Capítulo 4 Neste capítulo O Brasil como potência regional. A geopolítica da Amazônia. As desigualdades regionais. A ação do Estado. A construção de Brasília. A geopolítica no Brasil Potência regional? Embora o termo potência tenha surgi do fortemente associado à ideia de hegemonia militar, na atualidade, o conceito de potência está relacionado ao conjunto de fatores que possibilitam a um país exercer influência sobre os demais. Portanto, além do poderio militar, o cenário diplomático, a atuação estratégica dos Estados e o desen volvimento econômico fornecem elemen tos que permitem interpretar se determina do país cumpre os requisitos para assumir a função de potência, seja em escala regional ou mundial. Fatores geopolíticos Entre os fatores que sustentam o poder geopolítico de um país, o tamanho do terri tório, o poder econômico e o militar são os mais importantes para que um Estado possa agir de maneira independente e exercer sua influência sobre os outros Estados. As vantagens estratégicas decorrentes da extensão territorial devem-se ao fato de o território congregar os recursos naturais ne cessários ao desenvolvimento econômico de um país e, ao mesmo tempo, ser a base que pode condicionar a prosperidade de sua po Saiba mais A visão geopolítica no regime militar Durante a ditadura militar pre dominaram no Brasil as teses geo políticas da Escola Superior de Guerra (ESG), que defendiam um Estado forte, centralizado e com presença marcante em todo o território nacional. Um dos teóricos do regime mi litar foi o general Golbery do Couto e Silva. O mapa ao lado, elaborado em projeção azimutal com o Brasil no centro, é uma indicação de como ele pensava o país. Fonte de pesquisa: Silva, G. C. Conjuntura política nacional: o Poder Executivo & geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 76. pulação. Além de propiciar ampla varieda de de aspectos naturais, que se reflete no potencial produtivo, um grande território restringe menos o crescimento demográfi co, favorecendo a composição de exércitos mais numerosos e fortalecidos. O poderio econômico de um país está relacionado à sua importância no mercado global. O poderio militar não se manifesta apenas na atuação em conflitos armados, mas também na capacidade de negociação política internacional. Um bom exemplo dessa realidade é o fato de o Conselho de Segurança da ONU (órgão responsável por arbitrar e adotar medidas para solucionar desavenças entre países) ter como membros permanentes as maiores potências militares do mundo: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Virtudes e fragilidades O Brasil pode ser considerado uma potência regional da América do Sul e Latina, título também postulado pelo México e pela Argentina. Embora tenha sido um dos últi mos países americanos a conseguir a autono mia política e tendo como herança colonial a dependência econômica de países mais desenvolvidos, o Brasil é um país rico. A geopolítica dos militares A economia nacional, for brasileiros temente industrializada e com um setor agropecuário muito produtivo, está entre as mais desenvolvidas do mundo. N Apesar de seu vigor econômi co ainda não ter se revertido em benefícios sociais para a maioria da população, o Bra sil tem melhorado sua inser ção nas relações internacio nais. Isso pode ser verificado S pelo alto número de acordos bilaterais fechados na década de 2000 e pela participação 0 8 000 de representantes do governo km brasileiro em várias reuniões do G-20, o grupo das maio res economias do mundo. 46 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 46 3/30/10 9:28:55 AM Analisando o Brasil por meio da geopolítica Uma potência regional Ainda que o Brasil apresente fragilidades, sua econo mia é forte e seu parque industrial é amplo e diversifi cado. Há em território brasileiro empresas de todos os ramos da atividade econômica, o que deixa o país em si tuação confortável em relação aos seus vizinhos. O Brasil produz desde alimentos e tecidos até itens que requerem altos investimentos em pesquisa e tec nologia, como aviões e produtos farmacêuticos; tam bém possui grandes empresas de exploração mine ral, como a Petrobras e a Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce). Além disso, há no país uma importante produção científica e acadêmica, como as pesquisas re lacionadas às células-tronco e ao Projeto Genoma. Por tanto, no contexto latino-americano, embora enfrente dificuldades políticas e econômicas, o Brasil é conside rado uma potência regional. CONEXÃO Itaipu e a produção energética nacional A Usina de Itaipu, que produz 19,3% da energia elétrica consumida no Brasil e 87,3% da consumida no Paraguai, começou a ser projetada na década de 1960, por meio de acordos entre os dois países. Desde o início do funcionamento da usina, em 1984, a ener gia gerada é dividida em partes iguais entre os dois países, mas o Paraguai consome apenas 5% . Por con trato, deve vender o restante à Eletrobrás a preço de custo, pois, na época da construção, o Brasil financiou toda a obra, inclusive a parte relativa ao país vizinho. Em 2009, o então presidente do Paraguai colocou em xeque os acordos firmados inicialmente e questionou a política brasileira na região. Onde você mora existe alguma usina de geração de energia elétrica? Pesquise de onde vem a energia que você consome. > A grandeza territorial, a faixa fronteiriça e litorânea, o elevado número de habitantes, a predominância da língua portuguesa e os fartos recursos hídricos e minerais, são atributos que possibilitam ao Brasil manter uma posição de destaque na América Latina. Apesar de facilitar as trocas comerciais com os paí ses vizinhos, a grande linha fronteriça traz dificuldades para as forças armadas fiscalizarem toda a sua exten são. Tal fato deixa o território vulnerável a ações ilícitas, como o tráfico de drogas proveniente de países vizinhos e o contrabando de mercadorias. O controle sobre os crimes ambientais nas regiões privilegiadas em rique zas naturais, sobretudo na região Amazônica, também é bastante frágil. A chamada biopirataria, retirada ile gal de matéria-prima de nossas florestas para o registro de patentes em outros países é uma das consequências dessa realidade. Usina hidrelétrica de Itaipu (PR), 2002. Saiba mais o gasoduto brasil-bolívia 70°O BOLÍVIA PERU LA PAZ 60°O 50°O DF Cuiabá 40°O BA BRASÍLIA MT Santa Cruz de la Sierra GO MG Corumbá MS SUCRE OCEANO PACÍFICO C Trópico de ES Campinas PARAGUAI apricórnio 20° S SP Campo Grande RJ São Paulo ASSUNÇÃO PR SC CHILE RG Curitiba Joinville OCEANO Itajaí Florianópolis ATLÂNTICO Criciúma Porto Alegre ARGENTINA URUGUAI 30° S 0 500 km Diante da necessidade de diversificar suas fontes ener géticas, o Brasil estabeleceu acordos com a Bolívia para a importação de gás natural, e para isso construiu um ga soduto entre os dois países. No início do século XXI, com a chegada de um novo governo, a Bolívia questionou o preço do gás pago pelo Brasil, exigindo a sua elevação. O fato chegou a afetar o fornecimento de gás, mas as ne gociações avançaram e o fornecimento foi restabelecido. Como o Brasil dispõe de outras fontes energéticas e im portantes reservas de gás foram descobertas, a depen dência em relação ao gás boliviano tende a diminuir. Fonte de pesquisa: Gasnet. Disponível em: <http://www.gasnet.com.br/gasnet_br/gasoduto/Gasbol.ASP> Acesso em: 22 maio 2009. 