Rev. bras. fisioter. Vol. 7, No. 2 (2003), 151-158
©Associação Brasileira de Fisioterapia
AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA DOR EM PORTADORES DE
DESORDEM TEMPOROMANDffiULAR UTILIZANDO UMA VERSÃO
BRASILEIRA DO QUESTIONÁRIO MCGILL DE DOR
Oliveira, A. S., 1 Bermudez, C. C.,2 Souza, R. A., 2 Souza, C. M. F} Castro, C. E. S. 3 e Bérzin, F. 4
1
Centro Universitário do Triângulo, UNIT, Uberlândia, MG, Brasil
ZCentro Universitário de Araraquara, UNIARA, Araraquara, SP, Brasil
3
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, São Carlos, SP, Brasil
4
Faculdade de Odontologia de Piracicaba, FOP-UNICAMP, Piracicaba, SP, Brasil
Correspondência para: Anarnaria Siriani de Oliveira, Av. Guarulhos, 573, ap. 154B,
Jd. S. Francisco, CEP 07023-000, Guarulhos, SP, e-mail: [email protected]
Recebido: 30/9/02 - Aceito: 17/3/03
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar, discriminar e comparar a queixa dolorosa de portadores de desordem temporomandibular (DTM),
classificados segundo índice clínico de diagnóstico, utilizando versão brasileira do Questionário McGill de Dor (Br-MPQ). Foram estudados 23 pacientes, sendo 21 mulheres e 2 homens (28 ± 11 anos). Oito voluntários foram classificados como portadores
de DTM moderada e 15 como de severa. São apresentadas as distribuições das freqüências dos achados do Br-MPQ e os resultados
do teste Q-quadrado, com nível de significância de 5%. No grupo DTM severa a articulação temporomandibular foi anotada como
a região mais dolorosa, enquanto no grupo DTM moderada foi a cervical (p < 0,05). O músculo temporal foi indicado como o mais
doloroso por ambos os grupos (p < 0,05). Para o padrão temporal da dor, 50% do grupo com DTM moderada anotou a característica
ritmada, periódica, intermitente, enquanto o grupo DTM severa preferiu o padrão contínuo, estável, constante. A anális_e da intensidade
da dor (PPI) revelou que o grupo DTM severa concentrou as anotações em níveis de intensidade menores que o grupo DTM moderada
(p < 0,05). Os valores médios da intensidade da dor (PRI) foram maiores para a dimensão de palavras mistas em ambos os grupos.
Assim, os resultados do Br-MPQ foram capazes de diferenciar o padrão temporal, o local dt~ maior queixa de dor e a intensidade
da dor de portadores de DTM classificados por um índice diagnóstico. No entanto, o caráter afetivo, ligado à memória e à percepção
das dores relacionadas a essa desordem, foi semelhante entre os grupos de estudo, independentemente da severidade.
Palavras-chave: dor, questionário McGill, desordem temporomandibular e índice anamnésico.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate, discriminate and compare the pain complaints by the Brazilian version of the McGill Pain
Questionnaire (Br-MPQ) applied to patients classified by the severity of their symptoms of the temporomandibular disorders (TMD).
Twenty-three patients, 21 females and 2 males (28 ± 11 years), volunteered to participate in this experiment. Fifteen patients were
classified as severe and eight as moderate TMD. The results are displayed by frequency distribution and scores were tested for
significant differences by Q-squared test, with significance levei set as 5%. The painful region more frequently indicated by the
severe TMD group was that over temporomandibular joint, while the moderate TMD group marked the cervical region more frequently (p < 0.05). The temporalis muscle was the masticatory muscle more indicated as painful for both groups (p < 0.05). Fifty
percent of the moderate TMD group patients related a rhythmic, intermittent, periodic pain. The more frequent temporal pattern
was a pain reported as stable, constant and continuum. The present pain intensity (PPI) analysis showed that the severe TMD group
concentrated their scores at lower intensity leveis than scores chosen by the moderate TMD group (p < 0.05). The mean weighed
pain-rating indexes (PRI) for each chosen pain dimensions were similar for both groups and the values to mixed words dimensions were distinctly high. In conclusion, the Br-MPQ showed a consistent discrirninative c:apacity between severe and moderate
TMD, indicated by pain localization and PPI. Moreover, the higher effective scores linked to pain memory and perception were
similar for both groups of patients.
