UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI LEONARDO D’AQUINO PEREIRA DE CAMPOS VERGUEIRO A NOVA TELA: Programação Audiovisual em Dispositivos Móveis SÃO PAULO 2009 LEONARDO D’AQUINO PEREIRA DE CAMPOS VERGUEIRO A NOVA TELA: Programação Audiovisual em Dispositivos Móveis Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Vicente Gosciola. SÃO PAULO 2009 LEONARDO D’AQUINO PEREIRA DE CAMPOS VERGUEIRO A NOVA TELA: Programação Audiovisual em Dispositivos Móveis Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Vicente Gosciola. Aprovado em 14 / 10 / 2009 ___________________________________ Prof. Dr. Vicente Gosciola ___________________________________ Prof. Dr. Gelson Santana Penha ___________________________________ Prof. Dr. Almir Antônio Rosa A todas as pessoas que de alguma maneira colaboraram para realização deste estudo . AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família pelo amor, incentivo e apoio em todos os momentos da minha vida. À minha esposa Priscila Maranho por fazer minha vida mais feliz e por todo auxílio durante o desenvolvimento da dissertação. Sem a sua ajuda teria sido impossível. Aos professores do Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi pelas aulas que colaboraram muito no enriquecimento do trabalho. Ao meu orientador Professor Vicente Gosciola pelas indicações bibliográficas e direcionamentos precisos nos desenrolar da produção da dissertação. À Professora Bernadette Lyra por oferecer um curso tão gratificante e bem estruturado. Aos Professores Almir Almas e Marcello Tassara pelas excelentes observações e dicas na banca de qualificação e que contribuíram muito para a conclusão da dissertação. RESUMO A presente dissertação tem como objetivo agrupar e analisar os recentes acontecimentos em torno da produção audiovisual assistida em dispositivos portáteis tais como aparelhos celulares e outros. Para tanto, procurei percorrer o caminho que a telecomunicação fez até aqui para tentar desvendar o panorama atual. Diante desta base de novidades me deparei com uma reduzida produção teórica a respeito dentre os quais os pensamentos de Henry Jenkins e Ana Lúcia Damasceno Moura Fé foram fundamentais. O primeiro por entender as mudanças radicais do mundo da comunicação sob a ótica convergente, e a segunda pela seriedade e profundidade com que trata o assunto até então pouco explorado no campo acadêmico. Este estudo foca na na questão da mobilidade por considerar a inovação uma boa representação de todas as alterações que tem acontecido. O aparelho celular é o principal objeto de estudo, pelo simples fato de que nem um outro dispositivo portátil alcança a abrangência que ele tem. Assim sendo, esta análise procura percorrer as características dos celulares, frisar a força do universo televisivo, entender mais detalhadamente sobre as tecnologias disponíveis, definir melhor o comportamento do usuário diante desse novo cenário e quais tem sido as estratégias do mercado em relação a estes novos modelos de negócio que vem surgindo com as tecnologias. O objetivo desta pesquisa não é prioritariamente o de traçar conclusões definitivas sobre o tema, mas sim o de colaborar ao entendimento do processo no qual estamos vivendo neste exato momento que altera de forma profunda a comunicação desde a sua transmissão, produção e até mesmo o acesso a ela. Embora sem nenhum modelo de negócios claro, em meio a indefinições tecnológicas e legislativas, os meios portáteis têm potencial para se tornarem tão importantes quanto a TV convencional foi até aqui. Palavras-chave: Tecnologias Móveis. Dispositivos Móveis. Aparelhos Celulares. Convergência. TV Móvel. ABSTRACT This paper intents to cluster and analyze the recent events surrounding the audiovisual production watched in portable devices such as cell phones and other equipment. To do so, I followed the history of telecommunication to try to understand the current scene. During the study I came across a small theoretical production about it among them the thoughts of Henry Jenkins and Ana Lucia Damasceno Moura Fé were fundamental. The first author was important because he understands the radical changes in the world of communication in a converging way, and the second because the seriousness and thoroughness how she treats the subject in the academic world so deficient about it. This study focuses in mobility because I have considerate this particular innovation as a good representation of all the changes that we are seeing. The handset is the main object of study just because any other device cannot be popular as it is. Therefore, this analysis seeks to go through the features of cell phones, underlining the strength of the television, understand in detail about the available technologies, define the users behavior and what has been the market strategies for these new model of business that have emerged with the technology. The main purpose of this research is not to bring definitive conclusions for the subject, but first of all, the intention is to collaborate to understand the process in which we are living. Communication is changing drastically since the transmission, production and even access to the media are no longer only in company’s hands. Although no clear business model, in the middle of technological and legal uncertainties, the portable media has the potential to become as important as the conventional TV was until now. Key-words: Mobile technologies. Mobile Devices. Mobile Phones. Convergence. MobileTV LISTA DE QUADROS Quadro 1: Nível de satisfação com a programação ofertada pelas emissoras de TV por idade.....................................................................................................................58 Quadro 2: Porcentagem global de consumidores que assistem algum tipo de programação audiovisual em computadores .............................................................58 Quadro 3: Porcentagem global de consumidores que assistem algum tipo de programação audiovisual em telefones celulares......................................................59 Quadro 4: Relação entre canais e programas de TV assistidos por consumidores..59 Quadro 5: Quantidade de programas vistos semanalmente em dispositivos suplementares(telefones celulares, PDAs e computadores)......................................61 Quadro 6: Consumidores interessados receber programação audiovisual em telefones celulares......................................................................................................61 Quadro 7: Consumidores interessados receber programação audiovisual em telefones e computadores..........................................................................................62 Quadro 8: Consumidores que pagariam por downloads de programação audiovisual em telefones celulares e computadores.....................................................................62 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Preferência global sobre a programação vista em telefones celulares e computadores.............................................................................................................60 SUMÁRIO Introdução.................................................................................................................09 Capítulo 1 - Características do Meio.......................................................................12 1.1 Portabilidade.........................................................................................................12 1.2 Conectividade.......................................................................................................14 1.3 Audiovisual Móvel.................................................................................................16 1.4 Tecnologias para recepção de conteúdo audiovisual em telefones celulares.....................................................................................................................17 1.4.1 TVs e Canais de Vídeos das Operadoras de Telefonia Móvel.........................18 1.4.2 TV Aberta Analógica e Dispositivos Móveis......................................................24 1.4.3 TV Digital e Dispositivos Móveis.......................................................................25 1.4.4 Web TV e IPTV..................................................................................................27 1.5 Conteúdo de Programação Audiovisual Móvel....................................................28 1.5.1 Gêneros e Formatos.........................................................................................28 Capítulo 2 – O Mercado............................................................................................35 2.1 Como o Mercado está atendendo o Consumidor e cria oportunidades de negócio.......................................................................................................................35 2.2 A Tecnologia Move o Mercado.............................................................................38 2.3 Quem é o Usuário e Quem é o Consumidor........................................................40 2.4 Novos Negócios – Tendências e Possibilidades..................................................43 2.5 Conteúdo Gerado por Usuários............................................................................45 2.6 Produção de Conteúdo Audiovisual.....................................................................49 Capítulo 03 - O Usuário............................................................................................51 3.1 A Força da TV, o Meio Consagrado.....................................................................51 3.2 Da TV Convencional para a Tela Portátil.............................................................53 3.3 A Relevância dos Fóruns na Cultura Digital.........................................................55 3.4 Convergência.......................................................................................................57 3.5 Um novo comportamento.....................................................................................63 3.6 Pesquisa com early adopters brasileiros..............................................................65 Conclusão.................................................................................................................70 Bibliografia...............................................................................................................72 INTRODUÇÃO No momento em que o assunto programação audiovisual para dispositivos móveis foi definido como tema desta pesquisa, percebi que iria começar a estudar um assunto muito relevante no atual momento em que vivemos. Estes aparelhos evoluíram muito em um curto período de tempo e atualmente são capazes de realizar tarefas que até pouco tempo atrás somente computadores de última geração eram capazes de realizar. Além da característica agregadora de tecnologias que os dispositivos móveis possuem hoje, são únicos em diversos aspectos: estão sempre ligados e em poder do usuário, são os primeiros aparelhos pessoais de mídia de massa e também possibilitam que o usuário também gere conteúdo. O conteúdo dos meios muda, migra se populariza, ou se elitiza, está em um constante processo de reinvenção de si mesmo. O teatro passou de uma atividade popular para atingir a elite, os noticiários e as novelas se tornaram mais presentes na televisão do que no rádio, que por sua vez se especializou cada vez mais em música, mas um não elimina o outro: cinema, teatro, fotografia, televisão, rádio, internet, jornais coexistem. E é por conta desta convivência forçada entre meios que opto por entender como funciona a convergência entre eles, este é o caminho que escolho para estudar as alterações presentes no nosso dia a dia. A mídia móvel envolve e afeta desde os usuários até as mega corporações de entretenimento passando por operadoras de telefonia, emissoras de TV e produtoras de conteúdo. Henry Jenkins, cujo pensamento norteia todo este estudo, elabora de maneira muito elucidativa a questão da convergência como no decorrer da dissertação. Ele vai contra a previsão de que os meios de comunicação estarão no futuro todos funcionando num só aparelho, em resumo, o autor acredita que o hardware está divergindo e o conteúdo convergindo. Para explicar, Jenkins criou a teoria que denomina “Falácia da Caixa Preta” que diz que mais cedo ou tarde todo conteúdo de mídia estará contido em um único dispositivo seja ele um aparelho de TV na sala de estar ou um celular. Uma das coisas que faz o conceito da caixa preta ser uma inverdade é que ele diminui o processo, pois desconsidera os processos culturais entendendo as transformações dos meios de comunicação somente no nível tecnológico. De qualquer maneira, como cita o autor, as “caixas pretas” não estão 9 em menor quantidade na nossa vida. Laptops, celulares, mp3 players, games, tocadores de áudio e vídeo, computadores, rádio, TV, são inúmeras as caixas pretas com que convivemos e nos relacionamos. De maneira geral, temos preferências pessoais quanto ao seu uso, diferindo de pessoa para pessoa e de ocasião, o fato é que temos cada vez mais “caixas pretas” disponíveis e, estamos usando-as cada vez mais. Apesar de já possuirmos a tecnologia necessária para recepção de programação audiovisual nos telefones celulares desde 1999 esta, até hoje, ainda não conseguiu conquistar um número expressivo de usuários. O objetivo desta pesquisa é examinar o canal de recepção e transmissão de conteúdo audiovisual por três ângulos distintos que juntos pretendem mostrar um panorama de como está se delineando o progresso da nova tela. Considero importante comunicar que diversos casos apresentados na dissertação abordam a programação audiovisual disponível na internet, que é muito vasta e relevante, tendo em vista que os dispositivos móveis estão aptos para acessar a rede mundial de computadores e receber a programação audiovisual disponível nela. Durante a pesquisa senti certa dificuldade em encontrar uma literatura específica que abordasse a questão do telefone celular como meio de acesso a programação audiovisual móvel e segundo a pesquisadora Ana Lúcia Damasceno Moura Fé, em sua tese de Doutorado “Tecnologias móveis e vida pessoal”, “A ausência de reflexão nessa área, a propósito, não é exatamente uma surpresa, haja vista que o telefone celular, em que pese protagonizar uma revolução tecnológica tão ou mais avassaladora do que a promovida pela Internet, curiosamente não provocou no meio acadêmico e intelectual o mesmo entusiasmo nem a mesma quantidade de pesquisas que gerou a Web” (MOURA FÉ, 2008, p.16). O primeiro capítulo descreve o funcionamento da programação audiovisual no celular disponível até o momento, abordando os modelos de negócio e tecnologias para a recepção de conteúdo, os formatos e gêneros de programação disponíveis aos usuários e como estes conteúdos se integram a outros recursos dos dispositivos buscando trazer a tona questões sobre as características ligadas à mobilidade e conectividade do meio de recepção de conteúdo audiovisual e seus diferentes modos de acesso à programação. Termino o capítulo abordando os gêneros e formatos disponíveis na nova tela e faço considerações a respeito do atual modelo 10 que operadoras de telefonia e produtoras de conteúdo tem empregado na utilização da nova mídia. No segundo capítulo, que busca abordar o assunto através da óptica do mercado de telecomunicações e radiodifusão, examino as estratégias de veiculação das produtoras de conteúdo, operadoras de telefonia e também dos próprios usuários que mesmo que na maioria das vezes de maneira amadora também estão produzindo e distribuindo conteúdo; expando a pesquisa observando os aspectos tecnológicos que podem acelerar ou frear a popularização da nova mídia, busco entender como o mercado enxerga e se relaciona com o usuário e com o consumidor além de trazer quais são as tendências, em relação ao uso e comercialização de dispositivos e serviços que podem ser trabalhadas com a nova mídia. No terceiro e último capítulo direciono a pesquisa ao olhar do usuário, tentando observar como ele tem feito uso da mídia televisiva e também dessa nova possibilidade que é utilizar dispositivos móveis para recepção de conteúdos audiovisuais; além do novo uso, da mídia e do dispositivo, também verifico como este, também novo usuário, se comporta e se relaciona tendo como objetivo ter acesso à programação audiovisual móvel; entro na questão da convergência de mídias, levando em consideração que ela altera o modo como o usuário consome produtos audiovisuais, ocasionando uma mudança no comportamento de consumo. Termino o capítulo trazendo dados de uma pesquisa realizada por mim entre usuários do tipo early adopters sobre os usos do telefone celular como dispositivo para recepção de programação audiovisual. 