,62 15%, 20 anos 40,96 41,31 40,06 38,68 20%, 15 anos 49,45 50,57 49,32 47,94 Fonte: Cálculos da autora. De acordo com a tabela 8.1., a 1a Configuração apresenta valores para o custo de geração, competitivos com as tarifas elétricas oferecidas pelas concessionárias se o custo do combustível for considerado nulo, por estar disponível na própria empresa, ou ainda se considerado um custo mínimo de manuseio. Já a tabela 8.2. mostra que os valores encontrados para o custo de geração na 3a Configuração foram mais elevados, não só pelo maior custo de instalação, mas também pelo maior preço do combustível. Esta análise indica a faixa de valores para os quais as configurações propostas são viáveis economicamente quando comparadas com a tarifa média cobrada pela COPEL, de 67 R$/MWh, em 1999. 126 Levando em consideração o fato da Klabin fazer parte de um segmento com grande consumo de eletricidade, associado à atual crise do setor elétrico, à falta de garantia na oferta de energia e aos riscos de interrupção no fornecimento, as propostas aqui apresentadas podem ser consideradas viabilizadas, apoiadas inclusive nas várias vantagens inerentes ao processo de cogeração, que colaboram indiretamente na oferta de energia, tirando a sobrecarga das concessionárias. 127 9. INSERÇÃO NA MATRIZ ENERGÉTICA Neste capítulo serão analisadas as possibilidades da cogeração no segmento de papel e celulose, com o aumento da participação da biomassa e do gás natural na matriz energética brasileira. O potencial de cogeração no segmento de papel e celulose a partir de biomassa é da ordem de 833 a 1.239 MW, dependendo da tecnologia considerada, segundos estudos (ANEEL/CENBIO e Eletrobrás), o que acaba não representado um valor extremamente elevado quando comparado com o segmento sucroalcooleiro (3.000 MW). Porém, deve ser levada em consideração a possibilidade de geração o ano todo (energia firme) e a possibilidade de maior geração de excedentes, quando é utilizado o gás natural. Considerando-se todas as vantagens da cogeração para o próprio segmento de papel e celulose e para o setor elétrico, seria importante sua inclusão dentro de um planejamento integrado de recursos (COELHO, 1999). Para tal, os aspectos normativos e legais associados a cogeração são de grande importância. Pouco serve a disponibilidade tecnológica e potenciais significativos de cogeração (...) “se não há um ambiente favorável, particularmente quanto as relações entre o cogerador e a concessionária de eletricidade, as tarifas de energia elétrica e de combustíveis aos mecanismos de financiamento” (HORTA NOGUEIRA, 1994, p.58). COELHO, 1999 faz o levantamento e a análise das barreiras existentes para a implementação de um programa de cogeração em larga escala a partir de biomassa, dentro do contexto atual de desregulamentação do setor elétrico, propondo mecanismos para a eliminá-las. 128 9.1. Experiências Internacionais Nos países desenvolvidos, a introdução da biomassa na matriz energética se deu a partir de políticas especiais implementadas com essa finalidade. Apesar dessas experiências bem sucedidas (WALTER, 1998) a produção de eletricidade a partir da biomassa representa muito pouco em todo o mundo (COELHO, 1999). As mais bem sucedidas experiências internacionais devem ser entendidas dentro de duas realidades distintas: a dos países onde a cogeração está inserida no planejamento energético e a dos países onde a cogeração foi recentemente reabilitada como alternativa ao atendimento elétrico centralizado (WALTER, 1994). Nos Estados Unidos, com a promulgação do PURPA62, ocorreu um rápido desenvolvimento da cogeração, entre o final dos anos 70 e meados dos anos 80, pois houve um incentivo à produção descentralizada de energia elétrica e permitiu-se a realização de contratos muito favoráveis aos autoprodutores, com um preço de compra considerado justo, bem como o atendimento emergencial por preços adequados e outras vantagens financeiras (COELHO, 1999). Nos anos 90 a situação é diferente. Segundo WALTER, 1998, no início dos anos 90 já existiam cerca de 1000 instalações produtoras de eletricidade a partir de biomassa, porém, apenas um terço vendendo energia elétrica. 62 Public Utility Regulatory Policy Act - instrumento de política energética instituído pelo governo Carter, em 1978, para fomentar o uso racional da energia e o uso de fontes renováveis de energia (COELHO, 1999). 129 A eficácia do PURPA como fator de estímulo à cogeração foi indiscutível, porém, no presente nota-se que a situação é diferente, pois os produtores de eletricidade a partir de biomassa, que comercializavam sua produção pelo custo marginal (alto, na época em que o PURPA estava em vigor), a medida em que seus contratos vão terminando passam a não ter mais a garantia de venda, além das tarifas estarem mais baixas. WALTER, 1998 considera que a experiência mais marcante de produção de eletricidade a partir de biomassa é a dos Estados Unidos, pela capacidade instalada - cerca de 7 GW - e principalmente pela rapidez com que essa capacidade se viabilizou (entre 1978 e meados dos anos 80). O PURPA não previu mecanismos de garantia de oferta de biomassa, o que provocou, nos anos 90, uma forte concorrência no mercado de resíduos, elevando os custos desse combustível. Houve também a contribuição dos baixos preços do gás natural e dos derivados de petróleo, bem como as reduções nas taxas de crescimento da demanda de energia elétrica. Não houve também, por parte do PURPA, incentivo à introdução de tecnologias mais eficientes, o que contribuiu junto com a exigência de que toda nova unidade produtora de eletricidade fosse competitiva com as demais alternativas, para tornar a situação da cogeração a partir de biomassa mais difícil. A eficiência na conversão da biomassa em eletricidade apresenta valores entre 15 e 20%, com os melhores resultados atingindo 25%, uma vez que esses sistemas utilizam o tradicional ciclo a vapor de Rankine. São sistemas de pequena capacidade (20 MW, em média), com poucos entre 40 e 50 MW (WALTER, 1998). Embora a cogeração seja uma tecnologia com maior tradição na Europa, inclusive do ponto de vista histórico, seu desenvolvimento se apresentou menos efetivo no continente europeu em comparação com o caso norteamericano, em função dos interesses e das condições específicas, principalmente institucionais, dos vários países (WALTER, 1994). HORTA 130 NOGUEIRA, 1994 estima que nos países da Comunidade Européia 6% da demanda de energia elétrica é atendida por sistemas de cogeração, variando entre 1% na Grécia e França atingindo quase 30% na Holanda e Dinamarca. A cogeração tende a ser mais importante em países com sistemas predominantemente térmicos convencionais e sofre maiores restrições em países onde há uma fração maior de geração com base nuclear ou hídrica, como no Brasil. 9.2. A Legislação Brasileira Relativa à Auto-Produção de Energia Elétrica A regulamentação que trata da auto-produção de energia elétrica só começou a ser definida, no Brasil, no início dos anos 80. Todos os textos publicados, na forma de decretos-lei ou portarias do extinto DNAEE Departamento Nacional de Energia Elétrica, definiam apenas as condições em que a auto-produção pode ocorrer, limitando os direitos e definindo os deveres dos auto-produtores e das concessionárias de serviço elétrico (WALTER, 1994). Esse conjunto de normas e regulamentos relativos à auto-produção de energia elétrica, incluindo a venda de excedentes às concessionárias, não eram incitativos à viabilização de um maior potencial de cogeração. A legislação era genérica não fazendo distinção entre a auto-produção com ou sem geração de excedentes, a cogeração e a produção exclusiva de eletricidade. Poucas diferenças eram observadas entre o uso de fontes renováveis e de combustíveis fósseis, principalmente dos derivados de petróleo. Dentro do novo quadro institucional do setor elétrico do país, foi criada a o Lei n 9074, de 7 de julho de 1995, que introduz a figura do produtor independente de energia. Essa lei assegura aos produtores independentes, em princípio, o livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição, mediante o 131 pagamento do transporte envolvido, calculado com base em critério definido pelo órgão regulador (ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, criada pela Lei No 9.427, de 26 de dezembro de 1996). Essas tarifas de transporte (pedágio) foram definidas em 1997, tendo sido revisadas em outubro de 1999 (Resolução no 282/99), mas ainda são consideradas muito elevadas pelos especialistas. A legislação, na realidade, ainda apresenta dificuldades institucionais que impedem a implementação de um programa de venda de excedentes às concessionárias e a terceiros, em larga escala no país, que são discutidas com detalhes em COELHO, 1999. A auto-produção e a produção independente são os meios mais fáceis para a inserção do