UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO VANDERLEIA STECE DE OLIVEIRA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE DA SUA EFETIVIDADE CURITIBA/PR 2013 VANDERLEIA STECE DE OLIVEIRA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE DA SUA EFETIVIDADE Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação. Universidade Tuiuti do Paraná, Programa de PósGraduação em Educação. Linha de Pesquisa Gestão da Educação e Políticas Públicas. Orientador: Prof. Dr. Fausto dos Santos Amaral Filho. CURITIBA/PR 2013 2 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná IX O48 Oliveira, Vanderleia Stece de. Educação à distância no Brasil: condições de possibilidade da sua efetividade/ Vanderleia Stece de Oliveira; orientador Prof°.Dr°. Fausto dos Santos Amaral Filho. 108f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2013. 1. Educação à distância. 2. Tecnologias da comunicação e informação. 3. Produção e consumo de massa. 4. Formação para o trabalho. I. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós - Graduação em Educação/Mestrado em Educação. II. Título. CDD – 364.3 3 TERMO DE APROVAÇÃO Vanderleia Stece de Oliveira EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE DA SUA EFETIVIDADE Curitiba, 01 de novembro de 2013. Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do diploma de Mestre em Educação, Universidade Tuiuti do Paraná. _____________________________________________ Orientador Prof. Dr. Fausto dos Santos Amaral Filho Universidade Tuiuti do Paraná - UTP ________________________________________ Profª Drª Anita Helena Schlesener Universidade Tuiuti do Paraná - UTP _______________________________________ Profª Drª Gisele Masson Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG AGRADECIMENTO Eis que chega o tão esperado momento de expressar em palavras o agradecimento a todos aqueles que de alguma forma fizeram parte dessa caminhada. Como não poderia deixar de ser, em primeiro lugar agradeço o apoio de toda a minha família: Mariana, minha filha; Marcelo meu esposo; Analice, minha mãe; Heitor, meu pai; Silvanira, minha sogra e Elimar, meu sogro. A eles e a Deus eu devo tudo o que sou e o que tenho. Agradeço pela paciência pelos muitos momentos em que não pude estar presente, bem como pelo estímulo e ajuda nos cuidados com a pequena e com os afazeres familiares. Eu os amo muito! Agradeço também a minha tia e grande amiga professora Leocilea, que sempre me apoiou, ajudou e inspirou a sempre continuar estudando, a exemplo de sua própria trajetória, a qual admiro muito. Essa grande professora e amiga foi a pedra inicial na construção da minha carreira profissional, e essa oportunidade e confiança eu jamais esquecerei. Agradeço também a minha amiga e professora Thereza Cristina, a quem admiro, respeito, e guardo no meu coração. Como sempre digo a ela: “quando eu crescer quero ser igual a você!” Quero aqui também registrar meu agradecimento aos senhores Gabriel José Picler, Edimilson Picler e Benhur Gaio, gestores da Instituição na qual trabalho, e também à professora Vilma Aguiar e ao Professor Edelclayton Ribeiro, por todo apoio para que eu pudesse concluir essa etapa tão importante da formação. Da mesma forma, expresso meu agradecimento ao Professor Paulo Eduardo e às minhas amigas, Edilaine Cegan, Fernanda Maia, Marli Azevedo, Ivone Wippel, e a todos aqueles de alguma forma me desejaram forças para continuar. E como não poderia deixar de ser, ao meu orientador professor Fausto dos Santos, pela confiança que depositou em mim desde o início. Ao olhar para trás vejo o quanto evolui, como pessoa, ao longo desses dois anos e meio de caminhada no Mestrado, e grande parte dessa evolução eu devo a esse Professor, e acredito que posso dizer, também, um grande amigo, pois foi com ele que aprendi o significado de uma palavra que vem transformando a minha a vida: SERENIDADE. Oculto não é apenas uma das formas de chamar o que não vemos. Para não esquecer, ver aqui nunca é tão somente uma operação dos olhos. Mesmo distante deles algo pode permanecer oculto. Só se oculta aquilo que um dia já se revelou. Senão, nunca poderíamos ter brincado de escondeesconde. Muitas vezes, é só oculto que um poder pode se manter. Fausto dos Santos Amaral Filho. RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo compreender as condições de possibilidades da EaD no Brasil, considerando principalmente o seu viés tecnológico. Como objetivos específicos, buscou-se analisar as possibilidades e os limites que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) apresentam aos alunos EaD que enfrentam maiores dificuldade de acesso à internet, bem como refletir sobre a EaD a partir de um modelo de produção e consumo de massa. Nesse contexto, foi possível perceber que alunos ainda enfrentam dificuldades de acesso às TICs. É preciso também refletir sobre a preparação do indivíduo para a utilização das ferramentas de acesso. Esta pesquisa baseia-se fundamentalmente em: Acácia Kuenzer, Gaudêncio Frigotto, Luiz Fernando Dourado, Lílian do Valle, Maria Luiza Belloni, Maria Ciavatta, Fausto dos Santos Amaral Filho, entre outros, e também nos textos de Karl Marx, Karel Kosik, Avelino da Rosa Oliveira, Harry Braverman e Jamil Cury. Também foi analisada a legislação pertinente e a influência das organizações internacionais como a UNESCO e o Banco Mundial, além dos pareceres e pesquisas do MEC, INEP e IBGE. Como instrumentos de pesquisa optou-se pelo questionário, o qual foi aplicado a um grupo de alunos da região norte do Brasil, indicados por uma IES privada de Curitiba, com atualmente perto de cem mil estudantes nessa modalidade em todo o território nacional. Utilizou-se, também, a análise documental, a partir de um relatório fornecido pela mesma IES, que apresenta o número de contatos registrados no período de dez meses, de alunos para sanar dúvidas ou registrar reclamações sobre o acesso aos sistemas utilizados. Como categorias de análise, parte-se do consumo e produção em massa, e das tecnologias da comunicação e informação. Essas categorias surgiram a partir da revisão de literatura, e do movimento da própria pesquisa, que também evidenciou três outras categorias que permeiam o texto: inclusão digital, formação profissional e letramento digital. O primeiro capítulo se refere ao método que sustenta esta investigação, no qual são apresentadas as categorias do materialismo histórico dialético. No segundo capítulo é apresentado um histórico sobre a EaD no Brasil, buscando demonstrar os diferentes e, ao mesmo tempo, complementares períodos de sua evolução. Apresenta-se, também, um estudo sobre a influência das organizações internacionais e do empresariado da Educação na constituição das políticas públicas para a EaD no Brasil. No terceiro e último capítulo é apresentada a análise dos dados obtidos, bem como uma reflexão sobre o processo de produção na EaD. Enquanto contribuição social, acredita–se que esta pesquisa possa despertar nos profissionais envolvidos com a Educação certa responsabilidade em relação ao processo educacional, de modo que não se limitem ao atendimento dos interesses econômicos, mas contribuam para o desenvolvimento da autocrítica e da autonomia dos educandos. Almeja-se com isso que, mesmo em meio às limitações impostas pelo modelo social, o indivíduo seja, ao menos, estimulado a desenvolver suas potencialidades. Palavras-chave: Educação a Distância; Tecnologias da Comunicação e Informação; produção e consumo de massa; formação para o trabalho. ABSTRACT The objective of this research is to comprehend the conditions of possibility of Distance Education in Brazil, considering mainly its technological aspect. As specific objectives, we tried to analyze the possibilities and the limits that the information and communication technologies (TICs) present to the Distance Education students, who face greater difficulties in their access to the internet, as well as to reflect on Distance Education under the point of view of a production model and mass consumption. In this context, it has been possible to notice that students still face difficulties in accessing the TICs. It is also necessary to reflect about one’s preparation to the use of the tools of access. This research was fundamentally drawn on Acácia Kuenzer, Gaudêncio Frigotto, Luiz Fernando Dourado, Lílian do Valle, Maria Luiza Belloni, Maria Ciavatta, Fausto dos Santos Amaral Filho among others, as well as in the texts of Karl Marx, Karel Kosik, Avelino da Rosa Oliveira, Harry Braverman and Jamil Cury. The legislation concerning this topic and the influence of international organizations such as UNESCO and the World Bank, as well as the concepts of MEC, INEP e IBGE were analyzed. As instruments of research, a questionnaire was chosen, which was answered by a group of students from the north of Brazil, who were indicated by a private college from Curitiba, which has, at present, around a hundred thousand students in this modality all over the country. A documental analysis, drawn on a report also given by the same college, was used and it presented the number of contacts, registered in ten months, made by students willing to solve doubts or to make complaints about the access to the systems used. As a starting point, the analysis category, mass and production consumption, besides communication and information technology were considered. These categories arose from literature revision and the movement of this study, which showed three other categories that permeate the text: digital inclusion, professional formation and digital literacy. The first chapter refers to the method that supports this investigation, in which the categories of historical dialectical materialism are presented. In the second, the historical of Distance Education in Brazil is presented, trying to demonstrate the different, and at the same time, complementary periods of its evolution. Besides, an investigation about the influence of international organizations and the educational entrepreneurs in the constitution of public policies to Distance Education in Brazil is also presented. In the third and last chapter, an analysis of the obtained data is presented, as well as a reflection on the production process in Distance Education. Concerning social contribution, we believe that this research may arise certain responsibility in the professionals involved with this area in relation to education, so that they do not limit themselves to the economical interests, but contribute to the development of the students’ autonomy and self-criticism. This aims at stimulating one’s to develop its potentialities, in spite of the limits imposed by the social model. Key-words: Distance Education; Communication and Information Technologies; mass and production consumption; work qualification. LISTA DE TABELAS TABELA 1 – FAIXA ETÁRIA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA ................................. 63 TABELA 2 – TIPO DE ESCOLA EM QUE CURSOU O ENSINO MÉDIO ............................. 63 TABELA 3 – ESTADO CIVIL DOS ENTREVISTADOS ........................................................ 63 TABELA 4 – RENDA MENSAL DOS PARTICIPANTES ...................................................... 64 TABELA 5 – TIPO DE EMPRESA EM QUE TRABALHA ..................................................... 64 TABELA 6 – QUANTIDADE DE COMPUTADORES DOMICILIARES ................................. 64 TABELA 7 – QUANTIDADE DE PESSOAS QUE UTILIZAM O COMPUTADOR NA FAMÍLIA .......................................................................................................... 64 TABELA 8 – MOTIVOS QUE LEVARAM A ESCOLHA DO ENSINO A DISTÂNCIA PARA FAZER UM CURSO SUPERIOR ......................................................... 65 TABELA 9 – EXPERIÊNCIAS ANTERIORES EM CURSOS MINISTRADOS A DISTÂNCIA ..................................................................................................... 65 TABELA 10 - DIFICULDADE PESSOAIS PARA SE ADAPTAR AO ENSINO A DISTÂNCIA RELACIONADA À UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS .............. 65 TABELA 11 – FREQUÊNCIA DE ACESSO A INTERNET ................................................... 66 TABELA 12 – FREQUÊNCIA DE ACESSO A INTERNET PARA ESTUDO ......................... 66 TABELA 13 – LOCAIS DE ACESSO A INTERNET ............................................................. 67 TABELA 14 – PARTICIPAÇÃO EM REDES SOCIAIS: FACEBOOK, TWITTER. ................. 67 TABELA 15 – HORÁRIOS DEDICADOS À LEITURA DE TEXTOS E PARA ASSISTIR VÍDEOS DO CURSO ................................................................................... 67 TABELA 16 – TIPO DE CONEXÃO A INTERNET ............................................................... 68 TABELA 17 – QUALIDADE DE ACESSO À INTERNET NO QUE SE REFERE A AGILIDADE DA CONEXÃO .......................................................................... 68 TABELA 18 – PERDA DE PROVA E/OU ALGUMA ATIVIDADE IMPORTANTE POR DIFICULDADE DE ACESSO À INTERNET................................................... 69 TABELA 19 – PREJUÍZOS NOS ESTUDOS CAUSADOS POR PROBLEMAS DE UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA ................................................................... 69 TABELA 20 – ESTÍMULO PARA PARTICIPAR DAS ATIVIDADES DE TUTORIA: FÓRUM, CHAT... .......................................................................................... 70 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APOL - Atividade Pedagógica Online AVA - Ambientes Virtuais de Aprendizagem BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CC - Conceito de Curso CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe CJUS - Centro de Justiça e Sociedade CPC - Conceito Preliminar de Curso EAD - Educação a distância. FGV - Fundação Getúlio Vargas FMI - Fundo Monetário Internacional IBGE - instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES - Instituição de Ensino Superior INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LDB - Lei de Diretrizes e Bases. MEB - Movimento de Educação de Base MEC - Ministério da Educação e Cultura. OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMC - Organização Mundial de Comercio PAP - Pólo de Apoio Presencial PNBL - Programa Nacional de Banda Larga PNE - Plano Nacional de Educação PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PROUNI - Programa Universidade para Todos TIC’s - Tecnologias de Informação e Comunicação. UAB - Universidade Aberta UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9 2 O MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................. 15 2.1 CONSUMO DE MASSA ..................................................................................... 24 2.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) ............................ 27 3 A EAD NO BRASIL .............................................................................................. 31 3.1 BREVE HISTÓRICO DA EAD NO BRASIL ........................................................ 31 3.1.1 Primeira Onda - Cursos por Correspondência ........................................... 32 3.1.2 Segunda Onda - Novas Mídias e Universidades Abertas .......................... 35 3.1.2.1 Universidades Abertas .................................................................................. 35 3.1.3 Terceira Onda Ead On-Line ........................................................................... 39 3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EAD............................................................... 42 3.3 EAD COMO MECANISMO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO? ................ 51 4 A EAD NA REGIÃO NORTE DO BRASIL .......................................................... 58 4.1 A PESQUISA DE CAMPO................................................................................. 58 4.1.1 Bloco 1: Identificação do Perfil ................................................................... 62 4.1.2 Bloco 2: Utilização das Tecnologias da Informação ................................. 63 4.1.3 Bloco 3: Qualidade de Acesso .................................................................... 66 4.2 RELATÓRIO INSTITUCIONAL: DÚVIDAS E DIFICULDADES DE ACESSO .. 70 4.2.1 Portais de acesso AVA e ÚNICO ..................................................................... 71 4.2.2 Biblioteca Virtual .............................................................................................. 72 4.2.3 Informações sobre como acessar os materiais de aula ................................... 76 4.2.4 Número de clientes que não reclama .......................................................... 77 4.3 A REALIDADE DE UMA AMOSTRA DE POLOS NO ESTADO DO AMAPÁ: O RELATO.............................................................................................................. 79 4.4 A EAD SOB A PERSPECTIVA DA PRODUÇÃO .............................................. 85 5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 91 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 98 9 1 INTRODUÇÃO Este trabalho não pretende julgar se a Educação a distância (EaD) é boa ou ruim, mas revelar as contradições inerentes do seu contexto, e tem como objetivo compreender e evidenciar as condições, limites e possibilidades da sua efetividade no Brasil, considerando principalmente o seu viés tecnológico e as contradições que emanam dos discursos e da prática que sustentam essa modalidade de ensino. Como objetivos específicos, buscou-se analisar historicamente a constituição da EaD no Brasil; compreender as políticas públicas para o Ead; analisar os limites e as possibilidades que as tecnologias de informação apresentam aos alunos dessa modalidade de ensino, e refletir sobre a Educação a Distância a partir de um modelo de produção e consumo de massa. Em um país como o Brasil, cuja diversidade econômica e cultural é notória, o acesso às tecnologias ainda é restrito1, e a preparação para o desenvolvimento da autonomia intelectual, nem sempre está presente na formação inicial das crianças e jovens, suscitam, assim, questionamentos acerca da essência da educação que está sendo propagada, e para quem está sendo propagada. Em termos de dados estatísticos, é possível responder ao último questionamento recorrendo aos órgãos oficiais de pesquisa que desenham facilmente o perfil do aluno que ingressa nos cursos de educação a distância. Também é possível afirmar que a Educação a distância é para todos que dela queiram e possam se beneficiar. Todavia, o que se pretende compreender efetivamente nesse estudo é: em que condições a Educação a Distância vem se constituindo, e quais desafios ainda precisam ser superados no que se refere, principalmente, à utilização das tecnologias da comunicação e informação? Tal cenário instiga-nos a uma análise sobre as bases de sustentação dessa modalidade de ensino e, principalmente, dos papéis dos sujeitos envolvidos. Ao mesmo tempo em se percebe a EaD como um produto altamente atrativo para o empresariado da Educação, e que de fato o é, ao analisar os números, e identificar que por meio desta modalidade, muitas pessoas, de diferentes idades e condições 1 Pesquisa do instituto Sensus, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), indica que a maioria dos brasileiros - 55,1% - ainda não tem acesso à internet (SOUZA, 2011). 10 sociais, tiveram a oportunidade de se formar em nível superior, sendo muitas vezes, o primeiro membro da família a conseguir tal conquista, percebe-se que a EaD está cumprindo também um papel social no que tange à realização pessoal e a percepção do indivíduo quanto à sua inserção na sociedade. Todavia, entre esses extremos existem fatores que não podem ser desconsiderados desse contexto, principalmente os relacionados à qualidade e à finalidade do ensino mediante as condições sociais e tecnológicas em que esse se constitui. O interesse pelo tema se deu principalmente pelo fato de a pesquisadora estar envolvida no processo de gestão de um curso superior de tecnologia na modalidade a distância que atende a alunos de praticamente todo o Brasil. Nesse contexto, foi possível perceber que muitos alunos, principalmente, mas não só aqueles oriundos de localidades que enfrentam dificuldades de acesso à tecnologia, por não possuírem conexão à rede, ou possuírem com pouca qualidade no que diz respeito à velocidade do acesso, sofrem para navegar e, consequentemente, estudar por meio de um Ambiente Virtual de Aprendizagem. E o processo de estudar nesse cenário vai além do fato de se ter uma conexão veloz à internet. É preciso também refletir sobre a preparação do indivíduo para a utilização das ferramentas de acesso. Ao analisar os números obtidos em pesquisa junto a uma Instituição de Ensino Superior privada, é possível compreender que, mesmo matriculados em um curso de Educação a Distância, muitos alunos ainda não dominam a tecnologia e apresentam dificuldade de navegação em Ambientes Virtuais. Também é inquietante o fato de se estar diante de uma produção em massa da educação, emergente de uma política educacional para a formação profissional, que, ao que parece, ao refletir a lógica de uma sociedade capitalista, afasta cada vez mais a Educação daquilo que deveria ser o seu fim, ou seja, uma educação emancipatória, capaz de possibilitar a formação integral do homem. No atual contexto da educação no Brasil, é possível afirmar que a EaD atende a diferentes propósitos: Do indivíduo que procura sua primeira qualificação na educação superior ao indivíduo aposentado que busca uma forma de educação continuada e engajamento social. Nesse escopo encontram-se também os indivíduos que necessitam de capacitação profissional, seja por interesse pessoal ou uma oportunidade oferecida por seus empregadores. [...] a EAD proporciona oportunidades iguais a 11 indivíduos que vivem nos locais mais distantes ou de difícil acesso à educação tradicional (SANTOS, 2009, p. 290). Oferecer oportunidades iguais seria sem dúvida algo muito significativo, mas talvez não possível de se concretizar ao serem consideradas as discrepâncias sociais e econômicas existentes no Brasil, e em qualquer sociedade regida por um sistema capitalista. Os resultados atingidos se darão sempre a partir das condições que o sujeito construiu no movimento de sua trajetória de vida, e que, portanto, dificilmente serão iguais, mesmo que um primeiro momento assim o pareça. Dessa forma, qualquer oportunidade só se efetiva em resultados quando o meio propicia condições para que isso aconteça. Ao considerar que a EaD é um modelo de ensino mediado pelas tecnologias da informação e comunicação, parece estar claro que o aluno precisa dominar minimamente as ferramentas midiáticas colocadas a seu dispor, algo que vai além da sua vontade de se graduar no ensino superior ou mesmo de se preparar, por meio dessa formação, para o mercado de trabalho. Santos (2009, p.291) menciona que a EaD: atende às necessidades de um vasto público: os que não têm tempo de frequentar um sistema convencional de educação superior; os que não têm acesso a universidades por razões geográficas; os que procuram uma forma de educação continuada; os portadores de deficiência física e também os alunos que estão na prisão. [...] A educação a distância também passou a ser uma opção também para os estudantes mais jovens, que estão na chamada “idade escolar”, mas precisam trabalhar para pagar os custos da educação superior. Com isso, deixou de ser a educação dos desprivilegiados, e passou a ser aceita como um modelo atraente de estudo para as necessidades da sociedade contemporânea. De fato, a EaD é para qualquer pessoa que dela queira desfrutar, mas também é certo que nem todos desfrutarão com a mesma qualidade e efetividade. Em um universo em que “todos” podem adentrar, o empresariado da educação ultrapassa fronteiras, levando a educação a lugares com o mínimo de estrutura, e o máximo de expectativas por parte daqueles que terão, enfim, a oportunidade de ingressar em um curso superior. E como se dará o aprendizado nesse contexto em que a tecnologia é ao mesmo tempo oportunidade e limitação? 