UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A comunicação empresarial como fator de sucesso Por: Marianna Marques Riet Corrêa Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2009 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A comunicação empresarial como fator de sucesso Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do especialista em Comunicação Empresarial Por: Marianna Marques Riet Corrêa grau de 3 AGRADECIMENTOS A Deus, aos meus pais, que sempre me apoiaram em todos os momentos da minha vida e me fizeram ser quem eu sou, aos meus amigos, ao meu orientador e todos os funcionários do Instituto a Vez do Mestre. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família e a todos que me ajudaram e estimularam a escrever esta monografia. 5 RESUMO Este trabalho enfoca dois tipos de comunicação que ocorrem nas empresas: a comunicação formal, baseada na hierarquia e a comunicação informal, baseada em princípios herdados de nossos antepassados e praticamente inconsciente. Mostra que esta comunicação informal, baseada na teoria do comportamento dos grupos, ocorre não apenas nas empresas definidas como visionárias, mas acontece espontaneamente em qualquer grupamento humano. O trabalho indica também que esta tendência pode ser direcionada formalmente, como ilustrado no caso da Johnson & Johnson. Mesmo nos casos onde o processo não é direcionado nem consciente, o grupo de funcionários adquire um conjunto de princípios, valores e idéias centrais que norteiam as atividades do grupo, de maneira similar ao caráter de uma pessoa. Assim como as pessoas, as empresas também não conseguem agir de maneira contrária ao seu caráter por um longo período. Como exemplo de fracasso deste tipo de atitude, é analisada a tentativa da Petrobras, de passar uma imagem de empresa ambientalmente responsável. No sentido inverso, é apresentado o caso das propagandas desta mesma empresa, mostrando a idéia de empresa inovadora, desenvolvedora de novas tecnologias e nacionalista. Finalmente é apontado um caso de união bem sucedida entre os dois tipos de organização: o hierárquico e o informal, num exemplo de superação da crise do Tylenol, na Johnson & Johnson. 6 METODOLOGIA Este trabalho foi motivado pela curiosidade sobre as diferentes maneiras como as empresas trabalham a sua comunicação empresarial e dos resultados obtidos. Isto levou a leitura de diversos livros e artigos, que foram usados como base bibliográfica neste trabalho. Além disso, foram feitos estudos de caso da Johnson & Johnson e Petrobras, com base na literatura disponível, além de revistas e sites na Internet. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A Comunicação nas empresas e suas origens históricas 10 CAPÍTULO II A comunicação nas empresas com cultura visionária 21 CAPÍTULO III Análise de casos 27 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 44 8 INTRODUÇÃO Esta monografia é um estudo sobre a influência da comunicação empresarial no sucesso de um empreendimento. Segundo o dicionário Aurélio, empresa é: “Aquilo que se empreende; empreendimento”. Neste mesmo dicionário empreender significa “deliberar-se a praticar, propor-se, tentar. Por em execução”. No contexto deste trabalho, empresa tem o significado de uma organização humana para permitir a realização de tarefas impossíveis de serem realizadas por uma única pessoa, por envolver a necessidade de comunicação. Este trabalho aborda especialmente dois tipos de comunicação: o primeiro, formal ou consciente, baseado na hierarquia da empresa e estruturado sobre a organização do exército prussiano. A maior parte da literatura sobre comunicação empresarial trata deste tipo de comunicação. O segundo tipo, mais informal e praticamente inconsciente, baseia-se na formação espontânea de grupos, em crenças, valores e princípios. É bem conhecida a tendência das empresas de assumirem uma “personalidade” com o passar do tempo. Esta monografia faz uma ligação desta “personalidade” com a eficácia na comunicação, mostrando exemplos de comunicação de acordo e contrárias às crenças, princípios e valores da empresa. O capítulo um é uma explicação da origem dos diversos tipos de comunicação atualmente em uso, com foco no tipo de comunicação mais primordial dos grupamentos humanos, um tipo de comunicação não formal, quase inconsciente, que faz parte da maneira humana de ser e vem “marcado no nosso DNA”. O capítulo dois faz uma ligação entre este tipo de comunicação mais antiga e empresas consideradas com cultura muito forte, mostrando diversas similaridades. 9 O capítulo três é uma análise de casos, mostrando situações onde a comunicação está ou não de acordo com os “princípios centrais” da empresa, analisando a eficácia em cada caso tentando provar que uma comunicação alinhada com os princípios básicos da empresa apresenta melhores resultados. 10 CAPÍTULO I A COMUNICAÇÃO NAS EMPRESAS E SUAS ORIGENS HISTÓRICAS Este capítulo analisa os diversos tipos de comunicações internas usadas nas empresas modernas e tenta traçar suas origens através do tempo, mostrando uma conexão entre tipos diferentes de culturas empresariais e tipos de comunicações desenvolvidas em diferentes épocas da história humana. 1.1. A comunicação e a cultura na pré-história Este sub-capítulo está baseado no livro Crisis & Renewal, de David K. Hurst, que usa um dos últimos exemplos sobreviventes da sociedade paleolítica, os bushmen, nômades que vivem no deserto do Kalahri, para tirar conclusões sobre o modo de vida das sociedades pré-históricas. Em termos da cultura, os bushmen viviam num sistema econômico conhecido como de “retorno imediato”. O resultado do trabalho era direto e imediato. Pouco investimento e preparação eram necessários para gerar o retorno. Viviam em coalizões abertas e igualitárias, em grupos ou bandos. A participação nos grupos é governada por laços de família e amizade, com o fluxo contínuo na entrada e saída de membros de qualquer grupo. Por se tratar de grupos oportunistas, rapidamente esgotavam os recursos das proximidades, então não podiam ficar muito tempo no mesmo local. A grande mobilidade deles era facilitada pela inexistência do conceito de propriedade privada. 