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SELETIVIDADE ESPACIAL DOS INVESTIMENTOS
IMOBILIÁRIOS – ESTUDO DO CAMPECHE –
FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA
Tiago Umberto Pazolini
Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]
Everton da Silva
Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]
INTRODUÇÃO
Inserido na conjuntura político-econômica do município de Florianópolis, a
localidade do Campeche passou por transformações territoriais nas ultimas décadas,
sobretudo devido a crescente intensificação do uso e ocupação do solo verificada a partir da
segunda metade do século XX. É nesse período que se constitui o processo de urbanização
da Ilha de Santa Catarina, com a intensificação dos deslocamentos populacionais e o
desenvolvimento de infraestruturas urbanas no interior da ilha.
As famílias rurais açorianas que povoaram a localidade do Campeche por volta
de 1880 dedicavam-se ao plantio de uma variedade de produtos, desempenhando na
localidade as atividades agrícolas, pesqueiras e artesãs, em um modo de vida marcado pelas
práticas de subsistência (NEVES, 2003).
Contudo tais práticas de seus antigos moradores e descendentes se
transformariam no decorrer do século XX, sobretudo devido as sucessivas trocas culturais, a
dinâmica de acumulação do capital (NEVES, 2003) com os fluxos da economia global (RIZZO,
2013), o turismo de sol e praia (FAUTH, 2008) e a mudança no sentido\significado da terra
para os antigos proprietários do valor de uso para o valor de troca, onde a terra urbana aos
poucos passa a ser tida como uma mercadoria (RIZZO, 2013; NEVES, 2003), atraindo uma
série de investimentos, especialmente do setor imobiliário.
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Com a valorização da terra urbana e dos recursos naturais, a localidade passa a
receber um número significativo de migrantes ocorrendo um crescimento da malha urbana
e área construída. Esse novo perfil populacional proporciona uma reorganização territorial
com o surgimento de novas formas de ocupação do espaço.
A década de 90 é o período em que a intensificação do uso e ocupação do solo
torna-se mais latente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, a população do Campeche que era de 7.514 habitantes em 1990, passa para 18.570
em 2000 e chega a 30.028 em 2010. Concomitantemente, surgem diversas tipologias
habitacionais como loteamentos residênciais, condomínios, casas de veraneio, entre outros,
que se distribuem de forma seletiva no território.
Nessa perspectiva, cremos que a informação territorial é de fundamental
importância para o conhecimento dos processos socioespaciais que envolvem a dinâmica
do mercado imobiliário, fornecendo subsídios técnico-científicos para gerir e planejar o
território, bem como aporte teórico para futuras pesquisas sobre o tema. Neste sentido,
este trabalho visa investigar a seletividade espacial dos investimentos imobiliários na
localidade do Campeche, ou seja, verificar como se distribui espacialmente as localizações
residências e quais seus condicionates históricos.
Nos limites de uma pesquisa exploratória, temos como objetivo realizar uma
caracterização do mercado imobiliário com a implementação de um sistema de informação
geográfica composto por dados censitários do IBGE, tendo como recorte temporal as
décadas de 1990 e 2000, onde o processo de crescimento foi mais acentuado. Por meio da
pesquisa em teses e dissertações foi possível determinar os diversos períodos de
transformações socio-espaciais na área e estudo que somadas as observações empíricas
contribuiram para os resultados preliminares desta pesquisa.
EMBASAMENTO TEÓRICO
Para este trabalho presupomos o estabelecimento de um corpo teórico que nos
forneça subsídios para a realização de um debate com o tema proposto, lançando luz as
categorias geográficas de análise do espaço. Inicialmente apresentamos alguns aspectos da
'Produção do Espaço', passando pelas categorias de análise geográfica 'Forma, Função,
Processo e Estrutura (SANTOS, 1985)', para em seguida introduzimos alguns contextos da
'Dinâmica Imobiliária'.
Para Milton Santos o espaço produzido constitui uma realidade objetiva, um
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produto social em permanente processo de transformação (SANTOS, 1985 p49), reunindo a
materialidade e a vida que o anima. Assim, as materializações presentes no espaço são
produtos sociais, ou seja, fruto das relações que o homem possui com o seu grupo-meio.
