Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=409> Tuberculose em animais domésticos Waldmaryan Bianchini1, Érico Rodrigues2 1 Zootecnista, Doutora em Nutrição e Produção Animal, Professora do Departamento de Nutrição Animal - Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista (ESAPP) 2 Zootecnista, Doutorando em Zootecnia – FMVZ – UNESP, Botucatu, SP. 1.INTRODUÇÃO Primeiramente a tuberculose foi conhecida como uma doença causada por um agente infeccioso em animais e historicamente a transmissibilidade da doença a partir de material humano aos animais (coelho) foi descrita pela primeira vez por Villemin em 1865. Em 1882, Robert Koch, descobriu o agente infeccioso, corando-o pela fucsina-anilina e isolando-o em meio de cultura em 1884. Mas foi somente em 1897, nos EUA, que a diferenciação entre os bacilo humano, bovino, e o aviário foi descrita por Smith (PRITCHARD, 1988). A tuberculose ressurge hoje como a doença infecciosa que mais mata em todo o mundo, causando aproximadamente três milhões de mortes a cada 1 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. ano. São diagnosticados dez milhões de casos novos a cada ano, principalmente nos países do Terceiro Mundo (KLEEBERG, 1984). O advento da síndrome de imunodeficiência adquirida -AIDS, em muito colaborou para o aumento no número de casos de tuberculose nos grandes centros urbanos (SAUBOLLE, 1989; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1993). Segundo O'REILLY e DABORN (1995), a AIDS aumentou o risco de manifestação da doença em humanos, tanto por M.tuberculosis como possivelmente por M.bovis. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a tuberculose como zoonose é preocupante, principalmente nos países em desenvolvimento, onde o conhecimento do problema é escasso. Assim, são necessárias melhorias nos aspectos de saúde pública veterinária em relação à infecção por M.bovis, especialmente nas populações de risco (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1993). Grupos ocupacionais, como magarefes e tratadores de animais são os principalmente afetados (O'REILLY & DABORN, 1995). A tuberculose bovina era considerada como o maior problema em saúde pública por sua transmissão ao homem através do leite de vacas infectadas. Contudo, o desenvolvimento da pasteurização contribuiu intensamente para minimizar esse problema (O'REILLY & DABORN, 1995). Dados sobre M.bovis em humanos na América Latina e Caribe são muito escassos, especialmente em crianças. Este fato ocorre principalmente devido ao método de eleição para diagnóstico da tuberculose em humanos representado pela baciloscopia do escarro. Na Argentina, que dispõem de uma alta taxa de diagnóstico bacteriológico para a tuberculose humana com isolamento e identificação do agente, a doença por M.bovis assume um caráter basicamente profissional, com transmissão principal por aerossóis. No período de 1984 a 1989, entre 2,4 e 6,2% dos casos humanos eram causados pelo bacilo bovino, sendo que 64% deles eram magarefes e tratadores de animais (LATINI et alli, 1994) . A tuberculose bovina, como a humana, volta a assumir grande importância em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, alcançando índices acima de 1%, acometendo aproximadamente 3,5 milhões 2 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. de animais só entre Brasil e Argentina. Crescentes são as perdas econômicas com baixa na produtividade do rebanho e condenação de carcaças em matadouro. Não se sabe em nosso meio a real importância do M.bovis como doença de caráter profissional ou sua transmissão à população através do consumo de leite e seus derivados. Conceitos de epidemiologia, patogenia e diagnóstico são revistos com a finalidade de atualizar os conhecimentos e uniformizar a conduta de combate à enfermidade, baseando-se na experiência de outros países. 2. AGENTE ETIOLÓGICO O Agente da Tuberculose bovina é o M. bovis , que possui uma adapatbilidade aos hospedeiros maior que o M. tuberculosis e o M. avium, pois se apresenta como agente infeccioso não só para o bovino, mas também para o homem, cão, gato, porco, ovelha, cabra e cavalo (BEER, 1988). O agente causador da tuberculose é um bacilo álcool-ácido resistente, ou seja, que quando corado pela fucsina a quente, não se descora pelo álcool clorídrico ( coloração de Ziehl-Neelsen). Pertence à ordem Actinomycetales e ao gênero Mycobacterium (KANTOR, 1979). As espécies causadoras da tuberculose clássica foram agrupadas no "Complexo Mycobacterium tuberculosis", constituído pelo M.tuberculosis, M.bovis e M.africanum, este último ainda não isolado no Brasil. O bacilo é moderadamente resistente ao calor, dissecação e diversos desinfetantes. Permanece viável em estábulos, pasto e esterco por até 2 anos, até 1 ano na água e por até 10 meses nos produtos de origem animal contaminados. Agentes desinfetantes como fenólicos, formólicos, álcool e em especial pelo hipoclorito de sódio são bastante eficientes no combate ao bacilo, contudo sua ação pode ser afetada pela concentração do produto, o tempo de exposição, a temperatura e a presença de matéria orgânica. Compostos de amônio quaternários e clohexidine não destróem o bacilo. O calor úmido a 60oC mata o bacilo rapidamente. A pasteurização, consistindo no tratamento 3 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. do leite a 62,8- 65,6oC por 30 min ou 71,7oC por 15 segundos mata além das micobactérias, a maioria dos microrganismos não-esporulados. É rapidamente destruído pela luz solar direta em ambiente seco. Em condições de umidade, temperatura e ao abrigo da luz solar, se mantém viável por longos períodos, como até 2 anos no interior dos estábulos (RUSSEL et alli, 1984). O bacilo causador da tuberculose apresenta 5 tipos principais, que são: 1. Tipo humano: Denominado Mycobacterium tiberculosis, que são germes mais longos e delgado do que o tipo dos bovinos. 