Artigo Caracterização física e química dos efluentes líquidos gerados na indústria alimentícia da região de Marília, SP Physical and chemical characterization of effluents generated in the food industry in the region of Marilia, SP Resumo A carga poluidora gerada nos processos industriais tem-se mostrado como um dos maiores poluidores ambientais. Assim, a caracterização dos efluentes industriais é necessária para determinar as características biodegradáveis deste efluente antes da sua disposição final no ambiente, com o intuito de preservação ambiental, através da diminuição do impacto negativo. A cidade de Marilia, SP, é atualmente o maior polo industrial de alimentos do Brasil e por este motivo foi determinada como a cidade para coleta de amostras para a caracterização de seu efluente. A coleta das amostras e a realização das análises ocorreram nos meses de novembro e dezembro de 2012. Durante esse período, foram analisados os parâmetros: temperatura, pH, cor, turbidez, condutividade, alcalinidade total, acidez, sólidos totais, sólidos dissolvidos, sólidos suspensos, óleos e graxas, protídeos, sulfato, amônia e oxigênio dissolvido. As amostras do efluente foram coletadas no ducto de saída dos quatro coletores da indústria. Estes foram denominados de Coletor A (Ca); Coletor B (Cb); Coletor C (Cc) e Coletor D (Cd). De acordo com os parâmetros analisados, verificaram-se amostras em não conformidade com valores acima dos determinados pela CONAMA, nº20 de 1986, para pH, cor aparente, turbidez e sólidos em suspensão em todos os coletores analisados e quanto ao parâmetro sulfatos, os Cb, Cc e Cd encontraram-se fora dos padrões, somente o Ca encontrou-se em conformidade para o parâmetro sulfato. Todas as amostras dos Ca, Cb, Cc e Cd obtiveram resultados satisfatórios especificados pela legislação para os parâmetros de amônia, sólidos dissolvidos, oxigênio dissolvido, protídeos e óleos e graxas. Jufner Celestino Vaz Toni Kely Braga Imamura Thiago Hernades de Souza Lima UNOESTE - Universidade do Oeste Paulista - Presidente Prudente, SP. Laboratório de Análises Químicas Correspondências: Jufner Celestino Vaz Toni [email protected] Palavras-chave: Impacto ambiental, despejos industriais, análises laboratoriais Abstract The pollution load generated in industrial processes has been shown as one of the biggest environmental polluters. Thus, the characterization of industrial effluents is needed to determine the characteristics of this biodegradable effluent before its final disposal on the environment, with the aim of environmental preservation by reducing the impact negative. A city of Marilia-SP is currently the largest center Industrial of food of Brazil, and for this reason has been given as the city to collect samples for characterization of its effluent. The sample collection and analysis performance occurred in the months of November and December 2012; During this period, we analyzed the parameters: temperature, pH, color, turbidity, conductivity, total alkalinity, acidity, total solids, dissolved solids, suspended solids, oils and greases, protein, sulfate, ammonia and oxygen dissolved. As effluent samples were collected in the duct output of the four collectors industry, they were called the Collector A (Ca); Collector B (Cb); Collector C (Cc) and collector D (Cd). According to the parameters analyzed, we found samples in non-compliance with the aforementioned values determined by CONAMA, No. 20 of 1986 for pH, apparent color, turbidity and suspended solids in all collectors analyzed and as the parameter sulfates, Cb, Cc and Cd met outside the box, only the Ca found itself in accordance to the parameter sulfate. All samples of Ca, Cb, Cc and Cd satisfactory results specified by law, the parameters for ammonia, dissolved solids, dissolved oxygen, and protein oils and greases. Keywords: Environmental impact, industrial evictions, laboratory analysis 58 R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 Introdução O polo industrial é de grande importância no cenário mundial, por acarretar crescimento econômico ao país, geração de empregos, otimização de mão-de-obra