47 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 47 3/30/10 9:28:57 AM 4 A geopolítica no Brasil A geopolítica amazônica Leia Novas geopolíticas, de José William Vesentini. O geógrafo faz uma releitura dos pressupostos da geopolítica e a contextualiza, como disciplina, desde os anos 1980 até os momentos atuais. Amazônia, Amazônias, de Carlos Walter Porto Gonçalves. Fruto de mais de duas décadas de pesquisa, o livro apresenta um retrato profundo da Amazônia. Questões contemporâneas latentes são apresentadas numa perspectiva que nos permite compreender a importância da região Amazônica para o país e para o mundo. Tendo em vista a importância da região Amazônica no mundo atual, é necessário fazer uma caracterização geral para evidenciar seus principais aspectos geopolíticos. O dimensionamento da grandeza da área ocupada pela floresta Amazônica fornece elementos fundamentais para abordar as questões geopolíticas que a envolvem. São mais de 5,5 milhões de km² de área, dos quais cerca de 60% encontra-se em território nacional. O restante estende-se pelo território de vários países: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. A porção brasileira é denominada Amazônia Legal e abrange, além dos sete estados da Região Norte, o Mato Grosso e algumas porções do Maranhão. Amazônia: riquezas, conflitos e problemas A floresta Amazônica, além de ser a maior floresta equatorial do mundo, é constituída por uma rica diversidade de espécies da fauna e da flora e por uma imensa rede de recursos hídricos. Essa riqueza natural é complementada por outros recursos de grande interesse econômico, como as jazidas minerais de ferro, manganês, ouro, bauxita, cobre, petróleo, etc. Em grande parte por causa da Amazônia, o Brasil é considerado detentor de uma megadiversidade e divide essa posição com outros poucos países. A grande biodiversidade da Amazônia é garantida pela abundante quantidade de espécies associadas ao endemismo, isto é, à quantidade de espécies exclusivas da região. Todo esse potencial coloca a Amazônia no centro da geopolítica global. O grande conjunto de recursos é foco de cobiça nas mais diversas escalas e, nesse contexto, em conjunto com a biopirataria ocorre a apropriação indevida dos conhecimentos tradicionais dos povos locais. A convivência com os nativos e a com preensão de seu relacionamento com a natureza possibilitam verificar na prática os resultados da utilização de espécies que despertam interesse, aumentando a viabilização de pesquisas acadêmicas ou para fins comerciais. Todo o potencial econômico contido na diversidade da Amazônia fomenta iniciativas internacionais que visam estabelecer meios indiretos de influência sobre os recursos da região. São tratados e acordos que versam sobre as mais diversas questões relativas à floresta equatorial, mas que também trazem em seu bojo temores relacionados à capacidade do Estado brasileiro de gerir seu próprio território. Saiba mais A luta de um homem da floresta O líder seringueiro Chico Mendes foi uma das principais vozes a denunciar a devastação da Amazônia. Por suas ações, foi reconhecido nacional e internacionalmente. Percorreu o mundo defendendo a causa dos povos da floresta e recebendo prêmios por suas ações. Mesmo diante de pressões e ameaças, continuou a questionar o predatório modelo de desenvolvimento praticado na região. Em dezembro de 1988, foi morto com tiros de escopeta nos fundos de sua casa. Era o trágico fim da saga de um homem corajoso e comprometido com a defesa da floresta e dos trabalhadores. Além de Chico Mendes, muitos outros morreram defendendo essa mesma causa. Chico Mendes no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), 1988. 48 7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 48 20.04.10 15:34:40 As questões fronteiriças da Amazônia As fronteiras da Amazônia constituem um dos pontos mais importantes na questão geopolítica local. A imensa extensão de fronteira externa ocupada pela floresta fechada dificulta sua fiscalização e sua defesa. Visualmente, é quase impossível determinar os limites territoriais entre os países amazônicos, o que exige investimentos em equipamentos como radares e aviões. Por isso, o governo brasileiro colocou em operação, no início da década de 2000, o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), criado ainda nos anos de 1990, e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). O primeiro tem como objetivo controlar o espaço aéreo sobre a Amazônia e ampliar a presença das Forças Armadas na região; o segundo promove o levantamento de informações que subsidiam as ações de proteção da Amazônia. Com exceção de momentos pontuais na história do Brasil, a exemplo do Ciclo da Borracha, a Amazônia passou a mobilizar políticas estatais efetivas apenas a partir do século XX, sobretudo durante a vigência da ditadura militar. Segundo os militares, era preciso integrar o território para não entregá-lo aos inimigos. Assim, foram criadas a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Essas ações resultaram em obras públicas, como a rodovia Transamazônica e infraestrutura para viabilizar a Zona Franca de Manaus. O capital externo também financiou o desenvolvimento regional e, em contrapar- tida, a exploração de minérios foi aberta às empresas estrangeiras, o que impulsionou, em conjunto com investimentos nacionais, grandes projetos extrativos, como o Grande Carajás. A Amazônia contemporânea A questão amazônica continua em pauta, pois suas riquezas, sua cultura e seus recursos hídricos despertam a constante cobiça de pessoas, que agem por conta própria ou em nome de corporações. A busca pelo lucro, seja pela exploração de matérias-primas, ou pela ampliação das terras destinadas à agropecuária, é mantida à custa de desmatamentos e tensões sociais. Como consequência do agravamento desses problemas, abrem-se pretextos para proposições como a participação da comunidade internacional no gerenciamento da floresta, que colocam em xeque a integridade da soberania nacional. A Amazônia possui, ainda hoje, diversas terras indígenas, cujas áreas precisam ser protegidas para não serem dilapidadas por ações predatórias. A reserva Raposa Serra do Sol (1,7 milhão de hectares), em Roraima, é um bom exemplo. Demarcada em 1998 e reconhecida oficialmente em 2005, só foi homologada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009. Os mais de 18 mil indígenas que ali vivem tiveram assegurados seus direitos diante dos fazendeiros plantadores de arroz que se haviam instalado no território indígena. Assista Ambientado na Amazônia, o filme Brincando nos campos do Senhor (1991) mostra a tentativa de catequização dos povos indígenas Nianura por missionários evangélicos estadunidenses. Apresenta os conflitos decorrentes das relações entre os nativos, o poder político local, a igreja e os missionários. O drama, dirigido por Hector Babenco, é baseado no livro homônimo do escritor Peter Matthiessen. Grande Carajás 51°O Ouro Prata Ferro Níquel Manganês Platina Paládio Cobre 48°O MARANHÃO PARÁ Marabá s c s Para uap eba It a Rio a ún ai 6°S Eldorado dos Carajás TOCANTINS Rio Ri o a j á s C a r n aiú as s d o c Ita S e r r a e et at o Ri C Parauapebas 0 35 km Altitude (metros) 800 500 200 100 0 Fonte de pesquisa: Santos, B. A. dos. Recursos minerais da Amazônia. In: Estudos Avançados. v. 16, n. 45 maio/ago. 2002. 