DIAGNÓSTICO DAS NECESSIDADES DE CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Ariadne Cedraz1 Léa Monteiro Rocha2 Luciana Cristina Andrade Costa Franco3 A elaboração do programa de formação profissional deve focalizar dois aspectos básicos: ações futuras e correção do desempenho atual e passado. As ações futuras devem estar descritas no planejamento estratégico da organização e as necessidades atuais e passadas precisam ser diagnosticadas. Visualizando o processo como um todo, envolve as seguintes etapas: diagnóstico ou levantamento das carências; estruturação, programação ou desenho; condução ou execução e avaliação dos resultados. O diagnóstico das necessidades de treinamento é realizado com base no planejamento estratégico da organização, onde já contem a análise do ambiente externo e interno e através de pesquisas internas, seja nos resultados de avaliações de desempenho ou por meio de reuniões, jogos, entrevistas ou questionários realizados com líderes e colaboradores. Segundo Marras (2000, p. 152 - 155) o levantamento de necessidades de treinamento - LNT, envolve uma busca e análise para que se conheça o conjunto de carências existentes entre o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes do indivíduo, e as exigências do perfil do cargo, envolvendo dois cenários: reativo e prospectivo. O cenário reativo reflete 1 Psicóloga, Psicodramatista, Mestre em Psicologia, Professora e funcionária da Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe, ministrando disciplinas da área de Psicologia Social e exercendo a função de Procuradora Institucional. 2 Administradora, Mestre em Gestão de Pessoas, Professora da Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe, ministrando disciplinas na área de Gestão de Pessoas. Atualmente é assessora da Presidência do Banco do Estado de Sergipe S/A. 3 Assistente Social com experiência em Gestão Empresarial e Mestre em Meio Ambiente. Professora da Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe, ministrando disciplinas na área de Gestão, Gestão de Pessoas, Metodologia Científica e Responsabilidade Social, além de Coordenadora do Projeto Integrador dos cursos de Graduação Tecnológica em Marketing, Logística e Gestão de Recursos Humanos. Analista do Tribunal de Contas de Sergipe, atuando na área de Capacitação e Desenvolvimento de Pessoas. situações em que a necessidade já está presente, ocasionando problemas reais e o cenário prospectivo focaliza o atingimento de metas e objetivos futuros, antecipando-se às mudanças previstas. O processo de diagnosticar carências de capacitação dos colaboradores internos de uma organização caracteriza-se como um programa contínuo, devendo, portanto, estar presente de forma constante na organização para atender às suas necessidades, presentes e futuras. A fonte de informações baseia-se nos demais sistemas da gestão de pessoas que fornecem feedback permanente para correção de desvios ou mudanças de estratégias. Assim, o sistema de gestão de desempenho, de seleção e de gestão de cargos e salários são fornecedores de insumos para o processo de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Marras (2000, 153) destaca ainda que pesquisar necessidades é também responsabilidade compartilhada entre a área de treinamento e desenvolvimento - T&D e todas as demais da empresa, já que a área de T&D assume um papel de integrador e catalisador das necessidades organizacionais que se encontram presentes em cada área de trabalho da empresa. Relata que quanto aos métodos para realizar o LNT, a área de treinamento pode valer-se de um ou mais dos métodos ou ainda de uma combinação deles: aplicação de questionários, entrevistas, aplicação de testes ou exames observação in loco de trabalhos, folha de avaliação de desempenho, solicitação direta do trabalhador ou do seu gerente. A escolha dos métodos depende das características da organização, do perfil da área, da cultura da empresa, do momento organizacional, entre outros aspectos. Vieira (1999, p. 10-38) afirma que o levantamento de necessidades de treinamento é função básica, diária e permanente do gerente e de todos aqueles que têm a responsabilidade pelo trabalho de outros. Assim, diante de um cenário em que a mudança passou a constituir-se no paradigma básico para a sobrevivência organizacional, torna-se necessário colocar nos processos de levantamento de necessidades de treinamentos, técnicas e instrumentos mais avançados, que permitam a prospecção, tanto de informações qualitativas como quantitativas, destacando: jogos de empresa e de simulação, exercício de papéis, vivências, projeção de valores e visões de futuro, análise e avaliação do clima, da saúde e da cultura organizacional, ferramentas da gestão da qualidade, dentre outros. Milkovich e Boudreau (2000, p. 341-347) ressaltam que o levantamento de necessidades envolve a análise de metas nos níveis da organização, da função/tarefa/CHC (conhecimento, habilidade e capacidade) e do indivíduo, identificando os desvios para que se tornem objetivos instrucionais. Destacam que o comprometimento da cúpula da organização é fundamental para o sucesso de quaisquer programas, como também para o treinamento. Afirmam que a análise das necessidades organizacionais envolve além da identificação de metas, a obtenção do apoio da alta administração e de outras pessoas com poder decisório. Isso é imprescindível para garantir o apoio necessário ao desenvolvimento de novos conhecimentos e comportamentos que serão criados pelo treinamento, bem como a eliminação de barreiras externas ou legais aos programas implantados. Um diagnóstico cuidadoso das condições e necessidades organizacionais é essencial para a elaboração da estratégia do treinamento. Continuam, dizendo que quanto à análise de funções, de tarefas e de capacidade, habilidade e conhecimento, a maneira mais óbvia de determinar as necessidades de treinamento seria buscando nas áreas, as competências ou CHC’s (conhecimentos, habilidades e capacidades) que precisam ser melhoradas nas pessoas, para atenderem aos requisitos do cargo ou funções que ocupam. Considerando as mudanças frequentes por que passam as organizações, papéis funcionais estáveis e previsíveis em suas capacitações são raridade. Desse modo, há que ser desenvolvido competências essenciais, ou uma ampla variedade de competências que permitam a flexibilidade e adaptabilidade. O diagnóstico de necessidades de treinamento deve estar focado numa perspectiva de longo prazo, identificando o que as pessoas terão que saber ao invés de simplesmente o que está faltando. Há de se considerar também, a análise da pessoa, pois as diferenças individuais interferem na eficácia do treinamento. Fatores específicos individuais podem ajudar a identificar quem se beneficiará mais com o treinamento. Refletindo sobre o exposto pelos autores, percebe-se que a amplitude de visão de um diagnóstico de necessidades de treinamento transcende uma linearidade, abrangendo perspectivas muito maiores de desenvolvimento de pessoas, cujos resultados podem efetivamente transformar uma organização em termos de aprendizado e de responsabilidades assumidas. Há, no entanto, uma questão de suma importância: se os programas de formação profissional devem estar direcionados para as estratégias organizacionais, que se vinculam aos objetivos, missão e visão de futuro, e se as estratégias definidas não contemplem a concepção do desenvolvimento do ser humano integral, como é possível alinhar ou introduzir essa abordagem nesses programas? REFERÊNCIAS MARRAS, Jean Pierre. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. São Paulo: Futura, 2000. MILKOVICH, George T. e BOUDREAU, John W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 2000. VIEIRA, Luiz Gonzaga. Levantamento de necessidades de treinamento: ferramenta básica na gestão da qualidade. Maringá: ABDR, 1999.