capacitada, implantação de novas tendências e tecnologias, trazendo infraestrutura ao país, além de, em muitos casos, incentivo cultural (GRANGEIRO, 2009). Mas, a partir da sua existência, em meados do século XIX, houve concomitantemente a geração de insumos, em decorrência do seu processo produtivo, e o aumen to populacional nos grandes centros tem impactado o aumento de resíduos gerados. A fim de suprir a nova demanda populacional, estes efluentes necessitam de recuperação e tratamento antes de sua disposição no meio ambiente (KUNZ et al, 2002). Diferentes processos industriais produzem resíduos que necessitam de destino adequado (PELIZER; PONTIERI; MORAES, 2007), mas que na maioria das vezes são descartados sem nenhum tratamento prévio em corpos d’água (rios, lagos, mares), acarretando morte dos peixes e outros organismos aquáticos, comprometendo ainda a estrutura físico-química dos solos, acentuando a poluição ambiental (IMAMURA; TONI; DORTA, 2012). Entretanto, muitas indústrias possuem meios tecnológicos para o tratamento de efluentes a fim de minimizar o seu impacto na fauna e na flora. Outras empresas, por falta de recursos ou por simples negligência, utilizam-se dos rios, lagos e oceanos como destino final desses efluentes sem tratamento, cuja acumulação no meio ambiente impactará negativamente na preservação ambiental (SERPA; PRIAMO; REGINATO, 2009). As indústrias de alimentos são encontradas em larga escala, devido ao crescimento populacional e a consequente demanda de alimentos com maior vida útil. Contudo, o seu efluente é caracterizado como um dos mais poluidores ambientais, pois possuem elevada carga orgânica e são de difícil biodegradabilidade. Assim, a sua disposição no meio ambiente, por meio de emissões de matéria e de energia lançados na atmosfera, nas águas ou no solo deve ocorrer após os resíduos sofrerem tratamento e serem enquadrados nos padrões estabelecidos na legislação ambiental para não causarem impacto negativo (FREIRE, et al., 2000; JAIN, SHARMA; BHARGAVA, 2004). As características dos resíduos líquidos e sólidos provenientes de indústrias alimentícias favorecem o crescimento de micro-organismos que irão competir pelo oxigênio disponível nos corpos d’água com os organismos naturais da fauna naquele ambiente, principalmente, os peixes e as algas, além de contribuir para a geração de maus odores e poluição das águas de consumo (ALMEIDA E CABALLERO, 2004; IMAMURA, TONI, DORTA, 2012). A implantação e atuação legislativa vêm sendo crescentes nos últimos anos quando o assunto é preservação ambiental, assim como a preocupação por parte das indústrias e a conscientização dos consumidores, entretanto, embora exista uma preocupação universal em se evitar episódios de R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 contaminação ambiental, estes eventos prejudiciais continuam acontecendo, pois, grande parte dos processos produtivos são intrinsecamente poluentes (JARDIM; CANELA, 2004). Contudo, a legislação vigente e a conscientização ambiental fazem com que algumas indústrias desenvolvam atividades para quantificar a vazão e determinar a composição dos efluentes industriais. A caracterização dos resíduos industriais é necessária para conhecer as características biodegradáveis do resíduo antes da sua disposição no ambiente e paliativamente verificar qual o melhor tipo de tratamento e recuperação desses resíduos gerados, além de avaliar o enquadramento na legislação ambiental e estimar a capacidade de autodepuração do corpo receptor, a fim de cumprir com a crescente exigência de prevenção de poluição e contribuir para a diminuição do impacto ambiental negativo (COSTA, 2008). Para tanto, em termos nacionais, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a partir da Resolução 357 de 2005, estabelece que efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam as condições, padrões e exigências dispostos na resolução e em outras normas aplicáveis. Estabelece ainda que um efluente só possa ser lançado, direta ou indiretamente, desde que não altere a qualidade do corpo receptor. Assim, o objetivo do presente estudo é caracterizar os efluentes provenientes de