Frei Adelino Pereira, OFM Frei Adelino Pereira nasceu na freguesia da Caranguejeira, em Leiria, a 26 de Maio de 1931, filho de Manuel Pereira e de Leonor Correia. Depois de ter concluído o ensino primário, com o exame da 4ª Classe, a 20 de Junho de 1943, veio a entrar no Seminário dos Franciscanos de Montariol-Braga, a 11 de Outubro do mesmo ano, depois de inicialmente lhe ter sido vedada a entrada, por não haver vagas. Providencialmente, à última da hora, um dos adolescentes teve de desistir, por motivo de doença e, assim, o sonho do jovem de Caldelas pôde realizar-se. Durante cinco anos estudou no Colégio de Montariol em Braga, com grande dedicação às matérias ensinadas, e não com menor fervor à aprendizagem das virtudes que via nos seus melhores mestres franciscanos. A segunda etapa da sua formação franciscana leva-o a mais uma viagem até Torres Vedras, onde, a 15 de Agosto de 1948, entrou no Convento de Varatojo para iniciar o seu Noviciado, vestindo pela primeira vez o hábito franciscano. Foram seus Mestres de formação o Padre José da Silva Almeida e o Padre Roque do Amaral (vice-mestre). Terminado este “ano de prova”, fez a sua primeira Profissão religiosa, a 16 de Agosto de 1949. Neste mesmo ano transita para o Seminário Franciscano da Luz, em Lisboa, onde inicia os seus estudos filosóficos em vista à ordenação sacerdotal. No ano seguinte, em Dezembro de 1949, mudou-se para o Convento de S. Francisco, em Leiria, para continuar os estudos iniciados em Lisboa. A 19 de Dezembro de 1952 professou solenemente na Ordem dos Frades Menores, na Igreja do Seminário da Luz. Neste mesmo ano, voltou para o Seminário da Luz, em Lisboa, a fim de continuar os estudos, agora no triénio de teologia. Foi seu Mestre o Pe. David Azevedo. A 19 de Junho de 1955, foi ordenado Diácono, na Sé Catedral de Lisboa, pelas mãos de Dom Manuel Gonçalves Cerejeira. E, em 29 de Junho de 1956, recebeu a ordenação sacerdotal, na mesma catedral e pelas mãos do mesmo digníssimo Cardeal Patriarca de Lisboa. No dia 7 de Julho de 1956, celebrou a primeira missa ou “missa nova” em Caldelas, paróquia que o viu nascer e que rejubilou com mais um sacerdote desta terra tão fecunda em vocações sacerdotais e franciscanas. Desde então, o jovem e entusiasta sacerdote nunca mais parou, dedicando- -se a cada tarefa que lhe pediam com a mesma paixão com que abraçou a vida franciscana e sacerdotal. Uma das suas grandes paixões foi sempre o saber, estudar e conhecer para melhor servir e anunciar o Evangelho, também pela via da cultura e do ensino. Assim, em Outubro de 1956 já se encontra em Paris, para iniciar no Instituton Católico, uma Licenciatura em Filosofia. Terminado este ciclo, voltou a Portugal para começar uma outra Licenciatura em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica. Entre 1957 e 1961 dedicou-se, mais uma vez, com todo o afinco ao estudo das letras e dos clássicos da literatura, colhendo as melhores sementes que depois irá, com criatividade, ministrar aos seus numerosíssimos alunos ao longo de muitos anos. Como conclusão do curso, redigiu e defendeu a tese sob o título Teatro Inesiano. Inês de Castro no Teatro Clássico. Desde então, irá dedicar boa parte do seu tempo e energias ao ensino: Primeiro no Seminário Menor de Montariol, entre 1962 e 1967; depois, no Seminário Franciscano de Leiria, entre 1960 e 1962, tendo retomado entre 1967 e 1979, no então chamado Instituto Franciscano. Ensinou ainda na Escola de Enfermagem das Franciscanas Missionárias de Maria (em Lisboa), no Colégio da Cruz da Areia e na Escola Secundária de José Falcão de Coimbra. Depois de fazer o estágio de Românicas, entre 1976-1978, passou, desde este último ano, a leccionar no liceu Francisco Rodrigues Lobo, onde permaneceu como professor efectivo entre 1978 e 1990. O gosto e brio com que preparava as suas aulas, deixou em todos os alunos uma marca inesquecível que, faziam do Pe. Adelino um professor “diferente” e muito “avançado” e entre os colegas professores e nas instituições por onde passou fez da competência uma imagem de marca por todos reconhecida. Para além de imensos poemas, muitos dos quais permanecem inéditos, escreveu orações, cânticos, peças de teatro redigidas, muitas vezes, ao serviço da Família Franciscana ou a pedido expresso de alguma congregação. Porém, mesmo nos anos mais dedicados ao estudo e ensino, o Pe. Adelino nunca viveu só para as letras e a escola. Foi sempre um Sacerdote zeloso e dedicado. Foram sem conta os serviços e cargos que assumiu ao serviço da Ordem Franciscana e da Igreja: Guardião do Convento de Montariol (1966-1967) e do Convento da Portela, em Leiria, entre 1969 e 1975 e, de novo, entre 1988 e 1998; Definidor Provincial, entre 1979 e 1998; Director do Centro de Franciscanismo, entre 1995 e 1998; Assistente das Fraternidades da Ordem Franciscana Secular de Leiria (1969-1975; 1988-1998) e Tomar (1980-1998); Assistente Nacional da Ordem Franciscana Secular, entre 1998 e 2001, data em que foi constituída a Conferência Nacional de Assistentes da mesma Ordem e da qual passou, desde logo, a ser um dos três membros, até à sua despedida desta vida. Entre 1992 e 1995 foi pároco de Alviobeira, Além Ribeira e Casais, na Diocese de Santarém. Nos últimos trinta anos da sua vida, dedicou muito do seu tempo e energias