RESENHA
PROLEGÔMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM6
Edson Luiz da Silveira*
Este texto, espécie de artigo de revisão, tem origem na leitura da obra de Louis Hjelmslev
PROLEGÔMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM, pela editora Perspectiva, SP, 2006. A
ideia da publicação surgiu devido ao reconhecido hermetismo desta obra no meio linguístico e da
filosofia da linguagem. Abordaremos capítulo por capítulo, resumindo a ideia central de cada um
deles. Hjelmslev, em última instância, propõe uma nova epistemologia – teoria e método – para o
estudo e a análise do objeto linguístico.
1- ESTUDO DA LINGUAGEM E TEORIA DA LINGUAGEM
Segundo o autor, habitualmente tem-se utilizado a linguagem como meio de abordagem de
outras áreas, e isto desvia o foco que se deve ter na língua enquanto objetivo. A corrente
comparativa usa a língua como meio para deslindar aspectos e relações sociais, mais uma vez a
linguagem como meio apenas. O foco, até então transcendental, deveria voltar-se para aspectos
imanentes da linguagem.
2-TEORIA DA LINGUAGEM E HUMANISMO
Procura-se certa constância concêntrica, ponto de convergência para o qual se dirijam as
realidades que cercam o homem, e, tal ponto é a linguagem.
As disciplinas humanas limitam-se a descrever os domínios (processos) de forma subjetiva
e estética, não procedendo, segundo o autor, a sistematização do mesmo.
Há, ainda, a necessidade de uma teoria da linguagem que verifique a tese da existência de
um sistema subjacente ao processo.
3- TEORIA DA LINGUAGEM E EMPIRISMO
6
Edson Luiz da Silveira* – FEUC – Departamento de Letras - São José do Rio Pardo *
Doutorando em Língua Portuguesa pela PUCSP.
ISSN 1980-4024
Revista LOGOS São José do Rio Pardo , n.20 ----p. julho 2012
Neste capítulo, Hjelmslev defende que toda teoria deve se ater às premissas exigidas pelo
seu abjeto. A descrição do processo deve ser não contraditória,exaustiva e tão simples quanto
possível.
4- TEORIA DA LINGUAGEM E INDUÇÃO
Sobre o método indutivo na Linguística, conclui o autor, neste capítulo, que ele –o método
– generaliza e sintetiza, ao invés de especificar e de analisar o objeto.
O método indutivo não permite que se realize uma descrição não contraditória e simples.
O correto, para ele, seria o método dedutivo – que transita do texto para os seus
componentes.
5- TEORIA DA LINGUAGEM E REALIDADE
Para Hjelmslev, toda teoria deve ser arbitrária e adequada: bastar por si mesma e se valer
das premissas quanto ao objeto.
6- OBJETIVO DA TEORIA DA LINGUAGEM
Hjelmslev procura, não nos devemos esquecer, traçar uma nova epistemologia para a (re)
definição de uma ciência que aborde a linguagem. Não obstante, Saussure já sugerira a Lingüística,
nos parece que Hjelmslev tem a pretensão de dar mais sistematização ao processo.
Neste capítulo, o autor postula que o objetivo de uma teoria da linguagem – tendo por objeto
o texto – é indicar um procedimento que permita o reconhecimento de um dado texto por meio de
uma descrição não contraditória e exaustiva. Deve também, mostrar como é possível reconhecer
outros textos da mesma natureza.
A teoria da linguagem deve percorrer o caminho mais simples possível.
7- PERSPECTIVAS DA TEORIA DA LINGUAGEM
Num primeiro momento, defende Hjelmslev, a teoria da linguagem procederá uma
limitação, para que se chegue – analisando e comparando – à essência da língua falada; após isso,
pode-se incluir novamente aquilo que foi descartado, afim de encontrar seu papel.
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8- O SISTEMA DE DEFINIÇÕES
A teoria da linguagem, para o autor, deveria trabalhar com definições formais bem como com
as operacionais. A descrição deverá ser exaustiva e os conceitos, livres da dimensão metafísica, ou
seja, daquilo que se quer implícito.