Segundo Santos, o espaço geográfico é formado por um conjunto indissociável de sistemas
de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 2006 p.38). O conjunto de objetos (naturais e
artificiais) sobre a superfície terrestre nos dá o seu arranjo espacial, sua configuração
geográfica, que na realidade possuem frações do social, produto da história destes objetos e
da forma como foram construídos (ibid. p.46). Assim, tais objetos-formas espaciais devem
ser entendidos como formas-conteúdo, sendo o resultado das ações humanas no constante
movimento de transformação do espaço geográfico.
Sempre que a sociedade sofre uma mudança, as formas ou objetos geográficos
assumem novas funções; a totalidade da mutação cria uma nova organização
espacial. Em qualquer ponto do tempo, o modo de funcionamento da estrutura
social atribui determinados valores às formas (SANTOS, 1985 p49).
Antonio Carlos Robert de Moraes (MORAES, 1988) destaca o papel do sujeito na
produção do espaço e coloca que “o espaço produzido é resultado da ação humana sobre a
superfície terrestre que expressa as relações sociais que lhe deram origem" (p.15). O
homem em sua condição de ser apreende seu espaço intelectualmente e o representa de
acordo com suas elaborações mentais ou de seu grupo. Tais elaborações envolvem
finalidades, interesses, necessidades, desejos, projetos, utopias (p.16-22). Segundo Moraes,
não há humanização do planeta sem uma apropriação intelectual dos lugares, sem uma
elaboração mental dos dados da paisagem (p.16). Assim tem-se que “a paisagem humana é
resultado de uma dialética entre matéria e ideia" (p.22). Produto de uma valorização
subjetiva do espaço (p.25).
No contexto da geografia urbana ao qual segue este trabalho, utilizamos como
aporte teórico as concepções do 'Espaço Urbano' delineadas por Roberto Lobato Corrêa
(1989). Segundo Corrêa, o espaço urbano constitui um "conjunto de diferentes usos da terra
justapostos entre si" (p.7). Este espaço urbano fragmentado define as diversas áreas da
cidade, a sua organização espacial, sendo viabilizado por agentes que produzem e
consomem o espaço. Para Corrêa:
A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um
constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de
novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de
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certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e
mudança, coercetiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas
áreas da cidade (CORREA, 1989 p11.)
Neste caso, a ação dos agentes é responsável pelos processos de produção do
espaço. Os principais agentes produtores do espaço urbano delineados por Corrêa (1989)
são: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores
imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. Tais agentes agem, dentro de um marco
regulatório, com determinadas práticas espaciais que, com ações espacialmente localizadas,
viabilizam localizações e relocalizações das atividades e da população dentro do espaço
urbano" (p.36).
Os promotores imobiliários são um conjunto de agentes que realizam as
seguintes
operações:
incorporação,
financiamento,
estudo
técnico,
construção
e
comercialização dos imóveis (CORREA, 1989) sendo, em grande parte, responsáveis pela
dinâmica imobiliária urbana. O Estado atua como agente produtor do espaço urbano,
principalmente na regulação do uso e ocupação do solo através da legislação urbanística,
pela provisão de infraestruturas e equipamentos coletivos e pelas políticas públicas
habitacionais.
A materialização das estrutura socioespaciais desiguais, funcional a estrutura da
produção e apropriação do espaço geográfico, é um componente essencial para a
compreenssão da dinâmica imobiliária. "São passíveis de apreenssão na escala da rede
urbana ou no espaço intraurbano, manifestando-se de forma distinta em cada escala"
(CORRÊA, 2007, p.63-64). Assim, as formas imobiliárias no espaço geográfico possuem
características e destinações diferentes.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O povoamento da localidade do Campeche se deu por volta de 1880 quando
ocorre o deslocamento de famílias rurais açorianas da região da Lagoa da Conceição cujo
modo de vida destacava-se pelas práticas de subsistência, sobretudo com a economia
agrícola, pesqueira e artesã. De acordo com as pesquisas de campo realizada por Neves
(2003), os terrenos adquiridos pelas famílias eram grandes o suficiente para produzirem
uma variedade de produtos1 onde “parte era utilizada para o consumo familiar e o
1
O cultivo de mandioca brava onde fabricava-se farinha nos engenhos para ser vendida no mercado. Segundo Neves
(p.35) outros produtos se destacavam como o aipim, amendoim, melancia, melão, feijão e café. Além da criação de
bovinos, suínos, aves e o pescado. A produção de utensílios necessários ao uso cotidiano (ibid. p.36).