uma indústria alimentícia da região de Marília-SP, verificando se estes efluentes estão adequados para a sua disposição no meio ambiente sem causar impacto negativo. Materiais e Métodos A pesquisa foi realizada em uma indústria alimentícia do segmento de doces localizada na região de Marília, SP. A coleta das amostras e a realização das análises ocorreram nos meses de novembro e dezembro de 2012. Durante esse período, foram analisados os parâmetros: temperatura, pH, cor, turbidez, condutividade, alcalinidade total, acidez, sólidos totais, sólidos dissolvidos, sólidos suspensos, óleos e graxas, protídeos, sulfato, amônia e oxigênio dissolvido. As amostras do efluente compreenderam a água residuária coletada após a decantação do iodo. Estas amostras foram coletadas no ducto de saída dos quatro coletores localizados em dois pontos distintos da indústria, dois na parte sul, denominados de Coletor A (Ca) e Coletor B (Cb) e dois na parte norte, denominados de Coletor C (Cc) e Coletor D (Cd). Para a realização das análises físicas e químicas, amostrou-se 2000 mL de água residuária de cada Coletor. Todas as análises foram realizadas conforme o descrito no Manual e Métodos Físicos e Químicos para Análise de Alimentos (Instituto Adolfo Lutz, 2005), com adaptações para os parâmetros de oxigênio consumido e sólidos suspensos e de acordo com o Standard Methods for the Examination of Waterand Wastewater (APHA,1998). 59 Artigo Os dados amostrais foram realizados em triplicata, para todas as amostras e submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey e Kramer através do programa Graphpad Instat (Rutgers University, Camden, New Jersey). Os tratamentos foram considerados significativos para p < 0,05. Resultados e Discussão As características físicas, químicas, biológicas, o volume e a concentração dos efluentes industriais são variáveis com o tipo de indústria, tipo de processo de fabricação, período de operação, matéria-prima e dos métodos de controle dos despejos. Assim, a Tabela 1 apresenta os resultados obtidos nos coletores a, b, c e d para os parâmetros de temperatura e pH. Os parâmetros de temperatura e potencial hidrogeniônico (pH) precisam ser aferidos no momento da coleta, para que não haja interferência nos resultados até a chegada no local da análise. A Tabela 1 mostra que não houve diferença estatística entre os coletores analisados quanto ao parâmetro de temperatura (Tukey, p>0,05). A temperatura média obtida foi de 28ºC em todos os coletores, este fato pode ser justificado devido à temperatura ambiente brasileira em meados de dezembro ser em média de 29ºC. Segundo a Resolução CONAMA nº 20 de 1986, a temperatura indicada para o lançamento do efluente tratado é de 40ºC, temperatura esta que pode auxiliar na diminuição do crescimento microbiano. Tabela 1. Mostra os resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de temperatura (ºC) e pH Parâmetros Ca Cb Cc Cd Temperatura 27 ± 1,00 29 ± 0,57 29 ± 0,57 28 ± 0,01 Ph 4,78 ± 0,12 4,35 ± 0,11 4,35 ± 0,18 4,12 ± 0,05 Fonte: Dados dos autores, 2013. Noriega; Espanã (2005), ao analisarem amostras de efluente provenientes de indústrias processadoras de pescado, encontraram baixos valores de temperatura (<14ºC e <13ºC), justificando estes valores devido à temperatura utilizada na elaboração do pescado, ser geralmente em torno de 4ºC. O parâmetro de pH indica o caráter ácido ou básico dos efluentes e indiretamente indica a produção de ácidos pelos micro-organismos presentes no local, devido à presença de matéria orgânica em abundância, como é o caso da indústria alimentícia, caso não ocorra pressão osmótica desfavorável para o crescimento microbiano. Os valores de pH encontrados nos coletores analisados diferem-se estatisticamente entre eles (p <0,05), com exceção dos coletores Cb e Cc, (pH de 4,35 em ambos). O menor valor de pH encontrou-se no Cd. Este fato pode ser justifica- 60 do devido às características do efluente contido neste coletor, a maior quantidade de matéria orgânica despejada no Cd pode ter influenciado a obtenção de um pH levemente mais baixo, pois a presença de matéria orgânica favorece a atividade microbiana