Perfil epidemiológico dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde no Município de Gramado/RS
Julho/2015
Perfil epidemiológico dos pacientes usuários do Sistema Único de
Saúde no Município de Gramado/RS
Alexandre Roberto Kerber - [email protected]
Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Porto Alegre, RS, 23 de agosto de 2014
RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar o perfil epidemiológico dos pacientes usuários do
Sistema Único de Saúde, na Farmácia Central, em um Município da região sul do Brasil,
observando-se as medicações mais utilizadas durante o ano de 2013. A análise realizou-se a
partir de relatório de dispensação de medicamentos obtido pelo programa informatizado
usado para dispensação no Município. Observou-se a prevalência do elevado consumo de
medicamentos para doenças crônicas, associadas ao aumento da idade da população e
modificações no estilo de vida. Os resultados contribuem para a elaboração, implantação e
melhoria de trabalhos realizados com grupos das patologias mais importantes, além de
auxiliar na escolha dos medicamentos adquiridos reformulando-se a relação municipal de
medicamentos utilizada na assistência básica.
Palavras chave: Assistência farmacêutica; Saúde pública; Sistema único de saúde.
1. INTRODUÇÃO
A legislação que rege o funcionamento do sistema de saúde pública brasileiro é uma das
melhores do mundo, determinando um sistema de atendimento integral e gratuito à população.
Compreende uma série de ações e regulamentos que abrangem desde a assistência
farmacêutica básica, de responsabilidade municipal, até os programas de medicamentos
especiais, de responsabilidade do Estado, e estratégicos, de responsabilidade da União. Cada
esfera possui normas próprias de seleção, financiamento e aquisição de seus medicamentos e
serviços.
Segundo disposto na Lei 8080/1990 do Ministério da Saúde, que normatizou a criação do
Sistema Único de Saúde (SUS), o sistema de saúde público brasileiro deve ser
descentralizado, ou seja, cada ente da federação possui suas próprias responsabilidades, que
diferem em graus de complexidade, permanecendo os Municípios com a assistência
farmacêutica básica e devendo adaptar ações de acordo com as necessidades locais (BRASIL,
1990).
O Município de Gramado está situado na região norte do Rio Grande do Sul, conta com uma
população de aproximadamente 32000 habitantes e possui sua economia baseada no turismo e
comércio. O atendimento diário nas farmácias públicas municipais é de cerca de 400 pessoas
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por dia e não há programas de saúde pública implantados para atender, de forma eficaz, os
grupos de doenças crônicas.
O trabalho visa identificar os grupos farmacológicos mais utilizados no sistema de saúde
pública do Município de Gramado, RS, através da coleta de dados quantitativos e qualitativos
referentes aos grupos farmacológicos mais consumidos no Município, no ano de 2013,
permitindo, dessa forma, auxiliar na elaboração dos programas de saúde pública municipais,
na implantação da Atenção Farmacêutica na rede municipal de saúde e reestruturar e alterar a
relação de medicamentos disponíveis auxiliando na programação da aquisição dos
medicamentos. Assim, buscar atender a demanda municipal e tentar diminuir a incidência de
processos judiciais.
2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Quando foi criado, o Sistema Único de Saúde (SUS) deu início à estruturação do sistema
público de saúde brasileiro. Oficializado a partir da promulgação da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, o SUS instituiu princípios e diretrizes, assumindo o
compromisso de considerar a saúde como direito de todos e dever do Estado (BASTOS,
G.A.N. et al, 2011).
A organização do sistema público de saúde, em termos administrativos, deve seguir três
diretrizes operacionais. A descentralização das políticas, que deve apresentar direção única em
cada esfera de governo, com ênfase na prestação dos serviços pelos municípios; a
regionalização da rede de serviços deve buscar promover resolutividade e eficiência na
provisão de assistência; e a hierarquização da infraestrutura de serviços em diferentes níveis
de complexidade deve congregar participação dos municípios em redes de políticas de saúde
(FILHO, F.P.P. et al, 2012).
A participação do setor privado para complementação dos serviços de saúde está prevista nas
normas de funcionamento do SUS, pois somente o setor público não consegue assumir a
demanda total de procedimentos gerados.