9- PRINCÍPIO DA ANÁLISE
O Princípio da Análise, para Hjelmslev, apresenta-se como universal, pelo princípio do
empirismo: descrição não contraditória e exaustiva. Analisar, aqui, é dividir um objeto em partes,
considerando-o a partir de suas dependências mútuas. A Lingüística, para o autor, postula objetos
não como termos de relacionamentos, o que faz imprecisa a noção de totalidade.
As dependências dos objetos num sistema (complementaridade) – processo (solidariedade)
são de três ordens:
•
interdependências – mão dupla;
•
determinações – unilateral;
•
constelações - frouxas.
Jamais, segundo Hjelmslev, deve-se empreender a análise antes de descreverem-se as
dependências.
10- FORMA DA ANÁLISE
Para Hjelmslev, o método indutivo se dá de uma maneira enviesada no processo de análise:
parte do individual à totalidade; enquanto que o método dedutivo – adotado por ele – parte da
totalidade para o individual, segundo o autor, mais abrangente portanto.
11- FUNÇÕES
Hjelmslev define alguns conceitos que, segundo ele, são de fundamental importância ao processo
de análise da linguagem, ei-los:
•
Funtivos – são objetos que têm função em relação a outro objeto; podem ser constantes
ou variáveis, sendo que para os constantes a presença de um é necessária ao outro, pois
é a forma que lhes dá sustentação; enquanto que, para os variáveis, a presença de um
não é necessária ao outro, pois aqui, é a substância que sustenta.
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•
Função – para Hjelmslev trata-se da dependência que preenche as condições de uma
análise.
•
Quando um funtivo não possui função, fala-se em Grandeza.
12- SIGNOS E FIGURAS
Neste capítulo, para o autor, o objetivo de uma teoria da linguagem é tornar possível uma
descrição simples e exaustiva do sistema que está por trás do processo textual. Tem também por
ideia, fazer uma análise que conduza às grandezas de extensão mínima e em menor número
possível. Para Hjelmslev, signo se define por sua função. Linguagem, para ele, é um sistema de
signos – num primeiro momento, confirma-se tal definição. Significação só poderá ser observada
no contexto; as significações ditas lexicais de certos signos apenas serão significações contextuais
artificialmente isoladas ou parafraseadas. Para ele, existem dois tipos de contextos: o de situação e
o explícito.
Num segundo momento do capítulo, Hjelmslev faz outra definição de linguagem: sistema de
figuras que podem servir para formar signos.
13- EXPRESSÃO E CONTEÚDO
Neste capítulo, Hjelmslev contrapõe duas concepções de signo – uma tradicional e uma
moderna, via Saussure:
I-
signo, tradicionalmente, é uma expressão de um conteúdo exterior ao próprio
signo;
II-
enquanto que signo, na visão saussuriana, é um todo formado por uma
expressão e um conteúdo.
Hjelmslev define um signo como um signo de uma substância de expressão e signo de uma
expressão de conteúdo, isso ao mesmo tempo.
SIGNO DESIGNA A UNIDADE CONSTITUÍDA PELA FORMA DO CONTEÚDO E
PELA FORMA DA EXPRESSÃO. Aqui, para Hjelmslev, expressão e conteúdo são grandezas da
mesma ordem, sob todos os aspectos.
14 – INVARIANTES E VARIANTES
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Hjelmslev defende neste capítulo que o método da análise deve ser organizado afim de que
possa conduzir ao registro de elementos em menor número possível. Por conta do método indutivo,
esclarece Hjelmslev que alguns linguistas – principalmente os da escola de Praga e os de Londres –
ao estudarem os fonemas, define-os por meio de premissa não lingüística (psicológica e física). A
troca de fonemas provoca alteração semântica (tal – til) enquanto que a troca de variantes, não (o a
aberto ou fechado em tal), portanto, para o autor, o fonema visto pela sua função (Praga) e visto
por seu lugar (Londres), pode engendrar dificuldades, por isso a noção de Varifone, criado por
Hjelmslev.
