1 ANÁLISE DO PERFIL IMUNOLÓGICO E VIRAL DOS PACIENTES HIV/AIDS ATENDIDOS NA UNIDADE DE SAÙDE – JUNDIAÍ EM ANÁPOLIS – GOIAS ENTRE OS ANOS 2002 E 2006. Adriana Paim da Silva 1,2 ; Andrea Brígida de Souza1,2 ; Keila Correia de Alcântara2,3. 1. Voluntária Iniciação Científica PVIC/ UEG 2. Curso de Farmácia, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG. 3. Profª. Orientadora. RESUMO - A aids destaca-se entre as enfermidades infecciosas emergentes pelos danos causados às populações, pois o HIV compromete o sistema imunológico. O objetivo deste estudo foi avaliar a condição clínica e os perfis imunológico e viral dos pacientes HIV/aids atendidos na Unidade de Saúde – Jundiaí, em Anápolis – Goiás entre os anos 2002 e 2006. Realizou-se análise retrospectiva dos prontuários médicos. Dos 246 prontuários observados, 97 foram analisados estatisticamente e constatado que 45% dos pacientes eram do sexo feminino, sendo a maioria solteira (35%). A via sexual foi a categoria de exposição predominante (84,5%). Na data do diagnóstico, a maioria dos pacientes era sintomática (n=73) e dos 19 pacientes assintomáticos, 18 evoluíram para aids. A mediana da carga viral era de 26.000 cópias/mL e as medianas dos níveis de CD4 e CD8 foram de 221 células/mm3 e 808,5 células/mm3 , respectivamente. Com o tratamento, a mediana dos níveis de CD4 aumentou (328 células/mm3 ) e a mediana da carga viral diminuiu (50 cópias/mL). A terapia anti-retroviral mais utilizada foi a associação ITRN + IP, contudo, a associação ITRN + ITRNN foi a mais eficaz. A maioria dos pacientes em Anápolis tem feito o diagnóstico já apresentando sintomas da doença o que representa a disseminação do vírus inconscientemente e a adesão ao tratamento parece ser satisfatória, pois tem atingido a redução da viremia e preservação do sistema imune do paciente. Palavras-chave: HIV, CD4 +, Carga Viral. Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou “Acquired Immuno Deficiency Syndrome” (AIDS) é uma doença infecciosa causada pelo vírus da imunodeficiência humana, conhecido como HIV (Human Immunodeficiency Virus), um vírus pertencente à classe dos 2 retrovírus (SOUZA; ALMEIDA, 2003). O HIV tem uma forma esférica, é envolvido por uma bicamada lipídica e na parte mais interna encontra-se dois filamentos simples de RNA (genoma viral) e três enzimas essenciais: p51 (transcriptase reversa), p11 (protease) e p31 (integrase) (MELO; BRUNI; FERREIRA, 2006). No Brasil, desde a identificação do primeiro caso de aids até junho de 2006, cerca de 433 mil casos de aids foram notificados ao Ministério da Saúde. A região Centro-Oeste contribui com 24.086 casos de aids notificados, destes 8.474 no estado de Goiás, sendo que o município de Anápolis ocupa a terceira colocação no estado de Goiás em relação ao número de casos de aids acumulados até 2006 (BRASIL, 2007). Assim, tendo em vista o número de pessoas infectadas pelo HIV no Brasil e na região Centro-Oeste, há uma necessidade de se conhecer a realidade de assistência aos pacientes HIV/aids em nível local, bem como a importância de se analisar os níveis de Linfócitos T CD4 +, T CD8 + e a carga viral destes pacientes. Este estudo se justifica em conhecer mais detalhadamente o tema infecção pelo HIV em pacientes que não são atendidos em grandes centros urbanos, e contribuir para o estabelecimento de tratamento adequado garantindo maior qualidade de vida e diminuindo a morbimortalidade por HIV nesta região. Baseado neste dado, este estudo tem como objetivo geral avaliar o perfil imunológico e viral dos pacientes HIV/aids atendidos na Unidade de Saúde – Jundiaí, em Anápolis – Goiás entre os anos 2002 e 2006. Além disso, o estudo apresenta como objetivos específicos: analisar a condição clínica, imunológica e viral dos pacientes atendidos na Unidade de Saúde – Jundiaí, em Anápolis – Goiás entre os anos de 2002 e 2006; identificar se os pacientes eram sintomáticos ou assintomáticos na data do diagnóstico da infecção pelo HIV e nas repetições periódicas dos exames de carga viral e contagem de Linfócitos T CD4 + e T CD8 + , identificar a categoria de exposição e verificar a eficácia do tratamento anti-retroviral nestes pacientes. Material e Métodos