49 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 49 30.03.10 15:23:22 Presença indígena São Gabriel da Cachoeira: uma cidade diferente Uma grande cobra vinda de muito longe, do começo do mundo. Uma grande cobra-canoa, subindo pelo fundo do rio, saindo pelo buraco das pedras e vomitando as pessoas que estavam dentro dela. Esse povo formou uma aldeia, que se comunicava com as outras aldeias que também saíram da Cobra Grande. Assim o mundo foi habitado e encheu-se de lugares e histórias sagradas. Essa pequena história é o resumo do mito de criação de muitos povos indígenas que habitam o estado do Amazonas. Narrado de diferentes maneiras conforme cada povo, a história da Cobra Grande conta como se formou a região onde atualmente convivem 23 povos indígenas diferentes, com idiomas pertencentes a três troncos linguísticos: Maku, Aruak e Tukano. Esses grupos se espalham por mais de quinhentas comunidades em São Gabriel da Cachoeira, o “município mais indígena do país”. São Gabriel é parecida com outras cidades do país, mas com uma grande diferença: 90% de seus habitantes são indígenas. E jovens: metade da população tem até 19 anos. Em São Gabriel, eles têm muitos costumes dos jovens de outros centros urbanos: andam de skate e de bicicleta, praticam esportes, usam o computador e procuram se vestir seguindo a moda. Há grupos de street dance e de quadrilha de festa junina formados só por indígenas. E casamentos entre índios e não índios são comuns. No ginásio da cidade, as festas misturam carros alegóricos e fantasias coloridas com as tradicionais danças e ritos da região, num impressionante espetáculo. Rodeadas pelas corredeiras do rio Negro, nos fins de semana as “praias” da cidade se enchem de guarda-sóis, onde indígenas e não indígenas ouvem música alta, fazem churrasco e levam os filhos para passear. Localizada na região chamada de Cabeça do Cachorro, no Alto Rio Negro, São Gabriel é um dos maiores municípios do país, com área maior que a de Pernambuco. Para chegar lá, algumas horas de avião desde Manaus ou vários dias de barco. O barco é quase o único meio de transporte, pois há poucas estradas ou pistas de pouso nas comunidades. De barco se vai a todas. A chegada dos não índios Olhando do alto, é como se o rio Negro fosse mesmo uma grande cobra que vai se embrenhando pela floresta, abrindo caminho para barcos e homens. Os primeiros registros da região datam de 1639, quando a expedição do bandeirante Pedro Teixeira atravessou o rio onde hoje é a fronteira entre Brasil e Colômbia. Nos três séculos seguintes, a história da região é parecida com muitas outras da América: exploração comercial e guerras por território, escravidão indígena, extinção de povos inteiros e migração em massa. Em razão do isolamento, porém, as mudanças foram bem menos intensas que em outros lugares. Só a partir de 1914, com a chegada das primeiras missões católicas dos padres salesianos, os modos de vida dos indígenas começaram a sofrer visíveis mudanças. A chegada dos salesianos ajudou a combater a semiescravidão em que muitos grupos indígenas viviam. No entanto, alterou profundamente seu modo de vida, já que os religiosos buscavam eliminar as manifestações culturais desses povos. Os missionários proibiam os índios de falarem sua língua, de morarem em suas casas coletivas e de manterem suas formas de religiosidade. Outra importante atuação missionária na região foi a Missão Novas Tribos do Brasil, que, a partir da década de 1950, pregou o protestantismo entre diversos grupos e formou dezenas de pastores indígenas. Os missionários protestantes são muito determinados em seu esforço para mudar o modo de vida dos povos indígenas. Além da mudança nas relações dentro das comunidades, as missões religiosas contribuíram para aumentar a dependência dos indígenas das “coisas do branco”. Com a chegada dos pregadores, muitos grupos nômades passaram a viver perto das missões, num processo de sedentarização e de concentração populacional que alterou profundamente o modo de vida indígena. A caça e a pesca começaram a ficar escassas, e os indígenas passaram a ter de ir muito longe para conseguir comida e material para fazer suas casas. Como os religiosos têm recursos, mandam vir de fora comida, materiais de > Apresentação no Festival das Tribos do Alto Rio Negro – Festribal, em São Gabriel da Cachoeira, 2009. 50 7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 50 12.04.10 16:14:45 construção, ferramentas, roupas e demais objetos, aumentando a dependência dos índios em relação às missões. A situação piora quando os indígenas ficam doentes, já que o contágio se alastra mais rapidamente com a proximidade de muitas pessoas em torno das missões. Ou seja, quanto mais catequizados, mais os indígenas ficam dependentes do mundo de fora. Nas décadas de 1970 e 1980 esse processo de mudança se ampliou com a chegada dos os militares para implementar o Plano de Integração Nacional e o Projeto Calha Norte. A militarização trouxe também um grande número de não indígenas, tanto militares como trabalhadores do Nordeste para as construções. Em 1983 foi descoberto ouro na região, o que também atraiu muitos migrantes. Essa movimentação foi responsável por uma grande explosão demográfica e econômica em São Gabriel. Em 1980, a população urbana era de menos de 4 mil pessoas. Em 2006 já ultrapassava 15 mil. Só 10% são não índios. A forte predominância indígena se deve ao êxodo de comunidades para o meio urbano, já que, a cada dia, mais indígenas se viam dependentes de muitas “coisas do branco”: escolas, hospital, produtos industrializados. Em busca de soluções Religiosos católicos e evangélicos, comerciantes, garimpeiros e militares; migrantes do Brasil e de países da América Latina, todos convivem lado a lado com a população indígena. A cidade tem como línguas correntes, além do português, o nheengatu e o tukano. Mas essa proximidade não significa igualdade. A falta de respeito com o indígena e sua cultura ainda está muito presente na cidade. No comércio local e nos órgãos públicos, os indígenas são atendidos sempre depois dos não índios e tratados sem atenção. Os valores reproduzidos pelo exército e pelos migrantes de outras regiões desqualificam os costumes indígenas como atrasados e sem serventia. Muitos religiosos continuam a impor uma crença que vê o modo de vida indígena como algo a ser