Para ele, o fonema possui uma função distintiva – o que D. Jones da escola de Londres quer
descartar. Hjelmslev, retoma mais uma vez a ideia de signo para explicar que Definição deve ser
entendida como uma divisão, tanto no conteúdo de um signo como na expressão de um signo.
Quando Hjelmslev se propõe classificar os funtivos em variantes e invariantes, tem
consciência que isso abala a bifurcação tradicional lingüística: morfologia e sintaxe.
Ele dá, ainda, a concepção de Comutação e de Permutação, sendo a primeira a mutação
entre membros de um paradigma e a segunda, uma mutação entre partes de uma cadeia. O termo
Substituição é por ele definido como a ausência de mutação entre membros de um paradigma.
Invariantes, então seriam correlatos de comutação mútua; e Variantes seriam correlatos de
substituição mútua.
Hjelmslev, ao falar da estrutura específica da língua, (Saussure a define como sendo Forma
Lingüística), a entende quando se especifica quais são as categorias relacionalmente definidas que a
língua comporta e que número de invariantes participa de cada uma delas. Para Hjelmslev, a
dimensão da expressão e a do conteúdo são interdependentes e não admitem separação.
15- ESQUEMA E USO LINGUÍSTICO
As semelhanças das línguas, segundo Hjelmslev, se encontram em seus princípios; as
diferenças provêm da execução de tais princípios. É na forma e não na substância que se aninham
as semelhanças e as diferenças de uma língua. O sentindo de uma língua está na sua formação.
Descrever, para o autor, deve ser a partir da forma e não da substância. Hjelmslev afirma que as
diferenças entre línguas provêm de diferentes formas em relação a um sentido idêntico, porém
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amorfo. Enquanto Saussure estabelece as noções de substância e forma, para Hjelmslev substância
é o sentido dado pela forma, a qual deve ser estudada pela Lingüística; enquanto que o sentido
(expressão e conteúdo) deverá ser estudado por outras ciências, como a Física e a Antropologia.
Descrever o sentido, para o autor, nada mais é que tratar o conteúdo linguístico, e dessa faina,
surgem dois tipos de objetos: os de linguagem e os de não-linguagem. Se à Lingüística, cabe o
papel de análise da forma, o desafio que lhe impõe é admitir em seu horizonte de análise o
conteúdo e a expressão, mas por um viés interno à língua e não extralingüístico, como o fazem
outras ciências.
16- VARIANTES NO ESQUEMA LINGUÍSTICO
Tanto no esquema linguístico quanto no uso linguístico, é possível reduzir certas grandezas a
espécimes de certas outras grandezas, assim tem início o capítulo que trata a questão das variantes,
por Hjelmslev. A articulação de um funtivo é universal, devido ao número ilimitado de vezes que
ele pode ser articulado. As variantes são virtuais, enquanto que as invariantes redutíveis são as
únicas a serem realizadas. No âmbito da fonética, distinguem-se duas variantes: as LIVRES
chamadas variações e são independentes do que as rodeiam e são definidas como combinadas; e as
LIGADAS surgem na cadeia em certos ambientes e chamadas variedades , são definidas como
solidárias. Todas as significações ditas contextuais manifestam variedades e todas as significações
especiais manifestam variações. Devido à exigência da simplicidade, as variedades, pelo processo,
são especificadas pelas variações. Quando uma articulação em variação é esgotada, esta que não
pode mais ser reduzida chama-se indivíduo.
FUNÇÃO E SOMA
Hjelmslev define como SOMA toda classe que contrai uma função com uma ou várias
classes no interior de uma mesma série. Uma soma será UNIDADE se ocorrer no eixo
sintagmático, enquanto que, ocorrendo no eixo paradigmático, será CATEGORIA. Na relação entre
função e soma, esta é estabelecida por aquela. E se onde há função há soma toda grandeza é uma
soma, em teoria, diz-se que uma grandeza não é outra coisa senão duas ou várias grandezas de
função mútua; na prática, é importante considerar que entre categorias existe uma relação.