11 Capítulo 1 – Características do Meio 1.1 Mobilidade Acredito que a criação de um sistema que deu à telefonia mobilidade é, depois da internet, o mais importante advento que representa a comunicação instantânea do século XXI. A telefonia móvel mudou a maneira de nos relacionarmos com nossos familiares, trabalho, amigos. A conectividade imediata e irrestrita a qualquer hora do dia ou da noite alterou completamente o modo como acessamos informações, alterou nosso tempo e nossa maneira de nos comunicar. Antes dos aparelhos telefônicos celulares, nós nos conectávamos a um aparelho em um determinado local, caso o sujeito tivesse saído para almoçar, por exemplo, teríamos que esperar e fazer uma nova chamada mais tarde, ou seja, as possibilidades de comunicação eram bem mais limitadas. Agora é como se nós, ao fazer um telefonema, nos conectemos diretamente ao indivíduo, aonde quer que ele esteja. Se lembrarmos dos pagers1, eles foram sem dúvida o anúncio de que era preciso uma comunicação bem mais instantânea que o telefone fixo e que rompesse a barreira do espaço. Não importa mais se você está no alto de um andaime, dentro de um ônibus ou restaurante, você pode estar sempre disponível e conectado, estreitando todos os seus laços de relacionamentos. O recurso da mobilidade, somado a todas as demais facilidades e conveniências que se obtêm com o uso dos aparelhos de comunicação sem fio, colocou as tecnologias móveis, em especial o celular, no centro da existência humana. O fato é corroborado pelo crescimento explosivo da telefonia móvel nas últimas décadas (como mencionado, em 2002, o celular superou, em número de linhas, a telefonia fixa convencional no mundo), o que ocorre em todas as regiões do globo, com altos índices de adoção nos mais diferentes países e camadas sociais, independentemente de sexo ou idade. (SRIVASTAVA, 2004 apud MOURA FÉ, 2008, p. 63) 1 Um pager (ou bip/bipe no Brasil, em Portugal também chamado de radiomensagem, ou raramente radioprocura) é um dispositivo eletrônico usado para contactar pessoas através de uma rede de telecomunicações. Ele precedeu a tecnologia dos telefones celulares, e foi muito popular durante os anos 1980 e 1990, utilizando transmissões de rádio para interligar um centro de controle de chamadas e o destinatário. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pager> 12 Não tenho como objetivo mensurar as alterações psicológicas que esta tecnologia implementou no homem contemporâneo, mas mesmo de maneira superficial, é fácil entender que no plano imaterial nós temos artifícios para estarmos em contato o tempo todo com quem quisermos, dentro do bolso sempre tem “alguém” que você conhece, alguém com quem você precisa ou quer se comunicar. Sendo os telefones móveis tão difundidos no mercado de hoje, ainda é cedo para falar em superação dessa tecnologia. O caminho mais provável já esta sendo desenhado com base na aglutinação de meios, serviços e tecnologias em um único aparelho pequeno, móvel e sem fio. Embora uma enorme quantidade de usuários tenha um telefone fixo em casa e no local de trabalho, o número de usuários de aparelhos celulares cresce vertiginosamente em todo o mundo. Segundo a UIT (União Internacional de Telecomunicações), órgão ligado à ONU que realiza pesquisas nas áreas de telecomunicações, entre os anos de 2000 a 2005 o número de usuários de telefonia móvel no mundo cresceu 137%. No Brasil, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), até Junho de 2009 existiam 150 milhões 613 mil e 507 linhas telefônicas móveis em operação. Em The Mobile Communication Society, de 2004, Manuel Castells e colaboradores desenvolveram uma pesquisa que buscava discutir quais os efeitos da comunicação sem fio na nossa sociedade. No início do livro ele apresenta estatísticas sobre a penetração da comunicação sem fio em diferentes áreas do planeta. Em escala global, desde 1991, ano a partir do qual a pesquisa trás dados a respeito dos números de linhas telefônicas fixas e móveis em uso, fica claro que o crescimento é contínuo, porém a linha que mostra o avanço da penetração da telefonia fixa, de 1991 até 2003 tem um desenho de crescimento suave e coordenado, enquanto a linha de crescimento que mostra o número de linhas de telefones móveis tem um desenho acentuadamente íngreme. A expansão do uso de telefones celulares aconteceu de maneira muito rápida e em 2002 o número de linhas telefônicas portáteis já superava a quantidade de telefones fixos. Atualmente mais de 50% da população mundial já faz uso de telefones celulares e segundo dados disponibilizados em 2007 pela UIT, de cada 100 habitantes de países desenvolvidos, 97 possuíam telefones móveis e em países em desenvolvimento este número era de 45 linhas telefônicas móveis para cada 100 habitantes. 13 1.2 Conectividade Através de uma pesquisa sobre o mercado de consumo realizada entre Abril e Junho de 2009 pelo Instituto Provar (Programa de Administração do Varejo) em parceria com a FIA (Fundação Instituto de Administração) descobriu-se que os computadores e notebooks2 são os principais produtos na lista de desejos dos brasileiros, com intenção de compra nos próximos três meses, totalizando 15% da preferência dos consumidores. Atualmente 31% dos lares brasileiros possuem um computador e essa popularidade se deve em grande parte pela possibilidade de se conectar a internet. A conectividade que os computadores e mais recentemente os telefones celulares possibilitam, o ato de se comunicar com todo um universo de possibilidades de entretenimento e informação remota realmente impulsiona o desejo em todas as classes sociais e diversas faixas etárias de estar conectado. Um estudo realizado pela Integrated Media Measurement Inc. (IMMI) revelou que um quinto dos americanos assiste TV pela Internet. Isto representa um número significativo de norte americanos que estão substituindo seus controles remotos pelos mouses. A pesquisa abrangeu 3 mil pessoas nas cidades de Nova York, Chicago, Los Angeles, Miami, Houston e Denver. Todas tiveram sua navegação na Internet monitorada por um software instalado pela IMMI. Metade dos pesquisados buscam ver programas recém disponibilizados demonstrando que estão realmente trocando os aparelhos de TV pela Web. A outra metade usa a rede para assistir programas perdidos na TV convencional ou para revê-los. O maior grupo de pessoas que assistem TV pela Internet é composto por mulheres brancas, que trabalham, de alto poder aquisitivo na faixa etária de 25 a 44 anos. Como era de se esperar, nos EUA, berço da tecnologia da informação e da comunicação de massa, as mudanças mais radicais de comportamento se iniciam no topo da pirâmide social. O fato de que são preferencialmente as mulheres (que trabalham) que estão optando por se libertar da grade das emissoras, é uma evidente indicação que praticidade (mobilidade) pode ser um fator decisivo no comportamento dos usuários na maneira como buscam informação. 2 Computador portátil 14 Aqui no Brasil este mesmo comportamento do espectador foi analisado no estudo de Maria Regina Mota, doutora em comunicação midiática pela PUC-SP, a partir de dados do Datafolha. A pesquisa revela que 98% dos jovens assistem à TV 3,4 horas por dia, embora esse veículo venha caindo na preferência dos jovens e a internet esteja subindo. Esse número não me impressiona, pois não significa que o jovem passe todo esse tempo na frente da televisão sem fazer outra coisa. Ele pode deixar a TV ligada enquanto navega na internet. O que acontece é que, com a disponibilidade dos meios, o jovem se tornou multimídia, diz Mota. (MOTA, 2008) Em comparação com dados do Datafolha de 2000, a porcentagem dos entrevistados que declara usar a Internet como principal veículo (não necessariamente assistir TV) subiu de 11 para 26%. A média de tempo gasto na web diariamente era de 2,5 horas. Para os jovens das classes A e B, a internet é o meio de comunicação principal, com larga vantagem em relação à TV (43% a 26%). Muito longe da faixa etária declarada na pesquisa americana, aqui no Brasil, jovens do sexo masculino, com idades entre 16 a 21 anos são os que preferem a internet (entre 31 a 33%). É fácil observar que historicamente os aparatos tecnológicos vão tornando-se cada vez mais acessíveis e populares e que a tendência é o aumento do número de usuários e a diminuição do custo das novas tecnologias. Assim sendo, podemos pensar num futuro em que todos nós lançaremos mão de tecnologia, provavelmente instaladas no aparelho de celular para pagarmos contas, ouvirmos música, tirarmos fotos, enviarmos arquivos, navegar na Internet em alta velocidade em aparelhos portáteis. Será o fim das mídias e dos fios, sem CDs, sem DVDs, sem cartões de crédito, tudo será transmitido, como dado, via Bluetooth, já é assim, a materialização da pós-modernidade liquida, onde a informação flui como água atingindo tudo e todos que se conectam de alguma maneira. Esta realidade ainda um pouco distante da maioria da população brasileira, muito possivelmente, com o passar dos anos estará disponível a todas as classes sociais. A consultora Comscore Networks divulgou em 2007 uma pesquisa global que colocou o Brasil no ranking de 11º do mundo em número de usuários da rede com quase 15 milhões de pessoas com algum tipo de acesso a Internet. O Ibope/Netratings divulgou no início do mesmo ano que o número de usuários de banda larga no Brasil dobrou em dois anos, chegando a o número de 10,7 milhões 15 em novembro de 2007. A pesquisa ainda revelou que 74% dos 14,4 milhões de usuários ativos da Internet brasileira usavam uma conexão de alta velocidade para navegar na Internet. As projeções em relação ao número de acessos a Banda Larga no Brasil para os próximos 10 anos, segundo a Anatel, são de crescimento vertiginoso, tanto para acesso fixo quanto móvel. Até 2011 contaremos com mais de 20 milhões de acessos no país sendo que pouco mais da metade será feita através de aparelhos celulares. A partir do ano seguinte, 2012, a Anatel considera que os números de acessos a banda larga móvel superará os acessos via computadores de um modo irreversível, chegando a mais de 120 milhões em 2015 até bater a marca de 160 milhões de acessos em 2018. 1.3 Audiovisual Móvel Em toda a America Latina, o número de usuários de 3G3 chega a 3 milhões, sendo que o Brasil representa mais da metade dessa soma. A Anatel divulgou que até Maio de 2009 o Brasil totalizou 5.502.863 de acessos 3G através de telefones celulares e conexões de banda larga a internet. O fato é que a banda larga móvel está crescendo em todas as suas modalidades, (netbooks4, smartphones5 e modems6 3G para computadores e notebooks). Para que as projeções da Anatel se tornem realidade, tanto os planos oferecidos pelas operados quanto o custo dos aparelhos devem diminuir consideravelmente nos próximos anos. Até então, de todos os aparelhos celulares existentes no Brasil, apenas 1,3% usa a tecnologia de acesso à banda larga móvel. O celular passa a ser um “teletudo”, um equipamento que é ao mesmo tempo telefone, máquina fotográfica, televisão, cinema, 3 Terceira geração de tecnologia de telefonia móvel. Termo utilizado para descrever uma classe de computadores portáteis com dimensões pequenas que geralmente são utilizados apenas para funções baseadas na internet, tais como navegação na rede e envio de e-mails. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Netbook> 5 Termo utilizado para descrever telefones com recursos de edição de textos e planilhas, conexão à internet e leitura de e-mails. Da língua inglesa, telefone inteligente. 6 Dispositivo eletrônico utilizado para conectar computadores, notebooks e netbooks à internet. No caso dos modems 3G, conectam os dispositivos a rede de telefonia móvel de terceira geração afim de prover acesso à internet. 16 4 receptor de informações jornalísticas, difusor de e-mails e SMS, WAP, atualizador de sites (moblogs), localizador por GPS, tocador de música (MP3 e outros formatos), carteira eletrônica. Podemos agora falar, ver TV, pagar contas, interagir com outras pessoas por SMS, tirar fotos, ouvir música, pagar o estacionamento, comprar tickets para o cinema, entrar em uma festa e até organizar mobilizações políticas e/ou hedonistas (caso das smart e flash mobs) [...] De media de contato interpessoal, o celular está se transformando em media massivo. (LEMOS, 2004 apud MOURA FÉ, 2008, P.57) A TV Móvel está dentro de um "pacote" de possibilidades que estão ambientados no aparelho celular. Este é apenas um, entre dezenas de serviços que estes telefones oferecem. Repletos de recursos, são atrativos por diversas razões, como câmera, música, conexão a redes sem fio, vídeo, etc. A maneira como se dá a interação entres todas estas possibilidades é que personaliza o seu uso, a característica agregadora do dispositivo, faz com que uma nova tecnologia não anule uma anterior e sim, absorva o maior número de características possíveis do que já foi criado, difundido, aceito e incorporado na sociedade. Esta propriedade é a chave mestra do sucesso e da permanência dos dispositivos móveis que utilizamos para nos comunicar, produzir, assistir e compartilhar conteúdo. 1.4 Tecnologias para recepção de conteúdo audiovisual em telefones celulares. Este sub-capítulo visa levantar as opções atualmente disponíveis de programação audiovisual para aparelhos telefônicos móveis e comparar as diferentes linguagens, formatos, duração dos programas e tempos de intervalos comerciais. Existem basicamente cinco opções de modelos de recepção de conteúdo audiovisual em aparelhos celulares. São elas, TV aberta convencional, TV aberta digital, Web TV acessadas diretamente através de navegadores de internet, aplicativos específicos para conteúdo áudio visuais no aparelho celular como o Youtube e o Joost, e os serviços de vídeos disponibilizados pelas operadoras de telefonia móvel. Em base a TV, Telefone e Internet o que vemos é a integração de uma à outra criando novas mídias, novas possibilidades, vindas das bases da comunicação moderna. Este movimento de integração de tecnologias é tão forte que pode sugerir 17 um novo título para o próximo passo: depois da Revolução Tecnológica, a Integração Tecnológica. Mesmo ainda no início, podemos perceber que a disputa pela audiência móvel vai ser acirrada quando a TV digital móvel e os canais de vídeos disponibilizados pelas operadoras estiverem planamente habilitados. A concorrência será entre os canais e não entre as duas modalidades já que são complementares. A TV digital móvel é a TV aberta que temos hoje em dia e os canais de TV disponibilizados pelas operadoras funcionam como a TV por assinatura que recebemos em casa atualmente. 1.4.1 TVs e Canais de Vídeos das Operadoras de Telefonia Móvel Desde 2006 nós já podemos assistir TV no celular, mas com a crescente implantação da rede 3G no país, possibilitando altas velocidades de transmissão de dados para dispositivos móveis as operadoras de telefonia vêm investindo na atualização da rede de transmissão para que os usuários possam usufruir desta novidade tecnológica comprando novos pacotes de serviços. As maiores operadoras de telefonia móvel, entre elas a VIVO, TIM, Claro e Oi oferecem alguma opção de programação audiovisual. Todas estas operadoras possuem aplicativos que possibilitam seus usuários assistir em tempo real ou fazer downloads de vídeos com seus aparelhos celulares. O usuário precisa fazer o download do aplicativo através do próprio aparelho, instalá-lo no celular, "sintonizar" em algum dos canais disponíveis e começar a assistir a programação. Este é o modelo broadcast7 de TV móvel o usuário não tem a opção de salvar o conteúdo e nem de escolher qual programa do canal ele quer assistir. É um simples streaming8 transmitido nos mesmos moldes da TV convencional. 7 Processo de transmissão utilizado pelas rádios e emissoras de TV. Se caracteriza por entregar a mesma programação para todos os usuários. 8 Streaming (fluxo, ou fluxo de mídia em português) é uma forma de distribuir informação multimídia numa rede através de pacotes. Ela é frequentemente utilizada para distribuir conteúdo multimídia através da Internet. Em streaming, as informações da mídia não são usualmente arquivadas pelo usuário que está recebendo a stream. A mídia geralmente é constantemente reproduzida à medida que chega ao usuário se a sua conexão for suficiente veloz para reproduzir a mídia em tempo real. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/streaming> 18 A programação broadcast oferecida pelas operadoras de telefonia é bastante similar, poucos canais são exclusivos de uma operadora específica. A tabela abaixo apresenta todos os canais disponíveis nas quatro principais operadoras de telefonia móvel que atuam em território brasileiro. Band Mobile OI CLARO * * Rede TV TIM VIVO Play * ESPN * MTV * * * * * * Cartoon Network Woohoo * Discovery Móvel * * * * * * Esporte Interativo TV * Sexy Clube * CNN * Discovery Kids Planet Green Canal Oi * * * * * 19 Terra * Pé na Rede WTN * * Nickelodeon TV Ratimbum 100% Cristão TV Estadão * * * * Canal TIM VH1 * * Fashion TV Playboy TV Hustler Buttman * * * * * * Já a modalidade unicast9 que possibilita o download de vídeos tem um mecanismo de funcionamento mais próximo ao que temos na internet. O usuário ao sintonizar um dos canais disponíveis pode escolher qual vídeo deseja assistir e tem a opção de salvá-lo no seu telefone celular. Este modelo de negócio abre um leque de opções maior para o usuário permitindo que o mesmo seja o produtor do conteúdo que vai estar disponível para que outras pessoas possam assistir e comprar uma programação desenvolvida por ele. Todas as grandes operadoras de 9 Método de transmissão em que o receptor tem a possibilidade de escolher qual programação deseja receber. 