MANTER A FREGUESIA NO SÉCULO XVI: OS FRESCOSDE S. FRANCISCO DE BRAGANçA E A VIRGEM DA MISERICÓNNTA LuísU.AFONSOI Resumo Os fÌescos da igreja de S. Fmncisco de Bragança, realizadosnos inícios do século XVl. aDresentâm um progÌama iconográfico motrumental e complexo, onde se exploram as concordâncras tìiológicas entre o Antigo e o Novo 1bstamento e a narratividade da sequência Juízo Finar, \4Ìgem da Misericórdia e JerÌrsalém celeste- PaÌa lá da coerência ioternâ que se reconhece u..,. p.ogiulnu, neste estualo defende-se que â preeminência dada à imagem da Mrgem da Miseícórdiu na ,o"u ão altar_mor se deveu à instalação da Santa Casa da Misericórdia em Bragança, no ano de 151g. Deste moclo, proglama o franciscano integra-se numa lógica de propaganda e conconência religiosa pela imagem, funcionanalo esta como uma forma de apropriação dos valores simbólicos da Misericórdia. PÂLAVRAS-CHAVE : Pintura muraÌ. Freguesia. Bragança. pfopaganda. Virgem da Misericórdia. FranciscâÌ1os.Concorrência relisiosa, Abstract The mürals of the St. FÉncis Church of Bragança, painted in the early l6'h century prcsent a monumental and comple, íconographic program in whích the concordance between OId anrÌ New Testament ^ explored as ,,t)ell as the atat ity oí íhe sequence Last Jüdgment, í4ìgin oí Merq) and Heavenly Jerusalen. BesÌdes the Ìnteftal coherence that program pr"r"ní, it i, ar"guetl in this stud1, that the prc-enínence gíren to the ,ì'gitl oí Merqi ìnage on tie main altar area ís due to the ìnsütuatìon oí the House oí Mercy ín Braganç.t, ìn j 5lB. In fací, the Francíscani pmgram workl on the level of propaganda and religious competìÍion through images, apprcpríating'and absorbíng the srmbolic valües oí Mercy KDY\ryORDS: Mural painting. paÌishioneÌs. Bragança. propaganata.Vrgin of Mercy. Franciscans. Religious competition. I.ANIES DE MAQUI,{,IEL No capítuloXXVII da Crónica de D. JoãoI o maior contador de histórias português de todos os tempos, Femão Lopes, relata um diálogo curioso havido em 1383 entre Alvaro Pais, antigo chanceler-mor dos reis D. pedro Ì e D. FemandoI, e o Mestre de Avis. futuro D. João I. Essediálogo terá ocorrido depoisde o Mestre ter morlo o Conde Andeiro no Paço da Rainha e de o bispo de Lisboa, um castelhanode Zamora,ter sido defenestrado da toré sineirada Séde Lisboapelapopulaçãorevoltosa a quem (a sanha trigava os corações), simplesmente porque não tinlìa tangido os sinos da cateúal quando os revoltososo exigiram. Na elervescênciados acontecimentosgïand€parte da populaçãofugia de Lisboa receosa,deixandoos seushaveresà guardade familiares, vizinhos ou amigos que por Ìrm ou por outro motivo iam ficando. Naturalmente, muitos dos que permaneciam em Lisboa começavama cobiçaro espólioque ia sendodeixado para tlás. Nessaalturacrítica, em que D. Joãoaindadecidia se havia de embarcar e fugir para Ìnglaterra ou se havia de permaneceremLisboa eresistfuà mais que certainvasão caslelhana. o asrutoÁlvaro Pais um hàmemdaschan1 Histo ador dâ AÍe (FLUL) celarias,tal como Maquiavel, e provável oÍquestrador de graÍÌdepaxteda rebeliãoorganizadapelos concelhos de Lisboa, Por1o,Coimbra e Ëvora ofereceu ao Meste de Avis um lúcido conselho que ficou como uma das máximas mais célebresda história política portuguesa. Com efeito, apesarde idoso e de sofrer de gota, este astutomanobradordos bastidoresdo poder e das volá_ teis sensibilidadesdasmassaspopulares,ofereceua D. Joãouma receitasegurapara alcançare mantero poder \ále a pena a citaçâo em portuguêsda época: <Senho4crcedemede comsselho,e danos ha mui grande ajudapera levar vossofeítoadeante. he esse?dìsseho Mestrc,e sefor boom Quecomsselho prazermehiamuito. SenhordisseAlvont Paaez,ÍAzeeper estaguisa: Dãae aqvellÒque vossonorn he, eprometeeo que noh, teemdes,e perdoaaeo quem ros nom errou, e seemosha mui gramtÌe ajudaperatcrllnegoçio emquallsooes posto.