4 Brasil Econômico Sexta-feira e fim de semana, 6, 7 e 8 de janeiro, 2012
DESTAQUE GLOBALIZAÇÃO
Editado por: Ivone Portes
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América Latina é o novo alvo
dos investimentos brasileiros
Países da região, além de Portugal e Espanha, atraíram 19% dos aportes em 2011, contra 15% no ano anterior
Cláudia Bredarioli e
Daniel Oiticica, no Rio
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Opções é que não faltam às empresas brasileiras que, na direção
contrária da crise global, mostram fôlego para crescer fora do
país. E, atualmente, o sotaque latino tem chamado mais atenção
que o anglo-saxão quando o assunto é investimento estrangeiro. Dado do Banco Central aponta que os países latinoamericanos, Portugal e Espanha viram
crescer de 15,6% para 19,2% sua
participação nas saídas de investimentos brasileiros diretos de
2010 para 2011, no acumulado de
janeiro a novembro. Esse movimento, que começou a se consolidar no ano passado, deve ganhar fôlego ao longo de 2012, de
acordo com especialistas.
Na mesma comparação, se
considerado apenas o investimento na América Latina, a alta
passa de 7,6% para 14,8%. Isso
ocorre ao mesmo tempo em que
há queda, quase na mesma proporção, da participação dos investimentos nos países anglo-saxões, especialmente nos Estados
Unidos (veja quadro).
São quase contrários, porém,
os motivos que sustentam a possibilidade de investimentos nos
diferentes destinos. Enquanto
na Penísula Ibérica, em crise, os
focos giram em torno de processos de privatização e de aporte
em setores de infraestrutura e
serviços, na América Latina os
reais brasileiros estão sendo destinados a países em crescimento
econômico, com mercado de
consumo em ascensão, como é o
caso da Colômbia.
Em processo de reorganização após longo período sob domínio do narcotráfico e das guerrilhas, a Colômbia chama cada
vez mais a atenção como destino
para negócios. E não tem decepcionado. “Por que não viemos
antes?”, chegou a dizer à imprensa o presidente do Conselho
da Natura, Guilherme Leal, satisfeito com o desempenho da empresa no mercado colombiano.
As operações internacionais já
representam 9,6% da receita da
Natura e seguem crescendo. Argentina,Chile e Peru apresentaram, no terceiro trimestre de
2011, crescimento de 40,3% na
receita em moeda local. O resultado operacional atingiu R$ 9,4
milhões no período. No México
e na Colômbia, a receita apresentou alta de 56,6% no trimestre
Espanha e Portugal
estão entre os
países que mais se
esforçam para
atrair investimentos
diretos do Brasil
(56,4% no acumulado do ano).
Com operações no exterior
desde 1982, quando passou a
atuar no Chile, a Natura chegou
à Colômbia em 2007, depois de
ter fincado bandeira na Argentina, no Peru, no México e na França. Em 2010 a companhia deixou
se ser mera exportadora e passou a fabricar parte dos produtos na Argentina, na Colômbia e
no México. Além disso, no ano
passado, duplicou o Centro de
Distribuição no México.
“Hoje contamos com 230 mil
consultoras em nossas operações internacionais. Temos um
grande mercado de oportunidades na América Latina e nosso
plano é seguir ganhando participação e aprendendo”, declarou
a Natura ao BRASIL ECONÔMICO.
Na contramão
Enquanto na América Latina o
crescimento econômico tem sido o principal chamariz de investimentos brasileiros, nos países ibéricos a trajetória é outra.
Mas especialistas apontam que a
crise também mostra boas oportunidades, especialmente por
derrubar o valor das empresas.
Espanha e Portugal estão entre
os países que mais se esforçam
para atrair investimentos diretos do Brasil. Por isso, há previsão de aumento nesses aportes a
partir deste ano.
“Portugal pode ter papel relevante para os investimentos das
empresas brasileiras, assim como foram os investimentos portugueses na época das privatizações no Brasil, na década de
1990”, diz Cristiano Cechella,
especialista do Instituto Milleniun, destacando as possibilida-
des que se abrem para investir
no país a partir do grande processo de privatizações que Portugal vai implantar neste ano.
