Especial
O poder da prece e a
Espiritualidade
NESTA ENTREVISTA, CARLOS ALBERTO, DO NÚCLEO DE CARIDADE ESPÍRITA
IRMÃO JOÉ FALA SOBRE A VISÃO ESPÍRITA DA PRECE
Pelo site www.irc-espiritismo.org.br
Q
uando fazemos uma prece muito cansados, no
final de um dia de trabalhos exaustivos, estando sonolentos, ela teria sua emissão vibratória comprometida?
Carlos Alberto – Não. Vamos lembrar que a alma,
ou seja, o espírito encarnado, participa do contato
espiritual por dois meios. Um deles pelo seu corpo
carnal, o outro pela sua existência como espírito, que
é imortal. O corpo carnal sofre as vicissitudes da matéria grosseira pela qual é revestido. O espírito não
sofre cansaço, como o corpo. A prece, a elevação do
pensamento a Deus, como nos dizem os amigos espirituais, é uma capacidade própria do espírito, não do
corpo. Partindo desse princípio, mesmo que o corpo
esteja fatigado, o espírito, sustentado pela consciência tranqüila que carrega pelos atos que pratica, terá
seu poder de elevação vibracional não ligado ao cansaço físico, mas à sua disposição espiritual.
Por que muitos acham que para orar precisa ter
uma fórmula, uma receita, para que ela chegue até
ao Pai?
É natural. Vem da idéia que fazíamos de Deus. No
começo, imaginávamos um Deus dentro dos fenômenos da Natureza. Evoluímos e passamos a ver Deus
como uma personalidade vingativa. Jesus veio nos
trazer a idéia de um Deus de amor. A Doutrina Espírita complementa nos mostrando um Deus infinito em
todos seus atributos. Não é fácil abandonarmos uma
idéia que nos acompanhou durante séculos.
Por isso, muitos de nós ainda estamos presos às
fórmulas. Abençoada doutrina espírita que demonstra ser mais importante o que vai no coração, do que
as fórmulas, repetições e adorações exteriores.
44
André Luiz nos fala em suas obras de departamentos em cidades espirituais como Nosso Lar,
especializados em recepção e atendimento de preces dos encarnados. No caso de preces com potencial vibratório muito alto, feitas por irmãos mais
evoluídos, estas se dirigiriam por afinidade magnética à esferas mais elevadas ainda?
Com certeza! Somos ligados pela lei de afinidade.
O maior exemplo é Jesus, que orava diretamente a
Deus. Logo, quanto maior a nossa vibração, mais longe chega o nosso pensamento. É oportuno lembrar
que devemos desenvolver a idéia de conversarmos
com Deus, não no sentido dos peditórios, das reclamações, mas sim na absoluta certeza que estamos
envolvidos por ele de forma que, quanto mais o buscarmos, mais o acharemos. É um longo trabalho a ser
desenvolvido por todos nós.
As preces “prontas” que aprendemos, como
“Pai Nosso” e “Ave Maria”, podem ter a mesma
eficácia junto à espiritualidade do que as que fazemos individualmente, como uma conversa íntima com Deus ou Jesus?
Tudo depende do sentimento. As preces “prontas” servem, principalmente, para nos ajudar a ordenar e direcionar nosso pensamento. Ainda somos
espíritos que encontramos muita dificuldade na concentração, no relaxamento, de forma que é preferível recitar uma prece pronta do que deixar o pensamento voar e se perder. O que conta - os espíritos
não nos cansam de advertir - é o sentimento. Logo,
nos preocupemos primeiro em sentir, para depois
optar pela prece pronta ou por aquela que vem do
nosso coração.
O que conta é o sentimento. Logo, nos preocupemos primeiro em sentir, para depois optar pela prece pronta ou por aquela que vem do nosso coração
45
Especial
QUANDO ORAMOS FERVOROSAMENTE, ENTRAMOS EM SINTONIA COM OS BONS ESPÍRITOS
QUE NOS ASSISTEM, ALÉM DE PASSARMOS A RESPIRAR EM UMA ATMOSFERA MENOS
DENSA, POSSIBILITANDO QUE NOS IMPREGNEMOS DOS BONS FLUIDOS
Por qual mecanismo a prece que fazemos vai até
o Pai?
Todos nós estamos mergulhados no fluido cósmico universal. É este fluido o meio pelo qual o pensamento se propaga. O que vai dar qualidade ao pensamento é a nossa boa intenção, sinceridade e bons
sentimentos. Quanto mais conseguimos reunir estas
condições, mais potência a nossa prece terá, pois
maior influência terá sobre o fluido cósmico.
Alguns irmãos de outras religiões costumam fazer preces “barulhentas”. O resultado dessas preces é o mesmo das feitas em silêncio?
Novamente, lembramos que o que conta é o sentimento. Se ainda, por ignorância, um irmão necessita do barulho, por achar que só assim Deus o ouvirá, mas houver sinceridade, boa intenção e bons sentimentos, certamente, que este irmão será ouvido.
Lembramos em Fronteiras da Loucura, de Manoel
Philomeno de Miranda, de uma prece de uma católica que pede a ajuda de Bezerra de Menezes, orando
de joelhos.
Sabemos que não é necessário estar de joelhos para
uma prece ser atendida. E, normalmente, teríamos a
tendência de recriminar tal gesto. Mas o que Philomeno
nos mostra é que os valores de quem pedia, a sinceridade de uma prece que veio do coração, chegou diretamente ao conhecimento de Bezerra de Menezes, que
veio, pessoalmente, interceder pela pedinte.