2.1. Assistência Farmacêutica
Aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, em 2004, a Política Nacional de Assistência
Farmacêutica definiu a Assistência Farmacêutica como um conjunto de ações desenvolvidas
pelo farmacêutico, e outros profissionais de saúde, voltadas à promoção, proteção e
recuperação da saúde, tanto no nível individual como coletivo, tendo o medicamento como
insumo essencial e visando o acesso e o seu uso racional. Envolve a pesquisa, o
desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção,
programação, aquisição, distribuição, garantia da qualidade dos produtos e serviços,
acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados
concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2004)
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Buscar a qualidade da atenção à saúde oferecida às populações é uma questão de natureza
ética, não sendo ético o oferecimento de cuidado cujo impacto não tenha sido cientificamente
comprovado ou cuja qualidade seja inferior aos padrões recomendados. Dessa forma, existem
duas áreas de pesquisa com naturezas complementares, as investigações que visam testar a
eficácia de novos procedimentos ou estratégias de cuidado e investigações voltadas para
avaliar o resultado dessas intervenções sobre a saúde dos usuários e da população como um
todo (SANTOS, I.S. et al, 2004).
A implantação de programas de Atenção Farmacêutica na rede de saúde pública é um
instrumento de grande valia para auxiliar na busca pela qualidade dos serviços prestados na
assistência farmacêutica. Pois os profissionais com esta qualificação podem ajudar na análise
da utilização correta dos medicamentos, visando seu uso racional e, analisando, corrigindo e
notificando os problemas relacionados ao uso de medicamentos. Isto é uma importante
ferramenta para obtenção de dados que podem ser utilizados para definição de escolhas de
tratamentos adequados e com maior segurança.
2.2. Financiamento
O sistema de saúde pública brasileiro é um dos melhores do mundo, com atendimento de
aproximadamente 75% da população, sendo referência para diversos países. Possui divisão
em níveis de complexidade, que têm responsabilidades definidas e determinadas para cada
esfera de governo. Entretanto, não há cobertura total, por parte do setor público, de todos os
serviços de saúde necessários, dessa forma, o setor privado, através de parcerias formadas
para prestação de serviços médicos e laboratoriais, empréstimos de materiais e equipamentos
e treinamento de profissionais, complementa a assistência dos serviços públicos
(MONTEIRO, V.B. et al, 2011).
O financiamento para aquisição e distribuição de medicamentos para a atenção básica,
provenientes de impostos e contribuições sociais, é normatizado pelas Portarias GM
3.237/2007 e GM 2.982/2009 e tem participação tripartite, ou seja, governo federal, estadual e
municipal. Cada ente da federação possui uma cota financeira de participação previamente
definida, que deve disponibilizar anualmente. Estes valores, quando gastos, precisam ter a
utilização comprovada através de prestação de contas anual.
Este tema do financiamento e o processo de descentralização da saúde no Brasil têm
preocupado os gestores a muito tempo, pois o acesso da população aos serviços de saúde e os
gastos relativos aos serviços prestados são cada vez maiores e, os valores repassados, pelos
três entes, determinados por número de habitantes de cada Município, é insuficiente para
suprir as necessidades reais da população. Assim, se faz necessário o acréscimo de recursos
próprios municipais para complementação das contratações de serviços de saúde e para a
compra dos medicamentos, o que muitas vezes dificulta as aquisições na quantidade adequada
para o atendimento aos serviços (LEITE, V.R. et al, 2012).
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A compra dos medicamentos, que ocorre através de processos licitatórios, apesar de facilitar o
controle dos gastos públicos, também dificulta a prestação de serviços. Os processos
licitatórios são demorados, contemplam uma previsão qualitativa e quantitativa para compra.
Quando da necessidade de atendimentos emergenciais de medicamentos não constantes na
lista básica, como em processos judiciais ou por relatório assistencial de insuficiência de
recursos, faz-se necessária uma nova tomada de preços para aquisição, que é mais rápida que
a licitação, porém diminui a eficiência e rapidez das compras diretas, como em órgãos
privados.
2.3. Medicamentos essenciais
A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta como definição de medicamentos
essenciais aqueles que satisfazem as necessidades de saúde prioritárias da população, as quais
devem estar acessíveis em todos os momentos, na dose apropriada, a todos os segmentos da
sociedade (WHO, 2002).
O Brasil possui uma Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) que é
submetida à avaliações periódicas e funciona como instrumento organizador e orientador da
assistência farmacêutica básica, nos Municípios.
Os medicamentos da Rename são usados como base para a elaboração das listas de
medicamentos estaduais e municipais, servindo como instrumento de orientação para
aquisição, prescrição e dispensação de medicamentos no setor público. As relações de
medicamentos essenciais dos Municípios também devem ser formuladas levando-se em conta
as necessidades locais.
