O QUE É SER MÉDICO ESPÍRITA
Dr. Wilson Ayub Lopes
Médico Cardiologista
Desde tempos remotos a saúde foi relacionada ao estado espiritual do
indivíduo. O vocábulo “salute” em latim é muito parecido com “salvação”,
assim como “sano” com “santo” e “santidade” com “sanidade”. Não é à toa que
a medicina no passado fora exercida pelos sacerdotes.
Como a doença decorre de uma desarmonia do ser integral, o conhecimento
que a Doutrina Espírita nos traz, esclarecendo as leis que regem o mundo
espiritual, muito nos auxilia no entendimento do ser doente. Perscrutando
além do físico, vamos penetrar mais profundamente na natureza espiritual do
homem, deparando-se com a verdadeira causa das doenças que reside no
Espírito.
Na etiopatogenia das doenças que aprendemos na faculdade, foi sempre
enfatizado o papel dos fatores externos como as bactérias, os vírus e os mais
diferentes tipos de agentes tóxicos, que agridem o indivíduo de fora para
dentro. A Doutrina Espírita veio trazer-nos uma nova abordagem. A história
natural das doenças começa de dentro para fora, a partir dos sentimentos
enfermiços do Espírito, que irão desarmonizar os nossos corpos energéticos
(Perispírito), refletindo, em última instância, como doença no corpo físico.
Mudamos o nosso foco da abordagem; agora não mais nas manifestações da
doença no corpo físico, mas voltamos nossa atenção para o ser doente, para
os seus conflitos mais íntimos e seus problemas existenciais.
A medicina tradicional ainda tem dificuldades em atingir camadas mais
profundas do ser humano, no mesmo nível dos sentimentos emanados pelo
Espírito. Precisamos alcançar a essência do ser e despertar os seus
sentimentos mais íntimos de amor.
É nessa área de atuação que as religiões têm uma contribuição muito grande
a dar para a medicina, aliando a ciência com a religião, fortalecendo a fé do
indivíduo, que comprovadamente é fator primordial na cura de sua patologia.
Como nos disse brilhantemente Hans Selye (cientista que descreveu a
reação do stress): “Amar ao próximo é o mais sábio conselho médico de todos
os tempos”.
Um outro aspecto que diferencia o médico espírita, é a compreensão que ele
tem da doença como um fator educativo. Não vê mais a doença como algo
punitivo ou um castigo de Deus. Procura despertar no paciente a sua
aceitação, mudando o seu foco de atenção, agora não somente na doença mas
sobretudo nas condições espirituais desajustadas que a precipitaram e que
precisam ser trabalhadas.
Desta forma, a doença já não é mais simplesmente um mal que nos aflige,
mas um sinal amigo (“irmã doença”) querendo nos dizer que algo está
desarmônico na nossa forma de sentir, de pensar ou de agir. A partir desta
compreensão, fazemos a seguinte pergunta: O que esta doença está querendo
me dizer? Para quê estou doente? O que posso fazer para promover minha
cura?
A atuação do médico deixa de ser simplesmente prescrever um antibiótico,
um antidepressivo, extirpar um tumor ou desobstruir uma artéria, mas passa a
ser algo muito mais sublime que é a cura efetiva do paciente, despertando no
seu ser divino, o potencial curador da sua alma.
Como disse o cardiologista Dean Ornish, comentando a alta incidência de
doença coronariana: “Precisamos não somente desobstruir as artérias
coronárias, mas também os canais dos sentimentos, permitindo a expressão
pura e cristalina do nosso ser e reforçando o nosso relacionamento conosco
mesmo, com o próximo e com a Divindade”.
Compreendemos a cura, desta forma, não de fora para dentro, mas num
processo de construção interior. O papel do médico deixa de ser o todo
poderoso, que dita as regras de cima para baixo, numa atitude de arrogância e
onipotência, e passa a ser um aliado no processo de cura do paciente,
auxiliando-o com amor e com respeito.
Desta forma, o médico vai se investir do verdadeiro sentido da palavra
“Terapeuta”, que é “aquele que conduz a Deus”.
Para exercermos a função de agente indutor da transformação alheia, é
preciso antes de tudo, que vigiemos a nossa própria conduta, adotando um
comportamento baseado na ética e na vivência cristã tendo Jesus como
modelo maior.
Um outro recurso que o médico espírita não pode prescindir em momento
algum, é o recurso valioso da oração. Através da oração nos colocamos em
contato com o Pai, absorvendo suas energias salutares e nos sintonizamos com
os pensamentos mais elevados. Não precisa ser expressa com palavras, basta
se colocar no estado de oração, de entrega, de sintonia com o Pai.
Por último, queremos agradecer ao Pai Celestial por esta oportunidade
valiosa de podermos aliar a formação médica com o conhecimento da Doutrina
Espírita e que possamos com muita humildade, colocar-nos na posição de um
servidor do Cristo, exercitando o amor e a caridade na sua maior pureza,
vendo em cada paciente que nos bate à porta um irmão necessitado, em que
podemos ajudar não somente com o nosso saber, mas sobretudo com o nosso
amor, assim como nos disse Calderaro no livro No Mundo Maior: “Porque, se o
conhecimento auxilia por fora, só o amor socorre por dentro. Com a nossa
cultura retificamos os efeitos, quanto possível, e só os que amam conseguem
atingir as causas profundas”.
Fonte:
Boletim Informativo da Associação Médico-Espírita do Estado do Espírito Santo.
Setembro de 2007. Ano 1. Número 1.
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