Key words: pain, pain assessment, pain questionnaire, MPQ, temporomandibular
di~orders.
Rev. bras. fisioter.
Oliveira, A. S. et al.
152
INTRODUÇÃO
Desordem temporomandibular (DTM) é uma deno~
minação genérica para o subgrupo das desordens dolorosas orofaciais, que envolve queixas de dor sobre a região
da articulação temporomandibular ou, ainda, fadiga dos
músculos craniocervicofaciais, especialmente dos músculos
da mastigação, limitação dos movimentos mandibulares e
presença de ruídos articulares. Sua etiologia é multifatorial
e está relacionada à tensão emocional, às interferências
oclusais, à perda dentária ou má posição dos dentes, às
alterações posturais, à disfunção da musculatura mastigatória
e adjacente, às mudanças extrínsecas e intrínsecas dos
componentes estruturais da articulação temporomandibular
e/ou à combinação desses fatores. 1
Assim, descrever ou caracterizar pacientes portadores de DTM exige a utilização de diferentes ferramentas,
válidas, sensíveis e confiáveis, que avaliem o maior número
possível de sinais e sintomas apresentados nessa patologia.
Na tentativa de simplificar o diagnóstico e padronizar
amostras de pesquisas envolvendo portadores de DTM, alguns
autores procuraram elaborar roteiros e questionários que abordam
os principais sinais e sintomas, atribuindo índices clínicos
diagnósticos para a classificação dos voluntários. 2 •3• 4
O índice anamnésico, proposto por Fonseca, 4 já foi
aplicado à população brasileira e trata-se de uma escala de
pontuação obtida pelas respostas de dez questões, que incluem
constatação da presença de hábitos parafuncionais, limitação de movimento, ruídos articulares e percepção subjetiva de maloclusão e da tensão emocional. Dentre os aspectos
considerados na classificação anamnésica proposta por esse
autor, a dor parece ser o mais relevante, uma vez que quatro das dez perguntas se relacionam diretamente à investigação da ocorrência de cefaléia, dor na região cervical, na
articulação temporomandibular e nos músculos da mastigação.
Já o Questionário McGill de Dor (MPQ) permite
avaliar outros aspectos do quadro doloroso, como seu
padrão temporal, a localização da região dolorosa no
mapeamento em diagramas do corpo humano e a intensidade da dor, por meio de escala âncora número-palavra. Além disso, e talvez principalmente, o MPQ possui
descritores verbais quali e quantitativos designados a medir
as dimensões sensoriais, afetivas, subjetiva e mista da dor.
Uma das versões do MPQ para a língua portuguesa foi feita
por Castro5 e escolhida para ser aplicada neste estudo.
Embora nenhum trabalho relate a aplicação de uma
versão brasileira do MPQ em voluntários portadores de DTM,
sua versão original foi utilizada e os resultados obtidos foram
capazes de discriminar as queixas de voluntários portadores
de DTM do tipo artrogênica e miogênica, 6• 7 além de revelar
elevado grau de componentes afetivos e de ansiedade nesses
voluntários, quando comparados àqueles com outras condições orofaciais çlolorosas. 8• 9
Assim, o objetivo ~este trabalho foi avaliar, comparar
e discriminar a queixa de dor em portadores de DTM, previamente classificados segundo o índice de severidade proposto
por Fonseca,4 utilizando o MPQ em sua versão brasileira (BrMPQ), proposta por Castro. 5
METODOLOGIA
Voluntários
Para realização deste trabalho foi selecionado um
grupo de 23 pacientes, sendo 21 mulheres e 2 homens, com
faixa etária entre 17 e 55 anos (média de 28 ± 11 anos),
da cidade de Araraquara e região, que procurou atendimento fisioterapêutico, com diagnóstico odontológico de
DTM, durante um período de oito meses. Todos os voluntários apresentavam história de dores decorrentes da DTM
há ao menos seis meses e com mais de uma tentativa de
tratamento sem sucesso que, segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (Internacional Association
for Study of Pain - IASP), 10 caracteriza um quadro clínico de dor crônica.