Estas relações de medicamentos devem ser formuladas, preferencialmente, por comissões
multidisciplinares compostas por representantes de todos os profissionais envolvidos na
assistência farmacêutica, desde os profissionais da área técnica em saúde que podem auxiliar
na escolha dos medicamentos mais adequados ao perfil epidemiológico da população até os
representantes da área administrativa, para promover maior obtenção de recursos e agilizar os
processos.
2.4. Acesso os medicamentos
A disponibilização dos medicamentos de forma contínua e em quantidades adequadas às
necessidades da população ainda é um desafio a ser superado, mesmo com a implementação
de políticas públicas a partir da década de 1990, como a Política Nacional de Medicamentos
(PNM), a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), a Política de Medicamentos
Genéricos e o Programa Farmácia Popular (BOING, A.C. et al, 2013).
Apesar de toda a legislação, ainda há acesso insuficiente aos medicamentos, o que está
diretamente associado com a piora do estado de saúde, aumento da perspectiva de vida, maior
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uso de terapias adicionais, aumento no número de retornos aos serviços de saúde e gastos
adicionais nos tratamentos (BOING, A.C. et al, 2013).
O acesso aos medicamentos é garantido por lei, entretanto, há uma contradição na legislação
brasileira, o que gera muita discussão. A lei 8080/1990, do Ministério da Saúde, define que o
fluxo de acesso aos tratamentos dos paciente do SUS deve se dar após todo procedimento de
consulta e avaliação ser feito pelo SUS, não atendendo aos pacientes de convênios de saúde e
particulares.
A Constituição Federal, de 1988, determina ser a saúde um direito de todos, de acesso
universal e igualitário as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde,
independentemente da via de acesso.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário as ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
(BRASIL, 1988).
Essa contradição tem levado a uma nova tendência na saúde pública brasileira, a
judicialização da saúde. Entre as novas demandas do setor público, destacam-se as demandas
judiciais, processos de pacientes provenientes de atendimentos privados, sem fluxo de
atendimento através do SUS. Além disso, há medicações que não fazem parte de nenhuma das
listas de medicamentos, tanto básica, de responsabilidade municipal, a especial e a
excepcional, de responsabilidade estadual, e a dos medicamentos estratégicos, de
responsabilidade da União. Isso acaba levando ao ingresso de processos judiciais para
conseguir os tratamentos.
O resultado destes processos é um tanto controverso, pois medicamentos e procedimentos
idênticos hora são apontados como de responsabilidade dos Estados, hora dos Municípios. E
apesar da lei permitir a solicitação de ressarcimento de valores investidos pelo ente
responsabilizado, quando o procedimento ou medicamento pago não é de sua competência,
este processo é demorado e difícil.
2.5. Profissionais da saúde
Outro aspecto importante é que, em saúde pública, não basta apenas ter profissionais de saúde
em um lugar, o que se espera é que esses profissionais sejam competentes para alcançar as
exigências do trabalho. Uma força de trabalho com o necessário conhecimento e habilidade
para traduzir a teoria política e a pesquisa em ação efetiva, constitui ponto fundamental para o
futuro crescimento e desenvolvimento da promoção da saúde (FRAGELLI, T.B.O et al,
2012).
Para fortalecimento dos serviços farmacêuticos, faz-se necessário a contratação de
profissionais capacitados ou, a capacitação e valorização dos profissionais já existentes, em
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atenção farmacêutica e em programas de educação permanente, para atualização dos
conhecimentos.
Os profissionais farmacêuticos formados hoje contam com o currículo generalista e não
possuem conhecimento suficientemente adequado para a orientação dos pacientes em um
programas de Atenção Farmacêutica, nem para o trabalho realizado no setor público de
saúde, o que, apesar de já existir no currículo dos cursos de farmácia, se dá de forma teórica.
Faz-se necessária a alteração do programa dos cursos de Farmácia fazendo com que os
profissionais formados passem por preparação prática, isto possibilitaria a colocação, no
mercado de trabalho, de profissionais farmacêuticos mais qualificados e capazes de dar uma
contribuição realmente importante para a saúde pública.
2. 6. Município de Gramado
O município de Gramado está localiza-se a 115 Km de Porto Alegre, figura 1, foi criado pela
Lei 2.522 em 15 de dezembro de 1954, após ser emancipado da cidade de Taquara. Ocupa
uma área de aproximadamente 238km2 e apresenta uma população de 32.273 pessoas (IBGE,
2010).