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excedente era trocado ou vendido no mercado” (p.35-36). (Anexo A)
A comunidade utilizava as áreas de uso comum2 para plantar, inclusive as
encostas do Morro Lampião que eram intensamente utilizadas para o cultivo de café,
cana-de-açúcar e alho (ibid. p.35). De acordo com os relatos de antigos moradores, os
terrenos tinham em geral testada pequena e grande extensão de comprimento, a exemplo,
com testada de 70m x 750m da praia ao Morro Lampião (ibid. p.44) ou com 50m x 750m de
fundo (ibid. p.75).
Segundo as constatações de Neves (2003), entre os anos de 1940-1960, os
pescadores-lavradores são atraídos pela atividade da pesca embarcada no Rio Grande do
Sul que consome grande parte da mão de obra do litoral catarinense, em especial da
localidade do Campeche. Tal fato permitiu trocas culturais e o conhecimento de técnicas de
trabalho que proporcionava uma diferenciação social entre os moradores, onde um
segmento da população passou a se tornar “patrão na pesca artesanal local” (p.42).
Posteriormente, a chegada das grandes empresas pesqueiras provoca o colapso da
pequena produção pesqueira. Aos poucos, parte dos habitantes vêm outras possibilidades
de conseguir renda para aquisição de seus bens e necessidades, principalmente com o
'negócio próprio' ou através do trabalho assalariado.
Em 1955 é aprovado a Lei nº246, o primeiro Plano Diretor do Município de
Florianópolis, que orienta o ordenamento do uso e ocupação do solo municipal, restrito a
área central e continental da cidade. Entre as ideias que permeavam o imaginário político da
cidade, estava a de que Florianópolis permanecia relativamente atrasada economicamente.
Tal fato contribuiu na mobilização para a realização do Plano que foi realizado por uma
equipe técnica de arquitetos fundamentados nos princípios do racionalismo moderno onde,
segundo Fauth (2008, p.51), “a intenção dos autores do plano de 1955 era de construir uma
cidade
funcional
e
ao
mesmo
tempo
moderna,
tanto
arquitetônica
quanto
economicamente” (FAUTH, 2008).
A década de 60 é o período em que as políticas do governo federal de expansão
territorial e integração econômica fazem efeito em Florianópolis e região, sobretudo com a
construção das principais vias de circulação hoje existentes que aceleram os fluxos e a
2
De acordo com as observações de FAUTH (2008), é por volta de 1822 que Florianópolis, ainda Desterro, recebe a
doação de terras estendendo-se pelos bairros Agronômica, Trindade, Pantanal, Saco dos Limões e Costeira do
Pirajubaé (p.42). No interior da Ilha predominava as terras Comunais ou logradouros públicos. A partir de 1850 com
a Lei das Terras, com a propriedade privada “os registros de compra e venda aumentaram consideravelmente e
muitos se intitulavam donos das terras comunais” (ibid. p.43 apud CAMPOS, Nazareno. Terras comunais na Ilha de
Santa Catarina p.15).
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mobilidade populacional. Nesta época, começa a ser pensado o Plano de Desenvolvimento
da Área Metropolitana de Florianópolis, culminando no Plano de Desenvolvimento
Integrado3 de 1976 que se apoiava em dois eixos de crescimento urbano municipal, para o
norte, ao longo da BR-101, e para o leste da Ilha na região da Lagoa da Conceição, onde o
Campeche fazia parte do Setor Oceânico Turístico da costa leste. Dessa forma, o
crescimento é direcionado para o interior da Ilha, privilegiando o Campeche como
importante balneário e área de interesse turístico (FAUTH, 2008).
Nesse período é que são propostos o túnel e o aterro para abrigar o sistema
viário de ligação centro-planície (RIZZO, 2013 p.178). Posteriormente, com a ampliação da
malha viária proporcionada pela construção da Via Expressa Sul, a ocupação do Sul da Ilha
passa a ser viabilizada. Outras obras construídas foram: a estrada geral em 1973/7974 e sua
pavimentação em 1984; a viabilização do transporte público regular; a pavimentação da
SC-405 em 1980; a escola básica e o centro de saúde em 1982; entre outras (ibid. p.40).