20 telefonia já desenvolveram plataformas para upload10 e download destes conteúdos tanto através do telefone celular quanto do computador conectado à internet, fazendo assim o cruzamento entre as plataformas. Nas tabelas abaixo descrevo as características de cada modelo oferecido pelas operadoras de telefonia móvel que atuam no Brasil. Operadora Claro Principais Características Video Download Duração Categorias O conteúdo pode ser comprado Média de 30 R$1,29, através do telefone celular do segundos Personagens da TV, Desenhos Animados, Adulto, Carros, Cinema, Datas Comemorativas Esportes, Humor, Música, Revistas, Seriados, Temáticos, Diversão, Variedades, A Fazenda Comédia, Games, Esportes, Gatas e Gatos, Viagens e Lugares, Sensuais, Animais, Claro Curtas, Clipes e Animações, Galera, Crianças, Carros e Motos, Diversos, Religiosos, Mães dados usuário ou no site Claro Idéias. Vídeos curtos com destaques para atualidades e programas consagrados disponíveis na TV aberta e fechada. Claro Video Maker Vídeos caseiros produzidos em grande Entre 15 parte com o próprio telefone celular do segundos e usuário que podem ser comprados 1 minuto e através do telefone celular do usuário meio. ou no site Claro Idéias. O usuário faz o upload do vídeo produzido por ele e recebe dez centavos por cada download que outros usuários fizerem do vídeo que ele postou. O usuário produtor pode solicitar o resgate em dinheiro assim que acumular vinte reais. Existem também promoções relacionadas com datas comemorativas e lançamentos cinematográficos. 10 Tarifas R$2,49, R$3,49 ou R$4,49 mais o tráfego de R$ 1,29 mais o tráfego de dados. Transferência de dados de um computador local para um servidor. 21 Portal de Vídeo O usuário se conecta no portal Em média 3 realizando uma vídeo chamada e minutos através do celular navega por para os menus por onde escolhe o vídeo vídeo clipes que deseja assistir. Não é feito e videocasts nenhum download para o aparelho e entre 15 do usuário, todo conteúdo é segundos e transmitido em streaming. 1 minuto e -Video Clipes musicais R$ 0,89 por minuto -Videocasts sobre cinema, esportes e notícias -Conteúdo do Claro Vídeo Maker meio para o conteúdo do Claro Vídeo Maker. Youtube Mobile Acesso ao conteúdo do portal de Pré-pago, vídeos Youtube R$1,00 por megabyte Pós-pago R$1,00 por minuto Minha TV Acesso aos canais do Idéias TV no Canais do Assinatura padrão Unicast, modo no qual o Idéias TV mensal, usuário escolhe qual programa do canal deseja assistir. Programação acesso WEB R$10,00 por mês com duração disponível para ser Assinatura de vista em dispositivos móveis e pacote adulto navegador WEB. Oferece tarifações R$15,00 por diferentes para acessos através de mês terminal fixo e dispositivo móvel. Acesso pelo celular Pós-pago: R$ 0,20 por minuto de vídeo assistido. Pré-pago: R$1,00 por Megabyte trafegado. 22 Operadora Oi Principais Características Videos Vc na tela Duração Categorias Tarifas O usuário tem a opção de baixar os Em média Os mesmos Entre R$ vídeos direto pelo celular ou através duração de canais da Oi 0,99 e R$ do portal Oi, a compra feita através 30 TV Móvel, 5,99. do portal direciona o download segundos. com a opção direto para o dispositivo móvel do de escolher Não é usuário. programas cobrado o específicos de tráfego de cada canal dados Vídeos caseiros produzidos em Entre 15 Música, Vídeo Entre R$ grande parte com o próprio telefone segundos e cacetadas, 0,99 e R$ celular do usuário que podem ser 1 minuto e esportes, 5,99. comprados através do portal Oi na meio jogos, internet ou direto pelo telefone viagens, celular. O usuário que disponibilizou imitações, o vídeo recebe 1 ponto que erótico, equivale a R$ 0,10 cada vez que humor, carros alguém realizar o download do vídeo disponibilizado por ele podendo resgatar o dinheiro informando uma conta para depósito. 23 Operadora TIM Principais Características Vídeo e Podcast Duração O download pode ser feito através Entro 30 de mensagem de texto, diretamente segundos e no portal TIM diversão a partir de 3 minutos e um dispositivo fixo conectado a meio internet e através do aparelho celular via portal TIM WAP. Youtube Mobile TIM Studio Categorias Tarifas Amor, Bizarros, Cassetadas, Cinema e TV, Esportes Radicais, Esportes, Esotérico, Futebol, Gospel, HighSchool Musical, Humor, MTV, Músicas, Motores, Religiosos, Surf, Variedades, Vídeo Dicas R$ 3,99 ou R$ 4,99 mais o tráfego de dados Acesso ao conteúdo do portal de R$ 2,10 vídeos Youtube através do portal por TIM WAP Megabyte Vídeos produzidos pelos usuários Entre 15 da operadora. Somente usuários segundos e pré-pagos podem enviar vídeos que 1 minuto e são convertidos em créditos de meio Não dispõe de categorias, funciona por busca de palavras. R$ 0,99 mais tráfego de dados minutos quando o usuário acumula R$ 1,50. 1.4.2 TV Aberta Analógica e Dispositivos Móveis Com o progresso da miniaturização de componentes eletrônicos, atualmente é possível fabricar sintonizadores de TV que cabem dentro de dispositivos telefônicos móveis. Empresas chinesas fabricam o que os usuários chamam de 24 MP9, um aparelho que agrega funções como telefone celular, MP3 e vídeo player, Rádio, câmera fotográfica e também sintonizador de TV analógica. Estes aparelhos, apesar da baixa qualidade de seus componentes e sistema operacional, são bem completos e possuem quase todas as funções dos melhores smartphones das maiores fabricantes de aparelhos celulares, com o diferencial de serem os únicos a oferecer sintonizador de TV analógica e com preço bastante reduzido. A maioria dos “MP9” copia o design dos aparelhos e logotipos das grandes empresas fabricantes mas, são maiores em tamanho. A tela pode ser sensível ao toque e ter até 3.5 polegadas, um detalhe curioso é que estes aparelhos possuem uma antena parabólica para ajudar a sintonizar os canais TV aberta VHF. O que considero mais relevante observar nestes aparelhos é o fato de os usuários receberem uma programação desenvolvida para ser assistida em telas grandes em um aparelho que cabe na palma da mão. Numa pesquisa de campo foi possível perceber que a qualidade de recepção da imagem varia muito de lugar para lugar e que a tela pequena não colabora para a leitura de caracteres, muito comuns em programas jornalísticos, programas de auditório, etc. Portanto, mesmo ainda diante do recém nascimento da TV móvel, já é possível prever que uma programação especifica, adaptada, concebida para telas pequenas seria mais adequada para ver assistida nos dispositivos móveis. 1.4.3 TV Digital e Dispositivos Móveis As emissoras de TV brasileiras estão nesse exato momento ajustando sua tecnologia para a captação e transmissão digital, no processo inverso da miniaturização, nas salas, as telas são cada vez maiores e com mais qualidade de recepção, e essa é a primeira aposta das emissoras. Vivemos então dois fenômenos distintos e simultâneos: telas pequenas fora de casa no bolso e telas de mais de 40 polegadas dentro de casa. Será que veremos a mesma programação em ambas as telas? Se depender do Ministério das Comunicações possivelmente não, já que em Fevereiro de 2009, foi baixada uma norma que proíbe as emissoras de TV 25 comerciais e públicas estaduais de realizar a multiprogramação. Além do 1-seg11, se as emissoras de TV fossem autorizadas a utilizar o espectro de transmissão digital, dividindo-o em 4 sinais diferentes, poderíamos ter uma programação específica, possivelmente toda ao vivo, que fosse calcada em uma programação voltada a serviços para o usuário que está se movimentando pela cidade. Na época em que o governo brasileiro estava estudando qual sistema de TV digital seria implantado no Brasil, a maior disputa foi entre os sistemas japonês e europeu, no final o sistema nipônico foi o escolhido, mas agora saem notícias de que o sistema europeu, em sua versão móvel, o DVB-H12, deve aportar aqui no Brasil fornecendo um sistema de TV digital móvel por assinatura, paralela à TV digital aberta. Uma questão que deve ser levada em conta nessa questão são os telefones celulares com capacidade de recepção de TV digital móvel. Atualmente o modelo mais barato custa aproximadamente setecentos reais e só funciona no padrão brasileiro de TV móvel, quando se fala em celulares com recepção em DVB-H a única opção disponível é um aparelho que custa em média dois mil reais, como ainda não existe uma rede DVB-H em operação no Brasil o dispositivo vem de fábrica com o sintonizador desabilitado, sendo necessária uma atualização do software para desbloqueá-lo. Se no futuro a TV digital móvel por assinatura vir a ser tornar uma realidade, possivelmente será uma joint venture13 entre uma operadora de TV e uma fabricante de telefones celulares, oferecendo aparelhos subsidiados por assinatura de TV. Ainda não existe um aparelho que receba os dois padrões de sinal e é possível que ele nunca seja feito pois esta questão teria que envolver empresas com objetivos diferentes. Poucos celulares hoje já conseguem receber o conteúdo tanto da TV digital móvel, como de terceira geração, que permite o acesso à internet banda larga pelo celular. Depois do processo de informatização alterar completamente a sociedade moderna, muito provavelmente, IPTV e webTV serão amplamente disseminadas nas telas de poucas polegadas dos portáteis. 11 Tecnologia de transmissão digital de TV para dispositivos móveis desenvolvida no Japão. É a versão móvel da TV digital japonesa e também da TV digital aberta brasileira. 12 Tecnologia de transmissão digital de TV para dispositivos móveis desenvolvida por empresas européias lideradas pela fabricante finlandesa Nokia. Também conhecido como sistema europeu de TV digital móvel. 13 Associação de empresas para explorar determinado negócio sem que nenhuma delas abandone sua personalidade jurídica. 26 1.4.4 Web TV e IPTV O termo webtv comumente é associado com o ato de assistir algum tipo de conteúdo audiovisual através da internet, o que de certa maneira, tal ato, faz jus a ação. Mas, quando escutamos o termo IPTV, a associação ao ato de assistir TV na internet não é tão imediata. IP é a sigla para internet protocol que quando vem acompanhada por outra sigla, por exemplo TV, significa que a "TV" se utiliza da estrutura da internet para ser transmitida. Para ser caracterizada como webtv, a programação deve estar disponível dentro da world wide web, exemplos de webtv não faltam; todos os principais portais de informação possuem suas TVs dentro da grande rede de informação, o agregador de vídeos You Tube e os portais de video podem ser considerados webtvs. Os modos de transmissão Unicast e Broadcast também aparecem dentro da classificação das webtvs. O mais popular é o unicast, mas temos exemplos de webtvs que transmitem em modo broadcast, por exemplo, a brasileira All TV que funciona nos mesmos moldes de uma emissora de TV tradicional com uma programação calcada em programas de entrevista e variedades ao vivo e que faz bom uso da interatividade através de chats em tempo real com os telespectadores dos programas. Outra possibilidade de webtvs que transmitem em modo broadcast é vista no portal JustinTV. Este portal oferece a qualquer pessoa a possibilidade de criar uma emissora de WebTV e transmitir em tempo real qualquer conteúdo. Existem canais criados por usuários brasileiros que ficam 24 horas por dia transmitindo o sinal das TVs abertas brasileiras buscando atingir a comunidade brasileira que reside fora do país e também existem canais de pessoas que fazem de sua vida um verdadeiro Big Brother14 transmitindo suas vidas através de uma webcam15. Através da Justin TV qualquer vídeo armazenado no computador do usuário pode ser transmitido pela internet possibilitando que qualquer pessoa possa ser um programador de TV, existem diversos canais especializados que transmitem vinte quatro horas por dia de um único seriado ou desenho animado. 14 Programa televiso do gênero de realidade onde os competidores ficam confinados em uma casa repleta de câmeras de vídeo que ficam transmitindo 24 horas por dia o convívio dessas pessoas. O nome do programa é inspirado no livro 1984 de George Orwell no qual, Big Brother é um líder mundial vigia a população através de diversas telas. 15 Câmera de vídeo de baixo custo que quando conectada a um computador pode ser utilizada para transmitir imagens através da internet. 27 Atualmente o usuário que quiser assistir a programação das Webtvs broadcast no celular tem uma única opção, o navegador de internet Skyfire. A maioria do conteúdo disponibilizado pelas Webtvs necessita que o equipamento de recepção tenha o plugin flash player instalado, pois todo o conteúdo audiovisual é convertido para o formato flash. Até agora, a Adobe, fabricante do flash player não disponibilizou nenhuma versão específica para os navegadores de internet mobile. Então como o Skyfire consegue rodar estes vídeos? Na realidade quando você navega na internet com o Skyfire você está navegando através do servidor deles, a página é carregada no servidor e uma “imagem” do que está rodando lá é transmitida para o celular do usuário. 1.5 Conteúdo de Programação Audiovisual Móvel O conteúdo digital, ainda tão pouco difundido em função do alto custo dos aparelhos receptores, com certeza terá um futuro promissor na palma das nossas mãos. A TV digital móvel garante excelência na transmissão do áudio e vídeo. Mas, até o momento as duas principais características discutidas pela imprensa a respeito do sistema de transmissão digital que o Brasil adotou em 2006 são as possibilidades em relação a interatividade e a mobilidade. Mas como essas características se inserem na nossa vida? Como vamos utilizá-las? Ainda estamos no começo do processo, um caminho provável para responder essas questões é a analise do conteúdo produzido no país. 1.5.1 Gêneros e Formatos A programação televisiva disponível através da TV aberta é classificada segundo a ABEPEC - Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais em três categorias básicas. São elas: entretenimento, informação e educação. É possível incluir mais uma categoria, a de “programas especiais" que incorporam programas para públicos específicos e também as produções de conteúdo exclusivo e inédito apresentadas pelas emissoras. Este método de 28 classificação não impede que as categorias se agrupem e que haja programas com um caráter, por exemplo, de programa especial e educativo ao mesmo tempo. Dentro das categorias de programas, ainda podemos distingui-los por gênero e formato. José Carlos Aronchi de Souza em Gêneros e Formatos na Televisão Brasileira nos traz uma curiosa correlação entre os estudos de gênero e formato na televisão e biologia. Assim como na biologia existem gêneros e espécies, em televisão coexistem os gêneros e formatos. Pode-se fazer uma analogia, com as devidas diferenças, entre as espécies da biologia e os formatos da televisão. Na biologia, várias espécies constituem um gênero e os gêneros agrupados formam uma classe. Em televisão, vários formatos constituem um gênero de programa, e os gêneros agrupados formam uma categoria. (ARONCHI, 2004: p. 45) Ainda segundo Aronchi. O formato de um programa pode apresentar-se de maneira combinada, a fim de reunir elementos de vários gêneros e assim possibilitar o surgimento de outros programas... Concluímos que o termo formato é nomenclatura própria do meio para identificar a forma e o tipo da produção de um gênero de programa de televisão. Formato está sempre associado a um gênero, assim como gênero está diretamente ligado a uma categoria (ARONCHI, 2004: p. 46). Segundo Arlindo Machado em A Televisão Levada a Sério, diferentemente de Aronchi que trabalha com categorias, foca o estudo somente nos gêneros e formatos, definindo gênero como a intenção do programa, por exemplo ficcional, informativo, etc, e o formato se relacionando com a forma que ele assume, por exemplo documentário, novela, telejornal, etc. Existem também programas híbridos, que misturam gêneros e formatos. Arlindo parafraseando o pensador russo Mikhail Bakhtin diz que: 29 (...) gênero é uma aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, um certo modo de organizar idéias, meios e recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto à comunidades futuras... é o gênero que orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um determinado meio, pois é nele que se manifestam as tendências expressivas mais estáveis e mais organizadoras da evolução de um meio (...) (MACHADO, p.68, 2000). Uma questão que é colocada lado a lado do formato de um programa de televisão é o conceito do mesmo, por exemplo, existem conceitos similares que dão a origem a formatos diferentes como é o caso de reality shows que confinam pessoas em ambientes. Big Brother, Casa dos Artistas e A Fazenda possuem o mesmo conceito, mas diferem no formato. Como os programas de televisão são sustentados por publicidade o formato procura facilitar ações que abram espaço para veiculação de produtos que irão ser utilizados pelos participantes e apresentadores do programa. Este tipo de ação publicitária, o merchandising16, tende a se tornar cada vez mais comum no futuro quando todos vão poder controlar e montar a sua própria programação televisiva A TV digital possibilitando interação na própria tela abre espaço para novas oportunidades de ação publicitária que vão se tornar necessárias para subsidiar o mercado. O conjunto de programas de diversos gêneros e formatos define a programação de uma emissora. No caso das emissoras abertas podemos perceber que a programação é desenvolvida buscando atingir todas as classes sociais através de um conjunto de programas de gêneros e formatos populares. Outra característica facilmente perceptível nas emissoras de TV aberta é determinar um horário fixo para cada gênero da programação criando assim o hábito de sempre assistir em um determinado horário o mesmo gênero de programa. Este tipo de programação é conhecida por horizontal. A distribuição dos programas em horários planejados e previamente divulgados pela emissora, desde o início da programação até o encerramento das transmissões, cria um plano conhecido como grade horária semanal (ARONCHI, 2004: p. 58). 