Hjelmslev chama categoria funcional à categoria que surge na divisão da cadeia em unidades de
seleção.
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17- SINCRETISMO
Para Hjelmslev, sincretismo é o mesmo que neutralização em fonologia e trata-se da
suspensão da comutação entre duas invariantes. Quando um funtivo está presente em certas
condições, diz-se que há aplicação; nas que ele está ausente, diz-se que há suspensão. Superposição
diz-se de uma mutação suspensa entre 2 funtivos, cuja categoria chama-se sincretismo ( p e b no
dinamarquês). Dois termos definem a noção de dominância: obrigatório – quando a dominante é
uma variedade e opcional – quando ela é uma variação (em ambos os casos é em relação ao
sincretismo). Para o autor, o sincretismo se manifesta por fusão quando é idêntico a todos ou a
nenhum dos funtivos; e por implicação quando um sincretismo é idêntico à manifestação de um ou
de vários funtivos – sempre do ponto de vista da hierarquia da substância.
Um sincretismo é resolúvel quando se introduz a variedade de sincretismo que não contrai
a superposição que estabelece o sincretismo. A cadeia atualizada que comporta sincretismos
resolúveis é a ideal. Há, ainda, grandezas explícitas e grandeza zero; há, ainda, grandezas
lingüísticas latentes, quando há superposições com zero e cuja dominância é obrigatória; e
grandezas lingüísticas facultativas, quando na superposição a dominância é opcional.
18- CATÁLISE
Interpolar certos funtivos inacessíveis ao conhecimento por outras vias – eis uma catálise.
Esta interpolação de uma causa a partir da sua conseqüência, como o sine em Latim, e o
conseqüente Ablativo, é possível de acordo com o princípio da generalização.
Há,
entretanto, que se ter cuidado ao utilizar a catálise, mas, na maioria dos casos, o que é introduzido
por catálise é um sincretismo irresolúvel de todas as grandezas que se poderia conceber para a
“posição” considerada na cadeia.
Hjelmslev define, por fim, catálise como o registro de coesões através da troca de uma
grandeza por outra com a qual ela contrai uma substituição.
19- GRANDEZAS DA ANÁLISE
Com esta teoria da linguagem, Hjelmslev postula uma análise do texto que reconheça uma forma
lingüística por trás da substância e uma língua (sistema) por trás do texto. Tal sistema consiste em
categorias que permitem deduzir as unidades – a catálise é o núcleo deste procedimento. O autor
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explica que, devido à natureza deste procedimento dedutivo, não se deve esperar nem uma
semântica nem uma fonética, mas uma “álgebra lingüística”, considerando a expressão e o
conteúdo da língua. A denominação das grandezas algébricas será arbitrária e adequada, e em
virtude do relacionamento arbitrário entre forma e substância uma única grandeza da forma
lingüística se manifesta por formas de substâncias inteiramente diferentes – de uma língua para
outra, o mesmo ocorre com a hierarquia da forma sobre a substância.
Hjelmslev defende que toda análise deve ser feita não contraditoriamente ao maior número
possível de categorias de funtivos realizadas e que não se deve omitir nenhuma fase da análise
susceptível de dar um resultado funcional, para isso, deve-se proceder das invariantes que têm a
maior extensão possível às que têm a menor extensão concebível. O autor esclarece que a análise
tradicional não leva em conta nem as partes do texto de grande extensão, nem as de extensão
reduzida, pois os grupos de frases são deixados ao trabalho da lógica e da psicologia. A
preocupação de Hjelmslev, quanto a esse item, é a de posicionar os objetos segundo suas
definições. Dividindo o texto, por seleção, solidariedade ou combinação mútuas, o lingüista deve
obter partes que tenham a maior extensão possível, para nas operações finais a divisão atingir
grandezas menores não apenas ao plano do conteúdo, mas também ao plano da expressão. Neste
ponto, surgem os taxemas, que são as formas lingüísticas manifestadas pelos fonemas. Quanto ao
taxema, Hjelmslev chama a atenção ao fato de quando um inventário de taxemas é organizado em
um sistema, a conseqüência lógica disso é uma divisão ulterior de cada taxema. O autor fala
também em glossemas – que são pontos terminais; um glossema, por exemplo, de expressão se
manifestará através de uma parte de fonema.