>(Crónicade D. JoãoI, cap.XXVII) 2. ONTEI4 COMO HOJE Existem mais semelhançasdo quc pareÇeenrreesre longo excursoe o assuntoque iremostmtar nesteartigo, respeilanteàs pinturasmuraisexistenlesna cabeceúa da igreja de S. Franciscode Bragança@ig. 1). Com efeito, nesteestudopretendemosmostraÍ que a máxima de Álvaro Pais é tão actualcomo asmarcasde propaganda imagéticaemanadaspelos lrescosbrigantinosem tomo de 1520.Julgamos,de facto, que estaspintums constituem um sinal das preocupaçõesque os fÌanciscaÍÌosde Bragançasentiamcom a chegadade uma nova instituiçãoreligiosa à vila, a SantaCasada Misericórdia, e que, no fundo, lutava pelo mesmo <<mercado espirituab dos mendicantes.Até cerlo ponto, a estratégiareveladapeIos frescosque iremos analisarpodeser explicadacomo uma tentativa de combatgr (ou de antecipar,pois a sua cronologia não é exacta)a quebrade <<quota de mercado>rdos franciscanosbdgantinos,que até entãobeneficiavam de uma situaçãopróxima do monopólio em termos religiosos. da capela-mor(Fig. 2) denunciamalgumasafinidades entreestazona do templo e a igrejaromânicado mosteiro de S. Salvadorde CastrodeAvelãs,situadanos ar:redoresde Bragança(Lino, A., 1984: 338), e ainda com a cabeceirada igreja de S. Mcente da mesmacidade.Por sua vez, estas constflições parecem ser fortemente maÌcadaspelo românico de tipo mudéjar do planalto 3.  IGREJADE S. FRANCISCO DE BRAGANÇA A igreja ftanciscanade Brugançaencontra-selocalizada no flanco nofte da encostaque conduz ao castelo desta cidade. À excepçãoda zona correspondenteà cabeceiFig. 2 Fig. 1 ra, o edificio remaaescente éjáda ÉpocaModema,o mesmo sucedendocom as antigas dependênciasclaustrais setecentistas,ondehoje em dia teÍn sedeo Arqúvo Distrital destaregião administrativa. A cabeceiraé constituída por rüna única capelaampla com formato semi-circular e deve ter sido edificada durante o segundo quartel ou meados do séculoXIII, quandoos franciscanosse instalaramneste núcleo urbano, bem afastadoda tutela arquidiocesana bracarense.r Outro dos motivos que atlaiu os mendicantes foi a proximidade de uma rota de peregrinação neste local, entre o sudoestede Castela e Santiago de Compostela(Afonsoe Trancoso,1983:125),bem como,a paÍttÍ de 1272, arealizaçãode uma importante feira quinzenal no -rèrão,passandoa mensala paÍtir de 1383(Coelho, M. H.. 1994:8-9). O aparelhoem xisto, o recursoao tijolo, a tipologia dasjanelas primitivas, a tipologia da comija e a volumetria leonês, que podemos encontrar no foco de Sahagún (agregadoem tomo da igreja de SaÍrtoTirso, do século XII, e da igreja de S. Lourenço,do.séculoXIII) ou ainda em algumaslocalidadesmais próximas de \ãlladollid e Zamora,como FresnoelMejo (igrejade S. JoãoBaptista, séc.XII) ou Mltalpando (igreja de S. Pedro,séc.XIÌ, e igreja de SantaMaria, séc.XIÌI) (López Guzmán,2000: 190-193e 207-220).Queremossubliúat contudo,que esta tipologia românico-mudéjarnão deve resultar de qualquer espéciede reaproveitamentoda pequenacapela de SantaCatarinaexistentenesselocal, doadopela família dos Morais aosfranciscanos(Alves, n M.,2000/ ÌI: 247). Pensamos,sim, que setrata de uma construção de raiz feita no segundoquartelou nos meadosdo século XIIÌ, embora segundomodelos e técnicastradicionais.Ainda assim, est€smodelos e técnicasnão podem ser consideradosarcaicosatendendoà região em que se encontram,pois mesmona província de Leão continuaram-sea seguir estesprocessosbem avançadoo século )ctr. Paratodosos efeitos,a primeiru referênciaseguraao convento de S. Franciscode Bragança encontra-seno testamentod€ D. Alonso III, feito em 1271,onde o monaxca deixa cinquenta libras para os frades menores de Bragança (Afonso e TÌancoso, 1983: 125). No século seguintejá este convento apresentavaalguma grandeza, tanto mais que viveu um momento memorável em 1340,ano da importanteBatalhado Salado.Com efeito, nessearo o convento bdgantino loi o loçal eleito por outrosreligiosospararecebera reuniãodo capítulo ibérico da Ordem dos Cónegos RegraÍìtes(Alves, F. M., 2000/tr: 246). Nos séculosXVI e XVII forum acrescentaOs vestígiosd€ pintura mural remanescentes permidasalgumascapelaslateraisà nave e à cabeceira,nome- tem-nos ter uma ideia bastantefidedigna da complexidaadamentea de Pascoalde Frias (em 1620).Nos séculos de, grandiosidade e qualidade plástica do programa XVII e XVIII o conventorecebeuobÍasde beneficiação fresquistaprimitivo. Esseprogramaestendia-sepor toda na fachada(1635) e nas dependênciasclaustrais,estas a largura da capela-mor ao longo dos nove metros de últimas forçadaspor um grande incêndio que em 1728 altura das paredes,dividindo-as em três registos horidestruiu gande parte dos mesmos (Rodrigues, L. A., zontais e em três faixas verticais.A área assim coberta 1995:459), nomeadamente o dormitório,o refeitórioe as com prntum mural era uma das mais vastasdo panorama oficinas. A mesma soÍe coúeceu a igrej a em 1746 quan- artístico português da época, comparável com o que aindo um incêndio