2. Tipo bovino: Denominado Mycobacterium bovis , que são germes mais curtos do que os do tipo humano( 1 a 1,5 micro), grossos e retos. 3. Tipo aviário: Denominado Mycobacterium avium, que apresenta um polimorfismo muito grande, às vezes quase cocos, outras vezes, bacilos longos. 4. Tipo murino: Denominado Mycobacterium microti, isolado por WELLS, em 1937. O valor deste germe reside na possibilidade de seu uso como vacina, sendo que, segundo GRIFFITH e DALLING (1940), a proteção por este germe a cobaias e bovinos é maior que a BCG (Bacilo de CALMETTE e GUÉRIN – vacina de uso universal descoberta em 1924). 3.EPIDEMIOLOGIA Como acontece com o homem, a transmissão natural é realizada nos bovinos, de maneira direta ou indireta. A via de transmissão pode ser determinada, sobretudo descobrindo, na investigação anatomopatológica, a localização da lesão primária. Por ser encontrado em 90% dos bovinos adultos, 4 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. o foco primário nos pulmões ocupa lugar de destaque na transmissão aerógena, desempenhando importante papel, sobretudo na criação em estabulação a transmisssão por gotículas em suspensão, assim como a inspiração de pó veiculador de bacilos tuberculosos ( BEER, 1989). A tuberculose bovina é causada pelo M.bovis e possui distribuição mundial, concentrando-se principalmente em países em desenvolvimento e em criações intensivas, como em bovinos leiteiros. A tuberculose bovina concentra-se principalmente na América do Sul, que também detém a maior população bovina (KLEEBERG, 1984). Na América Latina e Caribe existem aproximadamente 300 milhões de bovinos, dos quais 73,7% estão em áreas com prevalência de tuberculose maior que 1%. Brasil e Argentina juntos possuem 3,5 milhões de bovinos infectados pelo bacilo tuberculoso espalhados por todo o território, que representa quase 2% da população bovina existente (KANTOR & RITACCO, 1994). O Brasil tem atualmente uma população bovina maior que 140 milhões de cabeças e dados de 1986 mostram que o nível de infecção estava entre 0,9 a 2,9%, com 6,2 a 26,3% dos rebanhos possuindo animais infectados, sem que essas taxas mostrassem tendência de diminuição. A taxa de lesões encontradas em matadouro era de 0,14% dos animais abatidos (KANTOR & RITACCO, 1994; KANTOR, 1988). Em países desenvolvidos, estima-se que as perdas econômicas decorrentes da tuberculose alcançam 10% da produtividade do gado leiteiro afetado (KANTOR, 1988). Na Argentina, as perdas na produção leiteira chegam a 18%, com retardo da primeira lactação e diminuição do número e duração das lactações (NADER & HUSBERG, 1994). Muitas espécies são descritas como hospedeiras do M.bovis, como bovinos, humanos, búfalos e diversos outros animais domésticos e silvestres (MORRIS et alli, 1994; O'REILLY & DABORN, 1995). Alguns são hospedeiros terminais e desenvolvem uma doença auto-limitante. Em alguns países, como Gram Bretanha, Irlanda, Nova Zelândia e Zâmbia, animais silvestres 5 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. participam como reservatórios silvestres de M.bovis para animais domésticos (O'REILLY & DABORN, 1995). HAAGSMA (1995) define o bovino como o hospedeiro verdadeiro da tuberculose bovina, mas muitas espécies domésticas e silvestres são susceptíveis, entre elas o búfalo e o bisão. O M.tuberculosis é menos patogênico para o bovino, sendo que a doença nessa espécie toma caráter auto-limitante; não foi observada transmissão entre bovinos ou de bovinos para humanos (O'REILLY & DABORN, 1995). Infecção de bovinos pelo M.avium não é freqüente, podendo desenvolver lesões a nível de linfonodos e raramente generalizam. A tuberculose é uma doença primordialmente respiratória e basicamente de transmissão aerógena entre as espécies (MORRIS et alli, 1994; O'REILLY & DABORN, 1995). Os animais infectados são a principal fonte de infecção, sendo a via oro-faríngea a porta de entrada mais comum. Pastos e alimentos contaminados são de menor importância na transmissão da doença (MORRIS et alli, 1994). O bovino, uma vez infectado, já é capaz de transmitir a doença a outros, mesmo antes do desenvolvimento de lesões teciduais. O agente pode ser eliminado pela respiração, pelo corrimento nasal, leite, fezes, urina, secreções vaginais e uterinas e pelo sémen. A ingestão de leite contaminado é a principal via de transmissão para animais jovens e também o homem. A transmissão transplacentária é considerada muito rara ou inexistente nos bovinos. As vias de transmissão menos comum são a intra-uterina e o coito, através de sémen contaminado (NEIL et alli, 1994). 4.PATOGENIA Quando a infecção se dá pelo trato respiratório (aerossóis), o pulmão é o órgão primeiramente atingido, assim como os linfonodos regionais. Já quando a infecção é pela via digestiva, a lesão se dá no sítio de entrada, principalmente nos linfonodos faríngeos e mesentéricos. No entanto, pode 6 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. atingir praticamente todos os órgãos quando da generalização do processo. Em uma primo infecção pulmonar, os bacilos vão se alojar no tecido, promovendo uma reação inflamatória, caracterizada como uma pneumonia. A doença se instala basicamente nos pulmões, formando nódulos caseosos, de tamanhos variados, em muitos casos confluentes tomando todo o parênquima pulmonar e formando lesões cavitárias, com espectoração de material bacilífero. Através de uma reinfecção exógena ou endógena, pela recrudescência da lesão, esta se torna necrosada, podendo atingir os tecidos vizinhos e se disseminar por toda a economia do indivíduo. Quando a resistência orgânica é baixa, acontece a disseminação do agente pelo parênquima pulmonar pela via aérea ou pela via hematógena, indo atingir o