11 Outra característica interessante destas sociedades era a ausência de hierarquia. Os grupos demonstravam uma imensa hostilidade em relação a qualquer pessoa com aspirações de autoridade hierárquica. O fluxo contínuo entre grupos subvertia a autoridade, mantendo a autonomia individual e minimizando o aparecimento de agressão na sociedade. A ausência de hierarquia era um fator importante que permitia à organização se adaptar continuamente em relação às exigências do meio ambiente. Embora os homens caçassem e providenciassem a carne e as mulheres coletassem frutas, raízes e tubérculos, não havia distinção de status entre as duas atividades. Homens e mulheres eram considerados iguais. O sistema de grupo flexível era complementado por valores que enfatizavam a ética do compartilhamento, tanto de alimentos, principalmente da carne, como de possessões. Além disto, garantia uma distribuição igualitária de comida e levava a um sistema de reciprocidade entre bandos vizinhos. A maneira de viver dos bushmen parece ter sido projetada para criar uma sensação de pertencer ao grupo. Embora planos e eventos fossem discutidos no nível consciente, estas atividades aconteciam inseridas numa vasta estrutura mitológica que trazia sentido às atividades diárias. Os bushmen não tinham senso de passado ou futuro para organizar as suas atividades, diferentemente dos homens modernos. Eles não conseguiam lembrar mais do que duas ou três gerações anteriores. Seu conceito de futuro era a expectativa das mudanças das estações do ano. Eles estavam totalmente inseridos no aqui e agora. A única maneira de justificar o sentido da vida era vivê-la. Em seus acampamentos, principalmente durante os tempos de fartura, quando os grupos cresciam de maneira significativa, os bushmen cantavam e dançavam em rituais que lembravam as suas origens e do lugar deles neste universo. 12 Sua mitologia era rica em detalhes que relatavam minuciosamente os elementos e habitantes do deserto, explicando tanto as funções como os relacionamentos entre eles. Era esta mitologia ou esta visão compartilhada que dava significado à vida dos bushmen. Eram extremamente sensíveis aos eventos que ocorriam à sua volta e eram capazes de responder rapidamente a eventos inesperados. Esta mitologia fornecia um conjunto de conhecimentos que permitia aos bushmen viver num ambiente, que para nós seria considerado perigoso e imprevisível, de maneira confortável e familiar. A característica mais proeminente da cultura dos bushmen era a visão sistêmica do mundo, um conjunto interligado de estruturas e processos flexíveis que permitia a eles seguir e aproveitar os ritmos naturais do deserto. Na realidade, pode-se dizer que os bushmen faziam parte do ambiente. A mais característica destas estruturas era o layout de suas cabanas, que facilitavam o processo social e permitiam resolver problemas sem a necessidade de uma decisão convencional. Isto é, a forte interação social e o diálogo profundo permitiam aos membros da comunidade identificar e articular as questões antes de se tornarem problemas, necessitando de decisões. Pode-se achar que o bando caçador-coletor não fez progressos, pelo menos como nós entendemos isso hoje em dia. Afinal, eles permaneceram no mesmo nível de evolução social por muitos milhares de anos, não desenvolveram tecnologia, não construíram estruturas permanentes, não acumularam bens, não desenvolveram literatura e pouquíssima arte. Em suma, eles criaram pouco ou nenhum excedente econômico. Mesmo assim obtiveram sucesso em sobreviver através de um período imenso de tempo, em climas e ambientes completamente diferentes, preservando seus valores e crenças. Se considerarmos a capacidade de aprender como essencial à sobrevivência, então o bando caçador coletor foi um imenso sucesso. Afinal, todas as nossas organizações modernas evoluíram a partir de estruturas por eles criadas. O que permaneceu até os dias de hoje são basicamente princípios e valores não 13 materiais; as crenças, as histórias, os valores e a visão. Pode-se dizer que a tendência do ser humano à igualdade, cooperação e comunicação foi herdada deles, afinal, nós somos os seus descendentes. Os valores sociais da sociedade caçador-coletor se refletiam diretamente no arranjo físico de suas moradias. Da entrada de qualquer choupana cada residente poderia observar todos os outros. Ao contrário do imaginado, sua maneira de viver não exigia que todo o tempo fosse usado na busca por comida. Normalmente, gastavam poucas horas para conseguir comida e madeira para as fogueiras. Com isto, sobrava muito tempo para conversação e socialização. A “política de portas abertas” encorajava a abertura e a interação, a maior parte da qual ocorria em torno das fogueiras. Não havia segredos. Na realidade, levavam a vida em frente ao grupo. A conversação em torno das fogueiras era conduzida com uma intensidade raramente encontrada na cultura ocidental. O bando caçadorcoletor seria o que hoje chamamos de ouvintes atentos. Além de promover consenso e o surgimento de planos, esta conversação fortalecia os laços e fazia aparecer problemas sociais incipientes. O homem caçador-coletor tinha horror a discussões e desentendimentos. A cooperação era essencial para a sobrevivência nos ambientes hostis, onde o núcleo familiar não sobreviveria. Eles precisavam pertencer ao bando e eram extremamente sensíveis a qualquer sinal de rejeição. O compartilhamento de alimentos e da carne permitia haver pouca preocupação a respeito da comida, enquanto o hábito de presentear reduzia a inveja e construía relacionamentos. A manutenção de relacionamentos sociais pacíficos era uma preocupação constante e a comunicação face a face tinha um papel importante. A tradução de sentimentos em palavras mantinha todos em contato com o que todos os outros estavam pensando e sentindo, liberando tensões e prevenindo os desentendimentos, evitando o crescimento do conflito de chegar a ponto de tornar-se agressão. 