As projecções para o mercado dos
equipamentos de AVAC a nível mundial apontam para um crescimento
anual médio de 6% até 2012. O
que é que realmente mudou na
última década que justifique este
crescimento?
A nosso ver o valor situa-se um
pouco mais acima, digamos 7%. O
mercado tem sido impulsionado pelo
rápido crescimento de alguns mercados imaturos, tais como:
• a Índia, na 8ª posição em 2007 que
cresce 26% por ano;
• a Rússia ocupa a 11ª posição que
cresce 21% por ano, crescimento devido principalmente ao sector não
residencial;
• os Emiratos, UAE, na 14ª posição que
crescem 23% por ano com a construção expandindo-se a uma taxa
explosiva;
• o Brasil na 17ª posição que cresce 25% por ano com um sector da
construção que se mantém forte e o
mercado de “upgrade” para produtos
de melhor qualidade.
Estes quatro países somam uns 5
milhões de unidades entre 2006 e
2011. Se a este valor somarmos a
China com mais de 3 milhões de unidades, podemos concluir que quase
metade do crescimento no mercado
mundial se deve a estes 5 países. Mas
vale ainda a pena mencionar outros
dois países:
• a Argentina, na 21ª posição que cresce 18% enquanto o país continua reagindo à crise económica instalada;
• a Turquia na 18ª posição que cresce
12% por ano com maior procura no
sector do turismo e uma penetração
crescente dos sectores residencial e
doméstico.
A China tornou-se o maior produtor
mundial sendo responsável por uma
parte importante do crescimento do
mercado até 2012. Que influência
isto acarreta?
A China responde por 20% do mercado global em termos de valor e
já ultrapassou os E.U.A., tornando-se
agora o maior mercado no mundo.
A acrescentar a isto, cerca de 62%
da produção mundial em termos de
unidades provêem da China. As fábricas chinesas continuam a aumen16 | Julho/Agosto climatização
tar a rapidez de abastecimento do
mercado de exportação global com
uma capacidade de produção cada
vez mais alta. A Taxa de crescimento
anual desceu para 7% ao ano com
a saturação do mercado, mas o seu
crescimento continuará enquanto a
economia chinesa continuar a crescer.
Porém para atingirem os seus objectivos de crescimento os fabricantes
chineses terão que procurar novos
mercados de exportação e também
novos e produtos.
E que implicações é que isso terá
no mercado no futuro?
A nosso ver os fabricantes chineses
continuarão com crescimento nas vendas enquanto existir apoio à produção
por parte das autoridades regionais
e nacionais. As maiores companhias
estão divididas em empresas que só
fabricam para o sector residencial e
empresas que só fabricam para o sector comercial com estratégias direccionadas para os diferentes mercados
na Europa que continua a ser o seu
foco fundamental. Algumas estão a
fazer os investimentos necessários
para montar uma rede comercial
forte mas isso levará algum tempo.
Tendo em atenção os próximos cinco a dez anos, em termos genéricos,
as companhias chinesas e a China
tornar-se-ão ainda mais importantes
no mundo o que poderá traduzir-se
num potencial poder para as fusões
e aquisições de empresas no sector,
mas isto ainda está a cerca de dez
anos de distância.
A Índia poderá ter um papel muito
importante?
Sim. A Índia terá um papel cada
vez mais importante. Mas a índia só
representa um décimo do mercado
de AVAC da China. A produção na Índia destina-se principalmente para o
mercado local enquanto que na China
a produção é destinada ao mercado
mundial. A qualidade e tipologia dos
equipamentos são dirigidos, mais para
a região da Índia e Médio Oriente do
que para a Europa e outros mercados
globais. Por outro lado a Índia ainda
tem um mercado “desorganizado”,
mais significativo e orientado para os
produtos básicos, tais como as unidac limatização Julho/Agosto | 17
ENTREVISTA
“Em nossa opinião os factores
chave do mercado dos E.U.A. cairão
7% em termos de unidades,
comparativamente a 2007. Actualmente não prevemos qualquer
mudança para 2009, mas há riscos
de uma queda adicional no
mercado se a crise piorar”.
des de janela que são montadas em
garagens e lojas locais e são vendidas
na mesma cidade.