“É um país moderno, com pessoas capacitadas, com vontade
de crescer, e que neste momento está trabalhando para fazer
as reformas necessárias para
reencontrar o rumo do crescimento econômico”. (leia mais
na pág. 6)
Da mesma forma, a crise econômica na Espanha também está abrindo possibilidades às empresas brasileiras que tenham interesse em avançar no país. “Os
países emergentes aumentaram
seu potencial de internacionalização e o mercado europeu representa uma boa oportunidade
para os investidores porque a Europa está mais frágil e o valor
das empresas caiu”, afirma Tiago Ramalho Monteiro, diretor
da AT Kearney.
No fim do ano passado, um
grupo de executivos brasileiros
se reuniu em Madri, convocados
pela filial espanhola do banco
HSBC, para analisar oportunidades de investimento na Espanha. ■ Com agências
AUMENTA A CONCENTRAÇÃO LATINA
Saídas de investimentos brasileiros mostram alteração de rumo
ACUMULADO DE JANEIRO A NOVEMBRO, EM US$ MILHÕES
TOTAL
ARGENTINA
COLÔMBIA
URUGUAI
MÉXICO
PORTUGAL
CHILE
PERU
ESPANHA
PARAGUAI
VENEZUELA
TOTAL (AL E IBÉRICOS)
ESTADOS UNIDOS
HOLANDA
REINO UNIDO
DINAMARCA
LUXEMBURGO
SUÍÇA
FRANÇA
TOTAL (EUA E EUROPA)
2010
PARTICIPAÇÃO %
2011
PARTICIPAÇÃO %
10.504
422
38
164
71
971
880
24
196
15
151
2.932
3.835
790
35
203
1.336
230
1.143
7.572
100,0
4,0
0,4
1,6
0,7
9,2
8,4
0,2
1,9
0,1
1,4
27,9
36,5
7,5
0,3
1,9
12,7
2,2
10,9
72,1
6.592
1.115
209
180
138
94
81
54
47
28
7
1.952
2.093
1.136
984
155
140
127
6
4.639
100,0
16,9
3,2
2,7
2,1
1,4
1,2
0,8
0,7
0,4
0,1
29,6
31,7
17,2
14,9
2,3
2,1
1,9
0,1
70,4
Fontes: Banco Central e Brasil Econômico
País lidera na formação de
múltis latino-americanas
De um total de 100 multilatinas,
Brasil detém 34, mesmo
assim ainda apresenta
desempenho muito abaixo
de suas possibilidades
As chamadas multilatinas —
empresas com mais de US$ 500
milhões de faturamento anual e
que estejam presentes em pelo
menos três países latino-americanos — já somam uma centena. De acordo com o Boston
Consulting Group (BCG), essas
100 companhias têm sede em
oito países. O Brasil tem 34 empresas nesse grupo, à frente do
México (28) e Chile (21). A seguir, relativamente longe, estão Argentina (7), Colômbia (5)
e Peru (3). Por enquanto, esse
grupo de multilatinas concentra sua atividade internacional
no continente americano, com
110 presenças internacionais na
região e 51 nos Estados Unidos.
Mas também há outros continentes, particularmente a Euro-
“
O Brasil concentra
85% de toda a
movimentação do
mercado financeiro
latino-americano,
mas tem baixa
exposição no
comércio regional
André Sacconato
Diretor de pesquisa da Brain
pa (33 implantações) e Ásia
(28), em que elas atuam. Outros destinos começam a aparecer, como o continente africano (12, a grande maioria de grupos brasileiros).
“Muitas vezes as empresas
brasileiras não olham para a
América Latina como prioridade e dão mais atenção ao mercado interno ou em atuações na
Europa e nos Estados Unidos,
que têm pouca perspectiva de
crescimento nos próximos
anos”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da Brasil Investimentos e Negócios (Brain), entidade que congrega representantes de diversos setores.
Segundo ele, o potencial brasileiro está subestimado. “Se
for avaliado que o Brasil concentra 85% de toda a movimentação do mercado financeiro latino-americano, percebese que é ainda é muito baixa a
exposição do país no comércio
regional.” ■ C.B.
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América Latina é o novo alvo dos investimentos brasileiros