Avaliação da perspectiva de recuperação dos pacientes crônicos pós-sequela de acidente vascular cerebral – AVC mediante a reabilitação Ana Karina Souza1, Karina Costa Paes Herdade2 1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá; Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá. 2 [email protected] 1 INTRODUÇÃO O acidente vascular cerebral (AVC) é uma alteração da circulação cerebral que ocasiona um déficit transitório ou definitivo no funcionamento de uma ou mais partes do cérebro, podendo ser por meio isquêmico ou hemorrágico e resultando em perda da função neurológica (COSTA; SILVA; ROCHA, 2011). A Organização Mundial da Saúde (OMS) refere AVC como sendo um comprometimento neurológico focal (ou global) que subitamente ocorre com sintomas persistindo para além de 24 horas, ou levando à morte, com provável origem vascular (AHA, 2001). Os déficits neurológicos agudos apresentados por esses pacientes incluem a hemiparesia, ataxia, deficiências visuoperceptivas, afasia, disartria, deficiências sensórias, de memória e problemas com controle vesical (EKMAN, 2008). A hemiparesia é a tendência em manter-se em uma posição de assimetria postural, com distribuição de peso menor sobre o lado afetado e, consequentemente, transferência de peso corporal para o lado oposto. Essa assimetria e a dificuldade em suportar o peso no lado afetado interferem na capacidade de manter o controle postural, impedindo a orientação e estabilidade para realizar movimentos com o tronco e membros. Cabe ressaltar que a execução das atividades de vida diária, tais como vestir-se, alimentar-se, mudar de posição, andar, sentar e alcançar objetos dependem e envolvem esse controle postural (PERLINI; FARO, 2004). O objetivo da reabilitação é permitir ao doente lidar e ultrapassar a sua incapacidade e tornar-se o mais independente possível (SILVA, 2010). A perspectiva tem como alicerce a esperança ou crença numa coisa provável ou desejada. Na área da saúde, é observado que a perspectiva do paciente quanto a um sintoma ou à reabilitação pode ser tanto negativa como positiva, o que permite ao fisioterapeuta direcionar suas condutas e tratamento a fim de otimizar um resultado final de reabilitação (PIMENTEL; RIBEIRO, 2009). Desta maneira, este estudo de caráter qualitativo permitiu a compreensão das perspectivas de recuperação destes pacientes mediante a um processo de reabilitação, ajudando a conhecer os anseios gerados por estes indivíduos, o que contribuiu, consequentemente, para um melhor aproveitamento das sessões fisioterapêuticas tanto pelo paciente quanto pelo reabilitador, uma vez que já foi identificada a necessidade de incorporar as experiências pessoais do paciente no processo de reabilitação (WOTTRICH et al., 2004). 2 OBJETIVOS Avaliar a perspectiva de recuperação do paciente crônico pós-sequela de AVC frente ao processo de reabilitação fisioterapêutico. 3 MATERIAL E MÉTODOS Após a seleção dos pacientes através dos arquivos existentes na Clínica de Fisioterapia, estes foram entrevistados pela aluna pesquisadora responsável pelo projeto. Para a entrevista, foi utilizado um roteiro estruturado modificado da literatura, contendo características demográficas dos participantes, considerando: sexo, idade, escolaridade e ocupação. Foram investigados os conhecimentos destes quanto a sua patologia; as dificuldades na realização das atividades de vida diária; e quanto à contribuição da fisioterapia no alcance das suas perspectivas sob a visão do mesmo (PIMENTEL; RIBEIRO, 2009). Para análise dos dados foram utilizados procedimentos de estatística descritiva. 