Preparo do paciente sob terapia antitrombótica para procedimentos eletivos Erich de Paula Hemocentro da UNICAMP Escopo da apresentação Procedimentos eletivos Tempo para planejamento Orientações agente-específicas Perguntas Fundamentais Preciso suspender a terapia antitrombótica? Quantos dias antes do procedimento ? É necessário o uso de terapia de “ponte”? Qual o melhor esquema de terapia “ponte”? Quando reiniciar a terapia antitrombótica? Antagonistas de vitamina K 1ª Etapa Avaliação do risco trombótico Indicação: profilaxia doTEV ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO TROMBÓTICO • Alto – TEV recente (< 3 meses) – Trombofilias de alto risco > 10% ao ano • Moderado – – – – TEV entre 3 e 12 meses Trombofilias clássicas TEV recorrente Neoplasia ativa ou recente (< 6 meses) 5 - 10% ao ano > 5% ao ano • Baixo risco: – TEV > 12 meses sem fatores de risco persistentes Adaptado de Douketis et al, Chest 2012 Indicação: FA crônica ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO TROMBÓTICO • Alto – CHADS2 = 5 ou 6 – AVCi ou AIT há menos de 3 meses – Doença valvar reumática • Moderado CHADS2 (Gage et al, 2001) •ICC •Hipertensão •Idade > 75 anos •Diabetes •AVCi (2 pontos) – CHADS2 = 3 ou 4 • Baixo risco: – CHADS2 = 0 a 2 sem AVCi ou AIT prévios Adaptado de Douketis et al, Chest 2012 Indicação: próteses valvares metálicas ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO TROMBÓTICO • Alto – Qualquer prótese em posição mitral – Alguns modelos de prótese aórtica (“caged-ball” ou “tilting disc”) – AVCi ou AIT recentes (< 6 meses) • Moderado – Próteses aórticas de dois folhetos com outro fator de risco para AVCi (os mesmos do escore de CHADS2) • Baixo risco: – Próteses aórticas de dois folhetos em outros fatores de risco para AVCi Adaptado de Douketis et al, Chest 2012 2ª Etapa Avaliação do risco hemorrágico Estratificação do risco hemorrágico • Uso potencial de doses altas de anticoagulantes deve ser considerado na avaliação • Procedimentos de maior risco − − − − Procedimentos em vias urinárias Cirurgias cardíacas, hepáticas, em baço Ressecções intestinais ou de pólipos (endoscópicas) Cirurgias com grande trauma tecidual (oncológicas, grandes reconstruções, artroplastias) − Cirurgia neuro-espinhal − Implantação de marca-passos e desfibriladores 3ª Etapa Às perguntas... Preciso suspender o uso de AVK? • Procedimentos em que há evidências para a não suspensão (2C): – Procedimentos dentários * – Procedimentos dermatológicos – Cirurgia de catarata * • Demais procedimentos: suspender o uso de AVK (2C) Douketis et al, Chest 2012 Quando parar? • 5 dias antes (1C) – ~ 4 t da varfarina: 6,25% da atividade – Variações individuais podem ocorrer – Avaliação do efeito da suspensão Kovacs et al, 2004 1⁄2 • 7% de pacientes (n=224) com RNI > 1,5 – Se procedimento de alto risco, confirmar com RNI na véspera * – Se RNI > 1,5: vitamina K 1mg via oral Douketis et al, Chest 2008 Preciso iniciar terapia “ponte”? • • • Frequência de eventos tromboembólicos < 1% nos estudos que utilizaram Não há estudos que não usaram a ponte em pacientes de alto risco (*) Nível de evidência 2C para todas as recomendações Alto risco tromboembólico Sim Moderado risco tromboembólico Talvez Individualizar considerando risco hemorrágico Baixo risco tromboembólico Não Douketis et al, Chest 2012 Qual o melhor esquema? HBPM em dose plena HBPM em dose intermediária HBPM em dose profilática • Dose plena é o esquema clássico • Dose profilática pode ser eficaz em casos com risco moderado em que indicação é TEV • HNF apenas para situações especiais: IRC Douketis et al, Chest 2012 Quando reiniciar? • Antagonistas da vitamina K – 12 a 24 horas após – Tempo para RNI > 2: cerca de 5 dias • Reinício da HBPM – Após avaliação da hemostasia – Nunca usar tempos fixos – Cirurgias de alto risco: adiar 48-72 h – Evitar dose única diária Douketis et al, Chest 2012 Anti-agregantes plaquetários 1ª Etapa Avaliação do risco trombótico Estratificaçao do risco trombótico • Stents farmacológicos < 3-6 meses • Stents coronarianos recentes • Profilaxia secundária em pacientes com eventos coronarianos recentes • Profilaxia secundária • Profilaxia primária 2ª Etapa Avaliação do risco hemorrágico Estratificação do risco hemorrágico • AAS − Aumento de cerca de 50% do risco de sangramento − Sem aumento de complicações ou mortalidade Burger et al, J Int Med 2005 • Clopidogrel − Poucos estudos, a maioria retrospectivos − Em cirugia cardíaca, aumenta re-operação Kapetanakis et al, Circulation 2006 • Antiagregaçao dupla − Provável efeito somatório ou sinérgico 3ª Etapa Às perguntas... Pacientes em uso de AAS • Procedimentos menores (*): – Não suspender (2C) • Procedimentos não cardiológicos – Risco TE alto ou moderado: não suspender (2C) – Risco TE baixo: suspender por 7-10 dias • Cirurgias de revascularização miocárdica – Manter AAS (2C) – Se terapia dupla: suspender apenas o clopidogrel 5 dias antes (2C) Douketis et al, Chest 2012 Pacientes em uso de Clopidogrel • Evidências do uso de AAS não podem ser usadas pelo possível risco aumentado • Se necessário suspender, parar 5-10 dias antes Pacientes em terapia dupla • Adiar cirurgias para 6 semanas após stent metálico ou 6 meses após stent farmacológico (1C) • Se inadiável, não há dados que permitam definir conduta ideal − ACCP (2012): recomenda manter terapia dupla (2C) Novos anticoagulantes Diferenças fundamentais Meia-vida mais curta Terapia de ponte possivelmente desnecessária Início de ação em 2-3 h Momento do início definido a partir da hemostasia Dabigatran Schulman & Crowther, Blood 2012 Rivaroxaban Schulman & Crowther, Blood 2012 Qual exame pedir ? • AVK − TP na véspera de procedimentos de alto risco hemorrágico − Sem evidências de associação com desfechos positivos • Antiagregantes plaquetários − Sem evidências de associação entre testes funcionais com qualquer desfecho clínico relevante • Dabigatran e Rivaroxaban Schulman & Crowther, Blood 2012 TT: muito sensível ao dabigatran (pode ser útil) TP: aumento linear com rivaroxaban, reagente-dependente usado para demonstrar ausência de efeito TTPa: se normal, pode excluir efeito clinicamente relevante do dabigatran (irregular, reagente e tempo-dependente) Tempo de coagulação com ecarina: dabigatran Conclusões • Recomendações devem conhecidas, mas entendidas como guias. Em muitos casos, conduta deve ser individualizada, levando em conta risco trombótico e hemorrágico de cada situação • Não há estudos que demonstram formalmente o benefício de qualquer forma de terapia de ponte • Decisão é eminentemente clínica, com pouco espaço para avaliação laboratorial • Estudos randomizados em andamento devem esclarecer pontos importantes deste problema