O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana da Sociedade Goiana de Cultura/Universidade Católica de Goiás (CEPMH-SGC/UCG). Após a aprovação do projeto de pesquisa pelo CEPMH-SGC/UCG (CAAE – 0014.0.168.000-06), os 246 prontuários médicos necessários para o desenvolvimento deste estudo puderam ser acessados. Todos os pacientes com diagnóstico de infecção por HIV conclusivo por técnicas sorológicas convencionais e que estavam em tratamento na Unidade de Saúde – Jundiaí, em Anápolis – Goiás desde de 2002 a 2006, independente de sexo e idade foram inclusos no estudo. Pacientes que deram entrada no Programa DST/aids na Unidade de Saúde – Jundiaí, 3 em Anápolis – Goiás devido à transferência de endereço, também tiveram seus prontuários analisados para a identificação das variáveis propostas neste estudo. Estes dados foram coletados após o consentimento livre e informado da direção técnica da Unidade de Saúde – Jundiaí, em Anápolis – Goiás. Foi realizada uma análise retrospectiva mediante estudo sistemático dos prontuários médicos dos pacientes atendidos nesta Unidade de Saúde. Estes prontuários foram analisados por ordem alfabética, de maneira que nenhum prontuário deixou de ser analisado. Foram obtidas informações sobre resultados laboratoriais referentes à quantificação de Carga Viral e de linfócitos T CD4 + e CD8 +, a terapia anti-retroviral administrada, situação clínica (se os pacientes eram HIV positivo ou aids na época do diagnóstico e nas repetições periódicas dos exames de carga viral e contagem de subpopulações linfocitárias – CD4 e CD8 - realizados no último ano de acompanhamento do paciente), além de dados sócio-epidemiológicos. Resultados e Discussão Foram analisados 246 prontuários médicos dos pacientes HIV/aids, porém pela falta de informações presentes, somente 97 prontuários puderam ser analisados estatisticamente. Destes prontuários, 45% (n=44) dos pacientes eram do sexo feminino, confirmando o processo de feminização da aids nos últimos anos (SENISE; FILHO, 2006). A categoria de exposição predominante foi a relação sexual com 84,5%, sendo que deste, 13,2% de casos ocorreu entre indivíduos masculinos homossexuais e 7,6% entre indivíduos masculinos bissexuais. Índice semelhante a esse foi coletado em estudo realizado no estado de Goiás, no período de 1990 a 2001, em que a taxa de transmissão através da prática sexual foi de 82,7% e as taxas de casos notificados entre indivíduos masculinos homossexuais e bissexuais foram de 13,5% e 8,3%, respectivamente (PEREIRA, 2005). A faixa etária dos pacientes variou de 19 a 74 anos, com uma mediana de 39 anos, confirmando o “envelhecimento” da faixa etária verificado na última década (MELO; BRUNI; FERREIRA, 2006). A maioria (n=34) dos pacientes era solteira e 31% dos pacientes (n=30) eram casados. Destes casados, 15,5% (n=15) eram mulheres e destas 13,4% relataram apenas contato sexual (n=13). Apesar de não se poder afirmar qual o tipo de comportamento dos casais, estudos relataram que nos relacionamentos sexuais, as mulheres em sua maioria tendem a manter relações exclusivas com seus parceiros e por acreditarem na exclusividade como parceiras sexuais, estas não vêem nos seus parceiros um risco para infecção pelo HIV (PRAÇA; LATORRE, 2003). 4 Apenas 10,3% afirmaram ser usuários de drogas injetáveis e 21,6% afirmaram já terem realizado transfusão sanguínea, entretanto não se pode afirmar que tais pacientes tenham contaminado por estas vias (AIDSBRASIL, 2004). Avaliando o perfil imunológico dos pacientes HIV/aids na data do diagnóstico, observou-se que a mediana dos níveis de CD4 (n=91) foi 221 células/mm3 , com desvio padrão de 245,32. Já a mediana dos níveis de CD8 (n=86) foi 808,5 células/mm3 , com um desvio padrão de 537,21. Após o início do tratamento a mediana dos níveis de CD4 elevou-se para 328,5 células/mm3 (n=94), o desvio padrão foi de 207,72. A mediana dos níveis de CD8 (n=94) permaneceu estável (828,5 células/mm3 ), com desvio padrão de 529,06. Um fator que pode estar envolvido no aumento do número de linfócitos T CD4 + pode ser a utilização correta dos medicamentos anti-retrovirais (GOLDSBY; KINDT; OSBORNE, 2002). Quanto ao perfil viral destes pacientes foi possível notar que em relação à primeira