Recentemente foram feitas pesquisas importantes afirmando que a fé e a prece realmente curam
as pessoas, provocando diversas reações orgânicas
no cérebro físico e no organismo em geral. Do que
se origina esse alcance da prece, até mesmo na
cura de males do corpo físico?
A doutrina espírita nos mostra o homem como um
ser integral, onde as doenças residem no espírito.
Quando oramos fervorosamente, entramos em sintonia com os bons espíritos que nos assistem, além de
passarmos a respirar em uma atmosfera menos densa, possibilitando que nos impregnemos dos bons fluidos que terão ação benéfica em nosso próprio organismo. Orar fervorosamente e ter fé só não basta. É
preciso que nos esforçemos, verdadeiramente, pela
46
reforma íntima, nos propiciando assim a manutenção
da verdadeira saúde. Já dizia Platão: “Mente sã em
corpo são.” Nunca é demais lembrar Jesus, quando
nos ensina: “Orai e vigiai.”
Partindo do principio do “Pedi e obtereis”, o
que é conveniente pedirmos em nossas preces?
Estamos encarnados em um planeta de provas e
expiações. Sabemos que o progresso é infinito. Logo,
se precisamos encarnar para progredir, devemos pedir força, coragem, proteção para superarmos as
provas e expiações. Já passamos do tempo de acreditarmos que podemos ser carregados no colo, ou nos
milagres que caem do céu. Abençoada doutrina espírita que nos liberta desses conceitos tão primitivos.
Como encarar as promessas que tem como pagamento grandes sacrifícios físicos?
É a idéia de que Deus precisa de trocas, de sacrifícios materiais; e da nossa ignorância com relação
às suas leis. Não é por acaso que a primeira pergunta de O Livro dos Espíritos nos fala sobre Deus. É preciso que busquemos, cada vez mais, conhecer a Deus
e a suas leis, pois só assim saberemos o que realmente
o agrada.
Se Deus conhece as nossas necessidades, qual
a utilidade de se pedir nas nossas preces?
Pelo simples fato de que não somos conduzidos por
uma fatalidade. Nós somos artífices do nosso progresso. Temos livre-arbítrio. Orar a Deus é demonstrar
humildade, reconhecimento de sua paternidade,
aprendendo, assim, a utilizarmos positivamente o
nosso livre-arbítrio.
Embora realmente Deus conheça nossas necessidades, os benefícios não caem do céu. É preciso que
aprendamos a ir buscá-los. A prece sincera, junto à
disposição de uma transformação moral, é caminho
para essa busca.
Existe alguma postura física (ajoelhados, mãos
postas etc) ou lugar mais conveniente para fazermos nossas preces?
A doutrina espírita nos ensina que não. Para compreendermos isso é preciso que estejamos maduros.
Se fizermos preces por outrem, não tendo este
o merecimento, a prece atingirá seu objetivo?
A semeadura é nossa, mas a colheita é de Deus. A
nossa obrigação é interceder pelo próximo. Somente Deus poderá avaliar o merecimento, o momento,
enfim, a ajuda ao necessitado. Uma coisa podemos
garantir: quando oramos pelo próximo, com desejo
sincero de ajudar, mal não faremos.
Pode-se orar pelos suicidas?
Os suicidas são dos que mais necessitam do nosso
carinho, onde a prece é um verdadeiro bálsamo para
quem sofre. Existem vários casos de espíritos sofredores no livro “O Céu e o Inferno”, onde esses espíritos,
além de, muitas vezes, solicitarem uma prece, dão
testemunho de que uma prece sentida traz alívio
indescritível. Logo, nos parece sensato orar pelos suicidas, onde, para isso, é preciso bastante desprendimento da nossa parte. Yvonne Pereira tinha esse desprendimento, pois chegava, pelas notícias que recebemos de amigos pessoais dela, a recortar dos jornais
os obituários dos suicidas para orar por eles.
Fale sobre o poder da prece sobre os espíritos
endurecidos em reuniões de desobsessão, se possível contando algum fato ligado ao assunto.
Na literatura de André Luiz, somos advertidos que,
para casos como esse, não basta a intenção, é preciso
que quem ore tenha conquistado uma cota maior de
amor. Lembramos de Jesus quando diz: “O amor cobre a multidão dos pecados.” Na maioria dos casos em
que trabalhamos na desobsessão, não conseguimos
uma transformação do espírito muito obstinado. Neste caso, fica a semente plantada pois, por mais imperfeitos que sejamos, já buscamos esta cota maior de
amor ao próximo. Chegará o tempo em que estaremos
na condição de conquistar através deste amor.
O que caracterizaria uma boa prece ou uma má
prece?
Devemos entender que Deus não se perturba, não
se aborrece, não se entristece, pois sabe exatamente o nosso nível evolutivo. Uma boa prece é caracterizada pelo desejo do nosso progresso, pelo desejo de
suportarmos as vicissitudes da vida, pela humildade
com que conversamos com o Pai, no reconhecimento do seu infinito amor, enfim, quando nos harmonizamos com a Lei. Eu não diria que exista uma má
prece, mas uma prece menos eficaz, quando por ignorância, por egoísmo, por orgulho pedimos, quais
crianças, aquilo que não é o melhor para nós, tais
como os benefícios materiais, sem maiores esforços,
ou a resolução dos problemas, também, sem que
queiramos dar nossa cota de trabalho.
47
Download

O poder da prece e a