capital privado na geração elétrica. Nesse sentido, a legislação deveria ser mais incitativa e mais específica, em função do papel que o sistema elétrico deveria reservar à cada tecnologia. Segundo WALTER, 1994 um outro aspecto desfavorável da atual legislação é a igualdade de tratamento dispensado a todo e qualquer autoprodutor, independente de seu porte, de sua localização e, eventualmente, da qualidade de seu suprimento. Cabe a ressalva de que a legislação prevê a diferenciação das tarifas em função da qualidade e confiabilidade do suprimento mas, dentro da preocupação de que seja definido um clima de forte motivação à auto-produção, cabem procedimentos mais agressivos como, por exemplo, a adaptação da figura da “qualificação”, usada com sucesso nos Estados Unidos, como mencionado anteriormente. A ANEEL criou novas regras para a “qualificação do cogerador”, através da Resolução no 21 de 20 de janeiro de 2000, fruto de um processo de Consulta Pública, realizada durante o mês de setembro de 1999. Segundo “Nota à Imprensa” da ANEEL (24/09/99) esta resolução estará aperfeiçoando o processo de autorização de empreendimentos e estimulando a oferta de energia gerada por cogeração, além de criar condições para a comercialização 132 dos excedentes, em consonância com a política energética nacional. Há também a Resolução no 233/99, referente ao valor normativo que, entretanto, parece ainda não viabilizar a geração de excedentes. Na realidade, as possibilidades seriam mais promissoras, se os incentivos fornecidos às UTE’s a gás natural fossem oferecidos aos cogeradores, como por exemplo, em fevereiro de 2000, o MME oferece: contratos de longo prazo (garantia de compra), preços especiais para o gás natural, garantia de preço de compra (36 US$/MWh)63, empréstimos de até 80% do BNDES e outros. 9.3. Fatores Condicionantes ao Desenvolvimento da Cogeração64 9.3.1. Riscos Embora seja simples em seus princípios, a cogeração é uma tecnologia de incorporação complexa dentro de um processo produtivo ou de um sistema energético, em função dos múltiplos aspectos associados e à diversidade de interesses que podem ser afetados. Os empreendimentos em cogeração podem apresentar riscos potenciais de quatro naturezas distintas: riscos técnicos, riscos industriais, financeiros e econômicos. Os riscos técnicos estão relacionados ao desempenho e a durabilidade dos equipamentos. A seleção cuidadosa do fornecedor e a qualificação dos operadores desses equipamentos minimizam esse risco. Existem também os riscos técnicos associados à interconexão dos sistemas de cogeração com a rede elétrica e à operação em paralelo. Por essa razão há necessidade de que as responsabilidades do cogerador e da concessionária estejam claramente definidas em contrato. 63 64 Informação confidencial. Este item se baseia em WALTER, 1994. 133 Os riscos industriais podem ser relacionados à possível inadequação da instalação de cogeração ao perfil das demandas futuras de calor e eletricidade, afetando diretamente a viabilidade econômica do investimento. Além disso, podem estar diretamente associados às alterações dos padrões tecnológicos dos processos produtivos, pois em muitos casos, os sistemas de cogeração têm sua operação modulada em função das necessidades de vapor de processo. Se houver uma redução das necessidades de vapor, implicando na redução do calor gerado, o sistema estará super dimensionado. Os riscos financeiros da cogeração estão associados à eventual baixa de atratividade dos empreendimentos e/ou às incertezas de cumprimento dos compromissos assumidos. Os investimentos em cogeração são, em geral, superiores aos investimentos correntes de uma planta industrial e apresentam períodos de retorno maiores do que aqueles usualmente aceitos pelo empresariado. Os riscos econômicos, que estão relacionados à todas as incertezas do empreendimento em cogeração podem reduzir, ou até eliminar, a viabilidade econômica do investimento. Muitos fatores econômicos podem afetar os investimentos em cogeração, como por exemplo a elevação abrupta dos preços internacionais do petróleo ou o controle das tarifas de eletricidade dentro de um programa de ajuste macro-econômico, que estão fora do controle do empreendedor e devem ser assumidos através de dispositivos contratuais, pelas instâncias governamentais. 9.3.2. Os Interesses Diferenciados No segmento de Papel e Celulose, não se observa a intenção quanto a produção/venda de excedentes de energia elétrica. O interesse está voltado 134 exclusivamente à auto-suficiência65, conforme informações obtidas junto às assiciações. Do ponto de vista do empreendedor o investimento em cogeração se apresenta como uma boa oportunidade, se a garantia plena de atendimento elétrico for fundamental à manutenção de suas atividades, ou se o fato de deixar de comprar eletricidade da rede e, eventualmente, vender excedentes, for interessante. Os cogeradores potenciais alegam que a geração de eletricidade é uma complicação adicional, que não faz parte das atividades normais de uma indústria. Para que essa idéia seja superada há a necessidade de situar a cogeração num contexto em que sejam destacadas as vantagens do processo, sejam criados mecanismos que aumentem a atratividade do empreendimento e minimizem as noções de risco, por parte do empreendedor. O primeiro fator condicionante é a relação de preços entre eletricidade e combustíveis. A cogeração só é economicamente viável quando as tarifas de energia elétrica são compatíveis com os custos reais de atendimento e quando o preço dos combustíveis não for elevado; deve haver disponibilidade de combustíveis residuais ou a baixo custo, ou então a utilização altamente eficiente de combustíveis mais nobres e mais caros, como derivados do petróleo ou gás natural. Por este motivo a cogeração com resíduos de processo se apresentaou mais viável no Estudo de Caso da Klabin do que o gás natural. A viabilização de empreendimentos de cogeração requer a sinalização correta de tarifas de eletricidade e dos preços dos combustíveis, de forma que possa ser assegurado o retorno do capital investido e para tal, o preço da energia deve estar indexado ao preço do combustível. Na verdade, os inúmeros incentivos deste tipo dados às UTE’s a gás natural poderiam ser também oferecidos aos cogeradores. 65 Vilas Boas, P. BRACELPA. Comunicação Pessoal. São Paulo, 1998. 135 O estabelecimento das tarifas para compra da energia obtida por cogeração deve levar em consideração a existência de dois produtos: vapor e eletricidade e portanto a divisão de custos entre eles (COELHO, 1999, COELHO et al., 1997) o que influencia muito os custos de geração. Um outro aspecto se refere às condições de atendimento emergencial ao cogerador, pois são utilizadas tarifas elevadas que acabam por não incentivar a auto-produção (esse é um dos recursos mais utilizados para a inviabilização de investimentos em cogeração). Isso, sem mencionar as exigências técnicas, tão rigorosas, que muitas vezes, não são cumpridas nem mesmo pelas concessionárias (WALTER, 1994). Os receios do empreendedor quanto ao dimensionamento da instalação, a escolha adequada do sistema e o grau de utilização do mesmo podem ser minimizados, por via institucional, com o trabalho de orientação das agências de fomento. Quanto aos riscos técnicos relativos à operação e à interconexão, ambos podem ser igualmente minimizados com a ajuda das agências ou das próprias concessionárias na orientação e treinamento dos operadores. Como a venda de energia para terceiros depende do pagamento das tarifas de pedágio, embora haja legislação apropriada para isso, a melhor opção continua sendo a venda para as concessionárias, que têm portanto a particularidade de serem a principal opção de venda de energia do cogerador. Assim, as iniciativas de cogeração se tornam mais difíceis. Pelas dificuldades no gerenciamento, alterações em sua curva de carga, perdas substanciais de receita, ou mesmo perda de poder da própria empresa (perda dos clientes), as concessionárias são contrárias a cogeração como alternativa de expansão do sistema. Porém, a mais longo prazo, elas tendem a aceitar a cogeração como uma possibilidade de aumento da sua capacidade de reserva, devido a expectativa de crescimento da demanda elétrica, a falta de alternativas aceitáveis sob o ponto de vista técnico, econômico e ambiental, para atendimento dessa demanda suplementar. 