e consequentemente há produção de ácidos orgânicos pelos micro-organismos gerando um decréscimo nos valores de pH. Estes valores de pH (4,78; 4,35, 4,35 e 4,12, respectivamente para os coletores a, b, c e d) encontram-se abaixo do estabelecido pela legislação vigente (Resolução CONAMA, nº 20 de 1986), que indica um pH de 5,0 a 9,0 para o padrão de lançamento de efluente tratado. Assim, antes de sua disposição no meio ambiente, há necessidade de fazer uma correção do seu pH para que este efluente não altere a qualidade do corpo receptor e dos recursos ambientais. Os resultados encontrados para o parâmetro cor estão descritos na Tabela 2. Houve diferença significativa entre os coletores Ca e Cd (p <0,05) e semelhança nos valores encontrados entre os coletores Cb e Cc (p >0,05). Tabela 2. Resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de cor aparente (uH), turbidez (uT) e condutividade (uS) Parâmetros Ca Cb Cc Cd Cor 250 ± 0,57 1105 ± 4,50 1125 ± 2,00 2452 ± 3,21 Turbidez 103,45 ± 0,20 245,67 ± 1,15 197,5 ± 0,30 446,33 ± 1,52 Condutividade 575 ± 1,15 698 ± 0,57 601 ± 1.00 445 ± 0,57 Fonte: Dados dos autores, 2013. A cor aparente é composta de substâncias dissolvidas (corantes naturais ou artificiais), assim, sugere-se que o maior valor obtido no Cd (2452 uH) seja devido às características do despejo neste coletor, alta carga orgânica contendo quantidades elevadas de corantes, aromas naturais e artificiais e aos subprodutos de biodegradação. Em contrapartida, o Ca obteve os menores valores em relação ao parâmetro cor. Este fato pode ser justificado, pois o Ca recebe despejos essencialmente contendo farinha de trigo, sal e condimentos, substâncias coloidais e não dissolvidas. Entretanto, todos os valores obtidos nos coletores a, b, c e d (Tabela 2) encontram-se fora do máximo permitido pela legislação vigente, tanto para o padrão de potabilidade (máx. 5 uH) quanto para o padrão de classe 2 (máx. 75 uH) (CONAMA, nº20 de 1986). Salles, Pelegrini e Pelegrini (2006), ao realizarem um estudo sobre tratamento de efluente industrial contendo corantes, encontraram um valor de cor igual a 700 uH, sendo este resultado menor ao obtido nos coletores Cb (1105 uH); Cc (1125 uH); Cd (2452 uH) e maior ao encontrado no Ca (250uH). Esta diferença se deve, provavelmente, devido à carga de efluente dos coletores a, b e c serem maiores do que o pesquisado por Salles, Pelegrini e Pelegrini. Em relação ao parâmetro turbidez, que indica indiretamente a presença de substâncias coloidais no efluente líquido, R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 61 Artigo houve diferença significativa entre todos os coletores analisados (Tukey, p<0,05). Encontrou-se o maior valor de turbidez no Cd (446,33 uT) e este fato se deve, possivelmente, à alta quantidade de condimentos, gordura e farinha despejados neste coletor, deixando uma turbidez maior na água residuária. Entretanto, ambos os coletores encontraram-se fora da resolução vigente que estabelece o máximo de 100 uT para o padrão classe 2 (CONAMA, nº20 de 1986). Crespilho; Santana; Rezende (2004) obtiveram resultados dentro da legislação (100 uT), para o padrão de classe 2, ao analisarem o efluente líquido na indústria processadora de coco verde, sendo assim diferente do presente estudo. Para Oliveira; Campos; Medeiros (2010), no aspecto sanitário, a turbidez pode afetar esteticamente os corpos d’água ou ainda encarecer os processos de tratamento para fins de abastecimento público e industrial, além de reduzir a penetração da luz prejudicando a fotossíntese e ocasionando a morte de peixes. A condutividade está diretamente relacionada com os sólidos solúveis contidos no efluente. Este parâmetro é importante, pois mede indiretamente a quantidade de matéria orgânica passível de se solubilizar à fração aquosa do meio. O menor valor analisado encontra-se no Cd (445 uS). Este fato pode ter sofrido influência devido à maior carga contida neste coletor ser de sólidos em suspensão e dissolvidos e consequentemente menor em relação aos sólidos solúveis. Os valores encontrados nos outros coletores diferem-se significativamente entre eles (p<0,05), entretanto, pode-se concluir que ao passo de terem maior quantidade de sólidos solúveis, podem apresentar menor quantidade de sólidos dissolvidos e em suspensão, visivelmente obtido no Ca (Tabela 2). Com base nestes aspectos, Bertolino; Carvalho; Aquino (2008), ao estudarem o efluente produzido em um campus universitário, encontraram valores semelhantes ao presente estudo, (530 e 622 uT, respectivamente para o ponto de coleta 1 e 3). Antes da disposição deste efluente no meio ambiente, há necessidade de diminuir a carga orgânica contida nos coletores por meio de processos físicos como decantação e químicos como flotação e coagulação. Os resultados obtidos para sólidos totais dissolvidos e suspensos estão apresentados na Tabela 3. Os sólidos totais são compostos por substâncias dissolvidas e em suspensão, de composição orgânica e/ou inorgânica e de acordo com Noriega; Espanã (2005), os sólidos suspensos representam em média 40% dos sólidos totais e os sólidos dissolvidos representam os 60% restantes. As médias obtidas para o parâmetro de sólidos em suspensão para as amostras contidas nos Ca, Cb e Cc, estão acima dos resultados encontrados por Noriega; Espanã (2005) e Queiroz; Koetz (1997), ao estudarem o efluente proveniente de uma indústria de pescados e o efluente da parboilização do arroz, respectivamente. Houve diferença significativa entre todos os coletores analisados (Tukey, p<0,05), entretanto os maiores valores foram encontrados no Cd (7197 mg/L). Crespilho; Santana; Rezende (2004) encontraram valores semelhantes ao obtido no Cd (7197 mg/L), ao estudarem o efluente líquido na indústria processadora de coco verde (7500 mg/L). Estes altos valores encontrados no Cd podem ter justificativa na quantidade de matéria orgânica insolúvel contida neste coletor que chegam a ficar suspensos na água residuária. O parâmetro de sólidos dissolvidos indicou valores abaixo do máximo permitido pela legislação que corresponde a 1000 mg/L, registrando-se uma média de 300 mg/L para as amostras Ca, Cb; Cc e Cd (Resolução Nº20/86, CONAMA). No entanto, o Cd apresentou valores maiores também para os sólidos dissolvidos quando comparado aos Ca, Cb e Cc. Estes resultados completam os obtidos para o parâmetro de cor, que representa indiretamente a quantidade de sólidos dissolvidos no efluente, assim como para o parâmetro de turbidez que indica indiretamente a quantidade de sólidos em suspensão encontrados no efluente e para ambos os parâmetros o Cd obteve resultados mais elevados quando comparado aos Ca, Cb e Cc (Tabela 2). Estes resíduos sólidos podem afetar a qualidade da água residuária de várias maneiras, sendo uma delas a obstrução dos ductos de saída das águas de dejeto, desse modo, de acordo com Dors; Furigo; Pereira (2006), é indicado submeter o efluente com grande carga de sólidos suspensos aos processos físicos de gradeamento, sedimentação, filtração e flotação e ao processo químico de coagulação. Os resultados de sulfato e amônia encontrados nas amostras dos coletores a, b, c e d estão descritos na Tabela 4. Tabela 4. Resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de sulfato (mg/L) e amônia (mg/L) Parâmetros Ca Cb Cc Cd Sulfato < 250 ± 0,05 > 250 ± 0,05 > 250 ± 0,05 > 250 ± 0,03 Amônia 2,0 ± 0,005 1,75 ± 0,005 2,76 ± 0,01 3,4 ± 0,04 Fonte: Dados dos autores, 2013. Tabela 3. Resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de sólidos totais dissolvidos (mg/L) e sólidos em suspensão (mg/L) Parâmetros Ca Cb Cc Cd Sólidos dissolvidos 187 ± 0,03 339 ± 1,155 280,6 ± 11,8 412 ± 1,73 Sólidos suspensos 3940 ± 0,04 1838 ± 0,01 4082± 13,6 7197 ± 1,52 Fonte: Dados dos autores, 2013. 