12 Assim sendo, é preciso analisar o cenário em que esse modelo de ensino se constituiu no Brasil para compreender a quem serve de fato a Educação a Distância, considerando seu contexto e, principalmente, seus limites e suas contradições. Sabe-se que a escolha da metodologia é determinante para que de fato a pesquisa se constitua com legitimidade, por isso, para o desenvolvimento desta pesquisa, foi utilizada, assim como o é em toda a pesquisa científica, a pesquisa bibliográfica, pois: Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes nos textos (SEVERINO, 2007, p.122). Como referencial teórico na construção do diálogo, foram inseridos no debate os pesquisadores sobre o assunto, com destaque para: Acácia Kuenzer, Gaudêncio Frigotto, Luiz Fernando Dourado, Lílian do Valle, Maria Luiza Belloni, Maria Ciavatta, Fausto dos Santos Amaral Filho, entre outros. Também estão inseridos no debate, os textos de Karl Marx, Karel Kosik, Demerval Saviani, Avelino da Rosa Oliveira, Harry Braverman e Jamil Cury. Da mesma forma, foi analisada a legislação pertinente e as influências sofridas pelos organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, bem como os pareceres do próprio Ministério da Educação, e dos órgãos de Pesquisa, como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como instrumento de pesquisa foi utilizado o questionário, o qual foi aplicado a um grupo de alunos da região norte do Brasil, indicados por uma Instituição de Ensino Superior privada de Curitiba, com atualmente perto de cem mil estudantes nessa modalidade, espalhados por todo o Brasil, pelos problemas enfrentados quanto à qualidade do acesso à internet. Também foi realizada a análise documental, a qual se deu a partir de um relatório fornecido pela mesma Instituição, o qual apresenta o número de contatos, registrados pela IES, de alunos cujos 13 objetivos variavam entre sanar dúvidas e registrar reclamações referentes ao acesso nos sistemas utilizados. Tais contatos ocorreram em um período de dez meses. Em uma pesquisa materialista dialética, na qual o movimento histórico se constitui na base para a compreensão dos processos, à medida que a pesquisa foi se constituindo, o próprio movimento foi pedindo a inclusão de caminhos necessários para desvendar a essência do que se buscou e durante o desenvolvimento da pesquisa, o relato de um coordenador de polo do Amapá também foi incorporado ao texto, por apresentar de maneira clara e objetiva, os desafios enfrentados por alguns de seus alunos para conseguirem assistir às aulas, considerando que moram em regiões desprovidas de luz elétrica ou de acesso à internet. Diante disso, inquieta-nos o fato de se estar diante de um aparente deslumbramento, acarretado por um discurso político social, em que, frequentemente, a EaD é colocada como a resolução de todos os possíveis problemas enfrentados até então na educação, uma vez que incorpora as novidades tecnológicas e, com isso, se aproxima da realidade social. No entanto, como não se pode esquecer, essa realidade é fruto de um contexto histórico carregado de contradições e diferenças, o qual está em constante movimento, e que, portanto, é preciso identificar o “para quem” de fato é possível oferecer uma educação nos patamares em que a Educação a distância vem sendo proposta. Em busca da compreensão desse movimento, este estudo foi subdividido em quatro momentos. Inicialmente apresenta-se o método de pesquisa que deu sustentação ao trabalho, no qual se refletiu sobre as categorias do método materialismo histórico dialético. Como nos diz Masson (2012, p. 3), o marxismo é um enfoque teórico que contribui para desvelar a realidade, pois busca apreender o real a partir de suas contradições e relações entre singularidade, particularidade e universalidade2. Esse enfoque tende a analisar o real a partir do seu desenvolvimento histórico, da sua gênese e desenvolvimento, captando as categorias mediadoras que possibilitam a sua apreensão numa totalidade. 2 Na concepção histórico-social de homem, essa relação só pode ser compreendida enquanto uma relação inerente a uma outra mais ampla. [...] Mas para que isso possa ser compreendido nas suas múltiplas relações, é preciso considerar que todo esse processo entre o indivíduo (o singular) e o gênero humano (o universal) se concretiza na relação que o indivíduo tem com a sociedade (o particular) (OLIVEIRA, 2001, p.3-4). 14 De acordo com Masson (2012), as categorias do método são a totalidade, práxis, contradição e mediação; todavia, Cury (1995), elege também como categorias a serem consideradas em uma pesquisa dialética sobre o fenômeno educativo, a hegemonia e a reprodução, e que, portanto, serão também aqui apresentadas. Como categorias de análise, parte-se do consumo e produção em massa, e das tecnologias da comunicação e informação (TIC's). Essas categorias surgiram a partir de uma revisão de literatura sobre o tema, e do movimento da própria pesquisa, que também evidenciou três outras categorias que emergiram no contexto analisado, e que, portanto, permeam a pesquisa: formação profissional, inclusão digital e letramento digital. O segundo momento descreve o histórico sobre a Educação a distância no Brasil, buscando demonstrar os diferentes e, ao mesmo tempo complementares períodos de sua evolução. Apresenta, ainda, uma análise sobre a influência dos organismos internacionais e do empresariado da Educação na constituição das políticas públicas para a EaD no Brasil, com a qual se percebe o quanto essa modalidade de ensino está alinhada ao processo de desenvolvimento do país, e aos acordos internacionais sobre a educação. A análise dos dados obtidos junto à amostra fornecida pela Instituição de Ensino de Ensino Superior (IES), ou seja, o número de alunos que, durante um período de dez meses, entraram em contato para pedir informação, ou mesmo reclamar sobre o acesso ao ambiente virtual, destacando os serviços como Biblioteca Virtual, materiais de estudo, provas e documentos se constitui no objeto de discussão do terceira parte deste trabalho. Sobre o questionário, aplicado aos alunos de cinco cidades da região do norte do país, e utilizado com o intuito de compreender se existem dificuldades relacionadas ao uso das tecnologias utilizadas pelo aluno, vale observar que integra a pesquisa como um dado complementar, em virtude do baixo índice de retorno. Ainda no terceiro momento, realizou-se uma reflexão sobre a EaD, sob a perspectiva da produção, refletindo sobre como essa metodologia imita, em muitos de seus processos, a linha de produção desenhada pelo modelo fordista e pósfordista de produção. Por fim, apresentam-se as considerações finais a que se chegou este estudo. 15 2 O MÉTODO DE PESQUISA Para alcançar o objetivo proposto neste estudo, ou seja, compreender as condições de possibilidade da efetividade da Educação a Distância (EaD) no Brasil, é preciso apropriar-se de um método de pesquisa capaz de levar o pesquisador para além do meramente exposto. Sendo assim, o caminho que se tomará para cumprir esse intento é o materialismo histórico dialético, fundamentado em Karl Marx e Frederich Engels. Com ele, tem-se a pretensão de compreender a Educação a Distância a partir do contexto socioeconômico, ideológico e tecnológico que a constituiu nesta totalidade histórica. É possível que se questione sobre como um método desenvolvido e utilizado por Karl Marx, em meados do século XIX, cujo objeto de análise era o sistema capitalista e as lutas de classes que emanavam daquele contexto, revigora-se com o passar do tempo, podendo dar sustentação para tantas pesquisas relacionadas ao contexto educacional na contemporaneidade? Para responder a tal possível objeção é importante destacar o que diz Nicolaus a respeito dos Grundrisse: Os problemas e as questões de que trata o texto não são tão estritamente econômicos como poderiam fazer crer os títulos dos capítulos. Nessa obra, assim como em outras, mas talvez com mais clareza, a ‘economia’ de Marx é ao mesmo tempo ‘sociologia’ e ‘política’ (NICOLAUS, 2003, p. 108). E por que não dizer também, filosofia; na medida em que, com Karel Kosik, pode-se afirmar que o método de Marx, ao fim e ao cabo, trata de algo explicitamente filosófico: a “totalidade do mundo revelada pelo homem na história e o homem que existe na totalidade do mundo” (KOSIK, 1976, p. 248). Embora pensando a metodologia para a crítica da economia política, é o próprio Marx quem diz que o mesmo procedimento valeria “para qualquer todo orgânico” (MARX, 1996, p. 39). Portanto, tem razão Tambara e Oliveira (2011, p. 151) ao afirmar que é 16 possível “compreender o método da Economia Política, como o método da Educação, da História, da Sociologia, etc.” Assim, a Educação, “entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2007, p. 420), inserida em meio à totalidade do mundo, não só pode, mas talvez até mesmo deva ser pensada dialeticamente. Na tentativa de inserirmo-nos na pesquisa em busca daquilo que Kosik (1976) chama de o “real concreto, a essência, a coisa em si”, o método materialismo histórico dialético poderá nos conduzir a uma investigação sobre a intrínseca relação entre sujeito e objeto, e de como esses interagem e se constituem no movimento histórico. No entanto, para compreender ou identificar o real por meio de uma análise dialética, é necessário, ainda seguindo Kosik, fazer um détour, ou seja, um estudo que parte da empiria, apropria-se da teoria ou da abstratividade, para chegar ao concreto. “Para nos aproximarmos da coisa em si e da sua estrutura e encontrar uma via de acesso para ela, temos de nos distanciar dela” (KOSIK, 1976, p 28). Vale ressaltar que a busca é sempre pela aproximação da essência, pois como nos lembra Masson (2012, p. 4), O questionamento sobre a possibilidade do pensamento humano ser capaz de reproduzir o ser corretamente é desnecessário, segundo o enfoque marxista, pois toda objetividade possui uma infinidade de determinações, assim, o conhecimento sempre será uma aproximação mais ou menos ampla do objeto e por se tratar de uma aproximação, o conhecimento sempre é relativo, especialmente porque ele é verdadeiro somente na medida em que explica determinado ser num determinado contexto social e histórico. Assim sendo, nessa perspectiva dialética, ousar percorrer um desvio é fundamental para que se consiga ultrapassar o que está posto e compreender a essência do fenômeno e suas implicações sociais. Para Kosik (1976, p. 37), que nos ajuda a compreender o método de investigação marxiano: A ascensão do abstrato ao concreto é um movimento para o qual todo início é abstrato e cuja dialética consiste na superação desta abstratividade. O progresso da abstratividade à concreticidade é, por conseguinte, em geral movimento da parte para o todo e do todo para 17 a parte; do fenômeno para a essência e da essência para o fenômeno; da totalidade para a contradição e da contradição para a totalidade; do objeto para o sujeito e do sujeito para o objeto. O processo do abstrato ao concreto, como método materialista do conhecimento da realidade, é a dialética da totalidade concreta na qual se reproduz idealmente a realidade em todos os seus planos e dimensões. Deste modo, para se chegar à essência do fenômeno, aqui caracterizado pela EaD, tal qual ela se apresenta, é preciso caminhar pelos labirintos da pseudoconcreticidade. O mundo da pseudoconcreticidade é um claro-escuro de verdade e engano. O seu elemento próprio é o duplo sentindo. O fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, a esconde. A essência se manifesta no fenômeno, mas só de modo inadequado, parcial, ou apenas sob certos ângulos ou aspectos. O fenômeno indica algo que não é ele mesmo e vive apenas graças ao seu contrário. A essência não se dá imediatamente; é medida no fenômeno e, portanto, se manifesta em algo diferente daquilo que é. A essência se manifesta no fenômeno (KOSIK, 1976, p. 15). A afirmativa “o fenômeno indica algo que não é ele mesmo e vive apenas graças ao seu contrário”, remete-nos aos escritos de Cury (1975), na obra Educação e Contradição, na qual são expostas as principais categorias interpretativas do real quando se tem como objeto de pesquisa o fenômeno educativo, por ser esse considerado determinante na lógica do capitalismo: contradição; totalidade; reprodução; mediação; hegemonia. O elenco de categorias metodológicas que se pretende evidenciar se abre a duas dimensões: Primeira: colocá-las numa relação historicizante, isto é, toda a produção social, no seu mais amplo sentido, é determinada pelas condições sociais que caracterizam uma sociedade, no caso a capitalista. O que significa que a produção do modo de existência sob o capitalismo se liga com a afirmação da divisão da sociedade em classes e suas conseqüências (...) Segunda: colocá-las de modo didático, sem esgotar as virtualidades da proposta. As categorias da contradição, totalidade, mediação, reprodução e hegemonia são mutuamente implicadas e de tal forma que a exposição e explicação de uma já é e exige a explicação e exposição das outras. A categoria da contradição, para não se tornar cega, só se explicita pelo recurso à totalidade. Essa, por sua vez, para não se tornar vazia, necessita recuperar a da contradição em uma síntese mais abrangente. Consequentemente exige a superação dos dualismos ou 18 reducionismos. A categoria da totalidade, por sua vez, exige uma cadeia de mediações que articule o movimento histórico e os homens concretos. Semelhantemente às cadeias de mediações, numa totalidade concreta e contraditória (como é a sociedade capitalista), necessitam explicitar o que mediar. Nesse caso é necessário o recurso à categoria da reprodução, porque o sistema vigente, ao tentar se reproduzir para se manter, reproduz as contradições dessa totalidade reveladas em seus instrumentos e enlaces mediadores. E por fim, a manutenção desse mesmo sistema, especialmente no caso da educação, implica a busca de um consentimento coletivo por parte das classes sociais. Daí o recurso à noção de hegemonia. Mas essa é uma noção dialetizada, e por isso mesmo ela não é compreensível sem a referência às contradições que a própria direção hegemônica busca atenuar (CURY, 1995, p. 15). As categorias expostas não se findam em si mesmas. Como afirma o próprio autor, elas precisam ser colocadas em movimento no contexto da produção da existência humana, relacionando-as ao real e ao abstrato no movimento dialético da pesquisa. “As categorias, assim, só adquirem real consistência, quando elaboradas a partir de um contexto econômico-social, político, historicamente determinado” (CURY, 1995, p. 21). Inevitavelmente, todas as categorias se complementam e contribuem para a construção desta pesquisa, portanto, além das categorias do próprio método materialismo histórico dialético (práxis, contradição e mediação), pela especificidade do objeto, também serão consideradas as categorias hegemonia e a reprodução. Como nos diz Masson (2012, p. 5) sobre as categorias do método, Captar a realidade em sua totalidade não significa, portanto, a apreensão de todos os fatos, mas um conjunto amplo de relações, particularidades e detalhes que são captados numa totalidade que é sempre uma totalidade de totalidades. A categoria mediação é fundamental por estabelecer as conexões entre os diferentes aspectos que caracterizam a realidade. A totalidade existe nas e através das mediações, pelas quais as partes específicas (totalidades parciais) estão relacionadas, numa série de determinações recíprocas que se modificam constantemente. A práxis representa a atividade livre, criativa, por meio da qual é possível transformar o mundo humano e a si mesmo. A contradição promove o movimento que permite a transformação dos fenômenos. O ser e o pensar modificam-se na sua trajetória histórica movidos pela contradição, pois a presença de aspectos e tendências contrários contribui para que a realidade passe de um estado qualitativo a outro. Essas categorias advêm da própria realidade, portanto, são determinações da existência e não temas gnosioepistêmicos. 19 Para exemplificar a intrínseca relação entre as categorias, tomemos como base as categorias contradição e totalidade: Retorna-se, pois, à dialética entre totalidade e contradição. Uma não existe sem a outra. O reconhecimento do real como histórico implica a tensão das contradições no seio da totalidade concreta. A contradição e sua relação com a educação torna-se fundamental para a compreensão dessa última, a fim de representá-la de modo dialético e com visão de conjunto (CURY, 1979, p. 69-70). Aceitar que cada coisa exige, na sua constituição própria, a existência do seu contrário, como determinação ou negação do outro de si, propicia que se promova uma reconstrução do objeto, para que se analise, filosoficamente, para além da mera aparência fenomênica, as contradições que emanam de alguns conceitos relacionados ao tema do nosso estudo, como distância/presença, inclusão/exclusão, novidade/permanência, e a própria inserção da EaD como uma nova modalidade de ensino: [...] todo o discurso do novo, que o converte irrefletidamente em sinônimo de bom, que, no geral, inegavelmente, acompanha a fala dos defensores da EaD on-line, não acaba ocultando o velho interesse das elites dominantes em converter a educação em um meio de fornecer à maioria da população instrução necessária à capacitação da mão-de-obra requerida pelos empreendimentos, apenas? (AMARAL FILHO, 2011, p. 23). Seria de fato a EaD uma novidade ou uma nova roupagem para antigos processos de formação? O fato de ser discutida como uma nova modalidade de ensino3, não seria uma estratégia para a abertura de novos mercados, nesse caso, o empresariado da Educação? A mesma análise serve para os conceitos de inclusão e exclusão. A Educação no Brasil, principalmente a EaD, pela sua popularização nas últimas décadas, vem acompanhada por um discurso de inclusão das camadas menos favorecidas no ensino superior, mas que tipo de inclusão está se referindo quando se reduz a formação especificamente ao atendimento de uma necessidade, limitando o desenvolvimento das demais potencialidades humanas? 3 Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. 20 Ao considerar a redução da educação, principalmente da educação superior, aos patamares de uma capacitação, no mínimo estamos diante de uma contradição de propósitos e expectativas. O propósito da hegemonia burguesa em capacitar mão-de-obra, e que, para tanto, utiliza de um discurso ideológico em prol de uma demanda imediata. Além disso, existe a expectativa de um população ansiosa em pertencer a uma classe social dita de formação superior, que vislumbra na novidade imposta pela técnica, a possibilidade de ascender socialmente, ignorando o poder de reprodução das classes sociais4 que sustenta as práticas educativas encoberto pelo discurso da inclusão: É o que temos chamado, em outros textos, de exclusão includente na ponta do mercado, que exclui para incluir em trabalhos precarizados ao longo das cadeias produtivas, dialeticamente complementada pela inclusão excludente na ponta da escola, que, ao incluir em propostas desiguais e diferenciadas, contribui para a produção e para a justificação da exclusão. Ou seja, a dualidade estrutural, embora negada na acumulação flexível, não se supera, mantendo-se e fortalecendo-se, a partir de uma outra lógica (KUENZER, 2007, p. 1165). Da mesma forma, se faz salutar compreender as contradições que sustentam o distante e o presente da Educação: No modo próprio de perfazer-se humano, não há presença que não comporte distância, não há distância que não comporte presença. Todos nós, de uma forma ou de outra, experimentamos este fato, quer percebamo-lo ou não, o que, evidentemente, só o confirma. Pois, talvez, ao extremo, como uma freqüência maior do que estejamos dispostos a admitir, na agitação da vida comezinha, no afanar-se junto às coisas, é bem provável que acabemos nos distanciando da nossa própria presença (AMARAL FILHO, 2011, p.13). No movimento da contradição do real, não é possível considerar distância sem presença, inclusão sem exclusão, novidade sem permanência. Dessa maneira, se a tensão entre os contrários exclui um ao outro, também não permite que um exista sem o outro. Os contrários opõem-se e se impregnam mutuamente. A contradição não é apenas entendida como 4 A definição de classe social, tal como vemos, hoje, é segundo a ótica de Marx. Ele separava as classes pelo seguinte aspecto: a relação dos donos do capital e os vendedores de força de trabalho, que é o patrão e o proletariado. 21 categoria interpretativa do real, mas também como sendo ela própria existente no movimento do real, como motor interno do movimento, já que se refere ao curso do desenvolvimento da realidade. Assim, cada um deles é condição para que exista o outro e, no seu movimento, cada um se converte no outro (CURY, 1995, p. 30-32). A mediação é outra categoria do método que também será uma das chaves para se compreender a EaD nesse estudo, pois, como nos diz Cury, “a educação possui antes de tudo um caráter mediador” (1979, p. 64), “[...] é a particularidade histórica do fenômeno, portanto, quando falamos do que é historicamente determinado, estamos falando de mediações” (ZEMELMAN apud CIAVATTA, 2009, p. 128). Para Zemelman, a perspectiva teórica das mediações demanda incluir como propriedade do objeto, as conexões que o determinam em situações de tempo e espaço determinado, única forma de encontrar a explicação do objeto sem cair no esquema abstrato de uma relação mecânica e, simultaneamente, não perder de vista o significado que o objeto tem não apenas como singularidade mas, também, como particularidade. A mediação é o passo necessário para descrever a particularidade do objeto, a relação do aparente, singular ou contingente, com o processo mais compreensivo que o determina (ZEMELMAN apud CIAVATTA, 2009, p. 131). Complementa Ciavatta (2009, p. 134) ao afirmar que: A mediação é assim, a visão historicizada do objeto singular cujo conhecimento deve ser buscado em suas determinações mais gerais, em seus universais, assim como ser situado no tempo e no espaço, isto é, em sua contextualização histórica. As determinações históricosociais, o campo do particular, permitem apreender um objeto à luz das determinações mais gerais. Assim sendo, a mediação propicia compreender o objeto a partir do movimento social que o constitui como afirmam Costa e Silva (2011, p. 249): A educação enquanto mediação é também uma atividade social, pois promove a compreensividade entre os diferentes participantes no processo de mediação, defende a pluralidade, as diferentes versões sobre a realidade e fomenta a livre tomada de decisões e compromissos, contribuindo para a participação democrática e para a coesão social. 22 Pensar a educação enquanto uma categoria de mediação é de fato colocá-la no movimento social em função dos interesses antagônicos existentes, pois: para o desenvolvimento do indivíduo, é fundamental que a educação escolar e, em última instância, o educador cumpra o papel de mediar a apropriação do saberes sistematizados, os quais surgem como respostas às necessidades concretas enfrentadas pelos indivíduos em sua prática social no processo histórico. E, se por um lado, tal mediação forma o indivíduo enquanto força de trabalho necessária para a manutenção do sistema capitalista, por outro é também por meio da aquisição desses saberes que se originam os elementos para que os indivíduos atuem no meio social numa perspectiva de resistência ao que está posto (SILVA et al., 2006, p. 10). Assim sendo, a educação de fato precisa ser analisada pela perspectiva da mediação, pois a própria educação é uma atividade de mediação, cujo: objectivo essencial é proporcionar uma sequência de aprendizagem alternativa (nomeadamente entre pessoas em conflito, explícito ou implícito) superando o estrito comportamento reactivo ou impulsivo, contribuindo para que os participantes no processo de mediação adoptem uma postura reflexiva (COSTA; SILVA, 2011, p. 249). Desta forma, A relação entre trabalho e educação em nossa sociedade é um elemento de mediação das relações sociais de produção. O desafio consiste em situar os elementos concretos que conformam essa mediação e que podem permitir sua explicação e uma melhor compreensão do sentido em que se dá a mediação (CIAVATTA, 2009, p. 134). No contexto desta pesquisa, cujo objeto de análise se constitui a partir da necessidade de formação para o trabalho, Pretendemos demonstrar que a inserção da educação (escolar ou não escolar) no movimento global do capital, a nosso ver, existe e se dá por um processo de diferentes mediações. O vínculo não é direto pela própria natureza e especialidade da prática educativa, que não se constitui numa prática fundamental, mas numa prática mediadora (FRIGOTTO apud CIAVATA, 2009, p. 130). 23 Mediação essa que não se faz neutra, ao contrário, “que se revela como um elo capaz de viabilizar uma estruturação ideológica para um determinado modo de produção, que, por sua vez, tende a assegurar a dominação de classe pela hegemonia” (CURY, 1979, p.66). Dessa maneira, como Cury não nos deixa esquecer que: A educação carrega consigo contradições que existem nela, mas não nascem só dela. Na articulação dos seus elementos com os elementos que estão nela é que se pode visualizar a função específica da educação e qual a sua parte de contribuição para a (re)produção de (velhas) relações sociais no conjunto das relações sociais de produção existentes (CURY, 1979, p. 69). Portanto, a EaD enquanto uma modalidade de ensino que reflete o modo de produção adotado na contemporaneidade, precisa ser também analisada pela perspectiva da categoria de reprodução. Em uma “sociedade capitalista, a educação se impõe como manisfestação-produção mediante as relações de classe” (CURY, 1979, p. 53), reproduzindo, por vezes, as contradições que emanam do modelo econômico vigente, e que as constituem como tal. Pelo que vimos, então, levando em conta a pesquisa que se pretende realizar a partir do método materialista histórico e dialético, analisar o objeto com base em uma única categoria, ignorando a existência e influência das demais, levar-nos-ia a incorrer em uma análise parcial da realidade, pois a educação, da forma que está organizada, reproduz os interesses da hegemonia burguesa, ao mesmo tempo em que busca mediar as relações que se constituem no âmbito de uma totalidade amplamente contraditória. Totalidade essa que, sendo produto do trabalho humano, constitui-se pelo desenvolvimento de sua própria historicidade. Sem, contudo, esquecermos que O desenvolvimento histórico não é uma evolução linear, a história é sempre um processo complexo em que as partes estão articuladas entre si de formas diferenciadas da simples sucessão e acumulação. As mudanças no seio da realidade humana ocorrem seguindo uma lógica da contradição e não da identidade. A história se constitui por uma luta de contrários, movida por um permanente conflito imanente à realidade (SEVERINO, 2007, p.123). 