21 - LINGUAGEM E NÃO-LINGUAGEM
Hjelmslev inicia este capítulo anunciando a ampliação do campo do objeto de estudo da sua
teoria da linguagem, para tanto, fala em novas perspectivas – que aparecem como necessárias
impondo-se como conseqüência lógica inelutável daquilo que foi exposto. Ele justifica tal postura
dizendo que não apenas as considerações gerais, como também os termos específicos aplicam-se
não somente à linguagem natural como também à noção de linguagem mais ampla. Para Hjelmslev,
é devido à sobreposição da forma à substância que o instrumental desta teoria se expande além do
âmbito da língua natural. Desta feita, o estudo das funções, da expressão e do conteúdo, da forma,
da substância e do sentido, o da comutação e da substituição, o das variantes, das invariantes e da
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análise das variantes, o da classe e do componente, e, finalmente, o da catálise são válidos para o
sistema de signos em geral. Hjelmslev afirma que o caráter universal dos conceitos de processo, de
sistema e da interação entre eles o levaram a incluir, à sua teoria da linguagem, aspectos essenciais
da ciência literária, da filosofia das ciências e da lógica formal. Devido ao grande número de
disciplinas científicas estranhas à linguística, Hjelmslev cristalizou uma fronteira entre linguagem e
não-linguagem. O princípio de empirismo torna necessária a distinção saussuriana entre forma e
substância, a qual, por si mesma, não define uma língua, pois é possível imaginar substâncias
diferentes ligadas a uma mesma forma lingüística, dada a relação arbitrária que há entre as duas
instâncias. Pensando a substância, Hjelmslev afirma que a fala é acompanhada pelo gesto e pela
mímica, por isso é que se poderia trocar a substância sonoro-gesticulatória por qualquer outra
substância apropriada, pois pode haver também outras substâncias, como o alfabeto dos surdosmudos. Porém, quanto a esta possível mudança, opõem-se duas objeções: a 1ª é a respeito do
caráter artificial de tais substâncias em relação à substância sonoro-gesticulatória-gestual – mas,
segundo o autor, não é sempre que se consegue decidir o que é derivado e o que não é; a 2ª objeção
é quanto à mudança da forma quando ocorre a mudança de substância – porém, deve-se considerar
também que a forma lingüística é manifestada na substância dada. Hjelmslev acredita que um
esquema linguístico pode permanecer inalterado mesmo que haja alteração de natureza fonética, é
somente assim que se pode distinguir entre as mudanças fonéticas e semânticas de um lado e as
formais de outro. É preciso que o teórico da linguagem possa definir o lugar da língua dentro da
esfera da semiótica, como também onde fica a fronteira entre semiótica e não-semiótica – pois
devemos concluir que uma língua é uma semiótica na qual todas as outras semióticas podem ser
traduzidas. Hjelmslev aborda a visão referente a semiótica segundo os lógicos e segundo os
lingüistas; os primeiros consideram o jogo de xadrez como o princípio estrutural de uma semiótica,
que é o da transformação; enquanto que os últimos vêem analogia entre valores do jogo e os
valores econômicos. Para a teoria lógica, Carnap à frente, a semiótica é um simples sistema de
expressão no qual o conteúdo não intervém. Já para a teoria da linguagem, trata-se de incluir ou
não o sentido do conteúdo na própria teoria dos signos. Para Hjelmslev, portanto, Saussure acerta
ao distinguir entre forma e substância.