consumiu a capela-mor(Jacob,1997: 100), da existena nave da igreja franciscanade Leiria (Afonembora sem implicar estragos de monta nas estruturas e so, L., 2003). Sobreestesfrescosfoi feita uma nova canas pintuas murais ainda existentes,segurament€pÍomadade pintura mural de pendordecorativista,talvezjá tegidasnessaépocapor várias camadasde cal. no séÇuloXVIII, da qual se consewam ainda alguns fragmentos.Em todo o caso,os trabalhosde restaurodesen4. OS FRESCOS E A PROPAGANDA: volvidos sob a orientação de Ewa Swiêcka ( I 998) priúleESCATOIOGIAE MTSENTCÓNOT,I giaram a camadasotoposta,bastantemais interessante do ponto de vista artístico e iconográfico.Apesar das Curiosamente,a historiografia fianciscana aponta grandeslacunasexistentesao nível da camadacromátipara a presençade pinturas murais nestecenóbio desde ca, derivadas da destruição sucessivados rebocos e epocamuito recuada.Com efeito, a hadição contadapor também daspróprias característicasda superficie murária Frei Manuel da Esperaaça(1656: 50) referea existência (feita em placas de xisto extremamente iÍegulares, favode dois retratos régios figurando D. Dinis e a Raiúa recendoa existênciade múltiplos espaçosocos entueas Santano forro da capela-mor(antes de uma ruína com várias camadas do aparelho pétreo), a verdade é que o que ficaram enterados). Naturalmente, estas informaresultado final dos trabalhos de restauro nos permitiu çõestêm um valorhistórico muito Íeduzido, sendomais acedera um dos mais impressionaates conjuntos mufais provável que tais pinturas nunca tenlam existido fora portuguesesdos finais da Idade Média. da imaginação dos frades que assim desejavam dourar a Assim, ajulgar pelos elementosremanescentes penefémerapassagemda raiúa Isabel pelo seu convento samosque o programa iconográfico da camadaprimitiva em 1282, a camiúo dos braços do seu régio esposo era fomado por ftês registosdistintos,conforme o diaportuguês. grama que aqui apresentamos(Fig. 4). No registo inferiBastantemais concretas,apesarde se enconÍaÍem or, hoje em dia praticamente desprovido de qualquer pinmuito danificadase truncadas,são as pinturas murais tula, pareceteÍ existido algo mais do que um simples que se conservam mrma capela da nave e, sobretudo, na soco decorativo.Com efeito, em algumas zonas deste capela-mor destaigeja (Fig. 3). Estasúltimas foram des- registo inferior é possívelidentifrcarelementospictóricobertasapenasem meados dos anos oitenta, por de- cos estranhosa essafunção, como é o caso,por exemtrás do amrinado retábulo-mor oitocentista desta igreja plo, dos vestígiosesvanecidosde uma inscrição.Desta forma, embora o primeiro registo começassecomo um ír"'i $ó"Ï e a sua realizáção implicou o entaipamento das antigas janelasromânico-mudéjares. Estamosconvencidos,sem exageros,que aspinturas dessazona da igreja constituem um dos mais lascinantesconjuntos de frescos de estilo tardo-medievalque existem no nossopaís. Virg€Írì do Marto e"à %; socode conteúdomeramentedecorativo,pensírmosque , daria lugar, logo de seguida,a um registo figurativo. Assim, qualquerleitura do programa iconográficoproposto para a capela-mor ficará sempÍe refém da ausência de um dos seus componentes,corespondente a cerca de um terço do discurso inicial. Em todo o caso, os r€gistos intermédio e superior apresentamuma áreamais alaÍgada de pintwa muÍal, o que nos permite identificar a maior parte do discursoiconográficodestacapela-mor. Assim, no registointermédio,dividido em hês zonas, desenvolveu-seum esquemacom arcadasf,ingidasonde se encontÌavamfiguras de Profetasem posição frontal enquadradospor arcosem querenacogulhados.Infelizmente,tambémesteregisto se encontramuito truncado, martendo-seuma ínfima partedos rebocospintadosoriginais. Em todo o caso,dado que o (mapo da destruição das pinturas não coresponde a zonas integrais, é possível identificar ao longo de toda a largura deste registo, aqui e além, alguns fiagmentos de pintura mural que parecem repetir paÍtes da edícula cogulhada que podemosencontrarna paredesul da capela-morAs figurasremanescentes, ou o que delasresta,apresentamse de pé, com barbas compridas, envergaa v€stes de aparato e seguram longas filacteras (Fig. 5). O seu hgurino lembra, com alguma fidelidade, o tipo de imagens produzidas em madeira por Olivier de Gand e Femão Muffuz para a Charola do Convento de Cristo por volta de 1511-1514ou as imagenspétreasdo poÍal sul da