136 Além da visão dos empreendedores e do setor elétrico, a cogeração é uma opção tecnológica que, analisada sob o ponto de vista da sociedade, apresenta vantagens potenciais sob os aspectos energético e ambiental, pois sendo uma opção de abastecimento descentralizada, pode motivar transformações estruturais de diferentes ordens, como já discutido em trabalhos anteriores (COELHO, 1999, ZYLBERSZTAJN e COELHO, 1996, WALTER, 1994). Além das vantagens da geração descentralizada, há também os aspectos positivos da geração de excedentes, entre elas a dinamização do setor de bens de capital e aumento da demanda de serviços especializados (geração de empregos), aumento na arrecadação de impostos aos governos, aumento e/ou estabilização de empregos na zona rural (WALTER, 1994). A exemplo do que já ocorre em países desenvolvidos, espera-se que a utilização da biomassa, como fonte de energia comercial, aumente significativamente no país, não apenas pelas vantagens da geração descentralizada, permitindo o atendimento de populações rurais e de localidades isoladas que não recebem energia elétrica, mas também pelos benefícios ambientais correspondentes. Uma outra fonte de energia, com a qual se esperava contar para a cogeração, é o gás natural. Porém é interessante observar que, praticamente a maior parte do gás natural será absorvida nas UTE’s previstas (fevereiro/2000), conforme notícias veiculadas recentemente. As conseqüências destes fatos na matriz energética brasileira ainda não foram devidamente analisadas, mas estas Usinas Termelétricas a ciclo combinado (com o gás natural da Bolívia e outros), consideradas fundamentais para o suprimento da demanda, deixarão pouco espaço para o gás natural para a cogeração, sendo necessários estudos complementares para analisar esta nova situação. 137 10. CONCLUSÕES Este trabalho analisa a cogeração no segmento de papel e celulose, através da análise técnica e econômica, para que este atinja a auto-suficiência em geração de eletricidade, concluindo que a cogeração para o segmento de papel e celulose pode ser viável se existirem políticas adequadas. Os resultados obtidos nas análises técnicas e econômicas deste trabalho indicam que, mantida a atual política de preços das concessionárias de energia elétrica (tarifas reduzidas para os grandes consumidores de energia), a cogeração (e muito menos a auto-suficiência) com tecnologias mais eficientes dificilmente se viabilizará, apesar dos benefícios estratégicos para todos os setores envolvidos e das vantagens ambientais para a sociedade (COELHO e ZYLBERSZTAJN, 1998). Apesar das dificuldades para garantir a oferta de energia, não se verifica ainda por parte do setor elétrico uma política específica visando a implementação da cogeração de energia. Do ponto de vista do segmento industrial envolvido, a única possibilidade de incentivo à auto-suficiência está no risco de interrupções no fornecimento, como já tem ocorrido, uma vez que os custos envolvidos nestas situações (interrupção na produção, perda de qualidade no produto, etc.) são de fato muito superiores aos custos da auto-produção de eletricidade. Em vista das vantagens estratégicas, ambientais e sociais, seria importante a implementação de políticas adequadas para viabilizar o processo de cogeração a partir da biomassa em larga escala. São verificadas inúmeras barreiras tecnológicas (necessidade de tecnologias mais eficientes como sistemas de gaseificador/turbina a gás), políticas (legislação e comportamento dos atores envolvidos), barreiras institucionais e econômicas (acertos quanto a tarifa e até viabilização da venda de excedentes), impedem a execução desse programa no país. 138 No âmbito do setor industrial, o segmento de papel e celulose se confirma como um dos principais (após o segmento sucroalcooleiro) a utilizar biomassa como fonte de energia, pela enorme quantidade de combustível disponível (cascas, resíduos florestais e lixívia). Como já foi visto, segmento de papel e celulose está incluído entre os mais eletrointensivos do setor industrial e tem grande potencial para se tornar auto-suficiente em termos energéticos, produzindo todo vapor e eletricidade necessários ao processo. Hoje as indústrias de celulose geram 80 a 85% da energia consumida e as integradas (fabricantes de papel e celulose) geram 50 a 60%. São bastante conhecidas as dificuldades do setor industrial quanto à garantia de disponibilidade de energia, devido às eventuais falhas e interrupções do sistema elétrico e à falta de confiabilidade da transmissão e distribuição de energia elétrica e neste trabalho discutem-se as vantagens para o segmento de papel e celulose em garantir o seu suprimento sem riscos de interrupção. Por outro lado, é de grande importância a questão da geração de eletricidade a partir de gás natural nas centrais a ciclo combinado. A chegada do gás da Bolívia, para ser utilizado em grandes Usinas Termelétricas em ciclo combinado, é considerada a melhor opção para o setor elétrico. Entretanto, como o gás natural é importado, assim como as turbinas a gás, imprescindíveis à construção dos ciclos combinados, o custo de geração desta modalidade é integralmente dependente do câmbio do dólar. No início de 1999, com a elevação das taxas de câmbio, os investimentos nos ciclos combinados a gás natural ficaram praticamente inviabilizados. Porém, em 2000 o MME definiu inúmeros incentivos especiais, como mencionado aqui, para viabilizar as UTE’s, incentivos estes que poderiam ser expandidos para energias renováveis e para a cogeração, por apresentarem maiores vantagens técnicas, estratégicas, ambientais e sociais. 139 Nos aspectos ambientais, há também que se lembrar que a legislação brasileira define limites apenas para SO2 e particulados, não havendo limitações para o NOX, cujas emissões são extremamente significativas nos casos de turbinas a gás com gás natural. Os fabricantes de turbinas a gás inclusive oferecem opções com modificação na câmara de combustão para reduzir essas emissões que, pelo custo elevado, não se viabilizam economicamente quando comparados com as turbinas a gás tradicionais. Sem legislação ambiental adequada, os fabricantes não trarão para o mercado brasileiro equipamentos mais caros e as instalações a gás natural poderão ser responsáveis por um aumento significativo nas emissões de NOX. Mais ainda, os resultados obtidos, na substituição dos combustíveis fósseis por gás natural e principalmente por biomassa mostram uma redução nas emissões de carbono, indicando a oportunidade para a obtenção de créditos correspondentes às taxas de carbono, permitindo que investidores de países desenvolvidos se interessem em participar de projetos conjuntos de cogeração, dentro das perspectivas do Protocolo de Quioto. Entretanto, seria necessária a decisão política do governo para promover campanhas de estímulo à cogeração, pois entre todas as medidas preventivas sempre anunciadas para evitar o risco de racionamento, não se menciona a cogeração, mas apenas a construção de UTE’s. Deve-se considerar, em primeiro lugar, que o consumo de eletricidade tende a crescer de forma muito mais acentuada nos próximos anos em relação ao que ocorreu na última década, acarretando uma necessidade de investimentos que o próprio setor elétrico muito provavelmente não terá condições de viabilizar. As tarifas de eletricidade deveriam ser definidas em patamares bem mais elevados do que ocorreu em passado recente, o que despertará maior interesse pela cogeração. As próprias tarifas de suprimento serão certamente 140 corrigidas e as concessionárias terão que buscar alternativas para melhorar seu fluxo de caixa. O aumento da oferta de gás natural poderia fazer com que várias indústrias e grandes estabelecimentos do setor terciário se interessem pela cogeração. Em função das tarifas elétricas de fornecimento, que tendem a ser mais elevadas em relação aos valores atuais, e de eventuais problemas de abastecimento, o interesse pela cogeração deveria ser ainda maior. Todos esses pontos, dentro de um horizonte de curto prazo, sinalizam para a importância e premência de definição de uma política clara quanto à cogeração. Entretanto observa-se a opção pela grandes térmicas a gás natural, deixando de lado a opção da cogeração. Equacionada corretamente, esta opção deve ser direcionada para os projetos que proporcionem maiores benefícios globais ao país, integrando-se aos objetivos de maior eficiência energética, de redução de perdas e de custos, de elevação dos níveis de competitividade da indústria brasileira, de estímulo à participação de um número crescente de novos empreendedores e investidores e de incentivo à geração de maiores oportunidades de negócios e empregos. Se subsídios e incentivos são necessários e aceitáveis, que sejam direcionados para a solução que implique em maior eficiência, menor desperdício e maiores benefícios para a sociedade. 141 Anexo I Poder calorífico superior médio dos combustíveis do segmento COMBUSTÍVEL PODER CALORÍFICO UNIDADE Óleo combustível 10,01 Gcal/t Gás natural 9,80 Gcal/1000m3 Outros derivados 10,40 Gcal/t Lenha 1,39 Gcal/st Cavacos 2,57 Gcal/t Cascas 1,79 Gcal/t Resíduos 2,64 Gcal/t Bagaço de cana 1,81 Gcal/t Carvão mineral 4,89 Gcal/t Licor negro 3,13 Gcal/tss Eletricidade 0,86 Gcal/MWh Hidrogênio 2,44 Gcal/1000m3 Fonte: BRACELPA, 1997. 