16 Conjunto de ações de marketing que buscam dar visibilidade a produtos que estão à venda. 30 Nos canais que transmitem TV por assinatura a programação não segue o padrão horizontal visto nas TVs abertas. Mesmo sendo broadcast a programação tem caráter vertical. Isso significa que a programação é exibida em diversos horários durante a semana para que consiga atingir o maior número possível de telespectadores e tenha audiência em diversos horários. Em uma análise que será apresentada mais para frente pude constatar essa característica na programação broadcast do canal OI, canal desenvolvido especificamente para ser transmitido para telefones celulares. Num primeiro momento, o tamanho reduzido da tela dos aparelhos celulares poderia ser um fator relevante para pensarmos na produção de um conteúdo especifico para a nova mídia, mas ao fazer isso estaríamos ignorando um comportamento que já está disseminado há alguns anos principalmente através do portal de vídeos Youtube, onde, uma boa parcela do conteúdo assistido consiste em programação desenvolvida pelas emissoras de TV para aparelhos convencionais não portáteis; ou seja a programação convencional já faz sucesso em telas menores antes mesmo do nascimento dos portáteis. Talvez este tenha sido nosso primeiro contato mais intimo com telas menores, com vídeos de qualidade reduzida, nossa pré-escola no aprendizado de um novo olhar, um comportamento mais atualizado. Devemos lembrar que os games partiram para a mobilidade muito antes da TV, mas estes contêm uma narrativa clara, um fio condutor a ser seguido por meio da interação, são intenções são completamente diferentes, e, em termos de conteúdo principal, diferem-se entre si totalmente. Portanto, vamos nos ater especificamente ao conteúdo audiovisual (programas desenvolvidos para TV, Filmes, seriados, novelas, etc). No momento, estamos em pleno desenvolvimento da criação de um novo formato visual que possibilita atualizações em relação a, por exemplo, procedência do conteúdo, a convergência entre mídias, interatividade, possibilidades de escolha, de produção, divulgação, circulação, armazenamento, descentralização da produção de conteúdo, e claro, o modo de transmissão e recepção. Segundo, Henry Jenkins em A Cultura da Convergência (2008, p. 28) o fluxo entre mídias não ocorre nos aparelhos, por mais sofisticados que estes possam ser, e sim, dentro dos cérebros humanos, são as nossas intenções que induzem ou não á conveniência, á interação. Afinal, ainda somos nós, os sereshumanos que optam por essa ou aquela mídia, somos nós que buscamos o 31 conteúdo desejado e decidimos o que fazer com ele. O que os aparatos tecnológicos proporcionam cada vez mais no mundo contemporâneo é a ampliação do leque de escolha. Mais formas de acesso, mais conteúdo, mais formatos, é diante desse cenário que está se formando o novo olhar nas novas telas. Olhar este aqui atribuído tanto para quem consome quanto para quem produz, uma vez que já não podemos mais fazer distinção entres ambos. Pelo menos da maneira que fazíamos no passado, não podemos mais falar em receptor e interlocutor. A descentralização da produção de conteúdo causa muito mais que um ruído, uma novidade na vida cotidiana, uma nova intervenção que amplia nossas possibilidades e nossas experiências. Se por um lado a tela pequena restringe o tamanho da imagem, ela amplia a experiência. A mobilidade e a imagem digital que agora são completamente possíveis e viáveis, ainda estão no inicio e nem sequer ainda estão incorporados no que conhecemos por Revolução Digital. Ainda em a Cultura da Convergência, Jenkins cita a primeira exibição de um longa- metragem inteiramente disponível para telefones celulares, antes mesmo da implantação da rede 3G. O filme se chama Rok Sako To Rok Lo e ficou disponível para ser assistido na integra no ano de 2004 na India, utilizando a tecnologia EDGE17 via streaming. No Brasil, num movimento aparentemente contrário já foi realizado, com patrocínio da fabricante de aparelhos celulares Nokia, que patrocinou a produção de um reality show totalmente gravado com câmeras de telefones celulares. O programa foi exibido na TV paga através do canal Multishow no segundo semestre de 2007 e se chamou Retrato Celular. A operadora de telefonia móvel Oi é a pioneira no país na produção de conteúdo especifico para ser assistido no aparelho celular. O canal Oi em 2007 produziu a primeira série audiovisual formatada especialmente para ser assistida no telefone celular. A série chamada Parafina já teve três temporadas, além desta série a Oi também disponibiliza para celular as esquetes Humanóides, uma série humorística com episódios independentes e protagonistas caricatos. Em uma entrevista que fiz com Rosane Svartmam, diretora da produtora carioca Raccord, responsável pela produção de parte do conteúdo audiovisual disponível na TV Oi, tive a oportunidade de perguntar como foram pensados conceitualmente os programas. Rosane me explicou que como as esquetes dos 17 Tecnologia digital que melhora a transmissão de dados através da rede de telefonia móvel. Anterior a 3G 32 Humanóides são disponibilizadas por streaming de vídeo isso permitiu que fossem produzidos episódios mais longos, ainda que sempre procurando manter a média mundial de espectador VS tempo no dispositivo que era de três minutos. No caso do seriado Parafina os episódios tem entre vinte e sessenta segundos pois eram feitos através de download de vídeo. Do ponto de vista técnico, não existe nenhuma restrição para que o mesmo conteúdo recebido por aparelhos convencionais seja transmitido aos móveis. Muito pelo contrário, em cidades como São Paulo no qual as pessoas passam uma boa parte do seu tempo dentro de ônibus, carros, metrô e trens, TVs móveis são, sem sombra de dúvida, muito bem-vindas. O que impulsiona a produção de um conteúdo especifico, diz respeito ao formato da tela e ao seu uso. Como é, por exemplo, acompanhar a bola em um jogo de futebol num aparelho celular, como prender a atenção do espectador, o que fazer com textos escritos, estas são questões que só podem ser resolvidas diante de uma nova produção ou de ao menos, uma adaptação de conteúdo. Rosane me disse que em relação a essa adaptação de linguagem houve um cuidado especial na seleção de cenas com poucos planos que tinham movimentos bruscos, pois a maioria dos dispositivos celulares não tem um processador de vídeo potente o suficiente para “tocar” um vídeo com cortes muito rápidos sem “borrar” a tela. A TV OI iniciada em 2007 ainda pela Brasil Telecom, disponibilizou tanto conteúdo especifico quanto o conteúdo adaptado da TV por assinatura, no canal é possível assistir a programação exclusiva de nove canais: CNN, Cartoon Network, Discovery Channel, Discovery Kids, Band, Band News, MTV Brasil, Whoohoo e Sexy TV. O Mercado publicitário também deve repensar novas maneiras de anúncios para TV móveis. Nos Estados Unidos, uma empresa chamada MyScreen criou um modelo para TV Móvel, partindo do princípio que um usuário não está interessado em pagar muito pela programação. Segundo a empresa, o usuário é quem define quais categorias de propaganda direcionada ele está disposto a assistir no seu celular e por quanto tempo. Diante dessas informações, a operadora seleciona os anúncios e "paga" o usuário através de prêmios, descontos em serviços ou bônus de minutos. 33 Atualmente a programação audiovisual que temos disponível na internet, através das webtvs dos grandes portais de informação brasileiros, tais como IG, Terra e Universo Online, é muito semelhante a programação disponibilizada pelas operadoras de telefonia móvel. Esta programação pode ser considerada como uma amostra do que o telespectador encontra na TV por assinatura, pois todos os principais canais pagos disponibilizam através de parcerias programas formatados especialmente para serem assistidos nas TVs dos portais. Warner, Fox e Viacom já estão oferecendo documentários, séries, desenhos, filmes, vídeos musicais entre outros gêneros através das TVs dos portais. A parceria normalmente funciona da seguinte forma: os portais hospedam o conteúdo disponibilizado pelas produtoras e ambas dividem os rendimentos conseguidos através da plataforma de publicidade dos portais. A “plataforma de publicidade” é constituída através banners animados nas páginas que veiculam os programas e de comerciais em vídeo que são veiculados antes do início do programa selecionado. Este modelo de distribuição de conteúdo mostra bem como vem funcionando o consumo midiático na contemporaneidade por enquanto. 34 CAPÍTULO 2 – O MERCADO 2.1 Como o mercado está atendendo o consumidor e cria oportunidades de negócio. Uma vez a tecnologia disponível e acessível é preciso descobrir os rumos que a TV móvel irá tomar para que se sejam criados modelos de negócio eficientes. De maneira resumida, é preciso oferecer a plataforma e o conteúdo que o consumidor quer ver por um preço que ele está disposto a pagar. Numa tentativa de tornar o negócio da televisão móvel viável, as empresas voltam seus olhos para o sucesso dos vídeos na internet que já se tornaram alvo de investimento publicitário graças ao crescimento dos índices de audiência depois da disseminação da banda larga no país, ou seja, começam a gerar receitas significativas. Um estudo de mídia coordenado pelo grupo Meio & Mensagem18 revelou que a internet foi a mídia que mais cresceu em faturamento publicitário nos primeiros quatro meses de 2009 em comparação com o mesmo período do ano passado, 25,6%. A televisão aberta, maior faturamento publicitário entre todas as mídias, teve um crescimento de apenas 6 %. Em relação a TV no celular, nada está definido ainda, mas se o caminho a se percorrer for procurar nos vídeos on-line receitas de sucesso, já temos algumas pistas dos próximos passos como, por exemplo, a preferência do consumidor por conteúdo grátis e sob demanda. Um estudo realizado pela empresa TNS19, o GTI 2009 – Global Telecoms Insights revelou que 70% dos usuários brasileiros das classes B e C e 57% da classe A expressaram o desejo de assistir TV pelo celular. Claro que diferentes conteúdos, pagos ou gratuitos podem coexistir – mas o que ainda não existe é a massificação do hábito de assistir vídeos na tela desses pequenos aparelhos portáteis. As empresas buscam um modelo ideal para criar este costume no seu consumidor, e a TV móvel aberta digital pode ser o primeiro passo para que isso se concretize. Renato Ciuchini, diretor de planejamento e novos 18 Grupo formado pelas empresas: Editora M&M, que atua no ramo editorial, responsável pela revista Meio Digital e Meio e Mensagem além de editar anuários, relatórios especiais e serviços on-line disponíveis na internet; e M&M Eventos que promove seminários, congressos e feiras, ambas as empresas atuam no setor de comunicação de marketing 19 Empresa multinacional de pesquisa de consumo e mercado. 35 negócios da TIM, defendeu no mesmo encontro que é com base nos dados do IBOPE de que 70% dos assinantes de TV fechadas assistem também a TV aberta, e apostando em diversidade de conteúdo é que estão sendo moldados os negócios da empresa. Para que o consumidor tenha a mesma experiência que encontra na internet em seu celular, a publicidade precisa suportar os conteúdos para que os mesmos possam chegar sem custo extra ao usuário, já que ele ou paga uma conta mensal ou compra créditos para falar ao telefone. Leonardo Tristão, diretor de desenvolvimento de negócios do Google, diz que busca patrocinada pode alavancar os negócios no celular e que o Google já tem 40% de sua receita vindo através da internet móvel, o que aponta para a possibilidade de que as apostas em mobilidade realmente se tornem um negócio rentável. No 8º encontro Tela Viva Móvel20 realizado em 2009, uma das principais constatações foi que atualmente os grandes portais têm disponibilizado vídeos para serem visualizados no celular, principalmente para usuários de IPhone21. Os portais IG, UOL e Terra têm de alguma maneira, disponibilizado conteúdo audiovisual específico para aparelhos celulares capazes de reproduzi-los. Segundo Ricardo Ferro, gerente de mobile do IG, a principal diferença entre o conteúdo on-line para o específico para ser visto nos celulares é a maneira como são feitos os destaques da programação. Por enquanto somente os vídeos mais populares estão disponíveis em formatos compatíveis com dispositivos móveis. A demanda para justificar este tipo de ação é clara, hoje se sabe que o usuário de Iphone navega no portal feito para celulares do Terra cinco vezes mais do que outro usuário, explicou Elisa Calvo, responsável pela área de mobile do Terra no 8º Tela Viva Móvel. Essa constatação é facilmente explicada, pois o telefone celular da Apple possibilita que qualquer pessoa que saiba navegar na web possa assistir uma programação visual sem ter que instalar nenhum outro software adicional ou até mesmo “hackear”22 o dispositivo. O canal de esportes ESPN lançou no segundo semestre de 2008 um portal específico para usuários Iphone com vídeos com média de um a três minutos 20 Evento promovido pela empresa Converge Comunicações que apresenta palestras e debates sobre o mercado de telefonia móvel. 21 Telefone celular desenvolvido pela multinacional Apple, empresa da área de informática e equipamentos eletrônicos, que agrega funções como tocador de música, câmera digital, navegador de internet, conexão sem fio a redes e que dispõe de uma tela sensível ao toque. 22 Ato de modificar programas de computador para burlar chaves de segurança ou implementar novas funcionalidades a dispositivos tecnológicos. 36 de duração editados especialmente para esta nova plataforma. Essa medida faz parte de um conjunto de ações do canal que aposta no conceito multimídia para levar sua programação ao usuário onde quer que ele esteja como rádio, portal WAP23 e a mobile TV. O UOL tem feito versões de dois minutos de vídeos de sua programação, subdivididos em entretenimento, notícias e esportes, para os celulares. O portal aposta em agilidade na atualização desse material para manter seu consumidor sempre com conteúdo “fresco”. Segundo o próprio site do congresso, o portal UOL passou de 300 mil páginas visitadas em janeiro de 2008 para 7 milhões em 2009 através de dispositivos móveis, um crescimento enorme em apenas um ano. No início de 2009 durante o Mobile World Congress24 realizado em Barcelona, um ponto foi unânime entre as empresas do setor, a questão da mobilidade. Apresentando números que mostravam que já existem 4 bilhões de conexões móveis no mundo, as empresas através de diversas ações pretendem reforçar no usuário idéias de um estilo de vida móvel oferecendo diversos serviços que agreguem valor a vida do usuário. A televisão em muitas casas é uma mídia coletiva e quando a TV digital estiver totalmente implantada e dispondo de interatividade, diversos serviços na própria tela estarão disponíveis para os usuários. Isso levanta uma questão que deve ser pensada, pois abre uma outra oportunidade para a mídia móvel. Quando, por exemplo, uma família estiver assistindo a uma mini-série e uma opção de interatividade estiver disponível e for de interesse de um dos membros da família, este vai querer buscar mais informações reduzindo o tamanho da tela para os outros que acompanham o programa. Este tipo de atitude deve gerar descontentamentos, pois as informações agregadas podem não fazer parte do que as pessoas estavam desejando, que era somente assistir o programa, sem qualquer tipo de distúrbio. Nessa hora pensamos na TV digital móvel como uma solução para esse tipo de questão, pois ela é uma mídia propícia para ser consumida individualmente e a pessoa interessada no detalhe interativo não irá incomodar os outros com obstruções de imagem na tela. Penso que está característica tão inovadora será muito difundida nos dispositivos móveis trazendo benefícios para os diferentes setores que estarão envolvidos com a produção, veiculação e canal de retorno da TV móvel digital. 23 24 Protocolo de aplicações sem fio que visa prover acesso à internet através de telefones celulares. Feira e congresso da a área de telefonia móvel que reúne empresas do setor. 