24 E é nessa luta de contrários, historicamente estabelecida, que as relações sociais se constituem, e as práticas se aprimoram para atender às necessidades emergentes. Dentro dessa perspectiva: Qualquer experiência individual e qualquer acontecimento particular, já, sempre, se situam num todo de sentido formado na comunidade e, historicamente herdado. [...] O conhecimento humano, é assim, sempre histórico e social. Suas categorias não são, sempre, as mesmas em todos os tempos e em todos os lugares, mas trazem as marca do contexto sócio-histórico em que elas são gestadas. Não tomar consciência disto implica em submeter-se às forças e, portanto, não só negar a historicidade, mas sobretudo fechar-se à criticidade e, portanto, à racionalidade enquanto possibilidade permanente de um ser aberto ao sentido (OLIVEIRA,1996, p. 216-217). Compreende-se, então, pelo exposto que uma das formas de se chegar mais próximo da realidade é analisar, também, as categorias que surgem da empiria, as quais trazem a marca do contexto sócio histórico em que se vive e que, portanto, influenciam direta ou indiretamente o homem e suas ações. Como nos diz Marx, “Os mesmos homens que estabelecem as relações sociais de acordo com a sua produtividade material produzem, também, os princípios, as idéias, as categorias de acordo com as suas relações sociais” (2009, p. 126). Então, nesse estudo, pretendese, inicialmente, tomar como base algumas categorias de análise que, acredita-se, influenciam diretamente na construção do objeto, que são inicialmente: o consumo de massa e as tecnologias da informação e comunicação (TIC's). 2.1 CONSUMO DE MASSA Pensar a EaD na perspectiva de uma categoria de consumo de massa, é colocá-la no movimento do contexto histórico, no qual “as necessidades de consumo determinam a produção” (MARX, 2011, p 53). Aí está, portanto, o grande dilema contemporâneo: como enfrentar o desafio de atender uma grande massa de estudantes que demandam por formação em nível superior, e aqui a EAD é, sem dúvida fundamental, garantindo uma perspectiva formativa no sentido amplo e não reduzida à extensiva distribuição de informações (PRETTO; PICANÇO, 2005, p. 36). 25 De fato, garantir uma formação no sentido amplo talvez pareça não ser o objetivo em questão ao nos depararmos com a forma como os processos estão organizados, pois, para atender a uma grande demanda por formação, há a necessidade de se adotar estratégias de produção capazes de suprir essa necessidade, aproximando a educação do que se tem atualmente numa linha de produção: A visão que acentua a “industrialização do ensino” entende a educação como um “produto” que pode ser planejado como “manufatura em massa e em série”, com a segmentação dos papéis, da criação de “linhas de montagem”, a padronização e divisão das tarefas. A “entrega”, ou distribuição, também seria marcada por essa característica, sendo igualmente padronizada, formalizada e submetida a controles administrativos, centralizados. Assim, pode-se dizer que conhecimento é objetivado pela administração e pelos organizadores do ensino (MORAES, 2010, p. 58). Se a produção é em massa, é porque o consumo também o é. Como no mercado, a educação assume a forma de um produto, o qual é produzido, com mais ou menos qualidade, para atender às diferentes massas da população, e, por vezes, transferindo para o aluno a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso, e não as práticas pedagógicas, ou a falta delas. Quando um sistema já nos apresenta, logo no início, coisas enquadradas e padronizadas, ele já está comunicando algo sobre como espera que nos comportemos. Daí tudo entra nos eixos dos antigos paradigmas, e passamos a pensar em termos das quatro operações: adição de conteúdos, redução de custos, multiplicação de alunos, divisão do número de professores (BLIKSTEIN; ZUFFO, 2001, p. 54). Dessa forma, O modelo de produção de EaD tem sido identificado com os modelos fordistas de produção industrial por apresentar as seguintes características principais: racionalização, divisão acentuada do trabalho, alto controle dos processos de trabalho, produção de massa de “pacotes educacionais”, concentração e centralização da produção, burocratização (BELLONI, 2008, p. 18). 26 Portanto, é salutar questionar, a partir das categorias do método e de análises aqui expostas, sobre as contradições existentes, e, principalmente, sobre a quem atende tais práticas: Será que governo, educadores, professores e alunos estão todos na mesma humilde canoa, buscando a transformação da educação e a emancipação do homem? Acreditamos que não. Governos buscam o atendimento às pressões sociais por mais educação, empresas buscam novas oportunidades de negócios, escolas buscam se adaptar aos novos tempos. Os discursos, entretanto, se confundem (BLIKSTEIN; ZUFFO, 2001, p. 6). Enquanto as escolas procuram se adaptar aos novos tempos, o homem tenta se adequar às exigências do mercado de trabalho, buscando uma formação que atenda às necessidades expostas, que permitam, numa denominação contemporânea, manter-se empregável, tendo que se adaptar a lógica orientadora, ou seja, a lógica do mercado. E nesse mercado, a educação vai sendo destituída do seu sentido ontológico e se restringindo a uma formação para o exercício de uma determinada atividade profissional: Para essas pessoas a educação adquire um sentido instrumental, inclusive devido ao fetiche com que é tratada, ao se conferir a ela um poder sobre-real de possibilitar a permanência das pessoas no mercado de trabalho. É como se expressa o mito da “empregabilidade”. Se não se pode ignorar a importância da educação como pressuposto para enfrentar o mundo do trabalho, não se pode reduzir o direito à educação – subjetivo e inalienável – à instrumentalidade da formação para o trabalho com um sentido economicista e fetichizado. (CIAVATTA; FRIGOTTO; RAMOS. Excertos, 2005). Pois, no seu sentido ontológico, o trabalho, na sua essência e generalidade, não é atividade laborativa ou emprego que o homem desempenha e que, de retorno, exerce uma influência sobre a sua psique, o seu habitus e o seu pensamento, isto é, sobre esferas parciais do ser humano. O trabalho é um processo que permeia todo o ser do homem, e constitui a sua especificidade (KOSIK, 1976, p. 199). 27 A lógica da educação, sob a perspectiva de formação do homem, tem como fim o desenvolvimento integral do ser humano, ou seja, em seus aspectos físicos, morais, afetivos, intelectuais e estéticos. Todavia, há a predominância de outra lógica, que é a lógica do mercado, que já não existe enquanto livre compra e venda de força de trabalho, mas como um conjunto complexo de forças materiais e imateriais que submetem os que buscam trabalho às leis da super-exploração do trabalho, particularmente nos países dependentes do capitalismo (CIAVATTA; TREIN, 2007, p. 12), e cabe à educação sistematizada, o papel de preparar essa força de trabalho. Assim sendo, como nos diz Mészáros (2008, p. 12), a educação libertadora, que teria como função transformar o trabalhador em um agente político que pensa, que age e que usa a palavra como arma para transformar o mundo, parece de fato não se constituir como um fim para uma sociedade capitalista. E nessa sociedade, as tecnologias de informação e comunicação, é uma das categorias incorporadas pelos processos educativos que merece especial atenção, principalmente quando tratamos sobre a EaD. 2.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) No tocante as tecnologias da informação e comunicação, Não há como negar que a educação está longe de poder se manter imune às provocações e desestabilizações que são introduzidas pelos novos meios técnicos – sobretudo em se considerando o volume e a rapidez das aquisições que a informática permitiu à humanidade realizar.(...) mas ainda nos cabe decidir de que maneira queremos que esta materialidade da informação e da comunicação nos afete e afete nossos modos de pensar e fazer a formação humana (VALLE; SOUZA, 2011, p. 32). Considerando que o Brasil é um país com inúmeras discrepâncias, destacando aqui a econômica e a cultural, a EaD é posta como um mecanismo de expansão da educação, com o qual a inclusão social se dará por meio do acesso ao ensino e, principalmente ao ensino superior, em grande parte concebido como formação tecnológica, visando à preparação para o mercado de trabalho. Todavia, a 28 inovação tecnológica ainda não está presente na vida de grande parte dos brasileiros, e presume-se que sejam esses os que mais precisam se capacitar, e os quais poderão ter a possibilidade de ingressar em um curso a distância, até mesmo pelo fato dessa modalidade requerer um investimento financeiro menor. A realidade, então, começa a mostrar a sua face contraditória, pois por vezes, com conhecimento e acessos aos ambientes virtuais limitados, e considerando que toda a formação nessa modalidade está pautada no acesso às tecnologias da comunicação, como se dará essa formação? Em momento algum a educação poderá ser resumida ao tecnicismo das inovações tecnológicas utilizadas para a comunicação, mas ignorar a importância da efetividade destes para que de fato se tenha, no mínimo, a incorporação dos conteúdos básicos ofertados, é desconsiderar o movimento histórico no qual a sociedade e, consequentemente a educação, tem se constituído. É fato que em uma sociedade dividida em classes sociais, como é uma sociedade capitalista, acentuam-se as desigualdades em todos os aspectos da vida, ou seja, jamais haverá igualdade de acesso aos bens culturais, à educação, à tecnologia, e a tudo aquilo que se produz. As desigualdades sociais são em sua essência desigualdades de acesso. No viés de um discurso de educação para todos, no qual a EaD se configura em uma modalidade estratégica para a expansão do acesso à educação, é preciso considerar o que nos mostram os índices relacionados ao acesso à internet no Brasil: A desigualdade social, infelizmente, também tem vez no mundo digital: entre os 10% mais pobres, apenas 0,6% tem acesso à Internet; entre os 10% mais ricos esse número é de 56,3%. Somente 13,3% dos negros usam a Internet, mais de duas vezes menos que os de raça branca (28,3%). Os índices de acesso à Internet das Regiões Sul (25,6%) e Sudeste (26,6%) contrastam com os das Regiões Norte (12%) e Nordeste (11,9%) (ANTONIOLI, 2012). A interpretação desses dados se torna ainda mais clara quando analisados a partir de uma divisão de classes sociais: As classes A, B (renda familiar B De R$ 6.220 a R$ 12.440 e A R$ 12.440 ou mais), e agora parte da classe C (De R$ 2.488 a R$ 6.220), seguem como as maiores consumidoras de tecnologia. Mas a inclusão 29 digital ainda não acontece para as classes D (De R$ 1.244 a R$ 2.488) e E (Até R$ 1.244), que somam cerca de 74 milhões de brasileiros. Na classe A, o acesso à Internet está em 97% dos lares, nas classes D e E o resultado é desanimador: apenas 5% dos lares dessas classes têm Internet, isso significa que 95% dos lares das classes D e E não têm uso da Internet doméstica (CARNEIRO, 2012). Assim sendo, se considerarmos a realidade do contingente de pessoas pertencentes às camadas menos favorecidas da população, que não tem internet em casa, e pensarmos que é para essas camadas, ou pelo menos para parte dela, que os cursos superiores de tecnologia EaD vêm sendo desenvolvidos, não há como não se intrigar diante de tais limitações e contradições. É fato que a legislação prevê que os polos de apoio presencial tenham estrutura de acesso para atender aos seus alunos. Entretanto, questiona-se se esse aluno que, conforme nos demonstram as pesquisas, trabalha, é pai ou mãe de família e ganha até três salários mínimos, tem condições de manter uma assiduidade no polo para estudar, principalmente ao considerar que na maioria das IES, a sua presença não é obrigatória? E, considerando-se que o aluno tivesse essa assiduidade, o polo teria condições de atendê-lo nos dias e horários a ele disponíveis? Questiona-se também, se esse aluno, que afirma estudar no seu ambiente de trabalho, de fato consegue estudar e trabalhar simultaneamente? Outro item que também contribui para a análise dessa realidade é a própria qualidade do acesso. Relacionar a educação à interatividade das mídias digitais é no mínimo um assunto contemporâneo, mas no nosso contexto, é preciso refletir sobre “interatividade para quem”. Essa preocupação quanto ao acesso a uma internet de qualidade já se faz presente no âmbito das políticas públicas, como apresentou em entrevista a presidente Dilma Roussef em seu programa de rádio "Café com a Presidenta", em que afirmou que o governo federal vai investir diretamente, por meio da Telebrás, na ampliação de redes que levem a internet a todas as regiões do país e caminhar para valores acima de 5 MB (velocidade de conexão). Afirma, também, que essa preocupação é legitimada pela importância que isso tem para o desenvolvimento da educação no país (ACESSO à interne..., 2012). Enquanto as políticas não se efetivam, muitas pessoas estão sendo integradas nesse processo, sem que sejam consideradas as possíveis lacunas dessa formação, considerando um cenário no qual a tecnologia, que deveria ser 30 apenas um instrumento nessa grande engrenagem, torna-se o motor propulsor e, ao mesmo tempo em que traz a oportunidade, pode ser também um limitador. Por vezes, atribuir ao aluno a responsabilidade pela sua formação seja uma forma de ofuscar as lacunas existentes. Sendo assim, urge refletir sobre as formas como as tecnologias de comunicação estão sendo utilizadas para expandir o ensino e, sobretudo, qual ensino e para quem! A exclusão digital ainda atinge um grande contingente de indivíduos no Brasil já que, com relação ao analfabetismo tecnológico, a situação não difere muito do quadro de analfabetismo como um todo no país 5 (SILVA, 2011, p. 530). “Portanto, não basta introduzir tecnologias – é fundamental pensar em como elas são disponibilizadas, como seu uso pode efetivamente desafiar as estruturas existentes em vez de reforçá-las” (BLIKSTEIN; ZUFFO, 2001, p. 4). Nesse cenário, a EaD vem se configurando a partir das relações que se constituem. Assim sendo, a relação dos diferentes sujeitos com o objeto, e o desvelar do que sustenta o fenômeno no seu contexto, é o que se pretende alcançar com esse “caminhar” dialético. 5 14 milhões de acordo com censo de 2010. 31 3 A EAD NO BRASIL 3.1 BREVE HISTÓRICO DA EAD NO BRASIL Embora as terminologias atuais remetam à EaD de certa forma como uma novidade, o fato é que essa forma de ensino já se faz presente há muito tempo: Hodiernamente falamos em Educação a Distância e em algumas falas, incorremos no equívoco de considerar sua trajetória como algo totalmente novo. Sua roupagem, ou seja, as ferramentas utilizadas em alguns cursos é nova, sua história nem tanto. [...] Vamos para Grécia Clássica, por volta de 300 a.C., rememorar o filósofo Platão e seus discípulos na Academia. [...] Hoje, dois mil e trezentos anos depois, aproximadamente, temos acesso a seus escritos na versão impressa e na versão virtual (AZEVEDO, 2011, p. 56). Embora a Educação a distância não seja algo novo, ainda se mantém no discurso o aspecto de novidade trazido por essa modalidade de ensino, o que talvez aconteça pelo fato de, na contemporaneidade, as práticas incorporadas pela EaD serem orientadas pelas novidades tecnológicas, que se sucedem a cada dia, atingindo um contingente cada vez maior de pessoas. Mattar (2011) define a EaD como sendo “uma modalidade de educação, planejada por docentes ou instituições, em que professores e alunos estão separados espacialmente e diversas tecnologias de comunicação são utilizadas”. Para Moran, a EaD é: ensino/aprendizagem onde professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes (2002, p. 1). O Ministério da Educação, no Decreto nº 5.622, de dezembro de 2005, documento que regulamenta a EaD, a caracteriza como: 32 Modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores, desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL. Presidência da República, 2005). Para compreender melhor o processo de constituição da Educação a Distância, Mattar (2011p. 4,) também divide a história da EaD em três grandes gerações: (1) cursos por correspondência; (2) novas mídias e universidades abertas; e (3) EaD on-line.”( Corrobora Litto ao afirmar que: O Brasil vive, simultaneamente, o impacto de três diferentes “ondas” econômicas, cada uma com conseqüências variadas para a EAD: a agrícola (com muitas pessoas morando na área rural ou em cidades distantes de centros de conhecimento, o que justifica a continuação, por certo tempo ainda, da prática de aprendizagem por meio de materiais impressos ou “cursos por correspondência”), a industrial (para qual cursos por rádio e televisão são apropriados) e a da tecnologia da informação (cursos via Web são os mais indicados). Esta última cresce rapidamente devido à aceleração das inovações que se estendem também à área da comunicação (2009, p.18). Sendo assim, abordaremos cada uma delas nas seções seguintes do texto. 3.1.1 Primeira Onda: Cursos por Correspondência Os cursos por correspondência representam a primeira onda ou etapa da EaD, como mostra Palhares (2009, p. 48): a onda da correspondência é a primeira e a mais longa de todas. Hoje, praticamente não é mais utilizada, mas sua importância está garantida e reservada em lugar de destaque. Os registros de seu inicio datam da metade do século XIX e seu desaparecimento, da forma como a conceituamos, aconteceu na década de 1990. [...] O que justifica essa denominação é o processo de mediação por meio de cartas. Remessa de lições, trabalhos e provas, da escola para o aluno, ou vice-versa, e até pagamentos realizados totalmente por meio de serviços disponibilizados pelo correio contemplam melhor a definição dessa metodologia. 33 Os primeiros cursos organizados, tendo como base a utilização da correspondência como meio de comunicação, têm registro ainda no século XIX, e estavam relacionados à preparação para algum ofício, como apresenta Alves: As pesquisas realizadas em diversas fontes6 mostram que, pouco antes de 1900, já existiam anúncios em jornais de circulação no Rio de Janeiro oferecendo cursos profissionalizantes por correspondência. Eram cursos de datilografia ministrados não por estabelecimentos de ensino, mas por professoras particulares. Não obstante essas ações isoladas, que foram importantes para a época em que se consolidava a República, o marco de referência oficial é a instalação das Escolas Internacionais, em 1904. A unidade de ensino, estruturada formalmente, era filial de uma organização norteamericana existente até hoje em diversos países. Os cursos oferecidos eram todos voltados para as pessoas que estavam em busca de empregos, especialmente nos setores de comércio e serviços. O ensino era, naturalmente, por correspondência, com remessa de materiais didáticos pelos correios, que usavam principalmente as ferrovias para o transporte. Nos vinte primeiros anos tivemos, portanto, apenas uma única modalidade, a exemplo, por sinal, de todos os outros países (ALVES, 2008, p. 9). Percebe-se que, inicialmente, a EaD no Brasil surgia como uma iniciativa de particulares, ou de instituições privadas, e tinha como principal objetivo capacitar profissionais para o exercício de alguma atividade ou até mesmo profissão liberal, tendo como base materiais impressos, auto explicativos, que facilitassem um aprendizado solitário, conforme demonstra Alves: As primeiras experiências brasileiras tinham sua base metodológica centrada na mídia impressa e no ensino por correspondência. Materiais auto explicativos, com linguagem simplificada, levavam o aluno a um processo solitário de estudo. (...) São diversos os registros quanto ao uso da correspondência no Ensino a Distância, mas só na Modernidade essa modalidade se consolidou com o avanço de técnicas de impressão e melhoria de serviços postais e do sistema ferroviário, permitindo que a produção e a distribuição de materiais didáticos fossem facilitadas (FIALHO; TORRES, 2009, p. 456). Evidencia-se que o ensino a distância, assim como todos os aspectos da sociedade, sempre esteve atrelado ao desenvolvimento tecnológico, principalmente relacionado aos meios de transporte e de comunicação, o que tornou possível a 6 Estudos realizados pelo IPEA com base em elementos disponíveis na época, dentre as quais edições de jornais editados, como,por exemplo, o Jornal do Brasil. 34 distribuição de grandes quantidades de materiais para grupos geograficamente dispersos. Com o passar do tempo, percebendo-se nessa prática o seu potencial de alcance, o ensino a distância ganha o apoio de instituições, as quais merecem destaque como sendo instituições fundantes da EaD no Brasil: o Instituto Monitor (1939) e o Instituto Universal Brasileiro (1941). “As duas entidades definiram públicos certos e capacitaram brasileiros para o mercado de trabalho, no segmento da educação profissional básica” (ALVES, 2009, p.11). O início da história do IUB está ligado a do Instituto Monitor, uma vez que um dos seus fundadores tinha sido sócio proprietário do Instituto Monitor fundando em 1929, o qual após desfazer a sociedade, fundou em 1941 o IUB com seu irmão. O IUB iniciou atuando na formação de mão-de-obra para o setor industrial e de serviços, mas logo a seguir passou a ofertar cursos que exerciam o papel de suplência, uma vez que, preparavam os alunos jovens e adultos para prestar os exames de natureza ginasial e colegial (FARIA; VECHIA, 2011, p. 116). Essas duas instituições representam o marco da EaD no Brasil e continuam presentes na contemporaneidade, oferecendo cursos profissionalizantes, técnicos e supletivos do ensino médio e fundamental. Sua metodologia, embora tenha também incorporado as inovações trazidas pela era digital, ou seja, a terceira onda da EaD como denomina Mattar (2011), continua utilizando, como uma das formas de comunicação, o envio de materiais impressos. Assim sendo, o ensino por correspondência não foi extinto do modelo atual de Educação a Distância, pois os alunos continuam recebendo materiais via correio. A diferença é que não se utiliza mais somente esse meio, pois é apenas uma parte do processo. Talvez os termos mais adequados para explicar a sobreposição de recursos utilizados na prática da EaD sejam a incorporação e superação dos métodos utilizados ao longo da história. 35 3.1.2 Segunda Onda: Novas Mídias e Universidades Abertas 3.1.2.1 Universidades Abertas Segundo Mattar (2011, p. 5), a segunda geração da EaD carateriza-se pelo uso de novas mídias, como televisão, rádios, fitas de áudio e vídeo e telefone, bem como a criação das universidades abertas de educação a distância, como a Open University da Inglaterra, a University of South Africa, (UNISA) na França, a Universidad Nacional de Educacion a Distancia (Uned) na Espanha, entre outras espalhadas pelo mundo. De acordo com Alves (2009, p. 12), o documento que relata a criação e o funcionamento da Open University faz a seguinte referência: o termo “aberta” se aplica à nova Universidade em vários sentidos. Primeiramente no sentido social, pois se dirige a todas as classes sociais, permitindo que as pessoas possam completar seus estudos em suas próprias casas sem exigência de freqüência às aulas, a não ser uma ou duas semanas por ano. Em segundo lugar, do ponto de vista pedagógico, na medida em que a matrícula na universidade está aberta a todo indivíduo maior de 21 anos, independente da apresentação de certificado de instrução anterior e de qualquer exame de admissão. Finalmente, ela se chama aberta no sentido de que seus cursos, pelo rádio e pela televisão, estão abertos ao interesse e apreciação do público em geral. No Brasil, após outras tentativas sem aprovação, em 1974 surge efetivamente a iniciativa de ser instituída a Universidade Aberta, por meio do projeto de lei nº 1878. A proposta dizia: “entende-se por Universidade Aberta a instituição de nível superior, cujo ensino seja ministrado através de processo de comunicação a distância” (ALVES, 2009, p. 12). Todavia, a iniciativa não teve êxito e o projeto foi arquivado. Décadas mais tarde foi implementado pelo governo federal o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), instituído pelo Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006. O Sistema UAB foi instituído para o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País. Fomenta a modalidade de educação a distância nas instituições públicas de ensino superior, bem como apóia pesquisas em metodologias 36 inovadoras de ensino superior respaldadas em tecnologias de informação e comunicação. Além disso, incentiva a colaboração entre a União e os entes federativos e estimula a criação de centros de formação permanentes por meio dos polos de apoio presencial em localidades estratégicas (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2012). No contexto atual, participam do Sistema UAB exclusivamente instituições públicas, ou seja, as universidades públicas (federais, estaduais e municipais)e os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. A UAB oferece um programa Nacional de Formação em Administração Pública destinado à formação de gestores da esfera pública, mas tem como foco principalmente a formação de docentes, inicial e continuada, para a educação básica, e também oferece cursos nos níveis de graduação e pós-graduação lato sensu (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2012). Ainda na esfera da segunda onda, o rádio também foi um veículo de transmissão incorporado às práticas utilizadas para ensinar a distância. De acordo com Del Bianco (2009, p. 58), em seu artigo Aprendizagem por rádio: Nas primeiras transmissões de rádio no Brasil e na América Latina, ainda na década de 1920, logo se percebeu o potencial do meio para superar obstáculos ao progresso. Pela abrangência e penetração social, o rádio oferecia a possibilidade de reduzir índices de analfabetismo, alcançar públicos não atendidos pelo sistema escolar formal, oferecer escolarização suplementar, além de colaborar para vencer longas distâncias e superar os problemas de comunicação em regiões de difícil deslocamento. Em 1923, era fundada a emissora Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que foi conduzida pela iniciativa privada até 1936. Tendo à frente revolucionários da década de 1930, tinha como principal função possibilitar a educação popular, mas sofreu fortes pressões do governo7, que se mostrava preocupado com a utilização do rádio de forma subversiva, até que em 1936, a rádio foi doada ao Ministério da Educação 7 Período da ditadura tendo a frente do Governo o Presidente Getúlio Vargas, que estabelecia mecanismos de censura aos meios de comunicação. 