linfonodo regional, indo formar metástases em outros órgãos. Ocorre no foco inicial uma infiltração celular, necrose de caseificação e circunscrição da lesão, que pode evoluir para resolução e calcificação. A presença de um nódulo calcificado, predominantemente no terço distal do lobo caudal, e/ou aumento de volume do linfonodo regional denomina-se "Complexo Primário". Os bacilos podem permanecer nos linfonodos ou nos nódulos tuberculosos por longos períodos, se multiplicando ou sob a forma "dormente" (YOUMANS, 1979; PRITCHARD, 1988; O'REILLY & DABORN, 1995 ) Apesar da tuberculose bovina ser definida como uma doença crônica debilitante, também pode assumir caráter agudo e progressivo. Qualquer tecido pode ser afetado, mas as lesões de aspecto caseoso são mais comumente observadas nos linfonodos de cabeça, pescoço, mediastínicos e mesentéricos, pulmões, intestinos, fígado, baço, pleura e peritôneo. Os sintomas da doença nos animais podem não estar presentes em infecções recentes e quando característicos como da evolução emaciação do quadro, progressiva, podem aumento aparecer de volume sinais dos linfonodos e em alguns casos tosse, dispnéia e episódios de diarréia intercalados com constipação (HAAGSMA, 1995). 7 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. 5.DIAGNÓSTICO A tuberculose bovina é diagnosticada in vivo pelo exame clínico e o teste tuberculínico; após a morte, pelos exames post mortem, histopatológico e bacteriológico, incluindo sondas de DNA e técnica de PCR (HAAGSMA, 1995). O teste tuberculínico é uma resposta de hipersensibilidade tardia mediada por linfócitos T sensibilizados, deflagrada em indivíduos previamente expostos ao bacilo tuberculoso. O uso da tuberculina foi testado primeiramente por Koch, em 1882, como possível cura para a tuberculose em humanos, contudo, a tuberculina de Koch possuía proteínas estranhas oriundas do caldo de carne utilizado para cultivo da micobactéria e que induzia resposta não específica. Então, Dorset desenvolveu um meio sintético sem proteínas para o cultivo de bacilo tuberculoso (MONAGHAN et alli, 1994). Distinguem-se três tipos de preparações de tuberculinas: 1) a O.T. (Old Tuberculin) nos moldes originalmente desenvolvida por Kock; 2) a HCSM ( heat concentrated sintetic medium) ou tuberculina preparada em meio sintético e concentrada pelo calor; e 3) PPD ( purified protein derivate). A tuberculina HCSM também pode ser chamada de O.T., pois a princípio não mais se admite a produção de tuberculinas que não sejam preparadas em meio totalmente sintético. As tuberculinas O.T. e PPD não são comparáveis biologicamente, pois possuem composições distintas e diferentes relações dose/efeito. A tuberculina O.T. é obtida a partir da concentração pelo calor de um filtrado de cultura de Mycobacterium tuberculosis ou M.bovis, dependendo do país, para uso intradérmico em mamíferos. As estirpes mais utilizadas são C, DT, PN e H37Rv de M.tuberculosis e AN5 de M.bovis, pois são as estirpes de maior produção de nitrogênio proteico e estáveis em laboratório. O filtrado possui substâncias produzidas pelo bacilo vivo, como metabólitos e originários da ruptura deste. É um composto de proteínas, polipeptídeos e carbohidratos que podem desencadear uma resposta de hipersensibilidade tardia em indivíduos sensibilizados. Segundo as normas internacionais de padrões biológicos, a tuberculina O.T. possui 90.000 de U.I./ml. PPD é um derivado do 8 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. crescimento de bacilo em meio líquido, onde o conteúdo proteico é precipitado a partir do filtrado por meio da adição de ácido tricloracético e mensurado através de provas bioquímicas, ajustando-se o conteúdo de Nitrogênio proteico, conforme os padrões internacionais. Todavia, as etapas de esterilização e purificação podem desnaturar parte das proteínas, sendo necessária a avaliação da atividade biológica frente ao padrão de referência (ORGANIZACIÓN MUDIAL DE LA SALUD, 1968). O conteúdo proteico da tuberculina bovina não necessariamente representa sua atividade biológica. Esta avaliação depende de teste biológico em animais, frente a uma preparação de referência. O teste em cobaios é seguro, especialmente quando os animais são sensibilizados com M.bovis vivo virulento, mas periodicamente deveria ser avaliado em bovinos artificial ou naturalmente infectados (O'REILLY & DABORN, 1995). A reação tuberculínica caracteriza-se por ser um infiltrado de células mononucleares no local da aplicação, com formação de edema mais ou menos pronunciado. esta é uma reação de hipersensibilidade tardia mediada por linfócitos T sensibilizados (NEIL et alli, 1994). Alguns animais, ainda que infectados, não respondem aos testes tuberculínicos. Fatores como, infecção recente, final de gestação e desnutrição podem ocasionar falsos negativos aos testes. Contudo, animais em estado avançado de infecção podem manifestar o fenômeno de anergia, definido como ausência de reatividade cutânea à tuberculina em indivíduos previamente sensibilizados, cujo mecanismo ainda não está bem elucidado. Animais recéminfectados também não respondem ao teste tuberculínico. A resposta nos bovinos aparece comumente após 30 a 50 dias da infecção. Aplicação indevida da tuberculina pode interferir no resultado do teste. Após a tuberculinização, os animais apresentam sua capacidade de responder a novos testes diminuida, a esse fenômeno dá-se o nome de dessensibilização. A capacidade é recobrada após um período de 42 a 60 dias. Nos bovinos ocorre imunossupressão até quatro a seis semanas do parto, que pode ocasionar resultados falso-negativos ao teste tuberculínico em animais recém-paridos. Imunossupressão também 9 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. pode ocorrer nos casos de má nutrição, a semelhança do que ocorre