igreja do mesmoconvento(Grilo, E, 1997). No prolongamentodos contafortes de cada edícula fingida encontramos ainda o busto de outras figuras, talvez ProfetasMenores, que emeÌgem da pedra e dos enrolamentos vegetalistas, segurando também uma filactera com enrolamentosfantasiosos.Infelizmente,o grau de fragmentação da pintura impede-nos de ler o texto destasinscriçõeslatinas. Em todo o caso,julgamos que se trata de ffasesretiradasdos liwos atribuídos aos Profetas.Pelasmesmasrazões,há igualmentea lamentar a perda quase integral dos elementospintados na paÍedenorle e na paredenascente,onde se destacaa presençade um brasãocom as cinco chagasde Cristo encimadopor uma tiara papal de três coroas sob duas chavesem aspa. Os vestígios existentesna parede norte permitemnos verificar que todo esteregisto era ocupadocom f,F guÍas inseridas em edículas semelhantesàs r€manescentesna paredesul, devendorepresentarapenasfiguras vétero-testaÍnentárias,nomeadamenteProfetas (Fig. 6), Patriarcas e, eventualÍnente (por contaminação com a cultura clássica),algumas Sibilas - como sucede,por exemplo, nos magníficos portais manuelinosvirados a sul nas igrejasdo mosteirodos Jerónimose do Convento de Cristo de Tomar.Dito de outro modo, esteprimeiro registo figuativo era inteiÍamentededicadoao Antigo Tèstamento,como prefigwação do Novo Tèstamento repÍesentadono registo cimeto. O registoswerio! tambémdividido em trêspartes,é aqueleque se encontramais completo, apesarde mais de metade da pintura mural destazona ter sido destruída. Em todo o caso, as pinturas remanescentes permitemnos verificar que na zona central está representadaa Vrgem do Manto (ou Mrgem da Misericódia), seguindose na parede norte uma representação do Juízo Final, com dezenasde figuras e tendo os quatro Evangelistas nos âagulos da composição.Por sua vez, a paredesul representava a Jerusalém Celeste, cujas muralhas eram guardadaspelas Sete\4rhrdes,cadauma colocadadentro de uma torre circular Na parede norte d€ste registo, portanto, encontlamos a frguração do Juízo Final recorrendo a dezenasde figuras. O centro da composiçãoé ocupadopela figura de Cristo-Juizentronizadona mandorlade luz (Fig.7)., Cristo tem o bmço direito levantado para o Céu e o es- , uma representaçãoda Vrgem do Manto, ou Vrgem da Misericórdia, verdadeiraMater Omnium (i-e., <mãe de toda a gente)). De facto, como uma mãe que protege a suaprole, Maria ofeÍeceproteççãoa todos aquelesque se albergam sob o seu manto, sejam eles reis, papas, bispos ou pessoascomuns.r Ao mesmo tempo que dá guaridaa uma amosta dos tipos sociológicosda sociedade da época,a Vtrgem encontra-sea ser coroadapor dois anjos,de óbvia matriz flamenga(Fig. 8), vendo-se ainda dois braçosque saemdo céu segurandouma inscriçãoonde selê: <MATER MISERICORDIE MISERE NOBIS). N€sta zona da pintura, os rostos de diversas figuras que se enconham sob o manto da \4rgem pare- l querdo descaídona direcçãodo chão, sendoparticularmentevisível o sangueque cone abundantemente pelas chagas,sobretudoaquelaque estáabertano peito. Infelizmente, o rosto de Cristo já não se conserva,sendo visíveis apenasuma parte do tronco, os dois braços e um pé. Entre as várias figuras existentesdestacam-se algunsanjosque sustentamos insttumentosda Paixãoe também duas figuras enüonizadas ladeando Cristo, sinal da suaimportância hierrírquica. No entanto a maioria das figuras diz respeito aos Apóstolos (por exemplo, identifica-seS. Tiago com chapéude peregrinoe vieira), aos santos(por exemplo, Saato Elói) e às santasque formam a Corte Celestial, sendo de subliúar que todas estasfiguas enveÍgam trajes áulicos ou trajes cuidados. Apesar de nos parecer que nesta cena apenassão representadosos eleitos, a verdadeé que sob os pés de Cdsto pensamospoder identificar um conjunto de vários úmulos com a tampa aberta, o que alude, sem qualquer margem para dúvidas, para o contexto do Juízo Final, dandoassimcrédito ao despertardos mortos 1ançado pelos anjostromp€teirosque seencontramno registo supenor da composição.Refra-se, ainda, que nos quatro ângulos desta pintura de formato rectangular se encontram prntadosos QuatÌo Evangelistas,cadaum deles sentadonuma cátedÌadouada, com espaldar,mesae baldaquino,escrevendodiligentementeos Evangelhos. Aparentemente,a representaçãoda Corte Celesteobedece a convençõesiconográficashierarquizadas. na medida em que enconhamosduas figuras enffonizadas de cada lado