22- SEMIÓTICAS CONOTATIVAS E METASSEMIÓTICAS
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Hjelmslev distingue, a partir ainda da semiótica denotativa (nenhum dos dois planos é uma
semiótica), outras duas: a semiótica conotativa – cujo plano de expressão é uma semiótica; e a
metassemiótica – cujo plano de conteúdo é uma semiótica. Anteriormente, o autor já definira
semiótica como um tipo hierárquico superior e nesse capítulo orienta como o analista deve
proceder afim de identificar a semiótica individual. Hjelmslev desfaz a idéia de uma
homogeneidade estrutural do texto; para ele, o texto deverá ser reduzido em partes até as categorias
mutuamente solidárias que poderão ser: as formas estilísticas, os estilos, os estilos de valores, os
gêneros de estilos, os movimentos e os idiomas com suas subáreas. Das combinações de membros
de categorias diversas, surgem os híbridos, que nada mais são que subdivisões com denominações
específicas. O autor chama conotadores aos membros individuais oriundos de combinações entre
híbridos e especifica os conotadores solidários que são relacionados dos sistemas de esquemas ou
de usos semióticos. O fato é que para saber se há conotadores de esquema de uso ou de sistema
sempre se consideraram aspectos sociológicos influenciando a estrutura interna de uma língua
como sendo específica e homogênea; Hjelmslev, aqui, propõe o afastamento desta causalidade e a
adoção de uma descrição não-contraditória e exaustiva. O autor nos fala de traduzibilidade que é a
possibilidade que possui um texto - um capítulo, por exemplo - de ser traduzido de várias formas;
porém, ele nos deixa claro que existe reciprocidade na tradução somente quando se tratar de
semióticas lingüísticas. Para que isso ocorra, é necessário também que se recorra a uma grandeza
chamada indicador que se subdivide em dois tipos: os sinais e os conotadores. Um conotador
encontra-se nos dois planos da semiótica, o da expressão e a do conteúdo, e a solidariedade entre
duas classes de signos vai depender de tal relação.
Hjelmslev classifica como semiótica conotativa aquela da qual um dos planos, o da
expressão, é uma semiótica; e como metassemiótica a semiótica que trata da semiótica – e que a
própria Lingüística deverá ser uma metassemiótica, pois a Lingüística, para descrever uma língua,
recorre a esta mesma língua. Ele, ainda, retoma Saussure ao dizer que a semiologia é uma
metassemiótica cuja semiótica-objeto é uma semiótica não-científica, ou semiótica conotativa. Para
Hjelmslev, o domínio da metassemiologia é a terminologia específica da semiologia e para isso ela
se utiliza de três tipos de termos: 1- os que entram como definíveis no sistema de definições da
semiologia; 2- os que são emprestados da língua e que como indefiníveis entram para o sistema de
definições da semiologia; e 3- termos que não são tirados da língua e que entram como indefiníveis
nas proposições da semiologia. Ainda, a partir destes termos, é necessário distinguir entre dois
outros termos: 1- os que designam variações de último grau, variações últimas, mínimas; e 2- os
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que designam categorias de variantes e de invariantes de todos os graus. Para concluir o capítulo,
Hjelmslev considera que a metassemiologia das semióticas denotativas tratará os objetos da
fonética e da semântica; enquanto que a lingüística externa saussureana encontrará na
metassemiótica das semióticas conotativas o seu lugar sob a forma. Há de se considerar, também, a
contribuição das ciências externas à Lingüística, como a sociologia, a etnologia e a psicologia.
PERSPECTIVA FINAL
Se a teoria da linguagem baseou sua análise, no início, na imanência, em vez de impedir a
transcendência, deu-lhe base nova e mais sólida. Tal teoria postulada por Hjelmslev reconhece
além de sistema e uso lingüísticos também aspectos externos à língua, como o homem e a
sociedade na qual ele se insere.
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