A todos os voluntários foi solicitado o preenchimento
do consentimento formal de participação, após o completo
esclarecimento dos objetivos da pesquisa.
Ainda como critério de inclusão, foi determinado o
índice anamnésico da DTM de cada um dos voluntários,
utilizando o questionário preconizado por Fonseca, 4 a fim
de excluir pacientes que não obtivessem algum grau de
severidade. Esse questionário permite classificar os voluntários em portadores de DTM leve, moderada e severa.
Todos os voluntários que participaram deste estudo foram
classificados como portadores de DTM severa (n = 15;
65,22%) ou moderada (n = 8; 34,78%). A distribuição em
relação ao sexo mostrou que os únicos dois participantes
do sexo masculino faziam parte do grupo classificado como
portadores de DTM severa.
Procedimento
A avaliação da dor constou do questionário de dor
Br-MPQ. As instruções necessárias para seu preenchimento
foram dadas até que o voluntário as tivesse compreendido
completamente, ficando o terapeuta à disposição para
qualquer esclarecimento.
Nesse questionário o paciente indicou primeiramente
as regiões dolorosas em diagramas do corpo humano e,
posteriormente, selecionou as palavras que melhor expressavam suas experiências em relação à dor da DTM. Essas
palavras estavam distribuídas em 20 subclasses, sendo elas:
10 de dimensão sensorial, 5 de afetiva, 1 de avaliação subjetiva e 4 de palavras mistas. Ficou claro que poderia ser
escolhida somente uma palavra em cada uma das subclasses,
mas que não havia necessidade de escolher palavras em todas
elas. O questionário permitiu, ainda, que o paciente elas-
Avaliação da dor na desordem temporomandibular
Vol. 7 No. 2, 2003
sificasse seu padrão temporal da dor e a intensidade da dor
presente no momento da avaliação.
O questionário foi aplicado sem controle de tempo
o
para completo preenchimento, a fim de não conduzir o
voluntário a respostas apressadas. Nenhum dos voluntários teve dificuldade em seguir as instruções dadas, nem
em entender o significado das questões, palavras ou expressões previstas no questionário. Em média, o tempo gasto
com a aplicação desse instrumento foi de 25 minutos.
Análise dos dados
Do Br-MPQ são relatados os resultados relativos à
localização, ao padrão temporal e à intensidade da dor presente
(Present Pain lndex- PPI), além do valor ponderado de dor
em escala (Pain Rate lndex- PRI). Também são apontadas
as subclasses mais escolhidas pelos voluntários e, por fim,
as palavras mais escolhidas nessas subclasses. A análise descritiva escolhida foi a distribuição de freqüência dos dados
obtidos por meio do questionário Br-MPQ, sendo que a amostra
foi separada de acordo com a classificação do índice de severidade proposto por Fonseca. 4 Para identificar diferenças
estatisticamente significativas, com p menor ou igual a 0,05%,
dentre as variáveis obtidas nos dois grupos de pacientes, o
teste Q-quadrado foi aplicado a valores absolutos.