37 e Saúde, uma vez que na época ainda não existia um Ministério para a Educação 8 (ALVES, 2009, p. 10). O rádio foi o segundo meio de transmissão de conteúdos à distância: “Inúmeros programas, especialmente os privados, foram sendo implantados a partir da criação, em 1937, do Serviço de Rádio Difusão Educativa do Ministério da Educação”. Em 1950, com a adesão de organismos religiosos, comércio e governo, os programas educativos de rádio atingiam 318 localidades brasileiras com um programa denominado Universidade do Ar (ALVES, 2009, p. 9). O rádio nesse período histórico assume uma representatividade que vai muito além de um mecanismo de comunicação: O rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler. É o mestre de quem não pode ir a escola. É o divertimento gratuito do pobre. É o animador de novas esperanças, o consolador dos enfermos e o guia dos sãos (CASTRO, 1996, p.1). Entre as experiências brasileiras de utilização do rádio, dois sistemas merecem destaque por terem sido paradigmáticos: o movimento de Educação de Base( MEB) e o Projeto Minerva. Idealizado pela Igreja Católica em 1961, o MEB representou um avanço na concepção de aprendizagem por rádio naquele momento ao criar um sistema que combinava cursos formais instrucionais com conscientização, politização, educação sindicalista, especialmente voltado para a população rural. O MEB adotou a concepção pedagógica humanista baseada nos princípios filosóficos da ação libertadora de Paulo Freire. Os cursos eram formulados em sintonia com a realidade das comunidades com base em dados obtidos por levantamento das condições de vida da população a ser atendida. [...] Em direção oposta a filosófica da abordagem humanista, o Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura cria, em 1970, o Projeto Minerva. Para emissão de seus cursos, o projeto utilizava o tempo gratuito que as emissoras comercias têm obrigação de destinar aos programas educativos: cinco horas semanais, sendo 30 minutos diários, de segunda a sexta-feira. A transmissão era obrigatória para as emissoras de rádio de todo o país até o final dos anos 80. O Projeto Minerva oferecia ensino supletivo para adolescentes e adultos, além de orientação profissional e programação cultural de interesse geral (DEL BIANCO, 2009, p. 59). 8 Vale destacar que “a revolução deflagrada em 1969 abortou grandes iniciativas, e o sistema de censura praticamente liquidou a rádio educativa brasileira” (ALVES, 2009, p.10). 38 Assim sendo, percebe-se que o rádio foi um mecanismo que marcou a história da EaD pela abrangência da sua recepção, mas que se destacou, principalmente, por ser também um veículo de comunicação popular. Da mesma forma, a TV também passa a ser utilizada como um canal de comunicação a serviço da educação, e a EaD alcança espaço na TV, já a partir da década de 1960, e com grande incentivo por parte do governo. “Em 1964 o MEC obtém autorização de reserva de 98 canais de VHF e UHF para implantar emissoras de televisão educativa” (POSSOLI, 2009, p. 3466). Coube ao Código Brasileiro de Telecomunicações, publicado em 1967, a determinação de que deveria haver transmissão de programas educativos pelas emissoras de rádio difusão, bem como pelas televisões educativas. Alguns privilégios a grupos de poder foram concedidos para a concessão de televisões com fins específicos de educação. As universidades e fundações, por exemplo, receberam diversos incentivos para a instalação de canais de difusão educacional (ALVES, 2009, p.10). A partir daí, foram diversas as iniciativas relacionando educação e televisão, como demonstra Possoli em seu texto Educação a distância nas instituições de educação superior: análise de tendências para a educação superior no Brasil: Em 1969 entra em operação a TV Cultura com a veiculação de telecursos de ensino regular. Em 1969 foi criado o projeto SACI, que esteve em operação de 1972 a 1976, registrando um total de 1241 programas de rádio e TV com suporte de material impresso, com recepção em 510 escolas de 71 municípios, com ações voltadas para alunos das séries iniciais e formação inicial e continuada de professores. Em 1978, a fundação Roberto Marinho, inicia as transmissões do Telecurso de 2º grau, voltado para preparação para exames supletivos. O projeto Conquista, inaugurado em 1979, produzia telenovelas para ensino supletivo de 5ª a 8ª série do 1º grau e alfabetização de adultos, livros de apoio complementavam o material televisivo; no mesmo ano o Programa de Alfabetização Funcional (PAF/TV) visou a alfabetização de adultos com o uso de multimeios. Já em 1981, o Telecurso de 1º grau foi lançado pela fundação Roberto Marinho e seu conteúdo voltado para o supletivo de 5a a 8a séries; e em 1985 referida fundação lançou o novo Telecurso de 2o grau, produzindo 900 teleaulas e 500 programas de rádio; e por volta de 1994, surge o Telecurso 2000 1º e 2º graus, com materiais de consulta e de apoio ao ensino em salas para atendimento presencial a alunos, assistidos por monitor especializado (POSSOLI, 2009, p. 3466). 39 Na década de 1970 foram criados o Programa Nacional de Teleducação (Prontel), substituído pelo Centro Brasileiro de TV Educativa (Funtevê), órgão integrante do Departamento de Aplicações Tecnológicas do Ministério da Educação e Cultura. O Ministério das Comunicações baixou, no mesmo período, uma portaria definindo tempo obrigatório e gratuito que as emissoras comerciais deveriam ceder a transmissão de programas educativos. “No início de 1990, as emissoras ficaram desobrigadas de cederem horários diários para transmissão dos programas educacionais, significando um retrocesso” (ALVES, 2009, p.10). Uma iniciativa de educação a distância utilizando a TV como canal de propagação que resistiu ao tempo é o Telecurso 2000. O programa é ofertado pela Fundação Roberto Marinho, em canal aberto, e iniciou suas atividades com a formação para ensino médio. Com o passar do tempo passaram a ser ofertados também os cursos profissionalizantes e ensino fundamental. Os materiais impressos são enviados pelo Correio, e as aulas assistidas de casa ou salas organizadas para receber grupos de estudantes, sob a orientação de um professor/tutor (TELECURSO, 2011). Na atualidade, ou seja, 2012, outros canais fechados também se destacam como canais de transmissão da EaD, como é o caso da TV Escola, TV Futura, e a própria TV Cultura, que acabam transmitindo parte de suas programações também pelo sinal aberto. 3.1.3 Terceira Onda Ead On-Line A terceira onda, predominante na atualidade é a EaD on-line, a qual começa a ganhar destaque a partir da década de 1990, como nos mostra Mattar (2001, p. 6): Por volta de 1995, com o crescimento explosivo da internet, pode–se observar um ponto de ruptura na história da EaD. Surge um novo território para a educação, o espaço virtual da aprendizagem digital e com base na rede. Aparecem também várias associações de instituições de ensino a distância. Passa-se simultaneamente a conceber um novo formato para o processo de ensino-aprendizagem, aberto, centrado no aluno, interativo, participativo e flexível. 40 Assim sendo, o uso do computador, agregado às novas tecnologias da área de comunicação, tem provocado grandes mudanças nos processos de ensino aprendizagem, seja na educação presencial, híbrida ou a distância, principalmente relacionando aos ambientes virtuais. No caso específico da EaD, “o uso de TICs, nessa modalidade, permite um aprendizado colaborativo on-line, agregando as mídias anteriores às tecnologias interativas” (TORRES; FIALHO, 2009, p. 457), ou seja, a comunicação escrita, a sonora e a visual, antes representadas pela correspondência, pelo rádio e pela TV, agora são organizadas em ambientes virtuais de aprendizado. Bruno e Teixeira, em seu artigo Educação online e a emergência de novos atores no processo de formação, trazem informações que contribuem para a compreensão sobre como a educação online foi se constituindo: Podemos qualificar o cenário atual como: midiático, informacional, tecnológico, pós-moderno, globalizado, cibercultural. Somos marcados pelo excesso de informações e o apelo imagético e áudio visual são enormes. Se todas as áreas da vida foram invadidas pelos novos recursos colocados a disposição das pessoas pelo avanço tecnológico, a educação não ficaria imune a isso. (..) Com a evolução dos meios tecnológicos, os cursos oferecidos com os auxílio das diferentes mídias na modalidade online são a cada dia mais frequentes. Incorporados às instituições de ensino superior, à área corporativa e também aos cursos de formação continuada, destinados a profissionais de diversas áreas do conhecimento, suscitam grandes mudanças em todos os envolvidos no processo e, em especial, na educação (2010, p. 154). Percebe-se que o ensino a distância vai incorporando e sendo incorporado pelos avanços tecnológicos, à medida que esses se constituem em ferramentas de distribuição cada vez mais velozes e ao alcance de cada vez mais pessoas, e em diferentes níveis de formação. Desde o início da história da EaD no Brasil, essa modalidade de ensino sempre esteve relacionada ao avanço das tecnologias, bem como ao ensino profissionalizante, sendo vista como um meio eficaz de propagação da educação. A EaD é uma modalidade de ensino que propicia a formação simultânea de um grande número de pessoas dispersas geograficamente, das quais muitas apresentam dificuldades financeiras e de tempo para estudar diariamente em universidades presenciais, muitas vezes distantes fisicamente da sua cidade de 41 origem, mas ao mesmo tempo dispostas, pela própria condição social em que vivem, a atender uma demanda do mercado de trabalho que emerge do modelo econômico vigente. No processo de expansão da EaD, é interessante observar como a Educação a Distância vai se adaptando às novas TICs e sendo conduzida pelas inovações: Por se tratar de algo ainda novo em ambientes variados, como escolas e corporações, e não necessariamente resultado de novas teorias físicas, a aprendizagem a distancia por meio de novas tecnologias, como o ipod ou o telefone celular, não tem feito ainda nenhuma revolução paradigmática. Mas tem alterado algo importante: enquanto no passado os dirigentes de TI nas instituições determinavam as tecnologias pelas quais os alunos aprenderiam, hoje esses dirigentes procuram adaptar-se às tecnologias que já estão nas mãos dos alunos (LITTO, 2009, p.18). Mattar corrobora a ideia do autor supracitado ao afirmar que:“outra tendência clara é o uso de dispositivos móveis em educação e EaD, o que se costuma chamar de móbile learning ou m-learning, o que envolve não apenas o uso de celulares, mas também PDAs, notebooks e acesso a rede sem fio etc.“ (MATTAR, 2011, p. 88). Dessa forma, percebemos que à medida que o mercado vai lançando novos produtos na área de tecnologia da comunicação, não é mais o aluno que terá que se adaptar às ferramentas que a IES oferece, mas as instituições de ensino é que terão que encontrar formas de integrar sua metodologia às tecnologias que já estão à disposição dos seus potenciais alunos. Como se percebe, a EaD está fortemente incorporada no Brasil e no mundo. Pode-se, também, dizer que a EaD se constitui em uma importante estratégia para que se possa alcançar as metas estabelecidas pelas políticas educacionais com relação a educação no Brasil na atualidade. Um exemplo disso é o curso de pedagogia que, de acordo com o Censo de 2010, é o curso que mais tem alunos a distância no Brasil, chegando a ultrapassar 273 mil alunos, o que me parece ser uma resposta aos objetivos previstos no Plano Nacional de Educação 2001-2010, como veremos a seguir ao tratarmos sobre as políticas públicas para a EaD no Brasil. 42 3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EAD A Educação a Distância (EaD) no Brasil, principalmente a partir da década de 1990, vem ganhando espaço nas discussões acadêmicas, políticas e empresariais; ora no discurso daqueles que a defendem com veemência, ora no questionamento dos que suscitam inquietações acerca das peculiaridades técnicas do seu funcionamento. Em termos de governo, o marco das políticas regulatórias e de incentivo à EaD no Brasil foi o governo de Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995-2002), quando a EaD é de fato integrada ao âmbito das políticas educacionais e continua se expandindo nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Todavia, não há como analisar a EaD, objeto de pesquisa deste trabalho, sem antes compreender como essa modalidade de ensino foi instituída ou constituída no Brasil, principalmente no que diz respeito às políticas públicas educacionais. Embora não se tenha o objetivo de aqui apresentar todos os atos e instituições constituintes deste histórico, é salutar destacar alguns pontos que contribuem para a compreensão do atual estágio de desenvolvimento da EAD, no Brasil. Nesse sentido, O desafio se impõe ao tentar compreender as políticas e a gestão da educação, seus paradoxos, limites e contradições. No caso brasileiro, na ultima década, tivemos alterações significativas nas políticas da área, como as diferentes perspectivas e concepções expressas nos embates da proposição e tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE). Na última década, vêm merecendo destaque, sobretudo, as discussões sobre o papel da educação a distância (EaD) nos diferentes processos formativos e das políticas que as devem nortear (DOURADO; SANTOS, 2011, p.155). E para compreendermos as políticas relacionadas ao tema, é importante iniciarmos pela compreensão do próprio conceito de política. Etimologicamente, a política deriva de um adjetivo originado do grego polis politikós, e refere-se a tudo que diz respeito à cidade, e, por conseguinte, ao urbano, civil, público social, ou seja, a política se dedica ao estudo da esfera de atividades humanas articulada às coisas do Estado. Assim sendo, o termo reporta-se, fundamentalmente, “à atividade ou conjunto de atividades que, de uma forma ou de 43 outra, são imputadas ao Estado moderno capitalista ou dele emanam” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 7). Corrobora para a compreensão do conceito Pereira ao afirmar que: “a política compreende um elenco de ações e procedimentos que visam a resolução pacífica de conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos” (2008, p. 48), e, assim o sendo, as políticas públicas podem ser definidas da seguinte forma: As políticas públicas, com destaque para as áreas de economia, trabalho, saúde, educação, segurança, sócio-ambiental, ciência e tecnologia e inovação, são ações e medidas adotadas pelo Estado para atender as demandas da sociedade. As políticas públicas, no seu processo de reestruturação, devem seguir um roteiro claro de prioridades, princípios, objetivos, normas e diretrizes delineadas nas normas constitucionais. Esses esforços buscam suprir as necessidades da sociedade em termos de distribuição de renda, dos bens e serviços sociais no âmbito federal, estadual e municipal. Devese ressaltar, que nas sociedades complexas, onde ocorrem conflitos e interesses de diferentes matizes, especialmente de classes, as políticas decorrem do embate de poder determinado por leis, normas, métodos e conteúdos que são produzidas pela interação de distintos atores, neste cenário são os políticos e os partidos políticos, os segmentos empresariais, os sindicatos, as organizações não governamentais entre outras (PEREIRA, 2008, p. 48). Percebe-se com o exposto, que o desafio maior do Estado consiste na implementação de políticas que assegurem a manutenção da ordem e o desenvolvimento do país em todas as suas esferas, e que, portanto, a ação das políticas públicas em algumas áreas como a saúde, educação, cultura, previdência, seguridade, informação, habitação, entre outras, são estratégicas para o Estado capitalista (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 8), pois são mediadoras de conflitos e pressões dos interesses e necessidades das diferentes classes. Portanto, a decisão pela implementação de uma política pública, deve considerar além da “dinâmica do movimento do capital, seus meandros e articulações, mas os antagônicos e complexos processos sociais que com ele se confrontam” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2002, p. 9). E dessa forma, entender o sentido de uma política pública exige anteriormente a compreensão das propostas do Estado, considerando o estágio de desenvolvimento do país, e as relações internas e externas que se estabelecem entre os diferentes grupos e classes sociais. Portanto, para analisar uma política 44 pública, no nosso estudo, especificamente, a inserção da Educação a Distância na política educacional, é necessário avaliar o movimento histórico que a sustenta. É importante ressaltar que: Na história da civilização mundial, o processo de desenvolvimento do capitalismo pode ser caracterizado, na razão de sua frenética evolução tecnológica, expansão da extensão de suas fronteiras, estabelecimento da divisão mundial do trabalho – sempre mais elaborada e complexa – e por uma rede cada vez maior de fluxos e intercâmbios que conectam todas as partes e frações da economia global (HOBSBAWM, 1997, apud SANTOS, 2012, p.2). Assim sendo, o grande desenvolvimento econômico do período capitalista do pós-guerra se caracterizou pela crescente penetração dos modelos teóricos e das práticas da economia sobre os outros campos da vida social (BELLONI, 2008, p. 13). E, assim, a organização da educação inevitavelmente também seria influenciada: O modelo fordista de produção passou a ser imitado, no processo pedagógico, por essas megainstituições de ensino a distância, essas “fábricas de ensinar”. Os programas e cursos passaram a ser oferecidos de forma padronizada, mediante processos industrializados de ensino, disponibilizando o material didático e todo o suporte da instituição para milhares de estudantes ao mesmo tempo, tendo como características comuns: máxima centralização, máximo controle do processo pedagógico (meios, materiais e passos), máxima reprodutibilidade, máxima confiabilidade (método objetivo e padronização), máxima abrangência e máxima rapidez na difusão (PRETTI, 2005, p. 30). Dessa forma, a EaD vai se configurando em uma modalidade de ensino que vai ao encontro dessa dinâmica social que passa a ter como referência um modelo de produção em massa, o qual gradativamente passa a ser incorporado de forma sistêmica por diversos campos da sociedade, impulsionados pelos ditames da globalização9, pois: “a economia capitalista, que até a metade do século estava condicionada pelo desenvolvimento dos Estados nacionais, ganhou dimensão 9 “É caracterizada pelo predomínio da economia de mercado acompanhada de políticas para liberalização do comércio de bens ou de serviços e pelo desenvolvimento das migrações internacionais. Este processo ocorre num contexto onde a relação tempo e espaço parece diminuir, em especial pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação (AKKARI, 2011, p. 23). 45 internacional” (CIAVATTA, 2009, p. 348) e os reflexos dessa abertura seriam incorporados por todas as esferas da sociedade. Para Oliveira, Podem ser identificadas quatro consequências da globalização para a educação, todas elas eivadas de tensões e contradições: a) a crescente centralidade da educação na discussão acerca do desenvolvimento e da preparação para o trabalho, decorrente das mudanças em curso na base técnica e no processo produtivo; b) a crescente introdução de tecnologias no processo educativo, por meio de softwares educativos e pelo recurso à educação a distância; c) a implementação de reformas educativas muito similares entre si na grande maioria dos países do mundo; d) a transformação da educação em objeto do interesse do grande capital, ocasionando uma crescente comercialização do setor (OLIVEIRA, 2009, p. 740). Nesse cenário de transformação da educação em objeto do interesse do grande capital, de abertura de mercados, de produção em massa, e com a necessidade de capacitar mão de obra10 para atender ao novo modelo econômico, a EaD vai se constituindo em um mecanismo de produção da educação em grande escala, refletindo a lógica do capital e indo ao encontro das necessidades geradas pelo modelo econômico, pois: A educação frente ao movimento empreendido pelo capital produzido pela reorganização produtiva em curso, bem como, a reestruturação política e econômica do Estado, vem sendo direcionada para uma concepção produtivista e mercantilista, cujo papel é desenvolver em cada indivíduo competências e habilidades técnicas, cognitivas e de gestão que lhe assegure empregabilidade (PASQUALOTTO, 2003, p. 20). E nesse contexto, a busca por novas formas de expansão do ensino se faz necessária para garantir a qualificação profissional de uma parcela da população disposta, ou com poucas escolhas, ou nenhuma alternativa, a atender a uma necessidade emergente de um mercado capitalista em plena expansão, e cada vez mais, sob a forte influência de organismos internacionais. As mudanças advindas dessa abertura são sentidas em todas as áreas, e no caso da Educação: Pode-se afirmar hoje, com certa segurança, que a política educacional neoliberal realiza, de forma sistemática, a subordinação da escola, em todos os níveis, às demandas técnicas e ético-políticas da burguesia brasileira. As novas diretrizes educacionais adotadas pelo Brasil 10 Principalmente a partir da década de 1930. 46 respondem aos imperativos do capital internacional para a América Latina e vêm sendo financiadas, como, aliás, todo o projeto de desenvolvimento, com recursos do Banco Mundial e do FMI11 (NEVES; FERNANDES, 2002, p. 27). Como nos lembra Locatelli (2011, p. 1-2), Sabe-se que as políticas educacionais que tiveram lugar na agenda pública brasileira a partir do final dos anos 1980 e durante toda a década de 1990 foram marcadas pelos princípios da descentralização, da privatização e da flexibilização. As diretrizes que orientaram o Estado brasileiro nessa direção foram claramente defendidas por organismos internacionais como o FMI, o Banco Mundial e a UNESCO e se alinhavam aos interesses da burguesia hegemônica, ligada ao sistema financeiro internacional e interessada em reduzir os gastos sociais do governo e dar amplas garantias aos credores nacionais e internacionais. Portanto, é forte a influência dos grandes organismos internacionais na definição das políticas públicas. Tanto é assim, que corrobora com o exposto Pereira (2006, p. 3-4) ao afirmar que: (...) há uma forte influência das agências multilaterais como o Banco Mundial (BIRD), o Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (UNESCO), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) entre outros; tanto no setor educacional quanto nos demais setores, pois a política, economia e cultura estão intrinsecamente interligadas se entrelaçam e se complementam. Vale destacar que o Banco Mundial criado em 1944, é uma instituição financeira que maneja operações de créditos, financiamentos e investimentos, envolvendo dinheiro público e privado. Tem sempre como presidente um cidadão americano e como portador do maior percentual de votos sobre as macropolíticas econômicas, os Estados Unidos da América. O Banco Mundial é composto por cinco instituições vinculadas entre si: O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), voltado para reestruturação das economias devastadas pela Segunda 11 O Banco Mundial e o FMI nasceram com a finalidade de articulação de uma nova ordem mundial no pós-guerra, na década de 1940, no sentindo de garantir estabilidade econômica e a segurança do capitalismo (LIMA, 2002, p. 42). 47 Guerra Mundial; A Agência Internacional de Desenvolvimento (AID); a Corporação Financeira Internacional(CFI); a Agência de Garantia de Investimento Multilaterais (MIGA); Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID) (SILVA, 2002, p. 50) No caso do Brasil, um marco importante e que representa essa adequação da educação local ao cenário internacional é a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e do Plano Nacional de Educação (PNE): (...) a Lei nº 9.394, de 1996, que "estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional", determina nos artigos 9º e 87, respectivamente, que cabe à União, a elaboração do Plano, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e institui a Década da Educação. Estabelece ainda, que a União encaminhe o Plano ao Congresso Nacional, um ano após a publicação da citada lei, com diretrizes e metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2010). Evidencia-se mais uma vez que a LDB “é fruto de um contexto em que as políticas no país, e não apenas as educacionais, sofriam a investida de orientações conhecidas como neoliberais, a maioria delas advindas de organismos internacionais12” (MICHELOTTO, 2010, p. 115), e é também nesse momento que a Educação a Distância passa a integrar as políticas educacionais no Brasil, embora o tema já estivesse presente nas discussões: No âmbito legal, a educação a distância no Brasil foi proposta como modalidade de ensino pela Lei n.