141 COGERACAO NA I NDÚSTRI A DE PAPEL E CELULOSE PLANTAS I NTEGRADAS Empr . A Producao t/d celulose papel 0, 9 1.300 1.500 Empr . B Empr . C 1.660 960 1300800 22, 50 540000 Empr . E Empr . D 923 767 FC adot ado usado naconver sao de di a par a mês Dados de ent r ada: Pr od. cel ul ose ( seca) par a papel : t cs/ t pap 0, 80 0, 80 0, 80 ( massa seca/ massa papel ) Al i ment de l i x na cal d: cal c. 1, 51 1, 41 1, 58 t de l i xi vi a/ t past a Li xí vi a al i m. cal dei r a dados l evant ados após concentrador t/d 1968 2343 1461 Prod. de resíduos t/d 538 1296 292 Consumo de OC t/d 1093 160 35 Emissões de OC t de CO2/d 3278 480 104 t de CO2/ mes 88493 12960 2799 kWh/ d t ot al aut ogerado 1997 MW hi dr el . kWh/ d hi dr el . Empr . F TOTAI S 850 700 1.580 1.550 0, 80 0, 80 0, 80 1, 21 0, 79 past a mec 1, 30 1030 358 127 382 1250 750 43 130 1815 10303 3507 56167 1. 396 571 660 693 2080 Emissões de carbono (t C/MWh gerado) Poder calorífico lixívia kcal/kg 3020 2670 3020 2206 3000 3500 Poder calorífico resíduos kcal/kg 3000 2175 3000 3885 3000 3000 Poder calorífico OC kcal/kg 10000 9900 10000 10113 10000 10000 Poder calorífico do carvão Poder calorífico do G.N. Rendi ment os caldeira de recuperação caldeira de biomassa turbina vapor kcal/kg 9.065 Anexo II 5500 k c a l / Nm3 0,70 0,85 0,85 10.792 0,45 0,85 0,85 k c a l / kg 0,55 0,85 0,85 0,50 0,85 0,85 0,57 0,85 0,85 0,60 0,85 0,85 7.709 6.048 9866 3893 2151 6453 174.229 231.265 181.435 2.090.749 t CO2 / ano Poder cal or í f i co da l enha: kJ/kg kcal / kg kcal / st ANFPC Vapor pr oduzi do: 60at m, 470C 12.411 2. 969 1. 170. 000 12.411 2. 969 1. 170. 000 dados f aap 75at m, 500C 800,00 814,35 40,00 40,00 95 110 condi coes: entalpia,h6 condens ent al pi a, h10 h10 120 r et or no al i m. cal d 101, 18 104, 91 ( medi a t emp cal c par a al i ment ac. cal d. ) * * Consumo de ener gi a na pl ant a el et r i ci dade MWh/ mes 31. 320 34. 000 kWh/ di a 1. 160. 000 1. 259. 259 el et r i c. aut oger ada MWh/ mes 13. 154 14. 094 kWh/ di a 487. 185 522. 000 el et r i c. esp. por t on cel ul kWh/ t cel 892 759 vapor t/d 10atm 1.920 5.112 t/d 4atm 4.080 1.540 t/d 1atm 0 0 t/d t ot al 6. 000 6. 652 kcal/kg C kcal / kg Si t uação at ual da i ndúst r i a % compr ada % aut o- ger ada 58% 42% 59% 41% 12.411 2. 969 1. 170. 000 12.411 2. 969 1. 170. 000 12.411 2. 969 1. 170. 000 800,00 40,00 117 800,00 40,00 120 800,00 40,00 110 118, 03 117, 63 118, 07 32. 501 1. 203. 741 21. 298 788. 815 1. 304 1.680 4.800 0 6. 480 33. 278 1. 232. 519 27. 000 1. 000. 000 1. 450 1.320 4.800 0 6. 120 58. 320 2. 160. 000 36. 720 1. 360. 000 1. 367 3.120 4.560 0 7. 680 34% 66% 19% 81% 37% 63% 12.411 2. 969 1. 170. 000 85 at m, 600C 870,33 40,00 105, 00 98, 13 234.388 44. 969 8.681.025 1. 665. 506 151.438 39. 172 5.608.806 1. 450. 806 6.965 1. 193 4.299 17.451 916 20.696 0 0 38.147 5. 215 vapor cal c pel a Empr . B -82.950 210 MW 35% 65% PLANI LHA DE CÁLCULOS: TURBINA A VAPOR * Pr odução de past a necessár i a: past a pr oduzi da * Li xí vi a di sponí vel ( dado) t / di a * Bi omassa di sponí vel ( dado) t / d 1. 300 1. 660 923 850 1. 580 t past a/ di a t past a/ di a t past a/ di a t past a/ di a t past a/ di a 1. 968 2. 343 1. 461 1. 030 1. 250 538 1. 296 292 358 750 1. 396 t past a/ di a 1. 815 660 7.709 9.866 3.893 Anexo II 143 * Vapor ger ado na cal dei r a de l i xí vi a ( t / d) m11=( Ml i x* PCl i x* r end) / ( h6- h10) t/d m11 5. 901 3. 997 3. 552 1. 670 * Vapor ger ado na cal dei r a de bi omassa: ( i dem) t/d m6 1. 945 3. 402 1. 091 1. 737 * Vapor t ot al ger ado nas cal dei r as de l i xí vi a e bi omasa m6+m11 7. 846 7. 398 4. 644 3. 407 *Def/exc de vapor para proc. m6+m11-vproc 1.846 746 -1.836 -2.713 * Cal or ger ado na cal d. l i x. 6, E+09 6, E+09 4, E+09 2, E+09 kcal / d * Cal or ger ado na cal d. bi omassa kcal / d 2, E+09 3, E+09 9, E+08 1, E+09 *Balanco de energia na caldeira auxiliar a lenha: m'6=vproc-m6-m11 vapor prod (m'6): t/d 0 800 2000 2900 obs. : nas pl ant as onde há exced. de vapor não há neces. de cal d. adi ci onal nas Empr esas B e E há necessi dade de vapor adi ci onal par a at i ngi r aut osuf . el et r i ca/ ger aç. exc. cal or ger ado: kcal / d 0, E+00 7, E+08 2, E+09 2, E+09 consumo de l enha adi ci onal t/d 0, 00 223, 27 541, 25 781, 37 ( com PC da ANFPC) st / d 0, 00 566, 60 1373, 55 1982, 91 * Pot ênci a na t ur bi na a vapor : vapor al i m( t / d) m6+m11+m' 6 ent al pi a h6 saí das i soent r . 1. ext r aç 10at m, h7= 686, 00 ( j á cor r i g r end. ) 4at m, h8= 643, 00 1 at m 2. cond 40C( cond) 515, 00 hr =h1- ( h1- hi ) * r end vazão condensador m6+m11+m' 6- mpr oc pot ênci a ger ada: kcal / d kcal / h MW pot ênci a el et r i ca: MW el et r i ci d. ger ada: MWh/ di a déf i ci t / exced MWh/ di a pot ênci a( def / exc) MW 3. 098 4. 979 23.197 2. 772 2. 197 13.143 5. 869 -1.811 4, E+09 36.340 7. 176 1.961 -1.807 6, E+09 28.982.402.067 2, E+09 2, E+09 10.926.396.000 2000 2, E+09 546, 80 1387, 63 7845, 72 8198, 40 6643, 54 6306, 67 7869, 37 800, 00 814, 35 800, 00 800, 00 800, 00 r eai s r eai s r eai s r eai s r eai s 704, 00 703, 83 704, 00 704, 00 704, 00 665, 00 664, 83 665, 00 665, 00 665, 00 120, 00 120, 00 120, 00 120, 00 542, 00 542, 58 542, 00 542, 00 542, 00 1845, 72 1, E+09 5, E+07 58, 69 56 1352 192 8 1546, 40 1, E+09 5, E+07 58, 89 57 1357 98 4 163, 54 9, E+08 4, E+07 41, 25 40 950 - 253 - 11 186, 67 8, E+08 3, E+07 39, 87 38 919 - 314 - 13 189, 37 1, E+09 4, E+07 46, 70 45 1076 - 544 - 23 0 7.700 0, E+00 0, 00 0, 00 6.213.509.710 2.093 5.311 7176, 47 870, 33 r eai s 712, 20 664, 59 120, 00 520, 81 44.040,16 4.884,69 1961, 47 2, E+09 6, E+07 75, 28 72 1735 69 3 5.893,16 6.619.038.168 275.793.257 320,69 308 7.389 -752 -31 4.232,03 3.989,43 600,00 3.231,40 308 221.661 -22.570 -31 Anexo II 144 c a l or c a l or cons. de pr ocesso: gerado: esp. cal or pr oc. POSSIBILIDADE DE C C k c a l / Nm3 T e mp e r a t u r a graus K graus C de T e mp e r a t u r a graus C de de Pot ênci a t / d m' 6 3 8 3 1 , , , 0 E+09 E+09 E+06 , 76 4, E+09 1, E+10 2, E+06 9, 63 da TG r e a l : t 4 r = t 3 - ( r e n d ) * ( t 3 - t 4 i ) E+09 E+09 E+06 , 29 3 6 4 1 , , , 6 E+09 E+09 E+06 , 66 4 8 3 1 , , , 1 E+09 E+09 E+06 , 40 3 , E+09 21.504.448.947 8 , E+09 46.122.307.777 17.665.527 2, E+06 74 9, 12 2000, 00 0, 00 7.513 800, 00 110, 00 870, 33 105, 00 4.885 657 * 1. 250, 00 1. 250, 00 1. 250, 00 0, 00 20, 00 0,81 20, 00 0,81 20, 00 0,81 20, 00 0,81 20, 00 0,81 160, 00 160, 00 160, 00 160, 00 0,79 0,79 0,79 20, 00 9. 065, 00 9. 065, 00 k c a l / m3 0, 94 20, 00 9. 065, 00 9. 065, 00 k c a l / m3 0, 94 647, 11 374, 11 647, 11 374, 11 647, 11 374, 11 116, 00 - 157, 00 20, 9. 065, 9. 065, k c a l / m3 0, 00 00 00 94 0,79 20, 9. 065, 9. 065, k c a l / m3 0, 00 00 00 94 540, 53 540, 53 540, 53 540, 53 540, 53 - 127, 17 m1 = m' 6 * ( h 6 - h 1 0 ) / c ( a r ) * ( t 4 r - t 5 ) kg/ h 0 285. 647 692. 467 935. 321 699. 564 0 ar: da do 2.613.000 TG: W( T G) = m1 * c ( A r ) * T 3 * ( 1 - ( p 4 / p 3 ) ^ ( 2 / 7 ) ) * R e n d . kcal / h 0, E+00 5, E+07 kW 0 56556 Pot ênci a , , , 6 1. 250, 00 rendimento da TG 0,81 t e mp e r a t u r a s a í d a c h a mi n é oC T5 160, 00 160, 00 rendimento compressor 0,79 0,79 t e mp e r a t u r a d e e n t r a d a c o mp r e s s o r t 1 20, 00 20, 00 p o d e r c a l o r í f i co GN: 9. 065, 00 9. 065, 00 P C I ( C o mg a s ) 9. 065, 00 9. 065, 00 k c a l / m3 k c a l / m3 rend. c a m. c o mb . 0, 94 0, 94 s a i da da TG( i deal ) T4i =T3( p4/ p3) ^( 2/ 7 ) 647, 11 647, 11 374, 11 374, 11 s a í da 4 7 4 1 TURBINA A GÁS PARA GERAR O VAPOR COMPLEMENTAR alimentada com GN. Vapor total gerado aliment em TV a d o t a d o v a z a o ma i o r d e v a p o r e m * 0, 00 800, 00 2000, 00 2713, 33 * * . 800, 00 814, 35 800, 00 800, 00 95, 00 110, 00 117, 00 120, 00 vapor h6 kcal / kg a g u a a l i m. , h 1 0 kcal / kg DE ENERGI A DA TURBI NA A GÁS: ent r a d a : t e mp e r a t u r a g a s e s e n t r a d a n a T G T 3 ( oC) 1. 250, 00 r e l a c a o d e c o mp r e s s a o p3/ p4=p2/ p1 20, 00 C Vazão al / d al / d al / t past a / t past a MELHORIA: *vapor gerado: *condi cões: * BALANÇO Dados de kc kc kc GJ c o mp r e s s o r : W( c o mp ) = m1 * c ( a r ) * T 1 * ( ( p 2 / p 1 ) ^ ( 2 / 7 ) - 1 ) / r e n d ( c o mp . ) kcal / h 0, E+00 3, E+07 kW 0 39917 1, E+08 137103 2, E+08 185186 1, E+08 138508 0, E+00 0 444.924.127 517.354 8, E+07 96767 1, E+08 130704 8, E+07 97759 0, E+00 0 314.026.522 365.147 Anexo II 145 Pot ênci a l í qui da ( W( TG) - W( COMP) ) * r end. ger ador kW 0 MW 0 Pot ênci a t ot al ci cl o combi nadoMW 56 El et r i ci dade ger ada MWh/ di a 1. 352 def i ci t / exced MWh/ di a 192 pot ênci a( def / exc) MW 8 Consumo de GN: K C C T2i =T1* ( p2/ p1) ^( 2/ 7) t 2r =t 1+( t 2i - t 1) / r end. comp 690 417 521 M( GN) =m1* c( Ar ) * ( t 3- t 2r ) / PC* r end( CC) m3/ h 0 0, 84 kg/ m3 m3/ h 0 Consumo anual de GN m3/ano m3/dia cal or ger ado TOTAL GERADO GN GN kcal / h kcal / d kcal / d 0 0, E+00 0, E+00 8, E+09 15. 