combatido. Mas os índios se mobilizam para superar as condições adversas e têm conquistado cada vez mais protagonismo poLOCALIZAÇÃO DE SÃO lítico, inclusive conseGABRIEL DA CACHOEIRA guindo a demarcação de várias terras indígenas. Destaca-se a FedeSão Gabriel da Cachoeira ração das Organizações AMAZONAS Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que reúne mais de 70 organizações que desenvolvem trabalhos de valorização cultural e defesa dos inOCEANO teresses e dos direitos ATLÂNTICO das comunidades. Pro0 920 km jetos de valorização do artesanato tradicional, de criação de peixes, de fortalecimento das línguas indígenas e outros têm sido desenvolvidos para melhorar a vida nas inúmeras comunidades distribuídas pelos rios que cortam o município. Essa atuação visa também fazer com que as pessoas possam viver bem nessas comunidades e não migrem para a cidade. De São Gabriel têm saído propostas inovadoras de uma educação diferenciada para os povos indígenas. Têm sido elaborados currículos próprios e materiais didáticos em línguas indígenas, valorizando conhecimentos e práticas tradicionais. Esse material serve de modelo para outros municípios. Há vários índios estudando em universidades de grandes centros do país e existe um projeto do primeiro campus universitário em terra indígena. Foi em São Gabriel que, em 2008, pela primeira vez foram eleitos indígenas para os cargos de prefeito e vice-prefeito. O município mais indígena do Brasil tem mostrado que é possível conviver de modo positivo com a diversidade cultural. Sem dúvida, um bom exemplo para todos os não índios. 70ºO 60ºO 50ºO 40ºO Equador 0º 10ºS 20ºS e Trópico d nio Capricór OCEANO PACÍFICO 30ºS Acesse <www.saogabrieldacachoeira.am.gov.br> Site da Prefeitura Municipal, com informações e notícias sobre a cidade. <www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2136> Página do Instituto Socioambiental sobre São Gabriel da Cachoeira, com informações e fotos. Para discutir 1. Com base nas informações contidas no texto, reflita sobre o processo pelo qual passaram muitos grupos indígenas de São Gabriel, que deixaram de levar uma vida autônoma na floresta, passaram a um modo de vida dependente de ajuda exterior e do sistema monetário e hoje estão envolvidos em processos de valorização cultural e afirmação de suas identidades indígenas. Discuta com seus colegas esses processos. 2.Escolha e comente dois aspectos citados no texto que mais chamaram sua atenção sobre o mundo indígena de São Gabriel. 51 5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 51 4/6/10 2:16:59 PM 4 A geopolítica no Brasil As desigualdades regionais Leia O Estado e as políticas territoriais no Brasil, de Wanderley Messias da Costa, apresenta uma reflexão a respeito do processo de intervenção estatal no planejamento territorial brasileiro. Abrangente e sintético, o trabalho realiza esse esforço numa perspectiva histórica ampliada, desde o Império até o nosso tempo. Islândia (1º–) 0,968 França (10º–) 0,952 Chile (40º–) 0,867 Rússia (67º–) 0,802 Brasil (70º–) 0,800 China (81º–) Índia 0,777 (128º–) Medindo as desigualdades O Índice de Desenvolvimento Humano é um indicador adotado pela ONU para ava liar a qualidade de vida de uma população. Para isso, três variáveis são utilizadas: edu cação, expectativa de vida e nível de renda. Seus resultados podem ser aferidos nas es calas nacional, estadual e municipal. No Brasil, a coleta de dados é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta tísticas (IBGE). Como o IDH é composto por médias es tatísticas e a realidade social no Brasil é mui to heterogênea, é preciso analisá-lo com res salvas, para evitar distorções. E, embora nos últimos anos o país tenha alcançado um ní vel de desenvolvimento humano considera do elevado, isso não corresponde à realida de vista em todo o território e nas diferentes classes de uma mesma região. Ranking do IDH regiões brasileiras (2007-2008) Ranking do IDH (2007-2008) Serra Leoa (177º–) A polarização em torno da região Sudes te começou a se formar a partir da conso lidação da economia cafeeira entre os sé culos XIX e XX, que forneceu as bases para o desenvolvimento industrial, principal mente no estado de São Paulo. Nas últimas décadas tem-se verificado um movimen to de desconcentração das atividades in dustriais rumo a outras regiões brasileiras. Essa tendência, de certa forma, fortalece a integração nacional, pois abre novas frentes de desenvolvimento sem levar à desarticu lação do dinamismo econômico do Sudes te, já que muitas das indústrias que migra ram para outras regiões mantiveram nesta as suas sedes administrativas. A integração nacional é um bom parâme tro para analisar a organização espacial do país. É ainda um fator vinculado aos fluxos econômicos inter-regionais que evidenciam aspectos do desenvolvimento brasileiro. En tre esses aspectos destacam-se as desigualdades regionais. O desenvolvimento não uniforme do país está relacionado, entre outras razões, à sua grande extensão territorial. Determi nar a origem histórica das desigualdades re gionais não é tarefa fácil, pois se trata de um processo complexo, resultante da com binação de contrastes naturais, articulações políticas e da dinâmica econômica, que se transformou muito desde o início da colo nização portuguesa. A integração entre as regiões tende a se constituir a partir da expansão da área de influência de uma região hegemônica, que pas saria a envolver as demais. Esse processo ma nifesta-se com a formação de redes de comuni cação e transportes entre as diferentes regiões do país, intensificando a circulação de capitais, mercadorias e pessoas. O controle desse fluxo cabe, sobretudo, a agentes situados na região considerada hegemônica. Atualmente, a região Sudeste do Brasil de sempenha o papel de líder na formação do mercado interno; são as demandas nela ge radas que resultam na ocupação dos espaços econômicos mais importantes do país. Por isso, o Sudeste é o termômetro das discussões sobre a economia e o desenvolvimento nacio nal. Os dados sobre o seu desempenho eco nômico são sempre usados como referência para a avaliação do restante do país. 0,619 0,336 0,800 0,750 0,700 Sul Centro-Oeste Nordeste Sudeste Norte 0,650 0,600 5 1 3 91 993 995 997 999 00 00 00 2 1 2 2 1 1 1 19 Fonte dos dados: PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/pobreza_ desigualdade/reportagens/index.php?id01=2823&lay=pde>. Acesso em: 27 maio 2009. Fonte dos dados: PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/pobreza_ desigualdade/reportagens/index.php?id01=3038&lay=pde>. Acesso em: 27 maio 2009. 