RESULTADOS
Por intermédio dos resultados obtidos no Br-MPQ para
a localização da dor (Figura 1), o teste Q-quadrado revelou que a região mais indicada pelos portadores de DTM
severa foi sobre a articulação temporomandibular (p < 0,05),
enquanto o grupo de DTM moderada indicou mais freqüentemente a região cervical (p < 0,05). Entre os músculos
da mastigação, o temporal foi o mais indicado como área
de dor, tanto pelo grupo com DTM severa quanto pelo com
moderada, porém sem diferenças significativas em relação
ATM
às demais regiões de anotação. Mais da metade dos voluntários de ambos os grupos de classificação indicou outra área
do diagrama do corpo humano, não relacionada diretamente
a queixas craniocervicofaciais, como local de dor.
Para o padrão temporal da dor (Figura 2), 50% dos
voluntários do grupo com DTM moderada anotaram que suas
queixas tinham característica ritmada, periódica ou, ainda,
intermitente. No grupo com DTM severa, a anotação mais
freqüente foi o padrão 1, em que os descritores temporais
eram contínuos, estáveis e constantes. Em ambos os grupos o padrão 3, breve, momentâneo e transitório, foi significativamente o menos escolhido (p < 0,05) em relação
aos outros dois padrões.
A intensidade da dor presente registrada no momento
da avaliação, para ambos os grupos, está representada na
Figura 3. A dor foi classilficada como moderada (ponto 2
na escala de O a 5) por um maior número de participantes,
independentemente da classificação por severidade. No entanto, a somatória do número de voluntários que escolheu
os índices O, 1 e 2 foi significativamente maior (p < 0,05)
no grupo de desordem severa (93%) do que no grupo de moderada (63%). Nenhum voluntário identificou sua dor como
violenta em qualquer dos. grupos de severidade.
O valor ponderado do índice da dor em escala (PRI
ponderado) (Tabela 1) é sugerido por Kremer et al.U como
a melhor forma de representar a contribuição relativa de
cada uma das dimensões da dor na composição global da
dor percebida, uma vez que cada uma das dimensões apresenta um número de subclasses e descritores diferentes.
No cálculo do PRI ponderado, o valor atribuído a cada uma
das dimensões é a razão entre soma da intensidade escalar
obtida em cada uma das dimensões e o valor total possível
de cada uma delas. Assim, o valor zero indica que nenhum
voluntário selecionou determinada dimensão e o valor 1
indica que todos anotararn a palavra de maior valor escalar
na dimensão estudada.
Localização da dor
87
Masseter
153
Temporal
88
Cervical
D Severa !llJ Moderada
Figura 1. Distribuição de freqüência das áreas indicadas como dolorosas no diagrama do corpo humano pelos voluntários classificados
como portadores de desordem temporomandibula,r severa (n = 15) e moderada (n = 8).
Rev. bras. fisioter.
Oliveira, A. S. et ai.
154
Tabela 1. Médias e variações do índice de avaliação da dor em escala (PRI); ponderado para as dimensões: sensorial (S), afetiva (A),
avaliativa (Av), mista (M) e soma total (T).
N°da
amostra
Severidade
PRI
s
A
Av
M
T
Severa
15
0,26
(0,06-0,73)
0,23
(0,23-0,82)
0,23
(0-0,8)
0,36
(0-0,75)
0,53
(0,08-0,76)
Moderada
8
0,15
(0,26-0,79)
0,15
(0,11-0,70)
0,11
(0-0,8)
0,18
(0-0,67)
0,31
(0,16-0,75)
Total
23
0,20
(0, 16-0,76)
0,19
(0,17-0,76)
0,17
(0-0,8)
0,27
(0-0,71)
0,42
(0,12-0,73)
Padrão temporal da dor
50
E
QJ
OI
L'!
c:
QJ
~
o
c..
3
2
O Severa lllil Moderada
Figura 2. Distribuição de freqüência dos padrões temporais de dor anotados pelos voluntários classificados como portadores de desordem
temporomandibular severa (n = 15) e moderada (n = 8). 1 =padrão 1: contínuo, estável, constante. 2 =padrão 2: ritmado, periódico, intermitente.