973 16 73 1. 740 481 20 38. 723 39 78 1. 880 676 28 52. 303 52 91 2. 174 941 39 39. 119 39 84 0 0 72 2. 015 1. 735 395 69 16 3 i ncl ui aut oger hi dr . 690 417 521 690 417 521 690 417 521 690 417 521 5867 5867 4,63E+07 140.811 5, E+07 1, E+09 1, E+10 14223 14223 1,12E+08 341.355 1, E+08 3, E+09 8, E+09 19211 19211 1,51E+08 461.071 2, E+08 4, E+09 8, E+09 14369 14369 1,13E+08 344.853 1, E+08 3, E+09 9, E+09 146.118 146 454 10.896 2.755 115 454 326.866 82.635 115 690 417 521 53.670,41 0 53.670,41 0 0,00E+00 423.137.538 1.288.090 0 486.522.296 0, E+00 0, E+00 11.676.535.116 8, E+09 51.585.333.183 146 Anexo II Resultados FINAIS 1. fornecendo vapor suficiente para processo/deficit de eletr. 1 . 1 . t ur bi na a vapor apenas/ l enha adi c i onal par a pr oduzi r t odo vapor e l e t r i c p r o d u z MWh / d i a MWh / d i a 1352 1196 MWh / me s 36508 32293 def i c i t / exced MWh / d i a 192 - 63 MWh / me s por di f e r enca 5188 - 1707 lenha adic t/d 0 0 t / me s 0 0 t / h 0 0 avoided emiss t CO2 / me s - 88493 - 12960 1 . 2 . c i c l o c o mb / g a s n a t e l e t r i c p r o d u z MWh / d i a MWh / me s d e f / e x c MWh / d i a MWh / me s por di f e r enca cons gn m3/h adicional m3 / d 1 0 ^ 3 m3 / me s emissoes t CO2/mes a v o i d e d e mi s s i t CO2 / me s de pr ocesso 950 25637 - 254 - 6864 908 24524 - 314 - 8754 1077 29068 - 1083 - 29252 1606 43363 69 - 1606 33 409 74 0 891 1 - 2799 11056 17 - 10303 1996 3 - 3507 0 0 - 56167 1039 28053 - 165 - 4448 2018 54484 785 21206 1277 34478 - 883 - 23842 1606 43363 613 - 1606 12343 296243 7999 15997 5694 2229 0 53495 1444 2889 - 619 0 0 0 - 56167 1352 36508 506 5188 1196 32293 - 63 - 1707 0 0 995 0 0 0 - 88493 0 0 0 - 12960 23887 645 1290 - 1509 10 5.041.746 20 50 100 10.083.492 25.208.730 50.417.461 2, 81 5, 79 15, 84 37, 64 73, 5 CO2 / T J 93, 4 t CO2 / T J 53, 3 t CO2 / T J 0, 003 7.089 191.393 -1.453 -42.995 516 13.944 22 -174.229 8.488 229.179 793 (5.208) 15.568 373.625 10.088 20.176 -154.053 emissões de carbono (t C/MWh gerado) . Taxa Cr é d i Abat i Tar i f d e C a r b o n o ( U S $ / t C) t o s ( US$/ a n o ) me n t o n o C u s t o d e G e r a ç ã o ( %) a ( U S $ / MWh ) 47 OC 3000 gCO2/kg t CARVAO 2000 gCO2/ k g GN 2000 gCO2/NM3 t / kg 0, 002 t / kg 0, 002 t / Nm3 147 Anexo II C U S T O D E G E R A Ç Ã O D E E L E T R IC ID A D E G R U P O D E IN D S . IN T E G R A D A S S E L E C IO N A D A S 1 C Á L C U L O D O C U S T O D E C A P IT A L TAXA DE RETORNO V ID A Ú T I L ( A n o s ) F .R .C . F .C . 0 ,1 25 0,110168 0 ,8 C U S T O D E IN S T A L A Ç Ã O ( U S $ /M W h ) 1200 0,15 20 0,159761 0 ,8 0 ,2 15 0,213882 0 ,8 C U S T O D E C A P IT A L ( U S $ /M W h ) 10% , 25anos 15% , 20anos 2 0 % ,1 5 a n o s 1 8 ,8 5 2 7 ,3 4 3 6 ,6 0 DADOS PARA O GÁS NATURAL P .C .(kcal/kg) D E N S .(kg/m 3 ) F A T O R D E C O N V E R S Ã O D E U S $ / M B T U P A R A U S $ /kg P R E Ç O ( U S $ /M B T U ) 3 2,55 P R E Ç O (U S $ /kg) 0,111906 0,0951201 2,26 0,08430252 9.400 0,843 0,037302 1,94 0,07236588 2 C Á L C U L O D O C U S T O D E C O M B U S T ÍV E L P R E Ç O D O G .N . (U S $ /M B T U ) P R O C E S S OP O T . ( M W ) C O N S . D E C O M B . ( m 3 / h ) C C T G - 60/ 84 1 4 .3 6 9 3 C U S T O D E 0 & M ( U S $ /M W h ) = C U S T O D E C O M B . A D IC IO N A L ( G .N .) (U S $ /M W h ) 3 2,55 2,26 1 9 ,1 4 1 6 ,2 7 1 4 ,4 2 1,94 1 2 ,3 8 3 4 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO Anexo III 148 P R E Ç O D O C O M B . (U S $ /M B T U ) C U S T O T O T A L D E G E R A Ç Ã O ( U S $ /M W h ) 10% , 25 anos 3 2 ,5 5 PROCESSO C C T G - 60/80 P R E Ç O D O C O M B . (U S $ /M B T U ) 4 0 ,9 9 C U S T O T O T A L D E G E R A Ç Ã O ( U S $ /M W h ) 15% , 20 anos 3 2 ,5 5 PROCESSO C C T G - 60/80 P R E Ç O D O C O M B . (U S $ /M B T U ) 3 8 ,1 2 4 9 ,4 8 4 6 ,6 1 C U S T O T O T A L D E G E R A Ç Ã O ( U S $ /M W h ) 20% , 15 anos 3 2 ,5 5 PROCESSO C C T G - 60/80 5 8 ,7 4 5 5 ,8 7 2 ,2 6 3 6 ,2 7 2 ,2 6 4 4 ,7 6 2 ,2 6 5 4 ,0 2 1 ,9 4 3 4 ,2 3 1 ,9 4 4 2 ,7 2 1 ,9 4 5 1 ,9 8 D A D O S P A R A O G R Á F IC O - G R U P O D E IN D S . I N T E G R A D A S S E L E C I O N A D A S P R E Ç O D O G Á S ( U S $ /M M B T U ) C U S T O T O T A L D E G E R A Ç Ã O ( U S $ /M W h ) 1 0 % ,2 5 A n o s 1 5 % ,2 0 A n o s 2 0 % ,1 5 A n o s 3 2 ,5 5 2 ,2 6 1 ,9 4 4 0 ,9 9 4 9 ,4 8 5 8 ,7 4 3 8 ,1 2 4 6 ,6 1 5 5 ,8 7 3 6 ,2 7 4 4 ,7 6 5 4 ,0 2 3 4 ,2 3 4 2 ,7 2 5 1 ,9 8 Anexo III 149 CUSTO DE GERAÇÃO (US$/MWh) CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE - GRUPO DE IND. INTEGRADAS SELECIONADAS 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 3 2,55 2,26 1,94 PREÇO DO GÁS NATURAL (US$/MBTU) 10%,25 Anos 15%,20 Anos 20%,15 Anos Anexo III 150 CÁLCULO DAS EMIISÕES DE POLUENTES PARA O GRUPO DE INDÚSTRIAS SELECIONADAS Emissões Específicas ÓLEO COMBUSTÍVEL (ATE) kg/10^6 kcal SO2 3,507 NOX 0,800 CO 0,015 MP 0,240 Emissões para o grupo de empresas selecionadas(/ano) ÓLEO COMBUSTÍVEL (ATE) (kg/d)* (t/d) 75.436 75,44 17.208 17,21 323 0,32 5.162 5,16 Consumo de óleo combustível: 2.151 t/d 2,15E+10 kcal/d Energia auto-gerada (Situação Atual): 151.438 MWh/mês 5.048 MWh/d GÁS NATURAL (kg/m3) NOX 0,00677 CO 0,00116 MP n.d. GÁS NATURAL (kg/d) 8.720 1.495 n.d. Consumo de gás natural: 1.288.090 Nm3/dia Energia auto-gerada (Configuração 2): 326.866 MWh/mês 10.896 MWh/d MADEIRA (25% DE UMIDADE) (lb/t) MP 6,6 VOC 1,34 MADEIRA (kg/d) 6.271 1.273 6,27 1,27 Consumo adicional de lenha: 2.093 t / dia Energia auto-gerada (Configuração 1): 221.661 MWh/mês 7.389 MWh/d 21.122,82 21,12 * ÓLEO COMBUSTÍVEL (BTE) kg/10^6kcal SO2 0,982 8,72 1,50 Cálculo das emissões específicas de poluentes por MWh gerado POLUENTE SITUAÇÃO ATUAL t de poluente/MWh gerado SO2 NOX CO MP VOC 0,004 0,0149 0,0034 0,0001 0,0010 n.d. CONFIGURAÇÃO 1 t de poluente/MWh gerado 0,0008 0,0002 CONFIGURAÇÃO 2 t de poluente/MWh gerado 0,0008 0,000137 - Anexo IV 151 152 Anexo V 1a Configuração Instalação de uma central térmica para gerar parte da energia comprada da COPEL, a partir da biomassa disponível na própria indústria Caldeira m1 = 1 kg/h 1 Turbina WT 10 9 2 m2 B III 3 m3 Pré II Aquecedor m8 = 1 – m2 B Pré I Aquecedor II 4 m4 = 1 – m2 – m3 6 5 BI DADOS: Biomassa disponível: 1 P1 = 85 bar T1 = 490 ºC 27,7 t/h de casca - PCI = 1.800 kcal/kg 11,1 t/h de cavaco - PCI = 2.200 kcal/kg h1 = 803 kcal/kg Condensador 153 2 P2 = 12 bar η1→2 =86% h2 = 680 kcal/kg Wiso = 803 - 680 = 125 kcal/kg W real = 125 x 0,86 = 107,5 kcal/kg ∴ h2 real = 803 – 107,5 h2 real = 697,5 kcal/kg 3 P3 = 4 bar η1→3 = 87% h3 = 640 kcal/kg W iso = 640 - 697,5 = 57,5 kcal/kg W real = 57,5 x 0,87 = 50 kcal/kg ∴h3 real = 697,5 - 50 h3 real = 647,5 kcal/kg 4 P4 = 0,1 bar η1→4 h4 = 520 kcal/kg W iso = 647,5 - 520 = 127,5 kcal/kg W real = 127,5 x 0,83 = 105,8 kcal/kg = 647,5 - 105,8 h4 real = 541,7 kcal/kg ∴h4 real 5 P5 = 0,1 bar L* x5 = 0 6 P6 = 4 bar η B I = 50% * 7 P7 = 4 bar L* x7 = 0 8 P8 = 12 bar ηB II = 75% ** 9 P9 = 12 bar x9 = 0 10 P10 = 85 bar η B III = 85%*** h5 = 45 kcal/kg h6 = 45 + 0,001 (4 - 0,1) 104 = 45,091 427 h6 real = 45,82 kcal/kg h7 = 140 kcal/kg h8 = 140 + 0,001 (12 – 4) 104 =140,187 427 h8 real =140,249 kcal/kg h9 = 194 kcal/kg h10 = 194 + 0,001 (85 – 12) 104 = 195,71 427 h10 real = 196,012 kcal/kg ∗ Admitindo η B I = 50% η= Wideal 0,091 = ⇒ Wreal = 0,182 = hs real − he ⇒ h6 real = 0,182 + 45 = 45,82 kcal / kg Wreal Wreal ∗ ∗ Admitindo η B II = 75% Wreal = 0,187 = 0,249 ⇒ h8 real = 0,249 + 140 = 140,249 kcal / kg 0,75 154 ∗ ∗ ∗ Admitindo η B III = 85% 1,71 = 2,012 0,85 = 2,012 + 194 ⇒ h10 real = 196,012 kcal / kg Wreal = h10 real CALDEIRA combustível disponível 27,7 t/h (casca) 11,1 t/h (cavaco) 10 1 Caldeira Admitindo rendimento da caldeira • m v (803 − 196,012) 0,79 = 27,7 x1000 x1800 + 11,1x1.000 x 2.200 • m v = 96.200 kg / h PRÉ – AQUECEDOR II 9 2 Pré II 8 de 79% : 155 ∗ ∗ Q − W = ∆H + .... • • • m 9 h9 = m 2 h 2 + m 8 h8 1 x 194 = m 2 697,5 + (1 − m 2 ) x 140.249 • m 2 = 0,096 kg / h para 1 kg / h de vapor a lim entado • para 96.200 kg / h de vapor a lim entado → m 2 = 9.235 kg / h PRÉ – AQUECEDOR I 7 3 Pré I 6 • • Q − W = ∆H + .... • • • m 7 h7 = m 3 h3 + m 6 h6 • • (1 − m 2 )h7 = m 3 h3 + (1 − m 2 − m3 )h6 • • (1 − 0,096) x 140 = m 3 x 647,5 + (1 − 0,096 − m 3 ) x 45,182 • m 3 = 0,142 kg / h para 1 kh / h de vapor a lim entado • para 96.200 kg / h de vapor a lim entado → m3 = 13.600 kg / h • • • ∴ m 4 = 1 − m 2 − m 3 = 1 − 0,096 − 0,142 = 0,762 kg / h para 1 kg / h de vapor a lim entado • para 96.200 kg / h de vapor a lim entado → m 4 = 73.304 kg / h 156 CALDEIRA • • se : m1 = m v = 96.200 kg / h • • Q − W = ∆H + ..... • • Qc = 96.200 (803 − 196,012) ⇒ Q c 58.392.246 kg / h TURBINA • • • • • − WT = m 4 h 4 + m 3 h 4 + m 2 h2 − m1 h1 • − WT = 73.304 x 541,7 + 13.660 x 697,5 + 9.235 x 697,5 − 96.200 x 803 • • WT = 21.570.561 kcal / kg ⇒ WT = 25.082 kW ≅ 25 MW BOMBAS • W BI = 73.304 x 0,182 = 13.341 kcal / h • W BII = (96.200 − 9.235) x 0,249 = 21.654 kcal / h • W BIII = 96.200 x 2,066 = 198.749 kcal / h RENDIMENTO TÉRMICO DO CICLO • η= WT − • ∑W • B x 100 = 21.570.561 − 233.745 Qc 58.392.246 RENDIMENTO MÁXIMO η MÁX = 1 − TF 318 = 1− ⇒ η MÁX = 58% TQ 763 ⇒ η = 36,5% 157 2a Configuração Utilização de um ciclo combinado com turbina a gás, queimando gás natural, para complementar a potência gerada (25MW) na configuração anterior. 