52 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 52 3/30/10 9:29:01 AM A ação estatal Em vários momentos da história, o Esta- As ações territoriais da do brasileiro lançou mão de medidas polítiditadura militar cas e econômicas com o objetivo de atenuar Durante a ditadura militar foram realias desigualdades regionais no país. zadas intervenções estatais, como a consNo início do século XX, com base nas intrução da Usina Hidrelétrica de Itaipu e da formações de que a seca era o principal moPonte Rio-Niterói. Em 1970, foi lançado o tivo do subdesenvolvimento do Nordeste, Plano de Integração Nacional (PIN), que foi criada a Superintendência de Estudos congregava investimentos na abertura de e Obras contra a Seca, atual Departamento rodovias. A mais destacada foi a TransamaNacional de Obras contra a Seca (DNOCS). zônica, idealizada para interligar a Paraíba Para a Amazônia foi criada em 1912 a Suao Acre, possibilitando assim a migração de perintendência de Defesa da Borracha, quando a base da economia local era a explo- nordestinos para a Amazônia. Foram lançados os Planos Nacionais de ração do látex, matéria-prima da borracha. Diferentemente das intervenções pontuais Desenvolvimento (PNDs) e os polos de dedo início do século passado, ações mais abran senvolvimento, como o Poloamazônia, o gentes e estruturadas por amplas operações Polocentro e o Polonoroeste, que incentino território marcaram os governos de Ge- vavam a exploração mineral e projetos agrotúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e dos pre- pecuários direcionados à exportação. sidentes militares, estendendo as fronteiras do desenvolvimento econômico para todas Os regimes democráticos Os governos civis brasileiros continuaram as regiões do país. Durante o governo Vargas, foram criadas com a ideia de reduzir as desigualdades reempresas estatais como a Companhia Side- gionais. Os primeiros governos não fizeram rúrgica Nacional, a Eletrobrás e a Petrobras, grandes alterações estruturais, mas Fernando que, apesar de sediadas na Região Sudeste, Henrique Cardoso privatizou empresas, tenserviram para alavancar a produção nacio- do como objetivo a redução do papel do Esnal e atuam hoje, direta ou indiretamente, tado em todos os setores. No governo Lula, o em diversas partes do território brasileiro. Estado ampliou sua atuação em obras públiNo governo de JK foi implantado o Pla- cas, sobretudo com o lançamento do Prograno de Metas, cujo lema era desenvolver o ma de Aceleração do Crescimento (PAC), um Brasil “cinquenta anos em cinco”. Um con- conjunto de obras para gerar novo estímulo junto de obras estava contemplado, com ao desenvolvimento econômico e social. investimentos em todos os setores de infraestrutuO PAC na Região Norte ra, o que incluía a cons70°O 60°O 50°O VENEZUELA trução de uma nova capiGuiana Francesa tal. JK promoveu também SURINAME (FRA) BR-156-AP Boa Vista COLÔMBIA a entrada de capitais esGUIANA RR trangeiros destinados ao AP porto de Equador Macapá desenvolvimento de seSantarém - PA BR-230-PA tores produtivos, como a Belém indústria automobilística. Manaus BR-364-AC 40°O OCEANO ATLÂNTICO 0° porto de Vila do Conde - PA PA AM CE MA terminais hidroviários na Amazônia - AM-PA eclusa de Tucuruí - PA BR-163-MT-PA PI AC PERU Rio Branco Porto Velho BR-319-AM Palmas TO RO Obra rodoviária – adequação / duplicação Fonte de pesquisa: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/noticia_ imagens/pacnorte_RegiaoNorte.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2009. Obra rodoviária – construção / pavimentação PE 10°S ferrovia Norte-Sul - TO BA MT Obra hidroviária Obra portuária Obra ferroviária Rodovia BOLÍVIA DF GO MG 0 352 km 53 7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 53 4/21/10 1:55:55 PM 4 A geopolítica no Brasil A construção de Brasília e a geopolítica nacional Leia A capital da geopolítica, de José William Vesentini. Partindo da geopolítica sem, todavia, se restringir a esse domínio, o autor aponta de maneira ímpar o processo que guiou a escolha de Brasília para sediar a nova capital federal. Assista O documentário Conterrâneos velhos de guerra (1991), dirigido por Vladimir Carvalho, traz os depoimentos dos trabalhadores que migraram do Nordeste para construir Brasília. Os testemunhos mostram as precárias condições de trabalho a que eram submetidos esses operários. Mudar a capital federal para uma área interiorana era um projeto antigo, elaborado ainda no século XIX. José Bonifácio, por exemplo, defendia a transferência da capital da cidade do Rio de Janeiro para a cidade de Paracatu, no norte de Minas Gerais. Em 1891, a mudança da capital foi formalizada em dois artigos da Constituição recém-adotada. Em 1892, Floriano Peixoto, então presidente da República, formou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que ficou conhecida como Missão Cruls, por conta do astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls, chefe da missão que demarcou a área destinada à criação de uma nova capital para o país. Saindo da cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, Cruls e sua equipe de pesquisadores realizaram um minucioso trabalho de investigação que envolveu também estudos relativos às condições climáticas, à fauna e à flora e a outras características da geografia local. JK: a Constituição e a vontade política Não obstante seu ambicioso plano de governo – o Plano de Metas –, o governo de JK ficou marcado pela construção da cidade de Brasília. Muitos não acreditavam que a empreitada fosse adiante, mas as articulações do governo obtiveram sucesso e, em 1956, o Congresso brasileiro aprovou a lei que criava a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O órgão seria o responsável pela construção da nova capital. A nova capital: geopolítica e nacionalismo A construção de Brasília surgiu não apenas como um símbolo do progresso econômico mas também como fruto de uma concepção estratégica de que a localização é um fator de proteção. Antes porém a capital foi sediada em Salvador e depois no Rio de Janeiro, cidades litorâneas, que teoricamente são mais vulneráveis a ataques estrangeiros em eventuais conflitos, por faciBrasília — Plano piloto litar a aproximação de invasores. O deslocamento da base do poder nacional para o centro do país também propiciaPenínsula ria mais proteção à soberania nacional, por possibilitar maior coesão territorial, integrando regiões distantes e aproximando o governo federal das zonas mais isoladas, Lago Paranoá situadas nas regiões Centro-Oeste e Norte. Como grande parte das áreas pouco ocupadas coincidia justamente com a faixa de fronteira, entendia-se como tarefa funRasgado damental aumentar a presença do Estado e promover a ocupação nessas regiões, o que seria viabilizado pela realocação da capital Gama Centro político e administrativo federal para o Planalto Central. Edificação pública Dom Bosco e embaixada Além disso, o deslocamento da capital Zona residencial expressa uma estratégia de neutralização Zona industrial Aeroporto das manifestações das massas, muito co0 3 Avenida km muns na cidade do Rio de Janeiro naqueBandeirante ème la época. Fonte de pesquisa: Atlas du 21 siècle. Paris: Nathan, 2006. p. 140. 