de Cristo. Como referimos antes.na zona central encontra-se cem demasiadoesquemáticos,dando a entenderque os acabamentosfeitos a seco desapareceram.Esta situaçãotalvezseexpliquepelo facto de ter sido estaa primeira zona onde foi descobedapintura mural, o que eventualmenteterá levado indivíduos não habilitadosa levantar, por curiosidade,a coberh.raformada pelas sucessivas caiaçõesdas paredes.Deste modo, julgamos que estasfiguras foram feitas pela mesma mão (ou mãos) que laborou no restanteespaçoda capela-mor Esta situação, no entanto,tem o aliciante de nos permitir estudar os modos de execuçãodascamaçõesdestaoficina, percebendo-seclaramenteo modo como asmodelaçõessão trabalhadaspor sobreposiçãode pinceladas de cores diferentes. Por ftm, na paredesul, encontramosa representação da JerusalémCeleste.O primeiro aspectoa destacaré o factode seencontrarmuralhada. com a suaponaprincipal a ser guardadapor um anjo e por um arcanjo(ralvez S. Miguel). Entre o anjo e o arcanjoparecevislumbrar-se uma hgurinha nua, que representa.neste conteÌto. a entradade uma almiúa no paraiso celesre.Quanro às muralhas que surgem na zona inf('noÍ da pinrura e na zona supenor. der e-se destacaro tàcto de possuirem diversastorrescirculares.muito semelhantÈs às do Drô prio castelode Braeança.ondc'sr' cnconu-amr úas damas repres€ntadai a mc-io corpo personificando as \irnìdes t Fig. 9t. Estastìgura:s:eguram uma serie de canelas com a rÈsp€!-Ìi\a ideÍÌriÍicação.lendo-se c-malgumas legítirna atendendo à ftaca úsibilidade das pinturas e à sua área reduzida na altua, não encontramos qualquer jusúficação de carácter estilístico na leitura realizada por JoãoJacob(1997: 102).Este autor,de facto, relere que a camada sotoposta da pintwa da capela-mor dataria de <finais de Quiúentos ou inícios do seguinte), acrescen' tando ainda que é uma obra (de autoria provável de António Leitão, formado em Roma e Antuérpia e radicado em Bragançan, enquanto que a camada sobreposta, de carácter decorativo, seria de um período (mais tâÍdio). Nem a análiseda estrdtigrafiadascaÍnadasde pintua mural sugeridaspor este autor nos paÍece correcta, como a sugestão da autoria e cronologia destaspinturas figüativas nos merece crédito, dadas as caracterísücasplásticas das mesmas,ainda de óbvio sabortardo-gótico. Com efeito, o tipo de programa iconográfico assente em concordânciastipológicas entÍe o Antigo e o Novo Tèstamento,o tipo de indumentária representadae o tipo de arquitecturas fingidas lembram muito as obras de pintura e escultura arquitectónica do período manuelino, do mesmo modo que as característicasplásticasdesta composição,em termos de desenÌroe de modelação, paÍecem apontax paxa um período situado no primeiro terço do séculoXVI, havendoalgunssinaisda presença de uma estéticahispano-flamenga(sobretudonos rosFig. 9 tos dos anjos e das santasmártires). Por outro lado, mesmo no caso das figuras que apresentam melhor tra<Caritas>>. etci No centÍo destaurbe delas <Necessitas>>. tamento plástico, como sucede com os Quatro celesteencontramosuma fonte hezagonalrematadapor dondebrou a Agua Evangelistas por exemplo, S. Marcos (Fig. 10) , são umacolunacom umapiúa dourada. notórias as relaçõesde filiação nos valores tardo-gótida \4da a partir de duas bicas.Ao lado destaFonte da cos (nimbo, expressividade,mobiliário, etc.), estando \4da encontramos duas plantas que também devem aluotr a ArvoÌe oa v1(l4. completamentefora de causaa sua possível ligação a uma linguagem tardo - c lassicista marcada pelo maneirismo de Antuérpia. Por último, embora nada se 5. CRONOLOGIA E CONTEXTO conlreçada obra de António Leitão (Serrão,Y,2000: 17), importa sublinïar que esteartista estádocumentado apeNuma altura em que pouco mais se via desta pintura nas durante a segundametade do século XVI e em locais do que parte do painel da \.4rgem do Manto, Joaquim Oliveira Caetano(1995: 33) arriscou escÍeveÍque esta pintura deveria ser anterior à instituição da SantaCasa da Misericórdia de Lisboa, em 1498, datando-ada segundametadedo séculoXV (idem: 34). EstacÍonologia parece-nospouco viável, pelas razões que exporemos mais adiante.Mas além disso, esteinvestigadorconsiderou ainda que as figuras que se encontram sob o manto da Virgem (poderão eventualmente ser retratos) (ibidem). O que tambémnos parecepouco provável.De facto, se o caÍácter arcaizante e estereotipado das figuras que se abrigam sob o manto é por