2 3 C.C. W T.G. COMP 1 TG ar 4 gases 85 atm 5 vapor água CALDEIRA HRSG a 1 .Configuração 6 ≈ T.V. exaustão ≈W T.V. T.V. 9 B B 25 MW 7 8 CONDENS CONDENS DADOS: Relação de compressão Cpar = 1,0035kJ/kg.K 1 T1 = 25 oC 4 T4 = ? 6 P6 = 60atm T6 = 400 0C 1:10 2 5 T2 = ? 3 T5 = 150 0C h6 = 761 kcal/kg T3 = 1000 0C 158 7 P7 = 0,1 atm s 7 = s6 h7 = 490 kcal/kg 8 P8 = 0,1 atm x8 = 0 h8 = 45 kcal/kg 9 P9 = 60 atm h9 = 45 + 0,001(60-0,1) x 104 427 h9 = 45 + 1,403 = 46,4 kcal/kg COMPRESSOR 1000 0C C.C. T2 3 C T 1 25 0C 25 + 273 1 = T2 10 • T4 ? 1, 4 −1 1, 4 ⇒ T2 = 575 K − W c = 1 x 1,0035 x [575 − (25 + 273)] = 278 kJ / h 159 TURBINA A GÁS 1000 + 273 10 = T4 1 1, 4 −1 1, 4 ⇒ T4 = 659 K • − W TG = 1 x 1,0035 [659 − (1000 + 273)] = 616 kJ / h • W G = 616 − 278 = 338 kJ / h = 0,094 kJ / s = kW HRSG 1kg/h 659 K 5 mv 0 400 C 60 atm H 2O 9 HRSG h=761kal/kg 0 150 C B Condensador 8 (x=0) 0 45 C 0,1 atm h8=45kcal/kg p / 1kg / h de ar • − m v x (761 − 46,4) = 1 x • 1,0035 (423 − 659) ⇒ m v = 0,079 kg / h 4,18 BOMBA • W B = m v∆P W B = 14.287 x 1,4 = 20.000 kcal / h = 23,26 kW = 0,023 MW 160 TURBINA A VAPOR 400 0C 60 atm h = 761 kcal/h W T.V. TV 0,1 atm te s=c • − W T = 0,079 (490 − 761) = 21,409 kcal / h = 0,025 kW • • • • (W TG − WC ) + W TV = (0,094) + 0,025 = 0,119kW = W T 1 kg / har T .G. = gera 0,119 kW • 0,094 x18 MW = 14,2 MW = W TG 0,119 0,094 kW = 0,094 x 10 −3 MW → 1 kg / h 14,2 MW → X nova massa de ar = 151.064 kg / h 1 kg / h de ar → 0,079 kg / h de vapor 151.064 → X nova massa de vapor = 11.934 kg / h • W T .V . = 18 − 14,2 MW • ⇒ W TV = 3,8 MW h = 490 161 CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (G.N.) . • • Q c.c. = m ar x C p x ∆T = 151.064 x 1,0035 [(1000 + 273) − 575] • Q c.c. = 105.811.721 • kJ kJ = 29.392 = kW h s • Q c.c. = m comb. x PCi PCi = 9065 kcal kg : 0,84 3 = 10.791,67 kcal / kg 3 m Nm • 29.392 x 860 = m comb. x 10.791,67 • m comb. = 2.342 kg = 2,8 t / h h RENDIMENTO TÉRMICO DO CICLO COMBINADO • η= • • • (W T .G . − W C ) + (W T .V . − W B ) • ⇒η = Q C .C . (14,2) + (3,8 − 0,023) x10 3 ⇒ η = 61% 29.392 3a Configuração Implantação de um ciclo combinado com turbina a gás para gerar toda a eletricidade necessária para tornar a indústria auto-suficiente DADOS: Relação de compressão Cp ar =1,0035 kJ/kg K 1:10 162 0 1200 C C.C. 2 3 C T.G. Wc 1 4 0,92 bar 25 0C 0,92 bar COMPRESSOR 25 + 273 1 x 0,92 = T2 10 1, 4 −1 1, 4 ⇒ T2 = 589K • − W C = 1 x 1,0035 x [589 − (25 + 273)] = 292 • η C = 0,9 = W ideal • • ⇒ W real = 324 W real kJ h kJ h ∴ 324 = 1 x 1,0035 (T2 − (25 + 273)) ⇒ T2 real = 621 K TURBINA A GÁS 1200 + 273 10 = T4 0,92 1, 4 −1 1, 4 ⇒ T4 = 745K • − W TG = 1 x 1,0035 x [745 − (1200 + 273)] = 730 • η T .G . = 0,9 = W real • • ⇒ W real = 657 kJ h kJ h W ideal − 657 = 1 x 1,0035 (T4 − (1200 + 273)) ⇒ T4 real = 818 K 163 GERADOR • W G = 657 − 324 = 333 kJ kJ = 0,093 = kW h s • Q CC ( para 1 kg / h de ar ) • Q CC = 1x1,0035[(1200 + 273) − 621] = 855 • η = 95% ⇒ Q CC real = 812 kJ h kJ h HRSG 1kg/h 818K mv 0 400 C 60 atm H 2O h = 46,4 HRSG h = 761kcal/kg 423 K B COND 0 45 C 0,1 atm h = 45 kcal/kg • para 1 kg de ar : − m v x (761 − 46,4) = 1 − h s bomba = 45 + 0,001 (60 − 0,1) 1,0035 x (423 − 818) ⇒ 4,18 m v = 0,133kg / h 10 4 427 h s = 46,4 kcal / kg ∴W B = 0,133 x 1,4 = 0,186 kcal / h 0 400 C 60 atm h = 761kcal/kg T.V. 0,1 atm s = cte h = 490 kcal/kg 164 • − W T .V . = 0,133 (490 − 761) = 36 kcal = 0,038kW η = 0.84 WT .V .real = 0,031kW h • W Total = 0,093 + 0,031 = 0,124 kW T .G. ⇒ 0,093 x 40 = 0,124 T .V ⇒ 40 − 30 = 30 MW 10 MW 0,093 kW = 0,093x10 −3 MW → 1 kg / h de ar 30 MW → X • m ar = 322.580kg / h 1 kg / har → 0,133 kg / hvapor 322.580 → X • m vapor = 42.903 kg / h CONSUMO DE COMBUSTÍVEL • Q CC = 322.580 x 1,0035 [(1200 + 273) − 621] x 0,95 3600 • Q CC = 72.781 kW • • Q CC = m comb. x PCi PCI = 9.065 kcal : 0,84 kg 3 = 10.791,67 kcal kg m Nm 3 • 72.781 x 860 = m comb. x 10.791,67 • m comb = 5.800 kg / h = 5,8 t / h RENDIMENTO TÉRMICO DO CICLO COMBINADO η= 40 x10 3 ⇒ η = 55% 72.781 CUSTO DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE INDÚSTRIA KLABIN DE PAPEL E CELULOSE GERAR 25 MW COM TURBINA A VAPOR UTILIZANDO A BIOMASSA EXCEDENTE 1 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL TAXA DE RETORNO VIDA ÚTIL (Anos) F.R.C. F.C. 0,1 25 0,110168 0,8 CUSTO DE INSTALAÇÃO (US$/kW) 900 1000 0,15 20 0,159761 0,8 0,2 15 0,213882 0,8 CUSTO DE CAPITAL (US$/MWh) 10%, 25anos 15%, 20anos 20%,15anos 14,14 20,50 27,45 15,71 22,78 30,50 DADOS PARA A BIOMASSA CONSUMO (t/mês) CONSUMO (kg/h) P.C.(kcal/kg) 20.000 27.778 1800 8.000 11.111 2200 5 10 15 25 0,002631579 0,005263158 0,007894737 0,01315789 CASCA CAVACO PREÇO (R$/t)) PREÇO (US$/kg) 2 CÁLCULO DO CUSTO DE COMBUSTÍVEL CUSTO DE COMB. ADICIONAL (US$/MWh) 5 10 PREÇO DA BIOMASSA (R$/t) PROCESSOPOT. (MW) CONS. DE COMB.(kg/h) TV 85 bar 25 38.889 4,09 3 CUSTO DE 0&M (US$/MWh) = 8,19 15 12,28 25 20,47 3 4 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO PREÇO DO COMB. (R$/t) PREÇO DO COMB. (US$/kg)) PROCESSO TV 85 bar TV 85 bar CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MWh) 10%, 25 anos 0 5 10 0 0,002631579 0,00526316 17,14 18,71 21,23 22,80 25,33 26,90 15 25 0,007894737 0,013157895 29,42 30,99 37,61 39,18 Anexo VI 165 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MWh) 15%, 20 anos 0 5 10 0 0,002631579 0,00526316 PREÇO DO COMB. (R$/t)) PREÇO DO COMB. (US$$/kg) PROCESSO TV 85 bar TV 85 bar 23,50 25,78 27,60 29,87 31,69 33,97 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MWh) 20%, 15 anos 0 5 10 0 0,002631579 0,00526316 PREÇO DO COMB. (R$/t) PREÇO DO COMB. (US$/kg) PROCESSO TV 85 bar TV 85 bar 30,45 33,50 34,54 37,59 38,64 41,69 15 25 0,007894737 0,013157895 35,78 38,06 43,97 46,25 15 25 0,007894737 0,013157895 42,73 45,78 50,92 53,97 DADOS PARA O GRÁFICO - IND. KLABIN DE PAPEL E CELULOSE PREÇO DA BIOMASSA CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO 10%,25 Anos 10%,25 Anos 15%,20 Anos 15%,20 Anos 20%,15 Anos 20%,15 Anos 0 5 10 15 25 17,14 18,71 23,50 25,78 30,45 33,50 21,23 22,80 27,60 29,87 34,54 37,59 25,33 26,90 31,69 33,97 38,64 41,69 29,42 30,99 35,78 38,06 42,73 45,78 37,61 39,18 43,97 46,25 50,92 53,97 166 Anexo VI CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MWh) CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE IND. KLABIN DE PAPEL E CELULOSE 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0 5 10 15 25 PREÇO DA BIOMASSA 10%,25 Anos 20%,15 Anos 10%,25 Anos 20%,15 Anos 15%,20 Anos 15%,20 Anos 167 Anexo VI 168 CUSTO DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE IN D Ú S T R I A K L A B I N D E P A P E L E C E L U L O S E G E R A R 4 0 M W C O M C IC L O C O M B IN A D O C O M T U R B I N A A G Á S 1 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL TAXA DE RETORNO VIDA ÚTIL (Anos) F.R.C. F.C. 0,1 25 0,110168 0,8 0,15 20 0,159761 0,8 0,2 15 0,213882 0,8 CUSTO DE CAPITAL (US$/MWh) 10%, 25anos 15%, 20anos 20%,15anos 17,28 25,06 33,55 18,85 27,34 36,60 C U S T O D E IN S T A L A Ç Ã O ( U S $ / k W ) 1100 1200 DADOS PARA O GÁS NATURAL P.C.(kcal/kg) DENS.(kg/m3) FATOR DE CONVERSÃO DE US$/ MBTU PARA US$/kg PREÇO (US$/MBTU) 3 2,55 PREÇO (US$/kg) 0,111906 0,0951201 2,26 0,08430252 9.400 0,843 0,037302 1,94 0,072366 2 C Á L C U L O D O C U S T O D E C O M B U S T ÍVEL PROCESSO P R E Ç O D O G .N . ( U S $ / M B T U ) CONS. DE COMB. (m3/h) P O T . (M W ) 40 CCTG 4.612 CUSTO DE COMB. ADICIONAL (G.N.) (US$/MW h) 3 2,55 2,26 1,94 12,90 3 CUSTO DE 0&M (US$/MWh) = 10,97 9,72 8,34 3 4 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO PREÇO DO COMB. (US$/MBTU) PROCESSO CCTG (60 bar) CCTG (60 bar) C U S T O T O T A L D E G E R A Ç Ã O ( U S $ / M W h) 10%, 25 anos 3 2,55 2,26 33,18 34,75 31,25 32,82 30,00 31,57 1,94 28,62 30,20 Anexo VI 169 PREÇO DO COMB. (US$/MBTU) PROCESSO CCTG (60 bar) CCTG (60 bar) PREÇO DO COMB. (US$/MBTU) PROCESSO CCTG (60 bar) CCTG (60 bar) CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MW h) 15%, 20 anos 3 2,55 2,26 40,96 43,24 41,31 41,31 40,06 40,06 CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO (US$/MW h) 20%, 15 anos 3 2,55 2,26 49,45 52,50 50,57 50,57 49,32 49,32 1,94 38,68 38,68 1,94 47,94 47,94 DADOS PARA O GRÁFICO - GRUPO DE INDS. INTEGRADAS SELECIONADAS PREÇO DO GÁS(US$/MMBTU) CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO(US$/MWh) 10%,25 Anos 10%,25 Anos 15%,20 Anos 15%,20 Anos 20%,15 Anos 20%,15 Anos 3 2,55 2,26 1,94 33,18 34,75 40,96 43,24 49,45 52,50 31,25 32,82 41,31 41,31 50,57 50,57 30,00 31,57 40,06 40,06 49,32 49,32 28,62 30,20 38,68 38,68 47,94 47,94 Anexo VI 170 171 CUSTO TOTAL DE GERAÇÀO (US$/MWh) CUSTO TOTAL DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE - IND. KLABIN DE PAPEL E CELULOSE 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 3 2,55 2,26 1,94 PREÇO DO GÁS NATURAL (US$/MBTU) 10%,25 Anos 15%,20 Anos 10%,25 Anos 20%,15 Anos 15%,20 Anos 20%,15 Anos Anexo VI 172 171 Anexo VII ATIVIDADES SILVICULTURAIS 1. Introdução A divisão florestal da Klabin tem como objetivo básico suprir as necessidades de matéria-prima (madeira) da Indústria de Celulose, bem como de biomassa para geração de energia. As operações de produção florestal, vão desde o melhoramento genético de plantas à produção de mudas, preparo do solo, plantio, colheita da floresta e transporte da madeira. O trabalho de pesquisa florestal tem como objetivo o desenvolvimento de estudos visando a formação de florestas mais produtivas e de melhor qualidade, através de: . obtenção e adequação de novas tecnologias; . obtenção de dados e acompanhamento do crescimento da floresta; . equilíbrio ambiental da floresta. 