54 7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 54 4/8/10 12:18:29 PM Brasília: modernidade e distanciamento Quando o projeto para a construção de Brasília começou a avançar, tanto os políticos como parte da intelectualidade brasileira, principalmente engenheiros e arquitetos, passaram a vislumbrar a construção de uma nova capital, baseada na arquitetura moderna, em pleno interior do país. Mas o novo Distrito Federal também trazia consigo uma questão de suma importância: o distanciamento da administração pública federal em relação à sociedade. Apesar de integrada à ideia de facilitar a migração para as regiões Centro-Oeste e Norte, a capital recém-instalada ocupava uma área praticamente desabitada e distante da maioria da população. Após a construção de Brasília, começaram a se formar as cidades-satélites ao redor do Plano Piloto, núcleo original do Distrito Federal. Nas cidades-satélites fixaram-se os candangos, trabalhadores, em geral nordestinos, que migraram para Brasília a fim de trabalhar nas obras durante a implantação do projeto. Concluída a grande obra, não havia um plano de assentamento definitivo desses migrantes. Com isso, eles deram origem a formações urbanas desordenadas, que contrastavam fortemente com o planejamento e a racionalidade do Plano Piloto. O projeto urbanístico de Brasília foi criado por Lúcio Costa. Oscar Niemeyer projetou os principais edifícios. Seu estilo é marcado pelo uso do concreto armado, empregado na configuração de formas curvas, e pela valorização da monumentalidade. Os ideais geopolíticos e a inovação artística das edificações resultaram em um conjunto arquitetônico que hoje, desvinculado ou não da simbologia original, constitui uma das principais atrações turísticas do Brasil. Palácio da Alvorada > > Catedral Palácio do Itamaraty > > Congresso Nacional Os problemas atuais Além de deficiências na infraestrutura urbana, a cidade apresenta problemas sociais, principalmente nas áreas de saúde, educação e segurança. Agrava esse quadro o abismo socioeconômico entre o núcleo original e as áreas do entorno, advindo do plano inicial de conduzir o crescimento urbano por meio de cidades-satélites e da falta de projetos para acolher a grande massa de migrantes pobres. Portanto, com cerca de meio século de existência, Brasília vive hoje uma realidade muito semelhante à de outras grandes capitais do país, cujos problemas o planejamento inicial não foi capaz de evitar. Superquadra, edifícios residenciais > > > Palácio do Planalto conjunto de imagens acima reúne algumas das principais construções O projetadas por Oscar Niemeyer para a cidade de Brasília. 55 5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 55 4/6/10 2:18:07 PM Informe Geopolítica da Amazônia > De início, cabe uma pequena explanação sobre geo zas naturais que a Amazônia contém e também do sapolítica: trata-se de um campo de conhecimento que ber das suas populações tradicionais que possuem um analisa relações entre poder e espaço geográfico. Foi secular conhecimento acumulado para lidar com o tró o fundamento do povoamento da Amazônia, desde o pico úmido. Essa riqueza tem de ser melhor utilizada. tempo colonial, uma vez que, por mais que quisesse a Sustar esse padrão de economia de fronteira é um im Coroa, não tinha recursos econômicos e população para perativo internacional, nacional e também regional. Já povoar e ocupar um território de tal extensão. Portugal há na região resistências à apropriação indiscriminada conseguiu manter a Amazônia e expandi-la para além de seus recursos e atores que lutam pelos seus direitos. dos limites previstos no tratado de Tordesilhas, gra Esse é um fato novo porque, até então, as forças exóge ças a estratégias de controle do território. Embora os nas ocupavam a região livremente, embora com sérios interesses econômicos prevalecessem, não foram bem- conflitos. [...] -sucedidos, e a geopolítica foi mais importante do que Com as resistências regionais os conflitos na região a economia no sentido de garantir a soberania sobre a alcançam um patamar mais elevado. Não se trata mais Amazônia, cuja ocupação se fez, como se sabe, em sur apenas de conflito pela terra; é o conflito de uma região tos ligados a demandas externas seguidos de grandes em relação às demandas externas. Esses conflitos de in períodos de estagnação e de decadência. teresse, assim como as ações deles decorrentes, contri A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de buem para manter imagens obsoletas sobre a região, di pressões de todo tipo, intervenções no cenário interna ficultando a elaboração de políticas públicas adequadas cional desde as mais brandas até guerras e conquistas de ao seu desenvolvimento. territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujei Para que se possa mudar esse padrão de desenvolvi to fundamental o Estado, pois ele era entendido como a mento é necessário entender os diferentes projetos geo única fonte de poder, a única representação da política, políticos e seus atores, que estão na base dos conflitos, e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados. para tentar encontrar modos de compatibilizar o cresci Hoje, essa geopolítica atua, sobretudo, por meio do po mento econômico com a conservação dos recursos na der de influir na tomada de decisão dos Estados sobre o turais e a inclusão social. Enfim, não se trata de mero uso do território, uma vez que a conquista de territórios ambientalismo, muito menos de mais um momento e as colônias tornaram-se muito caras. [...] destrutivo. Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: Becker, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Disponível em: <http://www. um em nível do sistema financeiro, da informação, do scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100005>. Acesso em: 1o out. 2009. domínio do poder efetivamente das potências; e outro, uma tendência ao internacionalismo dos movimen tos sociais. Todos os agentes sociais organizados, corporações, organiza ções religiosas, movimentos sociais etc., têm suas próprias territoriali dades, acima e abaixo da escala do Estado, suas próprias geopolíticas, e tendem a se articular, configuran do uma situação mundial bastante complexa. [...] Hoje, o imperativo é modificar esse padrão de desenvolvimento que alcançou o auge nas décadas de 1960 a 1980. É imperativo o uso Imagem aérea da floresta Amazônica que destaca a hidrografia da região, no norte de Mato não predatório das fabulosas rique Grosso, 2007. Para discutir 1. Com base no texto, o que é possível depreender das dificuldades históricas do Estado brasileiro para manter o controle sobre a Amazônia? 2.Apresente suas conclusões a respeito da seguinte questão: É possível manter o domínio sobre as terras amazônicas e preservar seus recursos? 