Já na década de 70, o município Florianópolis entra em uma fase de urbanização
acelerada e começa a receber um número significativo de migrantes atraídos pelo
funcionalismo público da cidade, como por exemplo, pela demanda por profissionais
qualificados nas empresas estatais e universidades públicas - Universidade Federal de Santa
Catarina e na Universidade do Estado de Santa Catarina (ibid p.183). Segundo Fauth (2008,
p.37), nesta época Florianópolis atraia visitantes para as “atividades turísticas sazonais
baseadas nas características naturais, principalmente as praias” que tiveram suas orlas
ocupadas.
De acordo com as constatações de Neves (2003, p.21), na década de 1970 o
Campeche apresentava um vazio demográfico com “terrenos relativamente planos e
acessíveis a classe média” que se constituía em “um atrativo para a população do centro da
cidade” principalmente devido as suas “características de clima ameno e áreas verdes” onde
era tido como “um bairro tranquilo, com povo pacato que preservava aspectos do seu antigo
modo de vida”. Em outra passagem cita que:
Muitos funcionários públicos e comerciantes, enfim, classe média que pretendia
ter uma 'casa na praia' para a temporada, adquirem terrenos no Campeche
(p.74). A localidade vai se configurando como um bairro residencial 'dormitório',
onde a maioria dos moradores, reside e desloca-se para o trabalho no centro ou
3
Segundo Fauth (2008, p.53), “O que ficou do Plano foram as grandes intervenções viárias realizadas nas décadas de
1970 e 1980, com a ampliação de vias expressas de trânsito rápido conectando as áreas em expansão às áreas mais
desenvolvidas, como a BR-282 e o aterro da Baía Sul.
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para os bairros centrais (p.76).
Em 1985 com a lei 2.193\85 é aprovado o Plano Diretor dos Balneários 4 que
permite o uso e ocupação urbano no interior da Ilha de Santa Catarina. Nessa ocasião, o
setor imobiliário já expandia na Ilha, principalmente com os investimentos turísticos de sol e
praia onde segundo Fauth (2008, p.54), o plano “reforça a atribuição de uma vocação
balneária, atribuindo às localidades da orla a função de balneários”.
Tais modificações que ocorreram em Florianópolis e refletiram no Campeche,
em especial com o Plano de 1985 que transforma as terras rurais em urbanas, provocaram a
transformação do papel/significado da terra para seus antigos proprietários e moradores,
do valor de uso para o valor de troca. Segundo as constatações de Neves (2003 apud
AMORA, 1996), “o fenômeno evidenciado nos anos 80, com raízes no passado recente,
articula o bairro do Campeche com Florianópolis, via expansão da infraestrutura com a
ampliação da malha urbana para a constituição de um mercado de terras urbanas e
consequente especulação imobiliária”, e complementa, “assistimos a substituição dos
antigos moradores nativos por setores das camadas médias da população, que são atraídas
pelas características do sítio paisagístico (valor do espaço) (ibid. p.38-39). Com isso, as
antigas práticas culturais vão se metamorfoseando face o novo perfil dos moradores da
localidade.
Na década de 90 novas ideias acerca do território entram em cena e passam a
fazer parte do imaginário político da população Florianopolitana, como por exemplo, a
imagem do turismo predatório das belezas naturais da Ilha e a ideia da transformação da
capital em uma Tecnópolis, assumindo funções de polo tecnológico (Neves p23 apud pmf:
1995, p56-57).
Nesse cenário, o Campeche era visto como a “possibilidade de qualidade de
vida”, projetado para o turismo de alto padrão, localizado em um lugar estratégico do ponto
de vista da mobilidade de seus moradores e da proximidade com o mar (NEVES, 2003).
Segundo RIZZO (2013), a proposta para o Campeche é a de fundar “uma cidade nova”, uma
“Técnópolis” na propicia localidade do Campeche, “criar um atrativo ao turismo e às
empresas de alta tecnologia” (p180-181).
Na década de 90 é que o desmembramento e comercialização dos lotes torna-se
mais latente, emergindo novas formas de ocupação do espaço com características e
4
A lei vigora até o presente, embora com inúmeras alterações no seu texto original (FAUTH, 2008 p.54).
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destinações diferentes (NEVES, 2003 p.40), como os condomínios residenciais, destinado a
camadas populacionais com determinada poder aquisitivo, entre outras demandas
habitacionais, como pousadas, casas de veraneio, hotéis, comércio e serviços.