2. Pesquisa Florestal A pesquisa está concentrada nas seguintes áreas: 2.1. Melhoramento Florestal O melhoramento florestal inclui o melhoramento das técnicas silviculturais de colheita da madeira visando aumentar a produtividade em madeira e reduzir os custos operacionais. Se baseia na seleção de novas espécies/procedências/progênies e clones de melhor qualidade e produtividade, através do estabelecimento de experimentos de campo, na produção e disponibilização de sementes e clones 172 melhorados, na polinização controlada e hibridação e em estudos de qualidade da madeira. 2.1.1. Viveiro Setorizado É utilizado um processo de reprodução em viveiro, que é uma parte delimitada de terreno onde se concentram todas as operações e cuidados especiais para a produção de mudas. A produção de mudas em embalagens individuais (tubetes) garante uma maior sobrevivência das plantas no campo. Atualmente a empresa é auto-suficiente em sementes e material de propagação vegetativa, além de comercializar sementes melhoradas de Pinus e Eucalyptus para a região sul do Brasil. A produção de mudas, início fundamental para a instalação de uma floresta de alto rendimento, é realizada em um viveiro florestal setorizado, moderno, com capacidade de produção de 15 milhões de mudas, por semente, por ano e 2 milhões de mudas de estacas por ano, utilizando sementes e clones melhorados. As sementes são colhidas em pomares próprios e o material de vegetativo de clones selecionados e testados. Para a produção de mudas de alta qualidade, através de sementes ou de estaquia (macropropagação), a empresa utiliza substrato adequado, adubações, tratamentos fitossanitários, irrigações extremamente cuidadosas e um rigoroso controle de qualidade desde a semeadura (mecânica, com a utilização de um semeador automático) até o encaixotamento das mudas. Atualmente 15% das mudas utilizadas nos plantios são obtidas por estaquia, sendo que esta participação será aumentada , atingindo 50%. A clonagem também vem sendo desenvolvida em laboratório, desde 1.986, utilizando-se a técnica de micropropagação para eucaliptos. Atualmente, a técnica está dominada, tendo o laboratório capacidade para a produção anual de 100 mil mudas micropropagadas. Para se alcançar os objetivos esperados com o melhoramento florestal e a clonagem, foi necessário desenvolver conjuntamente as áreas de manejo, solos e ambiente. 173 2.1.2. Preparo do Solo O preparo do solo para plantio é realizado após a elaboração de um projeto que estabelece as operações a serem utilizadas no terreno, em função das condições edafoclimáticas, abrangendo malha viária, talhonamento (divisão da área a ser plantada em talhões) e distribuição adequada das espécies. De acordo com esse projeto, as estradas são locadas de maneira a proporcionar melhores condições para evitar a erosão e o talhonamento é realizado respeitando-se as condições topográficas, edáficas, climáticas e operacionais. O preparo do solo é imprescindível para fornecer condições para o plantio e posterior estabelecimento das mudas no campo, e resume-se na descompactação na linha de plantio, realizada com ripper (sulcador, para descompactação do solo). O conhecimento sobre solos teve uma evolução significativa com o início do projeto de levantamento semi-detalhado de solos. Através deste projeto, está sendo possível ampliar os conhecimentos desta área, através da caracterização química, física e topoclimática dos solos, estando 60% do patrimônio de terras da empresa coberto por este levantamento. A eliminação da vegetação competidora e o revolvimento da camada superficial do solo, favorece o crescimento da muda através de uma expansão mais livre de sua copa e raízes. 2.1.3. Plantio Antes do plantio é realizado um controle químico de ervas daninhas, combate às formigas cortadeiras e uma correção dos sítios mais pobres, com aplicação de cinzas de biomassa. A fertilização com NPK é efetuada após o plantio para garantir o arranque inicial das plantas. O plantio é realizado de forma orientada nos dias chuvosos ou com irrigação em dias secos. O espaçamento do plantio varia com a característica do material genético a ser utilizado, a finalidade do uso da madeira e a rotação pretendida. 174 De um modo geral são utilizados espaçamentos de 6,25 a 9,00 m2 , por planta. Ainda na fase de implantação são realizados tratos culturais para eliminação de ervas daninhas. Geralmente é utilizado o controle químico para essa operação. Para o Eucaliptus é utilizado um zoneamento, onde espécies como o E. dunnii, mais tolerantes ao frio, porém mais exigentes quanto à fertilidade do solo, são plantadas em solos mais férteis, enquanto que o E. grandis e o E. saligna, menos exigentes, podem ser plantados em locais menos férteis, porém com menos probalidade de ocorrência de geadas fortes, pois não resistem ao frio. Após o revolvimento do solo são abertas as covas e/ou sulcos de plantio à espaçamentos pré-estabelecidos de modo a cultivar 1.500 a 2.000 plantas/ha. Após o plantio as mudas são periodicamente capinadas, em função da necessidade, até que atinjam de 3 a 5 metros de altura, o que ocorre com aproximadamente 1 ano de idade. Após esse período e até a época da colheita só há preocupação com o controle de formigas cortadeiras (saúvas) e proteção contra eventuais incêndios. 2.1.4. Colheita Quando a floresta atinge a idade de 6 a 7 anos ela deverá ser colhida. O corte das árvores é feito com auxílio de moto-serras, por pessoal previamente treinado para a operação, e por cortadeiras mecânicas, que além de cortar ainda descascam a árvore no próprio local. A empresa utiliza técnicas avançadas de colheita florestal, investindo maciçamente no treinamento da mão-de-obra e na utilização de equipamentos modernos, como processadores para o corte e para o arraste das árvores. É ponto de destaque a abertura e conservação de estradas, garantindo o trabalho mesmo nas condições adversas de grandes precipitações pluviométricas. 175 A árvore após derrubada é seccionada em toretes de 2,40 m de comprimento, os quais são carregados mecanicamente até os caminhões que os transportam para a fábrica. A distância média ponderada de transporte de madeira para a fábrica é de 32,7 km. Após a colheita, as florestas de eucalipto se regeneram naturalmente através da brotação dos tocos remanescentes, por até três cortes. 2.1.5. Reflorestamento Os reflorestamentos na Klabin estão sendo implantados de acordo com a capacidade do uso da terra, ou seja, os solos que apresentam limitações muito severas, como alta declividade, perigo de erosão, pedregosidade, baixa capacidade de armazenamento de água são mantidas com vegetação natural. Os reflorestamentos propriamente ditos, utilizando-se práticas simples de conservação, estão nas áreas de declividade moderada, pouco profundas, baixa capacidade de armazenamento de água, baixa fertilidade, sendo terras com usos limitados para as demais culturas agrícolas. As atividades relativas ao reflorestamento são desenvolvidas de acordo com as normas de conservação do solo e proteção ambiental. O ciclo médio das florestas de Eucaliptus manejadas para celulose é de 21 anos, com cortes rasos a intervalos de 7 anos. No manejo para serraria são utilizadas rotações de 20 anos, onde são adotados 2 desbastes intermediários e desramas, que visam abrir espaços para o crescimento das árvores, evitando a competição por luz e nutrientes e produzir madeira livre de nós. Para Pinus, o ciclo varia de 20 a 25 anos com 2 a 4 desbastes intermediários, onde a madeira dos primeiros desbastes é utilizada para a produção de celulose e a madeira do corte final é utilizada para serraria. São realizadas duas desramas, a primeira aos 4 e a segunda aos 7 anos, visando produzir madeira de qualidade, livre de nós, para utilização em serraria e laminação. A Klabin tem atualmente 24.700 ha desramados. Para Araucária, o ciclo é de 40 anos, com 5 a 6 desbastes 176 intermediários e 3 desramas aos 6, 11 e 16 anos. 2.2. Biotecnologia É a área da pesquisa que trabalha no desenvolvimento de técnicas de micropropagação e estaquia de Pinus e Eucaliptos, para a reprodução de sementes. 