37 2.2 A Tecnologia Move o Mercado No Brasil irão coexistir pelo menos dois modelos de TV móvel broadcast que não utilizam a rede das operadoras de telefonia móvel, a já em operação TV digital móvel aberta e a TV digital móvel por assinatura, é nesta última que ainda não houve uma clara definição de qual tecnologia será adotada. Atualmente existem três tecnologias: DVB-H, DMB25 e MediaFlo26. No âmbito mundial, as duas primeiras são as que mais estão disputando mercado e por aqui a DVB-H sai na frente através de grupos empresariais que já realizam testes de transmissão utilizando a tecnologia. O principal motivo para que seja adotado outro modo de transmissão, fora das redes 3G de telefonia, é que esta ficaria sobrecarregada em pouco tempo se um grande número de usuários ampliasse o hábito de assistir TV no modelo broadcast em seus dispositivos móveis. A intenção das empresas é que a rede de telefonia sirva para transmissões no modelo unicast e a programação broadcast seja transmitida por outro tipo de tecnologia como por exemplo a DVB-H. Porém, todos estes modos de transmissão precisam trafegar em algum espectro de freqüência e é neste momento que surge uma questão que já está sendo bastante discutida e que ainda vai gerar muita polêmica entre operadoras de telefonia móvel e emissoras de TV aqui no Brasil. Qual tecnologia vai utilizar determinado espectro de frequência? Por exemplo, a faixa de frequência de 700 Mhz27, que atualmente é destinada às emissoras de TV aberta e que em 2016, quando a TV digital estiver totalmente implantada deverá ser devolvida à ANATEL, que por sua vez ainda estuda o que vai fazer com ela. Uma das disputas começa aqui, pois as emissoras não querem ceder a faixa de freqüência para as operadoras de telefonia móvel que pensam em utilizá-la para a implantação da quarta geração da rede de telefonia móvel, a 4G. Nesta nova rede, as operadoras pretendem ampliar a oferta de TV móvel por assinatura e o serviço de acesso à internet através de dispositivos móveis que segundo Luís Otavio Marcondes, diretor de assuntos regulatórios da operadora Claro já em 2012, em grandes centros como a cidade de São Paulo, já irá apresentar sinais de sobrecarga causando lentidão na rede, pois a 25 Tecnologia de transmissão digital de TV, rádio e dados para dispositivos móveis desenvolvida na Coréia. É a versão móvel da TV digital coreana. 26 Tecnologia de transmissão digital de TV para dispositivos móveis desenvolvida pela empresa norteamericana Qualcomm. 27 Faixa de freqüência que vem sendo utilizada pelas emissoras de TV para propagação de programação televisiva aberta. 38 previsão indica que até lá já sejam 8,6 milhões de usuários. Atualmente a rede 3G, segundo dados da ANATEL, já conta com 4 milhões de usuários. Outra opção para a 4G seria ser “instalada” na faixa de 2,5GHZ pois segundo Ricardo Tavares, vicepresidente de políticas públicas da GSMA28 (Global System for Mobile Communications) as operadoras não poderiam esperar até o prazo máximo da implantação da TV digital para lançar a quarta geração da telefonia móvel. O detalhe é que a banda de 2,5GHZ atualmente é ocupada por empresas de TV por assinatura que também a utilizam para fornecer acesso à internet, Ricardo completa que as operadoras de telefonia gostariam de dividir o espaço na faixa de 2,5Ghz com as empresas de TV por assinatura. Uma terceira opção específica para a TV móvel é destinar algumas faixas de freqüência UHF29 para as operadoras de telefonia móvel, este espaço no espectro foi destinado nos anos 80 para um sistema de TV por assinatura que ofereceria somente um canal e que acabou não vingando. No Rio de Janeiro a empresa Nova Comunicação e Radiodifusão que detém a licença deste serviço especial de TV por assinatura foi comprada pela Participe TV, este grupo já está negociando a compra de outras empresas que também possuem as licenças do serviço em diversas cidades brasileiras para poder implementar o serviço de TV móvel por assinatura. No caso da Participe TV o modelo de transmissão escolhido foi DVB-H, versão móvel da TV digital européia. No âmbito da computação e das telecomunicações, o paradigma da mobilidade está consubstanciado em todas as situações em que indivíduos compartilham infra-estrutura de rede, seja pública ou privada, para comunicação de voz e dados por meio de dispositivos portáteis e sem fio a partir de qualquer lugar (NURVITADHI, 2002 apud MOURA FÉ, 2008, p.63) O grupo Nokia Siemens Networks30 defende que o modelo DVB-H é o que melhor serve para transmitir programação ao vivo e para um grande número de usuários simultaneamente, é o mais difundido em escala global, permitindo que o custo dos aparelhos receptores seja mais baixo, e oferecendo uma maior 28 Entidade que defende os interesses da indústria de comunicação móvel no mundo. Faixa de freqüências entre 300MHz e 3GHz utilizada para a propagação de sinais de televisão, rádio, transceptores e telefonia celular. 30 Empresa resultante da junção do braço Siemens Communications da empresa alemã Siemens AG com o braço Nokia’s Network Business Group da finlandesa Nokia que oferecem soluções para empresas de telecomunicações em aproximadamente duzentos países. 39 29 capacidade de transmissão de diferentes sinais (canais de TV) em um único espaço de largura de banda. As operadoras de telefonia móvel argumentam que precisam de mais espaço para poder oferecer um serviço de maior qualidade e que atenda os anseios dos usuários, fica claro que para isso ela precisa comprar duas grandes brigas, com as emissoras de TV aberta e TV por assinatura a não ser que elas trabalhem em algum sistema de parceria. O ideal seria que a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) mediasse estas discussões para fazer valer o que for melhor para nós consumidores sem se deixar levar por interesses comerciais de um ou outro segmento de mídia de massa Parece certo que a TV móvel, em todas as suas modalidades, irá fazer parte do nosso cotidiano no futuro próximo, porém, por que nenhum dos modelos já disponíveis há algum tempo ainda não deslanchou? A jornalista Christina Dinne, responsável pelo blog da fabricante finlandesa de telefones celulares Nokia, aponta para a falta de um modelo de negócio claro, poucos aparelhos disponíveis a um custo acessível, a briga por direitos de transmissão e a disputa entre as várias tecnologias disponíveis como principais fatores que estão colaborando para o atraso. No caso da TV aberta digital móvel, mesmo se não for autorizada a multiprogramação e ela realmente estacionar no papel de “espelho” das emissoras, uma questão é concreta, a já alta penetração da programação televisiva irá aumentar e isso agrega mais valor ao meio. Octávio Florisbal, diretor-geral da TV Globo acredita que em 5 anos o número de telefones celulares que recebam TV aberta chegue a 60 milhões. Até agora o que mais vem atrapalhando a difusão da TV aberta móvel é o preço dos aparelhos, diferentemente das outras tecnologias, ela não gera nenhuma receita para as operadoras de telefonia móvel e por isso estes aparelhos não costumam receber subsídios para facilitar a compra. 2.3 Quem é o Usuário e Quem é o Consumidor Durante o desenvolvimento da chamada cultura digital o mercado vem junto estabelecendo uma relação bastante complexa com o consumidor. Há momentos 40 em que um fomenta o outro inventando juntos a nova comunicação, em outros, é o usuário quem indica o caminho e ainda quando uma nova plataforma é disponibilizada comercialmente é ele quem garante ou não o sucesso do processo. Esta relação cíclica e contínua de criação e aprimoramento vai deixando para trás a comunicação de massa calcada na ausência de feedback. A partir deste ponto, estamos diante da comunicação do indivíduo, sujeito da própria história, desenvolvedor de conteúdo, comunicador, ora seguindo o mercado, ora criando tendência. Nesse sentido, é difícil estabelecer um limite claro entre quem é usuário, consumidor e detentor dos meios. A respeito desse processo Henry Jenkins elucida que a convergência é tanto um processo coorporativo como um processo de consumidor. Segundo ele, empresas de mídia procuram disponibilizar seu conteúdo de maneira cada vez mais rápida em um número cada vez maior de plataformas ao mesmo tempo atingindo cada vez mais pessoas, isto é, ampliando seus mercados (JENKINS, 2008, p. 44). Ainda, citando Ithiel De Sola Pool31, Jenkins (2008, p.36) entende que o surgimento de novas tecnologias midiáticas possibilitaram a fluidez de um conteúdo para vários canais em diferentes formas. O que nada mais é do que a digitalização. Segundo o autor, ainda na década de 1980 o surgimento de novos padrões de propriedade cruzada de meios de comunicação, no que ele denomina como primeira fase de um longo processo de concentração desses meios, já se desenhava um desejo das empresas de abandonar o uso de um único suporte midiático para distribuir conteúdos para diversas mídias. “A digitalização estabeleceu as condições para a convergência.” (JENKINS, 2008 p. 36). Para elucidar estes dois últimos conceitos cito Claudio Prado, Francisco Caminati e Thiago Novaes. Entendemos por digitalização o processo de captura de qualquer tipo de documento, como textos, imagens e áudios, para permitir o gerenciamento e acesso facilitado a essas informações através de recursos da informática. Além disso, essa passagem garante a reprodutibilidade das obras sem perda de qualidade e representa o elemento técnico que possibilita a universalização dos acessos antes extremamente limitados e controlados (PRADO, CAMINATI e NOVAES, 2005, p. 28) 31 Pesquisador norte-americano, já falecido, que liderou pesquisas sobre tecnologias e seus efeitos na sociedade. Foi Pool quem cunhou o termo convergência para descrever os efeitos das grandes inovações tecnológicas na sociedade e na indústria midiática. 41 Um ambiente midiático digitalizado proporciona uma oportunidade para que os usuários tenham um controle maior sobre o fluxo da mídia e interagindo com outros consumidores tem mais possibilidades tanto para se apropriar de um determinado conteúdo como para compartilhá-lo. Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadologicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2008, p.27) Neste estudo o termo convergência refere-se muito mais ao processo pelo qual o conteúdo midiático está passando isto é, o seu “espalhamento” entre plataformas anteriormente distintas mas que agora são capazes de receber o mesmo material; tal processo tem inúmeras implicações no comportamento dos usuários, sendo que em muitos momentos é a partir deles que tais processos ocorrem no mercado. A convergência representa uma mudança no modo como encaramos nossas relações com as mídias. Estamos realizando essa mudança primeiro por meio de nossas relações com a cultura, mas as habilidades que adquirimos nessa brincadeira têm implicações no modo como aprendemos, trabalhamos, participamos do processo político e nos conectamos com pessoas de outras partes do mundo. (JENKINS, 2008 p. 49). Ana Lúcia Damasceno Moura Fé citando Eduardo Campos Pellanda complementa dizendo que este é um “fenômeno em pleno desenvolvimento e cujas definições, portanto, ainda carecem de amadurecimento, a convergência se dá, segundo Pellanda (2006, p. 2) “quando em um mesmo ambiente estão presentes elementos da linguagem de duas ou mais mídias interligados pelo conteúdo”. Ou seja, a convergência promove uma mistura das linguagens originais de mídias convencionais, como rádio ou televisão, levando a Internet e todas as três matrizes lógicas da linguagem e pensamento para dentro dos dispositivos miniaturizados, 42 como celular e PDA32s. Conforme explica Santaella (2005, p. 20), tais matrizes não abrangem apenas as linguagens verbal, visual e sonora, mas todos os seus cruzamentos, desdobramentos e hibridismos que configuram a nova linguagem da rede mundial, denominada hipermídia.(MOURA FÉ, 2008, p. 54). Rosamary Tan, diretora de mobile entertainment, da Sony Pictures explica que a empresa entende que o celular é uma tela igual a qualquer outra como a televisão, o computador e o cinema. Rosamary deixa claro que a empresa está muito focada na interação que o usuário pode ter com todas as telas, e é por isso que eles estão desenvolvendo conteúdos multi-plataforma. Portanto qual é a tela e por qual plataforma já não é mais uma questão central e sim como, isto é, de qual maneira o conteúdo transita isto é, o foco está justamente neste trânsito. Nessa tendência de mercado divergente a respeito das telas cada vez maiores para uso dentro de casa, e cada vez menores para carregar no bolso, o ponto que permanece comum é o conteúdo que estará fluindo entre todas as telas. 2.4 Novos Negócios – Tendências e Possibilidades Segundo Tommy Eomiahonen autor do livro “Mobile As 7 th of the mass media: Cellphone, cameraphone, Iphone, smartphone.” Nós estamos começando a ver sinais de que o telefone celular é o centro da convergência entre o mundo virtual e o físico (EOMIAHONEN, 2008, p.27). Em uma reportagem do dia 05 de julho de 2009, publicada no Jornal Folha de São Paulo foi apontado um comportamento por parte do usuário brasileiro praticamente ignorado pelo mercado local. Segundo a matéria, o consumidor de baixa renda de grandes cidades brasileiras é cada vez mais adepto do uso de aparelhos celulares contrabandeados da China, com múltiplas funções e baixo custo atraídos principalmente pela possibilidade de assistir TV analógica. Como foi citado no primeiro capítulo, a qualidade da recepção de imagem destes “mpx” é bem inferior se comparada ao da transmissão digital, mas preços reduzidos e as longas distâncias percorridas entre a casa e o trabalho vem tornando-os cada vez mais 32 Sigla que em inglês significa Personal Digital Assistent, o PDA é considerado um computador de mão, dotado de funções como agenda e editor de textos e planilhas também podem se conectar a internet através de redes sem fio. 43 populares nas mão de trabalhadores brasileiros. Diante desse quadro, a EUTV é uma das empresas interessadas em oficializar esse mercado trazendo para o Brasil celulares feitos na China com TV analógica, produto que não tem concorrentes similares produzidos pelas grandes marcas. Um modelo produzido pela chinesa ETechco, está sendo comercializado por 599 reais mas, nas lojas de produtos contrabandeados pode ser encontrado por um preço até 50% menor. Quando Jenkins prevê que haverá mídias em todos os lugares, talvez não estivesse certo que ela (a mídia) seria portátil, assim, seria mais correto dizer que carregaremos a mídia para todos os lugares. Está claro que a convergência entre mídias é uma tendência bastante importante no mercado como diretriz para o lançamento de novos produtos, tanto de hardwares como programas midiáticos. Atualmente não é exagero afirmar que todo programa de televisão dos canais abertos brasileiros tem espaço garantido em sites oficiais na internet e possivelmente comunidades colaborativas não oficiais. A convergência atinge inclusive o desenvolvimento de produtos que integram oficialmente mídias diferentes, um exemplo disso é o recente lançamento da empresa LG que colocou no mercado um player blue-ray33 que acessa o portal de vídeos Youtube. Se do ponto de vista da popularidade o Youtube é um fenômeno em números de usuários, a empresa fundada em fevereiro de 2005 e adquirida pelo Google em 2006, por 1,65 bilhões de dólares, em termos comerciais ainda não gera lucro pois o gasto com investimentos em softwares, tráfego de dados e servidores é maior do que o que o faturamento com parcerias comerciais e links patrocinados. Segundo o analista de mercados da Credit Suisse34 Spencer Wang, estima-se que o investimento necessário para manter o site funcionando seja de 332 milhões de dólares por ano, enquanto que as receitas não passam de 241 milhões de dólares. Com números astronômicos de visitantes e de vídeos disponíveis, o Google que no ano passado obteve um lucro de 4,2 bilhões de dólares, pode continuar investindo no site até que a verba gerada com o portal passe a dar lucro. Parcerias como esta, entre a LG e o Youtube, mostram que cada vez mais o conteúdo visto na web migra para outras mídias, seja na sala de nossas casas, para nossos bolsos ou de qualquer outro tipo. Do ponto de vista comercial, colocar o conteúdo do Youtube nos 33 Tecnologia que está substituindo o DVD como mídia para reprodução, distribuição e armazenamento de dados e mídias. 34 Banco de investimentos que atua na área de gestão de recursos de terceiros. 44 televisores é um ótimo negócio para o portal, pois a publicidade inserida na internet custa menos do que a veiculada na TV. Deste modo, quando todos os lares tiverem acesso à internet nas TVs, o preço dos anúncios no Youtube poderá ser bem mais alto e possivelmente ele não dê mais prejuízo. Em meados de 2009 o website aldeiaviral.com.br elaborado para a empresa Oi é outro exemplo dessa convergência de mídias. No site o conteúdo de áudio e vídeo é enviado pelo internauta via web ou celular. Este material uma vez recebido e publicado no website pode ter desdobramentos no canal Oi de TV por assinatura e nos celulares dos assinantes da operadora. Comprovando que ações onde os conteúdos fluem entre as diferentes plataformas é uma aposta do mercado que segue o comportamento introduzido pelo usuário que muitas vezes grava o conteúdo da TV aberta, o disponibiliza na internet e também carrega consigo em seu telefone celular ou em num outro dispositivo móvel. 2.5 Conteúdo Gerado por Usuários Retomo agora um assunto apresentado no primeiro capitulo da dissertação, no qual descrevo todas as modalidades de transmissão unicast e apresento dados que mostram que todas as operadoras oferecem espaço para a disseminação de conteúdo criado pelo usuário. Fica explícito que no atual contexto o usuário produtor e as operadoras de telefonia vêm desenvolvendo uma parceria que visa garantir a satisfação mútua. Este modelo de negócio é muito lucrativo para as empresas, pois a remuneração feita ao usuário/produtor na maioria das vezes é realizada em créditos de minutos e os valores pagos e cobrados têm diferenças discrepantes. O usuário que quiser baixar um vídeo paga em média três reais por vídeo baixado, mesmo preço dos vídeos profissionais produzidos por grandes empresas de telecomunicação, e o usuário “dono” do vídeo só recebe dez centavos de real por cada download que fizerem do vídeo postado por ele. Mesmo assim é interessante perecer que o espaço cedido ao usuário é bastante significativo e como estes vídeos amadores têm um enorme apelo comercial. 