demais evidente, tomaado pouco viável ver aí qualquer espécie de retrato fisionómico, também é bastanteclaÍo que o flamenguismo do rosto da \4Ìgem e dos anjos não permite uma cronologia anteriora c.1500.Natrralmente,estasafirmaçõesforam proferidas muito antes de se proceder ao restauro Fí9. I0 daspinturâs,pelo que ainda não eram visíveis todos os tão diversos como Castelo Bom, de onde era natual, elementos que permitem operax uma datação melhor alicerçada (por exemplo, a modelação do rosto dos Lamego,Pinhel, Miranda do Douro, etc.Ainda que sob muitas reservas,Joaquim Oliveira Caetanoatribúu a este Evangelistas,claramentequinhentista). Se a proposta de Joaquim Caetano é perfeitamente artista o antigo retábulo-mor da igreja matriz de \41aNova de Foz Côa, datávelde c.1575-1580,opinião que não é totalmentedescaftadapor Vítor Serfão(2000:79). Deste modo, existem ttês razõesque nos levam a consìderar infundada a hipótese levantadapor João Jacob (1997: I 02). Em primeiro lugar, a formação romana e antuérpiana de Artónio Leitão parecem-nosincompatíveis com o estilo das pintwas de Bragança.Em segundolugar, o período de actividadedestepintor é bastantepostedor à prováveldatade realizaçãodaspinturasbrigantinas.Por último, seo retábulo-morda igreja matriz de Foz Côa for da autoria do referido pintor, então as pinturas de Bragança nunca poderiam ser da suamão devido às enormes diferençasestilísticasentre estesdois núcleospictóricos. Dado não conhecermosnenhuma outÌa obra na região ftansmontanaque apresentecaÍacterísticassemelhantesàs dos mumis de Bragança,tambémnão se afigura praticá\el o exerciciode cotejocom pinnras que pudessemser datadasde forma mais segura.A única excepção, ainda assim limitada aos aspectos iconoglíficos, diz respeito àsmagnífiÇaspinturas da igreja de MalhadaSorda,na BeiraAlta, mas cujo estiloé demasiado diferentepara falarmos da me,ma mão. Devido a esta situação de isolamento,julgamos que a hipótese que nos pode trazer dadosmais credíveisradica na análise do programa iconográÍìco desta igreja dentro do contexto local, nomeadamenteno que diz respeito à competiçãopelo mercadoespiritualdestacidade.Com efeito, verificámosantesque o painel centualdestemagnífF co conjunto de pinturas murais se refere à Vrgem do Manto, iconepor excelênciada acçãodasmisericórdias. Pensamosque o facto de estacenase enconharno centro do programa iconográfico manifestauma intenção clara de associaros valoresintercessoÍese apotopaicos destaimagemà igreja franciscanade Brugança,só assim seexplicandoque a figura e corteapocalípticade CristoJuiz sejaremetidapara a paredelateral da capela-more que não haja referênciasvisuaisaossantosflanciscanos fundadores. 6, O PINT]OR CONTRABANDISTA, Embora nos pareçatotalmenteinfundadaa hipótese António de Leitão, confessamos,desdejá, que não sabemos quem pintou estesfrescose pensamosque será muito dificìl que algum dia sevenha a obter estainformaverificar queem 1531 ção.Em todo o caso,é interessante seencontravana prisàobrigantinao pintor Franciscode Santa Cruz, acusadode passaÍ clandestinamentepara Castelavinte e oito reaisde prata.Apesarde estarpreso, como supostamentenão har ia outro oficial de pinrura à disposìçãoem Braeança- <por nâ aler quem o soubese tàer senàhuu pintor pcrnomc Franciscode SamtaCmz" t\ìterbo. S.. I90-r: llót -. foi ç-*didoa Èrs.'anish que pintasseuma "sa\ola mca quc aria na cl dad!-em que leuauà o corpo do Seúor Dia dc ct.rrp,.-r .-n sÌe. I ibid€m t. Naturalmente..otrabalhoteria quc'ser lìito tbra da pnsão,na casada Câmara.onde se enconrrara a drn gaio- la. Precisamentena vésperada festado Corpo de Cristo, talvez com o trabalhojá concluído,o pintor aproveitaa distracção (ou a conivência) de quem o escoltavano caminho da prisão para a câmara para se pôr em fuga talvez como compensaçãopelo trabalhodespendidona pintura da dita gaiola. Estas informaçõesmeÍecem-nosalguns comentários. Em primeiÍo lugar, parece-nosmuito exageradaa suposta inexistência de outros oficiais de pintura em Bragançanessaaltua. Julgamosque estaindicaçãodeve ser interpretada como um argumento destinado a atenuar a falha do vereadorresponsávelpelos detidos,uma vez que os presosnão deveriampassear-sefora da prisão (independentemente da justeza das razões invocadas) aliás, estesargumentosatenuantessão típicos das cartas de suplicação que são dirigidas aos monarcaspor outros responsáveisde prisões de onde se evadempresos (Duarte, L., 1999). Em todo o caso, como estepintor (e contrabandistade prata) estádocumentadonum períodoque coincide,em parte,com aquele em que aspinturasmurais terão sido realizadasjulgamos que o seu nome deverá ser tomado em consideração como uma das várias hipótesesautorais. 