14 Em resumo, pode-se dizer que a comunicação neste período era independente de hierarquia, baseada principalmente em valores e princípios compartilhados e com abrangência da informação, ou seja, todos compartilhavam o conhecimento numa sociedade igualitária. O modo de comunicação desenvolvido neste longo período de tempo pode ser descrito como “pouco verbal” e muito dependente do compartilhamento de crenças, princípios e valores. Atualmente este tipo de comunicação parece manifestar-se fortemente nas empresas consideradas “visionárias”, na descrição de Collins & Porras no livro “Feitas para Durar”. Entrar para estas empresas é como entrar para um grupo ou uma sociedade extremamente fechada. E se você não se adaptar, é melhor não entrar. Se você estiver realmente disposto a comprar a filosofia da empresa e se dedicar a ela, então ficará muito satisfeito e produzirá muito – dificilmente estaria mais contente em outro lugar. Caso contrário, no entanto, você provavelmente vai se atrapalhar, se sentir muito mal e deslocado, e acabará saindo – sendo eliminado como um corpo estranho. É uma situação excludente: ou você tem tudo a ver ou não tem nada a ver, e não parece haver um meio termo. É quase que uma cultura de devoção. A observação nos pareceu tão real que decidimos analisar a literatura sobre cultos para ver se as empresas visionárias tinham mais características em comum com os cultos do que as empresas de comparação. Nós não encontramos nenhuma definição universalmente aceita de culto na literatura; a definição mais comum é a de que um culto é um conjunto de pessoas caracterizado por uma devoção grande ou excessiva por uma pessoa, idéia ou coisa (definição que certamente descreve muitas das empresas visionárias). Nós também não encontramos nenhuma lista de verificação universalmente aceita do que distingue os devotos dos não-devotos. No entanto, encontramos alguns temas em comum e quatro características específicas dos cultos que as empresas visionárias exibem num nível mais intenso do que as empresas de comparação. 15 - Ideologia fervorosamente seguida (discutimos isso antes no capítulo sobre ideologia central) - Doutrinação - Rigidez quanto à adaptação - Elitismo (COLLINS & PORRAS,1996, p.181) 1.2 A sociedade agrária O surgimento da agricultura altera profundamente a organização dos agrupamentos humanos e a comunicação entre eles. Segundo Manning (2004), isto ocorre porque a época certa do plantio é um problema complexo e de difícil resolução, principalmente em climas temperados. Uma tentativa de contar as estações do ano através dos ciclos lunares, por exemplo, faria o plantio ocorrer no meio do inverno depois de algumas poucas décadas. A solução correta deste problema só ocorreu através da observação do sol, um conhecimento específico e complexo, que levou ao surgimento dos primeiros observatórios solares. Para o conhecimento disponível na época, esta era a única maneira de medir corretamente a passagem de um ano. O conhecimento da época correta de plantio passou a ser usado como fator de dominação e influência. A partir de então o conhecimento passou a ser restrito como modo de manter a dominação, levando ao surgimento de hierarquias. Outro fator de profunda alteração no relacionamento humano foi o assentamento em locais permanentes. Sociedades nômades compartilham seus bens pessoais devido a dificuldade de locomoção. Já as sociedades estabelecidas num local fixo não têm esta limitação, surgindo então a propriedade privada de bens. Tanto o surgimento da hierarquia como o aparecimento da propriedade privada restringiram profundamente o nível de comunicação entre as pessoas, culminando no fim da sociedade igualitária. 16 Em resumo, pode-se dizer que a comunicação neste período era hierarquizada, sem se basear em valores e princípios compartilhados, numa sociedade estratificada, embora a unidade básica de produção continuasse sendo familiar. 1.3 A sociedade industrial A Revolução Industrial foi marcada por uma forte influência da mecanização nos meios de comunicação. Isto permitiu que tarefas complexas feitas por artesãos altamente qualificados fossem divididas numa série de tarefas simples, executadas por trabalhadores de pouca qualificação e estruturadas hierarquicamente pela administração numa organização altamente complexa, que usava como modelo a estrutura e a hierarquia do exército prussiano, DRUCKER (2006), p.151. Este modelo de produção substituiu o modelo familiar, usado até então, conforme Drucker no artigo Beyond the Information Revolution, na revista Atlantic Montly, outubro de 1999. A sociedade e, principalmente os empreendimentos, tornaram-se ainda mais hierarquizados, distanciando o trabalhador comum da tarefa como um todo. Cada trabalhador passou a só receber a informação necessária para a execução do seu trabalho, perdendo a noção do todo e retirando do trabalhador comum o sentido de conjunto. Trata-se de uma mudança radical e antagônica em relação ao modelo usado nas sociedades pré-agricultura. Com isso, a comunicação passa a ser hierarquizada e fragmentada. 1.4 A sociedade pós-industrial A sociedade pós-industrial é marcada pela influência dos meios de comunicação na vida das pessoas e pela disponibilização de praticamente todo 17 o tipo de informação, principalmente via Internet. Isto deve tornar obsoleta a hierarquização entre as pessoas, que está baseada na diferença do acesso à informação. De acordo com Drucker, a ênfase do modelo corporativo está passando da posse dos meios de produção da indústria, para o conhecimento das pessoas. Este período está se caracterizando pelo surgimento de organizações sem fins lucrativos, baseado em trabalho voluntário, causando influências profundas nas organizações tradicionais. O gerenciamento de trabalhadores do conhecimento deve ser baseado no pressuposto de que a corporação precisa deles mais do que eles precisam dela. Eles sabem que podem sair. Têm mobilidade e autoconfiança. Isso significa que devem ser tratados e gerenciados como voluntários que trabalham para organizações sem fins lucrativos. A primeira coisa que essas pessoas querem saber é o que a empresa está procurando fazer e para onde está indo. A seguir, elas estão interessadas em realização e responsabilidade pessoais -- o que significa que precisam ser colocadas no lugar certo. Os trabalhadores do conhecimento esperam aprendizado e treinamento contínuos. Acima de tudo querem respeito, não tanto por eles, mas por sua área de conhecimento. Nesse sentido, estão vários passos além dos trabalhadores tradicionais, que costumavam esperar que alguém lhes dissesse o que fazer, embora ultimamente cada vez mais se conte com sua "participação". Diferentemente, os trabalhadores do conhecimento esperam poder tomar as decisões em suas áreas. (DRUCKER, na revista Exame, em 8/5/2003) Este trecho mostra uma mudança de atitude no trabalhador em comparação à atitude típica da sociedade industrial, com vários elementos remetendo ao tipo de organização e comunicação existentes nas sociedades pré – agrárias. 