em humanos e cobaios. Resultados falso-negativos podem ocorrer por variações inerentes ao próprio teste ou por variações na leitura e interpretação do teste. Tratamentos inescrupulosos com certas drogas também são citados como causadores de resultados falso-negativos (MONAGHAN et alli, 1994). Um pequeno número de reações não específicas podem ocorrer em animais tuberculinizados, visto que o teste simples caudal tem uma especificidade de 96 a 98,8% e o teste comparativo tem especificidade de pelo menos 99%. Contudo, em alguns animais reatores não são observadas lesões ao abate. Para diferenciar falso-positivos de lesões não observadas, é necessário que se faça uma inspeção post mortem bem minuciosa, o que muitas vezes é difícil de examinar a nível de matadouro. Causas de reações não específicas incluem animais sensibilizados por M.paratuberculosis, M.avium, "skin tuberculosis" e micobactérias do meio ambiente (MONAGHAN et alli, 1994). A especificidade também pode ser afetada pela tuberculina e o tipo de teste utilizados, pelos critérios de interpretação e pela exposição ao M.avium, M.paratuberculosis, outras micobactérias ambientais ou pela "skin tuberculosis" (O'REILLY & DABORN, 1995). O teste simples, com apenas uma aplicação de tuberculina bovina possui sensibilidade entre 32 e 99% e especificidade entre 75,5 e 99,9%, ou seja, possui grande sensibilidade e altíssima especificidade. Alguns fatores interferem na sensibilidade do teste tuberculínico, como a dose de tuberculina utilizada os critérios de interpretação do teste, intervalo pós-infecção e pósparto, variações impostas pelo operador, entre outros (O'REILLY & DABORN, 1995). FRANCIS e colaboradores (1978) pesquisando várias tuberculinas demostraram que o teste simples caudal possui uma sensibilidade de 81,8% e especificidade de 93,3% e, quando aumentava-se a dose de tuberculina aplicada para 0,4 mg, a sensibilidade alcançava a especificidade. Concluíram que, entre os testes simples, o teste cervical proporciona o máximo em sensibilidade e o teste caudal o máximo em especificidade. Em bovinos, o teste 10 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. comparativo possui uma especificidade semelhante ao teste simples caudal e possui uma sensibilidade muito baixa. HAAGSMA (1995) refere que o teste comparativo é usado para diferenciar os animais infectados pelo M.bovis daqueles expostos a outras micobactérias ou gêneros afins e o teste é considerado positivo em bovinos quando a resposta ao PPD bovino for ao menos 4,00 mm maior que do PPD aviário; de 1 a 4 mm é considerado suspeito. A tuberculina sintética concentrada pelo calor - HCSM é menos específica que o PPD - purified protein derivative. A dose recomendada para bovinos é de 2.000 UI de PPD bovino (usualmente 1,0 mg/ml), determinadas por ensaios biológicos frente a um padrão de referência internacional. O teste tuberculínico não é efetivo em todas as espécies animais. KANTOR e colaboradores (1984) observaram sensibilidade de 75% no teste comparativo contra 87,5% no teste simples cervical e semelhante em sensibilidade ao teste simples caudal. Aumentando-se a dose de tuberculina aplicada, a sensibilidade dos testes aumenta, mantendo a especificidade, contudo não se pode alcançar 100% de sensibilidade num teste tuberculínico, devido a presença de animais anérgicos no rebanho. KANTOR e colaboradores (1984) declararam que as vantagens principais do teste simples caudal são a alta sensibilidade, similar ao teste simples cervical, facilidade e rapidez de aplicação e leitura, com também alta especificidade, servindo apropriadamente para fins de triagem de rebanho. O teste comparativo teria uso limitado a elucidar rebanhos "problema". Todavia, a sensibilidade e a especificidade dos testes tuberculínicos podem ser modificadas na dependência da dosagem de PPD utilizada e dos critérios de interpretação dos resultados. DOBBELAER e colaboradores (1983) utilizaram modelos experimentais para avaliação de potência de PPD, sensibilizando animais com suspensão de BCG vivo ou suspensão de M.bovis morto pelo calor em veículo oleoso, verificando que a resposta ao PPD pode variar significativamente entre bovinos e cobaios e que seria ideal testar-se cada tuberculina na mesma 11 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. espécie a que ela se destina. Neste sentido, KANTOR e colaboradores (1984) verificaram que a inoculação de bacilos vivos sensibiliza melhor que a suspensão de bacilo morto em veículo oleoso. O exame post mortem pode ser afetado pelo critério na inspeção da carcaça e os sítios observados. O exame cuidadoso de pelo menos seis pares de linfonodos entre os de cabeça (mandibulares, parotídeos e retrofaríngeos), toráxicos (mediastínicos e bronquiais), mesentéricos e da carcaça (préescapulares, ilíacos, isqueáticos, sacral e inguinal superficial), bem como pulmão, fígado, baço, rim, úbere e órgãos genitais, pode identificar até 95% dos animais com lesões macroscópicas (CORNER, 1994). Para determinar o significado de reações tuberculínicas positivas em animais sem lesões visíveis ao abate é necessário o exame bacteriológico de amostras enviadas ao laboratório congeladas, principalmente linfonodos colhidos ascepticamente. O cultivo para primo isolamento de M.bovis pode ser processado pelo método tradicional de Petroff ou pela descontaminação com cloreto de hexadecilpiridino e semeadura em meios a base de ovo, como Stonebrink, ou a a base de agar, como Middlebrook 7H11 e B83 (KANTOR, 1979; HAAGSMA, 1995). A adição de 5% de CO2 não tem efeito sobre o isolamento de M.bovis e concentrações maiores podem ser até prejudiciais (CORNER, 1994). O meio de cultura mais recomendado para o primo-isolamento de M.bovis é o Stonebrink contendo piruvato de sódio e não glicerina. O crescimento deste se dá após três a cinco semanas de incubação (HAAGSMA, 1995). O isolamento de M.bovis pode demorar até mais de 12 semanas e a identificação da cepa isolada por métodos bioquímicos também é demorada. Técnicas recentes como utilização de anticorpos monoclonais e sondas de DNA podem diminuir o tempo necessário para a identificação da amostra (CORNER, 1994). O exame histopatológico pode ser aplicado principalmente em regiões de alta prevalência da doença por ser de mais conclusão mais rápida para o 12 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. diagnóstico presuntivo, que deve ser confirmado em definitivo pelo cultivo da amostra (CORNER, 1994). 