7. CONCORRÊNCIA E PROPAGANDA Podemosdizer que até l5l8 os fÍanciscanosnão enfrentavam grande concorrência por parte de outras instituiçõesreligiosasem Bragança:o arcebispadode Braga, que tutelava estesterritórios, encontrava-sedemasiaao longínquo para se notax o peso da suapresença;as ordensmilitares compresençano tereno (Ordem do Hospital e Ordem de Cristo) detinham em conjunto apenas 8% do total de casaisidentiflrcadosnas inquirições de 1320-21(Rodrigues,N., 1993:8); enquantoque os (latifundiririos>beneditinosde Castro de Avelãs se dedicavam à vida rural e à administação dassuasterras,cujos rendimentose número de propriedades(20% dos casais inquiridos) erammuito superioresaosde qualquerouho mosteirohaÍrsmontano(idem: 5-7).No entanto,à sem€lhança do que viúa sucedendodesde 1498 um pouco por todo o país, em 1518 a SantaCasada Misericórdia instala-sena cidadede Bragança,numa igeja que ate aí estavadedicadaao Espírito Santoe quereceberiaimportantesobÍas de beneficiaçãonos anos trinta e quarenta (Jacob.1997:103). Ora, o carácterassistencialda SantaCasada Misericórdiae a vocaçàoparaos problemasmateriaise espirituais da população urbana mais desfavorecidacoincidem, quasena integra.com os principios fundamenúis da pastoral dos franciscanos.Dai que os mendicantes tenhamprocuradoa!)or'rar-)c.ou m('smoapÍopnar-se. dos r alores simbtiÌi.os aribuid\ìs a imagem da \irccm do \lantt-'. tratandr.dt' ('n.!ìm(-ndaÍuma obra tàustosa que pudes:c catrrar a atcnçã!.r' a-r:c'eurara tìdeliz:çào dos leus tÈgus.s rradiciooais, lsro. numa altura em qu!' a concorrÈncia pclo mercado Èspintual esla\a ao rubro na cidade de Braeança. O lacro de se relegar o Juízo Final para a paredenofie da cabeceirae o facto de . se apostaÍna Vrgremda Misericórdiacomo a imagem mais importante desta igrej a, em detrimento, também, da própria propagandainstitucional frarciscana (que ao contrário do normal, como nas igrejas franciscanasde Leiria e de Guimarães,estáquaseausentedestediscurso), apenaspode ser explicadopela crescenteimportância da veneraçãoà \Ãrgem da Misericórdia e, de forma mais prosaica,como uma respostaà instalaçãode uma SantaCasanestavila. É certo que a partir dos finais da Idade Média, sobretudoem Itália, a \4rgem do Manto começoua ser tào invocadacontra a pestecomo S. Sebastião ou S. Roque, podendo enconhar-seaqui também uma boa razãopam o destaquedado a estaimagem no programaiconográficoda cabeceira.No entanto,exlstem alguns óbices a esta hipótese.Em primeiro lugar, nessaiconografiaespecíficao manto da \4rgem firnciona como um escudo,servindo de protecção Çontraas flechaspestíferase garantindo,dessemodo, a saÌvação de todosos queneleseabrigam(Reau,1957:116).Como não sevislumbram quaisquersinaisdessasflechasaqui, estahipóteseperdecrédito.Em segundolugar,é preciso sublinhar que nos hnais da Idade Média se começou autilizar a imagemda\ÃrgemdaMisericórdiaem conexão com o JuízoFinal (ibidem;Caetano),pelo quea sequência Juízo Final - Vrgem da Mi sericórdia- JerusalémCeleste possui uma óbvia assertividadenarativa pelo papel intercessore protector que a \4rgem podia ofereceraos fiéis. Em todo o caso,julgamos que essaassertividade, por si só,não explica o destaquedadoà figura de Maria. É por isso que nos inclinamos a ver aqui uma tentativa de apropriaçãodos valores apotropaicose simbólicos destaimagemporpafie dos franciscanos,(oubando) à SantaCasada Misericórdiade Bragançaaprincipal bandeira dasMisericórdias. Apesar de o séculoXVI portuguêsnão ter assistido a neúrÍÌr confronto minimamenterelevanteentre protestantese católicos, a heterogeneidadee a independênçia das várias instituiçõesreligiosas que actuavam no None de A frica no paise no império.parlicularmente e na Asia, originou diversosconflitos que muitas vezes mais parecemdisputasempresariaisentre organizações que lutam pelo mesmo mercado. A este respeito, a modemidadee o pragmatismodo pensamentopolítico de Álvaro Pais (Daae aquello que vosso nom he, e prom€tee o que nom teemdes) encontmum termo de compamçãonada desprezívelnos fresçosbrigantinos. Com efeito, guardadasas devidasdistâncias,pensamos que estesfrescos se encontram ao nível das modemas estratégiasde propagandae da leroz concorrênciaentre organizações corporativasque lutampelosmesmosmercados,com uúas e dentes,atravésda imagem. BIBLIOGRAFIA 1983.