4 RESULTADOS Dos entrevistados, seis eram homens e três eram mulheres. Os pacientes estudados encontravam-se na faixa etária entre 40-66 anos, sendo o maior número compreendido na faixa dos 50-60 anos (Tabela 1). Dos pacientes acometidos por AVC, seis encontravam-se na faixa etária dos 50-60 anos e, somente um, aos 40 anos, e um acima de 60 anos. Quanto à escolaridade, foram obtidos os seguintes achados: dois tinham o ensino fundamental incompleto; quatro possuíam o ensino fundamental completo; dois o ensino médio e apenas um tinha ensino superior. Quanto à situação financeira, seis relataram ser aposentados, um estava no período de afastamento, e dois ainda exerciam suas respectivas atividades. Tabela 1 - Distribuição dos pacientes segundo as características sociodemográficas. Características Sexo Masculino Feminino Idade 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 Escolaridade Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Ocupação Aposentado Afastado Do lar Motorista de caminhão Monitora de alunos % 6 4 60% 40% 2 1 2 3 0 2 20% 10% 20% 30% 0% 20% 0 3 4 2 1 0% 30% 40% 20% 10% 6 1 1 1 1 60% 10% 10% 10% 10% A perspectiva de recuperação do paciente hemiplégico crônico é, em sua maioria, de retorno às atividades realizadas à pré-incapacidade de forma plena, sendo influenciada pela carência de entendimento sobre a patologia que possui, assim como pela visão restrita, à realização de exercícios e retorno dos movimentos perdidos, que possuem sobre a fisioterapia. 5 DISCUSSÃO A análise do discurso dos pacientes hemiplégicos crônicos pós-sequela de AVC revela que a perspectiva de recuperação destes é o retorno às atividades anteriores à préincapacidade, ou seja, de forma plena, a fim de restaurar o seu papel social delimitado culturalmente e exigido socialmente. Sabe-se, no entanto, que, após seis meses do AVC, estes pacientes alcançam um platô de recuperação (LUCARELLI, 2005), momento em que os padrões de movimento normais e o de controle motor normal dificilmente são recuperados plenamente, o que pode implicar na qualidade de vida deste indivíduo assim como no processo de motivação durante o tratamento das afecções (UMPHRED, 2004). A análise dos discursos dos pacientes revela, ainda, que a visão existente quanto a sua patologia baseia-se, principalmente, na convivência do indivíduo com esta, o que demonstra uma carência de comunicação adequada à realidade de entendimento do paciente quanto a sua patologia, o que os limita saber as suas reais possibilidades de recuperação mediante um tratamento. Tal aspecto é reforçado, uma vez que o entendimento dos pacientes quanto à fisioterapia é limitado à recuperação dos movimentos perdidos e à prática de exercícios, sendo vista como mais uma técnica em meio a um arsenal, na qual depositam o desejo de “ficar bom”. 6 CONCLUSÃO Existe uma desarmonia entre o paciente e o fisioterapeuta no que tange ao esclarecimento do paciente sobre a sua patologia, seu desejo de recuperação, e a disponibilidade de recursos que tornem agradáveis e necessárias as sessões de fisioterapia sob o ponto de vista do paciente. Sugere-se, desta forma, uma melhor atenção dos profissionais quanto à visão do paciente como uma variável importante no sucesso da reabilitação. Palavras-chave: acidente vascular cerebral, fisioterapia, hemiplegia, reabilitação. REFERÊNCIAS AMERICAN HEART ASSOCIATION. Heart and stroke statistical update. Dallas: American Heart Association, p. 1577-1579, 2001. COSTA, F. A.; SILVA, D. A.; ROCHA, V. M. Severidade clínica e funcionalidade de pacientes hemiplégicos pós-AVC agudo atendidos nos serviços públicos de fisioterapia de Natal (RN). Ciênc Saúde Coletiva, Natal, v. 16, p. 1, 2011. EKMAN, L. L. Neurociência: fundamentos para a reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 477p. LUCARELLI, P. R. G. Avaliação das atividades de vida diária pelo Índice de Barthel de pacientes acometidos de acidente vascular encefálico. Fisioter Bras, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 109-112, 2005. PERLINI, N. M. O. G.; FARO, A. C. M. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 39, p. 154-163, 2004. PIMENTEL, N. M.; RIBEIRO, N. M. A perspectiva da recuperação dos pacientes após seis meses de acidente vascular encefálico mediante a reabilitação. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 61-62, 2009. SILVA, E. J. A. Reabilitação após o AVC. 2009. 32f. Dissertação (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, 2010. UMPHRED, D. A. Reabilitação neurológica. 4. ed. São Paulo: Manole, 2004. 1118p. WOTTRICH, A. W. W. et al. Characteristics of physiotherapy sessions from patients’ and therapist’s perspective. Disabil Rehabil, v. 26, n. 20, p. 1198-1205, 2004.