45 A convergência exige que as empresas midiáticas repensem antigas suposições sobre o que significa consumir mídias, suposições que moldam tanto decisões de programação quanto de marketing. Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos... Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos. (JENKINS, 2008 p. 45) Essa característica da convergência de mídias, em trabalhar com conteúdos colaborativos, foi pauta durante o 100 Fórum Brasil35 – Mercado Internacional de Televisão. Adriana Alcântara, gerente de conteúdo da TV Oi argumentou que o conteúdo desenvolvido para celular e internet ainda não dá retorno financeiro e que trabalhar com conteúdo colaborativo e de baixo custo é uma opção sensata no momento atual. Este direcionamento do mercado é muito perceptível quando verificamos a pesquisa apresentada no guia Net Size Guide36 pela empresa comScore M:Metrics37 que mostra que nos EUA os vídeos amadores ocupam a primeira colocação em consumo de vídeos on demand, deixando para trás na sequência: video clipes musicais, esquetes de comédia, trailers dos lançamentos do cinema, programas completos de TV, programas jornalísticos, programas de entretenimento, programas de esporte, destaques da programação de TV e por último previsão do tempo. As empresas de telefonia se enquadram no que Henry Jenkins chama de corporações que adotaram o termo “participação”, elas imaginam a participação como algo que podem iniciar e parar, canalizar e redirecionar, transformar em mercadoria e vender.(JENKINS, 2008 p.228). O conteúdo produzido por usuários disponível na web e acessível através de telefones celulares tem uma aceitação e um poder de venda muito grande, recentemente foram disponibilizados serviços e aplicativos para que qualquer pessoa com um telefone que faça vídeos e que esteja conectado à internet possa transmitir em tempo real vídeos para portais específicos na internet, nos mesmos 35 Fórum de debates sobre o mercado internacional de televisão que reúne executivos de Televisão, produtores independentes, operadores de cabo e Telecom, distribuidores de conteúdo, jornalistas, consultores e acadêmicos. 36 Pesquisa anual que verifica como está se desenvolvendo globalmente as questões relacionadas a conteúdos para dispositivos móveis e serviços oferecidos pelas empresas do setor. 37 comScore é a empresa líder em medição de audiência relacionada a mídias digitais que também atua com planejamento de estratégias de marketing digital. Em 28 de Maio de 2008 a comScore comprou a empresa M:Metrics que também atuava no mesmo segmento. 46 moldes do JustinTV só que com a mobilidade oferecida pelo telefone celular. Imagine que já podemos ir a um show e transmitir todo o evento para pessoas que não estão tendo a oportunidade de estar pessoalmente no evento. Este tipo de serviço preocupa até o portal Youtube que enxerga que pode perder espaço se não começar a oferecer um serviço semelhante. Além de assistir cada vez mais vídeos no celular as pessoas também se beneficiam da mobilidade que o dispositivo oferece e estão produzindo e disponibilizando cada vez mais conteúdo. Assim que foi lançado, o Iphone 3G que permite gravar, editar e postar vídeos no Youtube fez aumentar em 400% o número de vídeos postados com o dispositivo da Apple, e se olháramos um pouco mais para trás, nos últimos seis meses, a quantidade de vídeos postados no Youtube através de telefones celulares aumentou em 1700%. Segundo os executivos do Google este crescimento é representado por três fatores simultâneos: o crescimento da oferta de telefones celulares aptos a realizar gravações em vídeo, melhorias no fluxo de upload para postar vídeos no Youtube através de telefones celulares e um mecanismo que permite que os usuários facilmente distribuam o vídeo postado no Youtube em diversas redes sócias disponíveis na internet. Esta facilidade em poder gravar, editar e postar vídeos através de telefones celulares, principalmente utilizando o Iphone causa certa preocupação em alguns jornalistas norte-americanos, pois os recursos que o dispositivo proporciona possibilitam que usuários cubram qualquer acontecimento em questão de segundos, editem um vídeo e o postem em algum portal de vídeo na internet. Esse tipo de preocupação reflete a incerteza no modo como as emissoras pensam em competir com o conteúdo audiovisual disponível na internet e por consequência também com o usuário que produz conteúdo. Analisando a história recente podemos chegar a conclusão de que haverá espaço para todos e os profissionais do meio sempre terão seu espaço, a disseminação da tecnologia está mais rápida e barata porém ela ainda chega nas mãos dos especialistas antes. É possível ver que se os grandes conglomerados das mídias souberem explorar bem a tecnologia, somente mais oportunidades irão surgir para elas e com certeza estarão fazendo parte cada vez mais parte do cotidiano das gerações futuras. Outro método que foi apropriado da produção de vídeos amadores pelas empresas, são os vídeos virais. Uma definição clara do são estes vídeos está 47 implícita no nome, eles se espalham como um vírus, através de links em blogs, anexos em e-mails, posts no Youtube e através de boca-a-boca. São inúmeros casos de vídeos amadores que se espalharam pelo mundo e alcançaram números de acesso impressionantes, como o vídeo em que dois homens misturam balas mento’s e refrigerante coca-cola diet e a reação química da mistura dos dois produtos gera uma espuma. As empresas buscando ganhar este tipo de penetração e espalhar sua marca e seus conceitos gratuitamente tentam “emplacar” vídeos que transitem em diversas mídias. Segundo Garret LoPorto, consultor criativo sênior da ONG True Majority Action38 que fez um vídeo viral com o objetivo de aumentar a participação do eleitor norte-americano na eleição presidencial de 2004, a essência de um vídeo viral é levar a idéia certa às mãos certas na hora certa. Segundo ele, um vídeo tem chances de se tornar viral quando a idéia que você quer passar se aproxima do que as pessoas já conhecem e acreditam. Os modelos de negócio puramente suportados na publicidade com veiculação de produtos grátis estão completamente sujeitos as intempéries da economia mundial. As empresas de comunicação preferem acreditar que os modelos de conteúdo disponibilizados com exclusividade para assinantes são mais seguros e viáveis. No Brasil, a TV aberta tem 60% da verba destinada à publicidade e não quer perder nem 1% dessa porcentagem. Assim sendo, a internet e o celular precisam demonstrar muita força para conquistar o anunciante e garantir sua parte do mercado publicitário, porém uma pesquisa também apresentada no congresso TV 2.0 acalmou as grandes emissoras de TV, desmistificando a substituição do uso da TV pela internet para assistir vídeos, pelo menos por enquanto. Essa pesquisa traz dados das transmissões da última olimpíada respondidas por espectadores on-line que aferiu que 50 % estavam assistindo o conteúdo na internet pois não haviam conseguido assistir na TV, 40% queriam rever algum conteúdo que tinham visto na TV e 2% utilizou somente a internet para acompanhar as olimpíadas 38 Organização não governamental norte-americana criada com o intuito de fortalecer os direitos dos cidadãos que acreditam em justiça social, proteção do meio ambiente e que querem que os EUA trabalhe em cooperação com o restante do mundo. 48 2.6 Produção de Conteúdo Audiovisual No momento presenciamos o desenvolvimento de um esboço do que será a TV móvel no Brasil. Ao que tudo indica, as operadoras de celular devem entrar no negócio da produção audiovisual. A operadora Claro promoveu o festival “Claro Curtas” e criou um serviço de vídeo streaming no modelo unicast, “Minha TV” cujo conteúdo pode ser acessado através de uma assinatura mensal que custa 10 reais. Em outro produto da mesma operadora, o “Idéias TV” a programação é exibida em tempo real. A OI investe na seleção de conteúdo criado entre produtoras brasileiras para que possam ser exibidos nas plataformas de internet, telefone móvel e TV por assinatura, os conteúdos buscam principalmente atingir o público jovem, como é o caso das esquetes desenvolvidas para celular, Humanóides. No último Mip TV39, ocorrido entre os meses de Março e Abril deste ano em Cannes, na França, a distribuição de conteúdo em múltiplas plataformas foi tema nas discussões entre produtoras e exibidoras. Segundo a revista Tela Viva do mês de Abril de 2009, o discurso geral do encontro deixava claro que o conteúdo on-line não é uma ameaça para os negócios de televisão; as discussões são, de maneira geral para descobrir como usá-lo para impulsionar a audiência televisiva. A realidade atual, os vídeos on line em sua imensa maioria não geram receita, mas as empresas acreditam que este jogo tende a virar. Joe Michaels, diretor de desenvolvimento da MSN40, declarou no encontro que o que falta para o vídeo on-line se tornar fonte de lucros no mundo dos negócios é uma ação que crie novos paradigmas, segundo ele falta uma aposta expressiva como por exemplo, uma agência que investisse a metade de sua verba pra publicidade em novas mídia. Um tanto quanto pessimista Vinton Gray Cerf, engenheiro que criou o protocolo TCP/IP41, e que atualmente trabalha para o Google, em entrevista concedida a revista Meio Digital prevê que o modelo broadcast de TV que conhecemos hoje passará a deixar de fazer sentido. 39 Evento realizado em Cannes na França, voltado ao comercio, financiamento e distribuição de conteúdos audiovisuais. Ao mesmo tempo em que ocorre a feira, debates e palestras tratam de assuntos relacionados a mercado global TV e mídias digitais. 40 Conglomerado de sites e serviços disponibilizados pela desenvolvedora de programas de computador Microsoft. Seu principal produto é o comunicador instantâneo Messenger. 41 Grupo de protocolos de comunicação entre computadores em rede. A sigla é a junção TCP (Transmission Control Protocol - Protocolo de Controle de Transmissão) e o IP (Internet Protocol - Protocolo de Internet). Sucintamente o protocolo TCP/IP é responsável por pemitir que várias pequenas se conectem formando uma grande rede, que é hoje a internet. 49 Ele argumenta que este modelo só servirá para a programação transmitida ao vivo e explica que com a constante ampliação da velocidade de transmissão de dados através da internet, possibilitará que tenhamos, por exemplo, um vídeo do Youtube totalmente baixado e salvo em nossos dispositivos antes mesmo de termos conseguido assistir ele ao vivo enquanto o baixamos. Vinton termina dizendo que o modelo atual de grade de programação e o horário nobre da TV tende a desaparecer, pois as pessoas já não precisaram mais estar na frente do aparelho na hora em que a emissora quiser para assistir a programação. Ao contrário da declaração da executiva da OI citada anteriormente, Alberto Magno, presidente da M1nd Lab, empresa desenvolvedora de tecnologia e soluções para a indústria TV móvel, espera aumentar em mais de 200% o faturamento de 2009 em relação ao ano anterior. Ele declarou também para a revista Tela Viva em março deste ano que está nos planos da empresa alterar o modelo de negócios vigente na TV Móvel brasileira que, segundo a visão da M1nd, deve deixar de ser bancado quase que unicamente por assinantes e passar a ser sustentado por publicidade sendo oferecido de graça para os usuários. Eles criaram uma solução para inserir vinhetas comercias com duração de 5 segundos para serem exibidas durante o tempo que o player necessita para mudar de canal. A empresa também declara apostar na disponibilização de conteúdo sob demanda. A TIM no Brasil após disponibilizar gratuitamente para 4,3 milhões de usuários selecionados conteúdo de vídeo gratuito passou a oferecer pacotes com assinaturas semanais que custam entre R$ 1,99 a R$ 9,99. A empresa declara ter hoje aproximadamente 200 mil assinantes em planos pra TV móvel que são disponibilizados por 30 minutos, 120 minutos ou 24 horas. 50 CAPÍTULO 03 - O USUÁRIO 3.1 A força da TV, o meio consagrado O pesquisador Walter Teixeira Lima Júnior, em seu artigo para o livro “Televisão Digital: desafios para a comunicação” da COMPÓS 2009 lembra que a junção de áudio e vídeo foi somente o primeiro grande impacto cognitivo causado pela televisão, com a adição do controle remoto o tato também foi ativado. Foram exatamente essas possibilidades sensoriais inerentes a este meio que a tornou o principal meio convergente de representação da realidade por tanto tempo: A tecnologia embutida no televisor (televisão), artefato com grande impacto cognitivo, é uma tecnologia convergente, apesar desse termo ser exclusivamente empregado nas tecnologias digitais. A televisão é um meio convergente da realidade. A tese Clash of the Titans: Impact of Convergence and Divergence on Digital Media, defendida no Massachusetts Institute of Technology (MIT) por Willian Che-Leong, revela que a convergência de dados existe em dois níveis: convergências de mídias e de domínio. Há convergência de mídias, quando a luz, o som, e o movimento formam-se em mídia (vídeo, áudio, imagem, texto). Todos esses elementos estão na mídia televisão. É essa convergência que fornece a “força” que a televisão tem na sociedade atual. Willian Che-Leong, menciona também a convergência de domínio, que é a mais citada, geralmente, somente com o termo convergência, pois é a conversão entre domínio analógico (freqüência e físico) e domínio digital (bits), que possibilitou um novo patamar de produção e distribuição de conteúdo informativo, pois estrutura os novos modelos de construção da representação da realidade (LIMA JUNIOR; PEPE, 2008 apud LIMA JUNIOR, 2009, p.369). Walter conclui que as características da TV analógica que a fazem ser a representação da realidade ganham força na sua versão digital com a melhora da qualidade de imagem e som e alguns recursos de interatividade. Resta saber qual será o peso da mobilidade. O sociólogo francês Dominique Wolton é rápido ao responder qual a força da televisão? “Seu sucesso popular” (WOLTON, 2007, p. 62). Em seu estudo “Internet e depois? Uma teoria crítica das novas mídias”, o autor entende que seu sucesso popular se dá muito por causa do conteúdo generalista e que a TV ao longo de mais de 50 anos de história nunca se aproximou muito das elites culturais. Segundo ele o 51 caráter essencialmente popular da televisão sempre foi entendido como uma ameaça às classes dominantes que temiam perder sua hierarquia cultural. Assim, a TV não era vista por eles como uma oportunidade de disseminação da cultura de massa e sim de uma espécie de enfraquecedor cultural que nivela todas as coisas por baixo. Mais adiante, em sua reflexão sobre o valor social das novas tecnologias ele complementa: O sucesso, no entanto, é inegável há cinqüenta anos: o surgimento do cabo, seguido dos canais temáticos, não colocou em questão a economia geral da televisão que se divide em três partes desiguais: uma maioria para a televisão generalista, os serviços a cabo, a multimídia. De todas as maneiras a televisão fascina, pois ela ajuda milhões de indivíduos a viver, se distrair, e compreender o mundo. (WOLTON, 2000, p. 62) Da natureza da televisão, algumas propriedades podem se alterar na sua versão de bolso. Será que iremos optar por uma programação generalista e popular? Será que iremos acompanhar as novelas no aparelho celular, por exemplo? A TV móvel ganha em possibilidades, mas tem tamanho reduzido e isso terá implicações cognitivas, mas é certo que ela advém de modelos consagrados seja há mais de cinco décadas, como é o caso da TV convencional, como novidades recentes “tomando emprestado” a incrível popularidade dos vídeos on-line. Ainda não é possível saber qual aura a pequena tela irá assumir, poderá ser, como no primeiro caso citado acima, canal de interpretação do real e do popular, ou rápida, fugaz, como no segundo ou ainda, uma terceira versão entre as telas com características únicas. Como disse Arlindo Machado em A Televisão levada a sério – “Televisão é um termo muito amplo, que se aplica a uma gama imensa de possibilidades de produção. Distribuição e consumo de imagens e sons eletrônicos: compreende desde aquilo que ocorre nas grandes redes comerciais, estatais e intermediárias... ou o que é produzido por produtores independentes” (2000, p. 70). Para falar de televisão é preciso definir o corpus, cujo ainda não está formado no caso da TV móvel, pois, ainda não temos uma base sólida de experiências para que se possa defini-la. O autor sugere uma análise a partir do conteúdo audiovisual que a televisão produz e veicula. Diferente da abordagem mais comum de estudos 52 anteriores que seguem a concepção de que ela deve ser vista como um serviço, e o mais importante não é o que está sendo transmitido na tela, mas sim o sistema político e tecnológico no qual ela funciona. Claro que no caso deste estudo, a tecnologia móvel é fator primordial de entendimento, é a partir dela que se estrutura o pensamento desta nova tela e deste novo usuário. Porém, tudo que a televisão já foi, todo o caminho que trilhou é importante para que se possa traçar diretrizes futuras. Arlindo Machado faz uma breve retrospectiva histórica sobre o assunto fazendo uma distinção entre os pensamentos de Adorno e McLuhan. Segundo ele, Adorno quando resolve adentrar ao universo da televisão, opta por um exame generalista e superficial, ignorando a diversidade da programação que já existia em seu tempo. Arlindo lembra ainda da dificuldade naquela época (1954) em se reunir o material para a análise, haja vista que o video-teipe não estava disponível em escala comercial, deixando à disposição somente roteiros escritos para a estruturação de um ataque a televisão. (2000, p.17) Em suma, para Adorno, a televisão é má não importando efetivamente o ela esteja veiculando. No lado oposto, McLuhan, na visão de Arlindo Machado, entende que a televisão é essencialmente boa, e, mesmo que nesse caso o autor conheça melhor seu objeto de estudo, ambos, Adorno e McLuhan, na opinião de Arlindo Machado, atingem um resultado teórico equivalente no sentido que nos dois casos a televisão foi analisada como se fosse uma estrutura abstrata, ignorando a diversidade de programas existentes. (2000, p. 18). 3.2 Da TV Convencional para a Tela Portátil. Não há duvidas quanto as mudanças que estão acontecendo. Novas mídias abrem espaço para novos comportamentos. Alterações profundas, tanto nos negócios das empresas de comunicação mundial, como no comportamento do consumidor, são irrefutáveis. Para que se possa entender este período de transição é bom ter em mente a diferenciação entre os meios de comunicação em si, e as ferramentas que usamos para ter acesso a determinado conteúdo. Como Henry Jenkins assinala: o primeiro, não está necessariamente condenado a morte, já o segundo, o LP, o CD, a VHS, O DVD, os arquivos de MP3, enfim, as ferramentas que o autor chama de tecnologias de distribuição, estas sim, se tornam obsoletas e 53 estão fadadas a extinção. Para tornar claro estes conceitos, Jenkins recorre a historiadora Lisa Gitelman: ... Lisa Gitelman, que oferece um modelo de mídia que trabalha em dois níveis: no primeiro, um meio é uma tecnologia que permite a comunicação; no segundo, um meio é um conjunto de “protocolos” associados ou práticas sociais e culturais que cresceram em torno dessa tecnologia. Sistemas de distribuição são apenas e simplesmente tecnologias; meios de comunicação são também sistemas culturais. Tecnologias de distribuição vem e vão o tempo todo, mas os meios de comunicação persistem como camadas dentro estrato de entretenimento e informação cada vez mais complicado. (JENKINS, 2008, p. 39). Algumas dessas alterações são mais evidentes no decurso: como por exemplo, a perda da hegemonia da TV aberta no Brasil, que reinou absoluta até então. No mesmo artigo já citado no início do capítulo, Walter Teixeira Lima Júnior deixa claro que um grande esforço político, por parte dos grupos de mídia detentores dos canais de retransmissão, foi aplicado no momento de implantação da TV digital no Brasil. A idéia era tentar manter a dimensão sócio comunicacional que já havia sido conquistada com a TV analógica, demonstrando assim um temor que o público migrasse para outras telas: o celular e o computador. Considerada como a ‘janela para o mundo’ a interface televisoranalógico arrebatou consumidores no Brasil e em todo planeta. Aparato de destaque na sala de estar, que depois se espalhou pra outros cômodos da casa, o aparelho convencional de TV, por décadas fez parte do ‘mobiliário’ residencial. Ele serve como fonte de informação e entretenimento de baixo custo, mas com alto poder de impacto sensorial. Substituindo o rádio como aparato tecnológico comunica-cional central da família, o televisor analógico, baseado no tubo de raios, reinou eficientemente nos lares brasileiros nos últimos 50 anos, começando com a estréia da TV Tupi (canal 3), em São Paulo, em 18 de setembro de 1950. (LIMA JUNIOR, 2009, p.367.) Esse modelo de negócios criado pela TV Aberta influenciou o comportamento dentro do núcleo familiar do usuário de maneira profunda. O aparelho, fixo, interno está completamente inserido aos hábitos da vida privada, reforçando a tendência a interiorização ao retiro à vida doméstica. 54 “Marshall McLuhan, em Os meios de Comunicação como extensões do homem, assinalava que a televisão, como tecnologia, realizou uma revolução ‘em casa’ analisando que a TV poderia ajudar na educação dos mais jovens. ‘Pensamos na TV como um auxiliar incidental’, quando em verdade ela já transformou o processo de aprendizado dos jovens, independente da escola e dor lar.” (McLuhan, 2005 apud LIMA JUNIOR, 2009, p. 368). Os adventos tecnológicos de novos meios de comunicação alteram nossos processos mentais, a cultura, linguagem e os costumes das sociedades modernas vão sendo reconstruídos: foi assim na transição da Era do Rádio para a Televisão e, dessa para a recém Revolução Tecnológica e provavelmente será também com a TV móvel. 3.3 A Relevância dos Fóruns na Cultura Digital De que habilidades as crianças precisam para se tornar participantes plenos da cultura da convergência? Neste livro já identificamos várias – a capacidade de unir seu conhecimento ao de outros, numa empreitada coletiva (como o spoiling de Survivor), a capacidade de compartilhar e comparar sistemas de valores por meio da avaliação de dramas éticos (como ocorre na fofoca em torno dos reality shows), a capacidade de formar conexões entre pedaços espalhados de informação (como ocorre quando consumimos matrix), a capacidade de expressar suas interpretações e sentimentos em relação a ficções populares por meio de sua própria cultura tradicional (como ocorre no cinema de fã de guerra nas estrelas) e a capacidade de circular suas as criações através da internet, para que possam ser compartilhadas com outros. (JENKINS, 2008, p. 235) A respeito da importância do comportamento do usuário, Henry Jenkins em Cultura da Convergência lembra que Pierre Lévy já havia argumentado que as pessoas estabelecem uma ordem de relação do conhecimento pessoal para objetivos comuns. “Ninguém sabe tudo. Todo conhecimento reside na humanidade”. (LÉVY, 1998 apud JENKINS, 2008 p.54). No cyber espaço definido antes por Pierre Lévy o conhecimento se coletivo encontra imensas possibilidades de se aglutinar, agregar e divulgar expertise nas comunidades virtuais que por sua vez tem capacidade de impulsionar o relacionamento entre seus membros. 55 É a organização de espectadores no que Lévy chama de comunidades de conhecimento permite-lhes exercer maior poder agregado em suas negociações com produtores midiáticos. A emergente cultura do conhecimento jamais escapará completamente da influência da cultura de massa, assim como a cultura de massa não pode funcionar totalmente fora das restrições do Estado-nação. (JENKINS, 2008, p.54) Jenkins lembra também que Lévy sugere que esta inteligência coletiva muito bem colocada nas comunidades virtuais é quem irá, pouco a pouco, alterar o modo no qual a cultura de massa opera. Estas novas relações ocorrem e se fortalecem ao mesmo tempo em que antigos vínculos sociais vão se rompendo. No trato das relações humanas, núcleos familiares e barreiras geográficas, por exemplo, já não tem mais o mesmo significado, nossas relações entre vizinhos, amigos, familiares, nações estão sendo remodeladas, redefinidas. As novas comunidades e fóruns de discussão virtuais são baseadas no compartilhamento, criação e difusão de conhecimentos específicos. Ambos são bastante libertários, não exigem de seus participantes fidelidade, constância nem freqüência mínima. O sujeito fica livre para mudar de interesse, criar e participar de outras comunidades. Claro que códigos de ética e até mesmo legislatórios estão surgindo à medida que as comunidades virtuais vão se tornado cada vez mais populares na sociedade contemporânea, mas ainda assim, o comportamento dos usuários nelas tem uma liberdade de relacionamento sem precedentes. É possível escolher em quantas comunidades e quando participar. É justamente essa liberdade que fez das comunidades uma espécie de termômetro de comportamento e opiniões. Empresas, jornalistas, estudiosos, toda a sociedade volta seus olhos para essas ferramentas quando quer conhecer o que determinados grupos estão pensando a respeito de assuntos específicos. A cultura digital representa um conjunto de transformações radicais na esfera social, e não uma mera conversão de artefatos analógicos para equivalentes digitalizados. Essas Transformações afetam também a esfera da comunicação. Antigos conceitos, como o da difusão de idéias de um ator social para muitos receptáculos passivos, não valem mais. Os recursos tecnológicos possibilitados pela digitalização resgatam a noção de comunicação bidirecional, de todos para todos, no lugar da informação unidirecional. Novos conceitos, como o da produção colaborativa do conhecimento, suplantam a idéia de caixa-preta. Sem mudar o olhar, não é possível compreender a mudança de paradigma em curso. (CAMINATI; NOVAES; PRADO, 2005, p.25) 56 3.4 Convergência A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: A convergência refere-se a um processo, não a um ponto final... Graças a proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era que haverá mídias em todos os lugares... Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura de convergência.” (JENKINS, 2008, p.41) Caso estivéssemos numa corrida entre TV aberta, internet e vídeo sob demanda, mesmo sabendo que a primeira tem larga vantagem sobre as outras, apontar um vencedor seria uma aposta de alto risco. A pesquisa Television in Transition realizada no inicio de 2008 pela Accenture Media and Entertaiment, a respeito dos hábitos dos consumidores de mídias audiovisuais aponta muito mais para uma convergência do que para uma competição. O estudo foi feito com 7 mil entrevistados de oito diferentes países (Estados Unidos, México, Brasil, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha e França). A faixa etária dos entrevistados variou conforme a maioridade estabelecida em cada país: sendo entre 16 e 54 anos na Itália e Espanha, 16 e 64 , na França, Alemanha e Reino Unido. No México e Brasil as entrevistas foram feitas por telefone com adultos entre 18 e 64 anos. A pesquisa indica que as principais mudanças de comportamento do espectador de mídias audiovisuais acontecem especialmente entre pessoas com menos de 25 anos, grupo que se declara como o mais insatisfeito ao assistir TV convencional, em todos os países nos quais o estudo foi feito. 57 Quadro 1: Nível de satisfação com a programação ofertada pelas emissoras de TV por idade. Esse também é o grupo que se mostra mais entusiasmado em consumir conteúdo via celulares e computadores. Assim, são os jovens usuários quem estão determinando o ritmo de aderência das novas tecnologias. O grupo de entrevistados entre 25 e 34 anos também segue a tendência do primeiro e também se declara propenso a assistir programas de TV no computador. Quadro 2: Porcentagem global de de consumidores que assitem algum tipo de programação audiovisual em computadores. 58 E em telefones celulares. Quadro 3: Porcentagem global de de consumidores que assistem algum tipo de programação audiovisual em telefones celulares. Embora seja o grupo dos mais jovens que esteja liderando a migração para novas plataformas, a lealdade ao conteúdo e não ao canal é uma característica comum em todas as idades entrevistadas. Quadro 4: Relação entre canais e programas de TV assistidos por consumidores 59 Mais de um terço das pessoas que participaram da pesquisa assistem em média mais de seis canais e programas todas as semanas. As pessoas não estão escolhendo um canal para assistir, e sim estão em busca de um conteúdo específico, comportamento este que corrobora com a convergência entre mídias. Por esta pesquisa percebemos claramente que o antigo telespectador está se tornando cada vez mais um usuário multi-plataforma. A pesquisa também diferencia qual é o tipo de conteúdo preferido para ser acompanhado pelo celular e pelo computador. Tabela 1: Preferência global sobre a programação vista em telefones celulares e computadores. No celular os assuntos por ordem de preferência são: informações de utilidade pública, conteúdo produzido pelo usuário, programação específica que não encontrada na televisão, destaques, versões reduzidas de programas de TV. No computador: episódios completos de séries televisivas, informações de utilidade pública, programação específica que não encontrada na televisão, conteúdo produzido pelo usuário, destaques e finalmente, versões reduzidas de programas de TV. 60 Entrevistados dos oito países participantes assistem em média, 70.6 horas de conteúdo audiovisual por semana sendo que somente 23% desse montante é visto em aparelhos tradicionais de televisão. Três de cada dez pessoas assistem programação audiovisual em uma nova plataforma. Quadro 5: Quantidade de programas vistos semanalmente suplementares(telefones celulares, PDAs e computadres). em dispositivos Numa classificação por países, o Brasil ocupa o terceiro lugar em interesse por recepção de conteúdos audiovisuais em telefones celulares. 61 Quadro 6: Consumidores interessados receber programação audiovisual em telefones celulares. Bem como através de computadores. Quadro 7: Consumidores interessados receber programação audiovisual em telefones computadores E também estariam dispostos a pagar por conteúdo baixado através da internet e de telefones celulares. Quadro 8: Consumidores que pagariam por downloads de programação audiovisual em telefones celulares e computadores. 62 3.5 Um novo comportamento No congresso TV 2.0 de 2008, Alex Banks, gerente para a América Latina para a empresa de pesquisas comScore, apresentou dados que mostram o Brasil ocupando o 14º lugar em média de visitas a sites multimídias entre 32 outros países. Já especificamente no Youtube, somos o 7º no ranking sendo que somente durante o mês de Julho de 2009, 21,2 milhões de brasileiros acessaram o portal. Ainda segundo o executivo, o portal globo.com teve um crescimento de 35% em número de acessos e completou declarando que a estratégia utilizada nas novas mídias tem foco na questão da preservação do público e que 20% dos usuários de internet são considerados heavy-users42 de vídeo, 30% são usuários médios e o restante pouco acessam vídeos na internet. No mercado norte-americano os vídeos on-line são um sucesso e Banks aposta que no Brasil isso se repetirá. Afinal, com uma menor penetração da banda larga em relação aos Estados Unidos, o Brasil já apresenta números muito expressivos em termos de acesso aos vídeos na internet. Uma demonstração desse potencial pôde ser observado no recém atualizado portal de emissora de TV “Rede TV” que hoje transmite na rede simultaneamente a programação exibida na TV e que atingiu 350 mil acessos durante a exibição do programa “Pânico na TV”. As outras emissoras brasileiras ainda não transmitem ao vivo na internet sua programação na íntegra, mas disponibilizam alguns programas em versões completas ou reduzidas e também apostam em conteúdo exclusivo desenvolvido para seus sites, mas com alguma conexão clara ao conteúdo exibido na emissora. Ou seja, não há um traçado claro do caminho do conteúdo audiovisual on-line, ainda não existe um modelo claro de sucesso entre os maiores portais e sites das grandes emissoras brasileiras, a Rede Record por exemplo tem mais audiência nos vídeos que são disponibilizados na íntegra com média de permanência de uma hora e vinte minutos no site. Nos Estados Unidos, o digital video recorder43 (DVR) é bastante popular, ele é um sistema que permite a gravação doméstica da programação transmitida via cabo ou satélite. As imagens ficam armazenadas em forma de dados num disco rígido para que possam ser reproduzidas quando o espectador quiser. Esta tecnologia já 42 Usuários que consomem muito e com muita freqüência determinado produto ou serviço. Equipamento que conectado ao televisor grava em sua memória a programação selecionada que é exibida pelas emissoras de TV. 63 43 existe nos aparelhos de televisão fixos de última geração, mas não nos portáteis. De qualquer maneira, seu uso cada vez mais comum quer dizer que o usuário é o senhor da sua programação. As operadoras de TV oferecem serviços de DVR pagos e bloqueados somente para assinantes. Outra possibilidade existente de armazenagem ou captura de imagens são os gravadores de DVD de mesa e quando existe a disponibilidade do conteúdo on-line, normalmente está disponível, o usuário realiza o download e pode levá-lo para ser assistido onde quiser. Como no Brasil a penetração do DVR e dos gravadores de DVD de mesa ainda não é significativa e os serviços de armazenagem oferecidos pelas operadoras de TV a cabo ainda possuem um custo muito elevado, pode-se concluir que a maior parte dos “programadores” organize seu conteúdo via web. Para o mercado, a pirataria sinaliza que o usuário busca conteúdo gratuito e sob demanda. Quando entramos na questão da pirataria ou downloads ilegais de conteúdos protegidos por direitos autorais tanto através do celular como de pontos fixos de acesso a internet, vemos ações que buscam agradar usuários e empresas. Como por exemplo, a operadora canadense Rogers Cable, que está preparando um portal de vídeo na internet que vai disponibilizar para seus assinantes de TV a mesma programação que ele recebe pelo cabo na internet. Oferecendo esse conteúdo ondemand, direto na rede, vai possibilitar uma reconstrução da grade de programação da operadora. Este modelo adiciona valor à assinatura de TV a cabo agradando o usuário e permite que a operadora tenha mais um veículo para vender publicidade. Este tipo de serviço é a clara demonstração de que a convergência de mídias é um caminho sem volta, que já vinha se desenhando informalmente nas mãos dos usuários. Um exemplo disso é a enorme quantidade de séries e programas de TV disponibilizados nos sites de troca de arquivos infringindo as leis de direitos autorais. A ação da operadora canadense visa coibir a circulação ilegal deste material e também obter lucro através de publicidade inserida na nova mídia, mesmo quem assina TV a cabo tem o costume baixar seus programas favoritos para assisti-los na hora e no dispositivo que lhe for mais conveniente. É difícil medir a quantidade de arquivos que são baixados na internet, mas é possível se ter uma idéia deste montante pelas medidas governamentais que são tomadas todos os anos através de campanhas ou até medidas que visam coibir estas ações. Como foi citado no capítulo 02 a respeito do mercado, numa pesquisa encomendada pela Futuresource 64 Consulting44 mostra que aproximadamente 8% dos usuários na Alemanha, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha admitem fazer download ilegal de vídeo. Entre os norte-americanos, 15% declararam que ao menos uma vez na vida assistiram algum produto audiovisual no computador adquirido através de download não oficial. No meio digital, nunca foi tão democrático a disseminação de produtos culturais e de entretenimento. Extra-oficialmente é possível assistir filmes, programas de TV, instalar aplicativos, ler livros, escutar audiolivros45, baixar conteúdo de revistas, músicas e jogos. Tudo de graça, e sem respeitar nenhum direito autoral, tudo ao alcance de um clique. No meio digital, nunca foi tão difícil comercializar conteúdo, pois, como já foi dito, com o processo de digitalização, fica praticamente impossível designar os “donos” do material. Uma vez digitalizado, sem corpo físico, o conteúdo flui com muita rapidez chegando a lugares nunca antes imaginados. 