Sua população foi constituída, principalmente, por imigrantes europeus, inicialmente por
imigrantes lusos, seguida pelos alemães e italianos e desenvolveu as tradições culturais destes
descendentes, misturadas as gaúchas. O resultado dessas misturas, em conjunto com as
belezas naturais da região transformou a economia do Município voltada para o turismo,
norteada principalmente pelos eventos Festival de Cinema de Gramado e Natal Luz.
Todo essa economia voltada ao turismo traz uma característica específica para a população
gramadense. Sua grande maioria, para atender aos visitantes, trabalha em horários
diferenciados, trabalhando nos finais de semana e feriados, tendo sua folga apenas entre
segunda e quinta-feira. Apesar de esta forma de trabalho atender as necessidades da economia
local, o povo gramadense abre mão dos momentos de lazer e, muitas vezes da possibilidade
de uma convivência com seus familiares e de uma alimentação saudável, o que pode gerar
diversos problemas de saúde.
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Figura 1 – Mapa de localização do Município de Gramado
Fonte – www.gramado.rs.gov.br (2014)
A cidade de Gramado possui uma relação municipal de medicamentos, Remume, aprovada
pelo Conselho Municipal de Saúde, que possui, atualmente, 164 itens, contando com
medicamentos básicos e controlados pela Portaria 344/98. Há uma normatização interna para
o acesso aos medicamentos, e as dispensações são realizadas, para pacientes residentes no
Município, através da apresentação de receituário médico obtido em consultas no sistema
público, tanto em unidades básicas quanto em hospitais, ou com médicos e instituições da
rede privada credenciados para complementação do serviço de saúde.
As receitas de medicamentos de uso contínuo, para doenças crônicas como hipertensão e
diabetes, podem ser utilizadas, a critério médico, por até 180 dias. Já as dos anticoncepcionais
podem ser utilizadas por até 360 dias e as de medicamentos sujeitos a controle especial devem
respeitar as determinações das legislações vigentes. Todos os demais medicamentos são
dispensados nas quantidades necessárias apenas para o tratamento perdendo, posteriormente
sua validade.
O importante impacto social e econômico relacionado às doenças crônicas, o aumento da
demanda por medicamentos e da necessidade de promover seu uso racional, têm feito com
que os gestores de saúde busquem desenvolver estratégias que permitam o estabelecimento de
uma assistência contínua à população. Tornou-se muito importante o desenvolvimento de
políticas públicas que objetivam disponibilizar serviços de saúde resolutivos e custo-efetivos,
merecendo destaque as políticas de medicamentos, parte essencial das políticas nacionais de
saúde (PEREIRA, V.O.M. et al, 2012).
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, há duas décadas
observa-se que a população brasileira está envelhecendo cada vez mais, e isto representa um
dos fatores do aumento da incidência de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes,
doenças que estão aumentando consideravelmente os gastos públicos com seus tratamentos
além de, causando elevados níveis de mortalidade.
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Pessoas com 60 anos ou mais, que eram 7,9% da população brasileira em 1992, passaram a
ser 13,1% no ano de 2010. No Rio Grande do Sul elas representam 13,5% do total de
residentes. A figura 2 apresenta a pirâmide social do Município de Gramado, e demonstra que
a cidade possui 12% da população acima dos 60 anos, divididos em 5,1% de homens e 6,9%
de mulheres (IBGE, 2010).
Figura 2 – Pirâmide social do Município de Gramado – RS
Fonte – www.ibge.gov.br (2010)
3. METODOLOGIA
As aquisições de medicamentos e dispensações realizadas no Município são registradas em
um programa de informática, o SigSaúde, da empresa Consulfarma. Todos os meses são
emitidos relatórios referentes ao número de pacientes atendidos e quantidade de
medicamentos dispensados. Estes dados são, atualmente, analisados para atualização de
indicadores de funcionamento e monitorização, na Farmácia Municipal.
Através destes relatórios, analisaram-se as classes de medicamentos e quais os mais
utilizados, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2013. Os dados foram apresentados
em duas tabelas, na primeira, foram expostos os grupos farmacológicos e na segunda a análise
foi realizada verificando-se os principais medicamentos dispensados, dentro de cada grupo
farmacológico.