º 9.394/96. Mas, anterior a esta lei, a educação a distância já se apresentava no planejamento de políticas públicas, quando da elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993 – 2003). O Plano Decenal de Educação para Todos teve forte influência da Conferência de Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien, na Tailândia, convocada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial, 12 O termo organização internacional refere-se tradicionalmente ao sistema das Nações Unidas, sendo a Unesco e a Unicef as agências especializadas em Educação. Entretanto, existem outros tipos de organizações internacionais que têm influência significativa no setor educacional, tais como o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comercio (OMC) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Cada uma dessas organizações apresenta sua própria história e sua própria visão da Educação (AKKARI, 2011, p. 28). 48 na qual o Brasil foi um dos 155 participantes. As decisões desta conferência foram sintetizadas na Declaração Mundial de Educação para Todos, que deveria constituir as bases dos planos decenais de educação para os países signatários desse documento, visando, prioritariamente, a universalização da educação básica. A Declaração Mundial de Educação para Todos já definia que muitas atividades poderiam ser realizadas conjuntamente pelos países, em apoio aos esforços nacionais de implementação dos planos de educação básica. Estas atividades deveriam ser concebidas com vistas ao aproveitamento das economias de escala e às vantagens comparativas dos países participantes. Assim, a gestão e uso dos serviços de educação a distância foi compreendida como área apropriada a essa forma de colaboração regional (NOGUEIRA, 2011, p 2). Entre os muitos artigos que compõem a Lei n° 9.394/96, está o artigo 80, que trata da EaD e institui que o “Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada” (BRASI. Presidência da República, 1996). Portanto, não é descontextualizado o fato de que, enquanto modalidade de ensino, a EaD teve 22 metas no PNE 2001-2010. Entre elas, as que se referem à criação de mecanismos legais, visando a orientações, credenciamento de instituições de ensino, sistemas de avaliação, ações e estratégias para a disseminação da EaD através do uso dos diferentes meios de comunicação disponíveis no país (DOURADO; SANTOS, 2011, p. 157), o que demonstra ser a regularização e o incentivo da EaD no país, uma medida estratégica. O documento que trata sobre a organização da EaD, bem como do credenciamento das IES públicas e privadas para oferta dessa modalidade de ensino, é o Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, e traz o seguinte texto: Art. 9o O ato de credenciamento para a oferta de cursos e programas na modalidade a distância destina-se às instituições de ensino, públicas ou privadas. Parágrafo único. As instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas, de comprovada excelência e de relevante produção em pesquisa, poderão solicitar credenciamento institucional, para a oferta de cursos ou programas a distância de: I - especialização; II - mestrado; III - doutorado; e IV - educação profissional tecnológica de pós-graduação. Art. 10. Compete ao Ministério da Educação promover os atos de credenciamento de instituições para oferta de cursos e programas a distância para educação superior. 49 Este documento era o que estava faltando para que as Instituições de ensino, principalmente as privadas, passassem a explorar de forma mais efetiva as possibilidades advindas da EaD, o que se percebe ao analisar o aumento nos números das Instituições que aderiram ao credenciamento após a promulgação da lei: No primeiro semestre de 2000, duas IES foram credenciadas para oferta de cursos e, ao final de 2007, já eram 104. De acordo com dados levantados no e-MEC, das 104 instituições de educação superior credenciadas, apenas 19 (18,3%) obtiveram esse credenciamento entre 1998 e 2003, enquanto que, de 2004 a 2007, o número sobe para 85, o que significa que 81,7% das IES foram credenciadas nesses quatro anos. (DOURADO; SANTOS, 2011, p.170). Ao que parece, a própria inserção da EaD, enquanto uma nova modalidade de ensino nas políticas públicas foi para proporcionar a inserção das instituições privadas nesse mercado educacional em plena expansão, já que tudo que é colocado como novo, presumidamente, amplia também as possibilidades de exploração. É importante observar que “se em 2001, ano em que o PNE entrou em vigor, o Brasil tinha apenas 6 IES credenciadas para a oferta de cursos superiores a distância, em 2011, de acordo com os dados do e-MEC, esse número subiu para 222 IES e 5.979 Polos de Apoio Presencial” (DOURADO; SANTOS, 2011, p.175), o que demonstra o alinhamento das políticas púbicas para o cumprimento das metas estabelecidas. Dentre as metas para a EaD descritas no PNE 2001-2010, também estão a ampliação da infraestrutura, redução de custos dos serviços de comunicação e informação, expansão nos diferentes níveis e modalidades de ensino, viabilização da inclusão digital para alunos, professores e funcionários da educação básica e superior, e, especialmente, o incremento da EaD na formação inicial e continuada dos professores da educação básica (DOURADO; SANTOS, 2011, p.157). Uma das estratégias adotadas para atingir as últimas metas expostas foi instituída pelo Decreto nº 5.800, de 08 de junho de 2006, que é a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB. Como já destacamos anteriormente, o Decreto traz considerações que representaram um grande avanço na trajetória da EaD no Brasil, reforçando o interesse do governo em organizar de forma sistematizada, e 50 incentivada, a educação a distância no país, bem como atender à necessidade de formar professores para a educação básica. Parágrafo único. São objetivos do Sistema UAB: I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica; II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV - ampliar o acesso à educação superior pública; V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação (BRASIL, 2006, grifo nosso). Em pesquisa promovida pelo UOL em abril de 2012, João Carlos Teatini, diretor de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), afirma que a UAB tem como prioridade a formação de professores: Temos hoje cerca de 1,7 milhão de professores na educação básica pública e cerca 400 mil sem formação adequada, conforme determina a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] de 1996. Entre os objetivos também está o apoio a cursos com foco o desenvolvimento regional. Sendo otimista, assim que a formação de professores, de caráter emergencial, entrar no fluxo, vamos abrir mais UAB para cursos com outros focos, pensando no desenvolvimento do Brasil (TEATINI, 2012). O diretor também afirma que o Ministério da Educação tem o plano de triplicar o número de matrículas em cursos públicos de Educação a Distância até 2014, passando de um total de 210 mil alunos para 600 mil, só na formação inicial e continuada. Vale ressaltar que as instituições públicas que oferecem graduação a distância, atualmente, de acordo com o censo 2010, são menos de 20%, ou seja, 85% são IES privadas. Os números totais de alunos em EaD no Brasil somam 930 mil matrículas, sendo o curso de pedagogia o mais procurado, com 273 mil alunos. 51 Sobre o PNE 2011-2020, que está em tramitação desde 2011 por conta do conflito sobre a meta que estabelece um percentual mínimo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) a ser investido em educação, no conjunto das 20 metas que determinam quais devem ser as políticas prioritárias, é possível perceber o quanto a EaD será uma condicionante para o alcance de algumas dessas metas, como por exemplo: (...) Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.(...) Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam (BRASIL. Ministério da Educação, 2013). Assim sendo, não há dúvidas de que a EaD está efetivamente incorporada às políticas públicas para a Educação no Brasil. No entanto, ainda há muito que se fazer no que concerne à qualidade do ensino promovido, pois como vemos: As políticas de educação implementadas em nosso país inseridas neste contexto são resultado das transformações decorrentes dos processos de reestruturação e manutenção do sistema capitalista mundial, consequência da internacionalização e globalização da economia e da utilização de medidas de ajustamento econômico e político de cunho neoliberal, privilegiando as relações de mercado em detrimento da vida social e da satisfação das necessidades básicas da população pobre, como educação, saúde, transporte, moradia, empregabilidade, entre outras, expressas pela minimização do papel do Estado em suas funções de promoção e garantia da equidade social (SANTOS, 2012). Diante do exposto, é possível pensar em democratização da Educação? 3.3 EAD COMO MECANISMO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO? Um dos objetivos do Sistema UAB é a redução das desigualdades de oferta do ensino superior nas diferentes regiões do país, o que evidencia a relação que se estabelece e se profere nos discursos sobre o tema, entre a EaD e as políticas para redução das desigualdades sociais. É importante considerar que as desigualdades 52 educacionais refletem diretamente nas demais esferas da sociedade 13, e “o discurso disseminado pelas políticas educacionais é o de que, por meio da democratização da educação pela EAD, possibilitando o acesso ao ensino superior a todos, teremos uma sociedade mais justa e democrática” (MALANCHEN, 2007, p. 210). Esse discurso, por vezes carregado de ideologias, tem gerado muitas controvérsias entre aqueles que se dedicam a pesquisar sobre o tema, pelo fato de se tornar cada vez mais evidente a transformação da EaD em um mecanismo de alta lucratividade, que vai se consolidando e se destacando no âmbito das instituições privadas, e com forte incentivo de um governo neoliberal, configurando o que vem sendo denominado como empresariamento da educação. Nos últimos anos, elementos de continuidade e novas expressões vêm à tona no que tange ao processo de abertura do setor educacional como opção de investimentos de grupos privados. O elemento de continuidade é garantido pelo reforço à concepção de educação como instrumento de preparação de mão –de – obra para o mercado e também de dominação ideológica através da visão de mundo empresarial. O elemento de novidade é o crescente empresariamento da educação com três aspectos importantes. O primeiro diz respeito à globalização crescente dos sistemas educacionais na América Latina, sendo cada vez mais significativos na região os incentivos para que as universidades públicas e privadas associem – se as universidades globais, através do estabelecimento de programas de diplomação compartilhada. O segundo aspecto refere-se à constituição das universidades corporativas implementadas nas ou pelas empresas. O terceiro se expressa no incentivo ao investimento na educação a distância, impulsionada pelo desenvolvimento das inovações tecnológicas. (LIMA, 2002, p. 55). Os processos, tanto de gestão quanto de elaboração das aulas, no âmbito das instituições de ensino, passam a adotar os mesmos modelos daqueles utilizados pelo empresariado na gestão das empresas, o que não é um fato novo: No Brasil, o processo de desenvolvimento de um setor empresarial na educação é antigo, remontando, pelo menos, ao período da ditadura militar. Entretanto, isso era dissimulado, pois a legislação proibia que 13 Para diversos autores, como por exemplo Baker (2004), Shwartzman (2006), dentre as políticas sociais, a educação ocupa posição especial. Essa posição de destaque não se restringe as teorias do capital humano – que atribuem a educação um papel fundamental para o desenvolvimento econômico - , mas também pela constatação mais recente de que as desigualdades educacionais são o principal correlato das desigualdades de renda, oportunidades e condições de vida. (PEREIRA, 2008, p. 45). 53 as instituições de ensino, “pela sua natureza”, dessem lucro. Apenas com a promulgação da Constituição de 1988 é que se explicitou a possibilidade de existência de escolas com fins lucrativos. A posterior regulamentação desse dispositivo na Lei de Diretrizes e Bases e na legislação complementar acelerou o seu crescimento (OLIVEIRA, 2009, p. 741). Pode-se dizer, considerando a legislação vigente, que “a expansão da educação superior no país tem sido objeto de políticas educacionais centradas em processos de diversificação e de diferenciação institucional, fortemente marcados por uma lógica privatista e mercantil” (DOURADO, 2011, p. 38). Todavia, não se pode ocultar que, mesmo em meio às discussões sobre o aspecto econômico que impulsiona a EaD, esta, aliada a outros programas voltados para a democratização do acesso ao ensino no país, principalmente o superior, tem contribuído para a expansão dos números da educação, como demonstram os dados do censo de 2010 : O número de matrículas, nos cursos de graduação, aumentou em 7,1% de 2009 a 2010 e 110,1% de 2001 a 2010. Vários fatores podem ser atribuídos a essa expansão: do lado da demanda: o crescimento econômico alcançado pelo Brasil nos últimos anos vem desenvolvendo uma busca do mercado por mão de obra mais especializada; já do lado da oferta: o somatório das políticas públicas de incentivo ao acesso e à permanência na educação superior, dentre elas: o aumento do número de financiamento (bolsas e subsídios) aos alunos, como os programas Fies e ProUni e o aumento da oferta de vagas na rede federal, via abertura de novos campi e novas IES, bem como a interiorização de universidades já existentes. Além dos fatores acima citados, outras iniciativas, sob a ótica da oferta, corroboram para a expansão ora discutida. A oferta de vagas na educação superior brasileira, historicamente, esteve localizada em cursos de bacharelado e na modalidade de ensino presencial. Diante da necessidade de rápida resposta para a formação de profissionais, e com a evolução das novas tecnologias, novos formatos de cursos têm sido adotados. A saber, os cursos na modalidade de ensino a distância e os cursos de menor duração voltados à formação profissionalizante de nível superior, chamados tecnológicos. Ao observar a trajetória do número de matrículas na educação superior nos últimos anos, fica evidente o destaque do crescimento desses cursos (INEP. Censo 2010). O Plano Nacional de Educação, exigido pela LDB e que passou a vigorar em janeiro de 2001, com a aprovação da Lei nº 10.172/01, no capítulo que aborda a educação a distância e as Tecnologias Educacionais, refere-se a essa modalidade de ensino “como um meio auxiliar de indiscutível eficácia” para enfrentar “os déficits 54 educativos e as desigualdades regionais” (BRASIL. Ministério da Educação, 2001). Talvez por isso, a EaD seja frequentemente acompanhada de um discurso de democratização do ensino, como no prefácio do livro Educação a Distância: estado da arte, no qual Fernando Haddad, na época Ministro da Educação, retrata como a Educação a distância tem contribuído para a democratização da oferta do ensino no Brasil ao afirmar que: [...] vivemos em um país de dimensões continentais, com população acima de 180 milhões de habitantes, distribuída em mais de 5.500 municípios, combinado a um conjunto de assimetrias regionais, cujos desafios educacionais demandam soluções práticas e inovadoras em relação à democratização da oferta educacional, especialmente da educação superior. Nesse sentindo, a educação a distância apresenta especificidades que podem, quando implementadas com critérios de qualidade, contribuir sensivelmente com a ampliação e, sobretudo, com a interiorização da oferta de educação em nosso país (HADDAD, 2009, prefácio). Compreende-se pelo exposto, que a EaD é colocada como um mecanismo de ampliação, que por meio da tecnologia, democratiza o acesso à educação no país, e principalmente à educação tecnológica. Todavia, talvez valha pensar que em uma sociedade capitalista seja possível falar em democracia a partir de um entendimento jurídico, mas não de possibilidades e condições reais de acesso aos bens. Ao refletirmos sobre o cenário educacional e as peculiaridades e discrepâncias sociais do Brasil14, inquieta-nos o fato de a Educação estar sendo transformada em um produto, que é produzido para atender a uma tendência mercadológica, e com vistas prioritariamente à lucratividade, principalmente por parte das IES privadas: 14 A taxa de analfabetismo da população de 15 anos chega a 28% nos municípios com até 50 mil habitantes na região Nordeste; o percentual de analfabetos entre pretos (14,4%) e pardos (13,0%) era, em 2010, quase o triplo dos brancos (5,9%). No caso do analfabetismo de jovens, na região Nordeste, mais de ½ milhão de pessoas de 15 a 24 anos de idade (502.124) declararam que não sabiam ler e escrever. Na região do Semiárido a taxa de analfabetismo foi de 24,3%, em 2010. Em relação ao saneamento básico, embora a proporção de domicílios adequados (ligados à rede geral de esgoto ou fossa séptica, abastecidos por rede geral de água e com lixo coletado direta ou indiretamente por serviço de limpeza) tenha subido de 56,5% em 2000 para 61,8% em 2010, nas cidades menores (com até 5 mil habitantes), não chegava a 1/3 (30,8%), enquanto nas maiores (mais de 500 mil habitantes) era 82,5%. (IBGE, Censo 2010). 55 No contexto atual do capitalismo, sobretudo com o sucesso incontestável dos sistemas midiáticos de vocação mundial (televisão e internet), o campo educacional aparece como uma nova fatia de mercado extremamente promissora, na qual o avanço técnico em telecomunicações permite uma expansão globalizada e altas taxas de retorno para investimentos privados transnacionais. Evidentemente, o modelo neoliberal selvagem, aplicado aos países periféricos segundo receitas das agências internacionais, só vem favorecer a expansão de iniciativas mercadológicas de larga escala, colocando nos mercados periféricos, a exemplo do que ocorre há muito no campo da comunicação, produtos educacionais de baixa qualidade a preços nem tão baixos. É aí que se abre o mercado da educação a distância, no qual o uso intensivo das TICs se combina com as técnicas de gestão e marketing, gerando formas inéditas de ensino que podem até resultar, às vezes e com sorte, em efetiva aprendizagem (BELLONI, 2002, p. 120-121). É fato que esse olhar não se lança somente para a Educação a Distância, mas essa, pelas suas peculiaridades técnicas, merece especial atenção, considerando seu poder de abrangência, e as contradições que emanam de sua prática. De um lado, tem–se o empresariado da Educação, e do outro uma população, em grande parte, desprovida de condições para ingressar no ensino superior, e que vê, na EaD, a grande oportunidade para ascender socialmente, tendo maiores possibilidades de adentrar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, pouco se preocupando com as condições qualitativas da formação que lhe serão ofertadas, tendo em vista a massificação dos processos: A possibilidade de acesso e ao baixo custo praticado por incentivo do governo de FHC, a educação superior a distância se expandiu de norte a sul do país, especialmente nas instituições de ensino privadas. Além disso, a necessidade de ampliação da oferta da educação superior como forma de garantir o desenvolvimento social, satisfazendo assim as urgências sociais e culturais, provocou nas Instituições a adoção da oferta de cursos à distância para atender às novas demandas de acesso dos jovens à educação superior e à capacitação profissional (...) As vantagens que essas mudanças trazem para o processo educativo, como atingir uma população maior de alunos e expandir as possibilidades de acesso à educação superior, vêm acompanhadas de elementos questionáveis, como a transformação da educação em negócio lucrativo para as instituições, que redimensionam a utilização do quadro profissional para atingir um maior número de alunos com um custo menor (GUASTI, 2009, p.6-7). 56 Não se pode ignorar o fato de que, em uma sociedade onde a tecnologia está à frente dos principais processos de produção, como é a sociedade contemporânea, a educação não poderia ser diferente, ou seja, a educação é o reflexo do contexto social, e, portanto, não há como ignorar que o ensino precisa incorporar e ser incorporado pelas tecnologias, ainda mais em um país com as dimensões geográficas como é o Brasil. Porém, o que suscita inquietações, é o fato dessa transformação da educação em um grande mercado, ignorar as peculiaridades e necessidades dos seus diferentes públicos, oriundos de divergentes grupos e classes sociais, abstendo-se dos resultados que serão de fato atingidos ao final dessa formação, uma vez que se propaga um modelo de formação em massa. Democratiza-se o acesso aos menos favorecidos economicamente, mas se ignora as condições verdadeiramente necessárias para se atingir uma formação de qualidade. Hoje em dia, um curso a distância já não é mais um curso por correspondência unidirecional, em que se enviam livros e outros textos pelo correio e se espera que o aluno já saiba estudar e aprender. É preciso cercar-se de uma multiplicidade de recursos para alcançar êxito. Primeiro, mesmo em lugares em que uma das ênfases da escola é ensinar a aprender, desenvolvem-se materiais de alta qualidade para ensinar a estudar; e, particularmente, a estudar sozinho (NUNES, 2009, p.2). Embora tenha se referido às escolas de formação técnica da Itália, Gramsci (2006, p. 49-51) ajusta-se perfeitamente ao momento contemporâneo brasileiro. Segundo ele há uma explosão de cursos técnicos, de nível técnico ou superior de tecnologia, o que nos faz refletir sobre uma questão central para a educação: A multiplicação de tipos de escola profissional tende a eternizar as diferenças tradicionais; mas, dado que, nessas diferenças, tende a criar estratificações internas, faz nascer a impressão de ter uma tendência democrática [...]. Mas, a tendência democrática, intrinsecamente, não pode significar apenas que um operário manual se torne qualificado, mas que cada “cidadão” possa se tornar “governante” e que a sociedade o coloque, ainda que “abstratamente” nas condições gerais de poder tornar-se tal (GRAMSCI, 2006, p. 4951). E é justamente essa a questão que talvez mais incomode aos educadores e intelectuais dedicados à educação, pois uma educação desigual, contribui para a manutenção de uma estrutura de poder que separa dominantes e dominados, e, 57 nesse aspecto, é importante refletir a educação ou pelo menos o que deveria ser a educação em seu sentido mais amplo: O processo, através do qual, nas situações históricas específicas, o homem conquista uma forma própria de ser homem é aquilo que, no espaço de nosso processo civilizatório, se chama educação. Nessa perspectiva, a educação é o próprio fazer-se do homem, a conquista de sua humanidade de modo que o interferir neste processo, a educação no sentido mais restrito, só, pode ser entendido a partir desta perspectiva maior em que a educação aparece, em primeiro lugar, como o próprio existir histórico do homem (OLIVEIRA, 1996, p. 204). A educação é inerente ao humano e está presente em toda a sua vida como um processo de constituição do homem enquanto um ser social pertencente a uma determinada sociedade. A Educação é parte integrante e condicionante para a construção do homem em homem: Não se deve nunca perder a concepção ampla de educação, que vai muito além da escola, professores, alunos e edifícios escolares. A educação como processo inerente à espécie humana se inicia desde a concepção do ser humano – como indivíduo ainda no útero da mãe, e que não tem terminalidade nem completitude – até o seu desaparecimento (FORMIGA, 2009, p. 40). A Constituição Federal, no Art. 205, trata a Educação como sendo “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Todavia, no movimento histórico de uma sociedade capitalista, é preciso pensar em Educação a partir dos pressupostos de desenvolvimento econômico, e nessa perspectiva, analisar as contradições que afloram dos discursos e das práticas que sustentam o fenômeno EaD. No intuito de aprofundar a nossa reflexão sobre esse assunto, no próximo capítulo serão apresentados os dados empíricos da pesquisa. 58 4 A EAD NA REGIÃO NORTE DO BRASIL 4.1 A PESQUISA DE CAMPO Na sociedade contemporânea, a internet propicia a construção de formas diferentes de relacionamentos, conforme nos diz Moran (1995): Há um novo reencantamento pelas tecnologias porque se participa de uma interação muito mais intensa entre o real e o virtual. A comunicação é real “estamos conectados efetivamente com milhares de computadores” e, ao mesmo tempo, nossa comunicação é virtual: permanece-se na nossa casa ou escritório, navega-se sem se mover, colhem-se dados que já estão prontos, conversa-se com pessoas que não se conhece e, talvez, nunca será vista ou encontrada de novo. Vive-se numa fase de reorganização de todas as dimensões da sociedade, do econômico ao político, do educacional ao familiar. Como em todos os períodos, a educação é movida a acompanhar os avanços de cada sociedade, e, principalmente, atender às demandas do modo de produção vigente. A EaD é o modelo de ensino que incorpora as tecnologias disponíveis e já utilizadas pelos alunos, e reproduz, no ensino, práticas advindas do convívio diário de uma geração condicionada aos aparatos tecnológicos e virtuais. Nesse modelo de ensino, os Ambientes Virtuais representam um papel fundamental: Na Educação a Distância, o AVA tem papel primordial no processo de aquisição de conhecimento, tendo em vista que através dele organizam-se as ferramentas para acessos aos cursos, promove-se a interação com os conteúdos e possibilita-se a realização das atividades de aprendizagem (TEIXEIRA; AGOSTINHO, 2012, p. 89). No intuito de conhecer um pouco mais a realidade do aluno EaD no que tange ao uso das tecnologias da informação e comunicação, mais especificamente neste estudo, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, já que as principais categorias que permeiam esta pesquisa são o consumo de massa e as tecnologias da informação e comunicação, foram buscadas informações junto a uma instituição de Ensino Superior Privada, situada em Curitiba/PR. Para definição da amostra, questionou-se a IES sobre qual seria a região que mais apresentava dificuldades 59 relacionadas à utilização do AVA, e a mesma indicou a região norte, mais especificamente alguns polos dos Estados do Amapá e Pará. Ao buscar mais informações sobre o assunto, percebeu-se estar tratando de uma das áreas do Brasil que ainda apresenta grande dificuldade de acesso à internet, onde estão sendo feitos investimentos do governo nesse sentido, como anteriormente declarado pela presidenta Dilma, e apresentado na reportagem exibida em 01/06/2012, no Portal Brasil: O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, juntamente com o presidente da Telebras, Caio Bonilha, e o governador do Amapá, Camilo Capiberibe, lançaram nesta sexta-feira (1°), em Macapá (AP), o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) na Região Norte do País. Na ocasião, também será assinado um memorando de entendimento entre a Oi e a Telebras para a infraestrutura de banda larga no Amapá. [...]