a acompanhar e cuidar da árvore plantada pela Ir. Ana de Jesus. O clamor dos pobres mais pobres, levara, como vimos, a Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim a deixar tudo, inclusive, a sua anterior Congregação religiosa que muito estimava, para se dedicar totalmente a servir a Cristo nos mais necessitados. Este testemunho corajoso e de total confiança na Providência Divina da Ir. Ana de Jesus acabou por “agarrar” também o Frei Adelino que, pouco a pouco e à medida que melhor conhecia as motivações e carisma dessa grande pequena mulher, se dedicou mais e mais à mesma causa. Frei Adelino conheceu ainda a Irmã Ana de Jesus, tendo-se correspondido e encontrado com ela no último ano da sua vida. Na Irmã Ana, Frei Adelino viu realmente uma mulher de Deus movida pelo Espírito e pelo amor ao próximo. Ficou desde logo tocado pela força interior desta mulher de uma fé inabalável e caridade infindável. No ano de 1975, visitou o Abrigo da Divina Providência, na Cova da Iria e foi-se deixando cativar e envolver pela mesma paixão que levava Ana de Jesus e mais um grupo de uma dúzia de Irmãs a prosseguir na sua missão evangélica. O momento era de grande incerteza. Algumas Irmãs sentiam-se desanimadas e desamparadas perante um futuro incerto: sem aprovação oficial, nem orientação espiritual e eclesial segura. Frei Adelino, foi sensível a esta situação, mas deixouse conquistar sobretudo pelo amor que as Irmãs dedicavam às cerca de cinquenta deficientes físicas e mentais que acolhiam na Casa da Moita Redonda e no Abrigo da Divina Providência da Cova da Iria. Desde então, e ao longo de cerca de trinta anos, Frei Adelino ficou vinculado à Congregação e suas Irmãs de uma forma inseparável, até ao último momento da sua vida. Durante estes longos e fecundos anos, boa parte da sua dedicação andou à volta da Casa do Bom Samaritano que ele tinha como “menina dos seus olhos”. Desde a primeira hora ajudou a conceber esta casa, animou as Irmãs a seguirem em frente com a obra e acompanhou-as de porta em porta, de paróquia em paróquia pela diocese de Leiria e outras partes do país, dando a conhecer a espiritualidade e obra da Irmã Fundadora e mobilizando os cristãos para a participação no sonho que a Divina Providência, com a ajuda de todos, acabaria por tornar realidade. Numa das primeiras visitas que fez à Casa da Moita Redonda, ao ver as pobres condições em que as Irmãs e meninas deficientes viviam, Frei Adelino desabafou: «Irmãs, vós estais aqui a fazer uma caridade desumana!». Na verdade, depressa percebeu que não bastava continuar a remediar ou aliviar a miséria; era necessário oferecer uma vida condigna aos pobres que viviam sob a responsabilidade das Irmãs e um futuro mais orientado a estas Irmãs que desejavam prosseguir no serviço aos irmãos e a Deus. E como as Irmãs tivessem respondido «não ter dinheiro para construir uma casa condigna», Frei Adelino retorquiu sem hesitar: «Irmãs, dinheiro há muito. O que importa é fazer e ir por ele!». E foi isso que ele fez, como já referimos: juntamente com as Irmãs, “foi por ele” e «o “milagre” deu-se com a simplicidade do sol que nasce ou de uma flor que se abre ao sol ou dum regato que do monte vem e corre pela encosta abaixo» (DP). A Casa do Bom Samaritano é mais um “milagre” que a Divina Providência operou, servindo-se particularmente do Frei Adelino. Este, na sua qualidade de Assistente da Congregação fundada pela Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, da qual acabaria por beber a espiritualidade providencialista e renovar a sua paixão pelos pobres, soube congregar todas as Irmãs à volta dos Carismas da Irmã Ana. E, uma vez reunido o pequeno rebanho, sabiamente o preparou e mobilizou à volta de um mesmo carisma e missão: Oração e evangelização dos mais pobres e serviço e libertação dos mais necessitados. Da parte das Irmãs da Congregação e Meninas da Casa do Bom Samaritano que tanto amava terá recebido as maiores alegrias da sua vida de pastor e irmão menor. E só assim se compreende que a Divina Providência tenha proporcionado tudo para que, excecionalmente, mas com grato beneplácito dos seus Irmãos Franciscanos, o Frei Adelino tenha vivido os últimos meses de enfermidade na Casa que ele mais amava: a Casa do Bom Samaritano. Nesta acabou por falecer, junto das suas Meninas e Irmãs, com uma paz e alegria que nem as dores da agonia conseguiram perturbar. Como justo reconhecimento da sua ação em prol da consolidação do carisma e ação da Congregação, as Irmãs da Fraternidade Franciscana da Divina Providência apressaram-se, logo após a sua morte, a assumi lo oficial e solenemente, no Capítulo Geral de 2007, como seu Cofundador. Se tal título, que o próprio sempre quis evitar, lhe foi justamente reconhecido, ele não ofusca, de modo algum os méritos e papel que Deus quis emprestar à Ir. Ana de Jesus, fazendo dela a “Fundadora” da Fraternidade Franciscana da Divina Providência. Pelo contrário, a presença e ação do Frei Adelino foi importante e decisiva para a Congregação precisamente na medida em que ajudou as Irmãs desta Congregação a verem na Irmã Ana uma força de Deus e na sua Obra um grande dom do Espírito. Por isso, longe de se apagarem ou substituírem um ao outro, estes dois instrumentos da Divina Providência iluminam-se e completam-se mutuamente.