quantificação de carga viral (n=26.000 cópias/mL) a mediana diminuiu significativamente (n=50 cópias/mL) após a introdução do esquema anti-retroviral, o que leva a crer que houve uma adesão adequada. Indivíduos com carga viral abaixo de 350 cópias/mL foram considerados sintomáticos. Baseado neste critério constatou-se que a maioria (n=73) dos pacientes infectados pelo HIV era sintomática na data do diagnóstico. O esquema anti-retroviral inicial mais utilizado foi a associação de Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN) e Inibidores de protease (IP). Os esquemas incluindo dois ITRN e um ou dois IP possuem eficácia demonstrada, porém, a maioria desses regimes possui muitos efeitos colaterais, o que torna mais difícil a adesão ao tratamento. Talvez por estes motivos e a capacidade do HIV adquirir resistência à classe de inibidores de protease (RACHID & SCHECHTER, 2005; BRASIL, 2007), é que foi observado neste estudo, que a terapia combinada do ITRN + IP foi a menos eficaz, uma vez que a diferença entre a média da carga viral antes e após o tratamento foi menor (572,32 cópias/mL) quando comparada com os pacientes que fizeram monoterapia com ITRN (612,35 cópias/mL) e aqueles que fizeram o uso associado de ITRN e dos não análogos (ITRNN) (906,86 cópias/mL). Portanto, o melhor esquema antiretroviral entre os pacientes analisados foi a associação entre ITRN e ITRNN o que pode ser justificado por Rachid & Schechter (2005), que afirmam que a associação de ITRN + ITRNN é um regime relativamente simples e potente, além de ser geralmente bem mais tolerado que a maioria dos esquemas que incluem inibidores de protease. 5 Conclusão A análise dos 97 prontuários médicos dos pacientes HIV/aids atendidos pelo Programa DST/aids na Unidade de Saúde – Jundiaí em Anápolis - Goiás, no período entre 2002 a 2006, demonstrou que a proporção homem/mulher está muito próxima a 1:1, caracterizando o processo de feminização da doença. A idade mediana encontrada foi de 39 anos, tendo a exposição sexual como a principal forma de contágio pelo HIV. Apesar da prevalência da heterossexualização, ainda existe neste município uma pequena concentração da categoria de exposição homossexual/bissexual, o que contribui para o aumento da incidência dos casos de aids. Percebeu-se que na época do diagnóstico, a maioria dos pacientes (75,2%) era sintomática. Diante desta constatação, verifica-se a importância da descoberta rápida da doença, pois a pessoa infectada além de transmitir o vírus, enfraquece seu sistema imunológico, ficando vulnerável a doenças oportunistas. Neste estudo, também se pôde verificar que o esquema ITRN + ITRNN foi o mais eficaz, pois foi capaz de controlar a doença, evitar o comprometimento do sistema imunitário e impedir o desenvolvimento/agravamento de doenças oportunistas, diminuindo assim as internações hospitalares e os óbitos secundários à aids. A adesão é um fator essencial ao tratamento e é muito importante para que a carga viral permaneça indetectável e obtenham-se aumentos na contagem de linfócitos T CD4 +, proporcionando aos pacientes infectados pelo HIV uma maior sobrevida e melhor qualidade de vida. Portanto, a aids constitui-se um importante problema de saúde pública. O crescente número de indivíduos infectados pelo HIV contribui diretamente para o aumento de casos de doenças oportunistas, o que acarreta na necessidade de um maior investimento do governo no nível de saúde pública não somente nos grandes centros urbanos, mas também nas cidades do interior, para que os pacientes possam ser assistidos na sua cidade de origem. Referências Bibliográficas 1. AIDSBRASIL. 2004. Disponível em: <http//www.aidsbrasil.com> . Acesso em: 3 de mar. 2006. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Área Técnica. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2006. 3. GOLDSBY, R. A.; KINDT, T. J.; OSBORNE, B.A. Kuby imunologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. 6 4. MELO, E. B.; BRUNI, A. T.; FERREIRA, M. M. C. Inibidores da HIV- integrase: potencial abordagem farmacológica para tratamento da aids. Química Nova, São Paulo, v.29, n.3, p.555-562, maio/jun. 2006. 5. PEREIRA, F. G. 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