6.CONTROLE DA DOENÇA O tratamento da tuberculose bovina foi motivo de estudos para diversos autores em todo o mundo (CORREA & CORREA, 1983; KLEEBERG, 1967; LANGENEGGER et alli, 1981). Em regiões de alta prevalência, o tratamento monovalente com isoniazida, associado a rigorosas medidas de higiene e de manejo sanitário, bem como sacrifício de parte do rebanho doente, proporcionou considerável redução dos índices de reatividade. Contudo, não se obtém através do tratamento a eliminação de todos os animais portadores do agente tuberculoso, mantendo assim a fonte de infecção e perpetuando a doença no rebanho. Segundo BEER (1988), mesmo quando no homem são obtidos destacado êxitos tratando a tuberculose com eficazes preparados quimioterápicos, não devemos considerar nos bovinos uma terapêutica desta classe, seja simplesmente pelas razãoes econômicas, seja pelo contínuo perigo de infecções de pessoas e animais. Por isso, resulta imprescindívelmente necessário o sacrifício dos animais clinicamente doentes. Programas de controle e erradicação da tuberculose bovina estão sendo aplicados em diversos países, especialmente nas Américas, baseando-se no uso do teste tuberculínico e no sacrifício dos animais reagentes, como preconizado por normas internacionais. Alguns países adotaram além da capacitação e credenciamento de médicos veterinários para o diagnóstico da tuberculose bovina, a certificação de "rebanhos livres" e "áreas livres", a fim de estimular as medidas de controle e erradicação da doença. (DOBBELAER et alli, 1983; ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 1992; CAFFREY, 1994; KANTOR & RITACCO, 1994; TWEDDLE & LIVINGSTONE, 1994; HAAGSMA, 1995). 13 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. Um dos benefícios dos programas de erradicação da tuberculose bovina, além de dirimir as perdas econômicas e os entraves para o comércio exterior de animais e seus produtos, é a prevenção da doença na população humana (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 1992; HAAGSMA, 1995). Medidas gerais de higiene, como limpeza e desinfecção das instalações, cuidado na introdução de novos animais no rebanho (com testes negativos provenientes de rebanhos livres, quarentenário e isolamento de animais suspeitos) também são importantes para evitar que a doença se instale na propriedade (ROXO, 1995). 6.1.Política de controle "teste-e-abate" Não há relatos de países que tenham adotado programas de controle diferentes do sistema "teste-e-abate". Os EUA iniciaram seu programa de controle da tuberculose bovina em 1917 e o Canadá em 1919. Atualmente a doença é de ocorrência extremamente rara nestes países e o controle baseiase no rastreamento retrógrado a partir de achados em matadouros. Não é mais feita a tuberculinização de rotina. A Grã-Bretanha iniciou seu programa em 1935 e a doença hoje está limitada a apenas algumas regiões. A Dinamarca impõe o sacrifício de animais tuberculosos desde 1898 e a doença está erradicada desde 1952. A Austrália e a Nova Zelândia iniciaram seus programas de controle em 1970. Atualmente, a doença está praticamente erradicada na Austrália, mas na Nova Zelândia o controle da doença esbarra nas reinfecções a partir de animais silvestres. Na América do Sul existem programas de controle da tuberculose bovina em vários países como Uruguai (desde 1942) e Venezuela (desde 1954). Tais países hoje apresentam as menores prevalências da doença na América do Sul. Muitos outros países sulamericanos têm criado programas nacionais de controle da doença, como Paraguai, Chile, Peru e Argentina. 14 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. O Brasil ainda não possui um programa nacional de controle da tuberculose bovina. Limitações: 1) Não há tuberculina suficiente: o Brasil produz apenas 1% da tuberculina necessária para testar seu rebanho. 2) Não há verba para indenizar proprietários: estima-se que existam pelo menos dois milhões de bovinos tuberculosos no Brasil. O abate destes animais pode custar cerca de R$ 1 bilhão. Alternativas: 1) Vacinas: ainda em fase experimental. Não existem vacinas que não interfiram no teste da tuberculina. 2) Tratamento: existem várias publicações a respeito no País. Os resultados, todavia, ainda são vistos com polêmica no meio técnico-científico. 3) Teste in vitro para diagnóstico: ainda em fase experimental. 6,2.Critérios para realização da prova da tuberculina e conduta com animais positivos 6.2.1.Critérios para realização da prova da tuberculina A técnica de escolha para realização da prova da tuberculina e a prova tuberculínica cervical simples, medindo a reação com paquímetro. 