A análise destes dados permitiu definir e determinar as patologias mais prevalentes entre os
pacientes usuários do sistema público de saúde do Município. Com isso, auxiliar na revisão da
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relação municipal de medicamentos para atender as necessidades locais, determinadas pelo
perfil epidemiológico da população, e propor programas de saúde específicos aos pacientes
usuários do sistema público. Visa também, auxiliar na implementação de programas de saúde
mais adequados para as reais necessidades da população e permitir a seleção de medicamentos
de maior necessidade, efetividade, de melhor custo-benefício, e que possuam uma maior
segurança terapêutica.
4. RESULTADO
A população brasileira encontra-se em um crescente predomínio de enfermidades do sistema
circulatório, diabetes, sistema respiratório, etc. As patologias cardiovasculares são
responsáveis pela maior parte de recursos investidos dentro do sistema público de saúde, não
somente na utilização de medicamentos, mas também, nas internações e procedimentos
gerados.
É oportuno destacar que a utilização de medicamentos pode ser decisiva para o controle e
prevenção de problemas relacionados às doenças crônicas, e o crescimento na sua demanda,
observado no Brasil nos últimos anos, ocorre de forma paralela ao aumento da prevalência
dessas doenças. Este aumento, por sua vez, está relacionado ao envelhecimento da população,
às mudanças no estilo de vida e ao aumento do acesso aos serviços de saúde (PEREIRA,
V.O.M. et al, 2012).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, OMS, mais de 50% de todos os medicamentos são
prescritos, dispensados e vendidos de forma incorreta, e mais de 50% dos todos os países não
implementam políticas básicas para promover o uso racional de medicamentos, situação ainda
pior nos países em desenvolvimento (WANNMACHER, L., 2012).
Determinar o perfil epidemiológico da região de atendimento é fundamental para organização
das estratégias de ação para as patologias mais prevalentes no local, o que permite não
somente a preparação do tratamento medicamentoso, mas também, a implantação de
programas educacionais para orientação da população. (DANILOW, M.Z. et al, 2007)
Grupo farmacológico
Indicações
Percentual (%)
Cardiovasculares
Anti-hipertensivo
Antiagregante plaquetário
Diurético
Digitálico
35,08
Broncodialatadores e
Antiasmáticos
Antiasmático e broncodilatadores
1,83
Antibióticos
Antibacterianos
2,54
Psicotrópicos
Antidepressivos
9,88
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Psicotrópicos
Ansiolíticos
4,62
Analgésicos e
antitérmicos,
antiinflamatórios
Aines
5,43
Antiulcerosos e
Antiácidos
Antiulceroso
Inibidor da bomba ácida
5,96
Hipoglicemiantes
Antidiabético oral
7,08
Antialérgicos
Anti-histamínicos
0,91
Antilipêmicos
Antilipêmicos
7,48
Vitamina e
Antianêmicos
Vitamina e antianêmicos
4,43
Outros
14,76
Tabela 1 – Grupos farmacológicos mais prescritos em 2013 no Município de Gramado
Fonte – Programa SigSaude (2014)
Os grupos farmacológicos mais prescritos são apresentados na tabela 1. Esta tabela leva em
conta a lista de medicamentos padronizada no Município, mas não especifica os fármacos
mais dispensados. Optou-se por dividir o grupo de medicamentos psicotrópicos em duas
classes, as mais utilizadas, antidepressivos e ansiolíticos, os demais medicamentos do grupo
encontram-se inclusos no grupo outros.
Indicações
Fármacos mais utilizados
Percentual (%)
Anti-hipertensivo
Anti-agregante plaquetário
Diurético
Digitálico
Enalapril 20mg
AAS 100mg
Hidroclorotiazida 25mg
Digoxina 0,25mg
5,32
3,34
4,69
0,27
Antiasmático e broncodilatadores
Aminofilina 100mg
Brometo de Ipratrópio
Fenoterol
0,16
0,02
0,02
Antibacterianos
Amoxicilina 500mg
Cefalexina 500mg
Sulfametoxazol + trimetropim
Ciprofloxacino 500mg
Amox. + clavula 500mg
0,40
0,58
0,25
0,20
0,15
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Antidepressivos
Fluoxetina 20mg
Amitriptilina 25mg
Sertralina 50mg
3,89
2,65
2,37
Ansiolíticos
Clonazepam 2mg
Clonazepam 0,5mg
1,60
1,07
Aines
Paracetamol 500mg
Ibuprofeno 600mg
Diclofenaco 50mg
1,92
2,07
0,90
Antiulceroso
Inibidor da bomba ácida
Omeprazol 20mg
Ranitidina 150mg
5,52
0,22
Antidiabético oral
Metformina 850mg
Glibenclamida 5mg
3,33
2,24
Anti-histamínicos
Loratadina 10mg
Dexclorfeniramina 2mg
0,44
0,15
Antilipêmicos
Sinvastatina 20mg
Sinvastatina 10mg
7,22
0,26
Vitamina e antianêmicos
Sulfato Ferroso 40mg
Complexo B
Ácido fólico 5mg
1,01
0,71
0,38
Outros
14,76
Tabela 2 – Medicamentos mais dispensados em 2013 no Município de Gramado
Fonte – Programa SigSaude (2014)
Os dados da tabela 1 permitem a observação e análise das patologias mais prevalentes no
Município, o que gera dados importantes para análise e formação de grupos de educação
permanente para a população, também, auxilia na orientação aos profissionais envolvidos no
processo da assistência farmacêutica.