56 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 56 3/30/10 9:29:13 AM Mundo hoje Japão anula patente do cupuaçu > Brasília – Os extrativistas e agricultores dos estados da Amazônia brasileira tiveram ontem [2 de março de 2004] uma vitória muito significativa no âmbito internacional. A vitória veio com a derrubada, no Japão, da patente que [uma] empresa japonesa [...] detinha há anos do nome cupuaçu, o que impedia os produtores amazônicos de exportarem essa fruta genuinamente amazônica para aquele país. A quebra da patente do cupuaçu no Japão foi conquistada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, pelos governos da Amazônia e, em particular, pelos parlamentares da bancada acriaAgricultora da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé Açu (PA), peneirando sementes de na no Congresso, como os deputados cupuaçu. Fotografia de 2003. Henrique Afonso, Perpétua Almeida, Zico Bronzeado e outros, que desde o ano passado vêm óleos e gorduras comestíveis que não fossem extraídos pressionando o governo brasileiro a cobrar nos fóruns do verdadeiro cupuaçu, lesando os consumidores. Como se pode notar, a questão do nome como painternacionais a anulação das patentes internacionais impostas aos produtos e matérias-primas originárias da trimônio cultural dos povos da Amazônia (e do Brasil) foi tratada no primeiro argumento, enquanto o segunAmazônia. [...] Após a queda da patente do cupuaçu no Japão, resta ao do voltou-se para os direitos universais dos consumidogoverno brasileiro conseguir fazer o mesmo com as paten- res. Uma situação muito clara diante da situação absurda tes mantidas para o cupuaçu, também pela [mesma em- criada em 1998 e somente descoberta no final de 2002, presa], na Comunidade Europeia e nos Estados Unidos. quando pequenos produtores reunidos na cooperativa Em janeiro deste ano, o governo brasileiro e em particular Doces Tropicais descobriram a barreira criada ao tentao deputado Henrique Afonso haviam obtido vitória seme- rem exportar para a Alemanha. Mas ainda fica um alerta. lhante com o cupulate – chocolate de cupuaçu – que tam- “Com essa decisão encerra-se a via administrativa no Japão, ou seja, nenhum outro recurso administrativo pode bém foi patenteado pela empresa japonesa. [...] Os argumentos da ação de cancelamento protocolada ser interposto para invalidar a decisão. É importante noem 20 de março de 2003 foram aceitos integralmente pe- tar que a [empresa japonesa] ainda possui o prazo de los examinadores do JPO. Em resumo, a ação concentrou trinta dias para apelar ao Tribunal Superior de Tóquio”, seu foco no terceiro item do parágrafo inicial do artigo afirmam Adriana Vicentin e Esther M. Flesch, parceiras 3 da Lei de Marcas do Japão – que afirma que uma mar- do escritório brasileiro que trabalham em conjunto com ca não pode ser registrada caso ela indique de for- a equipe japonesa coordenada por John Kakinuki. O processo administrativo no Japão tornou-se ao ma descritiva um nome já comum de matérias-primas. Ao ser utilizada para distinguir óleos e gorduras prove- longo de 2003 um ato simbólico que mobilizou a opinientes da própria fruta da qual são extraídos, a mar- nião pública brasileira em torno da biopirataria, potenca estaria recaindo nessa proibição legal. Finalmente, o cializando outros processos como os debates da nova lei item de número dezesseis do parágrafo inicial do artigo de bioprospecção, os posicionamentos do governo em 4, dessa mesma lei, indica que uma marca não pode le- acordos internacionais, os diálogos entre pesquisadores var o público ao erro relativo à qualidade de produtos ou e movimentos sociais e a própria autoestima das comuserviços que distingue. Esse foi um dos pontos brilhan- nidades tradicionais e indígenas. [...] tes do argumento, ao apontar o risco de que o nome ex- Aquino, Romerito. Japão anula patente do cupuaçu. Disponível em: <http://www2. clusivo como marca pudesse ser usado até para indicar uol.com.br/pagina20/03032004/c_0103032004.htm>. Acesso em: 1o out. 2009. Para elaborar 1. Pesquise outros casos de produtos nacionais que foram patenteados por outros países. 2.Discuta o assunto com seus colegas e escreva um texto sobre a importância do combate à biopirataria. 57 6P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 57 4/7/10 4:10:56 PM command na caixa com texto transparente abaixo 4 A geopolítica no Brasil Atenção: não escreva no livro. Responda a todas as questões em seu caderno. Atividades Revendo conceitos 1. O que caracteriza um país que se identifica como potência regional? 12. O mapa pictórico a seguir apresenta os países latino-americanos. 2. Cite dois fatores relacionados à geopolítica e contextualize a importância de cada um. 3. Quais os pontos fracos mais visíveis das fronteiras nacionais? 4. Que áreas são abrangidas pela Amazônia Legal? 5. O que é um país megadiverso? Quais fatores explicam essa característica? 6. Contextualize a questão das fronteiras externas da Amazônia. 7. Qual o papel do capital internacional na exploração dos recursos minerais na Amazônia? Quando sua participação passou a ter mais vigor? 8. Diferencie as ações territoriais pontuais adotadas pelo Estado brasileiro das intervenções associadas a um projeto mais amplo. 9. O que foram o PIN e os PNDs? Qual a importância desses projetos? 10. Quando Brasília foi construída? Explique a importância da nova capital para a geopolítica brasileira. Lendo mapas e tabelas 11. Uma das questões mais debatidas ao longo da história do Brasil é a desigualdade regional presente no país. Analise a tabela a seguir e faça as atividades. Distribuição percentual do Produto Interno Bruto (PIB) por macrorregiões (1960-2004) 1960 1970 1980 1990 2000 2004 Norte 2,2 2,3 3,3 4,9 4,6 5,3 Nordeste 14,8 12 12,2 12,9 13 14,1 Sudeste 62,8 65 62,1 58,8 57,5 54,9 Sul 17,8 17 17,3 18,2 17,7 18,2 Centro-Oeste 2,4 3,7 5,1 5,2 7,2 7,5 a)Por que o Brasil se destaca no mapa? b)Relacione esse destaque com a posição assumida pelo Paraguai no pedido de revisão dos acordos referentes à Usina Hidrelétrica de Itaipu. Interpretando textos e imagens a)Separe as regiões brasileiras em dois blocos, agrupando no primeiro as regiões com baixo percentual do PIB e no segundo as regiões com alto percentual do PIB. b)Escolha uma região de cada grupo e apresente argumentos que corroborem sua situação econômica. > Fontes dos dados: FGV (1960) e IBGE, para 1970 a 2000; para 2004, Guilhoto, Joaquim J. M. et al. O agronegócio familiar no Brasil e nos seus estados. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/1500515330.doc>. Acesso em: 6 nov. 2009 Ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília. 58 5P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 58 4/6/10 2:24:07 PM 13. Observe a imagem da página anterior e leia com atenção a letra da música A ponte. A seguir, responda às questões. Então, então, então na sua opinião, Lenine, Tá normal ou existe crime? Se souber o caminho de rocha, me aponte [...] (quem foi?) O projeto é do arquiteto Alexandre Shan (comprasse, pagasse?) Todas as contas foram aprovadas pelo TCU (me diz quanto foi) 164 milhões de reais É... bota fé... A ponte Lenine/Gog [...] Eu já atravessei a ponte do Paraguai Um filme inspirou a ponte do rio que cai É sucesso em Campinas e na voz dos Racionais Mas a ponte da capital é demais Projetada pra aproximar Do centro o São Sebastião, o Lago e o Paranoá Desafogaram o tráfego na região Visitantes de chegada, nova opção Fique ligado, acompanhe passo a passo Condomínios luxuosos de todos os lados O Congresso e o Planalto colados “Aqueles barraco ali, ó, vão ser retirados” A ponte é luxo, nada é mono, só estéreo Mil e duzentos metros, louco visual aéreo Quem sobe só pra regular a antena Reforça as pontes safena Lenine. Acústico MTV. Sony BMG, 2008. Disponível em <http:// www.buscarletras.com.br/gog/letra-eu-e-lenine-a-ponte.html>. Acesso em: 1o out. 2009. a)Com base na letra da canção, a ponte de Brasília beneficia sobretudo as pessoas de que classe social? Justifique sua resposta com pelo me nos dois elementos do texto. b)Há na canção versos que se referem às cama das populares de Brasília. Como elas são rela cionadas à obra? c)No fim da canção, há uma referência às despesas com a ponte. Qual é a impressão que os autores transmitem a respeito desses gastos? 