2.3. Estatística e Inventário Nessa área é monitorado o crescimento e desenvolvimento das florestas visando quantificar a matéria-prima florestal existente para o uso em planejamento e prognose. 2.4. Solos e Nutrição A atividade nesta área é descrever, classificar e mapear os solos; caracterizar o clima; e estabelecer recomendações específicas para o planejamento racional do uso das terras. 2.5. Ambiência Esta área atua na recuperação e conservação da fauna e flora da região; em estudos científicos nos ecossistemas e em programas de educação ambiental. 2.6. Tecnologia da Madeira Esse segmento desenvolve produtos sólidos e o uso múltiplo da madeira de eucalipto; caracterização físico-mecânica dos materiais disponíveis na Fazenda Monte Alegre; divulgação e treinamento (assistência técnica de utilização da madeira de Pinus e Eucalipto junto a clientes da empresa - 177 serrarias, laminadoras, moveleiros, etc.) 2.7. Preservação Permanente Aqui são programadas atividades de recuperação e manejo da fauna silvestre, numa área de 82.000 ha de florestas nativas preservadas. A Klabin mantém convênios e intercâmbio técnico-científico com Universidades e Instituições de Pesquisa, do Brasil e do Exterior, como a USP, UFPr, IPEF, UFS Carlos, IPEF, EMBRAPA, CAMCORE (USA), FRI (Nova Zelândia), CSIRO (Austrália), etc. 3. Dados Relativos à Floresta A Klabin possui na região de Telêmaco Borba, no Paraná: 3.1. Área Bruta: 222.790 ha . 126.737,00 ha em área da Fazenda Monte Alegre . 80.417,90 ha em outras propriedades . 15.635,20 ha em áreas arrendadas 3.2. Área Plantada: . 69.847,90 ha na Fazenda Monte Alegre . 44.816,20 ha em outras propriedades . 8.455,10 ha em áreas arrendadas . 123.119,20 ha de área reflorestada total com: 178 . Araucária angustifolia 7,23% . Pinus elelliottii 13,45% . Pinus taeda 52,24% . Eucalyptus spp 26,00% . outras espécies 1,06% 3.3. Fomento: . 5.470,00 ha de empreendimento: . 3.319,2 ha de Pinus spp . 2.150,8 ha de Eucalyptus spp . 2.768,5 ha de mudas vendidas . 4.120,5 ha de mudas doadas (via EMATER) 4. Principais Atividades: 4.1. Programa atual de reflorestamento: . . 4.200,0 ha de área média própria plantada nos últimos 15 anos 550,0 ha de área de terceiros média dos últimos 5 anos . 140.000,0 ha de área total estimada para o ano 2000 Colheita (produção anual de madeira própria): 4.2. . 1.849.752,08 t de madeira para celulose/papel 4.3. . 145.521,57 t de madeira para combustível . 458.078,87 t de madeira para serraria Produção de sementes: 14.000 árvores selecionadas para produção de sementes de Pinus 3.500 kg/ano de sementes: 3.000 kg/ano de Pinus elliotti 500 kg/ano de Pinus taeda kg/ano de sementes comercializadas 179 4.4. Produção de mudas: Capacidade média anual : 15.000.000 14.000.000 em 1 viveiro setorizado 1.000.000 em 1 viveiro estaquia Superfícies de canteiros: 5.537 m 5. Proteção Florestal Na área de proteção florestal, a empresa possui um sistema de prevenção e combate a incêndios florestais composta de 20 torres de vigilância, equipadas com rádios e ligadas diretamente ao Comando Central, e para o combate, conta com 9 caminhões bombeiro, totalmente equipados e 68 pontos de abastecimento de água. 6. Mão-de-obra Os trabalhos são realizados com mão-de-obra qualificada, baseada em treinamento de pessoal e cursos de especialização. Existe a mão-de-obra não qualificada para as tarefas mais simples relacionadas com a silvicultura. No de empregados total: 2.354 No de operários rurais: 1.597 Pessoal de escritório, técnicos e operacionais: Engenheiros 737 20 7. Biodiversidade O incremento médio anual para as duas principais culturas, o Pinus e o Eucalyptus, que são de 28 e 38 m3, de madeira sólida com casca por ha/ano, respectivamente. Considerando que em média o Pinus gera 17% de casca e o Eucalipto 13%, disponibiliza-se aproximadamente 30.000 t de casca/mês para ser 180 utilizada como combustível na caldeira de biomassa. Como complemento para a geração de vapor ainda são utilizados em média 12.000 t/mês de cavaco originado basicamente de Eucalipto. Essa área de florestas plantadas representa a maior cobertura vegetal contínua do Paraná. É um grande cinturão verde que protege o patrimônio ambiental da empresa, constituído por 82.000 ha de matas nativas, rigorosamente preservadas. Da integração entre florestas plantadas, plantas exóticas e centenas de espécies naturais que integram a sua fauna, surgiu um santuário ecológico riquíssimo e condições ideais para a preservação da biodiversidade. A flora local é composta de mais de 130 espécies arbóreas pertencentes a mais de 40 diferentes famílias, destacando-se o pinheiro-do-Paraná, a peroba, a cerejeira, as canelas, o tarumã, o alecrim, a caviúna, entre outras. Esta riqueza não se caracteriza apenas pelas árvores de grande porte, mas também por uma infinidade de espécies de menor porte, como as bromélias , orquídeas, samambaias, gramíneas e espécies arbustivas que formam o sub-bosque. Estas características do meio ambiente proporcionam uma significativa riqueza de habitats para a fauna e contribuem para a manutenção da biodiversidade animal ao longo da área. Nos levantamentos da avifauna, foram identificados, até o momento, 282 espécies de aves, número que indica o alto grau de biodiversidade existente, situando-se no nível das melhores áreas já levantadas em outras partes do país. Quanto aos mamíferos, existem na Klabin, 9 das 59 espécies brasileiras ameaçadas de extinção, entre as quais o lobo-guará, a suçuarana, tamanduá-bandeira e gato-do-mato. Na área da Klabin, as matas naturais interligadas favorecem a autosustentabilidade das populações de animais e plantas. A empresa desenvolve um programa de educação ambiental, abrangendo escolas de 1º e 2º graus da região, sendo de elevado alcance, cumprindo duplo papel: promover a conscientização da comunidade, para os aspectos ambientais e funcionando como ferramenta interna da empresa no sentido de divulgação das atividades florestais dentro de um enfoque 181 econômico e conservacionista bastante abrangente. Nesta área, merece destaque especial, o Centro de Interpretação da Natureza, que conta com a área de atividades técnicas e escolares, museu, trilha de interpretação e criadouro de animais silvestres. Em 1994, foram recebidos cerca de 16.500 visitantes entre particulares (visitas da comunidade nos finais de semana), escolares e outros (Universidades, do exterior, outras empresas, etc.). A Klabin desenvolve um programa social para cerca de 3 mil funcionários e seus familiares, produzindo efeitos benéficos para toda a região. O programa habitacional mantido em 5 núcleos florestais é de boa qualidade, quer pelo padrão das casas, quer pela infra-estrutura necessária à vida comunitária, tais como: sistema de água e esgoto, posto de saúde, supermercado, igreja, clube, etc. O sistema de educação é desenvolvido, com manutenção de escolas nas comunidades florestais, além de creches. Na área de saúde, existe um programa de atendimento médico, odontológico, social e de alimentação aos trabalhadores e seus dependentes. Desenvolve um programa de fitoterapia (produção de medicamentos a partir de plantas), desde 1984, contando com um laboratório de alto padrão. Atualmente, os produtos fitoterápicos são utilizados em cerca de 65% dos atendimentos médicos realizados, sob a forma pura ou associada a quimioterápicos, representando uma economia de 63% no custo do tratamento. As plantas medicinais obtidas na região são transformadas em diversos medicamentos, nas quais diversas apresentações, tais como: chás. cremes, pomadas, tinturas, shampoos, xaropes, etc. Desse complexo florestal a empresa ainda extrai insumos que sustentam a produção científica de medicamentos fitoterápicos, que buscam tratamentos mais inócuos e com menores custos, utilizados com sucesso em seu programa de atendimento médico-social, que beneficia mais de 20.000 pessoas, entre funcionários e dependentes. A empresa é a maior financiadora da execução do projeto técnico “Aspectos da Fauna e Flora da Bacia do Rio Tibagi”, de autoria da Universidade Estadual de Londrina, que visa à recuperação e preservação ambiental do Rio Tibagi. A empresa destinou US$ 1 milhão para esse projeto. 182 Bibliografia BEESP. Balanço Energético do Estado de São Paulo. Secretaria de Energia do Estado de São Paulo, São Paulo. Vários anos. BEN. Balanço Energético Nacional. Ministério de Minas e Energia, Brasília. 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