Constatou-se que, no Município de Gramado, o grupo farmacológico mais utilizado é o dos
medicamentos para problemas cardiovasculares. Seguidos por antidepressivos, antilipêmicos
e hipoglicemiantes. Com exceção dos antidepressivos, as três outras classes demonstram uma
grande incidência de doenças crônicas, o que vai de encontro ao que vem acontecendo a nível
nacional. Pode-se acrescentar, também, que colesterol e diabetes são fatores de risco para o
surgimento de doenças cardiovasculares, havendo, assim, uma correlação entre estes três
grupos. Outro fator importante é a elevada incidência da utilização de psicotrópicos,
antidepressivos e ansiolíticos.
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A tabela 2 nos possibilita identificar os medicamentos mais utilizados dentro de cada grupo
farmacológico, de modo que se faça uma análise sobre o a manutenção ou a substituição dos
medicamentos por outros mais eficientes, levando-se em conta o custo e segurança da
utilização destes. O medicamento de maior dispensação é a sinvastatina 20mg, seguido por
omeprazol 20mg, enalapril 10mg e hidroclorotiazida 25mg. Estes dados estão em
concordância com os estudos que apontam a prevalência das doenças crônicas no país.
5. CONCLUSÃO
A organização da assistência à saúde e a ampliação do acesso dos cidadãos aos serviços de
saúde estão entre os principais desafios para os gestores nas três esferas de governo:
municipal, estadual e federal.
Os medicamentos são parte importante da atenção à saúde, pois não são apenas instrumentos
curativos, mas também podem ser utilizados na prevenção a epidemias e doenças. Seu acesso,
no sistema público de saúde brasileiro é um direito fundamental. Neste sentido, a relação
nacional de medicamentos tem um importantíssimo papel como instrumento orientador da
assistência farmacêutica, servindo como base para a formulação das listas municipais. Da
mesma forma, conhecer o perfil epidemiológico de cada Município permite que se possam
realizar as escolhas dos medicamentos de forma a suprir as necessidades locais.
O fato de a população gramadense estar envelhecendo e apresentar um perfil epidemiológico
voltado, principalmente, para as cardiopatias, traz a necessidade de buscar novas práticas no
sistema de saúde pública municipal, promovendo o melhoramento dos programas de educação
permanente já existentes, como o hiperdia, o controle de peso, e a academia do SUS.
Com base nos dados apresentados, verificou-se que o medicamento mais utilizado é a
sinvastatina 20mg, isto evidencia que a população carece de um auxílio para a alteração do
estilo de vida, buscando a prática de exercícios físicos e alterações alimentares, estas podem
estar ligadas ao elevado consumo de omeprazol, gerado por transtornos estomacais
provenientes da má alimentação.
O grande número de dispensações de antidepressivos e ansiolíticos, em uma região
considerada um local para lazer e tranquilo para morar, deve ser objeto de estudo mais
aprofundado no futuro, pois aproximadamente 15% de todos os medicamentos dispensados no
Município pertencem a este grupo.
Estes dados levam a busca pelo uso racional dos medicamentos, que é denominado como a
necessidade de o paciente receber o medicamento apropriado, na dose correta, por tempo
adequado, a baixo custo para ele e a comunidade.
Com isso, faz-se necessário, também, implantar novos projetos, como a atenção farmacêutica,
para garantir o acesso a orientações que visam o uso correto e racional dos medicamentos e
procure-se minimizar os problemas gerados por eles, pois, dados do ministério de saúde
apontam elevados índices de intoxicações medicamentosas.
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Perfil epidemiológico dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde no Município de Gramado/RS
Julho/2015
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