. O objetivo é dispor de uma rede neutra que ofereça condições e preços iguais em todas as regiões do país. Isso contribuiu para diminuir as desigualdades regionais, especialmente naquelas regiões onde os custos para o acesso à internet estavam muito acima do mercado. Entendendo que a região realmente apresenta dificuldades relacionadas à qualidade do acesso à internet, para dar prosseguimento à pesquisa, foi elaborado um questionário, com perguntas fechadas, o qual foi enviado aos alunos da região de Altamira e Monte Dourado, no Estado do Pará, regiões indicadas pela IES como situadas entre as que mais apresentam dificuldades no que tange ao uso da internet. O questionário foi enviado de forma eletrônica para os e-mails dos alunos e para o coordenador do polo presencial. O coordenador do polo de Altamira, ao colocar-se à disposição para ajudar na pesquisa, ressaltou, por e-mail, à pesquisadora os problemas que a região enfrenta relacionados às tecnologias da comunicação, mais precisamente a internet: Além do prazer em contribuir com vossa pesquisa, em oportuno gostaria de agradecer por vossa iniciativa em ter o olhar voltado a nossa realidade que por diversas vezes é pouco compreendida se comparado a globalização que vivemos atualmente. Residimos em uma localidade de difícil acesso, não possuímos telefonia celular, nossa internet ainda é via Rádio e os telefones fixos constantemente apresentam problemas na linha [...] (coordenador do polo de Altamira). 60 Os questionários foram, então, enviados para os alunos de diversos cursos superiores oferecidos nas cidades citadas, tais como Pedagogia, Processos Gerenciais, Secretariado, Gestão Pública, Gestão Comercial e outros, somando um total de 249 questionários. De acordo com Medeiros, Steiner Neto e Zotto (2001) em seu artigo Usando questionários virtuais em pesquisas quantitativas, Diversos autores concordam a respeito de vantagens e desvantagens dos questionários. Algumas vantagens comumente citadas: pode-se obter uma boa amostra da população, o anonimato é garantido, não há pressão por parte do entrevistador, a tabulação de dados pode ser feita com maior facilidade e rapidez que outros instrumentos (entrevista, por exemplo), o custo é reduzido (não há necessidade de entrevistadores), rapidez e ausência de vieses por parte dos entrevistadores na aplicação. Como desvantagem principal, todos citaram a percentagem pequena de devoluções A desvantagem apresentada pelos autores foi confirmada no universo da pesquisa. Os questionários foram enviados e reenviados por mais três vezes, e mesmo assim somente doze os retornaram, o que significa 5% do total de participantes. Esse número também ratifica a dificuldade enfrentada pelos pesquisadores para obter retorno neste tipo de pesquisa, ou até mesmo pode ser considerada uma resposta silenciosa à pergunta sobre as dificuldades de acesso. Contudo, sabe-se que quando uma amostra é muito pequena, pode afetar o resultado, conforme nos mostram Freitas et al em sua pesquisa: Outro aspecto que pode afetar a qualidade dos resultados é a nãoresposta, representada pelo indicador taxa de resposta. Moscarola (1990) apresenta uma leitura simplificada desse tema. Ele ressalta (p.63) a “lei dos grandes números”, segundo a qual com uma amostra inferior a 30 observações se tem chances de encontrar tanto um valor errôneo ou defasado como um valor se aproximando da realidade. As chances de obtenção de valores ou resultados alinhados com a realidade aumentam consideravelmente com 100 observações e são ainda bem melhores com 300 (FREITAS et al, 2000, p.107). Por conta do número de respostas atingidas com o questionário ser muito menor do que o desejável, outros instrumentos foram incorporados à pesquisa. Todavia, julga-se importante que sejam apresentados os pontos levantados por meio 61 do questionário, principalmente relacionados à efetividade do uso das ferramentas disponibilizadas nos ambientes virtuais de aprendizagem. Ainda que insuficientes para fundamentar a nossa pesquisa, tais dados fazem parte do caminho percorrido pela investigação, e é assim que passam a ser considerados a seguir. O questionário foi organizado em três blocos de perguntas. O primeiro foi relacionado ao perfil do aluno, com o intuito de identificar as principais características do aluno que procura um curso EaD, como idade, faixa salarial, estado civil, número de computadores em cada residência, e quantas pessoas partilham do mesmo equipamento. É importante considerar os perfis dos participantes que irão estudar na modalidade a distância, no sentido de que as características desejadas para ingressar neste tipo de programas contemplem as capacidades para o auto-estudo e motivação que lhes permita superar os obstáculos inerentes a modalidade, assim como um domínio acessível das habilidades para utilizar os recursos das TIC, incluindo os ambientes virtuais de aprendizagem (MERCADO, 2007, p.1). O segundo bloco de perguntas foi relacionado à utilização das tecnologias da informação, e o participante poderia escolher mais de uma opção de resposta. O objetivo desse bloco foi o de identificar como esse aluno interage com as tecnologias considerando: tempo de estudo, participação de grupos sociais, adaptação à metodologia EaD e ao local onde costuma estudar. O terceiro e último bloco de questões disse respeito à qualidade de acesso à internet, e os participantes também poderiam eleger mais de uma resposta. O objetivo deste bloco foi identificar o tipo de conexão a que esses alunos têm acesso, e se de alguma forma isso interfere na realização dos trabalhos do curso. Ressalta-se a importância sobre a compreensão desses dados, pois: A qualidade dos recursos tecnológicos quanto à facilidade de utilização, conteúdo didático e acessibilidade são pontos que devem ser considerados com especial atenção, pois são exatamente esses recursos que permitirão ao aluno visualizar, participar, interagir, cooperar e construir o conhecimento. (OESTERREICH; MONTOLI, 2010, p. 2). Assim sendo, vamos à análise dos dados auferidos: 62 4.1.1 Bloco 1: Identificação do Perfil Nesse bloco de questões foi possível identificar que a maioria dos alunos aqui apresentados situa-se na faixa etária de 18 a 25 anos, seguido da segunda faixa etária que compreende 25 a 32 anos de idade. TABELA 1 – FAIXA ETÁRIA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA IDADE 18 a 25 25 a 32 32 a 45 Mais de 45 anos Nº 6 4 1 1 A grande maioria é oriunda de escola pública, e desses, 7 pessoas são casadas. TABELA 2 – TIPO DE ESCOLA EM QUE CURSOU O ENSINO MÉDIO TIPO DE ESCOLA Escola pública Escola privada Escola privada com bolsa EJA Nº 11 1 0 0 TABELA 3 – ESTADO CIVIL DOS ENTREVISTADOS ESTADO CIVIL Casado Solteiro Nº 5 7 Ao serem questionados os entrevistados casados quanto ao número de filhos, três respondeu que tem um filho e dois não tem nenhum. Quanto à faixa salarial, todos os solteiros recebem entre 1 e 3 salários mínimos. A grande maioria dos entrevistados trabalha em empresas privadas, e possuem apenas 1 computador em casa (Tabelas 4 e 5) TABELA 4 – RENDA MENSAL DOS PARTICIPANTES RENDA MENSAL De 1 a 3 salários mínimos De 3 a 5 salários mínimos De 5 a 10 salários mínimos Nº 9 3 0 63 TABELA 5 – TIPO DE EMPRESA EM QUE TRABALHA TIPO DE EMPRESA Empresa pública Empresa privada Não trabalha Nº 2 9 1 TABELA 6 – QUANTIDADE DE COMPUTADORES DOMICILIARES COMPUTADORES DOMICILIARES 1 computador 2 computadores Mais que 2 computadores Nº 8 2 2 TABELA 7 – QUANTIDADE DE PESSOAS QUE UTILIZAM O COMPUTADOR NA FAMÍLIA USO DE COMPUTADOR NA FAMÍLIA 1 pessoa 2 pessoas 3 ou mais pessoas Nº 2 5 5 4.1.2 Bloco 2: Utilização das Tecnologias da Informação Neste bloco, dedicado à utilização das tecnologias da informação, foi possível eleger mais de uma resposta. Assim, ao perguntar sobre qual o principal motivo que levou o aluno a escolher o ensino a distância para fazer um curso superior, 10 pessoas responderam que optaram por essa modalidade porque as faculdades presenciais são distantes de onde moram; 4 por falta de tempo para frequentar o ensino presencial e 2 pelo valor da mensalidade. A grande maioria (10 participantes) não teve experiências anteriores com o ensino a distância. TABELA 8 – MOTIVOS QUE LEVARAM A ESCOLHA DO ENSINO A DISTÂNCIA PARA FAZER UM CURSO SUPERIOR RAZÕES PELA ESCOLHA DA EaD Nº As faculdades presenciais são distantes de onde eu moro 10 Falta de tempo para frequentar o ensino presencial O valor da mensalidade Identificação com a modalidade de ensino 4 2 0 64 TABELA 9 – EXPERIÊNCIAS ANTERIORES EM CURSOS MINISTRADOS A DISTÂNCIA EXPERIÊNCIAS EM EaD Nº Sim 2 Não 10 Ao perguntar se eles sentiram algum tipo de dificuldade pessoal para se adaptar ao ensino a distância relacionada à utilização das tecnologias, as respostas foram as seguintes: TABELA 10 - DIFICULDADE PESSOAIS PARA SE ADAPTAR AO ENSINO A DISTÂNCIA RELACIONADA À UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO ÀS TICs Nº Nenhuma, pois consigo utilizar as ferramentas com segurança e domínio 3 Sim, com relação à navegação no ambiente virtual de aprendizado (rotas, chat, fórum) 4 Sim, para ler os textos e livros indicados na tela do computador 6 A pergunta seguinte estava relacionada à frequência com que os pesquisados costumam acessar a internet. Neste item, a maioria respondeu que acessa várias vezes ao dia (7 pessoas); 3 pessoas acessam de 2 a 3 vezes na semana, e 1 acessa apenas 1 vez ao dia. Um aluno costuma acessar apenas uma vez na semana, no polo de apoio presencial. Quanto à pergunta com que frequência você acessa a internet para estudar a resposta foi praticamente a mesma. TABELA 11 – FREQUÊNCIA DE ACESSO A INTERNET FREQUÊNCIA DE ACESSO Nº 1 vez por semana 1 2 a 3 vezes por semana 3 1 vez ao dia 1 Várias vezes ao dia 7 65 Também foi questionada a quantidade de horas que esse aluno permanece estudando e utilizando o computador. Para tal pergunta, 4 pessoas responderam que ficam 1 hora; 3 pessoas disseram ficar 2 horas; 2 pessoas responderam 3 horas; 1 pessoa disse ficar 3 a 4 horas estudando; 1 pessoa respondeu 5 horas, e uma participante afirmou ficar até 6 horas estudando em frente ao computador. TABELA 12 – FREQUÊNCIA DE ACESSO A INTERNET PARA ESTUDO ACESSO A INTERNET PARA ESTUDO 1 vez por semana Nº 0 2 a 3 vezes por semana 2 1 vez ao dia 2 Várias vezes ao dia 8 Somente nos períodos que antecedem as provas 0 A grande maioria costuma acessar a internet no seu local de trabalho, e dessas, 2 também acessam no celular, 4 pessoas acessam em casa e uma pessoa acessa no polo e em lanhouse, como é possível observar na tabela 13. TABELA 13 – LOCAIS DE ACESSO A INTERNET LOCAIS Nº Casa 4 Trabalho 9 Lanhouse 1 Celular 2 polo de apoio presencial 1 A metade dos participantes participa diariamente das redes sociais, e 2 deles não fazem parte da rede. 66 TABELA 14 – PARTICIPAÇÃO EM REDES SOCIAIS: FACEBOOK, TWITTER... PARTICIPAÇÃO EM REDES SOCIAIS Nº Sim, todos os dias 6 Eventualmente 4 Não faço parte da rede 2 Ao perguntar sobre o horário em que os participantes costumam ler os textos e assistir os vídeos do seu curso, as respostas foram as seguintes: TABELA 15 – HORÁRIOS DEDICADOS À LEITURA DE TEXTOS E PARA ASSISTIR VÍDEOS DO CURSO HORÁRIOS Nº Ao longo do dia no trabalho 2 No trabalho, no intervalo do almoço 1 No polo de apoio presencial no dia aula 1 No polo de apoio presencial, mais de uma vez na semana 1 Em casa à noite 6 Somente nos finais de semana, em casa 2 4.1.3 Bloco 3: Qualidade de Acesso No terceiro e último bloco foi possível eleger mais de uma resposta e está relacionado à qualidade do acesso. Assim, ao se perguntar sobre qual é o tipo de conexão à internet a que os participantes têm acesso, apenas duas pessoas responderam ter acesso a uma internet banda larga; 7 participantes afirmam utilizar uma internet discada, 2 participantes têm acesso a uma internet via rádio, e um dos participantes tem acesso em casa somente pelo celular. 67 TABELA 16 – TIPO DE CONEXÃO A INTERNET CONEXÃO A INTERNET Nº Internet banda larga 2 Internet discada 7 Rádio 2 Celular 1 Quanto à qualidade do acesso à internet, no que se refere à agilidade da conexão, apenas 2 responderam que possuem uma internet rápida que permite abrir todos os documentos, livros e vídeos com facilidade. Os demais acessam uma internet limitada, que demora para carregar os textos, dificultando o acesso aos materiais indicados. TABELA 17 – QUALIDADE DE ACESSO À INTERNET NO QUE SE REFERE A AGILIDADE DA CONEXÃO AGILIDADE DA CONEXÃO A INTERNET Uma internet rápida que permite abrir todos os documentos, livros e vídeos com facilidade. Uma internet limitada, que demora para carregar os textos, dificultando o acesso aos materiais indicados Nº 2 10 Questionou-se, também, se algum participante já perdeu prova ou alguma atividade importante por dificuldade de acesso à internet. Dos 12 entrevistados, 5 responderam que algumas vezes; 5 afirmaram nunca terem perdido, e 2 que já perderam muitas vezes. TABELA 18 – PERDA DE PROVA E/OU ALGUMA ATIVIDADE IMPORTANTE POR DIFICULDADE DE ACESSO À INTERNET PERDA DE PROVA OU ATIVIDADE Nº Algumas vezes 5 Nunca 5 Muitas vezes 2 68 Ao perguntar se alguma vez eles se sentiram prejudicados em seus estudos por problemas com a tecnologia utilizada, 10 pessoas responderam que algumas vezes e 2 que muitas vezes. TABELA 19 – PREJUÍZOS NOS ESTUDOS CAUSADOS POR PROBLEMAS DE UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA PREJUÍZOS X USO DA TECNOLOGIA Nº Algumas vezes 10 Nunca 0 Muitas vezes 2 A última pergunta desse bloco foi se o aluno se sente estimulado para participar das atividades de tutoria, como fórum e chat: 5 pessoas responderam que não acessam por conta da dificuldade em acessar a rede; 5 por falta de tempo; 1 respondeu que às vezes, dependendo do assunto, e 1 que não participa porque não considera importante. TABELA 20 – ESTÍMULO PARA PARTICIPAR DAS ATIVIDADES DE TUTORIA: FÓRUM, CHAT... PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES DE TUTORIA Nº Às vezes, dependendo do assunto 1 Às vezes, dependendo da minha disponibilidade de tempo 5 Participo sempre 0 Não participo porque não considero importante 1 Não participo porque tenho dificuldade para acessar 5 Os resultados obtidos, mesmo que em quantidade insuficiente para a fundamentação da nossa pesquisa, trazem um indicativo que reforça, de certa forma, o que as pesquisas nos mostram quanto ao aluno EaD: trabalhadores, que moram distantes das universidades locais, com pouco tempo para estudar, e em uma faixa salarial média de 3 salários mínimos. As hipóteses levantadas a partir da empiria do pesquisador quanto às implicações das dificuldades de acesso foram de certa forma, alimentadas pela 69 afirmativa dos alunos sobre a dificuldade de ler os materiais e resolver os exercícios propostos. Ao encontro dos dados obtidos por meio do questionário, tem-se a pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, denominada de Mapa da Inclusão Digital, nome que substitui o primeiro projeto lançado pela Fundação há dez anos com o nome de Mapa da exclusão digital. A pesquisa traz informações importantes para a compreensão dos números sobre o acesso à internet no Brasil. De acordo com Neri (2012, p. 42), pesquisador responsável, existe uma “brecha digital brasileira”, a qual é representada pelos seguintes números15: Na classe A 90% possuem acesso a computador, contra apenas 2,5% na classe E [...]. A brecha digital preocupa não apenas porque a distância de oportunidades e de resultados entre providos e desprovidos de acesso à Tecnologia de Informação e Comunicação tende a aumentar numa época de forte inovação tecnológica, mas pela oportunidade de diminuir esta mesma desigualdade através de ações que melhorem a distribuição da quantidade e a qualidade do acesso digital. A pesquisa destaca, ainda, que existem poucos estudos que tratam da inclusão e da exclusão digital a partir da empiria. A maior atenção está voltada para a geração de empregos para a classe média e alta, e para a indústria de fomento das TIC. “A discussão raramente se enveredava para o acesso às tecnologias pelo lado do pobre usuário, seja ele empregado, desempregado ou estudante(...)” (MAPA DA INCLUSÃO DIGITAL, 2012, p. 42). A pesquisa também demonstra que apesar de o Brasil ter evoluído em nove anos de um percentual de 8% para 33% de domicílios com acesso a internet, observa-se, nos estados da federação, uma desigualdade muito expressiva de acesso. Enquanto que no Distrito Federal tem-se 66,48% da população com computador em casa, e 58,69% com internet, nas regiões norte e nordeste encontram-se os menores índices. Como exemplos, destacamos os Estados pesquisados (Pará e Amapá), sendo que no Amapá 28,64% tem computador e 22,07% internet em casa, e no Pará 20,53% da população tem computador em casa, mas apenas 13, 75% possui acesso à internet. Mais crítica ainda é a situação do 15 Vale destacar que a pesquisa foi feita a partir dos dados do Censo Demográfico de 2010 e do Gallup World Poll. O censo traz informações de 5565 municípios brasileiros, e Gallup de 150 países 70 Maranhão que apresenta o menor índice do ranking, pois 15,16% possuem computadores 10,98% acesso a internet em seus lares (MAPA DA INCLUSÃO DIGITAL, 2012, p. 24). A pesquisa destaca ainda que em Macapá o acesso à banda larga é de apenas 1,69% dos domicílios que possuem acesso a internet (MAPA DA INCLUSÃO DIGITAL, 2012, p.40). 4.2 RELATÓRIO INSTITUCIONAL: DÚVIDAS E DIFICULDADES DE ACESSO Em face ao baixo retorno atingido com o primeiro instrumento utilizado, buscaram-se junto à Instituição outras fontes de informações relativas ao acesso dos alunos à plataforma virtual, chegando-se, então, ao documento que deu maior suporte à pesquisa: o registro das solicitações e reclamações a partir de todos os alunos da Instituição no período 01/01/2012 à 20/11/2012. Através deste documento, foi possível identificar o número de contatos que os alunos fizeram para obter informações sobre como acessar o ambiente virtual. O relatório apresenta um número significativo de pessoas que encontram algum tipo de dificuldade relacionado ao acesso à rede, e a utilização do Ambiente Virtual, o que reforça, em muitos casos, a falta de preparo do aluno que estuda a distância sobre o uso da própria tecnologia que lhe será o canal de comunicação. O relatório fornecido registrou 17.728 contatos dos alunos pedindo algum tipo de informação, ou reclamando sobre os acessos aos diferentes tipos de atividades ou serviços proporcionados pelo Ambiente Virtual. Neste montante, 16.134 alunos entraram em contato para pedir orientações sobre como acessar, e 1.594 registraram algum tipo de reclamação. Analisemos os dados por meio da tabela 21. 71 TABELA 21 - REGISTRO DE CONTATOS - IES AVA ÚNICO Informações Sobre o acesso Reclamações. TOTAL Material Biblioteca de aula Virtual Disciplinas Slides Provas Atividades Doc. Gerais Total 170 69 776 1.174 413 13.532 16.134 180 287 102 501 137 387 1.594 350 356 878 1.675 550 13.919 17.728 4.2.1 Portais de acesso AVA e ÚNICO O primeiro item, Ava/Único, refere-se ao portal do aluno, ou seja, é o ambiente pelo qual o aluno tem contato com todas as informações do seu curso. No AVA (ambiente virtual de aprendizagem), ficam disponíveis as aulas, os exercícios, provas e mecanismos de interação como chat e fórum. No portal ÚNICO16, o aluno pode acessar suas notas, solicitar documentos e boletos, e também acessar a biblioteca virtual. Para este item, 170 pessoas encontraram algum tipo de dificuldade e entraram em contato para pedir ajuda, e mais 180 registraram alguma reclamação relacionada ao portal. É importante ressaltar que o relatório não especifica o tipo de problema enfrentado, mas a IES afirma que entre as principais questões registradas estão a dificuldade do aluno em acessar o ambiente, e a instabilidade do próprio sistema. Esses dados vão ao encontro das afirmações de Mercado, em seu estudo sobre as dificuldades na educação a distância online: A EAD baseada nas TIC requer uma alfabetização tecnológica que pode se tornar um obstáculo insuperável para alguns; o manejo do editor de textos, uma planilha de cálculos, um banco de dados, instalação de software, navegação e pesquisa na Internet, uso do e16 Portal de apoio acadêmico específico da IES pesquisada. 72 mail, são algumas das habilidades que o aluno precisa desenvolver frente as TIC para estudo online. Na EAD os alunos experimentam uma série de dificuldades e necessidades por não contarem com a experiência prévia, nem as habilidades necessárias para enfrentar com êxito esta modalidade de estudo. Constitui uma experiência de aprendizagem nova pelas condições próprias da modalidade e porque supõe retomar o papel de aluno em paralelo as suas atividades cotidianas (MERCADO, 2007, p.4). Em outras palavras, não basta ter acesso, é preciso saber utilizar a ferramenta. Corrobora com o exposto Neri (2012, p.7) ao afirmar que não basta subsidiar computadores e abrir centros públicos de acesso à internet. É preciso mostrar às pessoas a importância da internet e ensiná-las a usar a rede. A IES informou também que todos os alunos recebem as devidas orientações sobre como navegar no Ambiente Virtual, tanto no ato de sua matrícula, como pelo canal da tutoria, e também presencialmente no polo. Contudo, muitos alunos ainda precisam de ajuda para conseguir avançar, e não poderia ser diferente, pois embora se fale bastante sobre inclusão digital, os números mostram que ainda há muito para que ser superado, no que tange à qualidade do acesso e domínio sobre as tecnologias da comunicação, pelas classes sociais menos favorecidas concomitantemente. 4.2.2 Biblioteca Virtual O segundo item refere-se à Biblioteca Virtual (BV), que, além de ser um complemento para os estudos, também é utilizada para acessar os materiais indicados nas atividades pedagógicas, que compõem a nota do aluno. É importante ressaltar, que: Internet, hipertexto eletrônico, hipermídia/multimídia, CD Rom, DVD, cada vez mais, fazem parte de nosso cotidiano e a escola, por maiores que sejam as suas dificuldades para disponibilizar as novas mídias aos seus alunos, não pode se omitir a esse movimento. As TIC, ao se integrarem à sociedade, nos impõem um novo paradigma, o qual passa a exigir da escola a inclusão digital de seus alunos (PAN; VILARINHO, 2008, p. 3). 73 Neste item, o número de reclamações foi bem superior ao pedido de informações, o que corrobora com os dados dos questionários, em que os alunos afirmam ter algum tipo de dificuldade para ler os textos indicados no computador. Vale ressaltar que para estudar nessa modalidade, além da inclusão digital, que se refere ao acesso à tecnologia, é preciso que o aluno esteja um passo a frente, tenha o chamado letramento digital: De acordo com Buzato (2003), o letramento digital é "o conjunto de conhecimentos que permite às pessoas participarem nas práticas letradas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos no mundo contemporâneo". O letrado digital ou eletrônico é aquele que domina as características e especificidades do hipertexto (texto virtual) e as normas e convenções que o habilitam a trabalhar e explorar esse texto (MESQUITA, 2008, p.1). Como se vê, trata-se de um fator que vai além da capacidade da internet, ou de outros fatores relacionados à tecnologia utilizada, pois se refere aos desafios que a leitura de um texto digital impõe: Todos aqueles que podem ler um texto impresso não o lêem da mesma forma; com a hipertextualidade, no entanto, observamos que as diferenças ainda tendem a ser maiores. A não-linearidade permite ao indivíduo recortar o texto, “navegando” em qualquer sentido: não há o certo ou o errado, são opções feitas pelo navegador [...] As principais mudanças trazidas pela rede são: a leitura descontínua, hipertextual e tematizada. Na realidade, o hipertexto veio alterar nossa noção de textualidade, pois é um texto plural, que não possui um centro discursivo e margens; é produzido por um ou vários autores, estando sempre em mudança e recomeçando de maneira associativa, cumulativa, multilinear e instável. Com o uso do computador alteramos nossa forma de pensar, tornando menos nítidos os limites entre o pensar e o escrever (PAN; VILARINHO, 2008, p. 3-4). Embora discutir essa temática não seja um dos eixos desta pesquisa, é possível perceber, pelas dificuldades apresentadas pelos alunos, que há um certo descontentamento ou mesmo inabilidade à Biblioteca Virtual, principalmente com relação ao acesso do material, apresentado como lento ou indisponível em vários momentos. Essa insatisfação também foi registrada por meio da tutoria de um dos cursos, que cedeu para a pesquisa algumas das mensagens recebidas de seus alunos referentes à BV. Vejamos no Quadro 1. 