18 1.5. A sistematização da comunicação empresarial No final do século XIX e início do século XX, surgiram uma série de novos empreendimentos na economia americana, como a indústria automobilística, a indústria do petróleo, as ferrovias e a indústria elétrica. Tais acontecimentos agravaram os conflitos entre as classes sociais dos trabalhadores e os novos empresários, uma nova classe social composta por milionários numa escala até então desconhecida. John D. Rockfeller, dono da Colorado Fuel and Iron Company, foi acusado pela imprensa da época de ter encerrado uma greve na sua companhia mandando a polícia atirar em seus funcionários. Este fato foi amplamente divulgado pela imprensa. Rockfeller tentou reverter a situação através da contratação do jornalista Ivy Lee. O aparecimento da assessoria de imprensa data de 1906, nos Estados Unidos. O crédito pelo surgimento dessa profissão é dado a Ivy Lee, a quem se atribui a utilização de técnicas de publicidade para mudança de imagem do americano John Rockfeller. Ivy Lee marcou a diferença entre fazer propaganda e trabalhar a opinião pública. Lee ficou conhecido como o primeiro profissional de relações públicas. Numa época em que era praxe dificultar o trabalho da imprensa, Lee fez exatamente o contrário e atuou como fonte ao distribuir uma carta em que se comprometia a dar apenas notícias verdadeiras e estar sempre pronto a atender os jornalistas. Lee inventou técnicas e procedimentos de relacionamento com a imprensa, tanto de divulgação quanto de ocultação de notícias, e construiu uma nova imagem de Rockfeller, que passou para a história como um benfeitor. Na prática, Lee impôs comportamento civilizado ao patrão e as suas empresas: Rockfeller foi convencido a atender as intimações da justiça, antes desprezadas, e foi criada a Fundação Rockfeller, que continua a distribuir 19 milhões de dólares pelo mundo, em favor das ciências. (ARAÚJO e SOUZA, 2007, p.331). De acordo com Cláudio Amaral, no artigo A História da Comunicação Empresarial no Brasil, Lee morreu por volta de 1935, quando dirigia o departamento de relações públicas da Chrysler, após a atividade que ele inventara ser adotada em diversas empresas e órgãos públicos e estudada em universidades como Yale, Harvard e Columbia. Após os Estados Unidos, as relações públicas foram utilizadas no Canadá (1940), França (1946), Holanda, Inglaterra, Noruega. Itália, Bélgica, Suécia e Finlândia (1950) e Alemanha (1958). No Brasil, a comunicação empresarial começou na década de 50. O Brasil conheceu os trabalhos de Comunicação Empresarial na década de 50, com a instalação de indústrias e das agências de publicidade vindas dos Estados Unidos. Surgiu, nos anos 1960, a primeira agência de Relações Públicas no país, a AAB. Em 1967 foi regulamentada a profissão de RP e um ano depois foi decretada a regulamentação do profissional de jornalismo. A essa altura, muitos jornalistas experimentavam trocar a correria das redações para aproveitar a agilidade aprendida em prol das organizações. (LEDESMA, 2006, p.29). Em 1967 foi criada a Associação Brasileira dos Editores de Revistas e Jornais de Empresas (Aberje), que passou a ser conhecida, em 1987, como Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Segundo Nassar e Figuereido (1995) a Rhodia, em 1985, revolucionou a forma de pensar a forma de comunicação empresarial. A Rhodia, em 1985, por intermédio da sua Gerência de Comunicação, comandada na época por Walter Nori, criou um Plano de Comunicação Social que veio a revolucionar a forma como se pensava comunicação empresarial”. – p.13 20 Pela primeira vez, a comunicação empresarial foi concebida como somatória das ações – sempre integradas – das várias áreas de comunicação da empresa, definindo as suas tarefas “no apoio às estratégias mercadológicas e na condução dos projetos institucionais...”. O Plano da Rhodia integrava a comunicação empresarial no processo de transformações que se dava na sociedade (o país entrava no período que se denominou Nova República), fazendo-a participar das mudanças que estavam ocorrendo. O histórico plano de comunicação empresarial da Rhodia refletia e adequava aquela empresa ao novo ambiente social e empresarial que o Brasil começava a viver. A sociedade brasileira acabava de sair dos anos de governo militar, a imprensa ficava mais livre, as organizações não-governamentais (ONGs) pipocavam por todo lado. Segundo o seu Plano, a Rhodia passava a “adotar uma postura de portas abertas, receptiva ao debate, por considerar o risco de omissão mais grave do que o representado pela defesa de pontos de vista. Afinal, temos o orgulho do que estamos construindo e não há por que esconder o que fazemos. Abandona-se, pois, uma posição de acomodação ou reserva a nossa imagem pública”. Um aspecto do surgimento do Plano de Comunicação da Rhodia a ser ressaltado é a preocupação daquela empresa em ordenar a comunicação empresarial. A partir dali, não existem mais ações isoladas de comunicação. Tudo segue o posicionamento estratégico e mercadológico da empresa. O Plano arrebenta com as ilhas internas de informação – guetos – e transforma a comunicação no instrumento – interface – entre todos os públicos de interesse da empresa. (NASSAR e FIGUEIREDO, 1995, p.13 e 14) Atualmente, nenhuma das grandes empresas brasileiras questiona a importância da comunicação empresarial como importante ferramenta para o sucesso do empreendimento. Ainda de acordo com Nassar e Figueiredo, “Num contexto de grande competitividade entre as empresas e de uma cobrança cada vez maior por parte dos consumidores e da sociedade, a comunicação com os mais diversos públicos se torna indispensável para o sucesso” (p.20). 21 CAPÍTULO II A COMUNICAÇÃO NAS EMPRESAS COM CULTURA VISIONÁRIA No capítulo anterior vimos que a grande herança do modo de vida paleolítico é um tipo de organização humana pouco hierárquica, muito adaptável e com grande capacidade para solucionar novos problemas. Vimos também que a grande organização moderna foi estruturada a partir do exemplo da organização que melhor lidava com a complexidade, o exército prussiano. Curiosamente, este tipo de organização, embora seja o mais indicado para resolver problemas já conhecidos, parece ser pouco eficiente ao lidar com novos problemas. O exemplo típico desta inadequação está também no exército, na ofensiva do Somme, na primeira guerra mundial, quando sessenta mil soldados morreram em alguns dias de ofensiva, usando a teoria clássica, de mandar leva atrás de leva de homens, teoria desenvolvida por Napoleão, contra uma novidade da tecnologia, a metralhadora, segundo Macdonald (2004). Este caso demonstra claramente um defeito muito sério na comunicação deste tipo de empreendimento (o exército). Os soldados que estavam morrendo num ataque inútil tinham esta informação – o ataque não estava funcionando – mas ela não chegava aos generais, distantes do campo de batalha. Foi necessário mais de um dia de carnificina e muitos milhares