62 Estes parâmetros indicam comprometimento no tratamento de águas residuárias se encontrados acima do máximo permitido pela legislação, que consiste em 250 mg/L e 5 mg/L, respectivamente, para o parâmetro sulfato e amônia, de acordo com a Resolução CONAMA, Nº20 de 1986. Os coletores b, c e d encontram-se com valores fora do máximo permitido na legislação vigente para o parâmetro sulfato, ambos apresentaram valores maiores do que 250 mg/L, R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 apenas o Ca encontrou-se dentro dos padrões por apresentar valores menores do que 250 mg/L. Para o parâmetro amônia, todos os coletores apresentaram valores menores do que 5 mg/L, portanto, dentro do valor máximo permitido na legislação, assim quanto aos valores de amônia não houve diferença significativa entre os coletores (p> 0,05). Queiroz; Koetz (1997) encontraram valores de sulfato de 21,06 mg/L, ao pesquisarem sobre o efluente gerado a partir da parboilização do arroz, de acordo com os valores encontrados e indicados na Tabela 4, todas as amostras analisadas apresentaram valores acima do encontrado por Queiroz e Koetz, esta diferença pode ser justificada devido as características orgânicas do efluente estudado, possuindo grande carga de matéria orgânica, corantes naturais e artificiais, favorecendo o aumento da quantidade de sulfatos no efluente e, consequentemente, o aumento dos sólidos totais dissolvidos, conforme o indicado na Tabela 3. Conforme Zavoudakis et. al., (2006), a amônia é um constituinte resultante da decomposição da matéria orgânica que pode comprometer o processo de desinfecção das águas residuárias na etapa de tratamento químico com cloro, por produzir cloroaminas que possuem baixo poder bactericida, impedindo o controle de micro-organismos não desejáveis na etapa de processo biológico ou na etapa do padrão de lançamento. Palhares; Calijuri (2007) encontraram valores de 60 mg/L de amônia, no mês de maio, ao caracterizarem o efluente oriundo de uma suinícola. Este resultado difere-se ao encontrado no presente estudo, conforme o indicado na Tabela 4. Estão demonstrados na Tabela 5 os resultados obtidos para os parâmetros de oxigênio dissolvido, protídeos e lipídeos. Tabela 5. Resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de oxigênio dissolvido (mg/L), proteínas (mg/L) e óleos e graxas (mg/L) Parâmetros Ca Cb Cc Cd Oxigênio dissolvido 19,5 ± 0,05 255 ± 1,52 271,25 ± 0,14 267,5 ± 0,35 Proteína 0,11 ± 0,01 0,46 ± 0,02 0,52 ± 0,19 0,48 ± 0,02 Óleos e graxas 0,008 ± 0,005 0,043 ± 0,03 0,041 ±0,002 0,042 ± 0,001 Fonte: Dados dos autores, 2013. Os resultados obtidos para os parâmetros de oxigênio dissolvido, proteínas e lipídeos indicam, de acordo com a Tabela 5, que houve diferença significativa para estes parâmetros apenas comparando-se o Ca aos demais coletores b, c e d, (Tukey, p <0,05), e que não houve diferença significativa entre as amostras dos Cb, Cc e Cd (Tukey, p >0,05). De acordo com Giordano (2004), os valores de oxigênio dissolvido indicam as condições de qualidade da água residuária, sob o aspecto de que as reduções nas concentrações de oxigênio nos corpos d´água são provocadas principalmente por despejos de origem orgânica. Assim, os valores de oxigênio dissolvido variam principalmente com a temperatura, a altitude e a R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 quantidade de matéria orgânica disponível aos micro-organismos aeróbios. Os resultados de oxigênio dissolvido obtidos por Palhares; Calijuri (2007), ao estudarem amostras de efluente provenientes de suinícolas foram de 1,8 mg/L e 4,7 mg/L. Ambos os resultados encontraram-se menores aos obtidos no atual estudo em todos os coletores analisados (Tabela 5). Vários fatores podem ocasionar esta diferença obtida mas, principalmente, as características do efluente. O efluente pesquisado neste estudo é proveniente de uma indústria alimentícia, tendo como característica principal a presença de grande quantidade de matéria orgânica, embora as características de compostos orgânicos estejam presentes também nas amostras estudadas por Palhares e Calijuri (2007), as amostras de Palhares e Calijuri encontram-se diluídas, o que facilita a degradação da matéria orgânica pelos micro-organismos presentes no meio, fazendo com que os valores de oxigênio dissolvido diminuam conforme a degradação da matéria orgânica pelos micro-organismos aeróbios. Nas amostras dos coletores b, c e d deste estudo, a presença de elevados teores orgânicos podem ter influenciado na degradação microbiana, pois grandes quantidades de substratos podem promover concentração no meio aquoso, prejudicando o crescimento