15 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. Animais serão considerados positivos se apresentarem diferença de 4 mm entre as duas leituras. A prova ano-caudal é menos sensível e, apesar de ser de execução mais simples, só deve ser usada em casos em que não for possível realizar a prova cervical simples. Em animais suspeitos, deve-se realizar a prova cervical comparada após 60 dias. 6.2.2.Cuidados especiais - Realizada somente por médico veterinário com equipamento adequado. - Tuberculina refrigerada, nunca congelada. - Tuberculina sempre intradérmica (forma pápula). Deve-se repetir quando for sub-cutânea. - A prega ano-caudal é menos sensível que o pescoço. - Não realizar 30 dias antes ou depois do parto. - A intensidade da reação não indica gravidade. - Animais idosos, caquéticos ou com lesões avançadas podem estar anérgicos. - Não realizar novo teste antes de 60 dias. 6.3.Conduta com animais reagentes Para a OPS, a conduta com animais reagentes à prova da tuberculina é bastante clara: eles devem ser abatidos. Em alguns casos, porém, o abate destes animais pode ser adiado por algum tempo, por exemplo, para que uma vaca venha a dar cria ou para que se colete mais alguns embriões. Nestes casos, tais animais, devem ser isolados do restante do rebanho e identificados com uma marca "T" na bochecha esquerda. O leite destes animais deve ser descartado. 16 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. Animais reagentes não devem ser retestados e jamais devem ser tratados com o intuito de se tornarem negativos. Testes sucessivos de tuberculina realizados em um mesmo animal podem dessensibilizá-lo, dando margem a falsos negativos. A venda de animais reagentes, por sua vez, contribui de maneira significativa para a difusão da tuberculose e representa um grave risco para a saúde pública. A propriedade que apresentar animais reagentes deve ser colocada sob quarentena e só deve ser liberada depois que dois exames de tuberculina sucessivos e realizados com um intervalo de sessenta dias não apresentem animais reagentes. Durante o período de quarentena, nenhum animal deve sair da propriedade, apenas aqueles destinados ao abate sanitário. Deve-se encaminhar os tratadores para um posto de saúde para que sejam efetuados os exames de rotina de controle da tuberculose. 6.3. Outros testes além da tuberculina Nos últimos anos têm sido idealizadas novas provas diagnósticas da tuberculose bovina, ou estão em etapa avançada de pesquisa. Entre elas, cabe mencionar a prova sorológica ELISA utilizando-se antígenos múltiplos, as provas de estimulação dos linfócitos, a prova de gama interferon em cultivos de sangue total, diferentes métodos de amplificação genética e a reação em cadeia da polimerase (PCR), que permitem identificar rapidamente as espécies micobacterianas. Também o "fingerprinting" (RFLP) genético dos isolamentos de M. bovis tornou-se um importante instrumento epidemiológico para estabelecer conexões entre os rebanhos ou zonas infectadas. Os países que se encontram na etapa de erradicação da tuberculose bovina devem considerar a possibilidade de utilizar novos métodos diagnósticos ou de apoiar sua avaliação para complementar a tuberculinização em rebanhos de alto risco submetidos à prova. 17 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. 6.4. Procedimentos para as provas de tuberculina 6.4.1. Prova tuberculínica ano-caudal (empregada em rebanhos cuja condição se desconhece) A prova tuberculínica ano-caudal consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de tuberculina PPD bovina (cepa AN5, origem Roterdã) de potência e especificidade adequada, segundo requisitos internacionais e regionais de controle da qualidade. Se efetua na prega ano-caudal do bovino, 7,5 cm distante da base da cauda, com leitura da prova às 72 6 horas. O local de injeção da prova deve ser observado e palpado. Também se poderá medir o espessamento da pela. O exame apenas pela inspeção sem palpação não é aceito. 6.4.2. Prova tuberculínica cervical simples (empregada em rebanhos com exposição ao M. bovis ou em animais provenientes de rebanhos infectados) A prova tuberculínica cervical simples consiste na injeção de tuberculina PPD bovina (de potência e especificidade adequadas, segundo os requisitos do controle internacional e regional) na parte média da tábua do pescoço do bovino, com observação, palpação e medida da reação pós inoculação às 72 6 horas. 6.4.3. Prova tuberculínica cervical comparada (empregada para esclarecer a condição de rebanhos suspeitos de estarem infectados) 6.5. Manejo dos animais reagentes positivos O tamanho da reação tuberculínica não denota o estado da lesão no animal. Sempre que for possível, em todos os rebanhos em que forem detectado reagentes tuberculínicos positivos, deverá ser feita a inspeção física dos animais com reações negativas no momento da tuberculinização do rebanho e todos os animais que no exame físico mostrarem aumento de 18 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. volume dos linfonodos, ou qualquer outra evidência clínica suspeita de tuberculose, serão destinados ao matadouro. Todos os reagentes positivos à tuberculina devem permanecer isolados no estabelecimento aonde se descobriu sua condição até que se obtenha permissão para seu transporte. O transporte deve ser para sacrifício imediato em matadouro aprovado, o mais cedo possível após sua classificação. Nenhum animal classificado com reagente positivo deverá ser novamente submetido à prova da tuberculina. Poderá ser estabelecido, com caráter temporário, um rebanho leiteiro de alto risco mantido separado e apartado dos animais com reação negativa. Deverá ser estabelecido um prazo, como por exemplo três anos, para manter este rebanho de alto risco em quarentena. Será necessário colocar em quarentena tanto os animais de alto risco com os de risco moderado. O animais positivos deverão ter uma marca de identificação permanente. Os animais reagentes positivos devem ser enviados a um matadouro aprovado, aonde deverá ser realizada uma inspeção post mortem. O exame post mortem é a base mais efetiva para avaliar a situação do rebanho com respeito à infecção. As reações positivas individuais à prova da tuberculina nem sempre são adequadas para avaliar o rebanho. A repetição das provas tuberculínicas ao longo de vários