de mortos antes dos generais perceberem que sua tática não estava funcionando e procurassem explicação, cessando então o ataque. Este tipo de “falha de comunicação” não acontecia no tipo de organização da sociedade paleolítica. Algumas empresas parecem saber balancear bem os dois tipos de cultura, resolvendo os problemas conhecidos 22 através de uma hierarquia fixa, assim como o exército prussiano, e os problemas desconhecidos através de uma hierarquia flexível, assim como a organização paleolítica. O livro Feitas para Durar Práticas bem sucedidas de empresas visionárias, de James C. Collins & Jerry I. Porras, faz uma análise muito interessante sobre as empresas que conseguem sobreviver às adversidades, consideradas por eles como empresas visionárias. Empresas visionárias são instituições líderes – a nata – em seus setores, muito admiradas pelas outras empresas da área e com um longo registro de impactos significativos sobre o mundo à sua volta. O ponto principal é que uma empresa visionária é uma organização – uma instituição. Todos os líderes, não importa o quão carismáticos ou visionários sejam, um dia morrem; e todos os produtos e serviços visionários – todas as “grandes idéias” – um dia se tornam obsoletos. De fato, mercados inteiros podem se tornar obsoletos e desaparecer. Mas as empresas visionárias prosperam durante muitos e muitos anos, ao longo dos ciclos de vida de vários produtos e durante várias gerações de líderes ativos. (COLLINS & PORRAS,1996, p.15 e 16) Esta citação mostra uma imensa similaridade com a descrição das sociedades paleolíticas. Cada empresa considerada visionária tem seu próprio conjunto de princípios e valores aceitos, assim como, muito provavelmente, cada grupamento paleolítico desenvolvia seu conjunto de crenças valores e princípios adaptados aos diferentes ambientes. A tabela a seguir mostra ideologias centrais de algumas empresas visionárias, como levantado por COLLINS & PORRAS,1996, p.108-112. 23 Walt Disney - Cinismo proibido. - Atenção fanática à consistência e aos detalhes. - Progresso contínuo através da criatividade, sonhos e imaginação. - Controle e preservação fanática da imagem de “magia” da Disney. - “Levar a felicidade a milhões de pessoas” e celebrar, alimentar e divulgar “valores norte-americanos sadios”. Sony - Sentir a pura alegria resultante do progresso, aplicação e inovação tecnológica que beneficia o público. - Elevar a cultura e o status nacional do Japão. - Ser pioneira – não seguir os outros, fazer o impossível. - Respeitar e encorajar a capacidade e criatividade de cada indivíduo. General Electric - Melhorar a qualidade de vida através da tecnologia e da inovação. - Equilíbrio interdependente entre responsabilidade com os clientes, os funcionários, a sociedade e os acionistas (não existe uma hierarquia clara). - Responsabilidades e oportunidades individuais. - Honestidade e integridade. 24 Hewlett-Packard - Contribuição técnica para os campos em que agimos (“Nós existimos como empresa para fazer uma contribuição”.). - Respeito e oportunidade para os funcionários da HP, incluindo a oportunidade de compartilhar o sucesso da empresa. - Contribuição e responsabilidade perante as comunidades em que operamos. - Qualidade por um preço acessível para os clientes da HP. - Lucros e crescimento como meio de possibilitar todos os outros valores e objetivos. Johnson & Johnson - A empresa existe para “aliviar a dor e a doença”. - “Nós temos uma hierarquia de responsabilidades perante os clientes em primeiro lugar, os funcionários em segundo lugar, a sociedade como um todo em terceiro lugar e os acionistas em quarto lugar”. - Oportunidade para indivíduos e recompensa com base nos méritos. - Descentralização = criatividade = produtividade Os autores argumentam que os princípios são bastante diferentes entre as empresas, com pouquíssimas similaridades entre si. Aparentemente o importante é a empresa ter o conjunto de princípios, idéias e valores compartilhados entre todos os membros. Quais sejam estes princípios, idéias e valores parece ter pouca importância. As empresas consideradas visionárias desenvolvem uma cultura adaptada ao seu meio ambiente. O mesmo deve ter ocorrido em relação aos agrupamentos paleolíticos, onde a cultura do grupo era adaptada a cada meio ambiente. Assim como nos agrupamentos primitivos, este modo de organização e comunicação na empresa parece propiciar muito 25 fortemente a capacidade de adaptação aos fatos inesperados. Tanto o grande compartilhamento de informação quanto a inexistência de hierarquia permitem uma adaptação muito mais rápida às modificações no meio ambiente. É como se o nosso tipo de estruturação social mais primitivo propiciasse o surgimento de uma hierarquia móvel adaptada a cada circunstância e facilmente modificável. Quando o homem caçador-coletor saía num bando para caçar, o melhor trilhador liderava durante a fase de busca da caça. Na fase de captura o melhor flecheiro liderava, o mesmo ocorrendo com o melhor esquartejador. Uma liderança móvel e dependente da tarefa a ser executada. Já na estruturação da empresa moderna, baseada na organização do exército, são criadas estruturas rígidas, de difícil alteração e profundamente interligadas aos problemas. Embora seja a solução mais eficaz para resolver um problema específico que se repita indefinidamente, é muito ineficaz quando o problema se altera. A hierarquia na empresa moderna tradicional produz uma estrutura fixa e de difícil adaptação a mudanças, que reflete na sua estrutura a fórmula da solução do problema a ser resolvido (o motivo da existência da empresa). Este modelo funciona muito bem enquanto o ambiente permanecer estável. Mas em períodos de rápidas mudanças, fracassa em se adaptar. Sua estrutura rígida dificulta as alterações necessárias para a adaptação a um ambiente móvel. As empresas que sobrevivem a um longo período parecem conseguir recuperar um pouco do espírito do homem caçador-coletor e usar isto para produzir alterações rápidas na maneira de agir. Sem dúvida, o tipo de comunicação que adotam é um dos principais motivos do seu sucesso. Assim como as sociedades de criadores e agricultores, burocracias têm sucesso em ambientes com baixa taxa de mudanças e nas quais a fórmula de sobrevivência permanece basicamente inalterada. Eles têm muito menos sucesso em situações onde a solução está em permanente mudança, porque o motivo do seu sucesso – a habilidade de manter o status quo – diminui a sua 26 capacidade de responder à mudanças. O perigo para eles, assim como para todos os criadores de animais, acontece quando o ambiente torna-se turbulento e para de ser previsível. Então, para sobreviver, é necessário recuperar algo do estilo de vida do homem caçador. (HURST, 1995, p.29). 