3 = padrão 3: breve, momentâneo, transitório.
Intensidade da dor presente no momento da avaliação
40
E
QJ
OI
L'c:!
QJ
u
13 .
~
o o
o
Sem dor
Fraca
2
3
Moderada
Forte
4
Violenta
5
Insuportável
O Severa lllil Moderada
Figura 3. Distribuição de freqüência dos índices anotados na escala de intensidade de dor, anotados pelos voluntários classificados como
portadores de desordem temporomandibular severa (n = 15) e moderada (n = 8).
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Avaliação da dor na desordem temporomandibular
Vol. 7 No. 2, 2003
Os valores médios dos PRis ponderados, para cada uma
das dimensões de caracterização da dor escolhidas pelos
voluntários (Tabela 1), são similares e a variação entre os
valores menores e maiores é bastante expressiva. Os valores da dimensão mista foram discretamente maiores para ambos
os grupos de portadores de DTM. Os valores de PRI total
para o grupo com DTM severa foram maiores que aqueles
do grupo com DTM moderada, porém os índices máximos
atingidos por ambos os grupos foram muito semelhantes.
A escolha das subclasses de palavras em cada uma
das dimensões está representada na Tabela 2. Para o grupo
classificado como portador de DTM moderada, nenhuma
dimensão obteve concordância absoluta entre os partici-
pantes, ou seja, nenhuma das subclasses obteve 100% de
escolha. No entanto, para o grupo de DTM severa, 3
subclasses da dimensão sensorial e uma subclasse das
dimensões afetiva, avaliativa e de palavras mistas foram
escolhidas por todos os voluntários do grupo.
A preferência de escolha de descritores, nas subclasses
mais freqüentes entre os portadores de DTM severa (n =
15) e moderada (n = 8), está representada na Tabela 3. Na
dimensão de palavras mistas, subclasse emocional, "que deixa
tenso" foi o descritor mais escolhido para o grupo com DTM
severa (93,33%) e moderada (50%). Nas demais subclasses,
os voluntários com desordem moderada obtiveram menor
concordância entre os de:scritores escolhidos.
Tabela 2. Freqüência de distribuição das escolhas das subclasses de palavras dos grupos de desordem temporomandibular (DTM) severa
(n = 15) e moderada (n = 8).
DTMmoderada
DTMsevera
Freqüência
Subclasses escolhidas
Freqüência
Subclasses escolhidas
Sensorial
Sensorial
100%
Temporal
75%
Temporal
100%
Compressão
62,5%
Sensação geral
100%
Sensação geral
50%
Espacial
Pressão ponto
73,33%
Pressão ponto
Tração
37,5%
37,5%
Vivacidade
66,66%
Espacial
37,5%
Calor
66,66%
Vivacidade
37,5%
Surdez
53,33%
Calor
37,5%
Tração
39,99%
Surdez
25%
Compressão
26,66%
Incisão
25%
Incisão
73,33%
Afetiva
Afetiva
100%
Desprazer
75%
Desprazer
86,66%
Cansaço
62,5%
Cansaço
66,66%
Medo
62,5
Autonômica
66,66%
Punição
Autonôrnica
37,5%
Medo
Punição
46,66%
37,5%
Avaliativa
100%
Subjetiva
Avaliativa
75%
Mista
Subjetiva
Mista
100%
Emocionais
62,5%
Dor/movimento
80%
Dor/movimento
Sensoriais
Frio
62,5%
50%
Emocionais
Sensoriais
37,5%
Frio
73,33%
33,33%
Rev. bras. fisioter.
Oliveira, A. S. et ai.
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Tabela 3. Freqüência de distribuição da escolha das subclasses, feita pelos grupos de desordem temporomandibular (DTM) severa (n
= 15) e moderada (n = 8).