microbiano e consequentemente a sua utilização da matéria orgânica, devido à alta pressão osmótica criada no meio. A amostra contida no Ca apresenta menores quantidades de matéria orgânica, logo, neste coletor foram obtidos menores resultados de oxigênio dissolvido (Tabela 5), o que pode evidenciar menor pressão osmótica causada pela baixa concentração de substrato e então maior consumo de oxigênio dissolvido pelos micro-organismos aeróbios presentes neste coletor. Segundo Almeida et. al. (2004), a elevação da carga orgânica prejudica a eficiência dos tratamentos biológicos, devido ao intumescimento do lodo ativado, como é o caso dos efluentes das indústrias alimentícias, assim há necessidade de proceder tratamentos como sedimentação e principalmente flotação em efluentes com características de carga orgânica elevada, e também diluição do meio para que não haja pressão osmótica que possa desfavorecer a degradação da matéria orgânica pelos micro-organismos, antes de iniciar a etapa dos tratamentos biológicos. Se este efluente for despejado em corpos d’agua sem nenhum tipo de tratamento prévio, haverá uma diluição natural da matéria orgânica presente no efluente, o que poderá favorecer o crescimento de micro-organismos aeróbios ocasionando a morte de peixes e outros organismos aquáticos por falta de oxigênio, causando um desequilíbrio na biodiversidade nos corpos d’agua. A quantidade de proteína presente nos efluentes também serve como substrato microbiano. Valores de 41,4; 62,2 e 56,2 mg/L foram encontrados nos pontos de coleta A1, A2 e A3, respectivamente, por Bertonilo; Carvalho e Aquino (2008), ao estudarem o efluente proveniente de universidades. Estes valores são diferentes do obtido no presente estudo, que foram de 0,11; 0,46, 0,52 e 0,48 mg/L, para os coletores a, b c e d, respectivamente. 63 Artigo As amostras analisadas no presente estudo possuem, com base nas características das matérias-primas utilizadas no processo de fabricação, maior quantidade de carboidratos, quando comparados aos teores de proteínas e lipídeos encontrados e indicados na Tabela 5. Embora a quantidade de lipídeos utilizada no processo seja relativamente alta, este despejo não é destinado aos coletores de efluente, 98% da quantidade utilizada de óleos e graxas é recolhida em containers separados e destinados para tratamento em empresa terceirizada. Parente e Silva (2002) obtiveram valores de 265,6 mg/L de óleos e graxas, ao pesquisarem sobre efluentes líquidos em indústria alimentícia. Dors, Furigo, Pereira (2006), ao estudarem o efluente gerado por uma indústria de produtos avícolas, encontraram resultados de 2005 mg/L de óleos e graxas. Valores diferentes do obtido neste estudo, 0,008; 0,043, 0,041 e 0,042 mg/L, para os coletores a, b c e d, respectivamente. Os valores de óleos e graxas mostrados na Tabela 5, estão em conformidade com valores determinados pela legislação vigente para óleos e graxas de origem vegetal (CONAMA, nº20 de 1986), ao estipularem valores permitidos de até 50 mg/L. A Tabela 6 mostra que não houve diferença estatística entre os coletores analisados quanto ao parâmetro de acidez total (Tukey, p>0,05) e que não foram obtidos valores de alcalinidade total em nenhuma das amostras. Tabela 6. Resultados obtidos para as amostras Ca, Cb, Cc e Cd para os parâmetros de acidez (%) e alcalinidade total (%). Parâmetros Ca Cb Cc Cd Acidez total 16,99 ± 0,01 17,67 ± 0,005 15,16 ± 0,01 22,69 ± 0,005 Alcalinidade total - - - - Fonte: Dados dos autores, 2013. Conforme o descrito por Giordano (2004), a quantidade de alcalinidade obtida em efluentes industriais mede a capacidade de tamponamento do efluente. Altos níveis de álcalis podem influenciar no tratamento do efluente. Dors, Furigo, Pereira (2006) e Pereira (2004) obtiveram valores de 73% e 75% de álcalis, respectivamente, ao estudarem o efluente gerado por indústrias de produtos avícolas. Não foram obtidos valores de alcalinidade neste estudo (Tabela 6), possivelmente devido aos valores de acidez encontrarem-se relativamente altos para a quantidade em litros de efluente contido em cada coletor (em média 10 litros), neutralizando assim