74 QUADRO 1 – MENSAGENS DOS ALUNOS ENVIADOS À TUTORIA A RESPEITO DA BIBLIOTECA VIRTUAL Aluno 1 As orientações para estudarmos para esta atividade são ler os livros na biblioteca virtual. Entretanto, desde a semana passada, não estou conseguindo abrir os livros informados para me preparar para esta atividade que tem o prazo de realização de 11/09 a 18/09. Sendo assim, solicito que verifiquem o que está ocorrendo e também ver a possibilidade de podermos estudar nos livros que recebemos, pois facilitam nosso estudo, tendo em vista que nem em todos os lugares que estamos podemos acessar a biblioteca virtual. Isso dificulta consideravelmente nosso estudo, pois com os livros em mãos temos maior condição de estudar em qualquer lugar. Aluno 3 Estou há uma semana tentando acessar a biblioteca virtual para ler os livros indicados para a 1º APOL e não consigo. Como posso resolver esse problema? Aluno 2 Quero deixar aqui registrado, um desabafo. Eu me senti muito prejudicada no aproveitamento da disciplina (...) devido a professora ter indicado dois livros para estudar. Somente um livro foi enviado, e o outro indicado, que não foi enviado e nem tinha no Polo de minha cidade, intitulado (...). O referido livro se encontra disponível na Biblioteca Virtual, porém o acesso é horrível, complicado, não tem como imprimir pra facilitar os estudos, o qual prejudicou em muito o meu rendimento ao passar pelas Avaliações. Aluno 4 Informo que a Biblioteca Virtual está péssima para estudarmos para a Apol 1. 1º - demora mais de 15 min só para abrir o site da Biblioteca; 2º - não abre o livro, é a 3ª vez que tento estudar para a Apol e não consigo. Como ficamos para estudar mais de 80 paginas para uma prova em uma semana? A Biblioteca virtual nunca funcionou de forma correta. A Instituição informou que realmente ocorrem instabilidades no sistema, até mesmo pelo grande número de alunos matriculados, e, em períodos de avaliação, é possível que haja uma sobrecarga do próprio sistema. Todavia, o problema se acentua em regiões onde o acesso à internet é mais restrito, como por exemplo, em alguns estados da região norte e nordeste. Além dos problemas relacionados à disponibilidade do próprio site, o relato indica que alguns alunos ainda preferem o texto impresso, o qual pode ser transportado para qualquer lugar, considerando que nem todos têm acesso a dispositivos eletrônicos móveis que permitam a leitura de livros em outros lugares a não ser em suas casas e/ou trabalhos. Outra questão que pode também ser considerada no universo dessa pesquisa, está relacionada ao desgaste físico que a leitura no computador causa, pois exige que o leitor despenda muito mais energia: Devemos considerar que a jovialidade de utilização do suporte sítio virtual como ferramenta de ensino-aprendizagem requer uma 75 adaptação dos alunos no que envolve o exercício de leitura de textos (BURGOS, 2006, p 34) Mullan (citado por BURGOS, 2006, p, 34), acrescenta que “a leitura na tela do computador é, geralmente, entre 20 a 30% mais lenta e fisicamente mais exigente que a realizada no papel”. A esse respeito Burgos (2006, p, 34) complementa que a luminosidade do monitor, o uso excessivo de animações, sons e de hipertextos eletrônicos, com fontes pequenas e serifadas, geram um maior cansaço visual, desconforto e irritabilidade para o leitor no momento da leitura. Pelo que vemos, vale aqui a reflexão sobre a preparação desse aluno que ingressa no Ensino a Distância, e que precisa ser orientado sobre os caminhos a serem percorridos, e, principalmente, sobre como os percorrer para se chegar ao destino traçado. Talvez as questões relativas ao letramento digital, e as diferenças existentes entre a leitura de um texto impresso e de um texto digital, precisem ser trabalhadas de forma mais efetiva pelas instituições de ensino. O que se percebe, por meio do depoimento dos alunos, é que a não compreensão desses fatores, aliado às dificuldades relativas ao próprio uso da ferramenta, sejam elas pessoais ou de ordem técnica, podem ocasionar até mesmo frustração por parte dos alunos, dificuldade para realizar as atividades, e até quem sabe, abandono do curso. Como nos lembra Mesquita (2008, p. 1133), Esse novo paradigma de letramento considera a necessidade de os indivíduos dominarem um conjunto de informações e habilidades mentais que exigem ser trabalhadas com urgência pelas universidades e escolas. O processo de informatização da sociedade caminha de forma veloz e irreversível, razão pela qual temos a responsabilidade de procurar ofertar a melhor formação possível aos nossos alunos. No caso específico da EaD, Mesquita (2008, p. 1136) complementa ao afirmar: O texto é a presença – impressa, tele-digital, hipertextual. Os fatores inerentes ao processo dialógico do conhecimento – enunciação, 76 discurso, emissão, recepção, condições de produção textual e de formações discursivas - são elementos sem os quais não acontece a interação autor/leitor, professor/aluno, autor/aluno e toda a engenharia de construção da EaD: projeto de implementação, planejamento, gestão, orientação acadêmica (formadores e tutores) e as tecnologias. Como vimos, dentre outros fatores, o que carateriza a educação a distância é a prescindibilidade da presença (no ato comunicativo) e do corpo, nesse caso, representado pelo texto e possibilitado pelos meios. Dessa forma, entende-se que tanto a compreensão efetiva do texto, como os meios pelos quais esse texto chega até o aluno, no caso da EaD, o computador e a internet, são essenciais enquanto possibilidades, mesmo que parciais, para a efetividade do ensino. 4.2.3 Informações sobre como acessar os materiais de aula Outro número bastante expressivo é referente às informações sobre como acessar o material no Ambiente Virtual, de acordo com o qual 776 alunos entraram em contato com a IES para pedir orientação, e 102 para reclamar. Isso demonstra que muitos alunos não sabem como navegar pelo sistema, ou que o sistema apresentou algum tipo de problema. Nesse item, se comparado com o item que trata sobre a Biblioteca virtual, temos uma inversão nos dados: enquanto que na BV a maior parte dos alunos entrou em contato para reclamar sobre a qualidade, ou indisponibilidade do acesso, aqui os alunos não sabem ou têm dificuldade para acessar o sistema. Outro número significativo é o relativo às informações sobre como acessar as provas: 1.675, onde 501 registros foram reclamações, que nesse caso podem abranger também questões de ordem pedagógica, mas não é possível identificar aqui. Referente às atividades que compõem a nota do aluno, 550 contatos foram para pedir informações, sendo que desses 137 expressaram uma reclamação. O número mais expressivo deste relatório é o referente às informações sobre documentos em geral, podendo ser certificados, exames, históricos, etc., o que resultou em 13.919 contatos. 77 É importante destacar que todas as solicitações de serviços estão disponíveis para o aluno de forma virtual, e os dados demonstram ainda a dificuldade que muitos alunos enfrentam para utilizar de maneira adequada as ferramentas disponíveis, o que, de alguma forma, revela uma contradição. A Instituição não precisou o número exato de alunos que estudam nessa modalidade, mas afirmou ultrapassar 100 mil alunos. Pelo que vemos, embora a amostra seja limitada a uma única instituição de ensino, mas que, no entanto é representativa pelo quadro de alunos que comporta, os dados de pesquisa revelam que ainda existem muitos desafios no que concerne à utilização das tecnologias em EaD, considerando as categorias inclusão e letramento digital. Como nos lembram Pinheiro e Lobo-Souza (2009, p. 4), Se hoje o momento é de acesso e inclusão de novas tecnologias de escrita, cumpre investigar como se dá efetivamente o letramento digital, se estaríamos apenas nos apropriando do computador, como antes se sabia assinar o nome, ou se estamos sabendo usar criticamente as inúmeras demandas que se nos apresentam uma tela, sobretudo on-line (2009, p.4). 4.2.4 Número de clientes que não reclamam No contexto desta pesquisa, considera-se importante identificarmos um número que não pode ser revelado por meio dos questionários aplicados, referente àquele aluno que, embora com dificuldades e insatisfeito com a prestação do serviço, não reclama. De acordo Fernandes e Santos (2008, p. 49): Após uma experiência insatisfatória, o consumidor pode, como consequência do descontentamento, realizar diversas ações, como, por exemplo: mudar de marca ou fornecedor (exit), reclamar aos revendedores e/ou fabricantes, comunicar a experiência negativa que teve a amigos e parentes (boca-a-boca negativa), recorrer a agências e órgãos de proteção ao consumidor e, até mesmo, não fazer nada. 78 Os autores também afirmam que, apesar de existirem disparidades entre os números resultantes dos estudos que buscam identificar a quantidade de consumidores que reclamam, é certo que a maior parte dos clientes insatisfeitos simplesmente omite esse fato à empresa (FERNANDES; SANTOS, 2008, p. 149). A partir dessa informação, pode-se então considerar que, quando há um número apontando para algum tipo de problema, há a possibilidade de existir um número bem maior de consumidores insatisfeitos com a mesma situação, que, no entanto, não registram seu descontentamento. Como os autores já afirmaram, existem diversas formas de registrar algum tipo de insatisfação, e uma dela é recorrendo aos órgãos oficiais de defesa do consumidor. O Centro de Justiça e Sociedade (CJUS) da FGV DIREITO RIO, desenvolveu uma pesquisa sobre comportamento do consumidor brasileiro, coordenada pelos professores Ricardo Morishita Wada e Luci Oliveira que aponta que o brasileiro conhece os seus direitos como consumidor, mas pouco os exerce de fato. O brasileiro conhece os seus direitos como consumidor, mas pouco os exerce de fato (...) Mas apesar disso, apenas 16% dos consumidores já consultaram o Código e 62% afirmaram que nunca ou raramente reclamam quando enfrentam problemas de consumo ou não ficam satisfeitos com um produto ou serviço adquirido (2011, p.1). Ainda de acordo com os pesquisadores, Os principais argumentos apresentados para não reclamar os seus direitos foram que “não compensa”, na avaliação de 37% dos entrevistados, e que “demora muito”, segundo 31% deles. O consumidor acha que a reclamação só vale a pena quando o objeto tem um valor considerável. Numa época em que grande parcela do tempo é dedicada ao trabalho, reclamar seus direitos é realmente um desafio para os consumidores (WADA; OLIVEIRA, 2011, p. 2). Se tomarmos como base o ínfimo resultado atingido por meio dos questionários que foram aplicados aos alunos da EaD, podemos estar diante de um quadro similar, não especificamente no que se refere ao descontentamento propriamente dito, pois isso não é possível afirmar categoricamente, embora a amostra nos forneça alguns dados, mas em relação ao próprio interesse em dedicar 79 seu tempo para responder algo que talvez não lhe trará benefício ou retorno imediato. Em um universo de milhares de alunos que estão matriculados atualmente na Educação a Distância, é bem possível que essa máxima se repita, até mesmo pelos números apresentados pela IES, o que indica ainda certa dificuldade do aluno em desfrutar da tecnologia disponibilizada, despertando-nos, talvez, para uma contradição central: a mesma tecnologia que rompe as barreiras da distância geográfica, e que de fato cria possibilidades antes inimagináveis, também se torna obstáculo para aqueles que ainda não a dominam totalmente. Em um modelo pautado em tecnologias, não há como negar que isso interfere no resultado final e mais importante de todo esse processo: no aprendizado do aluno, pois, inegavelmente estamos colocados diante de uma modalidade que utiliza como base a padronização dos seus produtos e processos, numa relação de consumo e produção em massa da educação. 4.3 A REALIDADE DE UMA AMOSTRA DE POLOS NO ESTADO DO AMAPÁ: O RELATO Durante o desenvolvimento da pesquisa, chamou a atenção o relato de um coordenador de polo, que ao entrar em contato com a Instituição de ensino para pedir ajuda, apresenta as condições enfrentadas pelos seus alunos para poderem assistir as aulas. Vejamos: Solicito por gentileza sua ajuda quanto a situação de alguns alunos dos cursos de tecnologia e Bacharel. Informo que temos um número considerável de alunos oriundos de outros municípios, em especial do Arquipélago do Bailique e das Ilhas do Pará, locais de difícil acesso. Ressalto que essas localidades não são assistidas pelo poder público, através de serviços básicos como água e energia elétrica, consequentemente impossibilita o uso da internet. Com as aulas inaugurais ocorridas durante a semana, percebemos a angústia e a preocupação desses alunos para realização das atividades pedagógicas on line-APOL, que devem ser desenvolvidas semanalmente, visto que para realizarem no Polo precisariam vir constantemente para cidade, o que gera dificuldades, já que o único meio de transporte são pequenas embarcações, em que o tempo de viagem ultrapassa 12 horas conforme a maré. Outra situação 80 levantada é que nem toda semana há linha barco para Macapá...Peço encarecidamente que verifique a situação junto ao núcleo de avaliação uma forma de ajudarmos esses alunos. Ao entrar em contato com o coordenador para pedir a sua autorização para que tal conversa fosse utilizada na pesquisa, o mesmo nos enviou o seguinte depoimento: A educação a distância tem sido uma modalidade educacional crescente, acompanhando inclusive os aspectos sócios econômicos que vivenciamos, diante de processos da globalização. Possibilitando, a inserção de pessoas que geograficamente estavam excluídas do sistema formação e qualificação profissional. Nesse prisma (...) vem desempenhando majestosamente seu papel, ao levar a educação através do Programa Mobilidade Total, com seus cursos superiores em tecnologias, licenciaturas e bacharel, aos diversos cantos do Brasil, em especial a região Amazônica. Entendendo que toda mudança gera perspectiva de melhorias, se faz necessário que observemos os resultados a atingir em sua totalidade, considerando desta forma as peculiaridades de cada região, e portanto possibilitando desenvolvimento coletivo da Instituição, em especial o PAP Macapá. Sendo assim, atualmente o PAP Macapá, atende uma clientela oriunda dos interiores do estado do Amapá (Calçoene, Amapá, Tartarugalzinho, Serra do Navio, Pedra Branca do Amaparí, Cutia, Mazagão e o Arquipelago do Bailique) e, do estado do Pará, sendo estas destacamos as comunidades das ilhas paraenses (Afuá, Furo Seco/ Breves/Chaves/Furo Grande/ Gurupá). Vale ressaltar que os principais problemas enfrentados pelos alunos referem-se: O estado do Amapá não possui internet banda larga; A conexão é muito lenta, o que impossibilita o acesso de materiais pesados (vídeo aula), consequência disso, é redução nas campanhas de matriculas nos cursos de Pós-Graduação; Regiões de difícil o acesso; Localidades não assistidas pelo poder público, onde não há energia elétrica 24 horas, em que o acesso a internet é inexistente; O acesso a essas localidades, em que muitas o único meio de transporte (Fluvial) é através de pequenas embarcações, em que o tempo da viagem chega há 12 horas, dependendo da maré. Os dados apresentados no Quadro 2 demonstram que mesmo enfrentando dificuldades, é considerável o número de alunos oriundos de municípios carentes da região do Amapá. 81 QUADRO 2 – NÚMERO DE ALUNOS ORIUNDOS DE MUNICÍPIOS CARENTES DA REGIÃO DO AMAPÁ CURSO ALUNOS MUNICÍPIO/LOCALIDADE PROCESSOS GERENCIAIS 21 Pedra Branca -01 / Porto Grande- 02 / Serra do Navio-01 Macapá-17 SECRETARIADO 13 Furo Seco – PA- 04/ Bailique-01/ Macapá-08 RECURSOS HUMANOS 16 Porto Grande-01/ Tartarugalzinho-01/ Macapá-14 LOGÍSTICA 13 Ferreira Gomes-02 / Pedra Branca-01 / Serra do Navio-01 Afuá-PA-01/ Macapá-08 GESTÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL 36 GESTÃO PÚBLICA 50 COMERCIO EXTERIOR 09 GESTÃO FINANCEIRA 16 GESTÃO COMERCIAL 13 PEDAGOGIA LETRAS GESTÃO AMBIENTAL 149 42 22 Porto Grande-02 / Pedra Branca-22 / Serra do Navio-02 Ferreira Gomes-01 / Laranjal do Jari-01 / Cutias-01/ Macapá07 Ferreira Gomes-02 / Porto Grande-01/ Vitória do Xingu-01/ Cutias-01/ Afuá-04 / Tartarugalzinho-02 / Itaubal-01 / Vitoria do Jari-01 / Macapá-37 Pedra Branca-01 / Macapá-08 Calçoene-01 / Pedra Branca-01 / Ferreira Gomes-01 Itaubal-01 / Laranjal do Jarí-01 / Macapá-11 Serra do Navio-01 / Macapá-12 Macapá-71 /Mazagão-02 / Santana-09 / Bailique-20 / Afuá-23 Breves-05 / Chaves-05 / Tartarugalzinho-02 / Laranjal do Jari01 Itaubal-01 / Amapá-04 / Calçoene-05 Macapá – 27 / Mazagão – 01/ Calçoene – 01 / Tartarugalzinho – 02 / Ferreira Gomes -02 / Amapá – 01 / Porto Grande – 01 Pedra Branca-01 / Itaubal -01/ Santana – 01 / Chaves - 02 Serra do Navio – 01 / Carmo do Maruanum -01 Macapá-09 / Pedra Branca-02 / Cutias-01 / Porto Grande-03 Bailique-02 / Oiapoque-01 / Serra do Navio-04 O coordenador ainda enviou fotos da região de Furo Seco - Pará. As fotos são oriundas de um trabalho dos tutores em visita ao local em julho de 2012: 82 FURO SECO – PARÁ Pela imagem, é possível refletir sobre as condições de vida da população. A simplicidade das moradias, e as condições de acessibilidade ao local, demonstram as dificuldades enfrentadas por quem ali reside. A dificuldade quanto ao uso da tecnologia é antecedida pela própria falta de estrutura básica como água e energia elétrica. O transporte para chegar ao local da aula é precário e restrito, e a consequência, conforme relatado pelo coordenador, é a angústia por não conseguirem realizar as atividades previstas no âmbito do curso. Em sentido extraordinário, possivelmente os prazos foram ajustados, mas o desafio de vencer as barreiras de acesso provavelmente perdurará por mais algum tempo. Ao observar um cenário tão carregado de expectativas e coragem por parte desses alunos, questiona-se o fato de que muitas vezes, as oportunidades de 83 qualificação profissional são apresentadas pelo mercado, carregadas por um forte apelo emocional de valorização do trabalhador de nível superior, discurso já incorporado pelas diferentes camadas da população, mas que, no entanto, escondem, por vezes, sua outra face, como nos apresenta Braverman (1980, p. 358): a noção de que as condições mutáveis do trabalho industrial e de escritório exigem uma população trabalhadora cada vez “mais instruída”, “mais educada” e assim “superior”, é uma afirmação quase universalmente aceita na fala popular e acadêmica. Braverman (1980, p. 361), acrescenta ainda que: (...) A tese da “superiorização” parece repousar em duas marcantes tendências. A primeira é a alternância dos trabalhadores de alguns grupos ocupacionais importantes para outros; a segunda é a extensão do período médio de instrução. Braverman (1980) defende que essa necessidade de formação se dá por dois motivos: pela necessidade de se qualificar mão de obra, já de certa forma qualificada para um determinado trabalho para atender novos postos de trabalho gerados pelo mercado, e também pelo aumento no tempo de formação, o que faz com que os conteúdos sejam distribuídos ao longo de no mínimo doze anos, considerando a formação até o ensino médio. Isso faz com que, infelizmente, muitos alunos cheguem à universidade sem saber ler e escrever adequadamente, em função da degradação sofrida com a fragmentação do ensino em tantos níveis. Essa afirmação é ratificada na contemporaneidade pelo jornal A Gazeta: Quase 40% dos universitários do país têm alguma dificuldade com leitura, escrita e interpretação de textos. É o que apontam os dados do Indicador de Analfabetismo Funcional, divulgados ontem pelo Instituto Paulo Montenegro. De acordo com o estudo, que ouviu mais de 2 mil pessoas em todo o país, 38% dos que têm ou estão cursando um curso de graduação não possuem alfabetização plena, isto é, apresentam dificuldades para lidar com textos e cálculos mais longos. No entanto, o ensino superior é o grau de escolaridade com o maior percentual de pessoas no nível pleno: 62%. “A partir do ensino médio, o ideal era ter 100% com alfabetização plena”, afirmou a consultora de projetos do Instituto, Fernanda Cury (LYRIO, 2012). 84 A exigência quanto à formação superior e o incentivo constante por uma formação continuada, são justificados nos discursos como sendo consequência dos avanços tecnológicos e científicos, mas, por vezes, pode ser apenas uma forma de seleção: A formatura por escola de nível superior tornou-se exigência importante para entrada no mercado atualmente. Os empregadores, encontrando pessoas com diplomas de escola superior em maior quantidade num período de aumento do preparo educacional, vieram a tomar o diploma como um dispositivo de peneiragem, frequentemente procurando pessoas com níveis superiores de instrução mesmo quando o conteúdo da função não esteja necessariamente se tornando mais complexo ou exigente de níveis mais elevados de qualificação (BIENSTOCK, citado por BRAVERMAN, 1980, p. 371). Por mais que o relato do autor esteja relacionado a uma situação pós II Guerra, resultante de um incentivo governamental para que fossem preparados profissionais gerenciais especializados, e que resultou em um grande número de profissionais formados no ensino superior, quando a oferta real de trabalho era para funções que não exigiam tanta qualificação, é possível encontrarmos anúncios de emprego na contemporaneidade que exigem nível superior de formação, domínio de línguas estrangeiras, e uma série de exigências técnicas e comportamentais. Contudo, ao serem analisadas as atividades do cargo, percebe-se que as exigências estão muito além do que de fato o profissional precisará para desempenhar tal tarefa. Por outro lado, o excesso de formação, em algumas vezes, também é um obstáculo. O país vive um momento de incentivo à qualificação para o trabalhador técnico, que nada mais é, em termos formais, do que um intermediário entre o profissional de nível superior e aquele que concluiu o ensino médio. Com isso, muitos profissionais se encontram nessa lacuna: de estar formado em curso superior para o qual existe pouca demanda, ou não ter formação suficiente para se colocar no mercado de trabalho. Todavia, os conceitos relacionados à necessidade de qualificação profissional já foram incorporados pela sociedade, e mais ainda, pelo empresariado da educação, que coloca nesse cenário, ferramentas capazes de atender em larga 85 escala, ou seja, produzir educação em massa para uma sociedade conduzida a ser consumidora de formação. 