DTMsevera
DTM moderada
Sensorial
Sensorial
Subclasse
Descritor
Freqüência
Subclasse
Descritor
Freqüência
Temporal
Latejante
60%
Temporal
Que vai e vem
37,5%
Compressão
Em pressão
60%
Sensação geral
Pesada
60%
Afetiva
Afetiva
Subclasse
Descritor
Freqüência
Subclasse
Descritor
Freqüência
Desprazer
Irritante
33,33%
Desprazer
Perturba
25%
Irritante
25%
Avaliativa
Avaliativa
Subclasse
Descritor
Freqüência
Subclasse
Descritor
Freqüência
Sujetiva
Angustiante
60%
Subjetiva
Incômoda
37,5%
Mista
Mista
Subclasse
Descritor
Freqüência
Subclasse
Descritor
Freqüência
Emocionais
Deixa tenso
93,33%
Emocionais
Deixa tenso
50%
Dor/movimento
Prende
37,5%
DISCUSSÃO
Neste estudo, o questionário Fonseca4 mostrou ser uma
ferramenta de aplicação simples e de fácil compreensão por
parte dos voluntários, permitindo menor influência do examinador sobre o paciente e suas respostas. Seus resultados
identificaram que todos os pacientes que procuraram atendimento fisioterapêutico, no período estudado, foram classificados como portadores de DTM severa ou moderada.
Apesar do número reduzido de perguntas, a severidade estabelecida por esse índice anamnésico apresenta
comportamento semelhante aos achados do PRI ponderado
e ao valor atribuído aos descritores dentro das subclasses
propostas no Br-MPQ, uma vez que os valores dessas duas
últimas variáveis são maiores para o grupo com desordem severa. Essa relação entre os questionários estudados,
no entanto, não viabiliza a supressão de qualquer um deles
em uma avaliação do paciente com DTM, já que seus
achados são distintos, assim como as contribuições para
o conhecimento do caso e a tom~;tda de decisão clínica.
Por meio dos resultados obtidos no Br-MPQ, em
relação à localização da dor, constatou-se que a região
mais indicada pelos portadores de DTM severa foi sobre a ATM. Esse resultado concorda com os achados de
Dibbets & Van Der Weele, 12 que relatam como principal sintoma da desordem a dor localizada nas regiões das
ATMs. No entanto, o grupo de DTM moderada indicou
com mais freqüência a região cervical.
Kovero & Kononem (1996), 13 em um estudo sobre
os sinais e os sintomas da DTM, observaram alta incidência de dor na ATM, sensibilidade na musculatura
mastigatória à palpação, desvios mandibulares e ranger
dos dentes em adolescentes que tocavam violino com
grande freqüência. Esses autores, assim como Rodrigues
et al., 14 concluíram que a postura, inclusive da região
cervical, pode se tornar um importante fator na etiologia
da DTM. Essas alterações observadas nos músculos
mastigatórios em razão da posição da cabeça também
foram constatadas eletromiograficamente por Boyd et a/., 15
que afirma que mudanças na postura da cabeça interferem
na posição de repouso da mandíbula. Assim, essa relação
entre a postura e o acometimento cervical como fatores
relacionados à DTM deve ser considerada na avaliação
fisioterapêutica dos pacientes. No entanto, a aplicação
dos questionários utilizados neste estudo é insuficiente para determinar se essa escolha depende da severidade
da DTM, necessitando de mais estudos que correlacionem
esses achados a dados de uma avaliação clínica.
Vol. 7 No. 2, 2003
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Avaliação da dor na desordem temporomandibular
O padrão temporal da dor obtido pelo Br-MPQ indicou que o grupo DTM severa anotou com maior freqüência a categoria de dores contínuas, estáveis e constantes.