27 CAPÍTULO III ANÁLISE DE CASOS Nos capítulos anteriores observamos que as empresas, especialmente as consideradas visionárias, adquirem uma “personalidade própria”, com um conjunto de princípios, valores e idéias particulares. Neste capítulo analisaremos uma série de casos onde o objetivo da comunicação está de acordo ou contrário aos princípios básicos da empresa, avaliando o sucesso ou fracasso do empreendimento. 3.1 O caso Tylenol da Johnson & Johnson De acordo com o site da empresa, a Johnson & Johnson foi criada em 1886, na cidade de New Brunswick, no estado de New Jersey, nos Estados Unidos. Os irmãos Robert, James e Edward Johnson se juntaram com o objetivo de montar uma empresa que produzisse compressas cirúrgicas assépticas, prontas para uso, baseadas nas novas teorias do médico inglês Joseph Lister. Naquela época o algodão usado nas cirurgias era fabricado a partir das fibras retiradas do chão, sem assepsia. Isto causava uma grande quantidade de infecções hospitalares. A Johnson & Johnson continuou desenvolvendo novos produtos esterilizados, e em 1919, abriu sua primeira filial internacional, no Canadá. Em 1921, a empresa lançou um dos seus produtos mais conhecidos, o band-aid. A empresa está presente em 51 países e cinco continentes e “empenhase atualmente em todo o mundo na fabricação de produtos cirúrgico- 28 hospitalares, de primeiros socorros, para higiene de crianças, produtos de higiene oral, farmacêuticos, de higiene feminina e outros produtos destinados a manter a saúde e o bem-estar dos consumidores.” (http://www.jnjbrasil.com.br/noticia_full.asp?noticia=170&pos=0), acessado em 22/03/2009. A missão da empresa é: “Ser uma companhia de saúde, higiene e beleza que cresce acima do mercado através de superior satisfação do consumidor e dos clientes”. (http://www.jnjbrasil.com.br/noticia_full.asp?noticia=333&pos=0), acessado em 22/03/2009. A visão da empresa é: “A Johnson & Johnson promoverá o bem-estar de cada pessoa, fazendo parte de sua vida, pelo menos uma vez por dia, desde sua infância até a maturidade”. (http://www.jnjbrasil.com.br/noticia_full.asp?noticia=333&pos=0), acessado em 22/03/2009. A filosofia da Johnson & Johnson é baseada em uma carta de princípios escrita em 1943 por Robert Wood Johnson, filho do fundador da empresa e responsável pela transformação de um pequeno negócio familiar em um empreendimento mundial. Em um documento de uma página, denominado Nosso Credo, Robert Johnson definiu a responsabilidade da companhia para com seus consumidores, empregados, comunidade e acionistas. Colocando os consumidores em primeiro lugar, o Credo representou um novo conceito no gerenciamento de negócios. O documento defende que a empresa deve ir além da simples fabricação e venda de seus produtos. Escrito há mais de 50 anos, ele abordou temas como meio ambiente e responsabilidade social muitas décadas antes desses assuntos estarem em evidência. Robert Johnson defendeu que o Nosso Credo deveria ser aplicado a todo o momento, na busca de respostas mais adequadas aos problemas do dia-a-dia da Empresa. 29 Hoje, esses valores estão presentes nos escritórios e fábricas da Johnson & Johnson em todo o mundo. Todos os funcionários participam de uma pesquisa periódica para avaliar se as responsabilidades defendidas no Credo estão sendo aplicadas. Esta avaliação serve como parâmetro para que os diretores da Johnson & Johnson planejem as ações e o futuro da Empresa. Nosso Credo Cremos que nossa primeira responsabilidade é para com os médicos, enfermeiras e pacientes, para com as mães, pais e todos os demais que usam nossos produtos e serviços. Para atender suas necessidades, tudo o que fizermos deve ser de alta qualidade. Devemos constantemente nos esforçar para reduzir nossos custos, a fim de manter preços razoáveis. Os pedidos de nossos clientes devem ser pronta e corretamente atendidos. Nossos fornecedores e distribuidores devem ter a oportunidade de auferir um lucro justo. Somos responsáveis para com nossos empregados, homens e mulheres que conosco trabalham em todo o mundo. Cada um deve ser considerado em sua individualidade. Devemos respeitar sua dignidade e reconhecer seus méritos. Eles devem sentir-se seguros em seus empregos. A remuneração deve ser justa e adequada e o ambiente de trabalho limpo, ordenado e seguro. Devemos ter em mente maneiras de ajudar nossos empregados a atender às suas responsabilidades familiares. Os empregados devem sentir-se livres para fazer sugestões e reclamações. Deve haver igual oportunidade de emprego, desenvolvimento e progresso para os qualificados. Devemos ter uma administração competente, e suas ações devem ser justas e éticas. Somos responsáveis perante as comunidades nas quais vivemos e trabalhamos, bem como perante a comunidade mundial. Devemos ser bons cidadãos apoiar boas obras sociais e de caridade e arcar com a nossa justa parcela de impostos. Devemos encorajar do desenvolvimento do civismo e a melhoria da saúde e da educação.Devemos manter em boa ordem as propriedades que temos o privilégio de usar, protegendo o meio ambiente e os recursos naturais. 30 Nossa responsabilidade final é para com os nossos acionistas. Os negócios devem proporcionar lucros adequados. Devemos experimentar novas idéias. Pesquisas devem ser levadas avante, programas inovadores desenvolvidos e os erros reparados. Novos equipamentos devem ser adquiridos, novas fábricas construídas e novos produtos lançados. Reservas devem ser criadas para enfrentar tempos adversos. Ao operarmos de acordo com esses princípios, os acionistas devem receber justa recompensa. (http://www.jnjbrasil.com.br/noticia_full.asp?noticia=156&pos=0), acessado em 22/03/2009. No final de setembro e no início de outubro de 1982, a Johnson & Johnson enfrentou uma grave crise com o produto Tylenol. Provavelmente o mais famoso e bem sucedido caso de gerenciamento de crise. O fato da Johnson & Johnson estar definitivamente entre as principais empresas em pesquisas de melhor reputação e mais divulgadas não surpreende quando se considera o cuidado que a empresa tem em garantir um forte elo ente a visão e a comunicação. Isso foi evidenciado durante a crise do Tylenol, quando a empresa colocou em prática os valores codificados no Credo da J&J na maneira atenciosa como atendeu às necessidades de seu público. (ARGENTI, 