CARACTERIZAÇÃO DOS SETORES CENSITÁRIOS
Segundo definição do IBGE, o Setor Censitário é a menor unidade territorial de
coleta de dados, possuindo dimensão adequada à operação das pesquisas censitárias. Por
isso, dispõe de 250 à 300 domicílios por setor, compreendendo as características
domiciliares do resultado do universo, ou seja, da totalidade da população brasileira (IBGE,
2011; 2003).
As informações em nível de setor censitário estão divididas em 21 planilhas e
contém os microdados do Censo Demográfico com 3.200 variáveis para o Estado de Santa
Catarina, abrangendo as seguintes características da população residente: sexo, idade, cor
ou raça, condição no domicílio; pessoas responsáveis pelo domicílio; alfabetização; registro
de nascimento das crianças de até 10 anos de idade; e características dos domicílios
particulares (IBGE, 2011; 2003).
As variáveis escolhidas para este estudo foram (Quadro 1):
1. Domicílios particulares permanentes. É o local que serve de habitação,
estruturalmente separado por paredes ou não.
2. Moradores/população em domicílios particulares permanentes, ou seja,
população que habita uma moradia com divisória de paredes ou não.
3. Domicílio particular permanente tipo casa.
4. Domicilio particular permanente tipo apartamento.
5. Domicilio particular permanente tipo aluguel
Quadro 1: Variáveis utilizadas
Fonte: IBGE.
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OS SETORES SENSITÁRIOS NO CAMPECHE
Os setores censitários do censo demográfico de 20005 que abrangem a
localidade de estudo, estão inclusos no Distrito do Campeche no município de Florianópolis.
Possuem 8 setores em sua totalidade, divididos entre 4 bairros: Campeche Central,
Campeche Norte, Campeche Leste e Campeche Sul (IBGE, 2000).
No censo de 2010, a localidade do Campeche apresentou um acréscimo
populacional. A população do Distrito do Campeche que era de 18.570 residentes no censo
de 2000, sobe para 30.028 em 2010. O aumento demográfico vai refletir na quantidade de
setores, passando de 8 setores para 17 na mesma área geográfica.
As informações censitárias sendo de datas diferentes divergem na quantidade
de setores, por este motivo, neste estudo adota-se a escala do bairro para realização das
interpretações. Com a utilização do ArcGis10.1 foi possível unir os setores e separá-los por
Bairros, criando uma tabela de atribulas com a soma do valor total dos setores que
englobam cada bairro. Dessa forma a análise tempo-espaço ficou compatibilizada tendo em
vista que a área geográfica é a mesma. A seguir, o Mapa 1 mostra a divisão censitária para o
ano de 2000 e 2010. Na sequência, o Mapa 2 com os Bairros selecionados.
5
As bases cartográficas que compõe o produto utilizam, como referência cartográfica, o sistema de coordenadas
geográfica (latitude e longitude) e a projeção Universal Tranversa de Mercator – UTM, e , como referência geodésica,
o
South
American
Datum
1969
–
SAD
69.
Informações
disponíveis
em:
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/territ_doc3.shtm Acesso: 23/07/2014
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Figura 1: Divisão censitária de 2000 e 2010.
Fonte: IBGE. Elaboração
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Figura 2: Divisão dos setores pelo nome do Bairro.
Fonte: IBGE
CONSIDERAÇÕES DO TRABALHO DE CAMPO
O conhecimento empírico da localidade do Campeche (devido ao período de
vivência do autor em 2013), acompanhado do exame de imagens e fotografias aéreas
(Google Earth, Aerolevantamentos, Geoprocessamento Corporativo da Prefeitura Municipal,
entre outros) permitem fazer interpretações acerca da materialização das infraestruturas no
território do Campeche. Utilizou-se como base a Imagem aérea do aerolevantamento de
2002 cedida pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis à UFSC (Figura 3) para
fazer algumas considerações a respeito da área de estudo.
Em 2002, o Campeche apresenta uma estrutura urbana consolidada, com a
urbanização predominantemente próximo a orla da praia. Com seu crescimento horizontal,
a expansão urbana cresce para o interior da planície, sobretudo no Campeche Norte, eixo
da rodovia Estadual SC-405, onde recentemente instalaram-se diferentes tipologias de
condomínios residenciais. Outra característica perceptível na paisagem do Campeche são os
'vazios urbanos', uma grande quantidade terrenos sem edificações que se localizam em
distintas partes do território, especialmente no Campeche Leste.
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Figura 3: Imagem da fotografia aérea da localidade do Campeche do ano de 2002.
Fonte: Arquivo Pessoal.
DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES
A figura 4 mostra o número de domicílio por Bairro. Em 2012, a média de
domicílios por setor era de 733 enquanto que em 2010 passa para 1373. O crescimento foi
em média de 50% para todos os Bairros. O aumento de domicílios cresceu de forma
constante, sendo assim, não houve discrepância de valores. O Campeche Sul e Norte
continuam com a predominância no número de domicílios.
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Figura 4: Número de domicílios particulares permanentes por Bairro.
Fonte: IBGE.
POPULAÇÃO HABITANTE
A figura 5 mostra a evolução no número de moradores habitantes nos domicílios
onde todos os Bairros apresentaram um crescimento elevado. O Campeche Leste cresceu
mais de 50%, aproximando-se do Campeche Sul que é a localidade com maior número de
domicílios e moradores. Portanto, constata-se que o crescimento de domicílios por Bairro
não possui padrões de dispersão, enquanto que o crescimento do número de moradores se
constitui de forma diferenciada. O Campeche Norte apresentou um crescimento de 1032
moradores enquanto que o Campeche Leste cresceu para 2490.
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Figura 5: Número de moradores em domicílios particulares permanentes.
Fonte: IBGE.
CASA, APARTAMENTO, ALUGUEL
A tabela 1 mostra o número de domicílios do tipo casa. Esta tipologia é a
predominante no Campeche. A localidade do Campeche Central obteve maior crescimento
relativo, passando para o 1107 domicílios.
Tabela 1: Domicílio particular permanente tipo Casa
Fonte: IBGE
A tabela 2 mostra o número de domicílios do tipo apartamento. O Campeche
Central passou de 0 para 47 apartamentos em um período de 10 anos, ao mesmo tempo em
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que o Campeche Sul se consolida nessa tipologia. Do censo de 2000 para 2010 foram mais
de 2000 domicílios novos. Na totalidade de seus 5495 domicílios, 1659 são de origem
aluguel (Tabela 3), ou seja, em 2000 a cada 3 domicílios 1 era de origem aluguel, enquanto
que em 2010 a relação é de 6 para 1.
Tabela 2: Domicílio particular permanente tipo Apartamento
Fonte: IBGE
Tabela 3: Domicílio particular permanente alugado
Fonte: IBGE
RESULTADOS PRELIMINARES E DISCUSSÕES
A estruturação e organização de dados e informações através dos sistemas de
informação geográfica demonstrou-se um excelente mecanismo de armazenamento,
manipulação e representação espacial de dados e informações. Com a análise dos dados foi
possível perceber algumas transformações entre os anos de 2000 e 2010, tanto nas tipologia
dos domicílios quanto no número de moradores.
A legislação do uso e ocupação do solo municipal vem proporcionando o uso e
ocupação do solo de forma distinta, relacionando-se com o processo de expansão urbana
na localidade e em novos padrões de ocupação urbana.
O estudo e conhecimento das formas de apropriação do território são de suma
importância para o entendimento da dinâmica imobiliária, principalmente na localidade do
Campeche que vem se constituindo com um lugar turístico onde emergem diversas
tipologias habitacionais.
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REFERÊNCIAS
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São
Paulo (SP): Atica, 1989. 94p
Brasil. São Paulo: Hucitec, 1988. 156p.
CORRÊA,
Roberto
Lobato.
Diferenciação
Sócio-Espacial, Escalas e Práticas Espaciais.
Cidades, v. 4, n.6, 2007, p. 62-72
FAUTH, Gabriela. Legislação urbanística e
ocupação do espaço : o caso do Campeche.
Florianópolis, SC, 2008. 1 v. Dissertação
(Mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Tecnológico. Programa de
Pós-graduação em Urbanismo, História e
Arquitetura da cidade
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Censo demográfico 2000. Agregado por
Setores Censitários dos Resultados do
Universo - 2ª edição. Rio de Janeiro, 2003.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Base de Informação do Censo Demográfico
2010: Resultado do Universo por Setor
Censitário. Rio de Janeiro, 2011.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias
geográficas: espaço, cultura e política no
NEVES, Paulo César da Fonseca. Do valor do
espaço ao valor no espaço no distrito do
Campeche ( Florianópolis – SC) : Loteamento
Novo Campeche e Loteamento Areias do
Campeche. PPGEO, UFSC, Florianópolis 2003.
RIZZO, Paulo Marcos Borges. O planejamento
urbano no contexto da globalização: caso do
plano diretor do Campeche em Florianópolis,
SC. 2013. 331 p. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina,
Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
Programa de Pós-Graduação em Geografia,
Florianópolis,
2013
Disponível
em
:
<http://www.bu.ufsc.br/teses/PGCN0505-T.pdf
>. Acesso em : 7 jun. 2013
SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo (SP):
Liv. Nobel, 1985. 88p.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e
Tempo, Razão e Emoção / Milton Santos. - 4.
ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editorada
Universidade de São Paulo, 2006
1678
http://6cieta.org
São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
SELETIVIDADE ESPACIAL DOS INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS –
ESTUDO DO CAMPECHE - FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA
EIXO 1 – Transformações territoriais em perspectiva histórica: processos, escalas e contradições
RESUMO
Localizada no Sul da Ilha de Santa Catarina, o povoamento da localidade do Campeche deu-se
por volta de 1880 por famílias rurais açorianas que adquiriram glebas de terras na atual planície do
Campeche. Na primeira metade do século XX, destacou-se a prática da lavoura e o
desenvolvimento da pesca artesanal, em um modo de vida marcada pelas práticas de
subsistência. (NEVES, 2003). A segunda metade do século XX representou um período de
transformações político-econômicas em Florianópolis, sobretudo, devido a integração
político-econômica da capital a outras regiões do Estado com o crescente desenvolvimento de
infraestruturas urbanas no interior da Ilha. Inserido nessa conjuntura, a paisagem do Campeche
passou por mudanças territoriais nas últimas décadas, principalmente devido a crescente
urbanização e intensificação do uso e ocupação do solo verificada a partir da década de 1970,
onde a entrada de capitais torna-se constante, sobretudo o imobiliário. Em 1985, o Plano Diretor
dos Balneários propõe o Campeche como área de expansão do setor oceânico turístico,
transformando as áreas rurais em urbanas, onde as terras adquirem valor para uso urbano. Com a
valorização da terra urbana e dos recursos naturais, a localidade passa a receber um número
significativo de migrantes ocorrendo um crescimento da malha urbana e área construída (RIZZO,
2013; NEVES, 2003). A década de 90, é o período em que a intensificação do uso e ocupação do
solo torna-se mais latente. Segundo dados do IBGE, a população do Campeche que era de 7.514
habitantes em 1990 passa para 18.570 em 2000, e em 2010 esse número sobe para 30.028.
Concomitantemente, entram em cena os interesses turísticos e de grupos imobiliários com a
crescente abertura de loteamentos e investimentos imobiliários compostos de diferentes
tipologias habitacionais como condomínios residenciais, casas de veraneio, pousadas, hotéis,
entre outros, que aparecem de forma seletiva em termos de localização espacial. Observando que
os investimentos imobiliários possuem um caráter de seletividade espacial, sendo o resultado de
ações espacialmente localizadas por agentes que produzem o espaço, surge a necessidade de
verificar de que forma se distribui espacialmente as localizações habitacionais a fim investigar as
características do mercado imobiliário na área de estudo e região. O conhecimento da dinâmica
do mercado imobiliário é de suma importância, tanto para a ciência desvendar os processos
socioespacias contemporâneos, quanto para o município de Florianópolis frente as discussões em
torno da urbanização e dos problemas urbanos que a cidade enfrenta, onde a informação
territorial se torna um importante instrumento para gerir e planejar o território. Para isso, propomos
explorar os dados censitários do IBGE do censo de 2000 e 2010, período em que a localidade
recebeu um significativo número de edificações e infraestruturas. As variáveis utilizadas serão
submetidas a análises espaciais com a implementação de um Sistema de Informação Geográfica e
corroboradas com as informações bibliográficas coletadas.
Palavras-chave: seletividade espacial; mercado imobiliário; Campeche.
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