anos origina problemas crescentes relacionados com a anergia ou uma sensibilidade muito baixa, o que conduz a persistência das infecções nos rebanhos. Esta dificuldade na interpretação das provas é um motivo para que se limite a manutenção de rebanhos com alto risco a um período de tempo determinado com, por exemplo, três anos. Todos os animais nos quais as reações da prova da tuberculina não sejam conclusivas deverão ser mantidos isolados no lugar aonde se descobriu sua condição, até que se volte a submetê-los à prova e que se encontre que sejam negativos ou até que, com a devida autorização, sejam transportados para o abate imediato, conforme mencionado anteriormente. A segunda prova 19 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. dos animais com reações não conclusivas se efetuará através da prova cervical comparativa até 10 dias após à injeção da primeira prova ou não antes de passados 60 dias de efetuada a primeira prova. Todavia, deverá ser avaliada novamente a sensibilidade da prova tuberculínica cervical comparativa quando for efetuada dentro dos 10 dias seguintes à primeira prova (ano-caudal). Recomenda-se adotar o seguinte procedimento para o manejo dos rebanhos infectados. Todos os rebanhos nos quais se decubram reagentes positivos à tuberculina deverão ser postos em quarentena. Exceto para seu transporte devidamente autorizado para o abate imediato, todo o gado deverá permanecer no local da quarentena. Após a confirmação da infecção pelo M. bovis (por lesões óbvias, histopatologia ou cultivo) não deverão ser poupados esforços para se assegurar que o rebanho está livre da enfermidade antes de levantar a quarentena. Todos os animais expostos que, em qualquer prova tuberculínica a que tenham sido submetidos, tenham uma reação, por menor que seja, deverão ser classificados como reagentes positivos e ser examinados no matadouro. O exame deverá incluir, se possível, a histopatologia das lesões suspeitas detectadas. Todo o rebanho deverá passar por duas provas tuberculínicas sucessivas realizadas em um intervalo de pelo menos 60 dias, a primeira não antes de 60 dias depois que os últimos reagentes positivos com lesões, ou qualquer outro animal com lesões, tenham sido retirados do rebanho. Deverá ser realizada uma nova prova tuberculínica no rebanho seis meses depois e, se estiver livre da enfermidade, poderá ser levantada a quarentena. As provas seguintes se efetuarão em intervalos anuais. Os rebanhos nos quais existam apenas reagentes positivos sem lesões observáveis estarão livres da quarentena depois de transcorridos 60 dias de uma segunda prova na qual todos os animais do rebanho resultem negativos, desde que sejam cumpridas as seguintes condições: (1) que seja realizado um exame post mortem completo em todos animais reagentes positivos à tuberculina e livres de lesões tuberculosas, (2) que se tomem amostras de tecido de todos os animais reagentes positivos, com ou sem lesões, e que elas sejam submetidas a exames de laboratório incluindo o 20 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. cultivo (as amostras de tecido dos animais sem lesões deverão incluir porções dos linfonodos cefálico, cervical, torácico e portal), (3) que todos os reagentes positivos não apresentem lesões macroscópicas e que sejam negativos para tuberculose nos exames histopatológico e por cultivo, (4) que uma investigação completa, incluindo a prova tuberculínica em todo o rebanho, não revele indícios da tuberculose bovina. O exame de laboratório deve incluir tanto a investigação histopatológica como o cultivo. 7.TRATAMENTO DA TUBERCULOSE Existe atualmente no Brasil uma grande polêmica a respeito do tratamento da tuberculose bovina. Os argumentos são os seguintes: A favor: Há grande resistência dos proprietários em aderir aos sistema "testee-abate", sobretudo em casos de alta prevalência, já que não existe uma política para ressarcí-los financeiramente. O tratamento da tuberculose bovina foi relatado cientificamente por: KLEEBERG, H.H. etal. Evaluation of isoniazid in the field control of bovine tuberculosis. Journal of South Africa Veterinary Medical Association. v.37, p.219-228, 1966. Não existem trabalhos que demonstrem a ineficiência do tratamento da tuberculose bovina, ao contrário, existem vários trabalhos realizados no Brasil que demonstram sua eficiência: LANGENEGGER, J. et al. Tratamento da tuberculose bovina com isoniazida. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.1, p.1-6, 1981. LANGENEGGER, J. et al. Tratamento massal da tuberculose bovina com isoniazida. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.11, p.21-23, 1991. SOERENSEN, B. et al. Controle e erradicação da tuberculose bovina. Estudo experimental no Estado de São Paulo, Brasil. Unimar Ciências. v.1, p.14-18, 1992. 21 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. WANDERLEY, M.S. Produtores e técnicos controlam tuberculose e deixam lição de como enfrentá-la. Balde Branco. p.38-41, janeiro, 1998. LEITE, R.M.H. & LAGE, A.P. Controle da tuberculose bovina em bovinos da raça Sindi pelo tratamento com isoniazida: avaliação e análise de custo. Ciências Veterinárias nos Trópicos. v.2, p.21-28, 1999. Contra: Não há relatos de países que tenham adotado programas de controle diferentes do sistema "teste-e-abate". Há grande risco de fraudes e maior disseminação da doença caso seja oficializada a opção do tratamento. O país (Itália) aonde foi descrito tratamento da tuberculose bovina é um dos que apresentam a maior prevalência da doença na Europa. O tratamento realizado através da monoterapia com isoniazida é contra-indicado em humanos. Várias outras drogas são empregadas, como rifampicina, pirazinamida, estreptomicina, etionamida e etambutol. Pode-se conhecer com detalhes os esquemas de tratamento da tuberculose utilizados em humanos em: BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. rev. Rio de Janeiro : CNCT/NUTES, 1992. 