a presença de álcalis. As médias obtidas para o parâmetro de acidez, para as amostras contidas nos Ca, Cb, Cc e Cd, indicados na Tabela 6, estão abaixo dos resultados encontrados por Dors, Furigo, Pereira (2006), que encontraram valores de 40,4% de acidez total e Pereira (2004), que obteve valores de 30% de acidez ao pesquisarem efluentes de origem avícola. A acidez total mede indiretamente a presença de micro-organismos no meio, assim como pode ser proveniente dos óleos e graxas na forma de ácidos graxos livres. Os resulta- 64 dos obtidos para acidez total estão descritos na Tabela 6. Houve diferença estatística entre todos os coletores analisados (p<0,05), entretanto, o maior valor obtido encontra-se no Cd, assim, pode-se sugerir que há maior despejo de material lipídico neste coletor e que deste modo o maior teor de acidez total seja proveniente dos óleos e graxas e não totalmente do metabolismo microbiano. A meta da indústria de alimentos, uma das mais importantes indústrias de transformação, modificando os recursos naturais em alimentos industrializados, é atender às necessidades da população e garantir, com segurança, o abastecimento dos grandes centros urbanos (ABEA, 2000). Entretanto, a disposição incorreta de efluentes industriais pode causar sérios problemas ambientais como poluição das águas que provoca a mortandade da vida aquática, odores desagradáveis, comprometimento da estrutura físico-química do solo, com a diminuição do rendimento das colheitas e intoxicação de animais e humanos. De acordo com os parâmetros analisados, verificou-se amostras em não conformidade com valores acima dos determinados pela CONAMA, nº20 de 1986, para pH, temperatura, cor aparente, turbidez e sólidos em suspensão em todos os coletores analisados, e quanto ao parâmetro sulfatos, os Cb, Cc e Cd encontraram-se fora dos padrões, somente o Ca encontrou-se em conformidade para o parâmetro sulfato. Todas as amostras dos Ca, Cb, Cc e Cd obtiveram resultados satisfatórios especificados pela legislação, para os parâmetros de amônia, sólidos dissolvidos, oxigênio dissolvido, protídeos e óleos e graxas. De acordo com a Resolução CONAMA, nº20 de 1986, os valores encontrados nesta pesquisa permitem dizer que 45% das amostras coletadas indicam valores acima do máximo permitido, bem como o restante das amostras atendem aos padrões estabelecidos para efluentes de classe 2. Portanto, há necessidade de submeter o efluente contido nos Ca, Cb, Cc e Cd, a tratamentos físicos, químicos e biológicos, antes da disposição dos mesmos no meio ambiente, para que não ocorra impacto ambiental negativo e consequentemente danos à saúde humana, animal e vegetal. Conclusão Com a legislação ambiental a cada dia mais rígida, as indústrias estão entendendo à necessidade de caracterizar a geração de efluentes líquidos e de avaliar seus impactos no meio ambiente. As amostras analisadas de efluente proveniente de indústria alimentícia do seguimento de doces apresentaram 55% de conformidade com a legislação e 45% de não conformidade para os parâmetros analisados. É necessário ressaltar que o efluente pesquisado havia passado apenas pelos processos iniciais de tratamento, os físicos, como gradeamento e decantação, após a caracterização do efluente decantado, este necessitará de tratamentos químicos e biológicos, antes da disposição dos mesmos no meio ambiente, para que não haja danos ambientais. R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2014 • nº 69 R eferênc ias ABEA. Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos. Editorial. Disponível em: <http://www.geocites.com/eureka/ gold/5301> Acesso em: 2 fev. 2013. APHA, Standart Metodos for Examination of Water and Wastewater, 20th ed., Washingiton, 1998. ALMEIDA, E.; ASSALIN, M. R.; ROSA, M. A.; DURAN, N.; Quim. Nova, nº 27, p. 818. 2004. ALMEIDA, E.S.; CABALLERO, N.D. Tratamento do efluente da indústria de queijos por processos biológicos e químicos. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Tese de Doutorado. Instituto de Química, 2004. BENDOTTI G.; ZAGONEL, G. F; ADÃO, D. C.; VECHIATTO, W. W. 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