Com salários tão baixos quanto na
China e a inflação a subir, a Índia poderá vir a tornar-se mais competitiva
mas isto levará ainda muitos anos. A
Índia continuará aumentando a sua
força no mercado global mais com as
suas “soft skills” do que sendo uma
potência industrial.
Não devemos esquecer ainda de
salientar que algumas empresas Indianas, tais como a Tata, já estão a
investir fortemente no mercado europeu em todas as áreas. Por isso
espera-se que as companhias de ar
condicionado façam parte da sua lista
de aquisições.
Os E.U.A. estão a atravessar uma
grave crise económica. Quais são
as repercussões dessa crise no
mercado de AVAC nos E.U.A. e no
mundo?
Em nossa opinião os factores chave do mercado dos E.U.A. cairão 7%
em termos de unidades, comparativamente a 2007. Actualmente não
prevemos qualquer mudança para
2009, mas há riscos de uma queda
adicional no mercado se a crise piorar. As Exportações para a Europa são
pouco afectadas porque a tecnologia
é diferente. O efeito principal é económico com as economias asiática e
europeia a exibirem baixo crescimento
devido ao abrandamento dos E.U.A. e
do aumento do preço dos combustíveis. O outro efeito resulta do estado
geral de pessimismo do consumidor
e utilizador que adopta uma atitude
de expectativa – espera para ver e
não compra.
Quais são as principais diferenças
entre o mercado dos Estados Unidos
e o mercado Europeu?
Em primeiro lugar devemos ter em
conta que o mercado de EUA está
a atingir a saturação com uma penetração superior a 60% em muitas
partes do país pelo que o mercado
é essencialmente um mercado de
substituição.
Mas fundamentalmente a principal
distinção é que temos tipos de produto totalmente diferentes. Nos E.U.A.
18 | Julho/Agosto climatização
ENTREVISTA
todas as casas novas e a maioria das
casas existentes são construídas com
condutas o que significa que é usado
outro sistema que quase não é encontrado fora da América do Norte.
Trata-se de um sistema “unitário” que
é essencialmente constituído por uma
unidade autónoma do tipo split para
condutas ou uma rooftop que fornece
o arrefecimento e é frequentemente
ligado a uma unidade de ar quente
que faz o aquecimento no Inverno.
Estes produtos possuem preços muito competitivos. São vendidos anualmente uns 9 milhões de produtos
unitários e 4 milhões de unidades de
ar quente. Os minisplits tradicionais
e as caldeiras são, respectivamente,
mercados de nicho de 350 000 e 400
000 unidades. As Unidades de janela
também são muito utilizadas como
um aquecimento suplementar, uma
vez que podem ser compradas em
grandes superfícies, tipo “outlets”, e
instaladas por menos de 50 dólares.
60% do mercado mundial para unidades de Janela está dentro dos E.U.A.
O que realmente mudou no mercado europeu nos últimos anos?
O mercado cresceu muito na Europa
e situa-se agora em 11 milhões de
unidades. Em termos de unidades,
75% do mercado é controlado só por
5 países: Itália, Espanha, Turquia, Rússia e França. Em termos de valor, a
Alemanha e o Reino Unido são ainda
o quarto e quinto maior apesar da
ausência completa de um mercado
residencial.
A aplicação dos sistemas de VRF
está a crescer dramaticamente na
Europa destronando os splits comerciais com a introdução dos mini-VRF
em alguns países europeus do norte.
Nos patamares de maior potência,
Os VRF´s estão a disputar a parte que
antes pertencia aos chillers. No Reino
Unido, por exemplo, tradicionalmente
a escolha recaía sobre os chillers em
sistemas com mais de 100 kW, mas
tal foi a pressão exercida no mercado
pelas maiores companhias japonesas
que agora este patamar subiu para
os 300 kW. Em França o mercado é
impulsionado também por um crédito
tributário de 50% para a instalação de
bombas de calor onde elas são a fonte
20 | Julho/Agosto climatização
principal de aquecimento do edifício
pelo que o mercado se manterá elevado enquanto este crédito existir.
Com a estabilização dos mercados
de ar condicionado as grandes marcas procuram novos produtos e novas soluções. A maioria desenvolveu
bombas de calor ar/água para atacar
o aquecimento central e o mercado da
produção de água quente sanitária, e
com isso o mercado subiu a quase 200
000 unidades na Europa. Em modo de
resposta as empresas de aquecimento
como a Bosch e a Viessmann preparam-se para entrar no mercado do ar
condicionado seguindo o exemplo dos
italianos e da Vaillant. Assim, temos à
vista uma batalha com disputa feroz
dos mercados do aquecimento, do ar
condicionado e sectores de energias
renováveis.
O mercado de ar condicionado ainda está dominado pelas marcas japonesas e coreanas. A investida chinesa
teve um grande impacto há alguns
anos atrás e mantêm uma presença
forte como “marquistas” (produtos
OEM), mas em termos de marcas, o
impacto foi desigual devido ao mito
criado que os produtos chineses são
de fraca qualidade. Para venderem
produtos de marca, particularmente
no mercado profissional, as empresas
chinesas têm que desenvolver a infraestrutura comercial e terem por detrás
as empresas japoneses principais e as
marcas europeias.
A recente Directiva europeia sobre
eficiência de energia nos edifícios
está a ser transposta em todos os
países. Isso pressionará o mercado
para uma procura baseada na qualidade dos equipamentos?
É surpreendente o crescimento na
Europa das unidades split tipo inverter.
É um mercado que continua a crescer em todos os países e agora soma
uns 60-70% do mercado das unidades
tipo split, em volume, em 2008. Isto
significa que o valor médio dos splits
sobe mas a venda de unidades está
mais dependente da economia e das
condições do tempo. É provável que a
nova legislação resultante da aplicação
das directivas - revisão da Directiva
de Desempenho Energético dos Edifícios, a nova Directiva dos Produtos
ENTREVISTA
Energéticos (eco-design) e a Directiva
da Eficiência na Utilização Final de
Energia e dos Serviços Energéticos tenha efeitos adicionais no mercado à
medida que for sendo implementada
nos países.
Os edifícios residenciais e de serviços precisam de melhorar a sua
estanquicidade ao ar o que origina o
aparecimento de um mercado forte
para produtos de recuperação de calor. As maiores empresas japonesas
já entraram neste mercado.
Em termos de futuro próximo os
regulamentos em relação aos fluidos
frigorigéneos que contribuem para o
efeito de estufa estão a pressionar no
sentido da utilização de frigorigéneos
naturais. Assim o desenvolvimento
de minisplits com CO2 no Japão é já
uma realidade com estimativas que
tais produtos estarão no mercado
dentro de dois anos. Tais produtos terão um efeito dramático no mercado
Europeu que acabou de se converter
ao R410a.
Podemos afirmar que temos na Europa 2 mercados de AVAC separados por factores muito diferentes?
O residencial e os outros equipamentos (multi, VRF, chiller.)?
22 | Julho/Agosto climatização
Na Europa temos duas regiões
diferentes: os países mediterrâneos
que incluem Portugal até à Turquia
onde há um mercado residencial significativo ao sabor das condições do
tempo e do stock de máquinas do
ano anterior e a Europa do norte que
constituem um mercado comercial
menos influenciado pelo tempo e
mais por temas económicos e de
legislação.
Aqui e na Espanha, o mercado de
equipamento residencial teve um
crescimento pequeno em 2007. Em
contrapartida, os outros equipamentos tiveram um significativo
crescimento. Podemos considerar
esta tendência natural?
Na Europa do Sul o mercado residencial está em baixa. Os mercados
na Grécia, na Espanha e na Itália
desceram uns 40% a 50% em 2007
devido a uma mistura de factores
económicos com um começo nada
cooperante do Verão. O boom da
construção de novos edifícios está
a esbater-se e o sector comercial é
muito débil. Vai ser duro para este
mercado, não só este ano, mas
provavelmente, também ainda no
próximo.
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