174p. TUBERCULOSE SUÍNA Os suínos podem ser infectados pelos três tipos clássicos do bacilo da tuberculose, dependendo da prevalência dum ou doutro tipo de acordo com a alimentação que lhes é dada e o local onde são criados. A tuberculose no suíno é essencialmente de origem alimentar, e a sua infecção se processa quase que exclusivamente pelo tubo digestivo. Essa infecção ocorre por: 22 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. - Emprego de resíduo de laticínios, como leite desnatado, soro de leite, resíduo de queijaria, etc.; - Uso de resíduos frescos de hospitais e sanatórios na sua alimentação; - Coprofagia, que é comum em suínos; - Criação em comum de suínos e aves no terreiro; - Raramente poderá ocorrer o contágio direto de suíno para suíno, em face de duas razões: Os suínos destinados ao abate possuem uma vida muito curta. Pela raridade de lesões abertas na tuberculose suína. A tuberculinização no suíno é feita pela prova intradermoauricular, praticada na pele da base da orelha, na junção desta com o pescoço. Inoculase ao mesmo tempo duas tuberculinas, em dois locais diferente: a tuberculina bovina é feita em uma orelha e a aviária em outra, dada a suscetibilidade dos suínos aos três tipos do bacilo tuberculoso. A reação positiva apresenta uma tumefação inflamatória local muito nítida, do tamanho de uma noz, ou mesmo maior, com uma placa cutânia equimótica. Essa reação atinge seu pleno desenvolvimento 48 horas após a inoculação da tuberculina diluída a ¼. A prova subcutânea não é fiel no suíno, pois que por ocasião de cada tomada de temperatura, a resistência apresentada pelo animalao ser preso provoca um aumento de temperatura. TUBERCULOSE CAPRINA E OVINA Quando tratamos da ocorrencia da tuberculose nos referimos que no RS, nos anos 1962 – 1968, foram abatidos para o consumo 741.109 ovinos, 23 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. com 0% de tuberculose. Já nos caprinos, DAVENAS e DABRIGEON (1955) encontraram 1,76% de animais tuberculosos no matadouro francês de SaintÉtienne. A tuberculose nesses animai é semlhante à tuberculose bovina. Apenas nos ovinos os nódulos geralmente são caseosos e se distinguëm por serem raras a suas calcificações, e há cerco fibroso do tubérculo. O contágio se processa pela coabitação e pela alimentação. Na tuberculose pulmonar do caprino predomina a propensão pela formação de cavernas, e nas serosas há a tuberculose perolada. Em ambas as espécies animais predomina o bacilo tipo bovino, em face da coabitação com vacas tuberculosas. TUBERCULOSE EQÜINA É muito rara, em vista que o eqüino é pouco receptivo. Mas, muitas vezes a tuberculose nessa espécie animal passa desapercebida em face de que as lesões apresentem o aspecto de pseudoneoplasmas. A Tuberculose Eqüina lembra a doença do suíno – origem alimentar, com o complexo primário digestivo e comumente imperfeito, ou localizado na garganta, com adenoma satélite. As lesões são essencialmente produtivas e consistem em focos de hiperplasia epitelióide, com metamorfoses regressivas pouco pronunciadas. As lesões apresentam um aspécto homogênio e característico, com a aparência de um sarcoma. O cavalo é atacado pelo tipo bovino do bacilo tuberculoso. TUBERCULOSE DAS AVES A tuberculose das aves é rara no RS. A doença é causada essencialmente pelo bacilo do tipo aviário, e a infecçãoocorre pelo tubo 24 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. digestivo, ao ingerir água e alimentos infectados pelas fezes de aves tuberculosas introduzidas no plantel. As fezes das aves doentes constituem a via mais importante de difusão do germe. A tuberculose tipo humana é freqüente nos papagaios e nos canários. A tuberculose manifesta-se nas aves a partir de um ano de idade, e sua evoluçãoé lenta, os sintomas costumam passar desapercebidos durante muito tempo. A ave emagrece muito, ficando extremamente leve, com palidez da crista e das barbelas. Dimeinui o apetite, e mais tarde sobrevém a diarréia. Poderá haver casos de morte súbita, devido à ruptura do fígado com hemorragia conseqüente. O fígado apresenta lesões em 90% a 95% dos casos. As lesões no fígado das galinhas constituem-se de tubérculos branco amarelados, de tamanho variável, em geral salientes, que se caseificam rapidamente, de consistência firme; sua calcificação é rara. O conteúdo desses nódulos pode ser facilmente retirado do tecido tuberculoso. A prova da tuberculinização empregada é intradérmica feita na barbela. A tuberculina aviária é diluída a 50%, e inoculada na espessura da barbela, por via intradérmica. A inoculação intradérmica correta se constata pela palidez que aparece em seguida ao redor da picada da agulha. A reação positiva causa uma tumefação adematosa nítida na barbela inoculada, cujo acme atinge às 48-72 horas, desaparecendo asseguir. Referências Bibliográficas BEER, J. Doenças Infecciosas em Animais Domésticos. Roca. São Paulo. 1988, 380p. CAFFERY, J.P. Status of bovine tuberculosis eradication programs in Europe. Vet.Microb., v.40, n.1-2, p.1-4, 1994. CORNER, L.A. Post mortem diagnosis of Mycobacterium bovis infection in cattle. Vet.Microb., v.40, n.1-2, p.53-63, 1994. CORREA, O. Doenças Infecciosas dos Animais Domésticos. Biblioteca Universitária Freitas Bastos. São Paulo. 1975, 234p. CORREA, W.M.; CORREA, C.N.M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. Varela. São Paulo. 1983, 823 p. 25 Bianchini, W. e Rodrigues, E. Tuberculose em animais domésticos. PUBVET, Londrina, V.2, N.2, Art#113, Jan2, 2008. DOBBELAER, R.; O'REILLY, L.M.; GËNICOT, A.; HAAGSMA, J. The potency of bovine PPD tuberculins in guinea-pigs and in tuberculous cattle. 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