2006, p.44) (...) Parte do que ajudou a empresa a superar essa difícil situação foi a existência de um Credo da J&J, um código de ética de toda empresa que delineia as promessas da J&J e seus diferentes públicos. Isso ajudou a orientar as ações da empresa durante um episódio que poderia ter prejudicado de forma irreparável a marca Tylenol e, talvez, a própria J&J. (ARGENTI, 2006, p.15) Em 1982, o Tylenol da Johnson & Johnson tinha cerca de 40% do mercado americano de analgésicos, representando cerca de 15% do faturamento da companhia e com vendas de aproximadamente 33 milhões de dólares, de acordo com a revista Exame de 26/01/2000. No final de setembro e 31 no início de outubro, sete pessoas nos arredores de Chicago morreram envenenadas por cianureto, depois de ingerirem cápsulas adulteradas de Tylenol. Em função deste episódio, o valor de mercado da companhia diminuiu em cerca de um bilhão de dólares, com prejuízos de aproximadamente 100 milhões de dólares. Uma vez que a adulteração aconteceu depois da entrega, no varejo, o esperado seria a empresa eximir-se da responsabilidade, já que o produto não estava mais sob a sua guarda. Ao contrário disto, a Johnson & Johnson assumiu total responsabilidade, mas não a culpa. Ela removeu todo o produto das prateleiras, cerca de 31 milhões de frascos. A atitude da Johnson & Johnson diante da crise e a influência do Credo ficam bem ilustrados na declaração de Lawrence G. Foster, na época vicepresidente de Relações Públicas: A primeira decisão de RP, tomada imediatamente e com apoio total da direção da empresa, foi cooperar inteiramente com os veículos de comunicação. A imprensa foi autorizada a alertar o público sobre o perigo. Mais tarde verificou-se que nenhuma reunião havia sido convocada para tomar essa importante decisão. Os envenenamentos pediam ação imediata para proteger o consumidor e não houve a menor hesitação da empresa em se manter transparente e à disposição da imprensa. (www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/administracao decrises/0089.htm), acessado em 22/03/2009. De acordo com Argenti (2006), a empresa decidiu salvar a imagem do produto ao invés de desenvolver uma nova identidade para o Tylenol, usando a boa imagem e bom relacionamento construído com a mídia, médicos e público em geral. Os funcionários fizeram mais de um milhão de visitas a hospitais, médicos e farmacêuticos em todo os Estados Unidos para restaurar a 32 confiança do nome Tylenol, e o presidente da empresa concedeu inúmeras entrevistas, inclusive para o 60 Minutes. A atitude da Johnson & Johnson durante a crise mostrou que a empresa estava mais preocupada com os valores morais e éticos explicitados no seu Credo, do que nos aspectos jurídicos e financeiros. James E. Burke, o encarregado de supervisionar a crise, mostrou o comprometimento da empresa com o Credo, através da frase: Tínhamos de fazer valer o nosso Credo. Estávamos comprometidos em colocar o público em primeiro lugar e todo mundo na empresa estava atento para ver se conseguiríamos cumprir nossas promessas. A gerência da J&J cumpriu as promessas e o público reconheceu isso. Três meses depois da crise, a empresa reconquistou 95% de sua participação de mercado. (ARGENTI, 2006, p.263) A maneira como a Johnson e Johnson trabalhou a comunicação e gerenciou a crise do Tylenol tornou-se o exemplo de como proceder nestas situações. 3.2 O caso das propagandas da Petrobras A Petrobras é uma empresa 100% brasileira. Suas conquistas tecnológicas são motivo de orgulho para toda a população. De acordo com a revista Época, de 14/03/2003 a existência de petróleo no Brasil foi confirmada, pela primeira vez, em 1939 em Lobato, na Bahia, quando perfuraram um poço de 220 metros. A existência de petróleo no Brasil levou à campanha “O petróleo é nosso”, na década de 40, contra a exploração do petróleo brasileiro por companhias estrangeiras. Isto culminou com a criação da Petróleo Brasileiro S.A, Petrobras, criada em 1953 através de uma lei sancionada por Getúlio Vargas que dava o monopólio da exploração e refino do petróleo à 33 empresa. Na década de 60, foram criadas diversas refinarias e foi estipulado o objetivo de alcançar a auto-suficiência na produção de derivados. Na década de 70, a crise do petróleo faz a empresa aumentar sua produção, investindo na exploração no mar. Na década de 90, foi quebrado o monopólio da empresa, mas na prática isto não ocorreu. Em 2008, a Petrobras descobriu reservas gigantes na camada do pré-sal, em águas profundas. A missão da Petrobras está definida em seu site como: Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, nos mercados nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua. http://www2.petrobras.com.br/portugues/ads/ads_Petrobras.html, acessado em 14/03/2009. 3.2.1. A propaganda usando a visão de empresa desenvolvedora de tecnologia e motivo de orgulho nacional. A propaganda abaixo está claramente alinhada com os princípios e valores da empresa. Este tipo de propaganda tem sido tradicionalmente usado pela Petrobras com muito sucesso. Remete ao nacionalismo e ao desenvolvimento de tecnologia, motivos de orgulho da nossa população. 34 3.2.2. A propaganda usando o marketing ambiental Com o aumento da percepção da necessidade de preservar o meio ambiente muitas empresas decidiram adotar uma imagem de empresa ambientalmente responsável, pelo grande apelo popular que apresenta, conforme a reportagem “Todo mundo quer ser verde”, da revista Exame de 29/11/2007. Nem todas obtiveram sucesso. A propaganda abaixo mostra uma tentativa de posicionamento da Petrobras como empresa ecologicamente correta. 