Esse dado pode estar relacionado a estados inflamatórios dos tecidos envolvidos, uma vez que a presença de
produtos inflamatórios e de substâncias alogênicas perpetuam as informações nociceptivas. A maior parte dos
participantes do grupo com DTM moderada, no entanto,
descreveu sua dor como ritmada, periódica e intermitente,
sugerindo a percepção de intervalos entre eventos dolorosos, comum às dores de origem mecânica. Esse dado
sugere a necessidade de uma anamnese bem direcionada,
a fim de identificar, por exemplo, quais movimentos pioram ou aliviam a sintomatologia dolorosa ou, ainda, se
há relação entre a amplitude de movimento e a queixa de
dor.
A análise do PPI no momento da avaliação também
revelou características diferentes para os voluntários, de
acordo com a severidade da DTM. Embora em ambos os
grupos a maioria dos voluntários tenha indicado alguma
intensidade de dor no momento da avaliação, o grupo DTM
severa concentrou seus índices em níveis de intensidade
menores que os do grupo DTM moderada. Assim como
as demais características que descrevem a dor, o relato da
intensidade pode ser influenciado por diversos fatores. Em
geral, dores crônicas estão relacionadas a uma maior atenção
à região dolorosa, depressão e resignação, comportamentos
que podem resultar em relatos de intensidades de menor
amplitude. 16
Os valores médios dos PRis, ponderados em cada uma
das dimensões da dor, escolhidas por ambos os grupos,
foram influenciados pela severidade da desordem e os
valores da dimensão de palavras mistas foram discretamente
maiores que os das demais dimensões, em razão da grande
variação entre os índices. Considerando que essa dimensão
é composta por palavras que, na versão original do MPQ,
faziam parte das dimensões sensorial, afetiva e avaliativa
subjetiva, e que a subclasse 20 (mista afetiva/avaliativa)
foi a mais escolhida por ambos os grupos de voluntários,
podemos ressaitar a conotação de desagradabilidade ligada
à percepção e à memória das dores relacionadas à DTM.
Essa desagradabilidade ficou bem estabelecida pela elevada concordância na escolha da expressão "que deixa
tenso" nos dois grupos de severidade estudados.
A sensação subjetiva de tensão emocional foi identificada por Pedroni et a/. 17 como uma característica importante da relação causa-efeito da DTM, observada em
população não paciente, classificada em diferentes níveis
de severidade pelo índice anamnésico proposto por Fonseca4
e, em população paciente, por Oakleyl 8 e Kampe et a/. 19
Também Christensen20 e Christensen & Mckay 21 atribuem
ao estresse emocional o apertam_ento dentário e o aumento
da tensão nos músculos da mastigação, que levaria a alterações circulatórias na musculatura, causando acúmulo
de metabólitos, sensibilização e compressão de terminações
nervosas livres e nocice:ptores.
A menor concordância entre os descritores escolhidos
para caracterizar a dor foi um achado para o grupo com DTM
moderada. Esse resultado reflete maior variedade na percepção dos voluntários desse grupo a respeito de suas experiências dolorosas relacionadas à DTM e, também, confirma
uma diferença na caractt:rística qualitativa da dor sentida
por esses pacientes em relação aos portadores de desordem
severa. Assim, uma gama mais variada de palavras pode ser
escolhida por esses pacientes para descrever as dores relacionadas à DTM.
Assim, a aplicação do Br-MPQ mostrou-se importante
na identificação de componentes multidimensionais da queixa
de dor de portadores de DTM, abrindo possibilidade para
realização de outros estudos sobre a aplicação desse questionário no acompanhamento dos resultados da intervenção
fisioterápica para alívio de dor nos voluntários.
CONCLUSÕES
A versão brasileira do questionário MPQ, proposta
por Castro, 5 foi útil para diferenciar o padrão temporal,
a localização e a intensidade da dor de portadores de DTM
previamente classificados por severidade de seus sintomas,
como proposto por Fonseca. 4 No entanto, a
desagradabilidade ligada à percepção e à memória das dores
relacionadas à DTM é semelhante para ambos os grupos
estudados.
Agradecimentos - Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de doutorado referente ao processo n"
140360/2000-0.
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