3.6 Pesquisa com early adopters brasileiros O termo early adopter foi cunhado por Everett Rogers e apareceu pela primeira vez em seu estudo Diffusion of Innovations de 1962 no qual apresenta uma teoria de como, porque e em qual intensidade novas tecnologias e conceitos são absorvidos pela sociedade. Os early adopters são, segundo as idéias de Rogers, a categoria de usuários que ocupa o segundo lugar em velocidade de adoção destes novos paradigmas, ficando atrás dos Innovators, grupo que primeiro adota e cria as tendências. Citando Rogers em uma tradução minha, “Early Adopters são jovens, de classes mais abastadas, com nível de escolaridade mais alto que a média e mais aptos à socialização do que pessoa que não adotam a novidade tão rapidamente” (ROGERS, 1962, p. 185). Criei um breve questionário, a respeito do interesse por vídeos para assistir no celular, direcionado a um grupo específico de early adopters. A pesquisa foi realizada entre os membros da comunidade N95 & N95 8GB46 do Orkut, que 44 Empresa de pesquisa e consultoria com sede no Reino Unido especializada em tecnologia e audiovisual. Gravação dos conteúdos de um livro lidos em voz alta que podem ser disponibilizados na internet ou comercializados por editoras. 46 Modelos de smartphone fabricado pela empresa finlandesa Nokia 45 65 possuía 58.425 membros até Julho de 2009. A principal característica da comunidade, que é especializada no modelo de celular N95 da Nokia, é a utilização de aplicativos para o dispositivo, os usuários discutem e trocam informações sobre como explorar melhor as características do aparelho dadas pelo fabricante; entre elas como assistir TV e vídeos no celular. Considero muito relevante observar como eles estão utilizando a tecnologia, pois cada vez mais são os usuários que apontam quais caminhos podem ser seguidos pelas empresas, nunca foi tão importante saber como o usuário se comporta, quais são seus desejos e para qual direção ele está apontando. Os resultados com a pesquisa indicam que estes usuários específicos, os early adopters, da tecnologia móvel indicam que os mais participativos são pessoas do sexo masculino. Dos 158 entrevistados, 97% são homens e somente 3% são mulheres. Em relação a faixa etária, a pesquisa apontou que a maioria desses usuários tem entre 18 e 25 anos representando 47% dos questionários respondidos, em segundo lugar está o grupo entre 26 e 35 anos, totalizando 27%, em terceiro lugar o grupo de usuários com idade entre 12 e 17 anos participando com 20%; pessoas com 36 anos ou mais totalizam 6% do grupo e os com menos de 11 anos representam 1 % da pesquisa. Foi perguntado a todos os participantes qual a principal atividade realizada através do telefone celular além de conversar por voz e enviar e receber mensagens de texto. Surpreendentemente, navegar na internet é a principal atividade, em segundo lugar os jogos instalados no dispositivo, em terceiro o uso do GPS e em quarto lugar assistir TV ou vídeos. Navegação da internet e jogos no celular quase empatam. O primeiro ficou com 40% da preferência dos usuários e o segundo com 35%. A utilização do sistema de GPS representou 14% e os que assistem mais TV e vídeos no telefone do que quaisquer outras atividades representaram 11% dos participantes. A próxima pergunta da pesquisa questionava se o usuário assistia TV ou vídeo no celular e quanto tempo por dia ele o fazia. Somente 16% ou 25 usuários, ainda não tem o costume de assistir conteúdos audiovisuais no telefone celular, uma indicação clara que a grande maioria dos early adopters realmente estão fazendo uso desta nova possibilidade de programação audiovisual. Porém, as respostas indicam que o uso para a maioria deles ainda é esporádico e exclusivo em pequenos 66 momentos do dia quando o usuário está por exemplo, no transporte público ou pelo tempo reduzido quando vai ao banheiro, utilizando o dispositivo em substituição as revistas. Os resultados mostram de 50% ou 79 dos 158 participantes da pesquisa assistem menos de 30 minutos por dia de programação audiovisual nos seus dispositivos móveis; 26% que representam 41 entrevistados responderam que assistem entre 30 e 60 minutos por dia; e somente 8%, que equivalem a 13 pesquisados, assistem mais de 60 minutos de TV ou vídeos no celular durante um dia. Interessante pensar que a média de tempo gasto assistindo de TV aberta convencional pelo brasileiro, segundo dados do IBOPE chegou a quatro horas e quarenta e dois minutos em 2008 e que a média de horas gastas com TV móvel obtida através desta pesquisa não chega a trinta minutos por dia, denota claramente que a TV móvel mesmo já fazendo parte do cotidiano do grupo, ainda pode aumentar muito sua penetração e isso deve acontecer quando os preços dos planos de dados e dispositivos que recebem os diferentes modos de recepção de TV móvel estiverem mais acessíveis. O questionamento que veio em seguida abordou a tecnologia utilizada para recepção do conteúdo audiovisual, qual modelo de recepção é o mais utilizado para assistir a programação? Foram apresentadas as seguintes alternativas: web TV ( Youtube e outros portais de vídeo), canais de TV em streaming oferecidos pela operadoras (modelo broadcast), download de conteúdos on demand das operadoras, TV aberta analógica e TV aberta digital. O modo de recepção mais utilizado pelos usuários da pesquisa foi web TV, 62% (98 usuários), muito possivelmente, por causa da enorme quantidade e variedade de vídeos do portal Youtube e também por causa da facilidade e economia, pois o usuário ao assinar um plano de dados, pode navegar no portal de vídeo que quiser e assim usufruir de conteúdos distintos. O segundo modo de recepção mais popular apontado pela pesquisa foram os canais de TV das operadoras disponibilizados em streaming, totalizando 25% da preferência (39 usuários), este modelo oferecido pelas operadoras se assemelha com a TV paga convencional (broadcast), porém cada canal é vendido separadamente e atrai os usuários pelo conteúdo específico e orientado a cada tipo de pessoa, a facilidade em adquirir o serviço também influencia bastante o usuário na hora de decidir por este modelo. O download de vídeos direto das operadoras ficou em terceiro lugar na preferência dos usuários 67 pesquisados com somente 7% (11 usuários) este modelo é pouco vantajoso para o usuário pois ele pagaria caro, em média três reais por vídeos que não chegam a 1 minuto de duração, para ter o vídeo no telefone celular. Esse dado demonstra que entre o grupo pesquisado outras alternativas para ter o “vídeo do momento”, que na maioria das vezes está disponível em diversas plataformas, não passa pelo download on demand das operadoras, o usuário pode baixar o vídeo através da internet, converte-lo em seu computador para o formato específico aceito pelo dispositivo móvel e transferi-lo para o celular sem precisar pagar pelo conteúdo para a operadora. Entre outros grupos de usuários esta modalidade tem uma melhor aceitação pois, por enquanto, não são todas as pessoas que possuem um computador conectado à internet à disposição e que tenham o domínio técnico para realizar este procedimento. Por último aparecem TV aberta analógica com 5% (8 usuários) e TV aberta digital com 1% (2 usuários), estes dados provavelmente estão aparecendo na última colocação pois os usuários da comunidade pesquisada, são especialistas no modelo de telefone N95 da Nokia que não recebe os sinais de TV aberta, possivelmente se a pesquisa tivesse sido realizada entre usuários que utilizam um telefone que recebe sinal de TV aberta, elas figurariam em uma posição mais privilegiada dado ao custo zero e facilidade de uso. O último questionamento levantado pela pesquisa gira em torno do conteúdo audiovisual mais assistido nos dispositivos móveis. Foram elencadas as seguintes opções: desenhos, novelas, séries, conteúdos adultos, notícias, esportes e filmes. O conteúdo mais assistido, com 28% (44 usuários) foi filmes, reforçando a característica que estes usuários preferem baixar o conteúdo gratuitamente na internet, converte-lo para o formato aceito pelo celular e transferi-lo para o mesmo, tendo em vista que as operadoras ainda não oferecem filmes completos ao usuário. Este comportamento sugere outra questão, já que a maioria dos usuários declararam que não assistem mais de 30 minutos de vídeo no celular por dia, eles devem assistir os filmes de maneira fragmentada nos momentos de folga, do mesmo jeito que costumamos ler um livro. Em segundo lugar na pesquisa, com 25% (40 usuários) da preferência do usuário figurou esportes, o gênero esportivo na TV, sucesso de audiência na TV aberta reflete sua popularidade também na programação móvel, por sua alta penetração, tanto operadoras como usuários disponibilizam vídeos com os gols da rodada, melhores momentos dos jogos e vídeos editados que mostram os melhores 68 momentos de jogadores e esportes específicos, inclusive esportes inusitados e radicais, por esse motivo, fica difícil determinar por onde o usuário recebe esse conteúdo. Notícias e séries empataram na preferência dos pesquisados com 14% (22 usuários), os seriados de TV não são oferecidos nos pacotes disponibilizados pelas operadoras, então eles vão para o celular dos usuários do mesmo modo que os filmes; já os noticiários circulam tanto através dos canais das operadoras como nas web TVs, possibilitando que os conteúdos sejam vistos por usuários que assinam os pacotes de dados que possibilitam acesso às TVs na internet e também por quem compra a assinatura de canais de notícias direto com a operadora de telefonia móvel. Na sequência, aparece o conteúdo adulto com 10% (16 usuários), que pode ser assinado através de canais específicos das operadoras, em modelos unicast e broadcast, baixado no PC e transferido para o telefone celular e também assistido através de web TVs gratuitas. Depois do conteúdo adulto, o gênero mais assistido nos dispositivos móveis são os desenhos animados com 9% (14 usuários) também devido a sua popularidade, o gênero está disponível tanto através das operadoras, em modelos unicast e broadcast, como para ser baixado na internet e visto em web TVs gratuitas. 69 CONCLUSÃO Ao longo deste estudo pude perceber que o futuro da TV móvel no Brasil é bastante promissor. Em resumo, ela é a união de características que vão de encontro com o que o usuário moderno busca: mobilidade unida à tão consolidada TV. Outro ponto que foi se revelando nesta pesquisa é a questão da programação sob demanda; diversas pesquisas e estudiosos são unânimes em afirmar que o usuário quer decidir sua programação, sem estar “amarrado” às grades de horários das emissoras. Pessoalmente, eu acredito que a demanda de downloads ilegais de conteúdo audiovisual é um forte indício de que cada vez mais, o consumidor força uma desconstrução das estruturas fixas de horários das emissoras. Outro indício bastante relevante de que a TV móvel terá um nível de alcance bem sucedido é a questão do crescimento da telefonia móvel no país. Exatamente no momento das conclusões finais desta dissertação, a ANATEL divulgou que três importantes capitais brasileiras ultrapassaram a marca de um celular por habitante. São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul desde agosto de 2009 já possuem mais de uma linha telefônica móvel por habitante. Até então somente o Distrito Federal tinha atingido este grau de teledensidade. Caso a tecnologia que permite a TV móvel em aparelhos celulares seja popularizada nos mesmos, a TV móvel viverá uma penetração sem precedentes. A mais recente pesquisa referente a abrangência da TV móvel publicada dia 19 de agosto de 2009 conclui que ainda este ano a modalidade deva chegar a marca de 54 milhões de usuários pelo mundo. O que indica que o assunto TV móvel está somente no início, e, qualquer pretensão de esgotar o tema seria muito mal sucedida. A questão que começa a ser desenrolada aqui diz respeito à importância mobilidade nos dias de hoje. Haja vista as taxas de crescimento que a telefonia móvel experimentou nos últimos anos. Comunicação com mobilidade e conexão à internet, se tornaram valores sociais extremamente desejados, independente de divisões sociais como vimos ao longo deste trabalho. Em muitos casos, os usuários fazem uso da tecnologia independente de como o mercado a disponibiliza, rompendo regras e até mesmo barreiras legais, muitos deles buscam diariamente por novidades tecnológicas que ampliaram ainda mais a experiência da comunicação móvel. Entendo que estas novidades, são facilitadores 70 do processo, também estão em muitos casos repletos de valores sociais, agregando status ao usuário. Seja como for, é interessante observar como os aparelhos portáteis se tornaram um dos principais objetos de desejo atual, pois, antes de mais nada eles são essencialmente, comunicação e mobilidade, acrescidos de todo tipo de entretenimento e funcionalidades. A união da TV com a mobilidade é realmente promissora, existe nessa idéia a sensação de aproveitamento de tempo e liberdade. Nos últimos instantes deste trabalho, foi publicado um levantamento feito pela empresa de pesquisas e comportamento In-Stat desenvolvida para a Telegent Systems, fabricante de componentes para TV móvel, a respeito dos usos da TV móvel. A pesquisa realizada no Brasil, Turquia, Colômbia e Indonésia revelou que em todos estes países, a maioria dos usuários prefere assistir TV móvel quando estão se locomovendo, reforçando a questão do aproveitamento do tempo “ocioso”. Todas as questões levantadas sobre a indefinição de um modelo de negócio rentável podem estar começando a se delinear neste exato momento, em que diversos executivos apontam para uma TV móvel gratuita impulsionando a adesão de um modelo pago, ambos coexistindo e fomentando-se mutuamente. Porém, a TV móvel possibilita um novo uso dos conteúdos audiovisuais e ele realmente já está acontecendo, talvez não do modo mais organizado, do jeito que emissoras de TV, operadoras de telefonia e produtoras de conteúdo gostariam, pois a digitalização, o conhecimento coletivo e os processos tecnológicos já não mais permitem o total controle por parte delas. Atualmente o usuário já pode definir o que quer ver, quando quer ver e se quer pagar por ele. O modelo de negócio ideal para a TV móvel, seja qual for, provavelmente não será eterno, pois para uma parcela de usuários, que dominam a tecnologia e que não para de crescer, o conteúdo e a programação é livre. 71 BIBLIOGRAFIA AHONEM, Tomi. Mobile as 7th of the Mass Media: Cellphone, Cameraphone, Iphone, Smartphone. London: Futuretext: 2008 BARBOSA FILHO, André. CASTRO, Cosette. TOME, Takashi (orgs.) Mídias DigitaisConvergência Tecnológica e Inclusão Social. São Paulo: Paulinas, 2005 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001 ________________. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. CASHMORE, Ellis. ...E a Televisão se Fez. São Paulo: Summus, 1998 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura, v.1. 10ª ed., São Paulo: Paz e Terra, 2007 CASTELLS, Manuel. ET all . 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