14. Analise a imagem de satélite para resolver as ques tões a seguir. A ponte começou depois mas terminou Bem antes que as obras do metrô Quem mora fora do avião Bate palma, aplaude, apoia, pede diversão A ponte é muito, muito iluminada O pôr do sol numa visão privilegiada O povo quer passar, vê nela algo místico A ponte virou ponto turístico A ponte é um vai e vem de doutor Tem ambulante, tem camelô Olha pra baixo, vê jet ski e altos barcos Olha pra cima, lá estão os três arcos > ( esse lugar é uma maravilha, no horizonte, no horizonte) A ponte saiu do papel, virou realidade Novo cartão-postal da cidade Um quer transformar ela em patrimônio mundial Um outro num inquérito policial a)Diferencie o uso do solo nas áreas representa das pelos tons de rosa e nas representadas pe los tons de verde. b)Deduza por que na imagem de satélite as áreas rosadas se concentram nas bordas sul e leste. Imagem de satélite da região Norte do Brasil, 2004. 59 7P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 59 12.04.10 16:16:47 Em análise Construir e interpretar anamorfoses A cartografia pauta suas construções em padrões geométricos, ou seja, as imagens retratadas em um mapa são estruturadas em procedimentos matemáticos. Todos os mapas apresentam distorções, que variam de acordo com o objetivo do mapa a ser cons truído. Um bom exemplo de distorção são as projeções elaboradas pelos cartógrafos Gerard Mercator (1512-1594) e Arno Peters (1916-2002). Nas projeções de Mercator, as formas foram privilegiadas e a proporção das áreas foi distorcida. Enquanto que nas projeções de Peters, as proporções entre os territó rios foram resguardadas, ao passo que as formas dos territórios foram distorcidas. O resultado de qual quer projeção é uma transição do esférico ao plano, buscando a coincidência entre as duas imagens. A causa dessas distorções reside no fato de a Terra ter forma esférica e os mapas terem formas planas. Pode mos mudar essa forma por meio de um procedimento geométrico conhecido como anamorfose. Há diversas aplicações das anamorfoses. Por exemplo, ao selecionar um fenômeno, como o tamanho da população, e determinar a área a ser ocupada no mapa por um país, não de acordo com a área, mas com o número de habitantes. Assim, o Brasil, que possui cerca de 190 milhões de habitantes, deve ocu par uma área cinco vezes menor que a da China, que possui mais de 1 bilhão de habitantes. Ao retratar a população mundial, por exemplo, a China e a Índia, as duas maiores populações mundiais, ocupam áreas imensas do mapa, ao passo que os países de pequena população ocupam pequenas áreas. Veja as imagens abaixo. Na primeira temos a proporção real dos territórios e, na segunda, a anamorfose. Anamorfose de distribuição da população mundial Mapa-múndi 180º 120ºO 60ºO 0º 60ºL 120ºL OCEANO GLACIAL ÁRTICO 180º Círculo Polar Ártico 60ºN CHINA EUA 30ºN Trópico de Câncer ÍNDIA OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico OCEANO ATLÂNTICO 0º Meridiano de Greenwich Equador OCEANO ÍNDICO BRASIL INDONÉSIA 30ºS 60ºS 0 OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 5 455 km Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 32. Fonte de pesquisa: Worldmapper. Disponível em: <http://www. worldmapper.org>. Acesso em: 7 jan. 2009. Também é possível representar a população a partir de figuras geométricas proporcionais, como na imagem abaixo. Anamorfose Geométrica da população mundial REINO UNIDO CANADÁ RÚSSIA ESTADOS UNIDOS ALEMANHA FRANÇA JAPÃO CHINA ITÁLIA MÉXICO TURQUIA EGITO VENEZUELA PAQUISTÃO BANGLADESH FILIPINAS ÍNDIA BRASIL NIGÉRIA ARGENTINA INDONÉSIA 2 milhões de habitantes Fonte de pesquisa: Simielli, Maria Elena. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2006. p. 33. 60 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 60 3/30/10 9:29:19 AM Proposta de trabalho 1. Utilizando blocos geométricos, elabore três anamorfoses retratando o território brasileiro. a)Na primeira, retrate a proporção do Produto Interno Bruto (soma de todos os bens e serviços pro duzidos num país) dos estados. b)Na segunda, apresente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que utiliza critérios de avaliação como educação, renda e longevidade (expectativa de vida). c)Na terceira, represente a população. 2.Verifique qual o menor valor para cada um dos dados da tabela abaixo e determine um tamanho que represente esse valor. A menor população em 2000 estava em Roraima, com cerca de 327 mil habi tantes. Use uma área de 1 mm2 para representar esse estado e calcule os demais. O Espírito Santo, por exemplo, terá 10 mm2, pois sua população é de cerca de 3,1 milhões de habitantes. 3.Faça os cálculos para todos os estados e represente-os nas anamorfoses. Una os estados de acordo com a regionalização oficial do IBGE. 4.Com base nos dados e nas anamorfoses, analise a atuação de cada uma das regiões e faça uma aná lise intrarregional, explicitando quais estados se destacam em cada região brasileira. PIB e IDH dos estados brasileiros Acre PIB — 2000 (em milhões R$) IDH — 2000 População — 2000 1 703 0,692 560 611 Alagoas 7 023 0,633 2 826 575 Amapá S/ dados S/ dados 447 032** Amazonas 18 873 0,717 2 830 310 Bahia 48 197 0,693 13 096 003 Ceará 20 800 0,699 7 444 000 Distrito Federal 29 587 0,844 2 053 897 Espírito Santo 21 530 0,767 3 106 372 Goiás 21 665 0,77 5 020 160 Maranhão 9 207 0,647 5 660 255 Mato Grosso 13 428 0,767 2 513 787 Mato Grosso do Sul 11 861 0,769 2 082 024 Minas Gerais S/ dados S/ dados 17 891 494** Pará 18 914 0,72 6 219 628 Paraíba 9 238 0,678 3 445 125 Paraná 65 969 0,786 9 585 383 Pernambuco 29 127 0,692 7 930 964 Piauí 5 330 0,673 2 847 489 137 877 0,802 14 404 923 Rio Grande do Norte 9 293 0,702 2 780 176 Rio Grande do Sul 85 138 0,809 10 207 061 Rondônia 5 625 0,729 1 383 740 Roraima 1 117 0,749 326 738 42 428 0,806 5 369 177 Rio de Janeiro Santa Catarina 370 000* S/ dados 37 032 403** Sergipe São Paulo 5 921 0,687 1 788 747 Tocantins 2 450 0,721 1 161 641 Fonte dos dados: <www.ipib.com.br>. Acesso em: 27 jul. 2009. *Fundação Seade <www.seade.sp.gov.br>. Acesso em: 27 jul. 2009. ** IBGE <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 27 jul. 2009. 61 4P_EMG3_LA_U01_C04_046a067.indd 61 3/30/10 9:29:20 AM