(\èstiÀFoNSo, BeÌarmino e DuaÍreTRANCOSO, gios românicos na jgÍeja do convento de S. Frâncisco (BÍagança)t, i n B r i g a n t i a ,v o ì - I I I , n ' 1 , p p . 1 2 1 - 1 3 ó . ÁFONSO. Luis Urbâno. 2003. Convento de S. Francisco cle Lejria. Estudo monogÌáfico, Lisboa, Livros Horjzonte. ALVES, Francisco Mânue1 lAbade de Bâçâl], 2000. Bragdnça. Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, XII tomos, Bragânçâ, Câmara Municipal de Bragança / IPM. CAETA.NO, Joaquim Oliveira, 1995. (Sob o mânto protecior. PaÌa uma iconogmfia da Virgem da MisericórdÌâ), in Nuno V Sjlvâ (cord.), Mater Misericordiae. Simbolismo e Representação da \Àrgem dâ Misericórdiâ, Lisboa, Museu de S. Roque / Livros Horizonte, pp. 14 5I. COELHO, Maria Helena, 1994. (Bragança medieval em tempos de feira e festD, in Brigantia, vol. XIV ns. 3/4, pp- 3-1,1. DUARTE, Luís M., 1999. Justiça e CriminaÌidade no Poíugal M e d i e v o ( 1 4 5 9 - 1 4 8 1 ) ,L j s b o a , F u n d a ç ã oC â l o u s l eG u l b e n k i a n/ Fundação para a Ciência e TecnoÌogia. FREI MANUEL dâ ESPER-ANçA, 1656. História SeraÍica da Ordem dos Frâdes Menores de S. Francisco na Provincia de PoÌ1ugâl, t. l, Lisboa, of. Craesbeeckiâna. GRÌLO, Femando, 1997. (A escuÌtura em madcira dc influ ô n c i a f l a m e n g a e m P o Í t u g â I .A r t i s t a s e o b r a s ) , i n P e d r o D i a s (cord..), O Brilho do NoÍe. Esculturâ e Escultores do Norte da Europa em Portugal. Época Manuelina, Lisboâ, CNCDB pp. 75115. JACOB, João, 1997. Bragança, Lisboâ, Presenç4. LINO, António, 1984. (O convento de S. Francisco de Guimârães. O Convento de S. Frâncisco de BÌagançD, in Brigantiâ, v o L .4 , n ' 3 , p p . 3 3 5 - 3 3 8 . LÓPEZ CUZMÁN, Rafael, 2000. Arquiteciura Mudéjar Del Mâdnd, siìcretismo medievâ1a lâs âltemativâs hispanoamericanâs, Cátedra. R É A U , L o u j s , ì 9 5 7 . I c o n o g r a p h i ed e l ' A r t C h r é Ì i c n , t . Ì 1 . v o Ì . 2 , P a r i s ,P U I p p . l l 2 - 1 2 0 . RODRIGUES, Nuno, 1993. <Propriedade, poder e domínio scnhorjal no julgado de Brâgança em finais do sécu1oXlll', ìn B r i g a n t i a ,v o l . X I I I , n s . 1 / 2 p p . 3 - 1 5 . SERRÃO, Vilor, 2000. (O núcleo de pintura reÌigiosa do Arciprestado de \41â Nova de Foz Côa (séculos XVI-XVII),, ìn João SoaÌheiro (coord.), Foz Côa. lnventário e Memória, Porto, Câmara Municipal de Mla Nova de Foz Cô4, pp. 68-82. SWIÊCLA, Ewa, 1998. <Murals in BÌâgançâ: discovery and r e s p o n s i b i l i t y ) ,i n B i u l e t y n , v o l . 9 , n ' 3 ( 3 4 ) , p p . 1 6 - 2 9 . VITERBO, F Sousa, 1903. Notícia de AÌguns PintoÍes Portugxesese de Outros que Sendo EstrangejÍosExercerama sua AÍe em Portugal, vol. 1, Lisboa, Academia das Ciências de Lìsboa. NOTAS: I Inlèlizmente a data exacta é desconhecida, cmboÍa nos pareça inealista a lenda que aponta pam uma fundação em 121.1 por inÌcrmédio do próprio santo de Assis, no regresso de uma peregrinaçãoâ Sanriâgo de Compostela. Sobre estâ lcndâ vejâ-se (AÌves, F M., 2000/II: 241-243). Belamino Afonso e Duarte Trancoso (1983: 125) considemm os meados do século XIII como a data mais verosimjl parâ a fundação do convento. 'zCujos contomos denunciam o Íecüso a incisòes directas. r Um jcsuítâ do sóculo xvl Íelata uma visão curiosa onde Maria é descdÌa segundo este modelo iconográÍico. Nessa visão a Vrgem surge como umâ rainha ricamente âdornada abraçando tôdos os filhos da Cômpaúia de Jcsus, como se fosse mãe deles. protegendo-os sob o seu manto, (como uma gaÌinha faz com os s e u sp i n t a i n h o s ) ( R é a u , L . , 1 9 5 7 : 1 1 4 ) . a Não sabemosse a associaçãocntre estasMrludes e a Vrgem dâ Misericórdia alcança as dimensões cÌue surgem enunciadasno tratado tardo-quatÌocentjsta intitulado Explicação das Obms dc Miseicórdia, escrito por Frei Luís dc Mclgaço, monge alcobacenie. Em todo o caso, parece-nos jntercssante a associação que Joaq u ì m O . C " e r a n o( ì a q 5 e s - 4 h , e s r r b e l e c e ue n l Ì e e s t ( m c n u s c r i to e a \4rgem da Miserìcórdia pintada por Grcgório Lopcs para a Santa Câsa da Miseicórdia de Sesimbraem 1535. Nessa pintura a \4rgem surge sobre umâ peanha onde estão representadascinco \ÃÌ1üdes:aFé, a Esperança,a Câridadc, â Forçâ e a Justjçâ.