4.4 A EAD SOB A PERSPECTIVA DA PRODUÇÃO A produção e o consumo em massa, característica fundamental do capitalismo na contemporaneidade, no contexto da Educação a Distância, tornam-se mais evidentes quando se reflete sobre a produção das aulas e o número de docentes e alunos envolvidos, em que se tem um docente para milhares de alunos, remetendo-nos inevitavelmente ao fordismo: Parece-nos que o modelo de EaD [...] pode ser identificado ainda com os modelos fordistas de produção industrial. Racionalização, divisão acentuada do trabalho, alto controle dos processos de trabalho, produção de “pacotes educacionais”, burocratização e concentração e centralização da produção, são as suas características básicas (FONTANA, 2006, p.5) Embora alguns autores defendam a existência do pós-fordismo e neofordismo na educação, as bases permanecem as mesmas: O neo-fordismo, identificado como o "modelo japonês", aposta em estratégias de alta inovação dos produtos (novos produtos visando segmentos específicos do mercado) e de alta variabilidade do processo de produção (tecnologia e flexibilização e novas formas de organização do trabalho), mas conserva do modelo fordista a estratégia de baixa responsabilização do trabalho (formas de organização fragmentadas e controladas). Um sistema de "maior exploração do trabalho no qual os empregados sofrem níveis mais altos de stress e responsabilidade" (STEVENS e RENNER citados por BELLONI, 1999). Segundo Belloni (1999), “A distinção fundamental nestes conceitos no que concerne mais diretamente o campo da educação diz respeito ao terceiro fator - a responsabilização do trabalho - que implica uma força de trabalho muito mais qualificada (capaz de tomar decisões) do que o modelo fordista ou neo-fordista.” Gianezini corrobora para a construção desse pensamento, relacionando-o à produção no EaD, ao falar sobre a organização do trabalho e a responsabilidade dos tutores: 86 Pensar é o trabalho mais pesado que existe, e, talvez, seja essa a razão para que tão poucas pessoas se dediquem a tal tarefa. Ironicamente esse pensamento é uma reflexão de Henry Ford, quiçá na busca por uma justificava da exploração daqueles que não tinham oportunidade de se qualificar tecnicamente, mediante pagamento de pífios salários. Se faz necessário pensar sobre as reais condições salariais dos operários do ensino a distância. Os tutores, de certa forma, também exercem o papel de supervisor. Entretanto, desta vez, sobre os alunos [tutores alunos]. Entre inúmeras tarefas, destaca-se a conferência de acessos feita por cada aluno na plataforma (Moodle, Navi, conecta, entre outras). É irrelevante avaliar o desempenho dos alunos mediante a quantidade de acessos, pois não há nenhuma garantia do conhecimento ter sido adquirido pela ação mecânica de clicar (GIANEZINI, 2012). Ao mesmo tempo em que se reduz o trabalho intelectual do tutor a um ato da supervisão, considerando que os tutores de cursos superiores, tomando como exemplo a IES pesquisada, precisam ter no mínimo formação lato sensu, ele continua sendo responsável pelo desenvolvimento desse aluno, algo no mínimo contraditório. Os tutores são responsabilizados pela parte, talvez, mais importante de toda essa construção, que é o de orientação e acompanhamento do aluno. Todavia, o tutor age dentro de suas possibilidades, prendendo-se à parte que lhe é atribuída, na maioria das vezes, relacionada ao controle das atividades. Nesse contexto, corre-se o risco de, ao prender-se a uma parte, perder-se a noção do todo, embora desse todo, ninguém de fato se aproprie. Por vezes, assim como o é em qualquer processo de produção, tutores, alunos e professores parecem trabalhar de forma alienada, servindo à lógica instituída: No trabalho alienado, o produto do Homem existe fora dele, independentemente, como alguma coisa alheia a ele e que se torna um poder em si mesmo, que o enfrenta. O aluno não tem controle sobre o que ele faz, ou o que é feito do produto. O "conhecimento" cresce em poder na medida em que os alunos gastam o que dele dispõem, e até adquire qualidades, devidamente modificadas, que o estudante perde. Os alunos podem perder confiança e se considerarem como simples "apêndices" de seus produtos; assim, gradualmente, o "conhecimento" começa a controlar os produtores. A propriedade privada é a expressão material do trabalho alienado (SILVA, 2005, p. 107). Braverman (1980, p. 360) contribui para a compreensão desse pensamento ao afirmar: 87 Quanto mais a ciência é incorporada no processo de trabalho, tanto menos o trabalhador compreende o processo; quanto mais um complicado produto intelectual se torne a máquina, tanto menos controle e compreensão da máquina tem o trabalhador. Em outras palavras, quanto mais o trabalhador precisa saber a fim de continuar sendo um ser humano no trabalho, menos ele ou ela conhece. Permitir que o homem compreenda o processo de produção, de fato não faz parte da lógica do capital. O próprio Marx (1985, p. 7) em O Capital, nos leva a refletir, em seu capítulo Maquinaria, sobre a finalidade que as máquinas assumem para “o capital ao afirmar que ela se destina a baratear mercadorias e a encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador precisa para si mesmo”, e não fazer com que o homem desenvolva suas potencialidades. O homem passa a integrar essa grande indústria como mais uma engrenagem no processo de produção, destituindo-se muitas vezes dos anseios e capacidades intelectuais para poder permanecer no sistema. A maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado, reparte o valor do trabalho e desvaloriza essa força de trabalho (MARX, 1985, p. 23). E, para poder adquirir produtos e serviços que os façam se sentirem pertencentes à sociedade, as pessoas obrigam-se a trabalhar e estudar cada vez mais, para ganhar cada vez menos. Ao que parece, o princípio da contradição governa o modo de pensar e o modo de ser (IANNI, 1982, p. 17), pois, ao pensar o processo de produção na EaD, é possível refletir com Ianni sobre a essência do capitalismo: “o capitalismo é um sistema de mercantilização universal; e de produção de mais–valia. Mercantiliza as relações, as pessoas, as coisas, por isso, transforma as próprias pessoas, tornandoas adjetivas de sua força de trabalho” (IANNI, 1982, p 17-18). Nessa mercantilização de pessoas e de processos, perfeitamente perceptível na estrutura do EaD, é possível perceber com Malanchen (2007, p.214) que estamos também diante de uma desintelectualização, “posto que o tutor presencial ou virtual, que tem o contato com o estudante que cursa a EAD, não é o responsável pela elaboração do material, das atividades e da avaliação; ele simplesmente segue uma rotina de atividades que foi pensada e elaborada por outros profissionais”. Nesta lógica, o professor, um trabalhador comum, cujos produtos são, num sentido, seus alunos mas na situação em que trabalha, o 88 que faz simplesmente afirma o caráter desses alunos como produtos capitalistas. As relações sociais do aluno e professor são, assim, correlacionadas internamente, havendo uma contradição inerente no caso, porque um professor não é apenas um produtor, mas também um empregado daqueles que desejam reproduzir a sociedade, isto é seu status quo (SILVA, 2005, p. 115). Silva complementa ao trazer um argumento do próprio Marx que afirma que “é da natureza do homem produzir objetos nos quais ele se reflete, porém esses objetos lhe são tomados pela lógica da produção vigente. Ele é incapaz de ser dono do produto de seu trabalho, e se torna estranho à sua própria criação, que o enfrenta como algo hostil e alheio” (SILVA, 2005, p.105). No contexto atual da Educação, professores e alunos, no interior da ordem capitalista, são considerados a partir daquilo que podem produzir, e, portanto, as produções consideradas como valiosas são aquelas que podem ser avaliadas com facilidade (SILVA, 2005, p. 106), como, por exemplo, repetindo o desenho de uma linha de montagem da produção industrial. Quando se pensa no trabalho na EaD não há como não remetê-lo a uma linha de produção, porém, com mão de obra altamente capacitada. Tudo nesse cenário, além de tomar enormes proporções, exige a participação de uma equipe com formação multidisciplinar para dar conta dos diferentes aspectos da produção, que inicia desde a concepção de um curso, até a finalização da produção das aulas. A gravação dos vídeos, a elaboração dos textos, a edição dos materiais, o processo de avaliação e tutoria, funcionam exatamente como uma linha de produção, em que é preciso que uma etapa seja concluída para que a outra se inicie. Tudo isso com controle absoluto do tempo e monitoramento quantificável dos resultados. Dessa forma, tanto alunos quanto professores são constantemente vigiados a partir da tecnologia: número de acessos, postagem, número de questões cadastradas, etc. Assim, em um cenário em que a qualidade parece ser sinônimo de quantidade produzida, a Educação no seu sentido existencial, como nos lembra Amaral Filho, remetendo-os ao conceito de paidéia e educação enquanto formação integral do homem, parece perder seu sentido, quando pensada no cenário educacional que vem sendo construído: 89 é fácil concluir que uma das possibilidades mais próprias do ser humano é a não formação de todas as suas possibilidades próprias; mormente, por uma educação incompleta que as restringe. Tolhendo, assim, a abertura para o acontecimento da liberdade, no mais das vezes, caímos na cotidianidade insuspeita do impessoal. Quando, por exemplo, em uma sociedade de classes, o indivíduo é subsumido pelos interesses dos dominantes, inclusive, assumindo para si o imaginário constituído pelos detentores do poder (AMARAL FILHO, 2011, p.15). Como nos diz Kosik (1976, p. 85), “o homem é antes de tudo aquilo que o seu mundo é. Este ser que não lhe é próprio determina a sua consciência e lhe dita o modo de interpretar a sua própria existência”. E, desta maneira, o homem vai se adaptando e sobrevivendo às circunstancias ditadas por um sistema capitalista, sem questionar, sem perceber, sem se dar conta da pequena engrenagem em que se transforma diariamente, pois, afinal, embora uma pequena parte, esse personagem também faz parte do todo. Ele é o todo na parte, pois se constitui a partir do contexto histórico, e também uma parte no todo, pois, da mesma forma que se constitui a partir de um modelo de sociedade, também contribui para que esse se mantenha, ainda que as exigências do modo de produção contemporâneo da existência humana não sejam propícias para que se perceba isso. É nesse todo de conflitos e contradições que a Educação assume, se não o mais importante, um dos principais caminhos para se promover condições mais dignas de sobrevivência. No entanto, ao que nos parece, ainda há muito a ser feito quanto às condições de ensino no Brasil. No atual mercado da Educação Superior vemos cursos com pouca ou nenhuma qualidade, como nos mostram os dados: Dos 1.207 cursos de graduação a distância registrados no MEC (Ministério da Educação), somente 13 são considerados de excelência. Foram considerados os que obtiveram nota máxima 5 nos índices CPC (Conceito Preliminar do Curso), baseado na avaliação de documentos, e CC (Conceito de Curso), definido após avaliação in loco do curso por uma comissão do MEC. (...) Atualmente há 89 cursos EAD com nota 4 e 160 com nota 3. Outros 60 cursos foram reprovados pela avaliação do ministério (IZUMI, 2013). 90 Vemos, também, ser colocada à disposição dos possíveis alunos, uma tecnologia que não é dominada por todos, ou não suporta a demanda atribuída; vemos um grande incentivo do governo para abertura de novas vagas, mas sem condições de assegurar o controle da qualidade, considerando a velocidade em que os cursos e as IES se propagam; vemos a padronização dos processos e a exclusão da individualidade; a redução do papel do professor em mero reprodutor e organizador de conteúdos; vemos um aluno que persiste, mesmo em meio a inúmeras dificuldades, e também aquele aluno que, em muitos casos, está preocupado somente com a sua certificação ao final do processo. E então, mais uma vez nos perguntamos: quais são as reais condições de possibilidade da efetividade da Educação a Distância no Brasil? Talvez essa não seja uma pergunta tão simples de ser respondida. Todavia, ao longo da pesquisa, buscou-se refletir sobre a EaD a partir de diferentes perspectivas, como a produção em massa, as políticas para a Educação Superior no Brasil, as condições de acesso à tecnologia no Brasil, tanto a partir dos dados de pesquisa oficiais, bem como da própria realidade de um grupo de alunos. Além disso, ao que se percebe, mesmo sendo a EaD uma modalidade de ensino que gera consideráveis possibilidades àqueles que podem dela usufruir, também são consideráveis os desafios que precisam ser enfrentados para que, por meio dela, se possa efetivamente ter acesso a uma educação de qualidade. Todavia, não se pode descartar o fato de que a EaD é apenas uma modalidade de ensino que representa o projeto de educação de uma sociedade, e justamente por isso, mesmo com a convicção de que um projeto de educação de qualidade seria aquele que promovesse o desenvolvimento integral das potencialidades humanas, no sentido de uma educação emancipatória, talvez essa de fato não seja possível de se atingir em uma sociedade regida pelo capital. 91 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No universo da pesquisa científica, ao iniciar uma caminhada, parte-se sempre em busca de respostas às inquietações. No entanto, o que mais se encontra ao longo do caminho, são novas indagações e formas de olhar para um mesmo objeto, considerando a perspectiva de cada sujeito. O fato é que se acaba retornando ao ponto de partida muito mais inquieto, e com ainda mais incertezas. No caminhar desta pesquisa, cujos objetivos foram estabelecidos na tentativa de compreender as condições de possibilidade da efetividade da Educação a Distância, deparamo-nos com um universo de situações contraditórias. Um cenário que ao mesmo tempo é claro e escuro; que mostra uma gama de possibilidades a partir do objeto, mas que ao mesmo tempo esconde suas fraquezas e limitações. Uma realidade carregada de duplo sentido e intenções, que vai constituindo história e pela história sendo constituída. Como nos mostra Kosik (1976, p. 230) “o homem cria a história e vive na história já muito tempo antes de conhecer a si mesmo como ser histórico. Mas a consciência histórica que descobriu na história a dimensão essencial da realidade humana, não nos diz ainda por si mesma a verdade sobre o que é a história” Compreender a verdade, a essência ou a coisa em si, não faz parte da natureza de uma sociedade capitalista, pois a partir da compreensão do marxismo, entendemos que todas as ideias de verdade sempre refletem a vontade de uma classe governante. Nessa sociedade, a cada dia são criadas novas necessidades que são apresentadas em forma de sonhos a serem conquistados, alimentando a sensação de que somente após a conquista poderá se alcançar a tal sonhada liberdade, ou seria uma pseudoliberdade? Com Kosik (1976, p. 233), vemos que não poderia ser diferente, pois: a história é dialética de liberdade e necessidade. A solução é expressa com frases bem conhecidas: a liberdade é necessidade compreendida; a liberdade é aparência. Para que seja racional e tenha um sentido, a história deve ser ordenada pelo plano da providência, no qual os indivíduos históricos (personalidades 92 excepcionais, povos e classes) são executores conscientes ou inconscientes de uma necessidade predeterminada. Os homens agem na história, mas só aparentemente fazem a história: na história atua a necessidade (o plano da providencia, da harmonia preestabelecida) e as personalidades históricas são seus instrumentos e órgãos executivos. Ao que parece, a EaD é uma modalidade de ensino que reflete muito bem essa relação dialética entre liberdade e necessidade, pois propicia ao aluno escolher uma carreira, envolvido por um discurso de autonomia. No entanto, a escolha é sempre a partir de opções predeterminadas pela necessidade do mercado, como também o é nos mais diferentes aspectos da vida. O que se tem de fato é uma autonomia cerceada pela existência de condicionantes culturais, sociais, econômicos e pedagógicos que delimitam as decisões (PRETTI, 2005, p. 113). E uma vez que essa modalidade chega a lugares onde não há instituições de ensino superiores presenciais, ou seja, a EaD é a única opção para quem precisa estudar, a necessidade de se graduar para poder trabalhar, supera qualquer expectativa de possível escolha de uma carreira. Mesmo sendo uma liberdade condicionada, consciente ou não, é por meio dessa formação que muitos brasileiros garantirão, muito antes da sua satisfação pessoal e profissional, a sobrevivência de suas famílias. Ao fazer uma escolha que já é predeterminada, o indivíduo assume o seu papel enquanto um instrumento na construção dos propósitos hegemônicos, e por mais que pareça, ou seja, de fato, manipulador, esse parece ser o único caminho possível de ser trilhado, uma vez que se é parte de uma classe social trabalhadora e constituinte da mesma história. Então, compreender e resistir parece não fazer sentido, quando é preciso seguir no ritmo da vida, então, talvez, tanto para indivíduo quanto para o Estado, a busca pelo equilíbrio entre o que o indivíduo almeja e o que a sociedade impõe, possa ser o mais sensato a se fazer. Como nos lembra Cury (1995, p. 57) “entre força e consentimento se estabelece um equilíbrio viável. Quanto mais forte for o consentimento, menos necessária a coerção e quanto mais débil o consentimento, mais forte a coerção do Estado”. Então, criam-se discursos que levam ao consentimento e, ainda, tornando-o almejável, embora nem percebamos que o discurso de uma sociedade consumidora talvez seja a forma mais terrível de coerção. 93 Nesse jogo do capitalismo, na pressão constante para que o consumo seja cada vez maior, novos produtos vão sendo criados, com escalas de qualidade, exigência e inovação que vão aumentado conforme melhoram também as condições econômicas dos indivíduos. E a educação, que embora também tenha que ser tratada como mercadoria, pois em uma sociedade capitalista, tudo é colocado como um produto para consumidores, assume, nesse cenário, sua função técnica política para atender aos projetos que exijam novas formas de trabalho. Cabe à Educação, e mais especificamente à educação profissional, assegurar que novos profissionais sejam capacitados para criar novos produtos. Esses novos produtos, por vezes, gerarão novas demandas, pois na dupla face do trabalho, o trabalho humano é, ao mesmo tempo, modo de existência humana e processo de produção e valorização do capital (KUENZER, 2007, p. 1161). Como afirma Marx (1985, p. 153), “qualquer que seja a forma social do processo de produção, este têm de ser contínuo ou percorrer periodicamente, sempre de novo, as mesmas fases. Uma sociedade não pode parar de consumir, tampouco deixar de produzir”. Nesse círculo vicioso do consumo, torna-se a educação, ela mesma, também, um produto desejável nessa produção, pois pessoas que consomem educação têm maiores possibilidades de progredir financeiramente, e de continuar alimentando a cadeia produtiva enquanto consumidores. Com Braverman (1980, p. 231) entendemos que um processo que tem sido pouco estudado é o de como o capitalismo transformou toda a sociedade em um gigantesco mercado, pelo fato de que praticamente todas as estruturas seguem a lógica de organização capitalista. Mas o fato é que assim o é. Ao que parece, a EaD não ficou à margem dessa incorporação, e tem cumprido, na contemporaneidade, o desafio de qualificar uma grande massa de trabalhadores para atender às demandas que se constituem em um mercado de trabalho em plena expansão, fazendo com que o ensino superior chegue à lugares antes inimagináveis, como é caso das regiões do Pará e Amapá, apresentadas na pesquisa. Os alunos que lá residem, nem acesso à água potável e transporte têm, mas movidos pelo fetiche do mercado, saem em busca de melhores condições de vida, viajando uma vez por semana, horas e horas em cima de uma pequena embarcação, para se formar em um curso superior. 94 É inegável, também, que ao refletir sobre a situação dos alunos aqui apresentados, colocamo-nos diante de uma grande contradição: fornece-se para esses indivíduos, carregados de sonhos e expectativas, a oportunidade de estudar em um curso superior. Todavia, é um curso superior mediado pela tecnologia, para o qual se prevê uma série de atividades on-line e uma rotina quase que diária de estudos, em frente ao computador, para se conseguir avançar na apropriação do conhecimento. E para quem não tem nem água em casa, internet é mais um sonho de consumo. Os registros apresentados apontam, pelos números de reclamações e solicitações registradas pela IES, que a tecnologia colocada à disposição, ainda carece de melhorias para atender até mesmo aos usuários que têm melhores condições de acesso, e que sofrem com as inconsistências do sistema. Uma biblioteca virtual, que é colocada como base para realização das atividades, e que apresenta constantemente instabilidade, vai de encontro ao discurso de que na modalidade EaD, o aluno pode estudar no momento em que lhe for mais conveniente. Ao que parece, em alguns casos, a administração do tempo não cabe ao aluno, mas à disponibilidade da tecnologia. Portanto, a mesma tecnologia que cria oportunidades e expande o alcance da educação, é também a que restringe; a mesma tecnologia que rompe fronteiras, que demonstra que é possível estudar independentemente da sua localização geográfica, também limita o aprendizado pela falta de qualidade, ineficiência ou inexistência do acesso. A contradição é destruidora, e também criadora, já que obriga à superação, pois a contradição é intolerável. Os contrários em luta e movimento buscam a superação da contradição, superando-se a si próprios. Na superação, a solução da contradição aparece enriquecida e reconquistada em nova unidade de nível superior (...) é exatamente a tensão dialética sempre superável entre o já sido e o ainda-não no sendo (CURY, 1995, p. 30-31). Em uma sociedade consumidora, talvez possamos pensar na superação daquilo que se tem por aquilo que ainda se almeja conquistar. Essa busca interminável pela superação também é encontrada no mercado produtor, onde o grande desafio pela superação está em reduzir custos e aumentar as receitas; na organização do trabalho no âmbito da EaD, não poderia ser diferente: “ao 95 proporcionar uma educação de massa, tende-se a cair na “padronização”, no que se refere aos conceitos inerentes a sua proposta, ou seja, ao modelo de pensamento que se quer legitimar” (PASQUALOTTO, 2003, p. 7). Modelo esse também ditado pelas possibilidades tecnológicas existentes, e que ignora o fato de que talvez muito poucos estejam, de fato, preparados e com condições de acesso e de compreensão das tecnologias e do processo, para poder usufruir efetivamente da formação que lhes é proposta. A forma de organização da educação, assim como na indústria, busca a otimização dos recursos, e sendo o professor mais uma “peça nessa grande engrenagem”, seu trabalho, assim como o de todos os envolvidos, fica condicionado às possibilidades ditadas pela máquina: O trabalho do professor, antes pautado na economia de tempo através de intensificação do trabalho (do tempo do homem), passa a se direcionar para a otimização do tempo da máquina, tendo em vista a busca da redução dos custos e do tempo. O trabalho do professor diante dessas novas tecnologias fica restrito à vigilante do processo ensino-aprendizagem, e não mais um interventor, o mediador entre o sujeito e o conhecimento, mas sim um vigilante da máquina em que deve possibilitar ao “cliente” variadas formas de interagir com a máquina (PASQUALOTTO, 2003, p. 6-8). Assim sendo, professores, tutores e alunos ficam condicionados às determinações da máquina. Muitos deles, é possível que ainda estejam em processo de aprendizado, sejam eles alunos ou docentes. Mas, como as mudanças são velozes, e nenhum campo da sociedade pode parar para aprender, vive-se em uma espécie de roda viva, onde é preciso aprender a trocar um pneu com o veículo em alta velocidade. Os alunos com melhores condições, sejam elas econômicas, sociais ou de próprio aprendizado, certamente colherão melhores resultados, embora não estejam alheios à tensão existente, pois afinal, “na sociedade capitalista, o movimento se dá em consequência do desenvolvimento das contradições que existem em seu seio e é através desse jogo pugnativo é que a sociedade avança” (CURY, 1995, p.33). E, ao que parece, todos fazemos parte desse jogo. Enfim, nesse movimento do avançar, a EaD continuará a cumprir o seu papel no projeto de expansão do acesso à educação, e aqui talvez valha pensar sobre por que ainda se discute a diferença entre educação presencial e educação a distância, 96 quando de fato a essência está na concepção da própria educação. “Quando a questão da EaD entra no horizonte dos nossos debates, parece que não levamos isso em conta, com o que, mantemo-nos na superficialidade dos acontecimentos, ocultando, mais do que revelando, aquilo que o pensamento deveria corajosamente enfrentar” (AMARAL FILHO, 2011, p.14). A EaD é apenas um modalidade que reflete a lógica de organização social e o momento do desenvolvimento, principalmente tecnológico em que o mundo se encontra. O que não se pode esquecer, é que essa modalidade, assim como o homem, é tão somente um instrumento nas mãos do poder hegemônico, carregado de ideologia e contradição. Dessa maneira, se a ligação com o processo de produção é indispensável para a compreensão do fenômeno educativo, dado o caráter determinante do econômico, é no campo politico-ideológico que esse caráter se vê esclarecido em sua significação mais ampla e aí se pode tematizar uma concepção de mundo que conduza à superação da estrutura social capitalista (CURY, 1995, p.123). Ao que parece, os desafios a serem superados ainda são muitos. A EaD, muitas vezes tão mistificada, parece ganhar independência e autonomia na construção de sua história, principalmente quando na exaltação dos discursos sobre o tema. História afinal, que quando contada sob o prisma da hegemonia burguesa, parece ser a solução para os possíveis problemas relacionados à educação, tal qual como foi apresentado no capítulo em que se abordou a história da EaD neste estudo. Todavia, o que se tem de fato, é um discurso para legitimar os propósitos hegemônicos. A história é sempre composta de momentos de incorporação de práticas, as quais se constituem a partir do modo de produção vigente na sociedade. A incorporação das tecnologias da comunicação, apresentada em muitos momentos como a resolução de vários dos problemas educacionais enfrentados, parece colocar a tecnologia em um cenário de neutralidade, quando de fato é justamente o contrário. A tecnologia é desenvolvida a partir das necessidades de uma sociedade, e principalmente, a favor dos interesses de uma hegemonia burguesa. E a esses irá servir. 97 Quanto à contribuição da pesquisa para a própria pesquisadora, não há dúvidas de que mudou a forma de interpretar o mundo e as relações, e a partir disso, espera-se que enquanto uma profissional da educação, possa ir além do cumprimento do aspecto conteudista da formação, mas que contribua também para a formação de pessoas e profissionais envolvidos com causas maiores que estritamente a econômica. Da mesma forma, acredita–se que essa pesquisa possa instigar uma reflexão aos profissionais envolvidos com a Educação, sobre a sua responsabilidade frente ao processo educativo, no sentido de que não se limitem ou limitem seus ensinamentos e ações ao atendimento dos interesses econômicos, mas incluam em suas práticas fatores que propiciem aos educandos o desenvolvimento da autocrítica e da autonomia, para que mesmo em meio às limitações impostas pelo modelo social, o indivíduo seja, ao menos, estimulado a desenvolver suas potencialidades. De toda forma, nessa luta constante pela superação do que está posto, segue-se caminhando pelos labirintos da peseudoconcreticidade, sem saber ao certo para onde se está indo, mas, de que importa, pois ao que parece, o importante mesmo é apenas seguir. É importante ressaltar que após essa caminhada, permanecem muito mais dúvidas do que respostas acerca da efetividade dessa modalidade em plena expansão, pois ainda há muito para se refletir e avançar no que se refere às condições em que o ensino vem se constituindo. Todavia, enquanto contribuição social, acredita–se que essa pesquisa possa instigar uma reflexão aos profissionais envolvidos com a Educação, sobre a sua responsabilidade frente ao processo educativo, no sentido de que não se limitem seus ensinamentos e ações ao atendimento dos interesses econômicos, mas incluam em suas práticas fatores que propiciem aos educandos o desenvolvimento da autocrítica e da autonomia, para que, mesmo em meio às limitações impostas pelo modelo social, o indivíduo seja, ao menos estimulado, a desenvolver suas potencialidades. 98 REFERÊNCIAS ACESSO à internet em banda larga quase dobrou desde 2011. 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