8º UNICULT
ORQUESTRA
Autor(es)
NILSON DA SILVA JUNIOR
Desenvolvimento
Ouvi os sons do céu. Numa tarde, num ocaso, quando o sol se despedia do dia, antes da noite se revelar completamente. Ouvi o som
de passos. Pessoas jovens, não jovens, crianças, mamães... todos se achegando, como que numa procissão sem crença, como que
numa busca incerta... vieram muitos, vieram todos, variados, curiosos, contemplativos.
Ouvi o barulho dos homens, dos moços, o barulho de cordas, tons, arcos, tambores... ouvi línguas estranhas, diversas e diferentes que
se entrelaçaram para combinar, para entenderem e se compreenderem. Os murmúrios, a espera e a ansiedade das gentes que se
alvoroçavam, misturadas aos ruídos das cordas, dos sopros, aos poucos, foram se alinhando, se entrosando, na busca do tom, do som,
da harmonia.
Vi os sons do céu. Unidade, música nascendo nos gestos das mãos... como numa dança, dançada por braços, acenos e maestria. O
encanto de tantas cordas, o ruído dos sopros, a métrica dos tambores... o ajuntamento de tons, olhares e técnicas, fazendo acontecer,
sem nenhuma explicação, muita emoção.
Vi também o sorriso das pessoas... olhos lacrimejantes, mãos que se arvoravam em aplausos, numa tentativa precária de agradecer o
que nem a razão nem a alma podia entender. Vi que todos se aliavam numa sintonia mágica que transformava desconhecidos em
amigos próximos, capazes de sorrir uns para os outros, num sentimento enigmático de alegria, que nascia a medida que a música
chegava aos ouvidos.
Como numa celebração, havia uma liturgia comum, que nascia momento a momento, sem ensaio, sem tradição, numa devoção que
atingia a alma de cada pessoa que ali estava. Todos sabiam, harmonicamente, o tempo de sorrir e de chorar, de vibrar e de silenciar.
Sem conhecimento mútuo, sem combinação, surgia uma só crença, como se o próprio Deus estivesse ali, manifestando a cada um a
alegria genuína da vida.
Percebi que a fraternidade verdadeira não é exclusividade de ninguém... tampouco a fé, a adoração... mais que isto, que Deus é bem
maior que as normas que tentam restringir seu favor... pois ele é manifesto onde existe gente, carne e sangue, alegria e dor.
Vi Deus na música produzida pelas ágeis mãos... vi Deus na alegria das pessoas... na sensibilidade e na emoção. Um Deus que está
longe de ser de alguém, só de alguém, porque ali, Ele era de todos, pois não caberia em ninguém que fosse só, autônomo. Ali, numa
só linguagem, todos se encontraram e festejaram... todos perceberam outras possibilidades que não só as suas... porque, na música
daquelas mãos, todos foram convidados para a harmonia da comunhão, a solidariedade da cooperação e para a singeleza do trabalho.
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