35 Tradicionalmente o nome Petrobras está intimamente associado à prospecção de petróleo, tanto na mente do grande público como, principalmente, na dos funcionários. Em suma, é uma empresa que procura onde a natureza colocou grandes depósitos de CO2 para retirá-lo, permitindo que depois retorne à atmosfera. Dentro deste espírito, a tentativa de se posicionar como empresa ambientalmente responsável parece inútil. Os eventos a seguir provam este ponto de vista. O diesel brasileiro tem 500 partes de enxofre por milhão nas grandes cidades e 2000 no interior, enquanto na Europa são 50 e nos Estados Unidos 15. O enxofre no diesel está associado à poluição atmosférica e a doenças respirartórias. A única produtora de diesel no país é a Petrobras Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu pela resolução 315 que o diesel brasileiro teria que ter 50 partes de enxofre por milhão, a partir de janeiro de 2009. Perto do final de 2008 a Petrobras e a indústria automobilística pediram um prazo maior para se adaptarem à nova regulamentação. Em função disto, o Movimento Nossa São 36 Paulo foi ao Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar) pedindo que a Petrobras retirasse do ar uma propaganda se intitulando ambientalmente responsável. Por causa do diesel sujo a empresa foi proibida pelo Conar de fazer campanhas enaltecendo suas ações de responsabilidade ambiental. Um pouco depois, a Petrobras foi afastada do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa, carteira de ações das empresas com consciência sócio-ambiental. A resposta da Petrobras foi afirmar que estava sendo vítima de uma campanha difamatória e pedir o desligamento do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado para unir empresas éticas e socialmente comprometidas. Este tipo de ação mostra claramente uma dissociação entre a alegação ambiental da Petrobras e suas idéias, princípios e valores básicos. De nada adianta uma empresa tentar passar uma imagem que não corresponde aos seus valores centrais. No longo prazo, os fatos acabam por desmentir idéias distantes dos princípios da empresa, abalando sua credibilidade. 37 CONCLUSÃO Existem dois tipos de estruturações para a transmissão de informação e controle: o hierárquico, baseado na organização do exército prussiano e o informal ou inconsciente, baseado na psicologia dos grupos e cuja origem remonta os nossos ancestrais e o tipo de organização que adotaram para sobreviver. A comunicação neste período era independente de hierarquia, baseada principalmente em valores e princípios compartilhados e com abrangência da informação, ou seja, todos compartilhavam o conhecimento numa sociedade igualitária. O tipo de estruturação hierárquica é considerado a solução mais eficaz para resolver um problema bem conhecido num ambiente estável. Já o outro tipo parece ser muito mais adequado para ambientes de mutação. As empresas sempre convivem com os dois tipos de hierarquia. Algumas empresas direcionam a comunicação informal na tentativa de obter as vantagens de ambos os métodos. Assim a empresa tem uma estrutura formal que torna muito eficiente a solução dos problemas bem conhecidos e representa a sobrevivência e eficiência da empresa no dia a dia. Por outro lado, o direcionamento da comunicação informal permite a empresa ter condições de enfrentar ambientes de profundas mudanças, fator crucial para a sobrevivência no longo prazo. Mesmo as empresas que não direcionam a comunicação informal (ou inconsciente), adquirem um conjunto de valores aceitos pelo grupo, e passam a agir de acordo com eles. As tentativas da hierarquia formal de agir no sentido contrário a esses valores costumam ser mal sucedidas no longo prazo, como apresentado no caso da propaganda da Petrobras, tentando mostrá-la como empresa ecologicamente responsável. 38 A análise do caso Johnson & Johnson mostra um exemplo muito bem sucedido de união dos dois tipos de organização, obtendo o melhor dos dois casos. A atitude da Johnson & Johnson frente a uma crise completamente inesperada foi uma atitude semelhante a dos nossos antepassados diante de um ambiente desconhecido. Prova disto é que uma das decisões mais importantes, liberar toda a informação para a imprensa, não foi tomada por uma pessoa, mas já estava decidida pela “consciência coletiva”, contida no Credo, como demonstrado na declaração de Lawrence G. Foster: “(...) Mais tarde verificou-se que nenhuma reunião havia sido convocada para tomar essa importante decisão”. 39 BIBLIOGRAFIA AMARAL, Cláudio. A História da Comunicação Empresarial no Brasil, artigo que transcreve aula proferida no Curso de Aperfeiçoamento Profissional em Comunicação Empresarial - Puente Editora – Divisão de Ensino – SP, 10.02.1999. Disponível em http://www.comunic.com.br/paginainterna.asp, acessado em 8/2/2009. ARAÚJO, Ellis Regina e SOUZA, Elizete Cristina. Obras jornalísticas uma síntese. Brasília: Vestcon, 2007. ARGENTI, Paul A. Comunicação Empresarial - A construção da identidade, imagem e reputação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. COLLINS, C. James e PORRAS, I. Jerry. Feitas para durar – Práticas bemsucedidas de empresas visionárias. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. DRUCKER, Peter. Classic Drucker: Essential Wisdom of Peter Drucker from the pages of Harvard Business Review. Harvard Business School Publishing Corporation, 2006. DRUCKER, Peter. Beyond the Information Revolution, na revista Atlantic Montly- oct 1999. DRUCKER, Peter. “A corporação sobreviverá?”, na revista Exame, em 8/5/2003, edição 792. HURST, K. David. Crisis & Renewal: Meeting the challenge of organizational change. Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press, 1995. 40 LEDESMA, L. Cristiane. A Memória Empresarial e sua utilização como ferramenta de comunicação: Case Espaço Memória do Grupo Pão de Açúcar. Universidade de São Paulo, 2006. MACDONALD, John. Calling a Halt to Mindless change - A plea for commonsense Management. BeardBooks, 2004. MANNING, Richard. Against the grain (How agriculture has hijacked civilization). New York: North Point Press, 2004. MORAES, Mário. Caso Tylenol: Um (Bom) Exemplo de RP. Disponível em: http://www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/administracaodecrises/0089.htm, acessado em 22/03/2009. NASSAR, Paulo e Figueiredo, Rubens. O que é Comunicação Empresarial. São Paulo: Brasiliense, 1995. Site da Petrobras: disponível em http://www2.petrobras.com.br/portugues/ads/ads_Petrobras.html acessado em 14/03/2009. 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Revista Exame, de 29/11/2007, edição 907. 42 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I A Comunicação nas empresas e suas origens históricas 10 1.1 – A comunicação e a cultura na pré-história 10 1.2 – A sociedade agrária 15 1.3 – A sociedade industrial 16 1.4 – A sociedade pós-industrial 16 1.5 – A sistematização da comunicação empresarial 18 CAPÍTULO II A comunicação nas empresas com cultura visionária 21 CAPÍTULO III Análise de casos 27 3.1 – O caso Tylenol da Johnson & Johnson 27 3.2 – O caso das propagandas da Petrobras 32 3.2.1 – A propaganda usando a visão de empresa 33 desenvolvedora de tecnologia e motivo de orgulho nacional 3.2.2 – A propaganda usando o marketing ambiental 34 43 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 42 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Título da Monografia: Autor: Data da entrega: Avaliado por: Conceito: