COMPREENDENDO O CAPITALISMO DOS PAÍSES DEPENDENTES ILUMINADO PELA TEORIA DE RUY MAURO MARINI: PRESSUPOSTO PARA A ANÁLISE DE POLÍTICAS SOCIAIS Maria Lucia Frizon Rizzotto1 Francis Mary Guimarães Nogueira RESUMO: Neste trabalho discutem-se aspectos do capitalismo latino-americano a partir da Teoria da Dependência de Ruy Mauro Marini, expressa em texto publicado em 1973 com o título: Dialética da Dependência. Neste texto o autor apresenta a sua concepção sobre o capitalismo nos países dependentes, revelando a forma específica que este modo de produção adquire nesses países, na medida em que se inserem de forma subordinada e dependente na dinâmica do capitalismo mundial e, internamente, como mecanismo para compensar as perdas provocadas pelo intercambio desigual, exploram a força de trabalho além dos limites de sua reprodução, pois não necessitam de um consumo interno de massa, uma vez que sua produção é voltada para o mercado externo, e não precisam se preocupar com a reprodução da força de trabalho em face do enorme exército de reserva existente. Em face disso, nestes países, as políticas sociais assumiram um caráter restritivo e compensatório, deferentemente do que ocorreu nos países centrais, onde o Estado pôde nos momentos de expansão do capital distribuir renda por meio de políticas públicas. PALAVRAS-CHAVE: Teoria da Dependência; Superexploração; Políticas Sociais; Capitalismo Dependente INTRODUÇÃO: A Teoria da Dependência dos países latino-americanos, formulada 1 Enfermeira, doutora em Saúde Coletiva, docente do Curso de Enfermagem da Unioeste – Campus de Cascavel. E-mail [email protected]. por Ruy Mauro Marini, ao desvelar e revelar a dialética do desenvolvimento capitalista destes países e de sua decisiva participação no avanço do capitalismo mundial, a partir de meados do século XIX, nos mostra também os limites e as possibilidades da efetivação das políticas sociais em países como o Brasil. Estes limites estão circunscritos a singularidade com que o capitalismo se desenvolveu aqui, de forma subordinada e dependente frente à economia mundial, que tem como fundamento dessa dependência o intercâmbio desigual de mercadorias entre países centrais e periféricos e a superexploração do trabalhador. Para compensar as perdas decorrentes do intercâmbio desigual de mercadorias, o capitalista doméstico superexplora o trabalhador, em face de que não precisa reproduzir a força de trabalho, pois existe um grande exército de reserva formado por nativos em alguns países e imigrantes em outros e, não precisa construir um grande mercado consumidor interno, pois a sua produção está voltada para o mercado externo. A superexploração, categoria construída por Marini, se realiza por meio da intensificação do trabalho, do prolongamento da jornada e da expropriação de parte do trabalho necessário para a própria reprodução do trabalhador. Essa realidade permite que nos países dependentes, as políticas sociais, sempre assumissem um caráter restritivo e compensatório, apesar do reiterado discurso dos governos e da formulação de inúmeros planos e projetos visando o desenvolvimento econômico e social desses países. Em grande medida os formuladores de planos e projetos visando o desenvolvimento econômico dos países dependentes partem do pressuposto que o desenvolvimento social será alcançado ora em decorrência do processo de crescimento econômico, ora associado à implementação de políticas sociais adequadas, ou ainda, por meio da combinação dessas duas estratégias. Contudo, a história tem mostrado que nos países latino-americanos, incluindo o Brasil, apesar dos inúmeros planos e projetos de desenvolvimento econômico, propostos e colocados em prática e dos infindáveis programas sociais apresentados, o desenvolvimento social não se concretizou. Não houve melhorias na vida dos trabalhadores, ao contrário, na medida em que o capitalismo avança o que tem ocorrido é, de um lado, uma crescente acumulação de riqueza por uma minoria e, de outro, a pauperização de um contingente cada vez maior de trabalhadores. Para tentar compreender essa complexa realidade e os desdobramentos no campo das políticas sociais, acreditamos ser necessário nos munirmos de uma ferramenta teórica que trabalhe com a totalidade da realidade, sob o risco de fragmentarmos e limitarmos a interpretação. Por isso optamos por Ruy Mauro Marini como autor de referência para apreender esse processo, em face de sua orientação teórica e da proposta metodológica que construiu para analisar a realidade latino-americana. Portanto, o objetivo deste trabalho é entender o processo de desenvolvimento do capitalismo latino-americano e brasileiro a partir da Teoria da Dependência na perspectiva de Ruy Mauro Marini, como pressuposto para a análise das políticas sociais em nosso país. O CÍRCULO VICIOSO DA DEPENDÊNCIA DOS PAÍSES LATINOAMERICANOS: Os países latino-americanos, desde o início do século XVI, se desenvolveram de forma subordinada e em consonância com o capital internacional. Inicialmente contribuíram para o desenvolvimento do capital comercial e bancário da Europa, sustentando o sistema manufatureiro e, posteriormente, abriram caminho para a criação da grande indústria européia, na medida em que ampliaram o mercado consumidor para as manufaturas e se constituíram em centro gerador de matéria prima. No processo de desenvolvimento do capitalismo que se seguiu, foi se configurando a dependência dos países latino-americanos e se aprofundando, particularmente a partir de meados do século XIX quando se concretiza a primeira divisão internacional do trabalho. Naquele momento, coube aos países dependentes a função de produzirem alimentos para a população urbana dos países centrais e matéria-prima para a grande indústria européia. Conforme Marini (2000, p.109), a dependência constitui-se em “uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes, em cujo âmbito as relações de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para se assegurar a reprodução ampliada da dependência”. O fato de os países deixarem de ser colônias e se tornarem independentes politicamente, não rompeu com o mecanismo de subordinação econômica, mas houve modificações qualitativas na forma de subordinação, em face do novo processo de articulação desses países com o mercado mundial. Neste novo cenário, coube aos países dependentes, como já afirmado anteriormente, a tarefa de suprirem de alimentos e matéria prima os países industrializados, permitindo aos últimos se especializarem na produção de manufaturas, na medida em que não precisavam produzir, em nível nacional, os alimentos necessários à população urbana, formada com o processo de industrialização, e as matérias primas para a indústria. Essa dinâmica “permitiu aprofundar a divisão do trabalho e especializar os países industriais como produtores mundiais de manufaturas”. (MARINI, 2000, p.111). Além disso, para este autor, a América Latina contribuiu para que, nos países industriais, no século XIX, “o eixo da acumulação se desloque da produção de mais- valia absoluta à mais-valia relativa2, isto é, que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que simplesmente da exploração do trabalhador”. Ao passo que nos países dependentes ocorreu exatamente o contrário, “o desenvolvimento da produção latino-americana que permite à região coadjuvar essa mudança qualitativa nos países centrais dar-se-á fundamentalmente com base numa maior exploração do trabalhador”. (MARINI, 2000, p. 112/113). Para Marini (2000), além da superexploração um dos mecanismos centrais da dependência é o intercâmbio desigual entre os países dependentes e os países industriais. Diferentemente do que queria fazer crer a lei das vantagens comparativas, o que ocorre nas relações comerciais entre os países dependentes e industrializados é um persistente intercâmbio desigual entre eles, com uma vantagem em favor dos países industrializados e conseqüente transferência de valor para estes. Esta transferência de valor fundamenta-se: (1) na maior produtividade dos países industrializados e na manutenção do preço das suas mercadorias, no processo de troca, transgredindo a lei do intercâmbio e (2) no monopólio da produção de mercadorias industrializadas, pelos países centrais. Marini explica a transgressão da lei de intercâmbio da seguinte forma; Teoricamente, o intercâmbio de mercadorias exprime a troca de equivalentes, cujo valor se determina pela quantidade de trabalho socialmente necessário que as mercadorias incorporam. Na prática se observam diferentes mecanismos que permitem realizar transferências de valor passando por cima das leis de intercâmbio e que expressam na maneira como se fixam os preços de mercado 2 Mais-valia relativa é entendida como uma forma de exploração do trabalho assalariado, fundamentada na transformação das condições técnicas de produção, que leva à uma desvalorização real da força de trabalho, na medida em que produz mais mercadorias com o mesmo tempo de trabalho socialmente necessário. (MARINI, 2000). e os preços de produção de mercadorias. (MARINI, 2000, p.120) Ou seja, com o aumento da produtividade do trabalho, observada no processo de industrialização pela incorporação de tecnologias, há uma redução da quantidade de trabalho socialmente necessária para a produção de mercadorias com conseqüente redução do custo de produção. Contudo, na relação de troca entre países centrais e periféricos, os países centrais mantiveram ou até mesmo aumentaram o preço de suas mercadorias industrializadas, em face do monopólio, ao passo que as matérias primas e os produtos primários produzidos pelos países dependentes tiveram seus preços mantidos ou mesmo reduzidos em comparação ao processo inicial de troca. Isso leva a uma troca desigual e a transgressão da lei de intercâmbio. Cabe perguntar como os capitalistas dos países dependentes resolveram a equação do intercâmbio desigual no processo de acumulação doméstica. A escolha não se deu no sentido de aumentar a produtividade do trabalho, o que requeria mais capital, mas pela maior exploração do trabalhador, que associa a intensificação, o prolongamento da jornada e a expropriação de parte do trabalho necessário ao operário para repor a sua força de trabalho, reduzindo o consumo deste além do seu limite normal, portanto, aumentando o tempo de trabalho excedente. Isso se configura na superexploração do trabalhador, conceito cunhado por Marini, que se constitui, junto com o intercâmbio desigual, na essência da dependência Latino-americana. A superexploração do trabalhador não permite a criação de um consumo de massa em face do reduzido valor pago à força de trabalho. Além disso, não há a necessidade deste mercado porque a produção interna está voltada para o mercado externo, tornando a nossa economia dependente deste mercado para a sua dinamização, constituindo-se, assim, em um circulo vicioso sem saída para os países dependentes. Esta forma de exploração é possível também pela separação que ocorre, nos países dependentes, entre a produção e a circulação de mercadorias, já que a circulação se dá, sobretudo, no mercado mundial e a produção em âmbito nacional. Com isso os capitalistas desses países não precisam do consumo individual do trabalhador para incrementar a circulação, nem necessitam se preocupar com a reprodução da força de trabalho, pois existe um grande contingente de exército de reserva, inicialmente formado pelos nativos e por processos imigratórios e, mais tarde, pelo desemprego estrutural próprio da lógica do capital. Dessa forma o consumo individual do trabalhador pode ser sacrificado, permitindo que a produção de matérias primas e alimentos seja orientada para o mercado mundial. Parte da matéria prima exportada será transformada em manufatura nos países industriais, retornando aos países dependentes para serem adquiridas pela chamada “alta esfera de circulação”, própria dos não trabalhadores. A dinâmica de superexploração, nas economias dependentes, continuará marcando o seu desenvolvimento mesmo quando o eixo da acumulação se desloca para a indústria, dando origem à moderna economia industrial que passa a prevalecer na região latinoamericana, a partir de meados do século XX. Neste momento, a indústria dos países dependentes passa a produzir também para um determinado consumidor interno, pertencente às elites nacionais, dando a impressão que o capitalismo dependente estaria orientando-se para uma configuração semelhante ao que ocorreu no processo de industrialização clássico. Nos países centrais o processo de industrialização ao mesmo tempo em que criou o trabalhador assalariado, criou também um consumidor para as suas mercadorias, na medida em que este trabalhador não produzia mais a sua própria subsistência, tendo que comprá-la no mercado, o que irá aproximar mais a relação entre mercado e acumulação. A possibilidade que tem o capitalista industrial de obter no exterior, a preço baixo, os alimentos necessários ao trabalhador leva a estreitar o nexo entre acumulação e mercado, uma vez que aumenta a parte do consumo individual do operário à absorção de produtos manufaturados. É por isso que a produção industrial nesse tipo de economia, centra-se basicamente nos bens de consumo popular e procura barateá-los, uma vez que incidem diretamente no valor da força de trabalho e, portanto – na medida em que as condições em que se dá a luta entre operários e patrões tende a aproximar os salários desse valor – na taxa de mais-valia. Vimos já que esta é a razão fundamental pela qual a economia capitalista clássica deve se orientar para o aumento da produtividade do trabalho. (MARINI, 2000, p. 138). Conforme vimos acima, a produção para o mercado interno, nos países dependentes, não se deu voltada para o consumo de massa, mas, direcionada à “esfera alta da circulação”, sendo, portanto, um desenvolvimento industrial radicalmente distinto do que ocorreu nos países centrais. De fato, as similitudes aparentes da economia industrial dependente com a economia industrial clássica encobriam profundas diferenças, que o desenvolvimento capitalista acentuaria em lugar de atenuar. A reorientação para o interior da demanda gerada pela mais-valia não acumulada implicava já num mecanismo específico de criação do mercado interno radicalmente distinto do que havia atuado na economia clássica e que teria graves repercussões na forma que assumiria a economia industrial dependente. (MARINI, 2000, p. 137) Um dos mais graves reflexos da forma particular do desenvolvimento capitalista dependente se observa na extrema e ininterrupta concentração de riqueza, resultando, no caso brasileiro, em uma das sociedades mais desigual do mundo. A aparente similitude do desenvolvimento capitalista dos países dependentes com o desenvolvimento capitalista clássico levou a uma leitura equivocada do capitalismo dependente, que se expressou, nos anos de 1950, na emergência de distintas correntes desenvolvimentistas, acreditando que os problemas econômicos e sociais decorriam de uma insuficiência de desenvolvimento capitalista na região. A crença de que os nossos problemas econômicos e sociais seriam solucionados com o desenvolvimento capitalista decorria de que, no capitalismo clássico, efetivamente o processo de acumulação se deu por meio de uma maior produtividade do trabalho e não por uma maior exploração do trabalhador, isso em parte pela luta que lá se travou entre capital e trabalho, o que permitiu uma relativa melhoria na vida dos trabalhadores, e também porque os trabalhadores das economias dependentes ajudaram a sustentar um certo padrão de consumo dos trabalhadores daqueles países. Reiterando, o que se observou aqui, nos diferentes momentos de desenvolvimento capitalista, foi um processo de industrialização distinto, permanecendo a pressão da economia exportadora sobre o consumo individual do trabalhador, inviabilizando o desenvolvimento de uma indústria forte voltada para o mercado interno, ao mesmo tempo em que se desenvolveram setores industriais voltados para atender as demandas advindas dos países avançados e da alta esfera de circulação interna. Dessa forma, por estar voltada à produção de bens que entram muito pouco na composição do consumo popular, o desenvolvimento de setores industriais internos, não depende das condições de salário dos seus trabalhadores, o que permite à economia industrial dependente reproduzir de forma específica e continuamente, a acumulação de capital baseada na superexploração do trabalhador. (MARINI, 2000). O avanço da industrialização em determinados países latino-americanos a partir de meados do século XX, foi promovido pelo Estado, visando o processo de substituição de importações. Com este processo em curso, a necessidade interna passa a ser de importação de bens de capital e não mais de bens de consumo. Contudo, a ausência de poupança interna e a crise permanente do setor externo, tornaram crucial a importação de bens de capital na forma de financiamento e investimento na indústria. Isso não foi difícil uma vez que as grandes corporações dos países centrais possuíam abundantes recursos a serem aplicados no exterior e estavam produzindo grande quantidade de bens de capital, que rapidamente ficavam obsoletos, em face da produção de equipamentos cada vez mais sofisticados. A industrialização latino-americana corresponde assim a uma nova divisão internacional do trabalho, em cujo âmbito se transfere aos países dependentes etapas inferiores da produção industrial [...] reservando-se para os centros imperialistas as etapas mais avançadas [...] e o monopólio da tecnologia correspondente. [...] O que temos é uma nova hierarquização da economia capitalista mundial, cuja base é a redefinição da divisão internacional do trabalho ocorrida no curso dos últimos cinqüenta anos. (MARINI, 2000, p. 145). Como a produção, neste momento, se concentrou em bens suntuários e não havia condições internas para este consumo, colocando problemas para a realização do capital, o Estado teve que intervir ampliando o aparato estatal, subvencionando os produtores e financiando o consumo. Com estes e outros mecanismos, como a inflação e o achatamento dos salários, o Estado transfere renda da esfera baixa para a esfera alta de circulação. A compressão do poder de compra popular “impede qualquer estímulo ao investimento tecnológico no setor de produção destinado a atender o consumo popular”. (MARINI, 2000, p. 148). Nesta dinâmica as economias industriais dependentes, precisaram contar com um enorme exército de reserva e concentraram a sua produção em mercadorias de luxo a serem consumidas pelas camadas médias altas. Isso colocará a partir de meados dos anos de 1960, a necessidade de centrar o ciclo do capital novamente sobre o mercado mundial. “A exportação de manufaturas tanto de bens essenciais como de produtos suntuários se converte então na tábua de salvação de uma economia incapaz de superar os fatores desarticuladores que a afetam”, fazendo ressurgir o modelo da velha economia de exportação. (MARINI, 2000, p. 150). Com o avanço do capitalismo, nas economias dependentes, embora haja mudanças quantitativas e qualitativas em seus processos de produção e circulação, não descartam a superexploração uma vez que ela ... é inerente e cresce correlativamente ao desenvolvimento da força produtiva do trabalho. Supor o contrário equivale a admitir que o capitalismo, à medida que se aproxima de seu modelo puro, se converte em um sistema cada vez menos explorador e consegue reunir as condições para solucionar indefinidamente suas contradições internas. (MARINI, 2000, p. 163). Esse processo que se instituiu com a divisão internacional do trabalho, há mais de um século, tem aprofundado as relações de dependência e conseqüentemente da superexploração. Parte dos capitalistas dos países dependentes ganha com essa relação, concentrando cada vez mais o capital, originando e mantendo a extrema desigualdade social existente nesses países. Conforme Marini (2000, p. 109) “O fruto da dependência só pode assim significar mais dependência e sua liquidação supõe necessariamente a supressão das relações de produção que ela supõe”. Portanto, do ponto de vista da classe trabalhadora, a única alternativa que se apresenta para a solução dos problemas é a ruptura com o modo de produção capitalista. CONCLUSÕES: A partir da leitura da Teoria da Dependência de Ruy Mauro Marini, é possível compreender porque os planos e projetos de desenvolvimento econômico e social, propostos por diferentes governos de países latino-americanos, entre eles o Brasil, ao longo do século XX, não alcançaram os objetivos propostos de promoção do desenvolvimento econômico e social. Em nosso entendimento isso acontece, sobretudo, porque a dinâmica de acumulação do capitalismo mundial, nesta fase de desenvolvimento, impõe aos países dependentes um grau de transferência de valor que impede até mesmo a implementação de políticas e projetos mais redistributivos. Neste contexto, as políticas, os planos e os projetos não ultrapassam o nível retórico e de proposição, tendo, portanto, apenas uma função ideológica a cumprir. Empiricamente, observa-se o caráter restrito e compensatório das políticas sociais em toda a sua trajetória, essa característica decorre, de um lado, da lógica interna de acumulação que se estabeleceu nesses países, pautada na superexploração do trabalhador, e de outro, do entendimento de que o desenvolvimento econômico proporcionaria de forma natural e mecânica o desenvolvimento social. Já nos países centrais, em face da forma com que o capitalismo industrial se desenvolveu, as políticas sociais foram vistas, sobretudo em períodos de expansão, como necessárias à reprodução da classe trabalhadora e como elemento que poderia contribuir para o estabelecimento de um padrão de sociabilidade e de consumo, decisivo para o processo de acumulação. Além dessa questão que consideramos a fundamental, outro fator que impede a implementação de políticas sociais com uma característica mais redistributiva, decorre da opção política feita pelos diferentes governos desses países, em continuar transferindo recursos na forma de pagamento dos serviços da dívida externa, impossibilitando a formação de uma poupança interna e impedindo os investimentos públicos nos diferentes setores sociais. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MARINI, Ruy Mauro. Dialétia da Dependência. In: Dialética da Dependência: uma antologia da obra de Ruy Mauro Marini. Organização e apresentação de Emir Sader. Petrópolis, RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000.